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Caos ou transparência? O futuro das eleições nas associações

Processos eleitorais claros fortalecem associações. Estatutos bem redigidos evitam disputas internas, asseguram legitimidade e reduzem riscos de judicialização da sucessão eleitoral.

31/10/2025
Caroline Vaz de Melo Mattos Abreu

Associações civis são peças fundamentais do terceiro setor: representam categorias, promovem causas sociais, organizam eventos e defendem interesses coletivos. A força dessas entidades está diretamente ligada à sua legitimidade, e nada traduz melhor essa legitimidade do que processos eleitorais claros e bem conduzidos.

A eleição da diretoria de uma associação não é apenas uma formalidade: é o momento em que se decide quem estará à frente da entidade pelos próximos anos, definindo estratégias, prioridades e a forma de representar seus associados. Por isso, é essencial que os estatutos prevejam regras transparentes e que a assembleia seja conduzida de forma ordenada e legítima.

Muitas associações ainda enfrentam fragilidades no processo eleitoral. Estatutos genéricos ou desatualizados abrem brechas para interpretações distintas, disputas internas e até judicialização da sucessão de cargos.

Entre os problemas mais comuns estão:

Essas lacunas podem gerar conflitos entre associados e comprometer a credibilidade da associação.

Imagine uma associação que reúne centenas de associados e chega ao momento de renovar sua diretoria. Sem regras claras, a convocação da assembleia é questionada, dois grupos lançam candidatos sem saber quem realmente pode concorrer, e a apuração é contestada por falta de transparência.

Outro problema que pode ocorrer é a não observância às regras de conflitos de interesses, que devem estar expressas no Estatuto.

O resultado? Um processo que deveria fortalecer a instituição acaba gerando divisões internas, perda de confiança e até ações judiciais que consomem tempo e recursos.

Esses conflitos prejudicam a governança, afastam potenciais parceiros e podem até paralisar projetos importantes. Afinal, quem confiará em uma associação cujo processo eleitoral é instável ou contestado?

A boa notícia é que esses riscos podem ser evitados com estatutos bem redigidos e processos eleitorais estruturados. Alguns passos fundamentais incluem:

Revisão estatutária

Atualizar periodicamente o estatuto para refletir a realidade da associação.

Incluir regras claras sobre prazos de convocação, formas de comunicação e quorum necessário.

Critérios de elegibilidade

Definir requisitos objetivos para candidatos (tempo mínimo de associação, adimplência, ausência de penalidades internas e de conflitos de interesses).

Processo de votação transparente

Determinar expressamente se a votação será presencial, eletrônica ou híbrida.

Estabelecer regras de apuração e divulgação dos resultados.

Comissão eleitoral

Caso as eleições envolvam muitas chapas, criar uma comissão independente para conduzir o processo, evitando conflitos de interesse.

Clareza sobre mandatos e vacância

Estipular duração de mandatos, possibilidade ou não de reeleição e regras para substituições em caso de renúncia ou afastamento.

Atas e registros

Redigir atas detalhadas e registrá-las em cartório, assegurando validade formal e evitando questionamentos futuros.

Eleições são o coração da governança de uma associação. Quando bem estruturadas, trazem legitimidade, fortalecem a confiança dos associados e demonstram transparência ao público externo. Quando mal conduzidas, geram conflitos, insegurança jurídica e perda de credibilidade.

Mais do que uma exigência formal, processos eleitorais claros e estatutos bem elaborados são pilares da boa governança associativa. Eles evitam disputas internas, reduzem riscos de judicialização e permitem que a associação cumpra, com estabilidade e confiança, sua missão social.

Caroline Vaz de Melo Mattos Abreu

Caroline Vaz de Melo é especializada em direito empresarial, fundadora do escritório Vaz de Melo Advocacia Empresarial, assessora empresas digitais e associações sem fins lucrativos.

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