A demanda por gestores temporários para conduzir projetos de adaptação à reforma tributária aumentou 24% entre abril e junho deste ano, segundo levantamento setorial.
O avanço é explicado, principalmente, pelo crescimento de tarefas extras e pontuais, apontado por 32% das companhias, pela imprevisibilidade do cenário político e econômico, que representou 29% das respostas, e pela necessidade urgente de competências técnicas especializadas, indicada por 25% dos participantes da pesquisa.
O movimento reflete a corrida das empresas para se adequar às novas regras do sistema de tributos sobre o consumo, em meio a um ambiente de incerteza que freia contratações permanentes.
O advogado tributarista especialista em economia e finanças, Bruno Medeiros Durão, sócio do escritório Bruno Durão Advocacia, explica que esse comportamento do mercado está diretamente ligado à complexidade das mudanças e à fragilidade do ambiente de negócios. "A reforma inaugurou um ciclo de projetos intensivos e de duração definida, que vão desde o mapeamento de impactos por NCM e serviços até a revisão de contratos, a reprogramação de sistemas de gestão e a governança de créditos".
"Em um momento em que a confiança empresarial se mostra mais fraca, é natural que as companhias priorizem a alocação de especialistas por projeto, garantindo velocidade de execução sem a necessidade de inflar a estrutura fixa de colaboradores", afirma o especialista, lembrando que o ICEI - Índice de Confiança do Empresário Industrial caiu para 46,1 pontos em agosto, o menor nível do ano.
A regulamentação da EC 132/23 avançou este ano com a LC 214/25, que detalha as regras do IBS, da CBS e do Imposto Seletivo, além de definir a transição até a implantação integral do IVA dual em 2033. Segundo Bruno Medeiros Durão, esse cronograma impõe às empresas uma agenda intensa de adaptações já a partir de 2026.
"A transição não é apenas tributária; ela é tecnológica, contábil e contratual. Muitas organizações precisam rever processos, redesenhar fluxos de compliance e integrar sistemas em um ambiente em que nem todos os municípios estão prontos para a NFS-e nacional. Essa assimetria aumenta a complexidade, sobretudo para grupos com atuação multirregional", completa.
Estudos recentes também apontam que a chamada "alocação por projetos" tem ganhado relevância como alternativa de curto e médio prazo em áreas críticas como finanças, jurídico, tributário e tecnologia da informação.
O "Guia Salarial 2025", da consultoria Robert Half, destaca que esse modelo de trabalho tem sido adotado com frequência para ciclos de três a nove meses, sobretudo em funções que exigem alta especialização e atualização contínua. Para o advogado, trata-se de um caminho estratégico para enfrentar o momento.
"O desenho ótimo tem sido combinar um núcleo interno permanente com interinos e consultores externos responsáveis por entregar as etapas da reforma. Esse arranjo é custo-efetivo, reduz riscos de compliance e acelera a curva de aprendizado das empresas", avalia.
Com a implementação gradual do novo sistema tributário e os primeiros prazos já no horizonte de 2026, a expectativa é de que a demanda por gestores temporários siga em expansão ao longo dos próximos meses.
Para o advogado, as organizações que conseguirem estruturar projetos bem definidos e governança clara tendem a capturar eficiência no processo. "O que vai diferenciar quem se adapta com tranquilidade de quem apenas apaga incêndios é a capacidade de priorizar as frentes críticas, precificação, créditos e sistemas, com planejamento e marcos de entrega bem estabelecidos até 2026", conclui.