Marketing Jurídico

12 passos para criar sua agência e enganar advogados ingênuos

A coluna aborda os 12 passos que fornecedores inescrupulosos usam para enganar advogados ingênuos e lucrar com marketing jurídico falso.

15/8/2025

Caro fornecedor sem decência, quer ganhar dinheiro com advogados que não sabem o que é marketing jurídico e acreditam em qualquer papo, mesmo se for o mais descarado e improvável possível? Eu te mostro aqui os 12 passos para você ficar rico com o dinheiro suado dos causídicos. Vamos lá:

1 - Crie suas redes sociais e logo de cara já compre entre 20 e 30 mil seguidores para impressionar quem vê o perfil. O advogado ingênuo não consegue entender que se você tivesse esse número real de seguidores orgânicos, suas postagens teriam centenas de curtidas e compartilhamentos espontâneos ao invés do pequeno número apresentado.

2 - Grave diversos vídeos falando que sua solução é inovadora e que não necessita de esforço nenhum do advogado para ele ficar rico. Não esqueça de começar o vídeo com "Ei, advogado" (rsrs) e de gravar em locais modernos, carros luxuosos ou mansões alugadas que geram a sensação de “Nossa, como ele conseguiu! Quero ser como ele” em quem está vendo.

3 - Sempre apele para ganância existente em todos nós. Use frases como “Triplicar faturamento”, “Ganhe 100 novos clientes em uma semana”, “Mais de 1 milhão em contratos” e outras. É mentira? É. Mas o advogado ingênuo vai acreditar plenamente que você consegue fazer isso, mesmo não tendo prova nenhuma para apresentar.

4 - Sempre pague para patrocinar seu vídeo, mesmo sendo lógico que se você tivesse atendido e dado resultado às centenas de advogados que você diz, eles mesmo fariam a indicação de novos clientes para você, sem você precisar aparecer pagando. O advogado ingênuo nem vai perceber isso.

5 - Use depoimentos de parceiros, pirâmides de beneficiados, amigos ou simplesmente depoimentos comprados para ter alguma veracidade nos seus negócios e prova social que possa validar suas ações. Impressionar o mercado é importantíssimo para que a mentira seja absorvida! O advogado ingênuo não vai entender o trâmite envolvido por trás desses depoimentos “espontâneos” e nem vai atrás para ver se são reais. E por falar em reais, em breve talvez a Inteligencia Artificial possa ajudar na criação de depoimentos cada vez mais influenciadores e interessantes. Afinal de conta, se o advogado ingênuo vê alguém falando em vídeo deve ser real, certo? Ele ainda não entende que seguidores, curtidas, comentários e depoimentos são facilmente comprados e que existe um grande mercado de fornecedores para isso.

6 - Puxe a sardinha para sua ferramenta dizendo que ela é igual ao marketing jurídico completo. Exemplos: se você só sabe fazer marketing digital, fale que marketing jurídico é marketing digital, se você tem uma agência de criação de materiais para advogados, fale que marketing jurídico é igual a sites e redes sociais, se você tem uma assessoria de imprensa, fale que marketing jurídico é a mesma coisa que colocar um artigo em uma mídia. Mesmo o mundo inteiro sabendo que marketing jurídico é a junção entre análise criteriosa, criação de uma estratégia que explora mais de 60 ferramentas possíveis e implementação customizada baseada na rotina do escritório, o advogado ingênuo vai comprar a ideia de que uma única ferramenta vai solucionar o problema dele. Algo como falar que dá para fazer feijoada apenas com linguiça e nada mais, sabe?

7 - Ofereça algo gratuitamente: uma imersão (onde ao final você vai oferecer a compra de uma mentoria), uma palestra (onde ao final você vai oferecer a compra de um curso completo), uma mentoria (onde ao final você vai oferecer a compra de um e-book revolucionário) ou qualquer coisa que faça ele vir até você. O advogado ingênuo não entende que não existe ação gratuita onde não exista interesse em venda efetiva.

8 - Mesmo se você trabalhar no quarto da casa da sua mãe, fale "nosso time vai te atender" para parecer grande e estruturado. Se possível, nas reuniões online, use um fundo digital na câmera para parecer que está em uma sala de reunião espaçosa.

9 - Ao se referir a você, use palavras como “especialista”, “referência”, “autoridade”, “mentor” e “líder” abundantemente, mesmo sem ninguém nunca ter te chamado assim. O advogado ingênuo acredita que se você falou que é uma destas coisas é porque é verdade. Não esqueça de colocar isso nas redes sociais também para aumentar o impacto da auto proclamação.

10 - Mesmo se estiver começando agora, fale que já tem experiência comprovada de muitos anos. O advogado ingênuo não vai verificar nada, mesmo sendo extremamente fácil pedir o CNPJ da empresa e ver realmente quando você iniciou suas atividades.

11 - Se eventualmente o advogado ficar um pouco esperto e pedir uma lista de clientes satisfeitos com seu trabalho antes de te contratar, diga que não pode passar, pois não é política da empresa e que isso poderia ferir a LGPD dos dados de seus clientes. Por mais suspeito que isso seja, o advogado ingênuo não vai achar estranho uma empresa que diz dar resultado não poder referenciar um cliente verdadeiro para conversa sobre seus resultados reais.

12 - O advogado ingênuo não vê avaliações no Google e nem pesquisa o Reclame Aqui antes de contratar. Então fique tranquilo com aquele cliente que ficou P da vida com seu trabalho e foi reclamar nas plataformas, pois o advogado ingênuo vai te contratar mesmo estando a dois cliques de entender os resultados reais que você dá ao mercado. Não esqueça de apagar comentários críticos e reclamações das suas redes sociais também, ok?

Dica final - Quando o advogado ingênuo começar a perceber a falta de resultados nos trabalhos, culpe o mercado saturado e fale que vai “tentar uma nova abordagem”, assim você consegue extrair um pouco mais de dinheiro por mais um tempinho.

Pronto! Você enganou algumas centenas de advogados e agora está rico! Missão cumprida!

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Colunista

Alexandre Motta é consultor e sócio diretor do Grupo Inrise. Com formação e pós-graduação em marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), atuou durante cinco anos em escritório jurídico como responsável pela área de desenvolvimento de negócios e comunicação com clientes. É palestrante oficializado pela OAB (tendo recebido inclusive a Medalha do Mérito Jurídico), escreve artigos de relevância para o mercado atual e é autor dos livros "Marketing Jurídico - Os Dois Lados da Moeda", "O Guia Definitivo do Marketing Jurídico" e "O Novo Marketing Jurídico". Apresenta também o programa de entrevistas Conversa Legal, focado na interatividade dos profissionais do setor jurídico. Desde 2002 mantém, através de sua consultoria, uma clientela de inúmeros escritórios jurídicos sob sua responsabilidade de atuação e crescimento em marketing ético.