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Idosos também são vítimas de alienação parental

No Dia dos Avós, alerta para a alienação parental envolvendo idosos. A pratica os isola da família e traz sérias consequências emocionais e sociais.

21/7/2025
Andreia Soares Calçada

O Dia dos Avós, celebrado em 26/7 no Brasil, é uma data dedicada ao reconhecimento da importância dos idosos na família e na sociedade. No entanto, junto às homenagens, é necessário acender um alerta para uma realidade que tem ganhado destaque nos últimos anos: a alienação parental envolvendo idosos, também chamada de alienação parental inversa.

Embora a lei da alienação parental (lei 12.318/10) tenha sido criada para proteger crianças e adolescentes, cresce o número de relatos de idosos sendo afastados do convívio familiar, em muitos casos por interesses financeiros ou emocionais. A prática, silenciosa e cruel, é marcada por manipulações, restrições de liberdade e até abuso patrimonial.

A alienação parental de idosos ocorre quando familiares ou cuidadores impedem ou dificultam o idoso de manter contato com outros parentes ou de participar da vida social, geralmente para obter algum tipo de vantagem. Isso pode envolver desde o isolamento físico até a manipulação emocional, controle financeiro e negligência.

É preciso também ficar atento aos idosos que são acompanhados de cuidadores profissionais e com aqueles que se casam e/ou tem uma(o) nova(o) companheira(o). Essas pessoas podem afastar os filhos para obter vantagens materiais, e se o idoso tiver comprometimento cognitivo por demência ou Alzheimer, a situação piora.

Nesses casos é preciso que a família perceba o que está acontecendo para que possa tomar as rédeas da situação a fim de evitar um processo ou denúncia, o que sempre é mais complicado. Para evitar esse tipo de situação é importante que filhos estejam sempre presentes, principalmente nas questões financeiras de pais idosos. A alienação parental com idosos pode trazer consequências graves para a saúde dos mesmos.

Outro tipo de alienação também merece atenção: os avós impedidos de conviver com os netos. Muitas vezes, por desavenças familiares ou disputas judiciais, esse laço afetivo essencial é rompido, afetando não apenas os idosos, mas também as crianças. A CF, no art. 227, e o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, asseguram o direito à convivência familiar, incluindo a relação entre avós e netos.

A lei 12.398/11 reforça esse direito, reconhecendo o papel dos avós na construção da identidade e na estabilidade emocional dos menores. O afastamento forçado pode causar transtornos de ansiedade, baixa autoestima e sentimento de rejeição nas crianças.

Neste Dia dos Avós, além de homenagens e carinho, é preciso reflexão. Garantir o direito dos idosos ao convívio familiar e social é uma forma de demonstrar respeito e gratidão por sua história e contribuição. Alienação parental de idosos é um problema real, grave e crescente - que precisa ser combatido com informação, empatia e ação.

Andreia Soares Calçada

Psicóloga clínica e jurídica. Perita do TJ/RJ em varas de família e assistente técnica judicial em varas de família e criminais em todo o Brasil. Membro do IBDFAM e autora de livros e artigos na área.

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