A trajetória da advogada Layse Dias é marcada por vocação e dedicação constante.
Natural de Natal/RN, ela ingressou na Faculdade de Direito da UFRN aos 15 anos. Agora, aos 26, celebra nova conquista: foi aprovada no programa de mestrado (LL.M.) da Universidade de Harvard, uma das instituições mais prestigiadas do mundo.
Conheça a história da jovem potiguar que iniciou sua caminhada no Direito ainda na adolescência e que embarca para uma nova etapa acadêmica nos Estados Unidos.
Veja a entrevista:
Despertar para o Direito
Layse conta que decidiu seguir a carreira jurídica aos cinco anos, inspirada pela mãe de um amigo do karatê, que era juíza.
"Um jeito de ser muito correto, muito séria. Eu achava isso demais, eu queria ser como ela, quando eu crescesse", lembra.
O que parecia um sonho infantil logo se firmou em objetivos concretos: escolas exigentes, jornadas intensas de estudo, e um desempenho surpreendente no Enem do primeiro ano do ensino médio.
A aprovação antecipada lhe garantiu vaga no curso de Direito, após autorização da Justiça.
Apesar da pouca idade, Layse diz que a transição para o ambiente universitário foi natural.
"Às vezes eu acho que eu sou muito Poliana porque eu tenho dificuldade para identificar os desafios que eu atravessei. Pelo contrário, acho que eu entrei em uma turma que me acolheu muito bem. E eu não tive desafio de adaptação nenhum. Eu estava acostumada a estudar com muita seriedade assim, um estudo que requeria muito do meu tempo."
Despertar para a advocacia
Se a infância foi marcada pelo desejo de ser juíza, a faculdade abriu novas portas.
O ponto de virada foi a Semana Jurídica da UFRN.
Encantada com o evento, e especialmente por descobrir que era organizado por alunos, Layse se voluntariou e acabou integrando o núcleo fundador do projeto Capitólio, que passou a organizar outras iniciativas, como o "Programa Abril Empreendedor".
A ideia, criada por Álvaro, então presidente do projeto, era simples e revolucionária: levar estudantes para dentro dos escritórios de advocacia, a fim de mostrar na prática o cotidiano profissional da carreira privada.
"Então eu fui coordenar uma turma do 'Abril Empreendedor', porque eu achei a ideia muito legal, mas eu não imaginava que eu seria uma das pessoas que mais seria atingida pelo programa. Eu saí, assim, totalmente encantada, porque eu vi que a rotina do advogado é uma rotina muito dinâmica, que exige estudo contínuo, curiosidade por entender também o negócio do cliente, entender sobre os setores da economia, como as coisas estão funcionando, e, assim, tem um lado muito pessoal de... o advogado defende alguém, né? É a extensão do cliente no Direito, então, eu acho que eu me identifiquei muito com isso."
Layse mergulhou no Capitólio, tornou-se presidente do projeto e passou a organizar eventos sobre temas contemporâneos e estratégicos, como o novo CPC, trazendo profissionais de referência nacional à UFRN.
Múltiplas pontes
Após identificar a afinidade com o Direito Societário e a área de M&A (Fusões e Aquisições), Layse entendeu que conquistar uma vaga nesse campo provavelmente exigiria uma mudança para São Paulo.
Determinada a alcançar esse objetivo, ela começou a traçar um plano de aproximação com o campo jurídico da capital.
Em 2018, participou da conferência "Na Prática", organizada pela Fundação Estudar, onde teve a oportunidade de interagir com representantes de grandes escritórios, entre eles, o BMA Advogados.
Selecionada para a mesa de relacionamento da banca, Layse aproveitou o contato com o RH e com uma sócia da área societária para entender os critérios de seleção, como moldar seu currículo e apresentar sua trajetória com estratégia. Foi um momento decisivo de orientação e foco.
Um tempo depois, idealizou nova etapa do projeto "Abril Empreendedor" e organizou uma visita de alunos a São Paulo, incluindo no roteiro escritórios de advocacia e instituições de pós-graduação. O BMA estava entre os destinos.
Layse seguia firme em seu propósito: frequentava eventos jurídicos, cultivava conexões e buscava estar presente onde sua área acontecia.
O ponto de virada viria em Fortaleza. Ao saber que Paulo Aragão, sócio-fundador do BMA, palestraria na cidade, Layse não hesitou.
Viajou de ônibus, hospedou-se na casa de uma amiga e assistiu ao evento.
Antes mesmo que pudesse se apresentar, foi surpreendida: Fabiana Fagundes, a sócia com quem já havia conversado em eventos anteriores, havia enviado seu currículo a Paulo, que a abordou ao fim da palestra.
A conversa virou entrevista, em francês.
"Quando eu cheguei na palestra, eu mandei uma foto do Paulo, no palco, para a sócia do BMA com quem eu tinha conversado nos outros dois eventos, a Fabiana Fagundes. E a Fabi falou: 'Olha, dá um oi para o Paulo no final, se apresenta, etc'. Eu fiquei super insegura na hora, porque eu pensei: 'Nossa, imagina falar com Paulo Aragão, pessoa que eu admiro tanto', enfim, 'como é que eu vou abordar o Paulo?'. E eu não tive tempo de abordar o Paulo, porque o Paulo me abordou no final da palestra, porque a Fabiana tinha enviado o meu currículo para ele, e ele veio falar comigo."
O resto é história: foi contratada no BMA e, desde então, atua na área de societário e M&A, onde se sente realizada.
Layse reconhece que sua trajetória não seguiu um caminho linear.
"Não foi uma vaga que vi na internet e para a qual apliquei. Às vezes, o percurso de quem não mora em São Paulo ou no Rio, e não tem a oportunidade de estagiar em um escritório grande, é muito mais ocasional do que parece."
Para ela, cada passo foi um esforço de aproximação: frequentar eventos, conhecer pessoas da área, construir conexões. Foi assim que, pouco a pouco, as oportunidades deixaram de parecer distantes e começaram a se tornar possíveis.
A conquista de Harvard
Layse foi aprovada no mestrado (LL.M.) da Universidade de Harvard, um programa de duração anual e com estrutura não especializada, o que permite liberdade na escolha das disciplinas.
Essa flexibilidade, segundo ela, amplia as possibilidades de aprofundamento e personalização da experiência acadêmica.
Ao refletir sobre o processo seletivo, Layse destaca que o domínio do inglês é fator essencial.
Não apenas para realizar o TOEFL, exame exigido na aplicação, mas para elaborar os documentos que compõem o processo, como o personal statement (texto autobiográfico) e um pequeno artigo adicional.
O curso, generalista, permite a escolha de disciplinas conforme a área de interesse.
"Seu inglês precisa estar muito afiado, também para você poder se beneficiar das aulas. Deve ser muito desconfortável chegar e não conseguir acompanhar."
Outro aspecto que ela considera decisivo é o autoconhecimento: compreender a própria trajetória e saber explicar, com clareza, os motivos de cada escolha. Layse ressalta que o modelo de seleção americano é holístico, ou seja, avalia o perfil completo do candidato.
As cartas de recomendação também têm peso importante. Para ela, mais do que buscar nomes de destaque, é essencial manter relações genuínas com professores e colegas de trabalho ao longo da caminhada.
"Aqui nos Estados Unidos, não importa o cargo da pessoa. O que conta é o que ela pode dizer sobre você. Não é o poder da assinatura, e sim a profundidade do vínculo."
Advogar é...
Para Layse, advogar é indissociável da forma como vê a vida.
Ela enxerga a advocacia, especialmente na área de Societário e M&A, como uma atuação que exige escuta ativa, compreensão dos negócios e compromisso com o cliente nos momentos mais delicados.
Ela relata, por exemplo, situações em que o cliente se sente inseguro ao receber um investidor estrangeiro e precisa assegurar direitos essenciais de governança.
Estar ao lado dele nesse processo, em que capital internacional está sendo aportado para impulsionar negócios brasileiros, é, segundo Layse, mais do que uma responsabilidade técnica: é um privilégio.
"Você apoiar o cliente em um momento desse [...], e você ser um parceiro do cliente, ajudar esse cliente a se sentir confiante. Isso é um privilégio, de verdade."
No cotidiano do M&A, isso significa atuar com precisão técnica, especialmente na alocação de riscos e na construção de soluções jurídicas que permitam segurança e crescimento.
Travessia
A história de Layse representa uma travessia de distâncias geográficas. De Natal a São Paulo. De eventos estudantis à advocacia de grandes operações. De uma referência de infância à realização profissional.
Agora, com os pés em Harvard e os olhos no futuro, ela reafirma que o caminho nem sempre é linear, mas pode ser profundamente significativo.