Migalhas Quentes

Criança com paralisia cerebral será indenizada por atraso em viagem de ônibus

TJ/RO afirmou que o atraso de mais de quatro horas, sem assistência, configurou falha grave no serviço, agravada pela hipervulnerabilidade do passageiro.

11/9/2025

A 2ª câmara Cível do TJ/RO manteve, por unanimidade, a condenação de empresa de transporte rodoviário ao pagamento de R$ 6 mil por danos morais. O colegiado entendeu que o atraso superior a quatro horas na partida de ônibus intermunicipal, somado à ausência de qualquer assistência, configurou falha grave na prestação do serviço, gerando o dever de indenizar.

A situação foi agravada pelo fato de o passageiro ser uma criança de seis anos, portadora de paralisia cerebral, em condição de hipervulnerabilidade.

TJ/RO mantém indenização a criança com paralisia cerebral por atraso de mais de 4 horas em viagem de ônibus(Imagem: Freepik)

Entenda o caso

A ação de indenização foi proposta em razão do atraso em viagem no trecho Ariquemes–Cacoal, prevista para o dia 5 de julho de 2024 às 11h35. O embarque ocorreu apenas por volta das 15h. Durante a espera, a criança e sua família permaneceram no terminal rodoviário sem informações, alimentação ou suporte da empresa.

A parte autora destacou que a demora, somada à falta de assistência, agravou o sofrimento em razão da condição de saúde da criança. O pedido foi fixado em R$ 6 mil a título de danos morais.

Em primeira instância, a sentença reconheceu a falha na prestação do serviço e condenou a transportadora ao pagamento da indenização, além de custas e honorários advocatícios.

No recurso, a empresa alegou que atrasos fazem parte dos riscos do transporte e não configuram, por si só, dano moral, mas mero aborrecimento. Defendeu também que, por se tratar de passagem gratuita, o valor arbitrado deveria ser reduzido.

O Ministério Público opinou pela manutenção da sentença, destacando a responsabilidade objetiva da transportadora e a gravidade da situação.

Falha grave e dano moral reconhecido

O relator, desembargador José Torres Ferreira, ressaltou que a relação jurídica é de consumo e atrai a aplicação do CDC, que prevê responsabilidade objetiva do fornecedor (art. 14). Destacou que o atraso de mais de quatro horas, motivado por problemas mecânicos, caracteriza fortuito interno, ou seja, trata-se de risco inerente à atividade empresarial, que não afasta o dever de indenizar.

Ele também destacou o descumprimento da resolução 4.282/14 da ANTT, que impõe às transportadoras o fornecimento de alimentação e, se necessário, hospedagem em atrasos superiores a três horas. “A omissão da apelante em prestar a mínima assistência ao apelado e a seus genitores, deixando-os desamparados em terminal rodoviário por horas a fio, agrava sobremaneira sua responsabilidade e evidencia o desrespeito às normas regulatórias incidentes sobre o setor”, pontuou.

Para o relator, o dano moral ficou caracterizado não apenas pelo atraso, mas também pelo descaso e pela falta de assistência, que expuseram a criança a sofrimento físico e emocional. Ele rejeitou ainda o argumento de que a presença dos pais afastaria a responsabilidade da transportadora.

"O apelado é uma criança com severas limitações motoras e neurológicas, para quem uma espera prolongada, em condições adversas, representa não apenas desconforto, mas verdadeiro sofrimento físico e emocional. A quebra abrupta de sua rotina, a privação de conforto, a ausência de alimentação adequada e a exposição a ruídos, estímulos e temperaturas inadequadas assumem contornos mais graves diante de sua condição clínica."

Por fim, ao analisar o valor da indenização, considerou que a quantia de R$ 6 mil é adequada e proporcional, pois cumpre função compensatória e pedagógica, sem representar enriquecimento ilícito. Assim, manteve a sentença em todos os seus termos e majorou os honorários advocatícios para 12% sobre o valor da condenação.

Por unanimidade, a 2ª câmara Cível do TJ/RO acompanhou o voto do relator e negou provimento à apelação.

Leia o acórdão.

Veja a versão completa

Leia mais

Migalhas Quentes

STF analisará com repercussão geral indenização por voo cancelado

26/8/2025
Migalhas Quentes

TJ/MG: Passageira que perdeu diária receberá R$ 10 mil por atraso em voo

22/6/2025
Migalhas Quentes

Buser é condenada por atraso de 6 horas devido à falta de combustível

3/2/2025
Migalhas Quentes

Buser deve indenizar quatro passageiros por mudança em horário de viagem

26/9/2024
Migalhas Quentes

Empresa indenizará mulher que perdeu concurso por atraso de ônibus

22/1/2024