Migalhas Quentes

Venture builders ganham espaço e transformam o ecossistema jurídico no Brasil

Modelo que une capital, tecnologia e know-how impulsiona legaltechs e desafia estruturas tradicionais do Direito.

14/8/2025

No Brasil, o setor jurídico, historicamente resistente à inovação, começa a passar por mudanças estruturais profundas. Um dos vetores dessa transformação são as venture builders especializadas em legaltechs - empresas que combinam capital, expertise e estrutura operacional para criar e escalar startups que oferecem soluções tecnológicas para o universo jurídico.

Esse é o tema do sexto episódio do podcast Geração Legal Tech, que recebe Priscila Spadinger, CEO da Aleve LegalTech Ventures, considerada uma das pioneiras na criação de uma venture builder focada exclusivamente em tecnologia jurídica no país.

Com mais de 20 anos de atuação em fusões e aquisições e um portfólio que soma 2 bilhões de dólares em transações intermediadas, Priscila compartilhou sua transição do mercado corporativo para o empreendedorismo e explicou o funcionamento desse modelo de negócio, ainda pouco conhecido fora dos círculos de inovação.

A venture builder não é só um investidor; ela entra junto, constrói com os fundadores, oferece estrutura jurídica, tecnológica, comercial e estratégica. É como um sócio que entra para fazer a startup dar certo desde o dia zero”, explicou Priscila ao Geração Legal Tech.

O que é uma venture builder?

Diferente de uma aceleradora ou fundo de investimento tradicional, uma venture builder participa ativamente da criação das startups, desde o desenvolvimento da ideia até a operação. O modelo, nascido no Vale do Silício, ganhou força nos últimos dez anos e agora começa a se consolidar no Brasil - inclusive em nichos como o jurídico, que até recentemente eram pouco explorados por startups.

Segundo levantamento da AB2L - Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs, o país já conta com mais de 300 legaltechs ativas, oferecendo soluções como automação de documentos, jurimetria, plataformas de mediação online e ferramentas de compliance. O número praticamente dobrou nos últimos cinco anos.

Tecnologia e IA no Direito

A digitalização do Judiciário, impulsionada pela pandemia, e o avanço da inteligência artificial generativa, como o ChatGPT, colocaram o Direito no centro do debate sobre automação e uso ético da tecnologia.

A IA não vai substituir o advogado, mas quem souber trabalhar com ela vai substituir quem não souber. O profissional do futuro precisa saber interpretar dados, trabalhar com ferramentas e pensar estrategicamente”, avalia Priscila.

Estudos do CNJ apontam que o Brasil é um dos países com maior litigiosidade do mundo, com mais de 80 milhões de processos em tramitação.

A conta não fecha se continuarmos fazendo tudo do jeito antigo. As legaltechs e as ferramentas de IA vêm para otimizar esse sistema que, hoje, é insustentável em termos de custo e tempo”, acrescenta a CEO.

Novo episódio com Priscila Spadinger destaca as transformções causadas pelo aumento da venture builder(Imagem: Divulgação )

Liderança feminina em tecnologia e inovação

Além dos aspectos técnicos, o episódio também abordou a sub-representação das mulheres no setor de tecnologia jurídica. Dados do IBGE mostram que apenas 20% dos cargos de tecnologia da informação no Brasil são ocupados por mulheres - e esse número é ainda menor em posições de liderança ou nas áreas de IA.

Ainda vivemos um apagamento feminino nos ambientes de inovação. São espaços que precisamos ocupar, provocar e liderar. Isso exige coragem e suporte; por isso, iniciativas como venture builders lideradas por mulheres também são um ato político”, disse Priscila.

O podcast como observatório da inovação jurídica

O Geração Legal Tech é uma iniciativa da e-Xyon, empresa de software jurídico, e vem se consolidando como um espaço de discussão estratégica sobre o futuro da advocacia no Brasil. Com linguagem acessível, convidados de referência e atenção às transformações do setor, o programa já abordou temas como jurimetria, justiça digital, ESG e o papel das big techs no Direito.

Veja a versão completa