Associações civis são peças fundamentais do terceiro setor: representam categorias, promovem causas sociais, organizam eventos e defendem interesses coletivos. A força dessas entidades está diretamente ligada à sua legitimidade, e nada traduz melhor essa legitimidade do que processos eleitorais claros e bem conduzidos.
A eleição da diretoria de uma associação não é apenas uma formalidade: é o momento em que se decide quem estará à frente da entidade pelos próximos anos, definindo estratégias, prioridades e a forma de representar seus associados. Por isso, é essencial que os estatutos prevejam regras transparentes e que a assembleia seja conduzida de forma ordenada e legítima.
Muitas associações ainda enfrentam fragilidades no processo eleitoral. Estatutos genéricos ou desatualizados abrem brechas para interpretações distintas, disputas internas e até judicialização da sucessão de cargos.
Entre os problemas mais comuns estão:
- Ausência de prazos claros para convocação da assembleia;
 - Critérios pouco definidos para elegibilidade de candidatos;
 - Falta de detalhamento sobre a forma de votação e apuração;
 - Omissão quanto a mandatos, reeleições e substituições em caso de vacância.
 
Essas lacunas podem gerar conflitos entre associados e comprometer a credibilidade da associação.
Imagine uma associação que reúne centenas de associados e chega ao momento de renovar sua diretoria. Sem regras claras, a convocação da assembleia é questionada, dois grupos lançam candidatos sem saber quem realmente pode concorrer, e a apuração é contestada por falta de transparência.
Outro problema que pode ocorrer é a não observância às regras de conflitos de interesses, que devem estar expressas no Estatuto.
O resultado? Um processo que deveria fortalecer a instituição acaba gerando divisões internas, perda de confiança e até ações judiciais que consomem tempo e recursos.
Esses conflitos prejudicam a governança, afastam potenciais parceiros e podem até paralisar projetos importantes. Afinal, quem confiará em uma associação cujo processo eleitoral é instável ou contestado?
A boa notícia é que esses riscos podem ser evitados com estatutos bem redigidos e processos eleitorais estruturados. Alguns passos fundamentais incluem:
Revisão estatutária
Atualizar periodicamente o estatuto para refletir a realidade da associação.
Incluir regras claras sobre prazos de convocação, formas de comunicação e quorum necessário.
Critérios de elegibilidade
Definir requisitos objetivos para candidatos (tempo mínimo de associação, adimplência, ausência de penalidades internas e de conflitos de interesses).
Processo de votação transparente
Determinar expressamente se a votação será presencial, eletrônica ou híbrida.
Estabelecer regras de apuração e divulgação dos resultados.
Comissão eleitoral
Caso as eleições envolvam muitas chapas, criar uma comissão independente para conduzir o processo, evitando conflitos de interesse.
Clareza sobre mandatos e vacância
Estipular duração de mandatos, possibilidade ou não de reeleição e regras para substituições em caso de renúncia ou afastamento.
Atas e registros
Redigir atas detalhadas e registrá-las em cartório, assegurando validade formal e evitando questionamentos futuros.
Eleições são o coração da governança de uma associação. Quando bem estruturadas, trazem legitimidade, fortalecem a confiança dos associados e demonstram transparência ao público externo. Quando mal conduzidas, geram conflitos, insegurança jurídica e perda de credibilidade.
Mais do que uma exigência formal, processos eleitorais claros e estatutos bem elaborados são pilares da boa governança associativa. Eles evitam disputas internas, reduzem riscos de judicialização e permitem que a associação cumpra, com estabilidade e confiança, sua missão social.