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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 6 de abril de 2010

Política & Economia NA REAL n° 95

Sinais vitais Finalmente a maior economia do globo mostrou sinais de vitalidade. O setor laboral dos EUA deixou de perder empregos e, pela primeira vez em três anos, houve geração de empregos num mês, no caso o mês passado. Este é o dado importante dentre um conjunto destes divulgados na última semana : os indicadores de consumo de matérias-primas, gastos do consumidor e expectativas dos consumidores também melhoraram. É cedo para falar em aumento dos investimentos, mas no mercado financeiro, tão recheado de previsões, já há esta expectativa. Se os EUA melhorarem... Se estes sinais vitais e iniciais da economia norte-americana se fortalecerem e se tornarem uma tendência há duas consequências imediatas sobre os países emergentes que hão de repercutir no mercado financeiro e de capital : (i) a elevação das cotações das commodities, fato este importantíssimo para a atração de capitais estrangeiros e (ii) a elevação da taxa de juros dos títulos do tesouro americano que reajustará todos os preços dos títulos de renda fixa globais. Ontem, tais títulos superaram os maiores patamares desde junho do ano passado. De outro lado... O fortalecimento da economia dos EUA implica em maiores cuidados na condução da política monetária dos emergentes. Alta das commodities significa mais divisas, mas também o repasse destas altas no mercado interno, pois que para este segmento preços domésticos e externos são alinhados. Também subirá o custo de captação das empresas e do governo brasileiro. Mas o balanço é positivo Apesar das previsões dando conta da perda da hegemonia norte-americana, a verdade é que, no curto e no médio prazo, não há a menor possibilidade da economia mundial caminhar bem e os EUA não. Um país que representa quase 1/4 do PIB do mundo tem relevância estratégica na saída da atual crise mundial. Portanto, quaisquer riscos que possam ser adicionados pela recuperação dos EUA não são maiores que a recessão daquele país. A alta de juros e dos preços das commodities é, portanto, um excelente sinal. Radar NA REAL Os últimos dados da economia dos EUA alteram as nossas recomendações de investimento, sobretudo no caso das bolsas de valores que devem ser positivamente afetadas, caso se confirme a maior solidez da economia americana. De outro lado, qualquer alta significativa do dólar em relação ao Real parece afastada no curto prazo. A elevação das cotações das commodities, somada com o provável ingresso de capital estrangeiro, deve deixar a moeda norte-americana pressionada perante as moedas dos países emergentes, especialmente no caso do Brasil, país que tem o modelo cambial mais livre dentre os BRICs. O cenário é otimista, mas dificilmente se poderia projetar um ano com resultados tão positivos quanto o ano passado no caso do Brasil. Além disto, temos eleições e este é fator de risco significativo. 31/3/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3493 estável/queda estável/baixa - REAL 1,7645 estável/alta estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.136,35 alta estável/alta - S&P 500 1.169,43 alta alta - NASDAQ 2.397,96 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O jogo de profissionais e a "PMDB-dependência" Bem que Lula tentou, mas não deu. Mesmo com sua decantada - e reconhecida - habilidade política, não deu para enquadrar o PMDB como ele e o PT pretendiam. O episódio envolvendo a decisão do presidente do BC em ficar no posto atual encerra, com um passeio peemedebista, a intenções de Lula e dos companheiros de não deixar o partido de Michel Temer, José Sarney e outras companhias tão excessivamente poderosos na aliança de apoio a Dilma. Das ambições políticas de Henrique Meirelles até a torcida da seleção brasileira tinha notícias. Mas ele não entrou de graça no PMDB. Foi superiormente aconselhado. Insuflado e discretamente ajudado pelo conselheiro, passou os últimos seis meses tentando fazer-se vice da ex-ministra, na vaga reservada ao PMDB por Lula e Dilma. As vozes do PMDB governista e seus trunfos foram mais elevados que o desejo de Meirelles, e as idiossincrasias de Lula e Dilma em relação aos principais nomes cogitados pelo maior partido governista, a começar pelo presidente da Câmara, Michel Temer. Dilma, o reverso da medalha Na outra ponta, o maior desafio de Dilma e Lula é mesmo empolgar - ou pelo menos invadir um pouco mais os corações - das regiões mais ricas - Sul e Sudeste - e dos setores mais escolarizados e de melhor nível de renda. A classe média, negligenciada há algum tempo nas análises sobre influências eleitorais, vai fazer a diferença em outubro. Por ironia, incluindo a chamada "nova classe média do Lula", os emergentes que nos últimos anos deixaram a classe D. Uma vitória completa Não foi somente em relação a Meirelles, como vice de Dilma, que o PMDB "passou a perna" nos parceiros. Nas mudanças ministeriais também conseguiu impor seus desejos pelo menos em três mudanças, contra os propósitos de Lula, do PT e até de outros peemedebistas : 1. No ministério da Agricultura o deputado Michel Temer emplacou o apadrinhado Wagner Rossi, político de portuárias utilidades. Lula pretendia, com exceções, substituir os ministros renunciantes por seus secretários gerais. Reinald Stephanes também apoiava o seu substituto. 2. Hélio Costa emplacou seu chefe de gabinete como ministro, para a esposa do qual passou a propriedade de uma rádio em Barbacena, em detrimento do secretário-geral e em detrimento de um candidato, Antonio Beldran, da Anatel, lançado dos escaninhos palacianos. 3. No ministério do Interior, prevaleceu a máxima do secretário-geral : João Santana vai substituir Geddel Vieira Lima para desgosto dos petistas baianos. O PMDB pôs e dispôs. Lula achou que tinha as chaves. Não tinha. O PMDB não somente tinha as chaves como também - e principalmente - as armas. Por essas e outras, dúvidas sobre o futuro de um futuro governo Dilma no Congresso aumentaram depois destes episódios. Se, com toda a sua malícia política, Lula levou uma pernada do PMDB, o que será de Dilma e sua quase nula vivência partidária ? Agora, Minas Gerais O PT ainda vai ter de render mais uma homenagem ao PMDB. Mais uma pelo menos. Em MG, com seus 14 milhões de votos e Aécio Neves, com índices positivos de avaliação no Estado superiores aos de Lula, o PT terá de ceder a primazia da disputa ao Palácio da Liberdade ao ex-ministro Hélio Costa. Vai haver choradeira e vestes rasgadas. Em tempo A entrevista de Aécio à revista Veja desta semana é um primor de pessedismo (do velho PSD) ou tancredismo : afirmativa em alguns pontos, ambíguas em outros. Ele deixa claro, porém, que sabe que a oposição (lá no Estado) quer quebrar suas pernas. E político em MG sem o Palácio da Liberdade é político manco. De cócoras ? O governo provavelmente terá de ajoelhar e rezar outras vezes diante do PMDB, além das orações que já destinou ao partido no altar sagrado das urnas. Uma via sacra também está instalada no Congresso. O relator da polêmica proposta de divisão dos royalties do petróleo na Comissão de Assuntos Econômicos no Senado é ninguém menos que o peemedebista alagoano Renan Calheiros. Calheiros, além de seu abissal desconhecimento dos assuntos de energia, é tido e reconhecido como um político de lealdades escolhidas. Para complicar, a relatoria de todos os quatro projetos referentes às novas regras de exploração de petróleo na Comissão de Constituição e Justiça do Senado ficaram nas mãos de oposicionistas. Ele não é do ramo mesmo As vacilações de Henrique Meirelles em relação à sua carreira no mundo partidário e eleitoral, querendo garantias de que seria vice de Dilma ou então a segurança de um apoio forte para um cargo em GO, demonstram apenas que ele não é da política, nem da pequena, nem da grande. É um homem financeiro, ou seja, quer pequenos riscos e muita segurança, para não perder nunca. E em política, quem espera nunca alcança. A desculpa de que resolveu ficar como garantia da "estabilidade econômica" é quase um insulto ao presidente Lula, aos outros membros da equipe econômica do governo e à própria ex-ministra Dilma. Pode custar caro A desastrada aventura política de Meirelles pode ter custos elevados. Para reafirmar uma credibilidade abalada, ele poderá ser tentado a ser mais ortodoxo do que vinha sendo até a fatídica - e nada explicada - reunião do COPOM de duas semanas atrás. O mercado financeiro, que não é nada amador, vai dizer qual será o preço real das vacilações de Meirelles. Salto alto Bastou o DataFolha constatar um crescimento da diferença de intenção de votos entre o tucano José Serra e a preferida de Lula Dilma Rousseff para a oposição começar a subir novamente nos tamancos. O discurso de despedida de Serra do governo paulista teve passagens que a prudência aconselharia terem sido deixados de lado. A fogueira das vaidades, que estava consumindo petistas e aliados no período em que Dilma subia a cada pesquisa, passou agora a fazer ferver o caldeirão oposicionista. O que há de "donos de candidaturas", de brigas entre aliados (como no RJ) é de fazer inveja ao que se viu até pouco tempo atrás nos meios aliados a Dilma. Além das obras Uma curiosidade em relação aos programas e discursos eleitorais dos candidatos aos cargos majoritários é saber como serão abordados dois temas que são sensíveis à população, mas que tem sido relegados a segundo plano pelos candidatos : (i) a enorme corrupção no setor público que parece penetrar no setor privado e (ii) a violência, cujos indicadores tornam o Brasil um dos mais violentos do mundo. Ou será que este assunto não interessa a ninguém ? Infraestrutura, copa do mundo e olimpíadas Não precisa ser grande pesquisador para constatar a precária situação de muitas cidades que serão sede da próxima copa do mundo, sobretudo no caso do RJ, que será também sede dos jogos olímpicos de 2016. Pouco se sabe como as obras essenciais serão tocadas pelos organizadores destes eventos, além da completa ignorância sobre seus custos. O impressionante de tudo isto, é que há muita probabilidade deste assunto ser esquecido ao longo deste ano eleitoral. Bestialógico castrense Vejam esta da coluna de Ancelmo Góis n'O Globo de ontem : "O Brasil não teve exilados, mas fugitivos". Autor : General Leônidas Pires Gonçalves, ex-ministro do Exército de José Sarney. Maribondos atacam a internet "Se não foi a internet que inventou a mentira, tornou-se difícil viver tendo que procurar onde está a verdade." Esta pérola foi escrita por José Sarney na sua coluna na Folha do dia 26/3/10. Será que Sarney gostaria de censurar a internet ?
terça-feira, 30 de março de 2010

Política & Economia NA REAL n° 94

  Sinais de estabilização e calma Na semana passada, tivemos duas boas notícias que aliviaram as tensões mais recentes na economia mundial. A primeira foi o reforço na liderança política do presidente Obama com a vitória na reforma do sistema de saúde por estreita margem de votação na Câmara dos Representantes. Isto ocorreu no exato momento em que o declínio da popularidade do presidente estava em marcha e já causava desconfianças na execução da política econômica. A segunda notícia foi o apoio da União Européia à Grécia que pôde assim emitir títulos novos no mercado e rolar sua dívida. Neste caso, foi um apoio tardio devido à teimosia da Alemanha que, apesar de ter um governo dito progressista, mostrou-se uma aliada da especulação em relação à economia helênica. Calma nos mercados As duas notícias mencionadas na nota acima foram suficientes para acalmar os ânimos especulativos, sobretudo no mercado de moedas e no mercado de ouro. Adicionalmente, os mercados acionários mais importantes do mundo se valorizaram e reforçaram a percepção de que há mais fundamentos positivos que negativos neste momento. A demanda nos EUA continua a se recuperar, mesmo que o ritmo ainda seja lento. De toda a forma é muito provável que os resultados do primeiro trimestre do ano das maiores empresas com cotações em bolsa sejam bons e corroborem as boas-novas. Brasil, também em ritmo lento Há sinais inequívocos de que os fluxos de capital para o Brasil, sobretudo no mercado financeiro e de capital, estão se reduzindo. Os investidores acreditam que o crescimento de 2010 está "garantido", mas de outro lado, não há nenhuma política nova que indique que a sustentação do crescimento a partir de 2011 seja sólida. De pouquinho em pouquinho os investidores querem saber mais sobre o processo eleitoral e a influência sobre a economia. Sonho meu... A China mantém desde o final dos anos 80 uma política cambial francamente favorável às exportações do país. Foi este um dos principais componentes para favorecer a ampla industrialização do país nestas últimas décadas. O governo Obama teme que a continuidade da fortaleza do dólar perante o Yuan, a moeda chinesa, dificulte a recuperação da economia norte-americana. Assim sendo, a questão cambial é a prioritária na relação entre os dois países. Na última quinta-feira, o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, disse perante o Senado que há sinais de que a China valorize a sua moeda nos próximos meses. O detalhe monstruoso da fala é que a opinião de Geithner não tem absolutamente nenhum amparo na realidade. O governo chinês continua mudo e mouco quando o assunto é câmbio. Só não é cego... Política monetária política I A leitura da última ata do Copom, referente a reunião de duas semanas atrás, que optou pela manutenção da taxa básica de juros em 8,75%, não deixa a menor dúvida - a manutenção da Selic foi uma decisão meramente política. E não de política monetária. Ou foi isto ou o BC está precisando contratar um redator para seus textos com melhores relações com a língua pátria. Política monetária política II Aventam-se três razões para esta decisão : 1. A diretoria do BC não suportou as sugestões de Lula e as pressões do ministério da Fazenda; 2. Deu-se um presente do presidente do BC, Henrique Meirelles, às vésperas de seu retorno à política eleitoral e partidária. Não ficou nas suas costas a mancha (tida como impopular eleitoralmente) de ter iniciada a nova escalada dos juros brasileiros; 3. Deu-se um presente ao futuro presidente da instituição, Alexandre Tombini : como ele é funcionário da carreira (tido, portanto, como mais influenciável por seus sucessores) e é apontado como um adversário duro dos monetaristas radicais que ocupavam algumas diretorias do BC, ganho a oportunidade de comandar a ascensão da Selic para mostrar externamente independência e firmeza de convicções quanto ao papel da política monetária. Qualquer que tenha sido a motivação do BC, as três acima ou outras, a verdade é que gerou uma desconfiança quanto ao poder da influência eleitoral nas decisões econômicas neste momento. O Relatório Trimestral da Inflação, do BC, a ser divulgado esta semana, poderá dar indicações cruciais sobre o que o BC está pensando da situação econômica. É o último redigido sob a égide e sob a orientação do diretor Mário Mesquita, o último diretor do BC nesta fase egresso do mercado financeiro. Radar NA REAL Continuamos recomendando aos nossos leitores que mantenham as suas posições de risco. Nas duas últimas semanas houve uma boa recuperação dos mercados acionários mundiais e menores inquietações no mercado de renda fixa e de moedas (por causa do plano de resgate da Grécia) e no de metais (tranquilidade maior em relação aos riscos e à inflação). Manter as posições é a melhor estratégia, mas é muito pouco provável que existam mudanças bruscas no cenário. Assim sendo, a sensação de marasmo pode voltar. É preciso olhar para um horizonte de mais longo prazo neste momento em que a renda fixa não rende muito, sobretudo lá fora, e os mercados acionários continuam de olho no perfil dos fundamentos macroeconômicos. Paciência é a palavra do momento. 30/3/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3451 estável/queda estável/baixa - REAL 1,8090 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 68.682,66 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.159,99 estável alta - NASDAQ 2.403,77 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A eleição ainda não fez morada no coração brasileiro O dado mais expressivo da pesquisa DataFolha que surpreendeu agradavelmente uma oposição cabisbaixa e tirou a paz dos eufóricos governistas - José Serra obteve 9% de frente sobre Dilma Roussef, contra 4 pontos do levantamento de um mês atrás - está sendo negligenciado nas análises do novo cenário constatado pelo instituto : quase 60% dos eleitores (59% para ser bem exato) não sabem ainda em quem vão votar se não se lhes apresenta a lista com os prováveis candidatos. A principal tradução disto é que o retrato que as pesquisas estão revelando até agora é extremamente precário e nada é definitivo. O coração do brasileiro "médio" ainda não assimilou a disputa eleitoral, tem outras preocupações, tais como seus afazeres do dia a dia e, em pouco tempo, a Copa do Mundo. A política eleitoral vai ficar mesmo para agosto. No momento, ela é preocupação apenas dos participantes do jogo e de parte da sociedade mais bem informada. Não chegou ainda ao que o experiente Tancredo Neves chamava de "grotões". O que, pelos sinais disponíveis, conta mais pontos para Dilma (na verdade para Lula). Todas as pesquisas dos últimos meses mostram que quanto menor o grau de escolaridade e quanto menor o nível de renda do eleitor mais seu voto tende para o governismo. Este o grande desafio de Serra e da oposição : furar a barreira do programa Bolsa-Família. Dilma, o reverso da medalha Na outra ponta, o maior desafio de Dilma e Lula é mesmo empolgar - ou pelo menos invadir um pouco mais os corações - das regiões mais ricas - Sul e Sudeste - e dos setores mais escolarizados e de melhor nível de renda. A classe média, negligenciada há algum tempo nas análises sobre influências eleitorais, vai fazer a diferença em outubro. Por ironia, incluindo a chamada "nova classe média do Lula", os emergentes que nos últimos anos deixaram a classe D. PT, o problema O partido do presidente Lula não parece nem um pouco interessado em facilitar a vida de seu líder e da candidata que ele lhe impôs. Está querendo mostrar que não é tão submisso assim. Só deste modo pode-se entender a decisão do PT do Maranhão - de, por escassos dois votos (87 a 85), apoiar a candidatura ao governo do Estado do deputado Flávio Dino, de outro aliado, o PC do B, contra a atual governadora Roseana Sarney. Logo na terra de José, o patriarca do clã, a quem Lula estendeu todos os salamaleques e que tem peso nas decisões do PMDB governista. Até parece provocação. PT, o problema - II Não foi também ao gosto do governador Sérgio Cabral, o emotivo peemedebista fluminense, homem capaz de chorar lágrimas de pré-sal por qualquer coisa, a definição do PT/RJ pela candidatura de Lindberg Farias ao Senado em detrimento da ex-ministra Benedita Silva, secretária de estadual de Assistência Social. A vitória do prefeito de Nova Iguaçu foi ampla. Só pode ser provocação. Minas na mira Com essas pequenas articulações petistas, mas significativas do ponto de vista simbólico, o governo terá de redobrar suas atenções em Minas Gerais, onde a disputa entre PMDB e PT para ver quem dá o candidato a governador da chapa governista está longe de uma solução amigável. Apesar de Lula já ter avisado aos dois contendores petistas, o ministro Patrus Ananias e o ex-prefeito Fernando Pimentel, que a preferência é do ministro Hélio Costa, do PMDB, os peemedebistas ainda não se deram por achado. E, segundo as surdas vozes políticas, que sopram das montanhas das Gerais, não vai se conformar tão cedo - e talvez nunca. Os ventos mineiros até já reentronizaram na política local uma expressão dos anos 1950, nascida a partir da frustrada candidatura do mineiro Cristiano Machado à presidência da República, pelo velho PSD, contra Getúlio Vargas - cristianização. O PSB entregou seu candidato aos leões e foi aninhar-se nos braços do ex-ditador. Cristianizar virou sinônimo de traição política. Diz um maldoso que o verbete pode ganhar um sinônimo no dicionário da política brasileira : helizar ou costear. A paz tucana Os serristas ganharam um fôlego para tentar celebrar uma paz total com seus companheiros de plumagem e contornar as insatisfações crescentes no DEM. O DEM está para o PSDB assim como o PMDB está para Lula, guardadas um pouco as proporções. Rojões peemedebistas Tanto quanto os tucanos e companhia, quem está comemorando o resultado da pesquisa DataFolha é, por paradoxal que seja, o PMDB governista de Michel Temer, José Sarney e outros abnegados de mesma estirpe. Como comentamos neste espaço outras vezes, o PT e Dilma, dada a impressionante arrancada da ministra nos últimos meses, estavam sentindo-se respaldados o suficiente para desdenhar a importância eleitoral do PMDB. Lula e os seus vão ter de rever esta posição e tomar, além de um caldinho de galinha, uma boa mezinha caseira para a ansiedade : com novo cacife, o PMDB vai voltar a ser uma noiva menos ofertada. Opacidade - I Quem conhece a ministra Dilma, para além das aparências que ela exibe, e desfruta de informações de dentro de seu esquema eleitoral, garante que é menor que zero a possibilidade de o ex-ministro José Dirceu ocupar posição de influência e destaque na campanha da preferida de Lula. E depois do tiroteio do caso Telebrás/Eletronet, que pegou o antecessor de Dilma na Casa Civil em pleno salto para voltar a dar cartas no PT, o conselho dado ao agora empresário é que ele se recolha aos bastidores, em silêncio obsequioso. Opacidade - II Apagaram-se mais algumas velinhas que iluminavam a vacilante candidatura presidencial do deputado Ciro Gomes. Não deve passar de meados de abril. Chantagem A Petrobras está ameaçando cortar parte dos seus investimentos este ano, de R$ 88 bilhões, se o Congresso (o projeto já está no Senado, mas volta à Câmara se for modificado pelos senadores) não aprovar definitivamente até meados do ano a proposta de capitalização da empresa. Candidamente seus dirigentes dizem que não estão pressionando os parlamentares. E não estão mesmo, estão indo um pouco mais longe - para o perigoso terreno da chantagem. Pode colher efeitos exatamente contrários ao visado. Congressistas gostam demais desse tipo de desafio : aumentar o poder de barganha deles. O Congresso ameaça ? A semana de feriado, com a Brasília do Congresso naturalmente mais vazia, não trará descanso para os operadores políticos do governo no legislativo. Eles precisarão costurar um acordo para a votação da MP do aumento dos aposentados que ganham acima do salário mínimo para evitar que os deputados aprovem um reajuste muito superior ao que ele julgar razoável no momento. O texto original prevê um reajuste real 50% daquele pretendido pelos deputados, inclusive boa parte dos governistas. Há ainda a possibilidade de se aprovar uma emenda equiparando daqui para frente o aumento de todas as aposentadorias ao reajuste do salário mínimo. Se for a votação sem acordo, passa. E o acordo tem de ser muito bem acertado para não haver surpresas. Tudo o que Lula não quer é ter de vetar uma coisa dessas no auge da campanha eleitoral. Rebelião no Congresso ? Se se confirmar a informação de que o contigenciamento (suspensão que pode ser temporária ou definitiva) de mais de R$ 21 bilhões determinado pelo Ministério do Planejamento no Orçamento deste ano atingirá R$ 10 bilhões dos R$ 15 bilhões previstos para as chamadas emendas parlamentares, o governo pode se preparar para alguma "falseta" por parte dos deputados e senadores. Um corte desses, em um ano em que a maioria está envolvida em árdua guerra pela reeleição ou por um novo cargo político, é considerado uma traição. E costuma ser vingado quando menos se espera, numa dessas votações que o Executivo considera cruciais. Como, por exemplo, a questão dos aposentados. Ou, do pré-sal.   
terça-feira, 23 de março de 2010

Política & Economia NA REAL n° 93

Terça-feira, 23 de março de 2010 - nº 93 Apertar ou não apertar, eis a questão ! Não é somente no BC que residem as inquietações sobre a política monetária a ser seguida nos próximos meses. Na Europa, o Banco Central Europeu está inquieto por dois fatores básicos : (i) os efeitos que uma subida da taxa de juros podem gerar sobre os países mais endividados (especialmente Grécia, Espanha, Portugal e Itália), bem como a enorme dispersão das taxas de crescimento na zona do euro. Nos EUA, apesar do enorme déficit fiscal, as dúvidas sobre a sustentação do crescimento são enormes. Na China, pouco se sabe sobre como há de se comportar o governo comunista de Pequim. Por lá há sinais de que a situação fiscal se deteriorou significativamente e as consequências da desvalorização exagerada da moeda chinesa é pauta de qualquer discussão entre o país e os seus parceiros comerciais. Uma alta dos juros seria lida como negativa neste momento. Por fim, a Índia tomou o rumo do aperto monetário ao aumentar a taxa básica na última sexta-feira. O problema é que este sinal foi visto como parte de um movimento geral dos emergentes no sentido de reduzir a atividade econômica. Assim sendo... ...a combinação de políticas fiscais frouxas e atividade econômica cambaleante é um problema enorme para o estabelecimento de políticas monetárias consistentes nas principais economias mundiais. O efeito disto tudo é que os investidores continuaram com a guarda alta, esperando para ver o que os governos vão fazer. O problema é que eles não sabem... COPOM mostra suas dúvidas Por aqui as dúvidas são menores, mas igualmente complicadas. Estas se inserem no contexto eleitoral. A votação dos membros do COPOM na última reunião mostrou mais que hesitação : há uma dúvida se a inflação alta dos últimos meses foi apenas um ponto (fora ?) da curva ou é parte de um processo. De toda a forma, a gastança pública é alta e a atividade está firme. Tudo isto recomendaria certo aperto. O problema é que a pressão governamental sobre o BC é gigantesca e a instituição carece de liderança neste momento em que Henrique Meirelles sai da cena econômica e entra na política. A nossa previsão é que na próxima reunião o processo de elevação da taxa básica de juros se iniciará. O céu não é o limite, mas determiná-lo ainda é muito incerto. Dependerá de muitos fatores, inclusive o político. E sob nova liderança no BC. A vitória de Obama Foi significativa a vitória do governo democrata no que se refere ao setor de saúde nos EUA. Trata-se de uma reforma após 40 anos da implantação do sistema atual. O efeito desta vitória vai além do seu significado objetivo : Obama se guiou pelas suas convicções a despeito da impopularidade das medidas e colherá bônus e críticas por isto. Todavia, a sua liderança permanece sólida num momento em que outra proposta entrará em votação : a reforma sobre financiamento de campanhas e partidos. De outro lado, o grande risco continua a ser a eleição parlamentar deste ano que pode fazer minguar o apoio político a Obama. Reformas no Brasil Se Obama reforma lá nos EUA, por aqui a coisa é vergonhosa. Nada de reformas estruturais. Ao contrário, o Congresso discute apenas aquilo que é conjuntural, a começar pelo ridículo processo de repartição dos recursos do pré-sal. A discussão é paroquial e sem significado mediato para a população. Sequer assuntos como a escalada da violência merecem atenção dos políticos e do governo. A mediocridade impera sob a manta do crescimento deste ano e da popularidade de Lula. Falta convicção. Alerta Do economista norte-americano Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, em entrevista ao repórter Fernando Dantas, do "Estadão" : "Pergunta : O sr. acha que o Brasil vai fazer isto [crescer de 6 a 7% em 2010 e manter esse ritmo por uma década] ? Resposta : O maior risco para o Brasil, como de costume, é o político. É o risco de que, em vez de continuar a melhorar a governança, o sistema político foque em transferências e outras medidas de curto prazo para impulsionar a popularidade do governo. Aí o crescimento poderia murchar um pouco. Ainda, seria um crescimento decente, mas preocupa que a dinâmica política dos últimos anos tenha sido na direção de maiores transferências e muito pouca reforma." Radar NA REAL Está repetitivo, mas é fato que não estamos prevendo nenhuma alteração imediata no andamento dos mercados : há estabilidade das cotações dos ativos, mas falta convicção sobre a evolução nos próximos meses no que se refere ao mercado local e internacional. Assim sendo, continuamos sem alterar as nossas recomendações. Se os fatos mudarem, mudaremos de opinião. Mais uma vez repetimos. O único alerta que fazemos neste momento diz respeito aos efeitos que terão sobre o Brasil se os EUA apresentarem melhor desempenho nos próximos meses : o dólar deve valorizar e as bolsas de lá devem andar à frente da nossa que já está bem valorizada. 16/3/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3551 estável/queda estável/baixa - REAL 1,7983 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 68.828,98 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.159,99 estável alta - NASDAQ 2.374,41 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O mau exemplo europeu Não faltaram e não faltam gênios financeiros prevendo a débâcle do dólar norte-americano. Todavia, a crise da Grécia mostrou que os europeus não conseguem se articular para solucionar o problema no âmbito da soberania de sua moeda. Ao contrário, a Alemanha e a França fazem um papelão quando o assunto é o resgate do pequeno país europeu, berço da civilização ocidental. Está claro que o euro continuará a ser uma moeda internacional, mas a credibilidade para ser a "reserva de valor" do mundo é apenas um sonho. Ou melhor, uma piada com tino alemão : sem graça. As preocupações que Dilma ainda traz Embora Lula e toda a sua entourage política estejam cada vez mais convencidos de que a Dilma vai bater Serra, e por isso mesmo já se comece a falar nos corredores oficiais de um "governo Dilma", o que já desperta disputas internas no PT e entre aliados, o comando da campanha da predileta de Lula quer manter a candidata sob proteção. Há preocupação com alguns aspectos do estilo e da história de Dilma que, acredita-se, podem causar ruídos e prejudicar a candidata. O principal deles, já referido, é a desconfiança sobre as posições econômicas da ministra, sua disposição em manter intacta a política que herdará de Lula, por sua vez herdada de FHC. Lula fala por Dilma Lula já foi interpelado sobre o assunto por empresários brasileiros e em declarações recentes tem enfatizado que Dilma não vai mudar. Ela também tem feito profissões de fé nas normas vigentes. Mas as dúvidas permanecem e já se fala num compromisso mais forte, uma "Carta aos Brasileiros" de Dilma. Enquanto isso, Henrique Meirelles, Antônio Palocci e, em menor escala, o vice-presidente José Alencar ficam como fiadores do compromisso de Dilma com a economia de mercado. O viés político Na outra linha, as preocupações são de cunho político, centradas em três pontos : 1. Demonstrar que a ministra não ficará refém do PT, louco que o partido está para mandar depois dos anos em que teve de se submeter a Lula, muitas vezes contra sua ideologia e princípios. 2. Evitar que a exploração do passado militante de Dilma em organizações clandestinas crie resistências à ministra nos setores mais conservadores da sociedade e mesmo na nova classe média. Termos como "terrorista", "assalto a bancos" podem gerar insatisfações. 3. Evitar também que a oposição tente explorar os escorregões de Dilma em relação a algumas histórias mal contadas tisnem o ambiente, tais como a (i) do curso de doutorado, (ii) do desconhecimento do dossiê contra a família de FHC, (iii) as divergências com a ex-secretária da Receita Federal por conta de investigações de negócios do filho do senador José Sarney. A palavra mentira é muito forte no imaginário do eleitor e se a campanha ficar pesada a oposição não terá muitos pudores em utilizar esses trunfos. Oposição : só um pequeno alívio Tucanos e democratas suspiraram aliviados com a entrevista do governador José Serra na qual, ainda que de forma arrevesada, à televisão ele finalmente saiu do armário eleitoral em que se metera. Serra não disse nada que não se soubesse ou esperasse, mas isto liberou os oposicionistas para articulações mais abertas. E exorcizou de vez o fantasma, espalhado por Brasília e reprisado todos os dias pelo deputado Ciro Gomes de que, diante da ascensão de Dilma e com medo de perder, ficaria mesmo em São Paulo. Calcula-se que isto estava até prejudicando o desempenho do tucano nas pesquisas. Foi, porém, um pequeno alívio. Uma declaração e nada mais Serra seguiu sem indicar como pretende enfrentar a avalanche de prestígio do presidente Lula e o rolo compressor do governo para eleger a ministra chefe da Casa Civil. O governador pode até saber como agir e estar guardando o segredo para surpreender. Seus colegas de oposição, contudo, não sabem, estão perdidos. Estrela cadente Segundo um experiente político governista, desses que não são dados a fazer intrigas, o ex-ministro e deputado Ciro Gomes, tanto aprontou, tantas fez e desfez, atirou em tantas direções, feriu tantas suscetibilidades que vai acabar a sucessão presidencial num glorioso ostracismo. Para quem quer tanto e se tem em tão alta conta... Para inglês ver Analistas afeitos a escarafunchar as contas públicas não encontram correspondência nos fatos a garantia dada pelo ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, de que este ano o governo cumprirá a meta de 3,3% de superávit primário sem necessidade de utilizar facilidades como, em 2009, de abater os gastos com o PAC do item das despesas. Há dúvidas de que contingenciamento de pouco mais de R$ 21 bilhões de verbas no Orçamento seja factível em ano eleitoral. Além do mais, alguns parâmetros adotados podem estar ajudando a superestimar as receitas, embora aparentemente tenha se podado a superestimação feita pelos deputados e senadores. Briga de gente grande Está para expirar o mandato de Sérgio Rosa na presidência da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a mais fornida de todas essas instituições no Brasil, tanto as privadas quanto as para-estatais. Para-estatais porque apesar de pertencerem aos funcionários são altamente controladas pelo governo. E já começou uma briga - segundo gente de dentro, coisa quase fratricida - pelo posto. A Previ é sócia de grandes empresas com bom volume de capital, é grande investidora e, portanto, tem grande cacife econômico e enorme influência política. Costuma-se dizer que ela vale, no concerto do poder, mais do que a maioria dos ministérios e estatais, retirando-se apenas o Banco do Brasil, a Petrobras e o BNDES. E não está tão sujeita aos controles oficiais formais quanto qualquer um desses. Daí a cobiça. E é briga interna, entre blocos de partidos e tendências sindicais.
terça-feira, 16 de março de 2010

Política & Economia NA REAL n° 92

Terça-feira, 16 de março de 2010 - nº 92 A chave do futuro se chama PT No mundo real dos homens de decisão e de negócios já se dá como certo que a reta final da corrida sucessória se dará entre Serra e Dilma. A não ser que sobrevenha algum acidente climático, desses quem nem o Cacique Cobra Coral consegue prever com um mínimo de antecedência. Ciro quase fora do páreo Ciro Gomes está a caminho da aposentadoria política em matéria de eleições. Tantas ele fez que está sem opções viáveis. Seu partido, o PSB, não vai se aventurar numa candidatura própria à Presidência. Além disto, esnobou que o PT de SP encheu-se de brios e, assim, o partido vai ao Palácio dos Bandeirantes de Aloizio Mercadante. Resta ao deputado cearense, com título eleitoral paulista, aguardar uma improvável vaga de vice de Dilma ou esperar por um Ministério se ela ganhar - se ele tiver cumprido um papel decisivo nesta eleição. Como, por exemplo, espezinhar o candidato da oposição, papel para o qual Lula deseja designá-lo. Marina, entre Serra e Dilma Quanto à senadora Marina Silva, suas chances são quase nulas. Não é impossível que, com o desenrolar da campanha, com mais espaço e com o horário eleitoral, a ex-ministra atinja números melhores nas pesquisas. Ela ainda não atingiu o nível que os analistas acreditam que ela pode alcançar. Um nível de votos que, com a aproximação de Dilma e Serra nas pesquisas, pode ser decisivo para um ou outro. É por isso que a situação gerada pelo pré-sal no Rio incomoda Brasília. Lá, em situação normal, Dilma colheria um bom cabedal de votos. E o Rio irado tem a cara de votar em Marina. Politicamente, o que será ? Definido, então, o que é Dilma ou Serra, os exercícios que começam a ser feitos agora é saber como será um governo Serra ou como será um governo Dilma. As especulações do lado econômico, já frequentam as análises que chegam à direção das grandes empresas. Mas há uma questão anterior : as condições políticas para realizar os programas de governo. E neste ponto, a chave se chama Partido dos Trabalhadores. Tanto para Dilma quanto para Serra, o papel dos petistas no jogo político é uma incógnita. De uma equação complicada. Com uma vitória da oposição Se por hipótese Serra vencer, o que se precisa definir é como será a atuação do PT na oposição. Se será um partido mais moderado, escaldado nas dificuldades que enfrentou em sua fase governista, ou voltará ao passado, "contra tudo que estará aí". E na escada rolante do PT estarão acoplados as centrais sindicais, os movimentos sociais, incluindo o MST, as ONGs financiadas com o dinheiro público e o funcionalismo - todos os segmentos em "estado de graça" durante os oito anos de Lula. A oposição será selvagem ou civilizada ? As previsões são sombrias : parece difícil para o PT, nas circunstâncias, aceitar serenamente uma derrota para os "neoliberais" se assim podemos chamá-los... Com uma vitória da situação A ascensão de Dilma Rousseff, uma neófita em política eleitoral e partidária e que, apesar de todos os esforços, não está conseguindo se despir de seu figurino tecnocrático, meio contundente, de pouca cintura, suscita outra dúvida : até que ponto ela terá ascendência para controlar seus aliados, principalmente o PT. É improvável controlar como Lula controlou, levando o PT a aceitar políticas que ele nunca sequer sonhou apoiar, a contrariar sua própria natureza. Com uma presidente com menos liderança, menos influência e menos respeitada politicamente, os planos do PT, postos no documento de seu último Congresso, que o presidente Lula diz não serem necessariamente as diretrizes do governo, podem virar programas governamentais, parcial ou integralmente. Quem dobrará quem, é a dúvida. A economia sob Dilma É muito provável que sob Dilma, o grau de intervenção governamental sobre a economia aumente. Não apenas em função do perfil ideológico da atual ministra, mas também por sua visão, digamos, "pragmática". Basta visitarmos a história para verificarmos que mesmo sob o mesmo espectro ideológico é possível que a presença do Estado na economia aumente. Foi o caso da passagem do governo Médici para Geisel, nos anos 70, e do governo Reagan para Bush, no final dos 80 e início dos 90. O risco, portanto, não é apenas o grau de intervenção, mas a administração dos aspectos colaterais desta intervenção no que tange aos aspectos fiscais (como financiar) e monetários e cambiais (como manter a estabilidade de preços e administrar o câmbio). Um exame cuidadoso destas perspectivas indica que a repetição de um "governo Lula" por parte de Dilma é bem improvável, mesmo que a maioria julgue desejável. A economia sob Serra Serra não é o neo-liberal que o proselitismo oposicionista prega e também não é o intervencionista batizado por certos segmentos da elite. Trata-se de um fiscalista rigoroso com as contas do governo, mas abundante de desconfianças em relação ao capital privado. Neste sentido, é que a aparência com Dilma é alegada. Todavia, o governador paulista é mais testado politicamente e sabe delimitar com mais clareza os limites das possibilidades de suas ações. Como costuma dizer Serra "política não é arte do possível, mas a arte de ampliar aquilo que é previamente possível". Se no aspecto fiscal, Serra é conservador provado, na administração do câmbio reside o seu maior risco. Afinal, neste tema é um "cepalino" clássico : ele acredita que no caso de países em desenvolvimento tem de ter câmbio desvalorizado. Mas, Serra nunca praticou este pensamento em um governo. Ao contrário : foi alijado da política econômica durante os anos FHC, apesar do enorme barulho que fazia nos bastidores. Duas datas para serem lembradas A "bolha" das ações de tecnologia começou a explodir há dez anos. E há exato um ano, os mercados acionários mundiais iniciaram a maior alta da história no menor período de tempo. A pergunta que se faz agora é : estamos num mercado de alta ou diante de outra "bolha" ? Transição: apatia dos investidores Exceto em alguns poucos segmentos de mercado (e.g., a especulação no mercado de ouro), tem prevalecido um grande marasmo dentre os investidores neste momento. Todos estão à espera de fatos novos ao tempo em que sabem que os "fundamentos" das principais economias já estão refletidos nos preços dos ativos. Normalmente, "períodos de transição", entendidos como confirmações ou mudanças de tendências, são caracterizados por uma aparente apatia dos investidores. A liquidez se restringe e há uma sensação de que "não se sai do lugar". Vejamos então o que pode mudar. Agenda do mercado internacional Se na aparência os investidores estão apáticos, de fato estão a esperar o andar de alguns macro-fundamentos importantes no cenário internacional. São eles : (1) a recuperação e sustentação do crescimento econômico das principais economias, sobretudo os EUA; (2) a política monetária e cambial da China, sobre a qual existem vastos comentários, mas o governo comunista de Pequim dá pouca visibilidade; (3) as reformas do sistema financeiro norte-americano, as quais devem influir em todo o mundo e que estão em processo de discussão e votação no Congresso; (4) a possibilidade de novas crises de crédito na Espanha, Portugal e Itália; (5) as políticas monetárias e fiscais dos EUA e da Europa : sua sustentação neste período de recuperação. Agenda do mercado nacional A agenda brasileira é mais óbvia, mas é bom lembrarmos de que por estes lados o valor dos ativos subiu muito mais em comparação ao resto do mundo. Portanto, o retorno esperado dependerá muito da (1) sustentação da taxa de crescimento acima de 5% ao ano; (2) da política fiscal no médio prazo, preocupação esta agravada pelos números ruins de desempenho fiscal nos últimos meses; (3) da estabilidade monetária vigiada pelo BC; (4) do resultado e dos primeiros passos pós-eleitorais. Há que se notar que não se enxerga nenhum risco iminente no caso do Brasil que seja capaz de alterar o excelente curso econômico até agora. Todavia, os fundamentos mais importantes são estruturais e definidores do crescimento no longo prazo. Radar NA REAL 16/3/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3676 estável/queda estável/baixa - REAL 1,7640 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 69.341,38 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.149,990 estável alta - NASDAQ 2.367,66 estável alta Uma questão de desconfiômetro Para ser coerente com a desculpa que arranjou para se licenciar do PV e não apoiar a candidata do partido à Presidência da República, senadora Marina Silva, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, deveria ao menos renunciar ao ministério. Diz Ferreira que sai por causa da opção conservadora do PV nas alianças regionais. Ora, existe de fato algum "progressismo" nas alianças que o presidente Lula comanda, com o PMDB e outros aliados, um magote amorfo de partidos, invertebrados e despolitizados ? O ministro ganharia pontos se dissesse que fica porque gosta do poder e porque espera uma retribuição em 2012, com o apoio das forças aliadas à sua candidatura à prefeitura de Salvador, sonho, confesso, dele. Jogando a toalha ? As informações que pessoas chegadas ao presidente da Câmara, Michel Temer, têm feito circular nos últimos dias, de que diante do noviciado político da ministra Dilma Roussef ela precisaria, caso eleita, de um conselheiro, consultor, operador político com a experiência do deputado paulista presidente do PMDB, parecem indicar que ele já percebeu que sua indicação para vice da ministra chefe da Casa Civil não passa no buraco da agulha nem do PT nem de Lula. E por isso mesmo estaria se posicionando para um posto de prestígio na gestão da preferida de Lula. Talvez o Ministério das Relações Institucionais. O lugar tem dono Em política, sabe-se, nada é "imexível" (apud o inefável ex-ministro Magri) nem "irrevogável" (ao estilo "senador Mercadante"), porém o panorama visto da ponte, hoje, aponta para a renúncia de Henrique Meirelles à Presidência do BC até o fim do mês. Como o mais provável vice de Dilma. Tucanos mineiros com Serra ? O não-evento organizado pelo PSDB mineiro para mostrar que MG está com Serra, ontem à noite, tem mais significado do que se imagina. Afinal, a seção estadual do partido não precisaria fazer isto - é obrigação apoiar o candidato oficial da legenda. O recado é para o Planalto. Primeiro, para mostrar que Aécio não vai aceitar sorrindo o esquema que está sendo montado pelo PT e PMDB em Minas para tirar dele a liderança regional. Há um plano até para complicar a - até agora fácil - eleição do governador ao Senado. E, depois, para desautorizar os boatos, soprados pelos ventos de Brasília, de que pode se repetir com Dilma, o voto híbrido dos mineiros em 2002 e 2006 - Aécio para governador, Lula para presidente - o voto "Lulécio" como ficou conhecido. RJ : pré-sal e contaminação eleitoral Sérgio Cabral jura que sua reação à emenda Ibsen/Souto na projeto de divisão dos recursos do pré-sal, considerada totalmente prejudicial ao Rio de Janeiro (e ao Espírito Santo e em parte também a São Paulo) não atinge o presidente Lula nem a ministra Dilma. É contra os dois deputados, a Câmara e, por antecipação, o Senado. É verdade só em parte. Se a emenda for aprovada também no Senado - o que não é nada improvável, pois são 2, 3 Estados contra 25 - e não for vetada por Lula, a ira carioca vai-se se voltar sim contra o presidente e sua predileta. O clima no Rio está exacerbado e é suprapartidário. Quem circulou por lá viu que o pré-sal é o grande assunto - o "roubo" que o Estado está sofrendo. A continuar desse jeito, aconselha-se que os de Brasília guardem prudente distância da Cidade Maravilhosa. Podem ter surpresas desagradáveis - vaias... O alegre Rio é surpreendente quando tomado de ira. E tudo pode ter reflexos nos votos dos cariocas e fluminenses.
terça-feira, 9 de março de 2010

Política & Economia NA REAL n° 91

"Triângulo das bermudas" convulsionado Com seus 42% do eleitorado brasileiro, portanto decisivos em qualquer eleição presidencial, os Estados de SP, MG e RJ são, no momento, as maiores incógnitas tanto para o governo como para a oposição em matéria de votos e preferência. Embora o senso comum veja SP como território dos tucanos de Serra, o RJ como ambiente de Lula e MG seja a única apontada por um lado e outro como "mineiramente" indefinida, o quadro é totalmente diferente. Minas deve decidir logo Por incrível que pareça, é de MG que pode sair a primeira definição, com esses sinais : 1. Aécio dará sinais mais do que evidentes de que vai se envolver de coração na campanha nacional tucana. Ele não tem outra saída uma vez que, por imposição de Lula, o governo fechou um pacote pesado contra sua pretensão (e extrema necessidade política) de fazer o sucessor. Num ponto lá na frente, de acordo com o correr das coisas em MG, Aécio pode até optar pela vice de Serra. Hoje, porém, essas chances são praticamente nulas. 2. Lula deu o soco na mesa - no sentido literal - e avisou aos mineiros mais interessados (Patrus Ananias e Fernando Pimentel, pré-candidatos petistas ao Palácio da Liberdade) que, em prol dos palanques de Dilma, o candidato da aliança deve ser o ministro Hélio Costa, do PMDB, atual líder das pesquisas. O PT tugiu, mas não mugiu. Com isso, além de um bom palanque os governistas acreditam, com Patrus ou Pimentel na chapa do Senado, ter cacife para enfrentar Aécio em todas as frentes. A única dúvida é quanto a sustentação de Costa, conhecido como um "cavalo paraguaio" na corrida para o Palácio da Liberdade : duas vezes saiu na frente, parecia imbatível, porém cansou na reta final. De todo modo, nas próximas semanas MG vai exigir ainda os maiores cuidados tanto dos tucanos quanto dos petistas. Paz ameaçada em SP O território paulista, no qual os tucanos esperam receber a maior manada de votos e botar uma grande vantagem de Serra sobre Dilma, está ficando ligeiramente minado. Um dos detalhes pouco observados na última pesquisa do DataFolha foi exatamente a diminuição da distância que separava o governador da ministra, também em SP. Os tucanos mais atilados perceberam isto e vão reforçar os movimentos pró-Serra no Estado. São as vacilações do PT paulista que ajudam. O PT está amordaçado pela decisão de Lula de dar preferência à candidatura alienígena de Ciro Gomes. Mas como Serra espera crescer nacionalmente quando aparecer de fato como candidato à sucessão de Lula, o PT espera aumentar a intenção de votos em Dilma quando o partido for para as ruas com um candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Tranquilidade em risco no RJ O Rio é um território de Lula, não especificamente do PT. Pode, no entanto, trazer dores de cabeça. Há sinais de que Marina Silva, com a companhia de Fernando Gabeira como candidato a governador, pode ter na antiga capital da República um desempenho acima do que terá na média no resto do Brasil. E são votos que serão surrupiados mais de Dilma do que de Serra. O eleitor carioca gosta de coisas novas e diferentes. Além do mais, o PT está em ebulição por causa das prévias para escolher o candidato do Senado. Para complicar é preciso dar espaço para o parceiro senador Marcelo Crivella, também candidato à reeleição. Por fim, existe o fator Garotinho, para desagrado de Cabral. Por mais fim ainda, há a votação da partilha do pré-sal. A oposição tucana, no entanto, não deve tirar muitos proveitos dessa confusão governista. Embora possa ter o apoio do PV e aliados de Gabeira, o palanque preferencial de Gabeira é para Marina. Em haver Com o enquadramento do PT mineiro no apoio ao peemedebista Hélio Costa, o governo julga-se credor do PMDB. Um dos créditos que espera receber será a liberdade para Dilma - e Lula - escolher o seu vice. Que, de preferência, continua atendendo pelo nome de Henrique Meirelles. No BC já se dá como certa a saída de Meirelles da presidência até o dia 31 e sua substituição pelo diretor Alexandre Tombini, funcionário de carreira da instituição. Deve sair também Mário Mesquita, o último dos diretores com origem no mercado financeiro. O BC vai passar a ser dirigido totalmente por uma diretoria egressa de seus quadros. A economia e as eleições Pode-se dizer com relativa segurança que, caso não haja nenhum desastre mundial, a economia brasileira está num ritmo de crescimento sustentado. Trata-se de um paciente curado, mas ainda fraco, necessitando de certo tempo para ser saudável. Os últimos indicadores de atividade industrial e de consumo mostram claramente a rota ascendente. Esta é a chave fundamental que se soma à estratégia eleitoral do governo somada às particularidades da política regional. Ou seja, podemos contar com um bom ano em termos econômico, mas sobrará instabilidade eleitoral - não política - até a eleição. As forças políticas brasileira são cheias de melindres e podem contaminar a eleição, mas a economia vai bem e obrigado. Coisa dos "muy amigos" Machucou e preocupou, mais do que o PT está dando a transparecer, a iniciativa do promotor paulista José Carlos Blat de pedir a quebra do sigilo do petista João Vaccarri Neto, tesoureiro do partido, por conta das investigações de supostos desvios no Bancoop, do Sindicato dos Bancários de São Paulo. É munição para a oposição, com nitroglicerina. Vem se juntar a outras denúncias recentes, como a de José Dirceu e a Eletronet, de Luiz Gushiken no mesmo caso e de Fernando Pimentel no mensalão petista. Embora, para consumo externo, particularmente no caso Vaccari, pelo fato de Blat ser do MP/SP, o PT empunhe o discurso de motivações eleitorais nas denúncias, por parte da oposição, a divulgação em cadeia desses fatos, é vista por muito petistas como resultado do fogo amigo que já grassa no partido. Como há no governo e no PT a convicção de que a vitória de Dilma é coisa certa, talvez até no primeiro turno, teria começado internamente a disputa para ver quem vai ser quem num futuro governo da ministra chefe da Casa Civil. No PT tradicional, tem-se como certo de que a Dilma vai ficar dependente do partido quando chegar ao Palácio do Planalto, o que não ocorreu com Lula. E quem se sair bem na campanha vai dar as cartas. Veja-se que Dirceu, Pimentel e Vaccari eram apontados como peças-chaves na campanha da ministra. Já há refluxo nessas posições, menos ainda no caso do ex-prefeito de Belo Horizonte. Marasmo lá fora O ex-presidente do Fed e atual consultor da Casa Branca, Paul Volker, deu uma entrevista neste último fim de semana em Berlim e reafirmou a posição governamental de que é preciso ficar um longo período de tempo com a taxa de juros próximo a zero para que não seja abortada a incipiente recuperação da atividade econômica nos EUA. Este raciocínio cabe a todos os países da zona do euro e ao Japão. Se olharmos o desenrolar dos fatos externos veremos que os fatos novos nada mais são que outras faces dos mesmos problemas e soluções. Literalmente, não há nada de relevante que mereça menção. Radar NA REAL Permanecemos confiantes num bom desempenho dos diversos segmentos do mercado financeiro local e internacional. Todavia, vale relembrar que não deve haver euforia no curto prazo. Ao contrário : mesmo mantendo posições de risco, os investidores têm de ter paciência para retificar ou ratificar as suas estratégias à luz de novos fatos e indicadores. Isto demandará tempo. E tempo, no atual momento, não custa muito dinheiro uma vez que a remuneração da taxa de juros é desprezível. O pêndulo pende para uma recuperação saudável, mas no médio prazo, algo entre 12 e 24 meses. Porém, não há segurança para se falar em ciclo virtuoso até que o consumo dos EUA e da Europa se mostre sustentável. O grande risco, na verdade pouco comentado, é a China, país imerso no maior crescimento dentre as economias relevantes no mundo, mas igualmente desconhecido quando o assunto é finanças públicas e higidez do mercado financeiro. Estamos mantendo as recomendações de nosso radar 5/3/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ²        - EURO 1,3632 estável/queda estável/baixa  - REAL 1,7894 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 65.846,50 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.138,70 estável alta  - NASDAQ 2.226,35 estável alta  (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Portugal Telecom vai às compras As negociações para a aquisição por parte da PT da parcela de capital da Vivo pertencente à Telefónica, estão em fase final. Resta saber quais os efeitos que esta transação produzirá em termos mercadológicos. A PT nunca pensou igual à Telefónica sobre os planos de investimento no médio prazo. Será uma separação sem litígio, mas com uma sensação de alívio de cada parte. Além disto, dinheiro hoje é prioridade para a Telefónica que apresenta um desempenho sofrível na Espanha. Europa e o seu FMI O sinal mais evidente da falência do FMI são os estudos dos países-membros da Europa para a criação de seu organismo multilateral voltado para o suporte de países em crise, como no caso da Grécia. Seria uma boa oportunidade para verificarmos se as ideias europeias sobre a administração do sistema financeiro mundial realmente funcionam. Até agora, sobra conversa e nada de reformas profundas. As mesmas reformas que o FMI recomenda para os seus "clientes".
terça-feira, 2 de março de 2010

Política & Economia NA REAL n° 90

Um Meirelles maquiavélico ? Num dia o BC elevou os depósitos compulsórios aos mesmos níveis existentes antes da crise financeira de 2008. A decisão, embora o BC se apressasse em dizer que não era o caso, foi interpretada como uma maneira da instituição de elevar o custo do dinheiro e conter o consumo para não ter de apelar, daqui a 15 dias, para o simples aumento da taxa de juros. Em seguida, possivelmente preocupado com esta interpretação e as ilações políticas que dela podem ser tiradas, o presidente do BC veio duas vezes avisar que a casa que ele dirige só toma decisões técnicas, não se deixa levar pelas circunstâncias eleitorais. Imediatamente, o mesmo mercado pragmático, que leu na história dos compulsórios sinais de estagnação da Selic, passou a ler na fala de Meirelles indicações seguras de que o Copom vai começar a escalada dos juros agora, de uma vez. A elevação do IPCA reforçaria esta tese Mas quem lê - e esta leitura precisa ser feita hoje com mais frequência - os balões de ensaio brasilienses em épocas de disputas de votos entendeu que Meirelles estava mais justificando a manutenção da Selic nos atuais 8,75% do que indicando que vai lutar por sua elevação. Meirelles quis preparar o setor financeiro, praticamente todo ele convencido de que é urgente um aperto monetário para não deixar a inflação vazar, para evitar que interpretações políticas façam turbulências. O governo não quer de modo algum aumento da Selic, nada de turbulências no céu de brigadeiro em que navega a candidatura de Dilma. As pressões sobre o BC no sentido de não fazer marolas são fortes demais e Meirelles está para mostrar que o BC não se rendeu, apenas decidiu tecnicamente. Alta dos juros entre os emergentes Os riscos para a recuperação das economias emergentes, dentre as quais a brasileira, estão aumentando. Além disto, é possível que existam quedas bruscas nos mercados acionários do Brasil, China, Índia, Turquia e Rússia. Em diferentes graus, todos estes países consideram elevar a taxa de juros básica para conter desequilíbrios fiscais e de inflação. Dados obtidos com fundos de investimentos dão evidência de que as vendas de ativos destes países começam a fervilhar. Recomendamos muita atenção dos investidores para este fato. Lula, a economia e Meirelles Lula está convencido de que a eleição de Dilma é coisa certa e atribui seu sucesso ao excelente ambiente econômico em que o país vive. E não quer brincar de reduzir substancialmente o consumo, o paraíso da "nova" classe média na qual quer ancorar o bardo eleitoral da ministra chefe da Casa Civil. Como aprendiz de político, Meirelles está se saindo melhor que a encomenda. Conferir o "maquiavelismo" goiano em duas semanas no Copom e, posteriormente, até o dia 3/4 quando o presidente do BC terá de deixar o cargo se quiser seguir sua carreira política tardiamente iniciada em 2002, e prematuramente suspensa no mesmo ano quando trocou o tucanato e a Câmara dos Deputados pelo BC e uma convivência quase nunca cordial com o PT. Um Meirelles indeciso ? A bolsa de apostas a respeito do destino do presidente do BC, que até recentemente pendia para a volta ao campo eleitoral, passou nos últimos meses a ficar dividida entre esta opção e uma permanência no cargo atual, a pedido de Lula. Agora, com a divulgação da pesquisa DataFolha, dando uma diferença de apenas 4 pontos percentuais entre Dilma e Serra, o pêndulo de especulações a respeito de Meirelles volta a optar pela carreira política. Simples a interpretação : Dilma, com as pernas de Lula, parece dispensar outras pernas e, portanto, estaria livre para impor suas - e de Lula - opções. Poderá dizer ao PMDB o que todo mundo sabe que ele e ela desejam : não querem Michel Temer de vice, querem Meirelles. Radar NA REAL 26/2/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3532 estável/queda estável/baixa - REAL 1,8010 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 65.821,04 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.102,94 estável alta - NASDAQ 2.234,22 estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Os labirintos do PMDB e de Ciro A ascensão de Dilma nas pesquisas - não foi inesperada, mas foi inusitada pela velocidade - tornou dispensável, na interpretação de gente do staff de Dilma e do PT de um modo geral, certas concessões que eles estavam dispostos a fazer ao PMDB e a Ciro Gomes para tê-los de corpo e alma na campanha da predileta. Julga-se que, de agora em diante, as cartas são todas de Lula e quem quiser vai ter de aceitar as normas do presidente. O PT assanha-se nos Estados para não ficar mais à mercê dos peemedebistas. Dizem poucas vozes mais cautelosas no mundo oficial que é preciso, porém, não tripudiar demais com os parceiros. Ciro é um vulcão "mercurial" e o PMDB é franco atirador que, acuado, pode fazer barulho. Muito barulho. Potes de mágoa É muito maior do que se imagina a irritação no governismo, com a ação do ex-ministro da Integração Nacional. Ao que se diz, ao contrário do que ele mesmo diz, Ciro não está pensando no que é melhor para o presidente Lula e seus planos, mas apenas em si próprio. A última entrevista do deputado cearense em sua terra natal, em que insinuou que há corrupção no governo Lula e voltou a atacar pesadamente a aliança do PT com o PMDB foi explosiva. Além do mais, ninguém vai perdoá-lo por deixar o PT paulista sem ação, pois um dia diz que não vai disputar a sucessão de Serra para no outro insinuar que pode correr em São Paulo. Ilusões tucanas I Eis uma ilusão : a interpretação dos tucanos e dos companheiros de oposição do PSDB de que o crescimento da ministra Dilma nas pesquisas e a estagnação - com ligeira baixa - de José Serra nas preferências do eleitorado no momento é fruto exclusivo da superexposição da candidata oficial e do retraimento do governador paulista, ainda fingindo não ser candidato. Os números de Dilma podem até refletir o pensamento tucano, mas o crescimento de Dilma é continuado e consistente, e reflete, como foi dito em outra nota acima, o ambiente econômico e a popularidade de Lula. Está havendo em número maior do que se imaginava possível nesta altura, a transferência de votos de Lula para Dilma. Prova disso é que ainda é alto o desconhecimento que tem o eleitor pesquisado pelo DataFolha da candidata. Estamos vendo o fenômeno "muié do Lula" como se referem eleitores de baixa renda no nordeste à candidata do presidente. Ilusões tucanas II O bloco da oposição acredita que ganhou o argumento definitivo para convencer o governador Aécio Neves a aceitar a vaga de vice na chapa de José Serra. Com o crescimento de Dilma, o governador mineiro seria decisivo na disputa e, na outra ponta, libera o governo para atacar a liderança dele, Aécio, em Minas sem constrangimentos. Candidatos e a economia Não adianta escrever programas e compêndio de intenções econômicas para tentar se posicionar perante a população e os agentes econômicos mais bem posicionados para dar uma feição ideológica às suas candidaturas presidenciais. Esta será uma eleição absolutamente pragmática no que tange ao tema econômico. O que a população quer saber dos candidatos é a sua visão em relação à sustentação do crescimento econômico e do emprego, bem como a administração dos benefícios sociais. Lula foi visto no passado como incapaz de gerir a economia. Já se sabe que a sua gestão foi obediente aos bons preceitos básicos da gestão econômica. O eleitor aprendeu desde a redemocratização que eleição e governo são coisas bem diferentes. Portanto, programa econômico não quer dizer nada. O que vale é a credibilidade daquilo que se propõe e é visto como verdadeiro. Isto dependerá muito do carisma dos candidatos. Tanto Dilma quanto Serra não têm carisma popular e é nisto que reside os seus riscos, digamos, econômicos. O exemplo da Grécia Todos sabiam que a Grécia, um dos países fundadores da UE, estava com endividamento acima do PIB quando a crise financeira eclodiu no 2º semestre de 2008. De lá para cá, o país exerceu um estímulo fiscal que agravou os seus problemas de endividamento. Hoje a dívida per capita da Grécia é da ordem de US$ 23 por habitante, mais de 30% maior que Portugal, Espanha e Itália e o dobro dos EUA. Apesar destes números, uma coisa é certa : a derrocada do padrão de crédito da Grécia se deve à ação dos especuladores financeiros, os mesmos que já agem desde a crise mexicana, asiática, russa, brasileira, etc. nos anos 90 e início desta década. Assim sendo, a crise grega é sinal de que nada foi feito para se alterar as condições para que este tipo de investidores possa agir. Mais uma evidência de que o FMI e os órgãos multilaterais continuam à espera de reformas - isto não é exclusividade da Grécia. A vez da Inglaterra A libra inglesa está sob forte ataque dos especuladores. Assim, atingiu o menor patamar dos últimos dez meses. O fundamento é que o déficit fiscal inglês é insustentável, coisa que até os botões do paletó do primeiro-ministro inglês Gordon Brown sabem. De outro lado, os dados das posições na Bolsa de Chicago mostram que o posicionamento dos investidores especulativos contra a Libra é gigantesco. Eis mais uma evidência de que nada mudou no mundo em relação à especulação. Portugal, Espanha e Itália Não será surpreendente se estes outros países da "zona do euro" forem as próximas vítimas dos ataques especulativos. Resta saber se a UE, centro das críticas ao formato especulativo do mercado financeiro internacional haverá de agir e impor perdas aos especuladores. Chile, a crise e o terremoto O Chile terá muitas dificuldades para reconstruir o país do terremoto no momento em que a economia ainda está muito contida em função da crise internacional que devastou os preços de seus produtos primários, especialmente o cobre. Talvez o crescimento deste ano seja próximo de zero depois desta tragédia. A estreia do novo presidente direitista será dolorosa no governo. Os vizinhos brasileiros O Brasil pode crescer entre 5 e 6% este ano, mas é uma ilha cercada de baixo crescimento por todos os lados. Argentina, Venezuela, Paraguai, Chile e Bolívia devem crescer muito pouco, ou até mesmo cair em termos de PIB neste ano. O presidente Lula está fazendo um esforço diplomático substantivo na região nos últimos tempos, mas o fato é que o MERCOSUL patina e os acordos comerciais de pouco servem no curto prazo ao comércio na região. O malabarista americano Ben Bernanke conseguiu acalmar os investidores com o seu depoimento semi-anual junto ao Congresso norte-americano. O presidente do Fed conseguiu encontrar argumentos para justificar a equação que combina taxas de juros próximas de zero e o preocupante déficit fiscal cuja repercussão ao longo dos próximos anos deve ser significativa. A crise do euro, e agora da libra, tiram um pouco a pressão sobre o presidente do Fed. Afinal, um dólar mais forte perante estas moedas encarece o investimento nos EUA, bem como dificulta as exportações, mas de outro lado, facilita a política anti-inflacionária em função do barateamento das importações. Telebrás em alta As altas das ações da Telebrás não são novidade. Desde o primeiro mandado de Lula, as especulações em torno da empresa são enormes e com repercussões objetivas nas cotações de suas ações no mercado. Há histórico e razões para investigar o assunto e, convenhamos, não faltam dados para punir se houver algo errado em tudo isto. A CVM e o próprio Judiciário têm os elementos para fazer o necessário em relação ao tema.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 89

Brasil : sem fatos novos na economia Já se falou muito que o Brasil é destaque entre os principais países emergentes, o BRIC's - Brasil, Rússia, Índia e China. Todos já sabemos deste fato. Neste sentido, vale ressaltar que o valor dos ativos incorpora esta realidade. De outro lado, não há nenhuma perspectiva (ou expectativa) nova que justifique uma alteração dos preços dos ativos para cima, muito embora não existam fatos que justifiquem o valor destes ativos para baixo. Não à toa os fluxos de capital para cá tem sido normais, mas muito mais equilibrados que há dois meses. Os fatos novos do Brasil Considerando a nota acima temos de salientar que num contexto em que o valor de mercado já incorpora os fundamentos atuais da economia brasileira, o calendário eleitoral e as perspectivas fiscais e de crescimento devem pouco a pouco assumir papéis mais relevantes nas decisões de investimento a partir de agora. Nestes temas, as dúvidas podem não ser enormes, mas estão longe de ser "tranquilas", como pregam certos setores do mercado e, principalmente, do governo. A disposição dos candidatos em campos ideológicos contrastantes vai começar a delinear o perfil do comportamento do mercado. O provável aumento da percepção de risco deve fazer com que os preços dos ativos sejam ajustados. Desta feita, para baixo. Lá fora, a espera continua - I Se no Brasil os acontecimentos novos do processo eleitoral e a formação das expectativas sobre crescimento e o lado fiscal irão aumentar a percepção de risco, no resto do mundo o cenário também está mais confuso. Na Europa, a crise grega deve ser seguida por maiores questionamentos sobre a saúde fiscal de outros países, sobretudo a Espanha, Portugal e a Itália. O movimento do euro nas últimas semanas corrobora que este processo. Lá fora, a espera continua - II Já no caso dos EUA, a complexidade do cenário é bem maior. Em primeiro lugar porque a melhoria dos fundamentos econômicos não implicou em confiança maior em relação à sustentabilidade do crescimento e em relação à saída do processo de estímulo fiscal e monetário. O Fed deu sinais de que vai subir a taxa de juros básica para um patamar mais equilibrado. Todavia, a verdade é que o nível dos juros está quase que 100% atrelado ao grau da recuperação da demanda. Afinal, não há risco inflacionário relevante. De outro lado, há um ano eleitoral que é vital para a sustentação da administração Obama. Assim sendo, podemos dizer que a benignidade dos fundamentos nos traz otimismo, mas pouco sabemos sobre o quão otimistas podemos ficar. Ainda sobre os juros dos EUA O aumento da taxa de redesconto na semana passada por parte da autoridade monetária dos EUA é sinal de que vem aumento de juros a partir de meados do segundo trimestre. O Brasil não deve temer uma alta mais aguda dos juros em função da falta de força da demanda. Contudo, os lucros das empresas norte-americanas no último trimestre do ano passado têm sido bons e o desemprego que não cai também não tem subido. Dois fatores que justificariam alta de juros básicos. Mas a lista e o peso de fatores que justificam cautela numa possível da taxa de juros básica é enorme : vai do fato de que a taxa de desemprego deve ficar alta por longo períodos até a incipiente recuperação do investimento. Por tudo isto, Bem Bernanke, o presidente do Fed, terá de usar todo seu talento para monitorar e tourear as expectativas dos investidores, congressistas e a sociedade como um todo. Radar NA REAL Sem maior controle fiscal (improvável no curto prazo em função das eleições) e diante de uma demanda crescente, o BC brasileiro irá subir os juros em breve. Talvez já neste segundo trimestre. Somado a este fato teremos as eleições que aguçam a volatilidade. Assim sendo, não vemos muita razão para a valorização do real muito acima do atual patamar e muito menos acreditamos em altas substantivas das ações até pelo menos o terceiro trimestre deste ano. Ao contrário : uma queda da bolsa brasileira é muito mais provável que uma elevação no curto prazo. Não é o caso de se ter muita cautela de vez que não há fatos tão negativos a justificar isto. Todavia, podemos ser mais cuidadosos, pois nada justifica euforia. 19/2/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ²        - EURO 1,3589 estável/queda estável/baixa  - REAL 1,8094 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 67.597,43 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.109,17 estável alta  - NASDAQ 2.243,87 estável alta  (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Programa do PT : esqueçam o que escrevi Embora o presidente Lula tenha assegurado, com a autoridade que tem sobre o partido, que o programa que o PT aprovou em seu IV Congresso Nacional é "uma feira de produtos ideológicos" em que as pessoas "compram o que querem e vendem o que não querem" e o fato da ministra Dilma ter minimizado os arroubos estatizantes mais à esquerda da nação petista, há sim grande preocupação o que o PT está propondo para um provável governo comandado pela chefe da Casa Civil. Aqui e lá fora, como se pode apurar em algumas conversas fora do eixo político desde o fim de semana e está registrado em matéria publicada pelo diário espanhol El País na semana passada com a análise do documento para discussão no Congresso elaborado pelo assessor especial de Lula, Marco Aurélio Garcia. O texto não foi tão amenizado como queriam Lula e a cúpula petista, por isso Dilma teve em seu discurso de fazer algumas profissões de fé neoliberais para contrabalançar. Um novo "cavalo de pau" ? A preocupação não é com o que está ou não escrito. O PMDB ainda vai meter a mão nessa cumbuca para produzir um programa de governo mais palatável para os setores que temem o excesso de esquerdismo e de estatismo do PT e das próprias ideias defendidas com ardor pela candidata Dilma. Programa de governo em ano eleitoral é muito pro forma, coisa para atender cobranças de certos setores da sociedade. Lula mesmo com a Carta aos Brasileiros de meados de 2002 rasgou o que o PT havia definido em dezembro de 2001 e que deveriam ser as diretrizes de seu governo. Deu o chamado "cavalo de pau". Mesmo assim, a desconfiança o acompanhou - basta ver a trajetória dos indicadores econômicos de então - até depois do segundo turno de daquela eleição. Foi preciso juntar um montão de discretos avalistas e um início de governo decepcionante para os petistas que esperavam uma ruptura com tudo que estava aí para as coisas voltarem aos eixos, lentamente. A visão de dentro do partido É mais do que sabido que boa parte do PT não se conformou com o corte neoliberal do governo petista de Lula na área econômica. Mesmo depois de comprovada a eficácia das políticas adotadas, os amuos e queixas sempre foram presentes. Que o diga o presidente do BC Henrique Meirelles, que até pouco tempo atrás ainda comia o brioche que o diabo vermelho amassou. O PT sempre sonhou com seu socialismo e mesmo pragmático ainda vive sonhando nele. Em artigo recente, o novo presidente da legenda, José Eduardo Dutra, e o antigo, Ricardo Berzoini, ainda classificaram o PT como um partido socialista. Valha a liberdade de expressão. O partido, Lula e Dilma Lula - que o próprio PT admite que é maior do que ele e sua única real liderança - com a força da influência que tem e da distribuição de cargos e poder que fez, amansou parte do petismo mais radical. A dúvida é se Dilma, que não tem o carisma de Lula, que não é petista de primeira viagem, que foi imposta ao partido quase que pela goela abaixo, vai conter os petistas depois que Lula sair de cena. Quem viu a ação dos dois na convenção percebeu que Lula carrega a plateia e Dilma é por ela induzida. O PT está se preparando para dar as cartas que não deu no governo Lula num provável governo Dilma. Por isso, o documento petista está sendo tão perscrutado. Esqueçam o que eu escrevi ? A propósito... Frase do improviso do presidente Lula sábado, dirigindo-se diretamente a Dilma : "Claro que você não vai querer estatizar borracharia, bar, pizzaria, cervejaria. Mas aquilo que for estratégico, não estiver funcionando e precisar colocar para funcionar, a gente não tem medo de tomar decisões importantes para nosso país". É o caso do renascimento da Telebrás para explorar a banda larga. Fruto desta ótica de governo. Tutela ? Tem gente boa que acha que Lula vai ter de tutelar Dilma, dada a sua inexperiência política e seu estilo meio rombudo. Não vai ser fácil para ela lidar com um PT querendo reerguer a crista e com o PMDB que já se conhece. Uma frase do ex-prefeito de BH, um dos conselheiros de Dilma, seu amigo há mais de 40 anos, em entrevista à Folha de S.Paulo de ontem é bem ilustrativa dessas preocupações : "Dilma não vai ficar refém do PT". E do PMDB ? Quem vê cara... ...não vê coração. São miragens políticas as imagens do presidente do PMDB Michel Temer sorrindo ao lado do presidente Lula e da ministra Dilma na festa de encerramento do IV Congresso do PT. É sabido que Temer quase não foi ao evento, nem ele nem ninguém do PMDB governista. A razão não foi, como alguns espalharam, o temor de desrespeito e possíveis vaias. Pelo menos não a maior razão. Vão mal as relações regionais entre o PT e o PMDB em vários Estados. E o PMDB está desconfiado - ou estava - de que Lula vinha enrolando o partido para ganhar tempo e impor sua vontade. A ameaça de ausência funcionou e Lula teve de ceder. O PT entendeu muito bem quando ouviu Lula dizer que não está certo esse negócio de dois palanques e ele não pode subir em dois altares. Dilma até pode, ele não. O PT ficou assustado. E o trunfo voltou novamente às mãos de Temer e de seu grupo (ou muitos grupos). Intervenção real E ficou tão assustado que aprovou, quase na marra, uma resolução autorizando a Executiva Nacional a intervir nos Estados nos quais as disputas regionais possam prejudicar os palanques fortes para Dilma. Uma ou outra exceção Apenas na BA, por razões que a política desconhece, o presidente pode admitir, ainda que a contra gosto, um palanque duplo dos governistas, com Jaques Wagner, do PT, em um, e Geddel Vieira Lima, do PMDB em outro. Lá e no RJ, onde Dilma, por razões que a política desconhece, resolveu também incensar Garotinho, hoje ferrenho adversário de Sérgio Cabral. Vingança do pré-sal. No resto tem de haver concessões, de lado a lado. Mas o PMDB fincou barreira : vai disputar na BA (para desgosto de Lula), quer o RJ sem Garotinho, quer MG, quer o PA, quer o MS, todos também aspirações petistas. Fora a liberdade com que trabalha no RS, em SC, no PR, em SP e em PE. Para o PT pode ser um sério obstáculo a seu sonho de ser um protagonista maior no governo Dilma do que foi no governo Lula, principalmente no segundo mandato. DEM, PSDB e a questão política Fica para os especialistas - e é o que não falta ao Migalhas - as análises, do ponto de vista jurídico da cassação do mandato do prefeito de SP Gilberto Kassab e da vice-prefeita Alda Marcantônio. Como também das questões judiciais envolvendo o governador licenciado do DF, José Roberto Arruda e o vice-governador, também sob mira, Paulo Octávio. Todos do DEM. Do ponto de vista político eleitoral, porém, é certo que tudo isso foi uma ducha na campanha da oposição - algum desgaste ficará quando a briga esquentar. O DEM, por seu lado, perdeu todas as condições de indicar o vice na provável chapa de José Serra, se Aécio Neves confirmar mesmo que não vai querer o lugar. Mas Aécio ainda vai ser muito pressionado a mudar de posição. José Serra no seu silêncio Agora que Dilma é candidata consagrada e (quase) oficial, poderemos ver nas próximas pesquisas os efeitos produzidos a partir do enorme volume de notícias sobre ela. Também poderemos verificar se a estratégia silenciosa de Serra persiste válida. Por enquanto o governador paulista se contorce para inaugurar obras em meio às intempéries que assolam o Estado...
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 88

Dólar soberano Há pouco tempo os analistas de plantão discutiam abertamente a substituição, mesmo que a longo prazo, do dólar norte-americano como a reserva de valor da economia mundial. Não são poucos os papers disponíveis nas comunidades acadêmica e de negócios sobre o tema. Além, é claro, dos analistas de investimentos, estes na maioria dos casos dando suporte "intelectual" para a especulação solta com as moedas. Pois bem : a crise fiscal dos países da Europa meridional - Grécia, Itália, Espanha e Portugal - dão evidências objetivas de que o euro não é o porto seguro que se imaginava. O dólar estadunidense persiste sendo o receptor natural de recursos quando os temores avançam sobre os mercados. Há ainda aqueles que apostam que a moeda chinesa irá caminhar para a solidez necessária para que se torne uma "âncora" no jogo dos investimentos internacionais. Neste caso, a coisa é mais atrevida ainda ! Apostar num país sem transparência e submetido às regras emanadas de um partido comunista é algo insano. Todavia, insanidade é o que não falta por estes dias... Default na Europa Observados os dados econômicos da Grécia, Itália, Portugal e Espanha, não resta dúvida de que a inadimplência é uma possibilidade concreta. Todavia, a saída política é simples de conceber e politicamente difícil de executar : a União Europeia tem recursos para evitar a contaminação de crédito que estes países podem provocar, mas isto dependeria de uma decisão política da Alemanha e França de impor um custo aos seus contribuintes para evitar um caos no mercado de crédito. Resta saber se, sobretudo a Grécia e a Espanha, estão dispostas a incorrer nos custos políticos internos para reverter os seus horríveis números macroeconômicos. Lembrando... Pouquíssimos economistas e analistas são capazes de afirmar que sobre moedas qualquer previsão é muito incerta. O mercado de moedas é o mais livre de todos e não existe nenhum modelo de previsão que seja razoavelmente seguro para se dizer qual o patamar que uma moeda irá tomar em determinado prazo ou data. Estimar desempenho e avaliar fundamentos são apenas métodos para expressar opiniões. Isto é muito diferente de dizer que a cotação de tal moeda será de tanto na data "x". O caminho do real Levando em consideração o que está escrito na nota acima, o que pensar sobre o real neste momento ? Em primeiro lugar, não nos parece razoável acreditar em uma valorização ainda mais substantiva da moeda brasileira neste momento. Há dois fundamentos que conspiram contra uma perspectiva muito otimista : (i) o mercado financeiro lá fora está tenso com a falta de clareza sobre a recuperação econômica. Este cenário deve permanecer por mais algum tempo; (ii) as contas externas brasileiras já mostram sinais de que a sua composição - saldo comercial em queda e forte entrada de recursos - torna o Brasil mais vulnerável aos humores dos investidores. No médio prazo, a valorização do real conspira contra a industrialização e o emprego no país. De outro lado, num cenário de curto prazo, no qual o Brasil continua sendo o queridinho do mercado, também não parece provável uma desvalorização substantiva do real. Mesmo numa conjuntura eleitoral. Ou seja, uma banda entre R$ 1,80 e R$ 2 parece bem razoável. Agenda econômica brasileira A agenda está cheia. A inflação sobe na previsão dos analistas conforme consta da pesquisa semanal publicada no Boletim Focus do BC. De outro lado, a política monetária continua sendo o último refúgio para controlar a inflação, pois do ponto de vista fiscal nada há de positivo e novo. Por cima de tudo, as exportações despencam e seus efeitos hão de aparecer. O cenário é ainda positivo, mas a qualidade da política econômica no Brasil se deteriora do ponto de vista estrutural e conjuntural (eleições). Emprego nos EUA Os dados de atividade e emprego nos EUA continuam dando sinais de recuperação. Todavia, o ritmo da recuperação está mais lento do que o esperado. A taxa de desemprego caiu para o patamar mais baixo dos últimos cinco meses (9,7% da força de trabalho). O problema é que o ritmo de demissões ainda supera o de emprego e é possível que os indicadores de desemprego voltem a piorar nos próximos meses, o que seria um fato muito negativo do ponto de vista das expectativas. FMI e cia. Observada a crise mundial (e agora a europeia), a pergunta que não quer calar é : qual a utilidade do FMI na atualidade ? Sequer a instituição tem a aura humanista da ONU e do Banco Mundial. Ao contrário, trata-se de uma instituição desmoralizada do ponto de vista técnico e político. Keynes, idealizador do Fundo, teria vergonha de seu destino... "Efeito bacalhau", "efeito paella" e "efeito pizza" A crise econômica e de crédito da Espanha, Portugal e Itália terá seus efeitos diretos pelos nossos lados : a pressão dos dividendos das multinacionais destes países localizadas no país deve ser maior neste ano. O objetivo é cobrir riscos e eventuais prejuízos nos seus países-sede. Radar NA REAL Já fizemos os nossos alertas em relação ao cenário do mercado financeiro local e internacional nas três edições anteriores deste informativo. O cenário do mercado no curto prazo é incerto e as perspectivas de médio prazo estão em cheque. Ou seja, os acontecimentos das próximas semanas hão de decidir a tendência dos mercados no médio prazo. Portanto, o momento é de decisão. Os fatores positivos (recuperação da atividade, maior normalidade do crédito em comparação ao auge da crise e, no caso do Brasil, fortaleza cambial) devem favorecer um cenário promissor no médio prazo. Todavia, a instabilidade externa não é desprezível e tem de ser levada em consideração a probabilidade de um cenário deteriorado no médio prazo. De toda a forma, estamos mantendo a nossa análise expressa neste radar. 5/2/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,3706 estável/queda estável/baixa  - REAL 1,8794 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 62.762,70 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.066,19 estável/queda alta  - NASDAQ 2.141,12 estável/queda alta  (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável O PT, aos 30 anos :  volta ao passado ? Quem leu os documentos que o PT preparou para as discussões do programa de governo de um futuro governo Dilma, revelados pelo Estadão na semana passada e pelo Valor Econômico ontem, percebe que o partido está tentando retomar bandeiras que, por pragmatismo, foram abandonadas depois que a legenda, pelos pés de Lula, subiu as rampas do Planalto. Na ocasião, Lula não carregava sob as axilas as teses mais caras ao petismo. Levava a "Carta aos Brasileiros", documento elaborado sob a coordenação do futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para conter os temores de boa parte da plateia bem informada de que um governo do PT fosse mesmo mudar tudo que está aí. O PT engoliu - e continua engolindo - o sapo barbudo de uma política econômica que nunca foi dele, feliz com as oportunidades que teve no poder. Seus documentos sobre economia, agora, pregam velhos (pré) conceitos, dando sinais até de que namora novamente com o estatismo. Na diplomacia, critica o acordo Mercosul-Israel e as negociações da Rodada de Doha da OMC e, ainda, sugere a criação de um Conselho de Política Exterior. Demonstram que o PT se prepara para a "era pós-Lula" com ideias pré-Lula. Aos 30 anos, completados neste fevereiro, o PT, com Dilma, uma petista de segunda viagem, flerta com o passado. E tenta reescrever o lulismo de seu fundador. Exceção da verdade Pode ser até a chamada mera coincidência, mas como coincidência demais passa a ser fato em política, o jogo está aberto. O PSDB começa a botar em prática uma das ações eleitorais com as quais pretende desconstruir a imagem de Dilma : botar em dúvida seu compromisso com a realidade. Em outras palavras, pespegar-lhe a pecha de mentirosa. Na última semana, a expressão mentira, associada à ministra chefe da Casa Civil e/ou ao governo Lula, apareceu em três emissões da oposição : num artigo do ex-ministro Paulo Renato de Souza, no Estadão ; numa nota do deputado Fderal paulista Mendes Thame ; e, no artigo que o ex-presidente FHC escreveu este fim de semana para o Estadão e O Globo. A oposição acha que Dilma lida mal com esta situação desde que se "enrolou toda" (expressão de um tucano) para explicar aquela história do currículo com informações incorretas sobre sua formação acadêmica e não rebateu convincentemente as acusações da ex-secretária da Receita, Lina Vieira, de que tentou interferir em perícias que a RF fazia nos documentos da família Sarney. Oh Minas Gerais - capítulo 7.227 Seguramente, a solução da sucessão mineira na base aliada de Lula será a mais longa e arrastada das subnovelas da novela da sucessão presidencial. O lance mais recente é tentar fazer do vice-presidente José Alencar o candidato dos partidos governistas, uma espécie de tertius na disputa entre o PMDB (Hélio Costa) e o PT (Patrus Ananias e Fernando Pimentel). Um dos petistas seria acomodado na vice do vice e Costa disputaria a reeleição para o Senado. É mais um balão de ensaio, que pode até dar certo, mas depende de uma série de circunstâncias para prosperar. A primeira é a própria condição de saúde do vice. Depois, a disposição de Costa de ficar no mesmo lugar e ir para uma briga contra Aécio Neves e Itamar Franco. Em terceiro, a maleabilidade do PT mineiro para fazer concessões. Sem concorrer diretamente, o partido entrará na disputa pela prefeitura de BH em 2012, em franca desvantagem. Durante anos, lembremos, o PT dominou a capital mineira, ou diretamente (Patrus, Pimentel), ou em parceria com o PSB. Hoje, o PSB, com Marcio Lacerda, ainda comanda a prefeitura, mas com o coração de Aécio. A movimentação do PT e dos aliados em MG, até agora, só está mesmo servindo para aumentar a disposição de briga do governador Aécio Neves e sua total integração ao projeto nacional tucano. O Almodóvar de Ciro As reações de Ciro Gomes aos movimentos de Lula e do PT, para afastá-lo prematuramente do grid de largada da corrida presidencial, estão num crescendo tal que podem tornar inviável uma integração total e entusiasmada do deputado cearense à campanha de Dilma. Aliás, Ciro já deu este sinal quando, entre ironias ao "santo Lula" e verbosidades contra Dirceu, avisou que já está com a vida ganha e não tem ambições pessoais. O silêncio de Serra O DEM não consegue dormir com o barulho que o silêncio do governador Serra sobre sua candidatura à sucessão de Lula anda fazendo. Digam o que disserem tucanos, democratas e os ex-comunistas do PPS, a ascensão de Dilma nas últimas pesquisas assustou em todos os quadrantes. Até a imprensa estrangeira já acha que o governador paulista perdeu o timing. O que voltou a alimentar os boatos de Brasília de que ele poderia desistir da capital federal para ficar na capital paulista, abrindo espaço para uma chapa puro sangue, café com leite, com sinais invertidos : Aécio presidente e Alckmin de vice. Dilma e seus dois vices Quanto mais o deputado, recém reeleito presidente do PMDB, Michel Temer, diz que não aspira à indicação de vice na chapa de Dilma, mais dentro e fora do governo aumenta a convicção de que isto é a única coisa que o presidente da Câmara realmente aspira. E mais cresce a inquietação do presidente Lula, do PT e de outros aliados governistas que não o PMDB. Desse lado mais cresce a convicção de que Dilma precisa de um Meirelles a seu lado como contraponto às desconfianças que ela gera em alguns setores e aos "alopramentos" que o PT vem demonstrando nos esboços das propostas para um governo Dilma. Os tempos de Lula e do PMDB Lula joga com o tempo, para consolidar o crescimento de Dilma nas pesquisas, para fechar o acordo eleitoral com o PMDB sem pagar todas as faturas que o peemedebismo está cobrando. Por sua vez, o PMDB diz que tem todo o tempo do mundo e pode esperar até o início da formação do novo governo para acertar as contas. Pré-sal eleitoral Não vai ser tão tranquila como Lula imaginava e deseja a votação completa - Câmara e Senado - das novas regras para a exploração de petróleo no Brasil. A oposição vai obstruir sem dizer que está obstruindo a Petrobras. E as disputas regionais, mesmo que sejam atropeladas na Câmara, ressuscitarão no Senado, onde os Estados não produtores pretendem tirar o um quinhão mais generoso. Talvez nem dê tempo para o pré-sal frequentar os palanques eleitorais, desfalcando o tripé de realizações a ser alardeado por Dilma : petróleo, Bolsa Família e PAC. De olho no aço Depois de haver ajudado - e que ajuda ! - consolidar a Nova Brasken, como o grande player internacional do Brasil na área de petroquímica, o governo intenta agora algo parecido no setor siderúrgico. Sob esse ponto de vista foi sintomático o puxão de orelhas do presidente semana passada nos dirigentes da área, quando os acusou de tímidos. De olho nos remédios O BNDES ainda não desistiu de patrocinar, por meio de fusões e aquisições, o nascimento de uma grande indústria farmacêutica nacional, para se contrapor às multinacionais que dominam o setor. Não faltarão recursos para quem quiser se aventurar. De olho na Internet Amanhã, Lula vai definir as regras para o Plano Nacional de Banda Larga e avalizar o renascimento da Telebrás como grande operadora do programa. Uma corrente quer que a novo-velha empresa estatal faça tudo sozinha. Outra, que o programa seja dividido com o setor privado. O mais provável, para evitar ruídos e desconfiança em ano eleitoral, é que Lula opte pela segunda. Porém, com total protagonismo da Telebrás. José Sarney e a ética Na sua coluna da última sexta-feira na Folha de S.Paulo, o senador José Sarney teceu argumentos de variadas cepas para tratar da injustiça com a qual tem sido tratado nos últimos escândalos da política nacional. A certa altura do artigo diz que "(...) o famoso caso Dreyfus, de trágica memória, em que este oficial do Exército foi acusado de traição, condenado à prisão perpétua e à chamada 'guilhotina seca', que era a prisão na ilha do Diabo, na Guiana. Foi preciso a coragem de defendê-lo de Émile Zola, ao publicar um manifesto com os erros do julgamento (J'accuse !), para acabar com a fraude." Interessante o velho senador maranhense ter admiração por publicações de manifestos quando ele e seu filho Fernando censuram, mesmo que por via judicial, o jornal O Estado de S. Paulo o qual tem uns manifestos nada republicanos para divulgar sobre como se faz política na família Sarney.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 87

Momento de decisão Sabemos que as incertezas são o pior malefício para o funcionamento dos mercados, sejam da economia real sejam do mercado financeiro e de capital. Por sua vez, as tendências dos mercados são dadas pelas expectativas. Pois bem : o atual momento na economia mundial é de incerteza, ou seja, não há formação de uma tendência. Ao contrário : as opiniões se contradizem e os dados objetivos são deixados de lado em função das análises sobre o futuro. O que está sendo ponderado ? O estímulo fiscal generalizado ao redor do mundo foi o fator decisivo para a recuperação das principais economias mundiais. As piores perspectivas de uma recessão profunda e prolongada, tal qual nos anos 30 do século passado, foram afastadas. Resultado : elevação do valor dos ativos em geral. Como nada é neutro quando tratamos de economia, os estímulos fiscais utilizados para estimular a demanda e salvar o sistema financeiro de um colapso geraram enormes déficits fiscais. O que os investidores desejam ter mais claro é como todas as economias relevantes, sobretudo os EUA, saíram deste cenário expansionista do ponto de vista fiscal. Haverá elevação dos juros básicos por parte dos Bancos Centrais ? Em quanto tempo e quanto subirá a taxa de juros ? Como ficará a demanda neste novo (e possível) contexto ? Como ficará a relação entre as principais moedas mundiais ? Estas são apenas algumas das questões vitais que pesam sobre as economias e os diversos segmentos do mercado. Mas há dois outros fatores relevantes. Vejamos as notas seguintes. China : mudanças estruturais A China foi um dos motores que propiciaram o excepcional desempenho da economia mundial desde meados da década de 90 e, sobremaneira, a primeira década deste século. A capacidade do país de exportar a custos baixos gerou saldos enormes que, por sua vez, financiaram os gigantescos déficits da maioria dos países centrais no capitalismo, especialmente os EUA. De um papel importante no mundo, a China comunista passou a exercer um papel essencial. Todavia, pelas características do Estado chinês, não se pode avaliar com convicção como será exercido este papel daqui para frente. Do ponto de vista estrutural, a China pode começar a ter uma expansão geopolítica mais notória sobre o continente asiático e africano. Sua "fome" de matérias-primas é a principal justificativa para esta expansão. Do ponto de vista conjuntural, é possível que o governo comunista de Pequim passe a moderar o crescimento vigoroso do país para solucionar desequilíbrios perigosos, tais como a fragilidade do sistema financeiro e o excesso de investimento nas áreas de infra-estrutura e industrial. Há muita análise sobre tudo isso no mundo. Todavia, a única coisa certa é que há um maiúsculo ponto de interrogação sobre o futuro da política e da economia chinesa. No que se refere ao mercado financeiro e mundial, teme-se pela existência de uma "bolha". Um assunto que todos falam em voz baixa, mas que nem imaginam seus efeitos. A esfinge chinesa pode devorar muitos e muita coisa. EUA : as escolhas de Obama Neste momento eleitoral dos EUA, Obama emite sinais de que a agenda vai mudar. Dois itens pesam de forma especial nas suas escolhas : (i) a necessidade de recuperar a demanda, propiciando visibilidade sobre a condução do déficit fiscal, e (ii) a organização e regulação do combalido sistema financeiro norte-americano. A combinação das políticas relacionadas a ambos os aspectos dependerá em larga medida da sustentação política do governo, que está umbilicalmente ligada à melhoria dos indicadores de emprego. No teatro da política, estamos no meio da execução do script da peça. Tudo muito bem observado por um instável mercado, que treme as pernas e ajusta o preço dos ativos para baixo. Afinal, maior o risco, maior o desconto no valor destes ativos. Brasil, bom momento depende do mundo A política econômica brasileira vai bem. Mas nada é garantido quando o mundo pesa tanta coisa importante. O Brasil é essencialmente um exportador de commodities mesmo quando estamos a falar de produtos industriais. Nesse contexto, estamos submetidos aos humores chineses e do mercado financeiro na medida em que o país recebeu montanhas de recursos externos investidos nos ativos financeiros públicos e privados. O Brasil é um ator relevante no cenário mundial. Não era há pouco mais de uma década. Todavia, no jogo da política e da economia internacional ainda temos um papel secundário. Portanto, a hora é de olhar para fora e analisar a evolução do cenário. O Brasil evoluirá em função do mundo. Para o bem e para o mal. Indicadores positivos A ironia da hora é que enquanto os mercados estão inquietos, os dados da economia européia e norte-americana têm sido positivos. O PIB dos EUA no quarto trimestre do ano passado foi muito bom e surpreendente. O consumo das principais economias europeias cresce, mas a péssima situação de crédito da Grécia tem obscurecido estes dados positivos. E a China cresce espetacularmente : a produção industrial de janeiro é recorde absoluto. De forma sucinta : a maioria dos indicadores mostra ótimos resultados das políticas fiscais e monetárias. Mas a questão da hora é : para onde estamos indo ? Radar NA REAL Os investidores, conforme já dissemos nas notas acima, estão muito sensíveis ao desenvolvimento dos acontecimentos políticos e econômicos das principais economias, especialmente dos EUA. No que se refere especificamente ao mercado financeiro, o momento é negativo no curto prazo. Todavia, não é o caso de se acreditar numa tendência negativa para o resto do ano e no médio prazo. É preciso analisar o peso da evolução do noticiário sobre os diversos segmentos do mercado mundial e local. As bolsas de valores são aquelas que registram com maior intensidade os ajustes das mudanças de cenário. Portanto, a volatilidade é para cima. No que se refere às moedas, há uma corrida mundial na direção do dólar. Esta é a razão fundamental para a alta do dólar perante o real. Um fenômeno, portanto, a despeito das variáveis locais. Também os títulos de renda fixa apresentam desvalorização. As taxas de juros de médio e longo prazo, sobretudo dos títulos governamentais dos EUA, estão subindo. Logo, o valor de face dos títulos cai. É o que acontece com os títulos da dívida externa brasileira. A palavra de ordem é calma. Não há necessidade de se precipitar. Como dissemos, a tendência positiva para o médio prazo persiste positiva, apesar de a convicção sobre a benignidade do desempenho das principais economias, inclusive a brasileira, ter se deteriorado. 29/1/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,3900 estável/queda estável/baixa  - REAL 1,8950 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 65.401,77 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.083,87 estável/queda alta  - NASDAQ 2.147,35 estável/queda alta  (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Estresse à vista no Congresso Nos planos do presidente Lula, assoberbado com a campanha da ministra Dilma, e sem tempo para muitos conchavos políticos além dos eleitorais, Câmara e Senado serão muito camaradas com ele este ano. Lula confia que deputados e senadores, a maioria lutando pela sobrevivência na selva da reeleição, não lhe tragam aborrecimentos. O presidente está equivocado, ignora o essencial : ano eleitoral é propício para as demagogias. Aliás, não é que o presidente ignora, ele de fato esquece. Quem, como revelou a revista "Veja" na semana passada, adia para 31/10 (coincidência danada, já terá passado o primeiro e o segundo turno da eleição) a suspensão de mais de 250 mil benefícios do Bolsa-Família que não se recadastraram, como manda a lei, sabe muito bem do que se trata. Não tem muito do que se queixar se o Congresso adotar a mesma linha de condução. Adiando projetos Lula terá de tourear pelo menos o andamento de dois projetos, nos próximos dois três meses : 1. A MP já em vigor, que aumentou as aposentadorias acima do salário mínimo em cerca de 6%. Há um ganho real em relação à inflação dos últimos 12 meses. Mesmo assim, tanto oposicionistas como governistas vão tentar aprovar uma emenda à MP estabelecendo o mesmo índice aplicado ao salário mínimo para todos os benefícios pagos pelo INSS. 2. A proposta, de autoria do deputado Vicentinho, reduzindo a jornada de trabalho no Brasil de 44 horas semanais para 40. Os dois projetos têm apoio incondicional dos sindicatos e das centrais, CUT e Força Sindical. A área econômica considera inaceitáveis ambas as propostas. Seria uma bomba nas contas públicas. Lula, porém, não quer vetar nada do tipo popular para não ferir a campanha de Dilma. Vai cobrar mais esse sacrifício do PT e de alguns aliados. Terá sucesso com as centrais sindicais prometendo barulho no Congresso e manifestações nas ruas e, até mesmo, greves ? O governo pode ficar nas mãos do presidente da Câmara, que é quem, em última instância, determina a pauta votações e pode manobrar para evitar surpresas para o governo. E tem ainda o pré-sal A votação de três dos quatro projetos com as novas regras de exploração de petróleo no Brasil pelos deputados pode ser outro aborrecimento para Lula. A intenção é votar tudo esta semana - a capitalização da Petrobras, a criação do Fundo Social com recursos do pré-sal e as questões da partilha dos recursos e royalties. Em todos os três governistas e oposicionistas querem meter o bedelho, em direções que o governo execra. Mas o mais polêmico é o da divisão do dinheiro. Depois que, pelo menos aparentemente, houve um acordo pela partilha dos bens, de agrado dos três produtores (RJ, SP e ES), apareceu uma emenda, liderada pelo deputado Ibsen Pinheiro, do RS, estabelecendo que uma divisão igualitária, para Estados e municípios não-produtores e para Estados e municípios produtores. E valendo para o que já existe e para o que virá. É uma proposta explosiva, pois é do gosto de quase todo mundo. Vai ser difícil o governo forçar parlamentares a botarem a cara no plenário para votar contra o interesse de seus Estados e dos municípios onde buscam votos. Por isso, manobras são feitas para que a emenda não seja votada. Uma alegação é a de que é extemporânea. O deputado Eduardo Cunha, do RJ, Estado diretamente interessado em boicotar a proposta, promete recorrer ao STF para suspendê-la. Tem sido norma o Supremo não se imiscuir em assuntos que dizem respeito ao Legislativo. O governo mais uma vez terá de se aninhar nos braços de Temer. Exatamente o político do PMDB que o PT tenta afastar da posição de vice de Lula. E ainda tem a oposição Para complicar ainda mais o cenário na Câmara neste início de um ano legislativo que promete ser muito breve por causa da Copa do Mundo e das eleições, o DEM está ameaçando com uma obstrução total na Câmara. É um protesto do partido contra o veto do presidente Lula na lei orçamentária. Lula retirou a suspensão dos trabalhos de quatro obras da Petrobras - R$ 13 bilhões - decidida pelo TCU e mantida pelos congressistas. Todas barradas por suspeitas de irregularidades, entre elas excesso de faturamento. E a Petrobras segue olímpica Até agora a Petrobras finge que não é pelo menos estranho que duas horas antes da abertura dos envelopes das agências de publicidade que concorriam a sua milionária conta de propaganda, um site especializado na área de publicidade tenha divulgado exatamente quais seriam os três agraciados. O mínimo que se esperava é que ela suspendesse a licitação. Mas, ao que tudo indica, com o poder de fogo que a estatal tem, ela está acima do bem e do mal. Sucintas informações sobre a batalha sucessória Não há nada de muito novo no front, mas há avanços e definições : 1. Tanto a candidatura de Dilma, quanto a de Serra, estão consolidadas. 2. O crescimento de Dilma é consistente, como mostrou a pesquisa do instituto de pesquisas "Vox Populi" na semana passada e outras sondagens mostrarão ao longo das duas próximas semanas. 3. Ciro Gomes está fora do jogo. Agora a hora em que ele receberá o cartão amarelo (ou vermelho) está sendo acertada. 4. Marina Silva está mais desenvolta, aparecendo mais, o que pode ser espelhado nas próximas pesquisas. 5. As batalhas dos vices dos dois candidatos principais ainda vão render muito grandes confrontos. O que se pode dizer é que as resistências de Aécio a cada dia que passa se tornam menos intransponíveis. E que Temer continua no fio da navalha. 6. Nem o carnaval será refresco para as disputas entre PT e PMDB em muitos Estados. O quadro vai se afunilando, numa situação em que a oposição está visivelmente em desvantagem. As "grandes" que o governo tenta formar A empreiteira Camargo Corrêa recebe o apoio do governo, segundo a "Folha de S.Paulo" do último domingo, para comprar a Eletropaulo e a participação societária da Previ e do BB na Neoenergia. Se isto acontecer, 1/3 da energia do país será provida por uma empresa apenas. Este estímulo à formação de enormes conglomerados empresariais por parte do governo está se generalizando. Da área de varejo até a petroquímica a concentração mercadológica aumenta vertiginosamente. Resta saber quem olhará pelos interesses dos consumidores. No geral, os órgãos de defesa da concorrência - CADE e SDE - fazem poucas restrições a este processo. O consumidor está cada vez mais cerceado pelos interesses destes conglomerados. O Congresso, desmobilizado, também não intervém. Uma coisa é certa : este processo pode ser bom para as empresas, mas os riscos para o consumidor são consideráveis. PPPs, o retorno A julgar pela movimentação de grandes escritórios de advocacia, as PPPs estão em alta velocidade. A Copa do Mundo e as Olimpíadas são mais dois fatores que se somam à preferência dos estrangeiros pelos investimentos no país para que as PPPs voltassem a ser um instrumento relevante para grandes investimentos em infra-estrutura. FHC e os negócios O Instituto FHC não é apenas um ponto de encontro de certos grupos de intelectuais. Por ali estão passando alguns negócios portentosos. O ex-presidente parece estar interessado em fusões e aquisições no setor de comunicação. A conferir os resultados destas conversas... FHC e sua visão sobre a China Luiz Gonzada Beluzzo, presidente do Palmeiras e intelectual de peso, informou no programa "Painel" da "Globo News", que num encontro com FHC na Europa, o ex-presidente teria lhe dito que na China não há opressão política visível sobre os cidadãos. Ou seja, as liberdades civis são respeitadas. O que seriam então os episódios como os do Google ? Serra e São Pedro Não se sabe o grau de religiosidade de José Serra. Mas ele deve estar rezando muito invocando o meteorologista divino. O pedido é que cessem ou se reduzam dramaticamente as chuvas em São Paulo. Somente assim há chance de as obras das marginais e do rodoanel serem concluídas antes de o governador paulista se lançar candidato ao Planalto.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 86

Agenda de Obama - I Uma das razões para a prolongada recessão dos anos 30 foi a crença de que os estímulos fiscais deveriam ser retirados com maior rapidez. O Congresso de então, dominado pelos republicanos, pressionava Roosevelt para que reduzisse o déficit fiscal. O dilema de Obama neste momento não é diferente : ele terá de enfrentar a oposição dos republicanos e dos próprios democratas para manter a política de expansão fiscal que ainda não consolidou a recuperação da maior economia do mundo. Isto num ano eleitoral, onde os parlamentares estão mais de olho nas pesquisas do que em "fazer a coisa certa". Agenda de Obama - II Além da política fiscal, Obama está sendo pressionado a adotar uma postura mais rígida em relação ao sistema financeiro. Não resta dúvida que a turma dos bancos está mais preocupada com seus bônus de curto prazo do que com a recuperação do setor no médio prazo. Isto tudo quando foram salvos pelo dinheiro dos contribuintes. Todavia, neste tema Obama vai ter de ser muito cuidadoso. Sem um sistema financeiro sólido, a recuperação prometida pode resultar num atolamento da atividade econômica tal qual ocorreu nos anos 90 no Japão. Portanto, a questão é saber como o governo dos EUA vai endurecer com os banqueiros sem que isto implique no enfraquecimento dos bancos. Uma equação que não foi encontrada pelo presidente americano, embora ele já tenha decidido que o alvo do ataque é Wall Street. Resultados corporativos Não dá para reclamar dos resultados do último trimestre do ano passado das empresas de capital aberto dos EUA. Apesar de toda a recessão, e de haver certa dispersão entre os setores, os lucros foram razoáveis : o setor financeiro cambaleia e o tecnológico cresce, apenas para citar dois extremos. E os analistas estão perdidos em relação ao que pode ser 2010, mesmo que suas análises apontem "certezas" sobre as quais pouco podem saber. Risco China Como já enfatizamos em nosso primeiro informe deste ano, dá arrepios analisar os riscos envolvidos na China. O sistema financeiro é verdadeiramente desconhecido, os dados fiscais inquietantes e, nas últimas semanas, crescem os sinais de que o governo comunista de Pequim vai esfriar a economia. Este é um risco tão grande que ninguém quer falar muito sobre ele. É a chamada "política de avestruz", adotada em relação ao país. Por tudo isto... A volatilidade deste ano deve ser elevada em quase todos os mercados. Muito maior que aquela ocorrida desde março do ano passado. Radar NA REAL Não vamos alterar as tendências estruturais dos diversos segmentos do mercado financeiro e de capital, seja do Brasil ou lá de fora. Todavia, fica aqui o alerta : a semana passada foi a primeira desde o início da recuperação dos mercados mundiais que demonstrou que os investidores ainda estão muito inquietos em relação à recuperação dos fundamentos de longo prazo da economia mundial, especialmente a norte-americana. Portanto, estamos num momento de análise para verificar o quão este processo pode modificar o cenário para 2010. As expectativas dominam os movimentos dos preços dos ativos. Assim, cabe verificar se as expectativas até agora positivas se manterão. De nossa parte, redobramos a atenção aos fatos que estão a ocorrer no mercado, sobretudo no que se refere aos EUA e China. No caso do Brasil, as perspectivas são promissoras, mas o país não vive isolado do mundo. Preocupa-nos, especialmente, os elevados patamares do mercado acionário. 22/1/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,4410 estável estável/baixa  - REAL 1,8199 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 66.220,04 estável estável/alta  - S&P 500 1.144,98 alta alta  - NASDAQ 2.205,29 alta alta  (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Para segurar o BC Dez entre dez mercadistas da economia não-oficial e boa parte dos analistas privados têm como certo que o BC começa ainda neste primeiro semestre a aumentar a Selic. Não já na próxima reunião do COPOM. No governo, pelo seu lado político (e eleitoral) considera-se que a medida, além de ser desagradável para a campanha de Dilma, não é necessariamente inevitável, mesmo que o consumo na economia brasileira continue em sua firme ascensão para gerar um crescimento em torno de 6% em 2010. Para conter a temida escalada da inflação, que viria puxada pelo aumento da demanda, estuda-se um conjunto de opções, quase todas pontuais, a saber : 1. Redução temporária de impostos nos setores ou produtos nos quais aparecerem mais pressões inflacionárias. 2. Contenção no fornecimento de créditos, principalmente por parte das instituições oficiais, BB e CEF. 3. Facilitação das importações de produtos cujos preços estejam fugindo do controle, tanto para consumo direto quando para uso industrial. 4. Promover um aperto fiscal, cortando de preferência despesas de custeio. Nem tudo é possível - I Esse arsenal anti-elevação dos juros, porém, enfrenta obstáculos e dificuldades. A redução temporária dos impostos esbarra nos problemas do orçamento, com despesas crescentes e uma incerta receita em recuperação. Poderia ser viável se o quarto ponto, o corte de gastos, acontecesse de fato. Não se deve contar com ele em ano eleitoral. Um exemplo das restrições está no caso do preço da gasolina. Por conta da redução da mistura do álcool, a partir de 1º/2, prevê-se um aumento entre 2% e 4% no combustível para o consumidor. Sugeriu-se que o governo reduzisse o valor da CIDE para evitar este reajuste e seu rebate na inflação. O ministério da Fazenda, no entanto, resiste, por causa das perdas na arrecadação. Aperto fiscal não rima, no vocabulário político, com ano eleitoral. Nem tudo é possível - II A ideia de facilitar as importações esbarra na queda dos superávits comerciais e nas reações dos empresários. Também é delicada a contenção do crédito interno para o consumo, uma vez que boa parte da estratégia para as eleições do governo baseia-se na satisfação da população com a possibilidade de adquirir novos símbolos de ascensão social. Slogans para Dilma Pelos planos dos estrategistas de Lula e da campanha da ministra Dilma, o Congresso neste curto ano de 2010, antes de mergulhar na campanha eleitoral, se dedicará apenas a aprovar dois dos grandes slogans que ele pretende apregoar da campanha da ministra : os projetos do pré-sal e a CSL - Consolidação das Leis Sociais, no modelo de CLT de Getúlio Vargas, a ser apresentado em março. Eventualmente, um ou outro projeto a mais. A ordem é nada de marolinhas. O Congresso pode "aprontar" Deputados e senadores podem aprontar (ou tentar aprontar) alguns dissabores para Lula. Sem contar com as dificuldades nas regras do pré-sal, Lula vai enfrentar a tentativa de deputados e senadores, boa parte de sua base, com apoio das centrais sindicais, de aprovar a redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais e regras mais generosas para a correção dos benefícios de aposentadoria para quem recebe mais do que um salário mínimo. São medidas tidas como de grande apelo popular, capazes, portanto, de tocar o mais fundo da alma política brasileira, ainda mais quando as urnas estão batendo nos calcanhares. Lula não gostaria de vetar essas medidas, exatamente para não comprometer o jogo de Dilma. Vai ter de fazer valer sua autoridade junto aos aliados, baixar ordem do dia e pôr a tropa em fila. O gato e o rato Aguarda-se o novo lance de Lula no seu jogo para o PMDB na indicação do vice de Dilma. O presidente havia embaralhado o esquema do PMDB governista ao pedir a tal lista tríplice para Dilma escolher o parceiro. Bateu direto nas pretensões de Michel Temer, pelo qual não morre de amores. O PMDB acaba de rebater antecipando sua convenção para renovar a direção do partido e optando por reeleger Temer para sua presidência nacional. Agora, para escolher alguém para acompanhar Dilma que não seja Temer, Lula vai ter de negociar com o próprio. O PMDB sinaliza que agora é Temer ou Temer. Lula precisa de alguém que some mais que o presidente da Câmara à chapa de Dilma. Ou trazendo forças regionais desgarradas (MG, com Hélio Costa), ou repetindo a velha fórmula Sul/Sudeste - Norte/Nordeste (Edison Lobão, do MA ?) ou para acalmar setores específicos desconfiados (Henrique Meirelles para bancos e empresas em geral). As complicações mineiras Amanhã as cúpulas do PMDB e do PT têm reunião em Brasília para começar a acertar as alianças estaduais nos cinco Estados onde entendimentos para a aliança estão mais complicados : PA, MT, PE, BA e MG. O primeiro e mais delicado a ser destravado é o de MG. Lula terá de baixar o "centralismo democrático" e obrigar os dois postulantes petistas - Fernando Pimentel e Patrus Ananias - a buscar novos rumos. Sob pena de arranjar uma confusão sem volta com o PMDB de Hélio Costa. É que Costa pode ficar sem espaço se não for candidato a governador, com forte apoio do PT. Uma das vagas do Senado, que o ministro das comunicações poderia disputar, não foge das mãos do governador Aécio Neves. O vice-presidente José Alencar já manifestou o desejo de concorrer ao Senado e Lula, por gratidão, deve a ele apoio irrestrito. Para onde pode ir então Hélio Costa ? Uma opção é ser vice de Dilma. Mas esta opção é pouco viável depois que Dilma virou mineira, como política. Seria queijo com queijo, de pouco apelo eleitoral. Resta a ele disputar o governo do Estado, com ou sem o PT, dividindo Minas Gerais. A solução mineira De um DEM muito próximo ao governador Serra e ao comando tucano : "O Aécio vai ser o vice de Serra, não tenha dúvida". Em MG, a hipótese não é descartada nem é vista mais como uma rendição ou uma diminuição do prestígio do governador. Mas a decisão final só será tomada no último momento e será precedida por um acordo sobre os futuros palanques presidenciais, além de uma co-participação efetiva de Aécio e de MG num governo Serra. Já se falou - a sério - na possibilidade de Aécio ficar com o controle do maior naco das áreas sociais. Oferta que continuaria na mesa de negociações. De certo mesmo se pode assegurar apenas que Aécio desta vez vai se engajar de corpo, alma e mais o que tiver na campanha federal tucana. O tucanato mineiro percebeu que Lula vai jogar pesado no Estado para derrotar Aécio. Desamor à luz do dia Partidos e políticos preparam-se para tentar barrar a pretensão do TSE de acabar com a prática de doações ocultas nas eleições de 2010.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 85

Um "novo" Legislativo Um dos argumentos dos defensores do polêmico III PNDH contra a saraivada de críticas recebidas pelo documento, pelo seu viés autoritário e por ter vindo à luz em forma de decreto presidencial, é o de que ele foi precedido de uma série de consultas públicas e de seminários/conferências em diversas regiões do país. Este caráter quase plebiscitário, de consulta direta, daria legitimidade. No próprio documento, há defesas de tal prática. É um modo de ser do governo Lula. É também uma tentativa de contornar as dificuldades naturais de um sistema de democracia representativa - mesmo falho como o nosso - que impõe certos freios ao poder do Executivo. O III PNDH nasceu de uma conferência com o mesmo nome. Em dezembro, o governo patrocinou a I Conferência Nacional de Comunicação, com o mesmo objetivo. O documento final foi atenuado, mas mesmo assim contém sugestões que botam em risco, se adotadas, a livre circulação das informações. Agora, o "Estadão" deu notícia no domingo e "O Globo" confirmou ontem : vem aí a Conferência Nacional de Cultura. O documento preliminar, preparado nos escaninhos burocráticos, tem o mesmo escopo. É o governo tentando se sobrepor ao Congresso com a desculpa de que está atendendo a anseios populares. Anseios populares muito bem controlados e direcionados. Consultas públicas, mas reservadas As consultas ou audiências públicas que precedem a elaboração dos documentos preparatórios dessas conferências, e as que são realizadas por órgãos públicos para embasar a elaboração de projetos ou resoluções oficiais, são apenas arremedos de consulta ou audiências realmente abertas. De um modo geral são pouco divulgadas e ficam restritas a grupos de interessados ou grupamentos político-partidários e ideológicos muito bem organizados. Quem participou, por exemplo, de algumas reuniões estaduais e municipais preparatórias da Confecom pôde sentir as resistências (às vezes agressivas) às opiniões oficiais. Em regra, as sugestões de fora são pouco acatadas, meçam-se os exemplos da Anvisa e da Anatel. É quase tudo pró-forma. O BC chegou ao requinte de fazer um consulta pública, ainda não terminada, a respeito das mudanças nos cartões de crédito. As sugestões apresentadas pelo setor privado não estão no site do banco. E só será conhecido o documento final da instituição, sem que saiba quais foram as propostas de mudança e quais não foram acatadas e porque razão. Se tudo o que está sendo posto virar realidade, vamos chegar à democracia relativa, sonho do general Geisel e dos militares de 1964. Democracia para poucos eleitos. Não pela população mas pelo partido e alguns "iluminados". Imprensa, uma obsessão Para um homem que não lê jornais - para não ter azia - Lula é um obcecado. Ele ainda não desistiu de moldar a chamada mídia e outras formas de comunicação à sua imagem e perfeição. Lula não descansará enquanto não conseguir o chamado controle social de imprensa. O primeiro ataque veio com a ideia de criação de um Conselho Nacional de Jornalismo e da Ancinave. Bombardeada, ela hibernou. Voltou ser sugerida na Confecom e de novo não teve audiência suficiente, embora o documento final do encontro esteja carregado desse tipo de ameaça. A tentativa seguinte, não eliminada apesar das críticas que recebeu, está no III PNDH. Não satisfeito, o governo retoma o tema nas diretrizes para a Conferência Nacional de Cultura, marcada para março, em Brasília. O documento-base para a conferência, que está no site do Ministério da Cultura, entre outras coisas, diz que "o monopólio dos meios de comunicação representa ameaça à democracia e aos direitos humanos". O texto preliminar, depois de considerar legítimo que a imprensa comercial se organize com base em demandas do mercado, afirma que esta não pode ser a única a prevalecer. E tome normas de controle social. A realidade é que, bem ou mal, mesmo com seus extraordinários defeitos, a imprensa brasileira procura cumprir seu papel de olhos e ouvidos da sociedade. E isto incomoda quem não gosta de críticas, persegue a unanimidade e tem uma visão muito peculiar de democracia. Lula e Dilma : irmãos siameses Fotos como a do presidente Lula e da ministra Dilma, juntos, compungidos, no velório da Dra. Zilda Arns, vão ser uma constante nos jornais, com imagens na televisão e tudo o mais. Os dois não vão se largar, enquanto a Justiça Eleitoral permitir e até sem respaldo das leis das eleições. A conclusão no mundo oficial é de que, se Dilma desgarrar de Lula, dificilmente sua candidatura crescerá a ponto de ameaçar a até agora liderança de Serra. A expectativa tucana O PSDB ligado ao governador Aécio está de olho no que vai acontecer em Juiz de Fora/MG, hoje, terra do ex-presidente Itamar Franco. Querem saber se o governador vai cumprir a promessa de não acompanhar o presidente Lula, com a ministra Dilma, na inauguração de uma hidrelétrica movida a etanol na cidade. Aécio teria avisado ao Planalto que não vai mais estar com Lula nesses eventos que ele considera apenas eleitorais. Para os tucanos este seria sinal definitivo de que Aécio vai se engajar para valer na campanha de Serra, mesmo que alguma mágoa ainda tenha ficado no fundo da alma do mineiro. E há indicações de que isto de fato vai acontecer. Aécio, embora possa disputar o Senado, ainda está com seu jogo aberto, à espera dos próximos passos de Serra, do PSDB e de Lula. E não pode ficar com sua imagem desgastada fora de Minas. Além disso, ele já percebeu a tacada do PT, com grandes ofertas ao PMDB e outros partidos para isolá-lo em MG. Sua eleição para o Senado está garantida. Mas por tudo e por algo mais que quer no futuro da política, Aécio precisa eleger - e, de preferência, muito bem - seu sucessor no Palácio da Liberdade. Ciro fora de órbita Para quem se diz irremediavelmente candidato à presidência, o deputado Ciro Gomes está sumido demais. Ninguém tira férias nesta altura da disputa, ainda mais alguém como ele, que ainda precisa consolidar a candidatura e negociar as alianças que a sustentarão. Não é á toa, porém, que Ciro saiu do radar político. O irremediável dele é tão sólido quando o irrevogável do senador Aloizio Mercadante. PMDB na muda Quieto também está o PMDB. O partido, na sua facção governista, está muito inquieto. Alguns de seus líderes começam a desconfiar que o governo e o PT, além de serem a fonte de intrigas (?) surgidas periodicamente na imprensa contra eles, quer ganhar tempo na negociação das alianças regionais e na escolha do vice para deixar o partido sem opções. Se isso for verdade, Lula está fazendo uma jogada de alto risco. O PMDB tem apetite e muito pouco a perder. Meirelles e a política O boletim Focus do BC - uma consulta do BC a 100 analistas do mercado a respeito das expectativas sobre diversas variáveis econômicas - voltou a apontar para um aumento de taxa de juros este ano. A previsão passou de 11% para 11,25% em dezembro. Hoje ela está em 8,75%. Todavia, quase ninguém acredita que o BC vá tocar nos juros na reunião do próximo mês. Somente começará a agir em abril ou até mais tarde, depois que Meirelles deixar a direção da instituição para se aventurar pelo mundo da política. Há quem diga que o presidente do BC está reconsiderando esta decisão, devido às dificuldades que enfrenta em Goiás, onde concorreria ao governo estadual ou ao Senado. Meirelles teria ficado empolgado também com sua eleição para o conselho do BIS. É possível. E se assim for, ele ficará até o fim do governo Lula. Porém, isto não é tão certo, pois o presidente Lula pode precisar de Meirelles para vice de Dilma. Meirelles não acrescenta muitos votos, mas pode ser uma garantia para os desconfiados de algumas propensões políticas e econômicas da ministra chefe da Casa Civil. O episódio do III PNDH, explorado pela oposição, já deu a indicação de que um antídoto desses pode ser necessário. A escalada de Chávez A imprensa nacional e internacional está dando muito pouca atenção à situação política e econômica da Venezuela. O clima, informa diplomata que passou uns dias por lá, não está dos mais saudáveis. Fim do mundo Inacreditável - para ficar no mais brando - a ciumeira que baixou no Itamaraty e no Ministério da Defesa por causa das ações dos EUA na tragédia do Haiti. Num momento como esses, disputas por liderança, hegemonia, primazia ou que tais é mortificante, desumano. Lição esquecida Do economista Paulo Ormond, autor entre outros do provocativo "A morte da economia", em artigo publicado no Brasil pela revista "Exame" : "A economia é basicamente uma teoria sobre o comportamento dos indivíduos. (...) E o comportamento desses agentes não é guiado pelo que eles são capazes de computar, mas pelo que eles enxergam em dado momento."
terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 84

2009 : maior crise da história sem as consequências esperadas O ano de 2009 nos trouxe uma sensação estranha, sobretudo em relação ao Brasil. A crise que se instalou na economia mundial no último trimestre de 2008 foi gigantesca. A maior de toda a história econômica. Se considerarmos este fato incomum, podemos avaliar o ano passado como muito bom na medida em que as consequências da crise foram muito menores que a imaginada inicialmente. God save Keynes ! Além disto, há uma chance concreta (e ainda não prevalecente) de que a superação da crise, sobretudo nos países capitalistas centrais, seja rápida - mais um ano ou dois. É preciso ficar alerta, no entanto. Nem todos os analistas acreditam que a crise (a financeira, principalmente) está totalmente debelada. Há quem preveja novos solavancos. Especialmente nos EUA. O país de Obama poderia voltar à recessão no segundo semestre. Os últimos dados sobre o emprego, divulgados na semana passada, foram um alerta. Brasil : marolinha ? Lula é conhecido pelos seus arroubos verbais. Todavia, façamos justiça : sua ação durante a crise foi muito positiva. Vejamos : teve sensibilidade política para localizar os pontos nevrálgicos da crise e tomou decisões corretas. Note-se que não foi nenhum formulador econômico que elaborou um plano de salvação. Foi o presidente que, à luz dos fatos e do que lhe era possível, ajudou decisivamente a superar a crise. Pois bem : o resultado do PIB, ao redor de zero em 2009, foi excepcional. Se considerarmos os dados do primeiro semestre do ano, foi ainda melhor. Portanto, o presidente não poderia imaginar que seria uma "marolinha" quando pronunciou o termo ao final de 2008, mas suas ações justificam a posteriori aquela frase. Sinais de alerta O enfrentamento da "marolinha" não deixou de ter custos. O primeiro déficit da história do FAT, em 2009, mostra que os efeitos da crise sobre o mercado de trabalho, inicialmente, foram mais arrasadores do que se imagina ou prega a vã propaganda oficial. Também o aumento dos saques no FGTS aponta na mesma direção. Os próximos levantamentos do IBGE, quando alcançarem os meses mais agudos da crise, veremos o quanto isso impactou a renda das famílias. Remédio cavalar É por esta razão que Lula exige dos bancos oficiais - BB e CEF - atenção total para o crédito ao consumidor. A determinação é facilitar a festa do consumo para manter a economia aquecida no ano da graça eleitoral de 2010. Remédio cavalar - 2 Por esta razão também, os programas sociais serão turbinados. O ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, anuncia até a possibilidade de incluir um novo critério na definição das famílias que podem ser eleitas para os benefícios do Bolsa Família : as condições de moradia. Remédio cavalar - 3 Ainda pela mesma razão, o Orçamento, aprovado no finzinho do ano, debaixo de muita polêmica e pouca claridade, está generosíssimo em matéria de gastos. E perigosamente inflado no item receitas. Brasil : seu melhor momento em décadas Apesar disso, é otimismo para 2010. Não é preciso ir longe. Se compilarmos os dados de balanço de pagamentos, investimentos privados, consumo - especialmente das famílias mais pobres - e produção industrial, podemos afirmar que a chance do país dar um passo ainda maior nos próximos cinco anos é enorme. A ausência de vulnerabilidade externa imediata retira o principal calcanhar de Aquiles das políticas econômicas desde o final do regime militar. Continuamos otimistas em relação às perspectivas do país no médio prazo. Brasil : riscos conjunturais ? Do ponto de vista exclusivamente conjuntural, não há nenhum risco iminente à economia brasileira que seja visível, muito embora os riscos externos ainda sejam consideráveis - falaremos disto em notas subsequentes. Isso não quer dizer que tais riscos não existam, mesmo porque estes têm sido salientados por parte significativa dos formadores de opinião : a ausência de suporte fiscal para incrementar os investimentos públicos (com destaque para a previdência social), a ausência de reformas micro-econômicas fundamentais e a política cambial que é no médio prazo um atentado de peso à industrialização. (O Brasil ainda é um país muito dependente da evolução dos preços das commodities). Brasil : riscos estruturais ? Não há nenhuma reforma sendo encaminhada para modernizar o Estado brasileiro. A justiça é anacrônica, o Legislativo é disfuncional e o Executivo é, ora poderoso em excesso, ora fraco demais. O sistema tributário serve para sustentar todo este anacronismo e é ele que torna as coisas muito difíceis ao setor privado. Infelizmente, não há organização social e nem um sistema político que legitime e viabilize ações para levar o país à frente em relação às reformas estruturais. Tais riscos não impedirão o país de crescer no curto prazo, mas sempre serão obstáculos para que o Brasil seja de fato moderno. Europa : dispersão do crescimento Se o cenário local é promissor, lá fora os riscos são muito maiores. A Europa ainda está cambaleando em termos de crescimento e há enorme dispersão nos dados de consumo e investimento. Alemanha e França vão à frente e Itália, Espanha e Reino Unido - nesta ordem - vão bem atrás. A absorção das economias da Europa oriental na União Européia ainda não produz benefícios, mas atrai riscos consideráveis. Se há dúvidas em relação à fortaleza do dólar norte-americano é bom que também se tenha dúvidas sobre o euro e a libra, esta muito problemática em função da crise bancária. A taxa de crescimento da Europa permanecerá baixa e a administração da política fiscal e monetária da Eurolândia é um problema sério para o BC europeu. Além da demografia declinante e dos problemas imigratórios, cujos efeitos econômicos são muito visíveis. EUA : chave do crescimento mundial Os EUA estão mais fracos, mas persistem hegemônicos. Neste contexto, é risível acreditarmos que haverá consistência na recuperação da economia mundial sem que a economia que representa 25% do PIB mundial se recupere. A tarefa da administração Obama será a de manter os estímulos fiscais e monetários até que a demanda se restabeleça. Um dos problemas sérios para o cumprimento desta necessidade é que haverá eleição para o Congresso e o vacilante presidente norte-americano já gastou moeda política em excesso. Se a demanda ficar estagnada, ou for declinante, o cenário externo vai piorar significativamente. Tudo está numa "corda bamba". Há razões para otimismo quando analisamos os dados de produção industrial, expectativas de consumo e inflação. Todavia, o emprego patina e o setor bancário persiste débil. Em relação aos EUA a melhor aposta é a favor do país. Todavia haja desconfiança ! China : uma nova bolha ? Se a recuperação da economia mundial depende decisivamente dos EUA, a China tem sido o sustentáculo de grande parte da corrente onda positiva. Porém, as dúvidas em relação à sustentação do espetacular crescimento chinês estão crescentes e não são novas. Não é possível se afirmar que os dados fiscais, a situação bancária e os planos de investimento do país sejam críveis o suficiente para que possamos dormir tranquilos. A China é uma ditadura política e sobra obscuridade quando olhamos o futuro, muito embora pouquíssimos queiram tratar do assunto. Uma coisa é certa : os valores dos ativos refletem otimismo. E é possível, para não dizer provável, que existam exageros nas avaliações que esta entidade desconhecida chamada mercado faz. Tomemos cuidados. Em suma... Não é desejo fútil de início de ano acreditar que 2010 possa ser um ano muito bom. Aqui e lá fora. Para o Brasil, mesmo diante das eleições, pode haver até mesmo euforia e a taxa de crescimento pode superar os 6%. Os riscos não são desprezíveis, mas não são dominantes. Os EUA podem ser o destaque na economia mundial, mas a balança entre riscos e oportunidades ainda está muito equilibrada para que se possa ser muito afirmativo em relação ao assunto. Assim sendo... Vejamos o nosso radar. Radar NA REAL As posições de risco podem ser mantidas num contexto de otimismo. Os mercados de ações, neste contexto, expressarão como sempre com mais vigor o movimento dos fluxos de capital (positivos). No Brasil, o mercado acionário será mais seletivo, afinal os preços já refletem a posição relativa privilegiada do país. Os mercados dos EUA podem ser o grande destaque, mas ainda sobre cautela. A queda do dólar aqui e lá fora pode ser contida, mas não revertida, caso a política monetária do FED seja de elevação da taxa de juros. Todavia, este será um movimento que dependerá sobremaneira da evolução endógena do consumo e do investimento na economia norte-americana. As commodities permanecerão valorizadas, mas esta não deve ser uma onda crescente. Não vale a pena apostar muito a favor do real (contra o dólar), mas muito dificilmente verificaremos uma desvalorização significativa do real frente às principais moedas internacionais. Enfim, o cenário é saudável e é preciso estar preparado para ele. Com confiança e certa moderação (como sempre recomendável). 8/1/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,4410 estável estável/baixa  - REAL 1,7264 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 70.262,70 estável estável/alta  - S&P 500 1.144,98 alta alta  - NASDAQ 2.317,17 alta alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Um mar de rosas para Dilma Nas condições descritas acima, a se confirmarem, como tudo indica que vão se confirmar, o mar eleitoral parece correr para os braços do presidente Lula e de sua candidata. Não existem, como se viu, ameaças econômicas no curto prazo. O governo e os marqueteiros de Dilma vão ressaltar esse bom momento. E o eleitor médio não vota olhando muito além do seu dia. Somando-se a isto a perplexidade da oposição, que até agora não encontrou (pelo menos que se tenha na vista) um antídoto para a euforia que será levada pelo governo à ruas e a extraordinária máquina de campanha que está sendo montada para carregar o porta estandarte da ministra da Casa Civil, intui-se facilmente que a candidatura Dilma será amplamente competitiva. Não se iludam com sua posição secundária, no momento, nas campanhas. Se ela vai ganhar, é outra coisa. Dilma e seus precipícios As principais ameaças à consolidação de Dilma como candidata competitiva e com elevadas chances de vitória vêm do seu próprio território e de seus próprios demônios. A saber, em resumo : 1. Seu estilo quase indomável, grosseiro em várias ocasiões, dado a destemperos. Uma espécie de Ciro Gomes de saia - ou de terninhos.2. O apetite de seu partido, o PT, resistente em abrir espaços para os aliados.3. O apetite do PMDB, que, se não totalmente satisfeito, poderá tirar palanques e tempo no rádio e na televisão da ministra. 4. O descontentamento de outros aliados de Lula - PSB e Ciro Gomes à frente - com a preferência dada ao PT e ao PMDB. Eles terão de ser bem azeitados.5. Ações do governo, como Programa Nacional de Direitos Humanos, versão III. Criou tantos embaraços, tantas divergências internas e externas, ataca em todas as frentes, que já gerou desconfianças, temores e está atingindo a própria campanha de Dilma. Lula, habilidoso como é, deverá contornar esta crise. Mas sequelas ficarão. A oposição de seus dilemas Nada de novo no front oposicionista, desde que o governador de MG, Aécio Neves, renunciou à candidatura à presidência para continuar candidato à presidência ou tornar-se o grande eleitor dos tucanos. Serra está como sempre esteve, MG também estabelecida de onde nunca se arredou, e tucanos e democratas curtindo as mesmas incertezas e as mesmas perplexidades. A oposição só vai mostrar suas primeiras artimanhas num encontro previsto para o fim do mês, em BH. Uma homenagem a Aécio para não deixá-lo, nem a Minas, desgarrar-se do ninho. Realidade ou desejo ? Alguns tucanos, de ouvido mais apurado, negam que tudo esteja como antes em seu quartel. Segundo eles, dá para notar que o governador de MG já não nega mais com tanta ênfase a possibilidade de vir a ser o vice na chapa encabeçada pelo governador paulista Serra. Será ? Os sismógrafos dos governistas, que não querem ver esta dupla junta na sucessão nem em sonhos, ainda não registrou tal mudança de tom em Aécio. Fato ou simples torcida ? Conselho útil De um cínico de plantão em Brasília, depois de analisar a panorama político-eleitoral e econômico dos próximos meses : "Vamos festejar e aproveitar. 2011 ainda está muito longe". Pragmatismo dos bons Do mesmo personagem, a respeito das tertúlias envolvendo o Programa Nacional de Direitos Humanos - versão III : "O projeto tem coisas boas e asnices. Mas ninguém deve se preocupar. Afinal, é uma carta de intenções, que depende de o governo elaborar projetos e o Congresso aprovar. E dado ao proverbial déficit de execução do governo e ao conhecido déficit laboral do Congresso, nada vai acontecer de fato. Só um desgaste desnecessário para Lula e turbulências na campanha de Dilma." Política monetária no Brasil Não são poucas as previsões que dão conta de que o nosso BC apertará a política de juros em 2010. A questão chave é quando e quanto. Afinal, é uma precipitação afirmar que os riscos de a inflação subir são elevados. Não são. Portanto, o BC se baseará essencialmente nos dados de "PIB potencial" para estabelecer as duas variantes da taxa básica de juros (quando e quanto). Ora, o problema é que este cálculo de "PIB potencial" é altamente duvidoso e subjetivo. De toda forma, a maior probabilidade é que o BC já aumente a taxa de juros neste primeiro trimestre, mesmo que a sua necessidade seja duvidosa do ponto de vista técnico. O nosso BC é bem cauteloso. Por fim, ainda pouco se sabe sobre como ficará a liderança da autoridade monetária, com ou sem Henrique Meirelles. Este é um ponto vital e nada desprezível num ano eleitoral. Meirelles joga com dois tempos : o tempo da economia e o tempo eleitoral. Não é o melhor, vide crise na Argentina. Nossos parceiros Crise séria entre o governo de Cristina Kirchner e o presidente do BC da Argentina. Na Venezuela, Hugo Chávez, depois da desvalorizar a moeda e impor câmbio duplo no país, ameaça botar o Exército na rua para vigiar as lojas que aumentarem preços por conta do novo valor do dólar. É no que dá políticas fiscalmente irresponsáveis e medidas econômicas artificiais ou emergenciais que se prolongam no tempo.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 83

Obama : totalmente condicionado Não foi apenas o belicoso discurso quando da entrega do Nobel da Paz deste ano. Não foi o papelão protagonizado em Copenhague na conferência da ONU sobre o clima. Também não foram as propostas para a solução final dos riscos geopolíticos do Afeganistão. A verdade é que quase todas as iniciativas de Obama demonstram a sua incapacidade de manobrar politicamente na política externa em função dos condicionamentos domésticos. As pressões do Congresso norte-americano no que tange as reformas no sistema de saúde, bem como os condicionamentos fiscais (inclusive de sua bancada), tornaram o ex-ícone Obama em refém para exercer o papel de príncipe do mundo. Este é um risco substantivo para o império. Como se sabe, qualquer império tem de ter dois poderes básicos : liderança e coercitibilidade. Obama está a perder os dois. Federal Reserve: a nova onda de especulação Não resta dúvida nenhuma, a nosso ver, que o banco central dos EUA está sendo transparente em relação a sua política. Todavia, a cada ata divulgada, a cada pronunciamento dos membros do comitê de política monetária e a cada ação dos outros principais bancos centrais há uma onda de notícias sobre a saída do BC dos EUA da sua política monetária de taxa negativa de juros. Isto não tem relação apenas com o que o Fed está a fazer. O que acontece é que são gigantescas as posições contra o dólar. Os investidores tomaram dinheiro em dólares e investiram em outras moedas, inclusive em moedas de países emergentes. A reversão deste processo tem de ser lenta. Todavia, os melhores fundamentos da maior economia do mundo podem estar a indicar que o pior já passou e o dólar pode voltar a subir. Se isto ocorrer, a velocidade de reversão das posições pode proporcionar grandes variações nas moedas, fato este que é risco muito perigoso. É aí que reside o problema : na especulação contra o dólar norte-americano. Real forte ? Há quase uma unanimidade em torno da ideia de que a moeda brasileira se manterá forte no próximo ano. Como já falamos em diversas colunas, não há nenhum modelo confiável para se fazer previsões em relação às moedas. Nossa opinião - não é profecia, como muitos estão a fazer no mercado - é que não é razoável acreditar em substancial valorização do Real frente ao dólar nos próximos meses. Ao contrário : recomendamos neutralidade em relação a esta possibilidade. A economia norte-americana pode continuar mais frágil relativamente ao resto do mundo, mas esta não é uma possibilidade dominante como era no início de 2009. Portanto, muita cautela. Bolsas dos EUA Se a economia dos EUA mostrar sinais de fortaleza, há razões fundamentais para acreditarmos que o mercado acionário norte-americano deve ser um dos destaques no ano que vem. Tal qual o segmento dos emergentes foi neste ano. Radar NA REAL O cenário do mercado financeiro mundial está dado até o final do ano. Um balanço objetivo mostra que a recuperação do preço dos ativos foi espetacular. Os efeitos das políticas de estímulos monetários e fiscais surtiram efeitos e uma recessão profunda foi descartada. Daqui pra frente os investidores se importarão com as duas questões básicas para decidirem sobre seus investimentos : (i) qual a taxa de crescimento sustentável das economias, sobretudo as economias desenvolvidas ?; (ii) como os governos e bancos centrais sairão das políticas de estímulos ? Se a resposta para a primeira questão for "uma taxa baixa de crescimento", haverá decepção generalizada nos mercados. Quanto a segunda questão a preocupação precípua dos investidores é se haverá inflação em função dos déficits fiscais e da taxa de juros negativas em todo o mundo. De nossa parte, acreditamos que os diversos segmentos do mercado mundial mantêm-se saudáveis. Não há razão objetiva, até o momento, que possa justificar previsões pessimistas. O cenário é de moderado otimismo. Se há uma "bolha" no mercado mundial, esta é a do ouro. A especulação domina este mercado. Não há uma hiperinflação a caminho como sugerem alguns. O ouro não é hoje uma reserva de valor. Trata-se de uma especulação sem limites. No que se refere aos mercados emergentes, em geral, e ao Brasil, em particular, o cenário é positivo, muito embora os investidores tenham antecipado em larga medida o cenário saudável para o Brasil, a Índia e a China. Não esperamos grandes desvalorizações do mercado. Todavia, não acreditamos em excepcionais valorizações. Seja das ações, das moedas ou dos ativos de renda fixa. 18/12/09   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,4320 estável estável/baixa  - REAL 1,7800 estável estável/baixa Mercado Acionário        - Ibovespa 66.794,21 baixa/estável estável/alta  - S&P 500 1.102,47 estável alta  - NASDAQ 2.211,69 estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Aécio e a sucessão : mudar para não mudar A melhor definição para a estratégia do governador de MG, não sua renúncia à candidatura à presidência da República pela coligação comandada pelo PSDB, foi dada por um grande conhecedor da alma política do governador e de MG : "O jogo ainda não acabou." Na realidade, Aécio fez o seu lance para continuar em campo e com trunfos decisivos. Primeiro, põe em xeque o governador José Serra, obrigado a começar a atuar como candidato, mesmo sem querer. Complica a situação de Serra a ascensão de Dilma na pesquisa DataFolha. Isso aumenta suas dúvidas sobre se vai concorrer ou não ao cargo maior de Brasília em 2010. Segundo, põe em alerta o governo. Embora tenha tentado vender que temia mais a disputa com Aécio do que com Serra, a verdade é o contrário. O governo só teme mais Serra se ele vier numa chapa junto com Aécio. E Aécio não descartou nenhuma hipótese - nem o Senado, nem a presidência, nem a vice-presidência. Como se diz em MG, depois do lance de quinta-feira ele está onde sempre esteve. Somente para se ter uma ideia, já começaram a pipocar no Estado cartazes com os seguintes dizeres : "Agora ou mais na frente, Aécio presidente". Em MG, como se sabe, em matéria de política nada nasce espontaneamente, nem cafezinho é de graça. Aécio e o espírito de Minas Para entender o lance de Aécio é preciso conhecer a história do folclore de dois políticos mineiros, também atribuída a outras culturas políticas, exemplo máximo de dissimulação que é própria dos políticos e, segundo as más línguas nacionais, mais ainda de MG. Vamos a ela : Dois políticos das Alterosas, do mesmo partido, amigos, porém disputando os mesmos espaços, teriam se encontrado no aeroporto da Pampulha, em BH. Um chegando e o outro partindo. Depois dos cumprimentos de praxe, perguntas sobre a vida e a família, a comadre, o afilhado e comentários sobre o quadro político, o que estava desembarcando perguntou ao outro, assim meio desinteressado : - Fulano, para onde você está indo ? - Vou para o RJ. Lembrete : era a situação de crise e Brasília ainda não havia se fixado como capital política do país. Era apenas a capital administrativa. O RJ era a política. Despediram-se e o que chegara a BH comentou com um assessor enquanto pegavam o carro : - Sabidinho o fulano. Ele me disse que ia para o RJ para eu pensar que ele estava indo para Brasília. Mas ele está indo mesmo é para o RJ, para conspirar. O coração de Minas Caso se confirme a desistência de Aécio, o legado eleitoral de Serra como candidato tucano à sucessão de Lula vai depender de como os mineiros lerão a saída de seu governador da disputa. Se MG sentir - não precisa ser o fato, mas apenas sentir - que Aécio foi prejudicado por Serra e pelos tucanos paulistas que lideram o PSDB, vão faltar votos para o governador paulista em MG. Triângulo das bermudas Com mais de 35% dos votos nacionais, SP, MG e RJ podem acabar com uma candidatura presidencial. Por mais que as outras regiões dêem vantagem a este ou aquele, quem vacilar nesse triângulo terá muitos dissabores. Quem vai para Minas Depois da desistência de Aécio, os marqueteiros de Dilma vão correr com o projeto de identificar mais a candidata de Lula com o Estado natal dela. Embora tenha feito carreira política no RS, Dilma nasceu em BH e foi mocinha de festas na capital mineira. Está surgindo a "candidata uai". Um atropelo No governo cresce a preocupação com o comportamento do deputado Ciro Gomes e de seu partido o PSB. Ciro está cada vez mais agressivo contra a aliança PT e PMDB. E o PSB está incomodado em ser deixado em segundo plano. A pesquisa DataFolha traz um dado que fortalece as teses de Ciro : sem ele na disputa (Serra contra Marina e Dilma apenas) o governador paulista pode levar a eleição em primeiro turno. As imagens de Dilma Os marqueteiros do governo perceberam que será mais difícil do que imaginam domar a ministra Dilma : os dois escorregões que ela cometeu em Copenhague - dizer que um bilhão não faz nem cócegas e omissão de um não em uma declaração essencial sobre meio ambiente - demonstram que ela precisa de uma vigilância constante e treinamentos permanentes. Excesso de sabujismo Dilma subiu na pesquisa DataFolha e boa parte dessa ascensão pode ser creditada às suas duas aparições na TV, em propagandas do PT e ao lado de Lula. Ele é o primeiro sinal de que uma transferência de votos está se dando, em que tamanho ainda não dá para saber. Porém, alguns especialistas em marketing político acham que da forma como esta identificação tem sido posta pode se virar contra a ministra. Nos dois programas ela mostrou uma subserviência, quase uma sabujice em relação a Lula, que, se repetida demais pode passar a ideia de falta de personalidade própria. Numa, quando ela insistia com o refrão "O presidente Lula nos ensinou o caminho". Noutra, quando repetiu depois da falas do presidente "concordo com o senhor, presidente". Plataforma para vice Pessoas do governo se irritam quando alguns apontam para o perigo de um "fator Dilma" (alguns falam também em "fator Serra") conturbar um pouco a economia nacional no ano eleitoral de 2010. Algumas posições a respeito de política econômica da ministra assustariam o mercado - também as de Serra. O governo sob o terrorismo tipo efeito Lula de 2002. No entanto, mesmo na seara oficial há quem diga que o "fator Dilma" é uma possibilidade. Veja-se o que disse, resumidamente, o presidente do BC, Henrique Meirelles, na semana passada : "Após avaliar que o país cresce em bases sólidas e sustentáveis, o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse que o principal fator de tensão e preocupação na economia não será externo, como nos últimos 15 meses de crise global, mas as eleições de 2010." Numa análise fria e realista, afirma que os temores de mudanças nos rumos da política econômica provocarão incertezas. São remotas, no entanto, as chances de o Brasil viver um novo 2002, quando Lula foi eleito para o primeiro mandato e o país mergulhou numa crise. Para ele, o Brasil está mais sólido, mas, diante da inquietação que está por vir com as eleições, avisa que o BC não hesitará e dispõe de um arsenal para combater distorções. Não é à toa que Meirelles entrou no campo eleitoral para jogar em várias posições e que Lula faz força para o PMDB incluir o presidente do BC entre os presidenciáveis do partido. Meirelles seria para Dilma o que foi para Lula a Carta ao Brasileiros, somada ao vice José Alencar. O poder de Eduardo Cunha Não há quem na política brasileira não estranhe o extraordinário poder do deputado Eduardo Cunha, do PMDB, RJ, no Congresso e junto às lideranças governistas. Ele acaba de ser indicado relator do PL 29, dos mais importantes em tramitação no Legislativo, que trata das telecomunicações no Brasil e trata, entre outras coisas, das regras de serviço de TV a cabo, produção de audiovisual, diferenciações entre conteúdo nacional e estrangeiro, a permissão para que as teles entrem na área de televisão, etc. Bombas a granel e exigem grandes negociações e acordos. Pelas mãos de Cunha, diretamente ou indiretamente por meio de seus asseclas, alguns dos mais decisivos projetos no Congresso têm passado. O curioso é que o governo tem Cunha como um dos responsáveis pela derrota da CPMF em 2007. Ele segurou tanto o projeto de prorrogação do imposto do cheque na Câmara que deixou pouco tempo para alguma negociação no Senado. E veio a derrota. Cunha só liberou o projeto quando conseguiu que o governo nomeasse um apadrinhado seu para a presidência de Furnas. Ainda assim se impõe. Esquisito, mas esquisito mesmo. Liberdade de informação Quem disse tudo sobre as sugestões apresentadas pela 1ª Conferência Nacional de Comunicações, realizada na semana passada em Brasília, foi o Estadão em editorial : "O governo agiria mais sensatamente se mandasse todas elas [as sugestões] para a lata de lixo". Nas 600 e tantas propostas há até algumas sensatas. Mas se aplicadas 10% apenas daquelas que desejam, de uma forma ou de outra, estabelecer o controle social da imprensa, a liberdade de expressão no Brasil, na imprensa e na cultura ficarão amplamente prejudicadas. Eles e a concorrência A ANATEL colocou em consulta pública, na semana passada, o texto com as novas regras para a licitação da chamada Banda H, a terceira geração da telefonia celular. A agência, para ampliar a concorrência, pretende impedir que as atuais teles - celular comprem novos espaços no espectro. É duvidoso o efeito desse tipo de proibição para os propósitos visados. Mas a reação das teles, totalmente contrárias a novas companhias nesta área, mostra como elas temem a concorrência. A ANATEL, que merece ser criticada porque não atua eficientemente para ampliar a disputa pela telefonia no Brasil, vai apanhar agora porque está agindo nesse caminho.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 82

PIB : melhor que parece, pior que o esperado A maioria dos analistas econômicos apostava num crescimento de 2% no PIB do terceiro trimestre do ano. Ele foi, no entanto, de 1,3%. Em tese, uma decepção. Todavia, há razões para comemorar. O maior crescimento foi o industrial e isto é bom na medida em que ali é que se localizam os principais problemas de desemprego. A outra notícia positiva foi o crescimento dos investimentos (+ 6,5%), o que possibilitará maior equalização entre oferta e demanda agregada no futuro. Assim, a evolução do PIB pode não estar refletindo as expectativas, sobretudo do governo. Mas o ritmo é sadio e confirma a elevada probabilidade de um crescimento entre 5% e 6% em 2010. O maior risco continua sendo o ritmo alucinante do crescimento dos gastos públicos. Serra : ser ou não ser ? A lógica política indicaria a esta altura dos acontecimentos, ainda mais depois do mensalão candango do DEM, que a oposição, mais especificamente o PSDB, definiria logo seu candidato à presidência. Aliás, chegou-se a cogitar que a "coisa" não passaria do início de janeiro. E até por pressões de Aécio. Pode ser que sim, pode ser que não, bem ao estilo tucano. Se depender de Serra, volta-se a situação anterior : definição somente muito próxima da data limite de desincompatibilização, no início de abril. Serra voltou a ser assombrado (se em algum momento deixou de ser) por uma hamletiana dúvida. Em conversa com o comando de um grande grupo empresarial (simpático a ele), deixou clara sua indefinição entre ficar em SP (onde teria uma reeleição garantida, como acredita), ou disputar Brasília. Serra, entenderam muito bem os que o ouviram, calcula que uma derrota encerraria de vez sua carreira política. As razões de Serra Não é difícil entender o que está atormentando o governador paulista : 1. A popularidade de Lula.2. A disposição de Lula de jogar todas as suas fichas e todo o governo em Dilma.3. Os efeitos eleitorais dos programas sociais do governo, que a oposição não sabe como neutralizar. Ninguém se ilude com os baixos índices (para o tempo e a qualidade de sua exposição pública) de Dilma. Ela vai crescer. Quem pode atrapalhar é o PMDB e, como sempre, o PT. Ciúmes eleitorais O PSB, do governador de PE, Eduardo Campos, sempre um dos mais cordatos aliados de Lula, voltou a insistir na candidatura de Ciro Gomes à presidência. Campos foi o porta voz desta nova postura, quando tudo parecia acertado para Ciro concorrer em SP, apoiado pelo PT. Contudo, não é para valer, em princípio. O PSB está enciumado demais com o privilégio dado ao PMDB na aliança. Quer compensações, o próprio Campos enfrenta divergências com o PT. Além do mais, o partido ainda sonha em ganhar a posição de vice de Dilma, num impasse com o PMDB. Força ao PMDB Lula deu alento ao PMDB com a declaração a respeito da lista tríplice. O partido, com as reações bem programadas do fim de semana, aumentou seu cacife e o valor dos seus seis minutos no rádio e na televisão. Em compensação o presidente conseguiu botar em campo a candidatura à vice de Henrique Meirelles. O presidente do BC é um reserva que estava até fora do banco, mas que pode ser imprescindível para acalmar os empresários, caso a desconfiança mais ou menos generalizada hoje entre eles sobre as convicções, digamos, "mercadistas" de Dilma cresçam muito. O mercado não vota, mas financia e faz barulho. Vide a "Carta aos Brasileiros" que Lula teve de escrever em 2002. A contragosto dele e do PT. A história ainda registrará que esta foi aceita por Lula porque ele acreditou que não seria cumprida. As circunstâncias políticas de então forçaram a fidelidade. As nadas sutis alterações que estão sendo gradativamente postas na política econômica indicam esta interpretação. Meirelles e o calendário das urnas No mundo econômico privado, quem sabe das coisas da política tanto quanto sabe das peripécias das finanças, incluiu em seus cálculos, para tentar adivinhar quando o BC poderá começar a mexer - para cima - na taxa de juros, uma variável do calendário político : a data em que Henrique Meirelles deverá deixar o BC para mergulhar em uma candidatura em 2010. E como Meirelles tem até o dia 3/4/10 para sair, não será na primeira reunião do Copom que o BC mexerá na política monetária. Mesmo se houver imperiosa necessidade. Meirelles precisa conquistar votos. O valor dos partidos Pesquisa do Instituto Vox Populi, não divulgada oficialmente, porém revelada em seu blog pelo jornalista Fernando Rodrigues da Folha de S.Paulo, dá a dimensão exata do prestígio dos partidos políticos no Brasil : apenas 3% dos entrevistados disseram que escolhem seus candidatos por sua filiação partidária. Eles valem pelo tempo na televisão, pela máquina partidária, pela máquina pública que controlam e pela capacidade arrecadatória. Isso no período eleitoral. Depois, pelos votos que podem ter no Congresso. Um poder mais alto Fala-se na crescente influência de Franklin Martins junto ao presidente Lula. Zé Dirceu não perdeu o passo, embora tenha perdido a majestade do cargo. Dilma de fato é ouvida. Há outros interlocutores de Lula. Porém, ninguém, hoje (e sempre) é tal influente como o secretário da presidência, Gilberto de Carvalho. Com seu jeito de pacato e cordato ex-seminarista, é palavra muito forte. E nem sempre piedosa. Quem faz a política O governo concentrou toda a sua estratégia para manter a economia nacional "bombando" no ano da graça eleitoral de 2010, em quatro áreas : na Petrobras, no BNDES, na dupla BB-CEF e nos fundos de pensão das empresas estatais. O cofre de nenhum dos três depende do orçamento da União e nem está ao alcance da maioria dos órgãos fiscalizadores das contas públicas. Mudança de política Difícil ainda de dizer se para o bem ou para o mal, mas o novo "pacote de bondades", anunciado quarta-feira passada pelo ministro Guido Mantega, mostra claramente uma inflexão de quase 90° na política econômica que o presidente Lula vinha adotando desde meados do ano passado. O velho hospital Entre as medidas do novo "pacote do bem" de Mantega, quase despercebida, uma que chega a ser estarrecedora : uma linha de crédito para o BNDES financiar (não se sabe como) empresas em dificuldades. É a volta do antigo hospital empresarial do Estado brasileiro. BNDES do B O empresário Eugênio Staub, um dos primeiros de sua classe a aderir a candidatura Lula, tentou, durante anos, apoio do BNDES para reerguer a Gradiente. Não conseguiu, ao que se dizia porque sua proximidade com o presidente poderia tornar a operação, aos olhos de uma imprensa e de uma opinião pública pouco compreensiva, um escândalo. Argumento sem procedência depois do jorro de dinheiro do BNDES e do BB, para financiar a compra da Brasil Telecom pela Oi dos empresários amigos Sérgio Andrade e Carlos Jereissati. Agora, a Gradiente de Staub anuncia, ainda sem grandes detalhamentos, um plano de recuperação sem a participação do BNDES, ou seja, sem a ajuda do Estado. Porém, não deve ser bem assim. Não está o bancão, em seu lugar estarão os fundos de pensão das estatais. Entidades que não são propriamente governamentais, mas que só fazem o que seu dono (leia-se o governo) mandar . Cidade dos deuses De um especialista na capital da República, no seu universo político e administrativo : "Brasília não pode ser classificada como a cidade de corrupção, pois isto há por todo lado. Brasília é mesmo a cidade da traição : todo mundo trai todo mundo, o dia todo." Está muito feio O STF apegou-se aos pormenores processuais para não decidir sobre a suspensão da censura prévia ao jornal O Estado de S. Paulo em favor do clã Sarney. Esqueceu-se da sua obrigação de velar pelo direito constitucional irrevogável numa democracia que é o direito dos cidadãos de serem informados. Em menos de um mês o STF cometeu duas excrescências : este caso do Estadão e a decisão sobre o terrorista italiano Cesare Battisti. Já não se fazem STFs como antigamente. Silêncio dos inocentes Foi discreta demais, para a revolução interna que está provocando, a troca do diretor jurídico do BB, Joaquim Cerqueira César, ocorrida há duas semanas. Quem quiser entender um pouco mais, pode pesquisar em algumas perdas de prazo na advocacia do BB em ações que interessavam os funcionários e em alguns negócios bancários de interesse superior que estão paralisados ou simplesmente não saíram. Radar NA REAL Dubai pagou um importante vencimento de dívida nesta segunda-feira. Os US$ 10 bilhões foram refinanciados. Este é um sinal que permite duas interpretações : o mundo já tinha incorporado o problema nas suas avaliações e o fato de que ainda há muitos "cadáveres" que podem surgir por aí. De toda a forma, acreditamos que o final de ano deve ser tranquilo e positivo. 2010 deve ser mais próspero no mundo e, particularmente, no Brasil. Os preços dos ativos já incluem esta possibilidade. Todavia, com as taxas de juros negativas em relação à inflação na maioria dos países, há pouca probabilidade de uma queda brusca e contínua nos preços dos ativos. Pelo lado do Brasil, a taxa de juros básica não deve subir tão rápido depois do anúncio do PIB do terceiro trimestre do ano, mas a bolsa de valores não deve variar muito : nem para cima e nem para baixo. 11/12/09 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4634 estável/alta alta - REAL 1,7506 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 69.267,47 baixa/estável estável/alta - S&P 500 1.102,35 baixa/estável alta - NASDAQ 2.190,86 baixa/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável
terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 81

Vergonha Toda vez que ocorre uma crise política, ligada à corrupção, de grandes proporções, parte da classe política e até da sociedade mais informada se lamenta da legislação eleitoral e partidária brasileira, cujas falhas serviriam de incentivo a esse tipo de ação. E tome-se a panacéia : a reforma política. É certo que nossas leis são fracas neste ponto - não somente para inibir como também para punir, diante da morosidade do Judiciário. Porém, não é porque a lei é débil que se está autorizado a sentir a carne fraca e pecar. É uma questão de bons costumes. É o caso de se pensar, como Capistrano de Abreu, numa Constituição Federal (pelo menos para os homens públicos) de apenas dois artigos : Artigo 1º - Todo brasileiro deve ter vergonha na cara. - Artigo 2º - Revogam-se as disposições em contrário. Lula e suas ilusões Lula, na esteira do caso Arruda, foi um dos primeiros a sacar da cachola uma solução mágica para nossos males da corrupção. Relembrou que mandou duas reformas políticas para o Congresso e que deputados e senadores não quiseram saber dela. E defendeu uma Constituinte exclusiva, derivada da Câmara e do Senado, para mudar a legislação eleitoral e partidária do país. Trata-se de um acúmulo de informações trucadas e equívocos : 1. As propostas enviadas pelo governo eram restritas, não mexem nos reais problemas dessas leis.2. O governo tem extraordinária maioria no Congresso, para aprovar o que quiser, sem precisar da oposição. Acaba, agora mesmo, de aprovar, em rara velocidade, a PEC do Calote - a dos precatórios. Se não aprovou a reforma política, a reforma partidária ou qualquer outra reforma é porque não quis, não se empenhou, não teve a vontade política que Lula tanto acusava seus antecessores de não terem.3. A "Constituinte" que Lula quer, dizem bons juristas, é, no fundo, um estupro constitucional. E que pode se prestar a vários serviços, até mesmo mudar questões ligadas à duração de mandatos. E por aí adiante. Quem tem medo Para o tamanho do escândalo, foram tímidas, muito tímidas, as reações gerais no mundo político-partidário ao mensalão do DEM. Há pedidos de impeachment, é fato, protocolados por partidos. Mas tudo com muita cautela. Em casa que tem caixa dois, ninguém quer meter a mão na colmeia. Veja-se o voto do novo ministro do STF, José Antonio Toffoli, no caso do mensalão mineiro. Foi contrário ao indiciamento do ex-governador e atual senador tucano Eduardo Azeredo. Um dos argumentos apresentados está na mesma linha de defesa dos "mensaleiros" do PT. Noites insones Ainda vai dar muito mais o que falar do que se imagina a Operação Castelo de Areia, da PF, a respeito de patrocínios eleitorais da Construtora Camargo Corrêa. Peixes graúdos terão de dar explicações bem convincentes sobre dinheirinhos em suas contas. Silêncios de minutos Com os respingos que recebeu - e ainda receberá - do mensalão candango, o PSDB, bem mineiramente, vai ficar "na moita" nas próximas semanas em matéria de sucessão presidencial. Deu para trás a ideia de definir a candidatura presidencial tucano até meados de janeiro. É preciso deixar esfriar o assunto. Radar NA REAL Não há nada de relevante a informar no que tange ao funcionamento dos mercados de capital e financeiro mundo afora. Tudo corre na mais perfeita paz. As várias classes de ativos (renda fixa, ações, commodities, futuros, etc.) estão com variações moderadas, mesmo que os fundamentos ilustrem que a recuperação já atinge inclusive os EUA, muito embora por lá a superação dos sérios problemas da área financeira ainda devam ser superados. De nossa parte ainda acreditamos que os mercados vão "andar de lado" com eventuais "realizações de lucros" mais acentuadas. 4/12/09   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,4792 estável/alta alta  - REAL 1,7363 estável alta Mercado Acionário        - Ibovespa 67.610,86 baixa/estável estável/alta  - S&P 500 1.105,98 baixa/estável alta  - NASDAQ 2.194,35 baixa/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Foi para as mãos de Lula Os resultados das duas eleições regionais petistas, mais importantes para o partido no contexto da sucessão presidencial, não saíram a contento para os propósitos de Lula de enquadrar o PT. Em MG, fortaleceu-se o grupo da candidatura própria - do ex-prefeito Fernando Pimentel - em detrimento de uma aliança com o PMDB de Hélio Costa. No RJ, com disputa cercada de acusações de fraude - os desdobramentos indicam que a dissidência do prefeito Lindberg Farias vai criar muitas complicações para um acerto sereno com o PMDB do governador Sérgio Cabral. No PA e na BA, a possibilidade de acordos PT/PMDB negociados partidariamente já se esgotou. Dilma não tem cacife para alterar o quadro. Lula vai ter de entrar em campo. Companheiro O ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, deslocou-se na semana passada, fora da agenda, da Europa para o Irã. O governo brasileiro farejou que as reações negativas à aproximação com Mahmoud Ahmadinejad, bem maiores do que imaginou a vã filosofia itamaratyana. Hora de recolher os flaps e tentar corrigir o incorrigível. Sabe-se também que há setores da defesa nacional preocupados com esta aproximação. É bom prestar a atenção Quem ouviu muito atento à copiosa explanação sobre a política da Petrobras, feita pelo presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli no encontro anual da indústria química, saiu de lá com duas certezas (e preocupações) : 1. A Petrobras não tem condições de garantir à indústria química (e certamente a outras também) o abastecimento de gás para fins industriais nem em quantidade nem em boas condições de preço. Ou seja, elas terão de utilizar outros combustíveis, mais poluentes, e entram em campo com menos poder de competição com os concorrentes de outros países.2. A estatal tem sido forçada pelo ONS (operador do setor elétrico) a fornecer gás (às vezes em regime de urgência) às termoelétricas movidas a este tipo de combustível. Gabrielli disse que às vezes recebe um pedido desses para cumprir num prazo exíguo de duas horas. Sinais de que estão havendo gargalos no sistema elétrico. Tudo ao consumo A aposta do governo para 2010 está toda no consumo. Embora diga, por exemplo, que as isenções fiscais para carros, móveis, materiais de construção podem terminar em 2010, não deve ser bem assim. Não é também absolutamente certo que novas isenções nos produtos finais estão fora de cogitação. Em compensação, outras isenções fiscais, tipos para máquinas e equipamentos, estão praticamente com os dias contados. Mercado eleitoral - classes C, D e E Quem está determinando as decisões de política econômica não é apenas o mercado financeiro, o mercado cambial ou tais. O determinante é o que se pode chamar de mercado eleitoral, traduzível na seguinte máxima : tudo o que deixar feliz o eleitor/consumidor, especialmente o de baixa renda, tem prioridade. Um dos pilares é a expansão do crédito dito popular. A compra de parcela do Banco Panamericano pela CEF tem esse foco. No terreno das obras e projetos, a prioridade é para o que tem visibilidade e é passível de ser inaugurado durante o processo eleitoral. Comprar Brasil A Petrobras criou na semana passada normas para dificultar, em seus negócios, a compra de material estrangeiro. Há dias, o Ministério da Saúde, fez o mesmo em relação à compra de equipamentos. É o projeto "Compra Brasil" : o governo quer usar as compras governamentais - da administração direta e das estatais - para incentivar a produção nacional. Este foi um dos temas mais discutidos na semana passada entre representantes do setor público e empresarial semana passada na Fiesp. Um alerta de Delfim Entusiasta do atual governo, portanto insuspeito de "terrorismo", o ex-ministro Delfim Neto terminou assim seu artigo da semana passada no jornal Valor Econômico : "(...) é mais do que evidente que o conhecimento econômico é fundamental para uma administração pública que deseje estimular o crescimento com alguma justiça social e equilíbrios interno e externo, e que ignorá-lo tem custos sociais imensos. O exemplo mais claro é a obediência às identidades da Contabilidade Nacional que governos mais sanguíneos tentam frequente e inutilmente violar e pagam caro por isso." Enigmático ? Nada. O ex-deputado paulista se refere, obviamente, às manobras contábeis que o governo está utilizando para tentar mascarar, um pouco, os desarranjos que já começam a aparecer nas contas federais. As gigantes nacionais Temos mais uma fusão enorme na praça, a das Casas Bahia com o Grupo Pão de Açúcar. A sequência de operações de fusão, no geral, contam com a "benção" do governo, sobretudo do BNDES. Em tese, espera-se que a formação de empresas maiores fortaleça a capacidade de competir desta empresas. É preciso, contudo, saber exatamente de onde vem esta "fortaleza". A concentração traz muitas economias de escala, sobretudo na órbita dos custos. Todavia, o maior temor é que estas empresas adquiram poder de mercado que lhes permita manipular preços e margens, seja de si próprias, seja de seus fornecedores. Em poucas palavras, a "fortaleza" das empresas parece residir na exploração de mais lucros dos bolsos dos consumidores locais. Interessante notar que as estruturas para fiscalizar tais fusões (CADE, por exemplo) são bem mais frágeis que aquelas que financiam tais projetos (BNDES e outros bancos oficiais). O consumidor parece desprotegido e sujeito às mazelas que virão com a concentração do mercado. Bancos estão pagando resgate O Bank of America já repagou ao governo e FED os valores referentes ao apoio recebido no âmbito do TARP - Trouble Assets Relief Plan. Há outros grandes bancos norte-americanos estruturando planos para reembolsar o tesouro e as autoridades monetárias. Certamente um bom sinal : a pressão para ter apoio oficial está declinando. Há um outro lado da moeda : isto permitirá que os executivos possam voltar a ter os seus gordíssimos planos de compensação (bônus).
terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 80

Dubai é novidade ? O Emirado de Dubai construiu uma daquelas histórias que se tornam manchete de quase todos os jornais do mundo, mas que de fato não é um acontecimento inesperado. Aquele pedaço minúsculo de terra representa, como nenhum outro, o perfil especulativo do mercado mundial nas últimas duas décadas. Por lá, foram construídos inúmeros empreendimentos imobiliários, desde escritórios em prédios monumentais até mansões enormes doadas a personalidades públicas para promover a atração de recursos de investidores mundo afora. Ah ! Tem ainda o turismo, mesmo que lá somente existam terras inférteis e prédios de arquitetura arrojada que se desfraldam sob os olhos dos mais desavisados. Dez entre dez investidores bem informados já sabiam que aquele Emirado do Golfo Pérsico tinha lá seus problemas, velhos problemas : investiu largamente em maravilhas do mundo baseado na crença de que os preços do petróleo iriam ficar eternamente ao redor de US$ 150. Hoje estão pela metade. Talvez o mesmo percentual do valor de face das dívidas do país e do setor privado que lá despejou bilhões de dólares. E agora ? O que os empreendedores (especuladores) de Dubai querem é evitar um default formal da sua dívida de US$ 60 bi. Se fossem argentinos, os árabes que comandam o pedaço já teriam mandado não apenas recados, mas um plano de redução da dívida começando com uma moratória. Talvez isto não ocorra, mas os fatos são os mesmos. O mais provável é que aquele pessoal (o mesmo pessoal !) da City e de Wall Street que emprestou bilhões de forma irresponsável cobre umas comissões a mais (bem generosas) e refaça os planos de pagamento em termos de prazos e, quiçá, em termos de valor. Por que crer nisto ? Por uma razão simples : apesar dos problemas de caixa do emirado, não houve uma venda massiva de títulos da principal empresa estatal do país : o prêmio de risco - spread - subiu de 116 pontos (ou seja, 1,16% acima do que pagam os títulos do tesouro norte-americano) para algo ao redor de 434 pontos. Um nível muito alto, mas nada que se aproxime dos níveis do default argentino durante o governo Kirchner (tratamos do marido, no caso). Portanto, uma moratória clássica pode até ocorrer, mas ainda não é o mais provável de acontecer. Efeitos sobre os mercados Analistas, comentaristas de TV e jornal, palpiteiros de plantão etc. não gostam muito de refletir sobre os fatos um pouco além do dia-a-dia. Como dissemos, os problemas de Dubai são antigos e conhecidos. Não estavam na mídia, pois não "havia o que contar". Agora, que o país tenta um acordo para melhorar seu fluxo de caixa, há fato. Logo, está pautado pela imprensa. Teremos mais novidades pela frente, pelo menos nas manchetes. Todavia, o fato real é que os mercados em todo mundo subiram muito nos últimos meses. Dubai será uma ótima razão a justificar uma queda e um ajuste nos preços. Ao final de algumas semanas é possível e, até provável, que Dubai volte a ser, digamos, "a princesinha do golfo", com seus prédios enormes de utilidade duvidosa. Não queremos tornar as afirmações acima em previsões. Apenas queremos registrar que a ausência de novidades nos fatos até agora. É melhor observar mais um pouco. Todavia, a probabilidade de "realização nos lucros" é alta. Particularmente nos países ditos emergentes, onde o Brasil brilha como as estrelas de sua bandeira. Radar NA REAL Teremos alguns dias e semanas de maior pessimismo. Do ponto de vista estrito dos fundamentos, a evolução da economia mundial continua positiva. O mercado laboral norte-americano está mais favorável, os números do setor industrial de lá evolui a passos mais seguros e o consumo neste período de Ação de Graças e Natal foi positivo. Aqui no Brasil, o ritmo da economia preocupa, não em função do risco de recessão, mas pela elevada probabilidade de estar crescendo numa velocidade incompatível com a taxa de juros básica. Sem sinais de moderação fiscal por parte do governo, é possível que em 2010 "estouremos a boca do balão" e talvez a "boca da inflação". De toda a forma o cenário é positivo. Os riscos existentes são controláveis (mesmo a inflação), mas o desprezo dos governos em período eleitoral com a sustentação de médio prazo da economia é notável. Seja o governo social-democrata, liberal ou sindical. O nosso radar mostra tendências pioradas em relação às últimas semanas. Dubai veio reforçar estes nossos pontos de vista. 28/11/09 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4988 estável/alta alta - REAL 1,7408 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 67.082,15 baixa/estável estável/alta - S&P 500 1.091,49 baixa/estável alta - NASDAQ 2.138,44 baixa/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável O inferno da política As denúncias sobre corrupção de José Roberto Arruda e de seu governo apenas são mais um exemplo do abandono dos interesses públicos por parte da classe política. Alguém poderia alegar que são "casos isolados". Em nossa visão, a corrupção e a falta de compromisso da classe política são fatos recorrentes e generalizados. Não à toa, as pesquisas de opinião pública mostram o descrédito recorde dos políticos por parte da população. Arruda é velho conhecido da malandragem política. Juntamente com o velho e já morto senador ACM foi o responsável pela quebra de sigilo do painel eletrônico do Senado. E lá está ele de novo recebendo uma graninha de seu ex-secretário. Sinceramente, não há o que falar... Já era previsto Não que fosse esperado para estourar no governo do DF, mas um escândalo como este envolvendo Arruda é sempre uma grande probabilidade aberta na administração pública brasileira. Por absoluta falta de empenho de autoridades constituídas e da política (sem contar certa leniência jurídica) de fechar as portas da corrupção. Tivemos a dupla Collor-PC Farias, os anões do orçamento, os sanguessugas, o mensalão tucano, o mensalão petista e centenas de outros casos menores ou menos notados. E o que foi feito para mudar os costumes e as leis que propiciam tais barbaridades ? Nada, mas nada efetivamente. Portanto, podemos nos preparar para novas histórias, ainda mais com este tão eleitoralmente competitivo 2010. Mau exemplo Quando ataca o TCU, o MP diz que no Brasil há fiscalização demais e prepara novas regras para o TCU nas quais se dará prioridade às perícias quando as obras já estiverem prontas, Lula apenas dá mais munição para que outros mensalões e outras ações menos ortodoxas ocorram. Todas as histórias têm o mesmo fio condutor : dinheiro público desviado e/ou dinheiro de quem trabalha para o setor público, o que dá na mesma. Não importa o partido Todos são iguais perante a lei, reza a CF/88. Sabemos que a lei não é tão imperativa assim cá no Brasil. Se o "Estado de Direito" não prevalece como deveria, o "Estado das Coisas" vai caminhando celeremente. Não há barreiras e todos os partidos têm sérios problemas. O avanço do MP nos últimos anos com suas ações é, neste contexto, positivo. Todavia, o Estado necessita avançar muito mais neste campo e tornar o problema da corrupção como se fosse uma doença, tal qual a AIDS e a dengue. Uma nova via é possível ? Se há decepções acumuladas com os grandes partidos e seus líderes, muitos deles processados e/ou condenados por seus atos ilícitos haverá possibilidade de construir uma nova via de se fazer política ? Há barreiras de natureza objetiva : estrutura partidária, acesso aos meios de comunicação, bancadas desde as câmaras municipais e até o Senado Federal, etc. Algo nada desprezível. Todavia, a oportunidade de construção de uma nova forma de se fazer política existe, mas contará com mais uma dificuldade além daquelas que listamos logo acima : a descrença da população com o novo. Neste sentido, a forma tradicional do PT de fazer política, com seus "pactos" com "Judas Iscariotes", consolida a visão negativa sobre "novas formas" de se fazer política. Marina e doze razões O professor de direito constitucional e ética da Universidade Mackenzie Marcos Peixoto será candidato a senador pelo PTN de SP. Em seu blog, o professor teceu comentários otimistas sobre a candidatura de Marina Silva. Relacionou doze razões que justificam sua possível eleição. Vale a pena ler. Nestes tempos de decepções generalizadas com a política... Marina : entusiasmo e realismo Há, de fato, um elevado entusiasmo entre os apoiadores da ex-ministra do Meio Ambiente e em setores, especialmente entre os universitários e classe média, decepcionados com o PT, o PSDB e a política tradicional. Eles acreditam que Marina vai crescer depois de vencidos alguns obstáculos políticos e depois que ela voltar com mais frequência à mídia, a partir da aparição dela em Copenhague, na conferência da ONU sobre o clima. Porém, há obstáculos a romper : 1. Falta de apoio oficial de outros partidos para aumentar o tempo da ministra no rádio e na televisão.2. Escassez de recursos materiais para conduzir uma campanha que será dura e cara e na qual os dois principais oponentes dela deverão exibir excelente saúde financeira. Climáticas A decisão dos EUA e da China de apresentarem também propostas de redução dos gases do efeito estufa com metas claras na reunião de Copenhague frustrou a estratégia do governo brasileiro para sair do encontro como o grande líder mundial nas questões ambientais. O Brasil mostraria seu projeto e informaria sua intenção de cumprir a metas independentemente dos que os outros fizerem. Agora, apresentando suas intenções numéricas, a discussão se transfere para o terreno da concretude de cada proposta e sua sustentação financeira. O palco de Lula e Dilma terá de ser dividido com outros. Agora é para valer Não passa da primeira semana de janeiro a definição do PSDB entre a candidatura de Serra e Aécio e a definição de toda a estratégia de campanha da aliança oposicionista. Incerteza e angústia Embora tenham tudo para comemorar (e, aliás, fazem isto diariamente em público), os petistas internamente não estão tão eufóricos assim com a campanha presidencial : 1. Calculam que, pela exposição que está tendo e diante das dificuldades dos adversários, a ministra Dilma já deveria estar apresentando melhores resultados nas pesquisas.2. As disputas regionais entre o PT e o PMDB em alguns estados estão chegando a um ponto que podem comprometer a campanha de Dilma. Eles não estão mais angustiados porque a oposição faz tudo e um pouco mais para ajudar o PT. Isenções eleitorais Não há justificativas técnicas, do ponto de vista macroeconômico, para a prorrogação da isenção do IPI dos carros flex fuel e para as isenções do mesmo imposto para o setor moveleiro concedidas na semana passada. Novas bondades virão este ano ainda e mais ainda no ano da graça eleitoral de 2010. Intenções eleitorais Lula condiciona a aprovação de novas regras para os reajustes das aposentadorias do INSS à votação, antes, dos projetos do pré-sal. A oposição diz que obstrui a votação do pré-sal até o governo definir a correção das aposentadorias. Os dois não querem brigar com os "velhinhos". Também, pudera, são 26 milhões de aposentados, quase que um por família no Brasil. Um caminhão de votos. Quem vale mais A briga está tão feia na base aliada pela divisão dos royalties do petróleo que Lula adiou a votação dos projetos na Câmara para quando ele voltar de Alemanha, depois do dia 8. Até lá o presidente terá de decidir se fica com os estados ricos e com o governador aliado Sergio Cabral do PMDB/RJ ou com o nordeste do governador aliado Eduardo Campos do PSB/PE. Lula poderá testar sua capacidade de dar um jeitinho e agradar a todos ao mesmo tempo. A preocupação paralela é que a disputa provoque desgaste na base de apoio à candidatura Dilma. Já há quem esteja vendo na insistência de Ciro Gomes em manter sua candidatura presidencial com um recado nordestino e do PSB a Lula. Lula e Ahmadinejad Uma análise isenta dos fatos reais relacionados com a visita do presidente do Irã ao Brasil mostrará que o governo Lula reforçou os aspectos tradicionais da política externa brasileira em relação à política do oriente médio, à utilização de energia nuclear e aos direitos civis. Ora, então qual foi exatamente a razão para a visita de Ahmadinejad ao Brasil ? O país importou problemas e não exportou nada de novo. Ao contrário, se viu associado a um presidente sobre o qual pesam dúvidas a respeito de sua legitimidade política e absoluta insensatez em relação à paz mundial. Realmente, não dá para entender. Além disto, o Brasil se desmoralizou ainda mais com a sua abstenção de votar a condenação da Agência Nuclear da ONU em relação ao programa de enriquecimento de urânio do Irã. Até os mais tradicionais aliados do Irã (China e Rússia) condenaram o parceiro. E não pegou nada bem para o Brasil e suas pretensões de ser protagonista da paz mundial o fato de o líder do Irã ter anunciado a intenção de construir mais 10 usinas nucleares no país menos de cinco dias depois de ter passado por Brasília. Lula e César Benjamin Não pode passar em branco a acusação do ex-militante político César Benjamin de que Lula em 1994, no período eleitoral, teria dito que tentou "subjugar" sexualmente um companheiro de cela quando de sua prisão durante a ditadura militar. O silêncio de Lula no caso significará uma corroboração implícita do fato. O presidente tem de reagir, caso considere os fatos descritos por Benjamin como mentirosos. Atuar "politicamente" em relação ao artigo da Folha de S.Paulo é inaceitável em função da gravidade da acusação. Outro aspecto do caso : por que Benjamin demorou tanto tempo para divulgar um fato que julgava relevante em relação ao atual presidente ? Há outras motivações por parte do ex-militante ? Cinema, política e marketing Não vimos ainda o filme "Lula, o filho do Brasil". Não dá, portanto, para julgá-lo como obra cinematográfica e nem para dizer se é fiel à vida do biografado ou é uma livre e edulcorada interpretação da trajetória de Lula. Dá, no entanto, para observar alguns pontos a respeito de suas intenções e consequências : 1. É necessário saber se o filme nasceu na cabeça apenas dos Barreto ou se eles foram "induzidos" por alguém a fazê-lo. Isso dirá tudo sobre a estratégia de marketing.2. O fato de estar ocorrendo um lançamento tão grandioso e uma campanha e divulgação tão excepcionais, já indica intenções eleitoreiras claras.3. O filme, por todas as informações disponíveis, é o início da consolidação de um mito, mesmo que esta não tenha sido sua intenção original. Lembremos que o ano de 2010 vai abrigar duas campanhas : a de Lula e, paralelamente, a de Dilma. Lula montou uma estratégia para ser ele a estrela de 2010.4. Pode também não ter sido a intenção, porém o filme tem jeito de quem quer balizar a escrita da história sobre Lula.
terça-feira, 24 de novembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 79

O PMDB da vida real A imprensa, de um modo geral, não deu importância à reunião de parte do PMDB no sábado em Curitiba, sob o comando do polêmico Roberto Requião. O PT, o governo, o PSDB e o DEM também preferiram ignorar publicamente o fato. Porém, ele veio para perturbar. A moção de 14 seções estaduais do partido - maioria entre os 26 diretórios estaduais mais o distrital de Brasília - que lançou a candidatura própria de Requião à presidência racha o partido. Mostra, no mínimo, que o que está sendo vendido pelos líderes não é de pronta entrega. A candidatura Requião dificilmente vingará, bem como dificilmente o grupo que esteve no Paraná seguirá unido em torno de uma mesma candidatura à sucessão de Lula. Contudo, põe novos atores - e novos custos, novas exigências - a montagem da ampla aliança que o presidente quer formar em torno de sua favorita. O PMDB não tem uma voz unificada nem nenhuma liderança nacional. Lula terá de negociar com uma "confederação". E o presidente parece ter percebido o desafio depois da desacorçoada declaração de que a candidata governista vai ter de conviver com palanques duplos em diversos Estados. Como isso é delicado, complicado... O PT na vida real Quando se referiu ao "complicômetro" dos palanques duplos na campanha de Dilma, Lula não apontava para o PMDB a sua metralhadora giratória. Seus alvos maiores são os companheiros petistas de jornada. Está delicado em muitos Estados cortar carreira e ambições em nome de um projeto nacional. Lula, com o prestígio que tem, poderá impor ao seu partido o "centralismo democrático" dos bons tempos. Porém, deixará sequelas graves, capazes de prejudicar não apenas uma possível administração Dilma como também os passos futuros da legenda. Ainda mais se Dilma não ganhar e a turma for apeada do poder e ficar sem força em Estados importantes. O PT ao traçar sua estratégia futura tem algumas variáveis a considerar : o pós-Lula, a possibilidade de não eleger Dilma (ou seja, voltar à planície sem cargos) e o fato de seu aliado preferencial, o PMDB, não ter nada a perder na sucessão presidencial (será governo qualquer que seja o eleito). O PSDB na vida real Antes de mais nada, quem tiver informações sobre o PSDB, por favor, informe esta coluna. Ironias à parte, os tucanos terão de pular do muro antes do fim ano, talvez nas duas próximas semanas. As aparências que Serra e Aécio procuram exibir não convencem mais ninguém. O problema é que o partido parece não ter nenhuma liderança, nem mesmo o ex-presidente FHC, em condições de botar os móveis no lugar. Será mesmo uma estratégia ? Alguns bem informados do ninho tucano garantem que faz parte da estratégia eleitoral da oposição as duras críticas conceituais que o ex-presidente FHC tem feito ao presidente Lula, como as do artigo de duas semanas atrás publicado no "Estadão" e em "O Globo" no qual falou em subperonismo e outras coisas mais. O raciocínio é simples : como Lula quer comparar os dois governos - o dele e o de FHC - o ex-presidente sairia para a liça para debater com Lula. Dizem até que o presidente já mordeu a isca. Assim, Serra ficaria livre para provocar Dilma no terreno que os tucanos julgam melhor : propostas para o futuro, não um olhar para o passado, e confronto de biografias e capacidade gerencial. Pode ser que este já seja um caminho traçado. Antes, contudo, os tucanos precisam dizer o que pretendem. Fed na corda bamba Depois de um estímulo fiscal da ordem de US$ 3,0 trilhões, o Fed está fiscalizando e analisando algumas das principais instituições financeiras do país para verificar se têm capacidade financeira (capital adequacy) para bancar os riscos de suas carteiras de investimento e de crédito. Há pressões do Congresso americano para que a autoridade monetária impeça o surgimento de novas bolhas especulativas. A fiscalização foi iniciada junto aos bancos Goldman Sachs, JP Morgan Chase, e Morgan Stanley. Pois bem : a verdade é que o Fed está num momento delicado. Ao manter as taxas de juros próximas de zero, o Fed estimula a economia, mas também o surgimento das "bolhas especulativas". Há o agravante do enfraquecimento do dólar, o que é bom para as exportações americanas, mas é ruim para o equilíbrio das contas correntes dos parceiros comerciais dos EUA. A única coisa certa é que um erro do Fed custará caro aos americanos e ao resto do mundo. Especulação : tudo como dantes A proliferação dos fundos especulativos denominados hedge funds prossegue ao redor do mundo. Mais e mais executivos estão a caminho de montar as suas próprias empresas de investimento para participar da jogatina internacional. A única coisa certa nisso tudo é que nem a administração Obama nem os organismos multilaterais (BIRD, FMI, BIS), estão dispostos a emitir opiniões sobre o fenômeno, e muito menos regular estas instituições, muitas delas localizadas em paraísos fiscais. A economia mundial está a se recuperar a passos lentos e, em alguns casos, trôpegos. Todavia, os fundos especulativos estão recuperados e preparados para construir uma nova bolha. Cadê a posição brasileira ? Lula candidato fazia bravatas contra a especulação. Como presidente sabemos que tomou o caminho conservador na gestão econômica. Tem, inclusive, orgulho de emprestar dinheiro ao FMI, instituição contra a qual mirava os seus ataques políticos na fase "xiita". Não seria este o momento do Brasil cobrar uma posição em relação ao andamento das reformas relacionadas com o sistema financeiro internacional ? Meirelles parece definido - I Deve ser mesmo verdade a declaração do presidente do BC Henrique Meirelles de que permanecerá até o final do mandato do presidente Lula na sua atual posição. Não há desencanto de Meirelles com a política, mas também não há muito consenso no seu Estado natal em relação à sua candidatura. Os diretores atuais do BC parecem inclinados a seguir a posição do chefe. Isto pode evitar uma transição atabalhoada da autoridade monetária às portas do processo eleitoral do ano que vem. Meirelles parece definido - II Ficando, Meirelles estaria atendendo a um pedido de Lula, preocupado com um possível "efeito Dilma" no dito mercado. Há também o "efeito Serra" mais ou menos idêntico ao de sua concorrente : os dois são vistos por operadores do mercado financeiro como muito "abertos" no que tange à política monetária. Porém, há outras explicações plausíveis para as hesitações de Meirelles : o pouco espaço que os muy companheiros do PMDB, nacionalmente e em Goiás reservaram até agora para ele. Meirelles não tem a garantia ainda de que poderá disputar a governadoria ou uma das vagas goianas para o Senado. Menos ainda a possibilidade de ser vice de Dilma. E uma vaga de deputado federal, com a que ele renunciou em 2003 como tucano para ir para o BC, passou a ser pequena para quem tem o prestígio interno e externo que ele tem hoje. Meirelles prefere guardar-se para quando o carnaval chegar. Portanto, diz esta interpretação da provável desistência de Meirelles que pode ser apenas uma pressão sobre o PMDB, partido que até já se apresenta em sua propaganda como detentor do BC. O Torós passou Ponto para Meirelles : muito boa a sua atuação na substituição do falante diretor do BC Mário Torós. Indicou um nome bem recebido pela comunidade de negócios e mostrou autoridade perante o antigo diretor. Ficou uma dúvida, porém, que somente será sanada nas duas ou três próximas reuniões do Copom : de que lado perfilará o novo diretor, Aldo Mendes, oriundo da burocracia financeira estatal - se do lado mais ortodoxo ou do lado dos mais desenvolvimentistas. São fortes as pressões para que o BC nem ouse em pensar em aumentar a Selic no ano que vem. Mais uma sugestão ao Congresso Não seria o caso de se criar uma regra consistente com a realidade eleitoral no que diz respeito à substituição do presidente do BC ? O mandato fixo para o presidente e diretoria do BC, bem como a discussão sobre a independência da política monetária, podem não ser assuntos populares, mas garantem segurança ao país nas transições eleitorais. O problema é que estamos em temporada eleitoral e tudo o que possa ser polêmico e tido como impopular, mesmo que necessário e urgente tende a ser negligenciado. Pitta morre, mas os seus segredos... Não são poucos os segredos que o ex-prefeito Celso Pitta leva para o túmulo. Todos relacionados com a gestão de Paulo Maluf na prefeitura paulistana, bem como com a sua própria. Não são poucos os que estão se movimentando em relação a este assunto nada fúnebre. A trajetória profissional, política e pessoal de Pitta são exemplo da tragédia na vida dos homens com excesso de ambição e a fruição demasiada do poder. De ambições e poder Por falar nesses dois assuntos, nesses nossos tempos bicudos vale lembrar a lição de Lord Acton : "O poder corrompe. E o poder absoluto corrompe absolutamente." STF decide e Lula não decide. Ainda Já se sabe que Lula demorará a decidir sobre a extradição de Cesare Battisti. Esperará os prazos legais para decidir. Nos bastidores prepara fórmulas jurídicas para justificar a extradição do "companheiro de carteirinha" de Tarso Genro. Os companheiros de Battisti comemoram a decisão do STF. Lula nem tanto. Será obrigado a tomar uma decisão delicada, o que nunca foi de seu feitio desde os tempos do sindicalismo. Apagão e sucessão Ninguém leva a sério o assunto : nem o governo, que deseja enterrar o assunto apagão, e nem a oposição, envergonhada com o seu apagão durante o governo FHC. O jogo é meramente eleitoral e por conta disto é provável que não saibamos as efetivas causas do "microincidente" (apud Tarso Genro) de agora há pouco... Radar NA REAL Mantenha suas posições de risco. Esta é a melhor indicação que podemos lhe dar neste momento. Não é hora de aumentar as posições no mercado acionário, nem de moedas, nem de commodities etc. Todavia, não é a hora de reduzir posições apesar da volatilidade recente do mercado local e internacional. Há investidores desconfiados de que a recuperação da economia mundial não é sólida. Bem, isto ainda está no campo da desconfiança, mesmo que os indicadores deem mais evidências de recuperação da atividade econômica e, em menor medida, do emprego. No Brasil, o cenário não é apenas positivo, mas é promissor. De fato, a recuperação da economia local foi muito boa. Está na hora de o governo e, principalmente, do BC se preocupar com a inflação. Aí está um risco efetivamente relevante e que tem sido subestimado pelo mercado. Esta é a razão pela qual não recomendamos títulos com taxas de juros prefixadas neste momento. O mercado mais ativo e especulado no momento é o das commodities. Petróleo e ouro estão com demanda acesa : são o melhor sinal de que a recessão está no final. Apesar de todos os riscos relacionados com a possibilidade de novas "bolhas especulativas". 21/11/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4865 estável/alta alta - REAL 1,7314 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 66.327,28 alta/estável estável/alta - S&P 500 1.091,38 alta/estável alta - NASDAQ 2.146,04 alta/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Todos são iguais... ...perante os impostos. O prefeito de BH, o socialista Marcio Lacerda (PSB, eleito com o apoio do tucano Aécio Neves e do petista Fernando Pimentel) aumentou o IPTU da capital mineira, acima dos índices de inflação. O prefeito de SP, o liberal Gilberto Kassab (DEM, eleito com o apoio do tucanos José Serra e dos socialistas do PSB) quer aumentar o IPTU da capital paulista em índices que podem chegar a 60%, maiores do que qualquer índice de correção monetária. Quem vive nessas duas cidades ou pelo menos passa por elas algumas vezes percebe sem muito esforço que nenhum dos dois merece receber mais dinheiro para gastar enquanto não aprenderem a administrar. Geyse e os seus direitos A vida da estudante Geyse Duarte, agredida por seus colegas de Uniban, está difícil. Não estão indo bem as negociações de seus direitos para posar nua para uma revista masculina. Ela negocia desde o primeiro dia após os fatos que geraram tanta indignação nas organizações de direitos humanos e nas hostes feministas. O cachê pedido é alto e a revista teme problemas de rentabilidade. Quanto aos eventuais outros problemas a publicação resolve com photoshop, aquele programinha de computador que tira celulite de qualquer Wilza Carla.
terça-feira, 17 de novembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 78

Espírito de Minas Quem anda por MG, capital e interior, e tenta auscultar, tanto entre políticos, líderes empresariais, como junto à população sobre seus sentimentos eleitorais, percebe claramente que há um forte sentimento nativista. Este pode ser definido de modo muito simples : se Aécio Neves e o Estado saírem insatisfeitos (ou "humilhados", como dizem alguns mais radicais) das tratativas da sucessão presidencial na seara oposicionista, os mineiros voltar-se-ão para as suas montanhas. Vão deixar a eleição presidencial, num segundo plano. Como dizem alguns exaltados, Minas não votará em Serra caso Aécio fique magoado. O que pode beneficiar Dilma. E muito também à ex-ministra Marina. Sentimento de Minas O PT já apreendeu esse "espírito" eleitoral que grassa entre os mineiros e se prepara para oferecer aos das Alterosas o que eles parecem desejar : a candidata "uai". Equipes de jornalistas e cinegrafistas rondam o Estado preparando matérias sobre a trajetória mineira da ministra Dilma Roussef. Criada politicamente no Sul, a ideia é mostrar que Dilma é mineira de boa cepa. Não se tem ainda informação sobre se algum fonoaudiólogo foi contratado para ensinar Dilma a falar "direitim, direitim", no idioma das Gerais. Sentimento de Minas - II Ao que se diz em BH, Aécio não se deixa impressionar com as informações vazadas por Brasília, de que o governo e o PT acham que ele será um candidato muito mais difícil para Dilma derrotar do que Serra. Até porque, se eles pensassem mesmo isso, estariam atacando o governador mineiro e não Serra. Mas a versão é boa para os planos do mineiro. Aécio está agora querendo ampliar sua imagem de bom conciliador, bom aglutinador, e de que é o indicado para promover um novo "pacto federativo" no país, com maior equilíbrio entre os Estados e as regiões. Um discurso que soa bem até para governadores e políticos aliados de Lula e comprometidos com Dilma. Pouco a acrescentar sobre a economia Na semana passada, no cenário internacional tivemos duas informações que reforçaram a percepção de que a recuperação das principais economias persiste no bom caminho. A primeira foi a melhora do mercado laboral dos EUA. Trata-se de uma informação - número de pedidos de auxílio-desemprego - ainda que ainda depende de verificação de tendência, mas que foi positivo. A outra foi a divulgação do PIB dos países da zona do euro. Esta última informação, mostrou que a Europa está saindo da recessão, mas com um aspecto negativo que é a enorme dispersão do crescimento entre os países do continente. Tudo isto em linha com as expectativas de investidores e analistas. As duas questões vitais Se as evidências de recuperação consistente da economia mundial se acumulam os dois pontos mais relevantes persistem em relação a crise : (i) qual é o limite necessário de estímulo fiscal para que a dinâmica econômica ganhe tração própria (do setor privado) ? (ii) Como sair deste processo ? Sobre ambas as perguntas, não há respostas objetivas e possíveis. No curto prazo, dá para ser afirmativo e dizer apenas que a necessidade do estímulo fiscal continua imperativo. Brasil já deveria ter respostas Todos reconhecem que o Brasil é destaque na recuperação de sua economia. Todos os sinais de investimento e consumo são expressivos e positivos, mesmo que no caso dos investimentos a necessidade seja gigantesca. Se isto é verdade, por que ainda não temos mínimas respostas sobre como vamos reduzir o estímulo do governo para a economia ? Sequer a oposição política no Congresso cobra a resposta a esta pergunta. Banco Central desmantelado O mercado financeiro local e internacional, a classe política e a sociedade em geral estão subestimando a possibilidade do BC brasileiro ter a sua credibilidade abalada enquanto guardião da moeda. A curiosa entrevista do agora ex-diretor de política monetária do BC Mário Torós mostrou deterioração ética (a prestação de informações confidenciais sem prévia consulta ao colegiado da autoridade monetária), bem como o vazio de informações em relação à substituição de quatro diretores : o próprio presidente, o "diretor falante", o diretor de política econômica e o diretor de liquidações e desestatização. Torós e suas informações Nestes tempos do verão, no qual as chuvas tendem a ser torrenciais, o nome do diretor do BC é mais que sugestivo. Ele teceu comentários específicos sobre a gravidade da crise iniciada em setembro de 2008 e sobre a atuação do BC, onde a sua própria estrela brilhou. Não seria o caso de investigar este personagem do ponto de vista do manual de conduta dos servidores públicos ? Não seria o caso de os políticos o convocarem para saber mais sobre suas façanhas heroicas no saneamento da crise ? Ou será que este será mais um daqueles diretores demissionários do BC que antes de sair dão umas entrevistas para arrumar um emprego no mercado financeiro ? O alerta de Meirelles Não merecem reparos as afirmações feitas na semana passada por Meirelles sobre os procedimentos e os cuidados na concessão de crédito por parte do sistema financeiro. O volume de crédito concedido pelo sistema até setembro atingiu o patamar inédito de R$ 1,4 trilhão. Ótimo para a economia neste momento, mas um grande risco quando o cenário se deteriora. Enquanto isto, em Wall Street Aumentaram muito os comentários no principal centro financeiro mundial dando conta de que a crise de crédito no setor imobiliário dos EUA pode recrudescer em função da inadimplência dos empréstimos concedidos ao segmento de imóveis comerciais. Radar NA REAL Mais uma vez não alteramos as nossas recomendações em relação aos segmentos do mercado financeiro incluídos no radar. De uma forma geral, o comportamento recente dos mercados comparativamente às nossas análises de tendências tem sido similar. Não há neste momento nenhuma evidência de fundamentos dos mercados locais e internacionais de que haja alguma mudança de tendência. Ao contrário, os ativos de risco permanecem atrativos, apesar do fluxo de entradas e saídas de recursos neste segmento está bem mais equilibrado em função de certos momentos de "realização de lucros". O segmento negativo do mercado brasileiro é o de renda fixa no qual não recomendamos a tomada de posições prefixadas cuja relação "risco versus retorno" nos parece ineficiente (muito risco para pouco retorno). No que se refere ao mercado acionário o nosso diagnóstico é que o mercado está "caro" e assim continuará até o final do ano. A melhor estratégia é diversificar em setores e empresas cujas expectativas de retorno são melhores num momento em que o Ibovespa deve apresentar retorno moderado. Quanto ao mercado cambial, não há novidades : o real permanecerá valorizado e o dólar não sobre. Nem aqui e nem lá fora. 14/11/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4903 estável/alta alta - REAL 1,7225 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 65.325,63 alta/estável estável/alta - S&P 500 1.093,48 alta/estável alta - NASDAQ 2.167,88 alta/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Eike, Paes e Cabral : a África é aqui ! Que coisa ridícula a mobilização do empresário Eike Batista, do prefeito Eduardo Paes e do governador Sérgio Cabral em torno da cantora Madonna na semana passada ! A pop star apresentou o seu projeto de implementação dos princípios da cabala em escolas africanas e em dez (isto mesmo : dez !) escolas cariocas. Para isto estava arrecadando US$ 10 milhões entre empresários brasileiros. Até o "Banquete de Estado" ocorrido na quinta-feira passada junto às altas autoridades do Rio, Madonna tinha arrecadado apenas US$ 3 milhões. Eike, impressionado com os dotes pedagógicos da cantora sacou a carteira e deu os US$ 7 milhões que faltavam. Ela chorou. Tadinha, quanta emoção. Tudo isto na mansão carioca de Batista. Logo perto dali, as favelas continuavam com suas mazelas, as escolas públicas persistem abandonadas e os "valores morais e emocionais" divulgados por Madonna não parecem ter muito valor numa cidade onde se mata no atacado. Apagões e incompetências A discussão sobre o apagão da semana passada segue em ritmo frenético. Lula finge que cobra explicações, Dilma desfila a sua personalidade intransigente, a oposição ruborizada com os seus próprios apagões finge que fiscaliza e assim vai. Convenhamos, alguém acredita que tudo isto vai levar a alguma conclusão concreta ? O Congresso está interditado pela antecipada campanha eleitoral e o distinto público parece não se importar em permanecer horas no escuro. Em São Paulo, o Rodoanel, construído há poucos anos, simplesmente cai. Serra agradece a Deus pelas poucas (e graves) vítimas do episódio. De fato, "é um Deus nos acuda". Tudo isto muito além da gestão de fulano e sicrano. Há uma deterioração moral, ética, técnica, administrativa e política no país. No setor público, Lula, Dilma e Serra são apenas a "comissão de frente" deste cenário desolador. O apagão e as eleições I Lastimável, para dizer o mínimo, o comportamento de governo e oposição na história do apagão (ou micro-incidente como prefere Tarso Genro). Todas as reações foram marcadas apenas pelo cálculo eleitoral, desde as tentativas oficiais de explicações até as cobranças da oposição. Respeito ao cidadão consumidor de energia, nenhum. Para essa gente o brasileiro não passa de um mero (e às vezes exigente demais) eleitor. O apagão e as eleições II A oposição ficou toda assanhada com a possibilidade de utilizar o "micro-incidente" (só atingiu cerca de 80 milhões de brasileiros e 7 milhões de paraguaios) para ferir e espicaçar a candidata preferida de Lula. É bom que ela, a oposição, olhe antes para o próprio rabo. Além do seu próprio apagão, ela carrega outros contenciosos pesados, como acidente numa estação do metrô e agora o do Rodoanel. Nesta linha, parece que o jogo está zerado, por enquanto. O placar conta somente contra o povo. O apagão e as eleições III Um dos maiores temores do governo em relação ao apagão é o de que as investigações técnicas concluam que as causas sejam, como dizem alguns especialistas, "falhas de gerenciamento". Afinal, Dilma é a "super-gerente" do governo, manda e desmanda no setor elétrico e um dos motes de sua campanha será apresentá-la como uma eficiente executiva. A ministra e o apagão Quem decide sobre as grandes linhas e política energética no Brasil é a ministra Dilma. Os outros são "subs" : o "subministro" das Minas e Energia, Edison Lobão, o "subpresidente" da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, o "subdiretor geral" da ANP, Haroldo Lima. O setor foi politicamente dividido entre os partidos aliados, com predominância do PT e do PMDB. Eles podem nomear, assinar contratos, fazer licitações, gerenciar e outros que tais. Mas sempre com a autorização de Dilma. A ministra, a comunicação e o apagão A conduta da ministra Dilma, quarenta horas depois do ocorrido, na entrevista coletiva na qual, junto com o "sub" Lobão tentou dar por encerrado o caso do "micro-incidente" mostrou as fraquezas dela quando colocada diante de fatos desagradáveis : perde as estribeiras, fica agressiva, arrogante. Preocupou seus marqueteiros. Em Brasília brincava-se dizendo-se que diante do estilo Serra e da eficiência dos comunicadores do governador paulista, em pouco Dilma ganharia o troféu de Miss Simpatia. Vê-se que ela vai precisar ainda de muita media training e de muito calmante para chegar lá. Mais um sub na praça Quem acaba de assumir as funções de subministro do Meio Ambiente é o carioca Carlos Minc. Vai assessorar a ministra de fato, uma das mais novas neoclorofilas da praça política, Dilma Roussef (outro novel incrível Hulk é o governador José Serra). Nada como uma Marina no ar. Quem também está prestes a ser elevado à condição de subministro é o titular dos Transportes, Alfredo Nascimento. Vai assumir tão logo o governo anuncie seu ambicioso programa de transportes para 2010, com o trem bala de mestre sala. O presidente Lula e o mensalão Em entrevista à TV Record, Lula desfiou a curiosa teoria conspiratória de que o "carequinha" Marcos Valério foi plantado dentro do PT pela oposição para desmoralizar o PT e o governo, e criar as condições para o impeachment dele, Lula. Há gente que acredita até hoje que Elvis Presley não morreu e duvida que o homem tenha chegado à lua. Mas esta não é a questão importante de fato. A verdade é que, com essa declaração, o presidente chancela a existência do mensalão federal, que os 40 indiciados continuam negando ter existido e sobre o qual Lula disse que nunca tinha ouvido falar antes da história estourar pela boca de Roberto Jefferson. A nova marca do PMDB Durante muito anos o MDB/PMDB, com justa razão tinha sua imagem associada à do deputado Ulysses Guimarães, o Dr. Ulysses. Morto Ulysses e com as trapaças da sorte que o partido passou a apresentar, a identificação com o "senhor diretas" foi esmaecendo até o partido ficar sem uma digital clara. Agora, pelo que se pode ver nas inserções comerciais que a legenda está levando ao ar na televisão, o PMDB sugere que tem uma nova cara. Em todas identifica uma pessoa, às vezes com a sua imagem, numa trucagem fílmica, substituindo lentamente na telinha a imagem do Dr. Ulysses num dos momentos históricos dos quais participou. Tenham dó. Um pouco de pudor e modéstia não fazem mal a ninguém. Vinte anos depois Em 1989, Lula, Collor e Sarney estavam xingando-se mutuamente durante a primeira eleição pós-ditadura de 64. Hoje são coleguinhas que repartem o poder e se defendem mutuamente. O Brasil é um país realmente cordial. Propomos um brinde a nossa cordialidade. Enfim, concorrência A compra da GVT pela francesa Vivendi, disposta a investir recursos na tele brasileira para ampliar seu raio de ação, é um excelente notícia : vai criar um pouco mais de competição no setor de telefonia fixa, ameaçado por um duopólio depois que o governo patrocinou e financiou a compra da Brasil Telecom pela Oi. Nem a Oi nem a Telefónica gostaram do negócio. Principalmente a Telefónica, que disputou a GVT com a Vivendi com a intenção de sair do gueto de São Paulo no qual está praticamente confinada. É de esperar que nem o governo, nem os órgãos reguladores, nem os de defesa da concorrência botem obstáculos ao negócio. Eles precisam se concentrar mesmo é no ainda indefinido - e pouco ortodoxo - acordo Oi e Brasil Telecom. Burrice na internet De vez em quando alguém, aqui ou lá fora, tentar criar algum tipo de controle sobre a rede mundial de computadores e a livre circulação de informações no cyber espaço. Quase sempre quebram a cara, embora seja necessário evitar o uso criminoso da rede. O que eles não entendem é a natureza da rede. Agora, por exemplo, no Brasil, há um movimento, do qual participam entidades ligadas aos meios de comunicação como ABERT e ANJ, para exigir que os sites noticiosos no Brasil sejam brindados com as mesmas exigências válidas para jornais, revistas, rádios, televisões no quesito propriedade e controle acionário : só possam ter em sua composição no máximo 30% de capital estrangeiro. Providência inútil. A rede é mundial, aberta, acessível em poucos segundos, por um mero clique. Nada impede que alguém monte no exterior um site noticioso sobre o Brasil, com repórteres locais e para todo mundo ler. Como controlar ?
terça-feira, 10 de novembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 77

O "mercado" e "as garantias" Há um princípio geral da teoria de finanças que reza que "os mercados não têm memória", ou seja, age em função do futuro e não do passado. Bem, este é um elemento crucial de uma construção teórica. Na prática, os mercados parecem agir como o mais dos humanos : "esquece do que lhe interessa e lembra o que lhe é necessário." Pois bem : desde a crise de crédito cujo auge foi em setembro do ano passado, os governos injetaram trilhões e trilhões de recursos no mercado para que ele não entrasse em colapso. Resultado : pouco a pouco, não apenas o mercado, mas as economias iniciaram um processo de recuperação. O "problema desta solução" é que a condição necessária (injeção de recursos estatais) não pode ser permanente. Todavia, o mercado parece querer uma garantia de que o estímulo dos governos permaneça sine die. Ora, isto não é possível por definição - os orçamentos dos não aguentam. Está na hora de definir a "saída de campo" dos erários. O mercado fica oscilando como se chantageasse os governos a ser um "sócio permanente" do jogo financeiro. Os liberais desapareceram e os socialistas estão travestidos. G-20 Nesta segunda, o G-20 - reunido em Londres - informou que os países membros concordaram em manter as taxas de juros baixas e os estímulos fiscais em vigor. A "garantia" continua para o mercado. Lá fora e aqui Se lá fora se discute o fim dos estímulos fiscais, por aqui ninguém nem quer ouvir falar do assunto. Nem o governo, nem o desmobilizado Congresso. O mais perigoso desta passividade é que as contas fiscais brasileiras têm piorado e terão de ser revistas num futuro não muito distante. Mais sinais da recuperação A produção industrial dos EUA cresceu 0,7% em setembro. Trata-se do terceiro mês seguido de elevação. O crescimento de setembro não foi estimado por nenhum economista. Superou todas as expectativas. No Reino Unido, a média das estimativas de crescimento para o ano que vem está em 1,0%. Há pouco tempo, esperava-se uma elevação de 0,5% no PIB britânico. Também estão sendo revistos para cima as taxas de crescimento do PIB do Japão, Alemanha e França. Radar NA REAL Apesar do aumento da volatilidade nas últimas semanas no mercado financeiro mundial - o que esperávamos e foi comentado em colunas anteriores - o desempenho dos diversos segmentos do mercado persiste saudável e consistente com os fundamentos (taxas de juros baixas, recuperação da atividade econômica, estabilidade das instituições financeiras, etc.). O maior (e crescente) fator de risco tem sido a desvalorização do dólar norte-americano. Até agora, o processo de valorização de quase todas as moedas relevantes do mundo em relação à moedas dos EUA tem sido controlado e em consonância com as expectativas. O problema é que não há formas de dar garantias mínimas de que este cenário estável no mercado cambial permaneça desta forma nos próximos meses. Em matéria de câmbio, não há nem teoria e nem prática econômica e financeira suficiente para se fazer prognósticos. De toda a forma, estamos mantendo as nossas recomendações e indicações do nosso radar. 7/11/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA alta alta  - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ²        - EURO 1,4999 estável/alta alta  - REAL 1,7606 estável/baixa alta Mercado Acionário        - Ibovespa 64.466,13 alta/estável estável/alta  - S&P 500 1.069,30 alta/estável alta  - NASDAQ 2.112,44 alta/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Rumo a São Paulo Perceberam que o deputado Ciro Gomes entrou em quarentena presidencial, tomou um sumiço da mídia ? Chama-se a isto "agradar o superior". Dois pesos... O delegado Protógenes levou um gancho de 60 dias da PF por participar de comícios eleitorais. Já outros, nas barbas do TSE e de comissões de ética pública... Apertando o cerco Informa o colunista Vicente Nunes, do "Correio Braziliense", que o BB e a CEF foram "aconselhados" por Lula a disputar a presidência da Febraban no ano que vem. É a estratégia do governo para ampliar seu controle, direto e indireto, sobre o sistema financeiro. E para ter "amigos" no comando de grandes entidades corporativas nacionais. Quem já se esqueceu do apoio oficial à eleição de Paulo Skaf na Fiesp ? O PSDB e o mensalão mineiro Os tucanos fingiram que a história das incursões do "carequinha" Marcos Valério na campanha de Eduardo Azeredo em Minas não era com eles. Aliás, como fingem que as histórias envolvendo a governadora Yeda Crusius não têm nada com ela. Agora, vão carregar esta cruz em 2010. Vão dividir o peso com o mensalão federal do PT. O Supremo e os mensalões O ministro Joaquim Barbosa, relator dos dois mensalões no STF - o mineiro do PSDB e o federal do PT -, sugeriu que os dois fossem julgados conjuntamente. Se aceita a denúncia, não há ainda certeza de que será assim feito, mas seria ótimo se pudesse : daria para ver como se comportariam petistas e tucanos quando metidos neste mesmo saco. Ou será que são do mesmo saco ? Mensalões: semelhanças e dessemelhanças Embora tenha a mesma origem, os mesmos métodos, o mesmo operador, e ambos possam ser classificados sem a menor dúvida como "crimes eleitorais hediondos" (aliás, que crime eleitoral não é hediondo, uma vez que tenta burlar o momento supremo da democracia - o voto - e a vontade popular ?), o mensalão do PT e o do PSDB têm uma diferença básica : 1. O de Minas aparentemente esgotou-se no processo eleitoral. 2. O federal foi um "benefício continuado". Começou nas eleições e depois avançou para mesadas em troca de votos no Congresso. O que eles pensam ? Passamos mais uma semana de intenso blábláblá eleitoral, com trocas de acusações e outros mimos entre governo e o grupo de oposição mais forte (PSDB/DEM). E os brasileiros de um modo geral continuaram sem saber o que pensam concretamente Dilma, Serra e Aécio sobre educação, saúde, violência urbana, impostos e outras questões que assolam os brasileiros. E vamos continuar sem saber por um bom tempo, se um dia soubermos de fato. Campanha eleitoral é marketing e tais assuntos costumam ser azedos quando tratados em profundidade. Principalmente quando se chega no fulcro da questão : como fazer ? O nó está em Minas Segundo colégio eleitoral do país, e com muitas mágoas políticas acumuladas nos últimos anos, Minas Gerais, tanto para o governo quando para a oposição PSDB/DEM, é hoje a grande incógnita e a grande ameaça. Os mineiros sempre gostaram de dizer que a sucessão "passa por Minas". E, de algum modo, passaram : mesmo nos governos militares, os vices saíam prioritariamente das Gerais - José Maria Alckmin (Castelo Branco), Pedro Aleixo (Costa e Silva), Aureliano Chaves (João Figueiredo). Na democracia restaurada, Itamar e José Alencar. Quem vacilar nas composições com a gente das Alterosas pode começar a corrida eleitoral tropeçando. O primeiro grande teste político de Dilma A candidata predileta de Lula terá a oportunidade de exercitar hoje seus dotes encantatórios : reúne-se com os dirigentes regionais do PT para convencê-los a ceder espaços ao PMDB na corrida pelos governos estaduais e até para o senador nos lugares onde os liderados de Michel Temer, José Sarney, Renan Calheiros e Jáder Barbalho se julgarem merecedores de tal vênia. Em alguns Estados-chave, como Minas e Rio, se não houver concessões, não haverá acordo. E a prenda eleitoral dos seis minutos do partido no rádio e na televisão, o troféu que Lula almeja, fica em risco. A cara do cara Os planos, a estratégia traçada e os movimentos do presidente Lula não deixam mais dúvidas : o candidato à presidência da República em 2010 é ele, Lula. Disfarçado de Dilma Roussef. Dinheiro e pré-sal Esta semana começam a ser votados os projetos regulamentando a exploração do pré-sal. Por coincidência, o DOU dos próximos dias vai circular com a liberação de R$ 2 bi de recursos do orçamento para pagamento de emendas parlamentares. Mesmo com a arrecadação em queda e as despesas em alta. Demagogia previdenciária - 1 O governo está jogando nas costas de sua base aliada a tarefa de barrar a proposta - de fato inexequível nas condições atuais - de equiparar a correção das aposentadorias do INSS ao aumento do salário mínimo. Lula poderia simplesmente vetar a medida, se ela for aprovada. Mas não quer passar por este desgaste político em pleno período eleitoral. Ninguém esquece o quanto perdeu FHC quando chamou os aposentados de "vagabundos". Nenhuma explicação salvou a imagem do ex-presidente. É bom lembrar que toda família no Brasil tem pelo menos um aposentado. Lula quer negociar uma proposta menos radical que o projeto do aumento pelo mínimo (do senador petista Paulo Paim). Corre o risco de desagradar a todos. Demagogia previdenciária - 2 Não resta dúvida que o tesouro nacional, que é quem cobre os déficits da Previdência (dos trabalhadores da iniciativa privada) terá dificuldades para pagar os custos do aumento das aposentadorias e pensões como propõe o projeto do petista Paim. Serão, somente no ano que vem, algo como R$ 6,9 bi a mais. E em todos os anos seguintes, enquanto persistir os planos do governo de recuperar o poder aquisitivo do salário mínimo. Porém, não se viu dificuldades para este mesmo tesouro pagar os generosos aumentos salariais concedidos aos servidores públicos da ativa, que somente este ano significarão despesas adicionais de R$ 19 bi. Demagogia previdenciária - 3 Não se vê dificuldade também para o tesouro cobrir os rombos - e que rombos - da previdência (Executivo, Legislativo e Judiciário). Para se ter uma idéia, conforme reportagem de segunda-feira na "Folha" : - São pouco menos de 1 milhão de aposentados e pensionistas do setor público. Este ano o governo deverá pagar R$ 43 bilhões para pagar a diferença entre a contribuição dos servidores federais na ativa e o que é pago aos inativos. - O INSS paga mais de 20 milhões de aposentadorias e pensões. Seu déficit será de R$ 45 bilhões. Em 2003, o governo aprovou com pompa e circunstância uma lei criando a previdência complementar para os servidores públicos. O objetivo era, ao longo dos anos, reduzir o déficit. Até hoje a lei não foi regulamentada. Ainda há gente assim Luiza Erundina foi prefeita de SP, ministra da Administração e tem vários mandatos parlamentares. Informa o "Valor Econômico" que ela está com seus bens penhorados - o apartamento onde mora há mais de 20 anos, seus dois carros e 10% de seu salário como deputada federal - para garantir o pagamento de R$ 351 mil ao governo paulistano por gastos em anúncios explicando porque a prefeitura, na ocasião de uma greve nacional, havia suspendido a circulação de ônibus na cidade. Já outros... O escândalo dos precatórios Não há dúvidas de que o Congresso vai aprovar as novas regras para o pagamento de precatórios. Vai ser consumado mais um estupro do poder público contra a sociedade. Diz o prefeito de SP, Gilberto Kassab, que o projeto em votação pelos deputados e senadores, é consensual ? Consensual para quem, cara-pálida ?
terça-feira, 3 de novembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 76

Sinais misturados Nos últimos dias, o que vimos foi um conjunto enorme de dados divulgados que mostraram sinais de recuperação da economia mundial (p. ex., o PIB norte-americano do 3º trimestre do ano que cresceu 3,5% e o desempenho do setor manufatureiro em outubro) e, ao mesmo tempo, deixam dúvidas sobre a sustentação da atividade econômica nos próximos trimestres (p.ex., a fraca recuperação do emprego nos EUA, os fracos dados da indústria na Europa no mês de setembro). Esta conjunção de dados que provoca "confusão mental" é típica de períodos de transição, seja da recessão para o crescimento (o caso atual) ou vice-versa. A nossa análise é que o caminho da recuperação persiste muito mais sólido que o retrocesso. Todavia, este será um período de alteração mais brusca das expectativas. Não há razões objetivas neste momento para que mudemos a nossa opinião favorável à conjuntura de crescimento e nem a solidez dos diversos segmentos de mercado. No Brasil a recuperação é vigorosa Todos os sinais da economia brasileira desembocam num claro diagnóstico : a economia está crescendo num ritmo forte, sobretudo do consumo, e quem quiser apostar num crescimento de 6% em 2010 pode estar certo. O investimento lamentavelmente cresce num ritmo muito mais lento por duas razões básicas : o governo não é eficiente para executá-los e o setor privado ainda não tem total confiança na recuperação. O problema brasileiro é o acúmulo de problemas estruturais. O grande risco : o sistema financeiro dos EUA Não é apenas a quebra do CIT nos EUA que preocupa. O sistema financeiro dos EUA permanece frágil e com baixa capacidade de emprestar em função da debilidade da sua estrutura de capital e da ausência de confiança dos investidores nas instituições financeiras. Os resultados do 3º trimestre do ano até agora divulgados corroboram estes dois aspectos. Este é o ponto a ser acompanhado como principal fator de risco. Na economia, adiando o inadiável O ex-governador Leonel Brizola costumava usar uma expressão dos pagos gaúchos, quando queria indicar que alguém, alguma instituição, estava fugindo do fulcro da questão, tergiversando - estaria costeando o alambrado. Ou saltando de banda na malandra gíria carioca de um passado recente. É dessa forma que as autoridades econômicas brasileiras com o aval de Lula, naturalmente - Deus as livre, se for diferente ! - estão atacando os problemas que se lhe apresentam, depois da passagem mais aguda dos efeitos da quebra financeira mundial. O Real valorizado, que tudo indica veio para ficar nas atuais circunstâncias, ameaça as exportações e põe em risco o futuro de desindustrialização no país ? Além da taxação da entrada de capital externo, estuda-se o depósito em moeda estrangeira e outros tais. As contas públicas, puxadas pelas despesas de custeio da máquina administrativa, salários à frente, furam as metas de superávit primário ? Inventem-se artifícios contábeis e façam-se rezas e figas para que a arrecadação logo se recupere em ritmo alucinante. São meros paliativos para tentar empurrar o problema para quem vem depois. Uma "herança maldita" que está sendo minuciosamente preparada para quem sentar na cadeira presidencial em 2011. Não dá para salvar a indústria brasileira apenas com "câmbio". A chave se chama tornar a produção nacional mais competitiva, sem artificialismo - menos impostos, menos burocracia, melhor infraestrutura, crédito mais abundante e mais barato. E um dos primeiros passos é um governo menos oneroso, menos ávido de recursos da sociedade. Simples assim. Porém, como atacar esses pontos, que são delicados e que, para serem bem resolvidos, implicam contrariar poderosos interesses em um momento em que a prioridade á a urna de 2010 ? Daí as meias soluções que no futuro certamente virarão problemas enormes. Radar "NA REAL" Já alertamos os nossos leitores nas últimas colunas sobre a elevação da volatilidade nas próximas semanas. Estamos num período de transição, talvez longo (ao de um trimestre a frente) no qual o grau de inquietações sobre a recuperação da atividade econômica mundial. Todavia, é bom lembrar que estas inquietações se devem apenas em parte aos chamados fundamentos. Há que se considerar o fato de que os valores dos ativos tiveram enorme incremento nos últimos meses e há uma quantidade considerável de investidores querendo "realizar lucros". Isto gera uma pressão momentânea e expressiva sobre os fluxos e a relação entre a oferta e a demanda. Portanto, a vida dos investidores daqui para frente se tornará mais difícil. Todavia, em nossa opinião, a tendência estrutural dos diversos segmentos do mercado financeiro é favorável. A exceção são as apostas relacionadas com a taxa básica de juros do Brasil. Esta vai subir. Se não subir, a inflação sobe. 30/10/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4823 estável/alta alta - REAL 1,7606 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 61.545,50 alta/estável alta - S&P 500 1.036,19 alta/estável alta - NASDAQ 2.045,11 alta/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norteamericanoNA - Não aplicável Artifício contábil Ninguém impôs ao governo - agora que somos até credores do FMI - qualquer meta de superávit primário, aquela economia que o setor público faz para pagar juros de sua dívida e evitar que ela aumente. Assim, ele cumpre se quiser ou não o que estabeleceu. Essa história de deduzir do cálculo do superávit as PPI, as PPPs, o "Minha Casa, Minha Vida", o PAC ou a despesas que seja é apenas conversa para disfarçar o inevitável : no fim das contas, no cofre do tesouro vai sobrar menos dinheiro para cobrir as obrigações financeiras do governo. E a dívida pública vai aumentar - foram mais de 8 pontos percentuais em relação ao PIB em um ano. Congresso desmobilizado Cabe ao Congresso fiscalizar e impor limites ao governo no que se refere ao orçamento. Além disso, caberia aos senhores parlamentares exigirem do executivo um "plano de saída" do atual estímulo fiscal dado pelo erário ao setor privado. Contudo, o Legislativo está sem força de atuação em função da dominação que o governo lhe impõe e devido a ausência de uma oposição atuante e com convicções. Lições para políticos e marqueteiros Extraído do livro "A conquista da atenção", de Richard P. Adler e Charles M. Firestone, editado no Brasil pela Nobel : "Havia uma história de que, quando ele estava em campanha para a presidência, Adlai Stevenson [Foi governador do Illinois e candidato duas vezes a presidente dos Estados Unidos da América (1952 e 1956), derrotado em ambas por Dwight D. Eisenhower] fez um discurso para um público entusiasmado no Bennington College. Depois desse discurso, um aluno fascinado correu até ele e disse : 'Senador Stevenson, o senhor vai ter o voto de todos os norteamericanos que pensam !' Stevenson, segundo a história, retrucou : 'Obrigado, mas não é suficiente. Preciso de uma maioria'." Da série 'Não é eleitoral' I Em abril, o Conselho de Política Fazendária aprovou uma resolução autorizando os Estados a reduzir ou eliminar a cobrança de ICMS nas contas de assinatura de serviços de internet banda larga popular. Seis meses depois, em outubro, o governador José Serra assinou o decreto adotando a medida no Estado e anunciando o serviço por R$ 29,90. Levou o ato para a plateia do Futurecom, o maior evento de telecomunicações da América Latina, na presença de todos os poderosos executivos do setor. Ótimo. Porém é preciso atentar para alguns detalhes : - a banda larga popular paulista começa com 200 kbps, quando o mínimo considerado oficialmente é 256 kbps, já considerada uma banda apenas "meio larga".- a Telefónica, primeira a lançar este serviço, por coincidência, no mesmo dia da assinatura de Serra, está condicionando a entrega da banda larga popular à compra de uma linha fixa da operadora espanhola. Não, não é o que o malicioso leitor está pensando. Da série 'Não é eleitoral' II O Congresso acaba de aprovar uma proposta de iniciativa do governo, instituindo uma gratificação extra para os funcionários públicos. Por desempenho. Ótimo, é o prêmio ao desempenho, um reconhecimento ao trabalho, ao mérito. Porém, é preciso atentar para alguns detalhes : - a gratificação será paga apenas uma vez, em 2010.- serão beneficiados somente os funcionários do DNIT, aquela de cuida de estradas.- a medida de desempenho só será válida para as obras do "PAC", aquele que é uma das vitrines da campanha eleitoral de 2010. Não, não é o que o malicioso leitor está pensando. O que é bom, nada Feitas as contas, apenas no fim de semana, foram consumidas pela imprensa tradicional ou grande imprensa - jornais do Rio, São Paulo e Brasília e revistas semanais - algo como 200 mil palavras sobre a sucessão presidencial, focadas quase que exclusivamente em Dilma e Serra. Apenas o "Estadão" e a "Veja" gastaram bons pares de páginas para registrar a metamorfose física e de personalidade pela qual está passando, nas mãos de seus marqueteiros e consultores, a candidata preferida de Lula. Entre outras coisas, o novo produto a ser apresentado à praça, vai emular em tudo por tudo seu criador político e ressurgirá na condição de candidata "uai" com direito a sotaque mineiro e tudo isso. E, no entanto, em todo esse palavrório, não sobrou nenhuma mísera linha sobre os que os dois pensam a respeito dos grandes problemas nacionais, sobre seus programas de governo. Para se ter uma idéia do tamanho do desperdício de papel e "abobrinhas", o texto desta nota contém 165 palavras. A oposição em seu labirinto Os partidos de oposição, especialmente o PSDB, não estão dilacerados apenas por conta da indefinição de quem será o candidato à sucessão de Lula - se Serra ou Aécio - e como será a chapa presidencial. Estão apavorados porque não conseguem encontrar os temas e o tom para se contrapor à (até agora) estratégia eleitoral engendrada pelo presidente Lula. PSDB, DEM e PPS estão literalmente acuados. É o que parece, sim Não se deve apenas ao pouco cuidado de Lula e seu pouco compromisso com a "coerência" as contradições das assertivas do próprio a respeito da imprensa. Num mesmo dia em que ele diz aos catadores de papel em São Paulo que a imprensa brasileira não publica o que deve, provocando uma vaia nos jornalistas presentes ao evento, ele reafirma em um jornal da Venezuela sua fé na liberdade de imprensa. Uma coisa não elimina a outra e faz parte da estratégia do lulismo e do petismo em relação ao tema. No atacado, o presidente defende a liberdade de imprensa. E não poderia ser de outro modo. No varejo, ataca a "liberdade" da imprensa brasileira, porque não é a mesma "liberdade" que ele e seu partido defendem, sem o "direito" de fiscalizar o poder público, de publicar notícias que não são agradáveis ao governo. A divergência está no conceito de "liberdade de imprensa" que Lula quer definir ao seu modo. Não nos esqueçamos da tentativa de criar o Conselho Nacional de Jornalismo, as investidas na área do audiovisual, a criação da TV Brasil, pública no nome, mas na prática estatal. Quem duvida, não perde por esperar. Vem aí, em dezembro, a I Confecom - Conferência Nacional de Comunicações para a qual o governo, sindicatos e ONGs estão trabalhando com extraordinário empenho. CPI do MST pode vingar Sim, apesar da gritaria exterior do governo, a Comissão para investigar os "feitos" do MST pode funcionar com eficiência - ou seja, investigando mesmo e não apenas trabalhando pro forma. Mas apenas até certo limite, pois a base aliada tem a maioria de seus membros e pode direcioná-la como bem entender. Diz-se em Brasília que há uma malévola intenção oficial dar um susto no MST e em alguns de seus líderes. Primeiro para evitar que eles extrapolem demais, pelo menos publicamente e diante de câmeras de televisão, como no caso do laranjal de SP. E segundo para que seus líderes, como ainda o fez neste fim de semana prolongado João Pedro Stedile, deixem da fazer restrições a Dilma.
terça-feira, 27 de outubro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 75

Divergências públicas, insegurança externa Em uma de suas passagens por Brasília, Lula provavelmente terá de ditar uma daquelas suas "ordens unidas" para enquadrar alguns auxiliares que andam se estranhando de público. As divergências, em muitos casos, geram insegurança externa, principalmente na área sensível da economia. Outras atrasam mais a ação do governo do que os execrados TCU, MP. 1. BC e ministério da Fazenda, que divergem a respeito de tudo, resolveram divergir também a respeito da taxação do câmbio. O BC acha que a medida é, no mínimo, inócua. A Fazenda acha que o BC está muito frouxo.2. O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, também discorda do IOF na entrada de capital estrangeiro especulativo, posição que é também de parte dos empresários.3. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, passou a defender corte de gastos de custeio do governo e uma reforma da Previdência para que o Brasil possa crescer de forma sustentável. Por falar em ajuste fiscal, em seu boletim trimestral de inflação, a equipe do BC foi tachada de "terrorista" por auxiliares de Mantega. Por sinal, Coutinho é apontado como provável substituto de Meirelles no BC, um estágio probatório antes de assumir o ministério da Fazenda num possível governo Dilma.4. Há profundas divergências entre o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e as equipes do ministério do Planejamento e da Casa Civil a respeito do Plano Nacional de Banda Larga que o presidente Lula quer ver pronto até o dia 10/11 para levar em seguida para as ruas. Tanto é assim que cada lado está preparando o seu próprio projeto - o de Costa envolvendo as teles, o outro privilegiando a ressurreição da Telebrás. Hélio Costa é um ministro incomodado com a insistência do PT em ter candidato próprio ao governo de MG.5. Batem boca ainda os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário por causa da mudança nos critérios para classificação da produtividade das propriedades rurais e os ministérios do Meio Ambiente e Transportes por causa de licenças ambientais. Estas divergências naturalmente tendem a se acentuar na medida em que mais e mais o político-eleitoral se misturar com o estritamente técnico. O imposto sobre o capital externo - I O debate sobre a procedência e/ou eficiência da tributação sobre o capital entrante destinado a aquisição de ativos de renda fixa e variável (ações) no mercado local é legítimo, mas há uma questão precedente e relevante : os efeitos dos fluxos de capital sobre a administração das contas externas brasileiras. A combinação de um sistema flutuante de câmbio e a liberdade de movimentação financeira tem vantagens (ligadas a certo "realismo" da taxa de câmbio), porém também tem suas desvantagens - os efeitos de curto prazo dos fluxos sobre a sustentabilidade do equilíbrio externo no longo prazo. E a taxação é a única forma de se tentar "controlar" esse processo. Todos sabem disso, os críticos e defensores da medida. O governo optou corretamente pela via tributária para viabilizar a gestão da política cambial e não criar inconsistências intertemporais entre o curto e o longo prazo. O imposto sobre o capital externo - II Se o governo agiu certo no sentido de sua ação, não nos parece eficiente a forma da taxação. O governo deveria optar por uma tributação relacionada com o tempo : maior o prazo da aplicação, menor a tributação. Isso remeteria a ideia de tributar "na saída" e não "na entrada". O problema de uma medida desse tipo é que o mercado financeiro provavelmente encontraria formas de "burlar" legalmente esta forma de tributação. É isto que o governo teme. Talvez o mais recomendado fosse que o governo recolhesse o imposto na "entrada", a título de "antecipação" (na fonte) e compensasse tal imposto "na saída". A única coisa certa neste processo é que não se trata de um debate "ideológico" sobre tributação. Este é um problema mundial relacionado à velocidade e quantidade de deslocamento de capitais. Por vezes estes movimentos favorecem ao andamento das economias (como ocorreu depois do ápice da crise iniciada em setembro de 2008) e em outras ocasiões destrói o sadio desenvolvimento das economias (cujos exemplos são inúmeros). Medida não reverte tendência A medida tributária adotada pelo governo em relação ao capital externo é um "ruído" na movimentação financeira. Todavia, deve prevalecer o fundamento de que o Brasil é destino privilegiado do capital externo. Assim, a taxa cambial pode ter até um solavanco para cima, mas estruturalmente não sobe. Muitas instituições financeiras apostam em mais queda. Algumas falam num dólar de R$ 1,6 no fim do ano. Não é apenas o Brasil Os problemas enfrentados pelo Brasil na gestão da taxa cambial têm de ser visto dentro do contexto mundial. Depois que a crise acalmou lá fora, os investidores que antes correram para o "porto seguro" dos títulos do tesouro norteamericano (até meados deste ano), passaram a apostar em outras moedas em detrimento do dólar. O movimento das moedas principais do mundo é uma enorme preocupação da parte das autoridades econômicas. E não há mecanismos eficientes para controlá-lo. A política monetária ganha importância Se há uma variável macroeconômica relevante para sabermos se a economia brasileira estará equilibrada para sustentar o crescimento nos próximos 12 a 24 meses, esta é a administração da taxa de juros básica. Trata-se da ferramenta mais importante para controlar os riscos fiscais expansionistas do governo e a inflação. O tal do "mercado" pode estar subestimando estes riscos. Sobretudo, porque não há certeza sobre a adequada condução do BC nesta matéria. Esta semana sai a ata da reunião do Copom da semana passada, quando poderemos ter algumas indicações de quando o BC pretende começar a mexer nos juros. Para cima, segundo indicações anteriores. De acordo com alguns analistas, porém, entre eles o ex-BC Gustavo Franco, antes de tocar na Selic a autoridade monetária pode aumentar o compulsório dos bancos, reduzido no auge da crise para irrigar o mercado de crédito. Seria uma medida de efeitos menos visíveis, portanto menos traumática do ponto de vista eleitoral. A política monetária lá fora Não é apenas o BC brasileiro que está diante de imensos desafios. Ao contrário : os desafios dos principais BCs do mundo, sobretudo o Fed, estão relacionados ao momento em que sinalizarão a elevação das taxas negativas (em relação à inflação) de juros. As autoridades monetárias sabem que a atual política é inflacionária no médio prazo, mas não há ainda evidências suficientes de que o crescimento econômico voltará de forma consistente. Resultado : as autoridades estão fazendo um jogo de palavras pelo qual muito falam e nada dizem sobre o futuro. Assim permanecerá por algum (?) tempo. E as contas ? - I Esta é a semana da divulgação do resultado consolidado da contabilidade federal - governo central, BC, Previdência - do mês de setembro. A arrecadação caiu mais de 11% ao mesmo mês do ano passado. O déficit da Previdência passou dos R$ 9 bi. A maior parte das despesas são "incomprimíveis", com diria o ex-ministro Magri. Se novos artifícios fiscais não forem aplicados - aumento dos dividendos das estatais, mais depósitos judiciais - o déficit deve vir alto. E as contas ? - II Em que pese o buraco da Previdência estar novamente se alargando, Lula firmou um acordo com as centrais sindicais para atenuar os efeitos do fator previdenciário, criado para evitar as aposentadorias precoces. Por outro lado, não se tem notícia de que o governo esteja empenhado em aprovar a regulamentação dos servidores públicos, proposta pela própria administração Lula, considerada essencial para diminuir o déficit da previdência pública, proporcionalmente muito mais pesado para os cofres do tesouro do que o do INSS. Não há "clima" para votar uma proposta dessas em tempos de eleições. Radar "NA REAL" Todos os mercados acionários relevantes do mundo estão com "lucros acumulados" consideráveis. O mesmo raciocínio vale para os ativos de renda fixa. A grande dúvida dos investidores nesta hora é se "realizam lucros" e abandonam posições ou as mantém na expectativa de lucros ainda maiores no futuro. No caso do mercado acionário brasileiro essa dúvida é ainda maior, pela óbvia razão de que os lucros são maiores em relação aos outros mercados. (Há de se considerar que no nosso caso, além da alta de mais de 60% do Bovespa, há a alta do real de mais de 35%. Se combinarmos as duas altas, um investidor estrangeiro ganhou mais de 100% com ativos brasileiros. Uma tentação para realizar lucros). De nossa parte, fazemos a seguinte análise. Há razões sólidas para que esperemos melhorias adicionais no mercado financeiro mundial. Todavia, este será um processo mais lento e comedido até que aumentem as convicções e evidências sobre a sustentação do crescimento econômico no médio prazo. 23/10/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,5008 estável/alta alta - REAL 1,7173 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 65.058,84 alta/estável estável/alta - S&P 500 1.079,70 alta/estável alta - NASDAQ 2.154,47 alta/estável alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norteamericanoNA - Não aplicável PIB nos EUA O PIB norteamericano cresceu 0,7% no segundo trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior. Uma taxa muito melhor que aquela que era esperada pelos analistas e investidores. Nesta próxima quinta-feira, será divulgado o PIB do terceiro trimestre. Espera-se um crescimento de 3,5%. Até se verificar se a economia dos EUA está se recuperando o mundo não dormirá em paz. A volatilidade dos mercados subirá nos próximos dias. Trata-se de uma certeza. Emprego preocupa Se há uma chance concreta do PIB trazer boas surpresas, a grande preocupação em relação aos EUA é o emprego. A criação de empregos continua capenga, sobretudo em função da fragilidade do setor de construção civil - o qual melhorou o desempenho por causa do aumento das vendas de casas já construídas. A melhoria no emprego será o ponto chave para detonar a euforia dos mercados mundiais. Todavia, se não há mais tempestades na economia norteamericana, o sol ainda não brilha. Só para lembrar... A atividade da maior economia mundial caiu em cinco dos últimos seis trimestres... De que paz nós estamos a falar ? Estas últimas manifestações da população carioca em Copacabana são muito justificadas. Por razões mais do que óbvias. Contudo, ficam algumas dúvidas inquietantes : os traficantes merecem paz ? Será que estas manifestações defendem a ação coercitiva do Estado na direção do crime ? Não caberia defendê-las ? Não há paz quando não há justiça. Mesmo quando há mortes pelo caminho o Estado tem de agir para conter a criminalidade. No caso do Rio, com muita força. Serra, Kassab e as marginais As obras viárias em SP podem até ser necessárias. Mas cabe perguntar às autoridades municipais e estaduais a razão de tanta passividade em relação às alternativas para o caótico trânsito paulistano. Serra é crítico às obras federais, mas em SP age igual ao governo federal : dentro de uma visão puramente desenvolvimentista e sem preocupações com a sustentabilidade ambiental e social. Tudo isto em sintonia com as eleições. Como Lula, a quem critica. Inteligência ? Aliás, por falar em tráfego paulistano, ganha um prêmio quem encontrar o menor resquício do que se convencionou chamar "inteligência de tráfego" na ação das autoridades de SP no setor. Falta também mais vontade trabalhar. Quem anda pelas ruas da cidade, vê que aqueles que deveriam orientar e facilitar a circulação de veículos estão simplesmente de canetinha na mão multando. As articulações tucanas Já se conhece a ação política de Lula em relação às próximas eleições : o presidente começa a consolidar a candidatura de Dilma dentro de uma visão de "tocadora de obras" e a amarrar esta imagem a uma larga aliança política, consistente com os objetivos eleitorais e com inúmeras inconsistências relacionadas ao perfil ideológico e padrão ético dos partidos e candidatos. De Sarney ao PCdoB cabe tudo no bonde eleitoral do presidente. De outro lado, os tucanos ficam com ensaios relacionados com o acordo de uma "chapa puro-sangue" entre Serra e Aécio. Um jogo desprovido de ligação efetiva com eleitor. Não há ainda no ninho tucano nenhuma razão especial a motivar o eleitor a votar em Serra e/ou Aécio. Não é à toa que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, pede ação e discurso político. Tem razão Guerra : não há, até agora, reason why para se votar nos "puro-sangue". Jogo sujo no PSDB Pode custar mais caro do que imagina a cúpula do PSDB a iniciativa de um empresário amigo (na verdade o ex-deputado Ronaldo César Coelho) de encomendar uma pesquisa ao Ibope para testar a força de uma chapa tucana pura para a presidência - Serra na cabeça e Aécio de vice. Nos arraiais mineiros foi tratada como uma tentativa de criar um fato consumado e como uma traição, palavra forte demais na terra dos Inconfidentes. Difícil será convencer os desconfiados mineiros de que o comando do partido não sabia de nada e que Serra menos ainda. O vazamento da informação talvez tenha sepultado as últimas e remotas chances de uma chapa puro-sangue dos tucanos para a presidência em 2010. Negócios De um maldoso de plantão : o contrato de gaveta entre o PT e o PMDB deve ser registrado na Junta Comercial. Não estão preocupados O PMDB pode fazer o acordo que quiser agora e em 2010, e não fazer nenhum. Este sabe, como ensinou a máxima de Lula com Jesus/Judas, que qualquer que seja o eleito no ano que vem há de chamar o maior partido brasileiro para a ceia. Com assento privilegiado. O partido está de olho mesmo é nos palanques estaduais, que ajudam a definir as bancadas partidárias na Câmara e no Senado mais do que a eleição federal. O objetivo do PMDB é aumentar seu cacife na Câmara e no Senado. Quem pode ter a bancada reduzida, de acordo com as circunstâncias, é o PT, se tiver de cumprir todas as ordens de Lula para agradar ao PMDB. Para acabar com as especulações Vamos aos fatos : a urna eleitoral de 2010 terá a seguinte composição, salvo atropelos de última hora : 1. Dilma Roussef2. José Serra ou Aécio Neves, hoje com tendências para o primeiro.3. Marina Silva4. Mais um ou outro aventureiro insignificante. Ciro Gomes comporá mesmo a lista de concorrentes em São Paulo. TCU em negociações Consta que o ex-ministro José Múcio está tratando para que os "canais" entre o TCU e o governo sejam abertos. Fala-se em diálogo entre o governo e o órgão. Ora, o TCU existe para facilitar o papel constitucional do Legislativo de fiscalizar o governo. Este papel os parlamentares executam com enorme deficiência. A possibilidade de um "diálogo" do governo com o TCU parece ser o sinal claro de que daqui para frente a fiscalização do Executivo pode se tornar apenas "cosmética". O pior dos mundos para os contribuintes. O recrudescimento dos ataques de Lula ao TCU é o sinal mais claro de que a fiscalização incomoda muito o governo. Aliás, ele mostrou isto também na semana passada quando disse que não é papel da imprensa fiscalizar, apenas informar. Outro sinal : o sistemático combate às CPIs, a última a do MST, contra qual o governo move mundos e fundos - mais estes do que aqueles. Deve ser coisa da transparência do republicanismo ao estilo ministro Tarso Genro.
terça-feira, 20 de outubro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 74

Como nunca antes... Pense-se num país no qual o governo : 1. Trabalha para reforçar a presença das empresas estatais na economia e criar novas companhias governamentais. 2. Está empenhado em enfraquecer as agências reguladoras, podando sua independência e autonomia. 3. Se esmera para conter o que alguns deles classificam de "sanha fiscalizatória" do TCU, do MP e até de órgão do Executivo como os institutos do meio ambiente. 4. Sistematicamente tente interferir nas decisões empresariais do setor privado (como no episódio Vale) e não perde a oportunidade, em comícios eleitorais, de tentar demonizar as grandes empresas privadas. 5. Por meio de benesses com recursos do Tesouro tenha "amaciado" o mundo sindical e os movimentos sociais (ONGs, entidades estudantis). 6. Tenha realizado a mais bem sucedida e bem planejada ocupação do aparelho estatal por fiéis seguidores, de alto a baixo. 7. Deseja ardentemente exercer algum tipo de controle sobre o que alguns classificam como "imprensa burguesa" ou "grande mídia", pouco influenciável pelos incentivos oficiais. 8. Com um bem sucedido "terrorismo" verbal - utilizando termos tais como, antisocial, contra os pobres, antibrasileiro, antinacionalista - mantenha acuados a oposição e parte da sociedade. 9. Se dedique, sistematicamente, a desqualificar seus críticos. 10. Como nunca antes, tenha investido na franciscana política do "é dando que se recebe" com os aliados. 11. Não tenha muito apego à letra fria da lei. Pois é : no longo prazo, o que será das instituições e do projeto democrático deste país ? Eleições : passado e futuro Estão evidentes as estratégias do PT e aderidos e do PSDB et caterva na campanha eleitoral. Lula quer fazer as comparações entre seu governo e o do presidente FHC. Um olhar sobre o passado. Serra quer fugir desta armadilha e discutir os próximos quatro anos, pós-Lula. Uma tentativa de olhar o futuro. Até agora, os planos de Lula parecem mais bem sucedidos, tal o atarantamento da oposição. Rumo a 2014 No fundo, no fundo, a estratégia de Lula o torna, bem como o seu governo a grande estrela das eleições. Lula não sai de cena, como normalmente acontece com os governantes em fim de mandato, quando o capim começa a crescer na porta de seu gabinete e o café é servido frio. Dilma é a candidata ideal para um projeto destes, com vistas a 2014. "Miss simpatia" Se Serra continuar exibindo o sorriso e a paciência que mostra em público e se sua equipe de comunicação continuar com a simpatia e a eficiência que têm demonstrado, a ministra Dilma Roussef ainda vai ganhar o troféu de Miss Simpatia. Quem tem a força O PMDB em muitos Estados ainda resiste a Dilma. A resistência vai ser minada aos poucos, a não ser que a candidatura da ministra da Casa Civil fique patinando. Caso contrário, a adesão virá aos poucos. Afinal, Lula tem a caneta e o PMDB espera apenas que ele comece a usá-la para jurar fidelidade eterna. Os movimentos das moedas Na semana passada, os principais comentários nas mesas de operações do mercado financeiro foram relacionados à valorização das principais moedas mundiais frente ao dólar norte-americano. Há até quem comece a prever um colapso do dólar, a reserva de valor do mundo. Sem que tenhamos o objetivo de fazer uma "previsão", vejamos quais são os fatores que estão por detrás deste processo : 1. A recuperação econômica da Europa está sendo mais forte que a dos EUA. Assim sendo, a remuneração dos títulos de renda fixa (com prazo de 5 a 10 anos) do velho continente está subindo, pois os investidores buscam maior rentabilidade no atual cenário de taxas negativas de juros (descontada a inflação projetada); 2. Maior remuneração dos títulos faz com que os fluxos de capital migrem do dólar americano para outras moedas; 3. Portanto, parece que estamos a iniciar - lentamente ! - um processo de elevação dos juros nas principais economias. Isto deve ser visto como um bom sinal, pois é fruto dos bons ventos de uma maior aceleração da atividade econômica. Todavia, prever o colapso do dólar parece precipitado. O Real neste contexto Lula teria autorizado as autoridades econômicas a taxar o capital que ingressa no país. Maior o prazo de investimento, menor a taxa incidente sobre as aplicações e vice versa. De fato, a rápida valorização do real neste ano, mais de 28%, retira competitividade das exportações, muito embora os preços das commodities em alta de certa forma compensem tal valorização. Todavia, o segmento mais dinâmico da economia - a indústria - perde muito com a valorização cambial. Essa medida do governo dificilmente desvalorizará o Real. Pode conter a alta, apenas. Isto se dá em função do fato de que o Brasil é uma das poucas alternativas de investimentos atrativas no atual contexto mundial e o fluxo externo para cá, inclusive da "economia real", é inexorável. A política monetária do BC Mais difícil ainda será a manobra da política monetária do BC no atual contexto de valorização do Real. Se elevar os juros, contribuirá decisivamente para manter o Real valorizado e se não subir os juros pode estar ajudando a criar uma conjuntura ostensivamente inflacionária. Há ainda um risco político : o de Henrique Meirelles se isentar de cumprir o seu papel de guardião da moeda, no exato momento em que a sua estrela de político do PMDB sobe. É cotado até para ser candidato a vice-presidente na chapa oficial, caso o chamado "mercado" fique inquieto com o "nacional-desenvolvimentismo" da ministra Dilma. A nota e depois a ata do Copom, sobre a reunião de hoje e amanhã, poderão dar sinais de quando o BC pretende começar a mexer nos juros. Real valorizado não ajudará na inflação É improvável uma elevação tão significativa do Real daqui para frente. Portanto, do ponto de vista exclusivamente cambial, a contenção de uma possível inflação futura não contará com o "apoio" da valorização cambial que barateia importações e contém a alta das commodities. No passado (2007, por exemplo), este foi um fator fundamental para reduzir as expectativas de alta da inflação. O BC não terá este benefício daqui para frente. Radar "NA REAL" Estão mantidas as tendências estruturais dos principais segmentos do mercado financeiro aqui e no exterior. As possíveis medidas cambiais que podem ser adotadas pelo governo brasileiro para conter a alta do Real não deve mudar a tendência favorável à moeda nacional. É possível que esta seja uma semana mais tensa e com mais volatilidade nos mercados de ações em função da temporada de resultados do terceiro trimestre das empresas cotadas em bolsa nos EUA e na Europa. Atenção redobrada deve ser dispensada ao segmento das instituições financeiras. É muito importante verificar se os bancos mais importantes dos EUA e da Europa, sobretudo ingleses, estão com melhores balanços e resultados. Mantenha-se afastado dos títulos prefixados no Brasil. É hora de ir aumentando a participação de investimentos de curto prazo na carteira de investimento, sobretudo no segmento de renda fixa. Inclusive investindo na caderneta de poupança, a grande estrela da renda fixa brasileira. 16/10/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4912 estável/alta alta - REAL 1,7100 estável alta Mercado Acionário - Ibovespa 66.200,49 alta estável/alta - S&P 500 1.087,68 alta alta - NASDAQ 2.156,80 alta alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Imóveis : recuperação à vista Mais um sinal de recuperação da economia dos EUA. O combalido mercado imobiliário americano dá sinais positivos que indicam que o pior já passou no segmento que foi a principal causa da atual crise. As vendas de imóveis usados cresceram mais de 14% em relação ao menor nível alcançado em janeiro deste ano, o início de construções de casas subiu 23%, sendo que houve o aumento de 34% das construções para famílias que têm um imóvel apenas. Este processo se deu em razão do estímulo tributário do governo para o setor e ainda não foi acompanhado pela melhoria do crédito. Estes são os necessários novos passos para indicar uma recuperação consistente. O fim dos estímulos fiscais Se há uma tarefa fundamental nas discussões do futuro da economia brasileira é verificar e analisar, inclusive do ponto de vista político, como o governo retirará os estímulos fiscais utilizados para conter a crise. Esta é uma das matérias mais discutidas nos parlamentos mundo afora. Aqui parece que o debate "não pegou". A volta da CPMF Na semana passada, líderes do governo no Congresso foram instruídos para não fazer muito barulho em relação às articulações em torno da adoção de uma nova CPMF (CSS), destinada à saúde. Cidadãos, um "novo" imposto vem aí ! Salvos pelas urnas A CSS pode naufragar somente por uma decisiva razão : os cálculos "custo-benefício eleitorais". Foi esta "matemática" que abateu, pela segunda vez, o plano dos gestores oficiais da economia de taxar a caderneta de poupança e fez o ministro Guido Mantega recuar (será mesmo ?) da manobra, já posta em andamento. Além de atrasar a devolução do IR de quem pagou a mais em 2008, para segurar, artificialmente, o superávit primário deste ano. Contas de aproximar Esta semana, salvo algum tropeço, devem ser divulgados os resultados a arrecadação federal no mês de setembro. Anotem bem : mês no qual, segundo o ministro Guido Mantega, a economia já estava "bombando". Aliás, "bombando" desde julho. Porém, de acordo com os primeiros levantamentos, a arrecadação de tributos mês passado não seguiu tal ritmo. Deve ter sido bem inferior à de agosto. No entanto, o governo tem alguns expedientes que pode adotar para tornar o bicho menos feio. Vejamos alguns deles : incorporação de depósitos judiciais, aumento do pagamento de dividendos pelas estatais... Equívoco ambiental É justo e necessário que Lula cobre dos países maiores sacrifícios nas questões climáticas para conter o aquecimento global. Esta deve ser a tônica da posição brasileira na Conferência da ONU sobre o tema, em Copenhague, em dezembro. O Brasil pode mudar o jogo. Porém, não é justo que o Brasil, como têm apregoado muitas autoridades, condicione suas ofertas na conferência (limitar o desmatamento na Amazônia, por exemplo) ao que os outros países concederem. Produzir mais limpo, poluir menos, é antes de tudo do interesse dos brasileiros, pela qualidade de vida, pela saúde dos cidadãos. Não pode estar ligado ao que os outros fazem. Ou a saúde do brasileiro, para o governo, só vale se o Obama valorizar a saúde dos americanos ? Os confrontos no Rio Embora muitos não aceitem, o fato é que não existem evidências suficientes que contrariem a premissa de que o Brasil é um país muito violento. A mortalidade relacionada à criminalidade é assustadora. Em contrapartida, o assunto carece de políticas públicas mais efetivas para conter a violência, bem como mudanças na legislação. Nem assuntos polêmicos, como a unificação das polícias civil e militar, deveriam ser evitados no atual cenário da criminalidade brasileira. Os enfrentamentos entre a política e os traficantes no Rio não são novidades. De outro lado, não temos nenhuma grande "novidade" para que a sociedade possa enfrentar o crime. Trata-se de um paradoxo evidente : o assunto é relevante, mas pouco se faz para solucioná-lo. Outra coisa : será que este cenário de fato permite que o país possa sediar com segurança eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos ? Por que o turista que virá ao Rio para estes eventos estará mais seguro que os moradores da cidade ? Esta é a Copa e a Olimpíada que o Brasil precisa vencer antes de 2014 e 2016. E isto não se faz com festas, propaganda e palanques. O que é real Vamos aos fatos : a implicância do governo federal com o TCU, o MP, o Ibama e até com a lei de licitações, aos quais culpa pelo atraso dos projetos e de obras ao gosto brasiliense, na realidade vem para disfarçar o real responsável por esses atrasos : a conhecida inapetência gerencial e executiva do próprio governo. Humorista O dono do futebol brasileiro, Ricardo Teixeira, entusiasmado com os resultados de público (não do jogo em si) da partida da seleção brasileira contra a Venezuela, pretende que os jogos noturnos do Campeonato Brasileiro do ano que vem sejam realizados também às 20h e não mais às quase 22h de hoje. Vai agir bem em cima do JN e da novela das oito que de fato é das nove. Quem quiser ficar rico pode apostar contra o presidente da CBF.
terça-feira, 13 de outubro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 73

Tudo muito rápido e positivo O processo de "realização de lucros" nos principais mercados mundiais durou apenas uma semana, exatamente a última do mês de setembro. De lá para cá o que se viu foi uma renovação sistemática do crescente otimismo da parte dos investidores, em todos os segmentos do mercado e em quase todos os países relevantes do ponto de vista econômico. Os sinais objetivos de recuperação existem, todavia não são exuberantes quanto a conjuntura dos mercados. Resta saber se a melhoria das expectativas no mercado financeiro e de capital, sobretudo nos EUA e na Europa, hão de "contaminar" o lado real das economias. Por enquanto, as melhores expectativas estão mantidas. Resultados na ordem do dia A temporada de divulgação dos resultados do terceiro trimestre do ano das principais empresas com ações cotadas nas bolsas de valores iniciou-se. A nossa aposta é que os lucros serão crescentes e vale a pena manter posições compradas. Especialmente nos EUA, os primeiros resultados que apareceram foram muito bons frente à tragédia dos últimos trimestres. Brasil na ordem do dia Certamente há renovada euforia em torno do andamento da economia brasileira e de seu mercado de capital. Esta coluna teve ocasião de conversar na semana passada com dois analistas e um administrador de fundos situados em Londres e NY. Basicamente podemos dizer que eles estão eufóricos com a economia brasileira. Embora ainda não tenham publicado relatórios com estes números, eles acreditam que a economia brasileira pode crescer acima de 6% no ano que vem, mesmo que a taxa de juros básica venha a subir para conter alguma inflação. Não vislumbram nenhum tropeço nas eleições de 2010 que possa causar maiores danos econômicos, ao contrário, estimam um crescimento consistente da economia brasileira nos próximos cinco anos em função do financiamento externo proveniente do mercado de commodities que continuará sob o "efeito China". Segundo eles, já há consultas de fundos de pensão europeus e norte-americanos para investir em segmentos com retorno mais longo, por exemplo, o setor energético. Há uma exuberância racional em torno do Brasil, dizem. China, ainda a chave do crescimento Embora países como a Índia e Brasil estejam elevando o nível do crescimento mundial, é a China que agrega mais demanda ao sistema. Vale lembrar que lá o sistema financeiro não é hígido como o brasileiro e os riscos fiscais são crescentes. Potencialmente, a China também é o maior risco para a estabilidade mundial. A pauta da economia mundial neste momento O assunto macroeconômico que há de dominar o cenário nos próximos meses é como as políticas fiscais compensatórias utilizadas pelos governos dos países do G-20 para suprir a ausência de demanda do setor privado serão retiradas para evitar riscos inflacionários. O Reino Unido, liderado pelo trabalhista Gordon Brown, já está providenciando leilões de ativos para fazer caixa destinado a suprir recursos para um empobrecido erário público. Por lá também haverá eleições. Taxa de juros sobem O BC australiano já tinha avisado aos navegantes que estava prestes a iniciar um movimento de elevação da taxa básica de juros, a qual subiu para 3,25% ao ano (+ 0,25%). Agora devemos prestar atenção em relação ao que os BCs da Coréia do Sul, Japão, China e África do Sul vão fazer. São estes BCs os mais alertados em relação à elevação da inflação. No Brasil, juros vão subir. Mas quando ? O mercado futuro de juros, negociado na BMF-Bovespa, já mostra que as expectativas em relação à elevação da taxa de juros estão subindo rapidamente. Os últimos números da atividade industrial e do consumo foram expressivos e mostraram consistência. O impacto da maior atividade sobre os preços é dificílima de ser medida de vez que depende de cálculos muito carentes de uma razoável "ciência", muito embora muitos analistas se comportem como deuses quando fazem previsões. A única questão objetiva é que os gastos públicos são enormes e de natureza permanente, pois estão mais relacionados ao aumento de custeio que aos investimentos. A nossa estimativa é que no início do ano a probabilidade do início de uma "campanha de elevação da taxa de juros" se inicie. Provavelmente, ainda com Meirelles no BC. O governo e os fiscais Lula perdeu totalmente a paciência com o TCU, os gestores oficiais do meio ambiente e parte do MP. Todos, com suas exigências de transparência e cumprimento às leis, estariam, na visão presidencial, "sabotando" os projetos governamentais. Até o fim do ano, apesar do tempo apertado, espera-se que o Congresso aprove alterações na lei de licitações e nos poderes do TCU para conter a "sanha de fiscalizar" que tanto incomoda os tocadores de obras. As garras da PF já foram podadas como no caso da "Operação Castelo de Areia". De acordo com o auditor Antoninho Marmo Trevisan, que sabe o que fala, pois é dos empresários mais próximos a Lula, a intenção é entregar a fiscalização às auditorias externas independentes. Uma estranha "terceirização" num governo que faz questão de ampliar os poderes do Estado. Muitas dessas auditorias têm sido acusadas, sobretudo no exterior, de não enxergar bem o que se passa na contabilidade das empresas que auditam. Basta dar uma olhada no que ocorreu no caso do sistema financeiro norte-americano. Real valorizado e assim ficará Sabe-se do risco para o setor exportador, sobretudo o industrial, que o Real excessivamente valorizado traz. Pois bem : com a liberdade de fluxos de capital existente e com o atraente diferencial entre juros externos e domésticos há pouca esperança de que o Real volte a se desvalorizar num horizonte de tempo relativamente longo, digamos, pelo menos um ano. Não há modelo econométrico capaz de projetar o nível do Real, mas somos afirmativos em dizer que quem quiser apostar em desvalorização do Real vai se dar mal. Cicatrizes A "marolinha" deixou cicatrizes - Real valorizado, distúrbios nas contas públicas e outros tais. O crescimento que se está prevendo - ao ritmo de 6% no final de 2010 - só é sustentável se o governo curar esses desvios e fizer o que não fez quando tinha tudo a seu favor : atenuar um pouco o que se costuma chamar de "custo Brasil", na infra-estrutura, nos impostos e na burocracia. Mas em tempos de eleições, pré-sal, Copa do Mundo, Olimpíada, sobrará tempo e dinheiro para algo mais ? Radar "NA REAL" Voltamos a ficar mais otimistas em relação ao andamento dos mercados mundiais e do Brasil. Há uma positiva contaminação das melhores expectativas em relação à recuperação mundial e o Brasil é destaque neste processo, conforme consta nas notas acima. Logicamente, há riscos envolvidos no processo (inflação, eleições, excessos de gastos fiscais e inconsistência na recuperação do setor real das principais economias). O que estamos a dizer nesta nota é que tais riscos não devem interromper a trajetória sustentada dos mercados. Ou seja, a tendência estrutural de otimismo prevalecerá sobre tais riscos. Não é um processo linear de alta. Os mercados oscilam e esta é a única certeza que temos sobre eles. 9/10/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,4801 estável/alta alta - REAL 1,7433 alta alta Mercado Acionário - Ibovespa 64.071,01 alta estável/alta - S&P 500 1.071,49 alta alta - NASDAQ 2.145,63 alta alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Fala quem sabe Há informações de que o senador José Sarney, por acaso também imortal na ABL, está escrevendo um novo livro, apropriadamente intitulado "A pobreza no Maranhão". Disso ele entende : desde que Sarney foi eleito governador do Estado, em 1966, o Maranhão, com raro interregno, foi dirigido por ele, alguém da família ou agregados da Casa Grande da política maranhense. E conseguiu se transformar num dos Estados mais pobres do Brasil : o Índice de Desenvolvimento Humano do Estado somente não é inferior ao de Alagoas. De olho no FAT Há menos de três meses do ministro do trabalho, Carlos Lupi, fez uma de suas lambanças e conseguiu botar no comando do Codefat - Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador - um dirigente de uma entidade patronal de sua total confiança. A ação do ministro afastou do Conselho outras entidades, como a CNA, CNI, CNC e a que representa o sistema financeiro. Agora, o tesouro nacional faz as contas para ver quanto vai ter de repassar ao FAT para ele não fechar o ano no vermelho. E não é pouco dinheiro, seguramente mais de R$ 3 bi. O FAT faz fundos para o BNDES, paga o seguro desemprego e financia cursos de treinamento para os trabalhadores. Competividade eleitoral Um dos fatores determinantes para o bom sucesso de um candidato é seu grau de exposição pública. Não é decisivo, mas é crucial, principalmente na fase de fixação da candidatura. Ainda mais quando o candidato é pouco conhecido fora dos meios políticos e da população mais bem informada. Hoje, a ministra Dilma está com um grau de exposição três vezes superior a qualquer outro de seus prováveis concorrentes : Ciro Gomes, José Serra, Aécio Neves e Marina Silva. Esta exposição deve se acentuar agora que Dilma está livre dos entraves provocados por sua doença e Lula decidiu botar de vez sua caravana eleitoral na estrada. Brasília, só esporadicamente, para assinar uns papéis e renovar a mala. Dilma precisa recuperar logo o que perdeu nas últimas pesquisas para exorcizar o fantasma de Ciro Gomes. Serra (ou Aécio) e Marina não são alvos preferenciais agora. Primeiro é preciso tirar Ciro do campo, por bem ou por mal. Os esqueletos do PSDB Os tucanos tanto fingiram que não era com eles que vão entrar na fase decisiva da sucessão presidencial com dois esqueletos berrando no armário : o caso Yeda Crusius no Rio Grande do Sul e os negócios da francesa Alstom em São Paulo. O PMDB do B A julgar pelas informações de bastidores, dia 21 será a data em que o PMDB (de Lula) e o PT fecharão um acordo para o primeiro apoiar Dilma e ganhar a vaga de vice. O estranho é que com toda a popularidade de Lula, seções importantíssimas do PMDB nos Estados não estão muito entusiasmadas com esse acordo agora - Minas, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco, Rio, Mato Grosso do Sul, Pará e Acre. Destas, duas ou três são praticamente serristas (ou tucanas) - São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul. A culpa pela vacilação das outras tem nome, sobrenome e endereço : PT. Nesses Estados o PMDB quer que o PT desista de disputar os palácios estaduais. Ou então que aceite dividir a atenção do presidente Lula e da ministra Dilma Roussef. Palanques para dois, gravações para dois, recursos para dois. Loteamento ministerial Se ganhar a eleição, Dilma pode assumir com vários ministros já "nomeados" e muitos outros cargos ocupados. As negociações para formar seus palanques e ganhar adesões importantes implicam ofertas futuras no novo governo : um ministério para Meirelles, outro para Ciro, uma estatal para Renan e assim por diante... Ciúmes em Brasília Pelo tom protocolar das "comemorações" brasilienses à escolha do "amigo" Barack Obama para receber o Nobel da Paz deste ano, baixou ciumeira brava na capital da República. Inveja em Brasília Os consultores de Lula em matéria de política de comunicação social, aqueles que defendem a "democratização" da mídia, devem estar se matando de inveja nos ares do Planalto Central. Inveja do casal Kirchner e do presidente de facto de Honduras. Os Kirchner, com todo o baixo prestígio político que carregam, conseguiram do Congresso argentino a aprovação de uma lei que aumenta o controle deles sobre a imprensa "adversária". E Roberto Micheletti baixou um decreto que permite a seu governo - "de facto", "golpista", "contragolpista", "provisório" ou o que seja - revogar a licença dos meios de comunicação que "incitarem a anarquia social" (seja o que isto venha a significar). Micheletti não é santo de devoção dos altares oficiais da República, mas esta sua oração tem adeptos lá. Faniquitos eleitorais A imagem da ex-ministra Marina Silva recebendo no Principado de Mônaco o Prêmio Príncipe Albert II para sua militância ambiental causou inquietação nos arraiais de seus possíveis contendores, políticos agora à caça de um "discurso verde". Além do "tudo pelo social" a campanha eleitoral brasileira vai também encampar o "tudo pelo verde". Para começar eles poderiam ler o "Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial" divulgado pelo BIRD durante a Assembléia Anual do FMI. Os políticos "paraestatais" A trajetória "política" do empresário Paulo Skaf e outros menos votados da mesma extração, que se aboletam em entidades sustentadas em parte com o dinheiro público (o imposto sindical) para entrar depois na vida de político profissional, está a indicar a necessidade urgente de se rediscutir as bases de utilização deste imposto, tanto no veio empresarial quanto trabalhista. Para lembrar : a ascensão política do vice-presidente José Alencar, até então apenas empresário de grandes méritos, começou no final do século passado quando ele foi presidir a Fiemg - Federação das Indústrias de Minas Gerais e protagonizou uma série de anúncios televisivos mostrando as realizações do SESI e do SENAI no Estado. Imposto sindical na veia. Laranja mecânica Uns arrancam, outros semeiam. Enquanto o MST destrói sete mil pés de laranja em uma propriedade privada no interior de SP, Lula vai formando seu laranjal. Já plantou Dilma no PT e na base aliada, Ciro na política paulista, Meirelles no PMDB, Eike Batista na Vale do Rio Doce... Se colar, colou ! Pressurosos porta-vozes oficiosos de Brasília já se encarregaram de espalhar que Lula "teria ficado insatisfeito" com o atraso na restituição do IRPF pago a mais no ano passado, um dos muitos expedientes utilizados pelo ministério da Fazenda para mostrar que não há nenhum problema com as contas públicas federais. Informam ainda que o presidente não quer mandar para o Congresso o projeto que estabelece cobrança de imposto nos depósitos de poupança acima de certo valor - R$ 50 mil ?, R$ 100 mil ? É sempre assim : há algum "malvado" no governo que pensa uma barbaridade dessas e depois vem o magnânimo presidente e veta a maldade. Logo num governo em que ministro não toma nem elevador sem pedir licença ao presidente ? A tática está ficando manjada : lança-se um balão de ensaio (caderneta de poupança) ou faz-se algo na surdina (IR) e se colar, colou ! Se não colar, diz-se que foi um equívoco que o presidente desconhecia. Caso Vale Há alguns meses dissemos aqui que o presidente da Vale havia deixado de ser o mais recente "amiguinho de infância" do presidente Lula. Pelas últimas investidas oficiais, vistas nos últimos dias nos jornais, passou a inimigo. Nada de pessoal. Lula simplesmente está pegando a Vale, empresa exemplar, para mostrar como ele entende o relacionamento entre o governo e as empresas privadas : estas também devem obediência às autoridades. Têm liberdade até não contrariarem os dogmas presidenciais. No fundo, o sonho de Lula é deixar de herança para seu sucessor um capitalismo de Estado bem estruturado no Brasil.
terça-feira, 6 de outubro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 72

BC versus Fazenda : uma questão de fundo A última desavença entre o ministério da Fazenda e o BC, agora a respeito dos efeitos de uma política fiscal "frouxa" que poderia levar a uma elevação da taxa básica de juros proximamente (tese do BC), não deve ser vista apenas como mais uma picuinha entes os dois órgãos, um dos quais oficialmente subordinado ao outro. Nem às constantes trocas de farpas entre Henrique Meirelles e Guido Mantega, que acabam sendo resolvidas intra-muros ou com o passar de mão na cabeça dos dois, uma clara disputa de comando da economia. Mas não é apenas uma questão pontual, como as queixas ao conservadorismo do BC na política de juros. Dessa vez é uma questão mais profunda e que envolve opções de política econômica. Trata-se de uma crítica do BC à forma como está sendo conduzida a política fiscal, à forma como o governo vem gastando. Seja para garantir a recuperação da atividade econômica, seja como incentivo eleitoral. Os reparos do BC bateram fundo. Não foi à toa a reação do secretário de política econômica do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, por ordem do próprio ministro Mantega. Mantega também reagiu sem subterfúgios. Até prova em contrário, a opção por gastar e a forma como a expansão das despesas está se dando é decisão do presidente Lula e de sua ministra-chefe da Casa Civil. Portanto, não há que ser mudada. Definitivamente, passou a era dos superávits primários (economia para pagar juros) elevados. Talvez tenha passado até a do próprio superávit. Pelo menos até as urnas de outubro de 2010. Quem ficou em situação delicada foi o BC. Ou pelo menos uma parte de sua diretoria. E seu presidente, Henrique Meirelles. Debandada ? Já circulava em Brasília a informação de que o diretor de política econômica do BC, Mario Mesquita, estava preparando sua saída da instituição até dezembro. Também estariam com as malas prontas outros dois diretores vindos do sistema financeiro privado : Mario Toros e Antonio Gustavo do Vale. As divergências com a turma do ministro Mantega podem apressar as decisões. Principalmente a de Mesquita, pivô das discussões abertas sobre a política fiscal, que na sexta-feira foi alvo de uma nota pesada do sindicato dos servidores do BC. Prestígio O secretário Nelson Barbosa, da Fazenda, escalado por Mantega para responder a Mesquita, é uma estrela em ascensão na burocracia econômica. E queridinho da ministra Dilma. Finanças de padaria de periferia Há algumas semanas o secretário do Tesouro informou que a entrega de novos recursos ao BNDES, para ampliar sua capacidade de financiamento, contribuiu para um aumento de R$ 106 bi na dívida pública. Esta dívida é remunerada pela Selic, hoje em 8,75%. Para evitar que apareçam números vermelhos na conta do governo, o ministério da Fazenda tem utilizado alguns expedientes - transferir pagamentos de negócios já realizados, apropriação de depósitos judiciais que um dia terão de ser resolvidos... e o aumento do pagamento de dividendos por parte de empresas estatais ao Tesouro. Somente de janeiro a agosto deste ano a contribuição das estatais foi de R$ 18,2 bilhões, o dobro do mesmo período do ano passado. Somente o BNDES entrou com R$ 4 bilhões neste bolo. Traduzindo : o BNDES entrega ao Tesouro dinheiro que não tem nenhum custo para ele e depois o governo vai ao mercado pagar juros de 8,75% para capitalizar o banco. Alguém andou faltando a algumas aulas básica de introdução à economia. Jogo de risco O governo está apostando que, depois das eleições, com a vitória de sua candidata e a recuperação da economia, todo e qualquer desvio será naturalmente corrigido. A vitória olímpica aumentou ainda mais a certeza nesses poderes quase divinos de Brasília. Um país de contrastes Duas notícias que estavam em "O Globo" de sábado : 1. "O governo já comemora o resultado da economia no terceiro trimestre de 2009. Projeções preliminares feitas pela equipe econômica que, entre julho e setembro, o PIB terá crescimento entre 2% e 2,5% em relação ao segundo trimestre." 2. "O desligamento voluntário de hospitais privados do SUS reduziu a oferta de leitos públicos para internação no país : de 2007 a 2009, 3.129 foram fechados. (...) Insatisfeitos com a tabela de pagamentos aos credenciados, 1.082 hospitais particulares se desvincularam do sistema em uma década. O reflexo foi imediato no número de atendimentos pelo SUS na rede privada : uma queda de 3,27 milhões para 1,75 milhões, de 1998 a 2007." Pode-se chamar a isto de crescimento sustentável, saudável ? Radar "NA REAL" 2/10/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável/alta alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4705 estável/alta alta - REAL 1,7902 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 60.355,73 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.025,21 estável/queda alta - NASDAQ 2.048,11 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Os desafios olímpicos Não há como não aplaudir, apesar de todos os senões que podem ser apontados, o esforço público e privado, mais ainda o primeiro, para trazer a Olimpíada de 2016 para o RJ. Mas tantas devoções e lágrimas só serão justificadas de fato se, ao fim e ao cabo, as promessas feitas ao COI forem integralmente cumpridas e a velha capital voltar a ser o que foi até meados, fins dos anos 1960. Urbanamente remodelada, livre da miséria, da sujeira e da violência que a assolam. Aí sim os cariocas e todos os brasileiros terão conquistado verdadeiramente uma medalha de ouro, independentemente das que nossos atletas vierem a conquistar. Caso contrário, tudo o que viu até agora e se verá pelo menos até outubro do ano que vem, não terá sido mais do que um bom expediente eleitoral. De doer de rir Especialistas em planejamento, em urbanismo e em construção estão, como diria Eça de Queirós, tendo "frouxos de riso" com as previsões preliminares de que as obras necessárias para fazer um "Rio" até a Olimpíada vão custar pouco menos de R$ 30 bilhões. Ainda mais agora que o presidente Lula anunciou que até lá todas as favelas cariocas terão se transformado em bairros civilizados. A desastrosa operação Pan custou quase cinco vezes mais do que foi esforçada. E com dezenas de contestações do TCU. Negócios educacionais Irrepreensível o trabalho dos repórteres Renata Cafardo e Sérgio Pompeu do "Estadão" no caso do vazamento das provas do Enem. Jornalismo de responsabilidade. Há algo mais a olhar, porém. As investigações oficiais encaminham-se para a conclusão de uma delinquência civil, de um grupelho tentando ganhar dinheiro fácil. É possível. Não devemos nos esquecer, contudo, que pode ter havido algo mais importante. Por que não pensar numa tentativa de desmoralizar o Enem e jogar para um futuro bem mais distante a tentativa de substituir o vestibular por algo mais consistente. O fim do vestibular como o conhecemos hoje põe em xeque um dos melhores "negócios" (sim, com a carga pejorativa que esta expressão carrega) da mercantilizada educação nacional. Segue a mesma linha e tem a mesma intenção das tentativas de desqualificar as avaliações que o ministério da Educação aplica nas escolas de ensino superior. Lula continua "nomeando" Teve o dedo do presidente Lula - e somente o dele - na decisão, de última hora, do deputado Ciro Gomes de transferir seu título de eleitor para São Paulo. É uma pedra mexida por Lula para acuar o PSDB e principalmente o governador José Serra. E dar também um recadinho ao PMDB, que anda confiado demais quando se trata de discutir a sucessão presidencial. Como Ciro podia ser candidato à presidência da República sem se fixar eleitoralmente em São Paulo, conclui-se que sua candidatura à sucessão de Lula é tão "irrevogável" quanto a renúncia do senador Aloízio Mercadante à liderança do PT. O árbitro da "revogabilidade" é Lula. Assim : 1. Ciro poderá manter a candidatura se Lula o desejar, dependendo do desenrolar das pesquisas eleitorais, até mesmo como um plano B. 2. Ciro poderá ser escalado por Lula para brigar em SP, para espezinhar os tucanos (aliás, ele já disse que seu propósito é provocar Serra). 3. O deputado cearense com título em São Paulo poderá numa eventualidade compor a chapa situacionista como vice de Dilma. Falta combinar A estratégia, porém, tem alguns furos : 1. Não será fácil convencer o PT a abrir mão de comandar a chapa governista. Depois do que ele andou dizendo do PMDB, será difícil convencer o peemedebismo a apoiar Ciro. Se com Dilma já há resistências. 2. Parte do petismo paulista não vê com simpatia a importação de um candidato para SP, ainda mais de outro partido. 3. Será que o PMDB dará seus seis minutos eleitorais no rádio e na televisão para a coligação aliada sem ficar com a vice ? Preço alto Se o eleitor perceber que Ciro Gomes está ainda vacilando entre a Presidência, a vice, e o governo de SP, pode começar a fugir de seu nome nas listas dos institutos de pesquisa. E a partir do momento em que ele parar de crescer ou mesmo começar a cair nessas sondagens, seu cacife eleitoral vai diminuir naturalmente. Pode ficar sem nada - sem Presidência, sem vice, sem governo estadual. Como a Greta Garbo de uma peça famosa no Brasil, pode acabar em Irajá. Sem reação Enquanto Lula - não se sabe ainda se com genialidade política ou desastradamente - monta suas armações eleitorais, o PSB e seu candidatos continuam numa modorra só. Ou estão muito confiantes ou estão perdidos, perplexos. Mais para a segunda, parece. Dilma Olímpica A ministra Dilma, com uma camisa amarela alusiva à campanha carioca, comemorou a escolha do RJ para sediar a Olimpíada de 2016 no Copacabana Palace. Há alguns metros do hotel, um dos preferidos dos milionários do Brasil e estrangeiros, ocorria uma grande manifestação popular pela gloriosa escolha do Rio. Cada um em seu lugar. Socialismo moreno Do jornalista Carlos Brickman em sua coluna eletrônica a respeito do vírus "socialista" que, de repente passou a contaminar alguns empresários e celebridades de vários quilates: "Já dá para fazer convenção socialista no Terraço Daslu. Mas alguém poderia explicar aos socialites que socialismo é uma coisa e coluna social é outra". É como disse o senador cassado Joaquim Roriz, candidato ao governo do DF, ao explicar a troca do PMDB pelo PSC : "Ele tem social no nome e tudo o que eu quero é ser social". O número vale muito O motivo pelo qual muitos políticos, na área regional, relutam em abrir mão de um candidato próprio ao governo do Estado, em benefício de uma aliança no plano federal (como é o caso do PT com o PMDB, mas não apenas este) está no fato de que o número do partido cabeça de chave aparecerá muito mais nas peças de propaganda do que os coligados. E isso pode custar votos vitais para a eleição de deputados federais e estaduais. Coluna de empregos 1. O número de candidatos dos partidos governistas às vagas na diretoria e nos conselhos da Petrosal já é de tal ordem que daria para formar a direção de pelo menos duas dúzias de empregos públicos. 2. O governo já decidiu que vai reativar a Telebrás para entregar a ela o comando do Programa Nacional de Banda Larga. 3. Depende apenas de uma votação no Senado a criação da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar). Ela terá diretoria colegiada e ao menos 14 cargos-chave sem concurso, fora o corpo de quase uma centena de técnicos. Lavagem de dinheiro O Senado anuncia que vai aperfeiçoar o projeto que legaliza os bingos e outras "cositas" mais, que tem entre seus maiores patrocinadores visíveis o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força. O único aperfeiçoamento possível para uma excrescência dessas é a lata de lixo. Mas como estamos em época eleitoral e os interessados no projeto são grandes "investidores" nesta área, pode-se esperar pelo pior.
terça-feira, 29 de setembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 71

  Lula "nomeou" Meirelles para o PMDB Foi o presidente da República quem "indicou" Henrique Meirelles, um político em busca de legenda e votos, para o PMDB de Goiás. Meirelles estava quase acertado com o PP do governador goiano quando Lula interferiu para levar Meirelles a trocar de camisa antes mesmo de vesti-la. O PP também é da aliança governista. Portanto, do ponto de vista formal tanto fazia uma ou outra opção. Mas Lula tem outros objetivos : 1. Precisa reforçar a ala lulista do PMDB, uma vez que a ala serrista está mostrando muita desenvoltura e entre os aliados presidenciais começam a aparecer algumas vacilações depois que Dilma passou a derrapar nas pesquisas. 2. Uma de suas obsessões em 2010 é derrotar o senador tucano Marcone Perillo na disputa pelo governo de Goiás. Perillo, por ocasião do episódio do mensalão, quando Lula já havia abraçado a teoria jurídica (depois bordão oficial) do ministro Marcio Tomaz Bastos do "eu não sabia", disse mais de uma vez que o presidente "não sabia o que estava ocorrendo em seu quintal". Acredita-se que uma chapa com Íris Rezende (ex-governador, atual prefeito de Goiânia) para governador e Meirelles para o Senado, com apoio do PT, seria imbatível. 3. Lula precisa de mais opções de prestígio no PMDB para escolher o vice de Dilma no partido. Meirelles pode ser especialmente útil no caso de um algum sacolejo na economia ou no caso de os pequenos temores hoje já existentes no mercado a respeito das posições econômicas menos ortodoxas de sua preferida cresçam e comece a surgir no cenário um "risco Dilma". Meirelles seria o aval de que nada na economia mudará. Pelo menos "visualmente". Pergunta inocente Meirelles se filia ao PMDB, entra em campanha, e continua comandando a política monetária num momento em que o governo puxa por mais gastos e os fundamentos aconselham um pouco mais de austeridade e menos gastos com a máquina administrativa e com a folha de pagamentos ? Noivado antecipado Lula dará ao PMDB o acordo pré-nupcial que seus aliados no partido estão pedindo, entre as cláusulas a declaração formal de que o vice será da legenda aliada. Não indicará o nome agora, porém, se reserva para indicá-lo em outra ocasião e de acordo com as injunções do momento. Por isso, a inscrição de Meirelles no PMDB de Goiás, por decisão de Lula está causando tantos ciúmes no partido. A realização do matrimônio, no entanto, vai depender do comportamento dos irmãos da noiva e do noivo nos Estados. Se alguns insistirem em tomar conta da festa, vai dar briga. E quem vai ter de ceder mais é o PT. Em Minas, por exemplo, a ruptura pode ocorrer a qualquer momento. O ministro Hélio Costa, líder nas pesquisas, parece que se cansou de esperar gestos de boa vontade dos petistas. Costa anda entusiasmado com os afagos de Aécio. Tudo por um vice Agora que começou a ficar mais bem situado nas pesquisas, o deputado Ciro Gomes voltou a ficar saidinho. Foi nesse estado de espírito, quando começa a se considerar superior a tudo e a todos, que Ciro "escorregou" duas vezes em outras corridas presidenciais. Pelas últimas entrevistas, parece que não aprendeu muita coisa. Ciro já está à procura de parceiros, para aumentar seu tempo de propaganda no rádio e na televisão. Seus operadores admitem até oferecer a candidatura a vice ao presidente licenciado do PDT e ministro do trabalho, Carlos Lupi. Estranha esta postura de Ciro o qual fala em "hegemonia ética" e critica o tipo de relação que Lula e o PMDB estão estabelecendo. Ela já está incomodando O PT e seus aliados e a oposição já começaram a perder a "ternura" com que inicialmente receberam na corrida eleitoral a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Conversa fiada Não paguem pelo valor de face afirmações como princípios programáticos, identidade de objetivos, co-gestão estatal e outras balelas sacadas pelos líderes partidários para edulcorar as alianças que estão sendo montadas, tanto no nível federal quanto no nível estadual com vistas às eleições de 2010. A verdadeira moeda de troca é uma só : o tempo eleitoral no rádio e na televisão a ser compensado com cargos na máquina pública. O resto é paisagem. E a fidelidade partidária ? A intensa a troca de partidos nessas últimas semanas. O movimento é em todas as legendas, por isso mesmo ninguém quer recorrer à Justiça Eleitoral para reaver eventuais mantas dos trânsfugas. E depois querem ser levados a sério. Nada de novo no front Houve uma pequena "realização de lucros" nas cotações dos ativos de renda fixa e variável no mercado internacional. Nada que possa alterar a visão positiva em relação ao cenário de recuperação que está se desfraldando em todas as principais economias, bem como na maioria dos setores e segmentos. A demanda agregada mundial está se expandindo da excepcional crise que vivemos desde meados do ano passado. Obviamente, processos de recuperação são cheios de altos e baixos, bem como o fato da elevação da atividade econômica normalmente ser muito mais lenta que a sua queda, sobretudo nas crises. Portanto, a recuperação demorará anos e não meses. Todavia, não se pode negar que o atual momento é benigno e a melhora dos mercados é justificada, a despeito dos riscos consideráveis presentes no cenário. Em relação às últimas semanas não há novidades relevantes capazes de influenciar os investidores. Uma pausa bem vinda no processo de alta. BC manda seu recado A divulgação do Relatório de Inflação do terceiro trimestre do ano por parte do Banco Central do Brasil não trouxe novidades no que tange às informações, mas de certa forma surpreendeu no que se refere ao tom. Ficou evidente a preocupação da autoridade monetária com a combinação dos elevados gastos do governo e a expansão da demanda. Basicamente, o que o BC está prognosticando é que quando a demanda privada crescer mais esta se somará a demanda pública (que já é elevada) e, assim, os riscos para a inflação crescerão. O BC não antecipa, mas o que está a dizer é que o freio para inflação é a elevação da taxa básica de juros. Não devemos esquecer que no início de 2010, o presidente do BC Henrique Meirelles deverá sair da presidência e iniciar a sua carreira política. A expectativa de elevação da inflação e as modificações esperadas no BC são problemas significativos para a política econômica no ano eleitoral. O sinal está amarelo. Bem amarelo. Eleição em primeiro lugar Saem esta semana os resultados das contas do governo federal no mês de agosto, despesas e receitas e despesas do mês passado mais os resultados do BC. Alguns artifícios contábeis deverão ser usados para pintar as coisas menos difíceis do que estão. Não há risco de ampliação - nem de manutenção - da antiga austeridade fiscal em conturbados tempos de urna. Pelo contrário: quem gritar "quero mais !", leva. Teste de prestígio Tomou posse o novo ministro das Relações Institucionais, uma burocrata de segundo escalão escolhido para substituir José Múcio, brindado com uma vaga no TCU por serviços prestados. A opção de Lula foi uma solução para não reabrir uma briga entre o PT e o PMDB pelo cargo no momento em que os dois partidos tentam uma aliança pré-nupcial em torno de Dilma. O teste do novo ministro virá esta semana : liberar pelos menos R$ 1 bilhão das verbas das emendas dos parlamentares, já prometida há um mês pelo ministro Paulo Bernardo e que Múcio não conseguiu assegurar. Tanto na agenda da Câmara quanto na do Senado há projetos previstos para serem votados bem ao gosto daqueles que gostam de dar o troco e mandar recados para o Planalto. Se falhar, o burocrata perderá de cara qualquer condição de comandar a base aliada no Congresso. G-20 : o papo continua Foram três os principais assuntos discutidos pelo G-20 em Pittsburgh nos EUA: 1 - coordenação das políticas econômicas para manter a demanda mundial em um tom crescente; 2 - a regulação mais efetiva e restritiva do sistema financeiro e 3 - a redução dos subsídios governamentais, sobretudo dos países europeus para o setor agrícola. Vejamos os resultados (além da maquiagem das declarações oficiais) : 1 - há certamente certa coordenação das políticas econômicas dentre os países do G-20. Todavia, na ausência de sanções (enforcement) para quem não cumprir a sua parte é difícil acreditarmos que esta coordenação será crível ao longo do tempo. E credibilidade é fator essencial para os agentes econômicos; 2 - a regulação do sistema financeiro depende em larga medida de medidas domésticas para funcionar. Nenhum país está disposto a submeter os seus sistemas financeiros às regras internacionais, sobretudo quando se referem às regras para concessão de crédito, contabilização de ativos e passivos e regras para premiação de executivos (bônus). Portanto, há pouca esperança de que esta regulação funcione e 3 - nenhum país rico abdica do direito (e do interesse) em proteger o seu setor agrícola. Os países mais pobres ficam sem acesso aos mercados para vender suas commodities. Como se vê estes encontros de cúpula são importantes para sentir a temperatura da crise, mas nos parecem pouco efetivas para resolver problemas. Questão de timing Escreveu o "Estadão" : "Só no fim de 2012 a nova ordem deverá vigorar de forma completa. Além disso, ficou para o fim do próximo ano o acordo sobre as novas normas de segurança dos bancos - regras de capitalização, limites de operação e critérios de gestão de riscos. Também levará três anos a reforma do perigoso mercado de derivativos, onde indivíduos, empresas e instituições financeiras arriscaram e perderam bilhões num jogo obscuro e sem lei." Será que, até tudo sugerido pelo G-20 entrar em vigor, dará tempo para evitar a construção de um novo desastre, de vez que a euforia já está a toda velocidade nos lugares de sempre e a "criatividade" dos financistas está novamente em plena efervescência ? Questão de vontade A entrada em vigor das "recomendações" do G-20 vai depender das decisões individuais e soberanas de cada governo. A valer a amostra do nível de obediência geral à orientação do Grupo na primeira reunião do G-8 "ampliado" a respeito do protecionismo nada importante do encontro nos Estados Unidos vai prevalecer de fato. E o FMI ? Há um detalhe incrível a ser observado nos encontros do G-20. O FMI, desmoralizado nos últimos anos em função de seus diagnósticos irrelevantes e suas recomendações equivocadas, vai ganhando força de novo. Além de receber recursos dos países do G-20 para voltar a atuar, O FMI é o organismo responsável pela análise da "coordenação" das políticas econômicas. Uma espécie de "supervisor" sem poder de coerção. Nada se fala das reformas recomendadas para os organismos internacionais. Tudo continua na mesma. Radar "NA REAL" Assim como nas últimas semanas, não estamos procedendo nenhuma alteração no que se refere às recomendações contidas no nosso radar. Continuamos acreditando na estabilidade dos diversos segmentos do mercado financeiro mundial. Eventuais quedas das cotações dos ativos de renda fixa, das ações e das commodities devem ser entendidas como "normais". O cenário é benigno e para que haja alteração da tendência positiva, somente novos (e relevantes) fatos têm de surgir. Por fim, no Brasil continuamos recomendando distância da compra dos títulos prefixados (e do mercado futuro de juros) com prazo além de doze meses. A inflação é risco relevante conforme comentamos em nota acima. 25/9/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA estável/alta alta  - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ²        - EURO 1,4705 estável/alta alta  - REAL 1,7902 estável/baixa alta Mercado Acionário        - Ibovespa 60.355,73 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.044,38 estável/queda alta  - NASDAQ 2.090,92 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Honduras é detalhe De fato, o papel do Brasil nesta crise com Honduras necessita ser esclarecida. Embora o governo esteja com a premissa política absolutamente correta no caso (defesa da legitimidade do governo deposto de Manuel Zelaya), o aparecimento inesperado do presidente deposto entre os muros da embaixada em Tegucigalpa é um mistério. O apoio brasileiro ao presidente deposto merece reparos sob todos os aspectos. Este aguça divisões entre os países do continente e deixa evidentes as contradições da diplomacia brasileira, sobretudo no que se refere à ditadura cubana e ao regime bolivariano de Hugo Chávez. Muito barulho por nada. Ou por Honduras... Enquanto isto, o Irã No momento em que gastamos tempo político com Honduras, as novas revelações relacionadas ao desenvolvimento do potencial bélico atômico do Irã mostram que o posicionamento diplomático do Brasil no caso é muito mais problemático e merece mais atenção da mídia e dos analistas. Alguém tem dúvida de que o Irã é uma ameaça à estabilidade do Oriente Médio e do Mundo ? Alguém de bom senso pode apoiar as declarações de Mahmoud Ahmadinejad ? A aproximação do Brasil com o Irã é uma questão muito relevante na política externa brasileira, não apenas em função dos riscos à imagem do país, mas também devido à aproximação da vizinha Venezuela com o Irã. Pois é : Chávez é apoio certo aos discursos de Mahmoud Ahmadinejad. ____________
terça-feira, 22 de setembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 70

Produção em alta Todos os sinais vitais da economia brasileira convergem para um crescimento consistente nos próximos meses e, quiçá, em 2010 o PIB pode vir a crescer entre 5% - 6%. Obviamente, previsões econômicas são sempre marcadas por elevados graus de incerteza, sobretudo em função da rapidez e profundidade pelas quais as expectativas se alteram nos tempos modernos. Os indicadores de consumo, divulgados na semana passada, somam-se aos indicadores anteriores (inclusive o crescimento do PIB de 1,7% no segundo trimestre) e dão evidências de que o PIB será positivo este ano e o grau de aceleração da demanda agregada é acelerado. A novidade que poderemos ter (esperamos !) é uma alta dos investimentos privados que foram paralisados por conta da crise. Os orçamentos empresariais estão sendo superados e os acionistas das empresas estão animados. Além disto, não são poucos os executivos de empresas multinacionais que tomam o caminho das matrizes e estão a negociar mais dinheiro para investir. Inflação em alta Não preste atenção nos números da inflação dos próximos meses. Estes não são os mais importantes para mensurar os riscos de inflação no médio prazo. É muito provável que a inflação se torne um perigoso risco no ano que vem. Todos os fatores convergem para o aumento dos riscos inflacionários. Vejamos : (1) a demanda cresce rapidamente e, possivelmente em meados do ano que vem, baterá num nível de capacidade instalada (80%) no qual as pressões de custos costumam emergir; (2) a queda do dólar já ocorreu e é improvável que possa "colaborar" ainda mais para reduzir a inflação no ano que vem; (3) à demanda privada crescente se somará a já alta demanda pública. Os gastos públicos elevados, tanto para investimento quanto para consumo, vão ajudar a acelerar a inflação. Difícil imaginar gastos públicos em queda num ano eleitoral; (4) haverá pressões de custos salariais com o nível de emprego melhorando e, finalmente, (5) se o cenário externo melhorar, os preços das commodities sobem e "contaminam" os preços domésticos. E o BC ? Como se vê nas notas acima, há razões justificadas para apostarmos num ótimo 2010. E existem preocupações sérias para acreditarmos numa inflação crescente. Vejamos o lado da autoridade monetária, que costuma ser "preventiva". Quando poderia aumentar a taxa de juros básica, já que estamos vivendo os primeiros passos da recuperação ? É difícil apostar nisto, mas uma coisa é certa : o mercado vai apostar na alta de juros e os juros dos títulos prefixados vão subir, bem como o mercado futuro. Talvez logo. De outro lado, há um fator "político" a influir no BC : Henrique Meirelles é candidatíssimo ao governo de Goiás e abre um "vácuo" no BC difícil de ser avaliado. A própria diretoria do BC deve ser bem alterada em 2010. Por tudo isto é muito provável que o BC seja testado em 2010 no que diz respeito à sua competência e credibilidade. BC independente não tem defensores Embora seja um dos arcabouços mais importantes na defesa da moeda (contenção da inflação), a independência do BC não deve ter defensores com peso político (e votos) nas próximas eleições. Tanto Dilma quanto Serra, ou mesmo Marina, não acreditam num BC com independência funcional. Tudo fica para o futuro. Distante, diga-se. Radar NA REAL Semana passada houve o vencimento triplo de futuros, opções e opções de futuros nas bolsas norte-americanas. Não é fato pouco relevante dentre as notícias "intra-mercado". Nestes momentos, a volatilidade pode cair ou subir conforme o posicionamento dos investidores. Desta feita, caiu e o mercado comemorou os lucros dos últimos meses. As ações permanecem com sinais muito positivos nos principais mercados, embora as expectativas possam ser exageradas. As moedas oscilaram um pouco e o dólar perdeu valor frente a quase todas as moedas internacionais - trata-se do nível mais baixo dos últimos doze meses aqui no Brasil e frente às outras moedas conversíveis. As taxas de juros caíram (referimo-nos às taxas de títulos com prazo de cinco e dez anos). O Brasil foi um dos poucos países no qual a taxa de juros de títulos de prazos de vencimento mais longos (2 e 3 anos, sobretudo) subiram. É o medo da inflação (vide nota acima). Continuamos acreditando numa "realização de lucros" nas próximas semanas em quase todos os segmentos do mercado (ações, renda fixa, commodities, etc.). O final de ano deve ser de otimismo no mundo inteiro. Devemos lembrar, contudo, que a recuperação da atividade econômica está numa fase ainda muito inicial. 18/9/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável/alta alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4712 estável/alta alta - REAL 1,8082 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 60.703,01 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.068,30 estável/queda alta - NASDAQ 2.132,86 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Resultados do terceiro trimestre A partir de 1º de outubro as principais empresas de capital aberto do mundo começarão a divulgar os seus resultados nos principais mercados. Isto inclui as empresas brasileiras. Tais divulgações serão determinantes para o movimento das bolsas de valores, cujos desempenhos são espetaculares neste ano. Se os lucros, de uma forma geral, apresentarem taxas de crescimento consistentes, os investidores reavaliarão suas projeções para cima e o mercado subirá ainda mais. Da mesma forma, se houver baixo crescimento, as cotações cairão, talvez de maneira mais acentuada. A aposta desta coluna é que os resultados serão positivos e crescentes. Uma característica muda a partir de agora nos mercados : a variação de desempenho entre setores será muito mais acentuada. Os investidores serão mais seletivos. Ajuste eleitoral Quem leu a entrevista da ministra Dilma Roussef à "Folha de S.Paulo" de domingo percebeu que o PAC não é mais o principal carro-chefe eleitoral da preferida de Lula. Agora é o pré-sal e os programas sociais. É especulação demais Não se deve comprar pelo valor de face um bom número de "informações" a respeito da sucessão presidencial dando conta de que (i) já houve um acerto de uma aliança, (ii) que dois candidatos firmaram um acordo, (iii) que um partido está prestes a firmar outra aliança e coisas tais. São lances para "valorizar passes". Quem confia no PMDB ? O PMDB que quer apoiar Dilma iniciou uma cruzada para levar Lula a definir logo, publicamente (quem sabe, até oficialmente), que o partido é prioritário na aliança situacionista e que a vice-presidência será dele. Ao mesmo tempo, porém, o PMDB não dá indicações de que pode definir logo sua aliança federal com o PT. Quem confia no PT ? O PMDB que é do governo Federal somente vai definir oficialmente o apoio a Dilma depois que as alianças estaduais com o PT estiverem fechadas. Voto regional é diferente A se confirmar a aliança PT-PMDB para apoiar Dilma e fazer o máximo de "palanques únicos" para a candidata de Lula, o PMDB poderá levar uma enorme vantagem sobre o PT se o acordo for celebrado como o partido quer. O PMDB quer prioridade nos palanques estaduais. São esses palanques que determinam os votos para o Senado e, principalmente, para a Câmara. O eleitor vota com uma cabeça para a presidência e com outra completamente diferente no seu Estado, de olho em outros interesses. O PT corre o risco de ganhar a presidência da República e ficar menor do que é hoje no Congresso. Marina e os "processos cumulativos" Não se sabe se alguém no Planalto leu e comentou com Lula este trecho da entrevista da ex-ministra Marina Silva ao diário espanhol El País. El País : A senhora manteria a política econômica do governo Lula ? Marina : Os processos são acumulativos. Não existe espaço para processos niilistas com relação ao já conquistado. Existe um reconhecimento de que nos últimos 16 anos o Brasil conseguiu o equilíbrio fiscal e a estabilização da moeda, junto com a grande inovação introduzida por Lula e que foi a questão da distribuição de renda. Tudo deve ser preservado. Creio que temos espaços para melhorar e já existe o perigo de que se destrua tudo o que se foi construindo nos últimos 16 anos. Se os leitores palacianos tiveram conhecimento, coitada da senadora ! Afinal, tudo de bom no Brasil não ocorreu depois de 2002 ? Como falar em 16 anos, se Lula está apenas há pouco menos de 7 anos em Brasília ? Simpatia ambiental Ainda na mesma edição, em artigo sobre a entrada de Marina na corrida sucessória, na matéria intitulada "A companheira que desafiou Lula", os repórteres J. Arias e S. Gallego-Diaz, do El País, classificam a candidata de Lula, Dilma Roussef, como "uma espécie de primeira-ministra na sombra". O conjunto das matérias é muito simpático com a ambientalista. Qual o discurso ? Que "coletinho" o Brasil vestirá na Conferência do Clima em dezembro em Copenhague ? O do pré-sal ou o do etanol ? Vocês já repararam que desde que virou um "futuro magnata do petróleo", Lula nunca mais fez uma referência aos biocombustíveis ? Há informações - efeito Marina ? - que o presidente abordará o tema do meio ambiente em sua fala amanhã na Assembleia Geral da ONU. Obama é verde Um dos mais ambiciosos programas para o futuro de Obama é a redução da dependência dos EUA de combustíveis fósseis, não apenas do petróleo do Oriente Médio. Na Inglaterra - e na Europa, em geral - o tema do momento é a "Revolução Verde". Muito estranho É ótimo que as autoridades de meio ambiente se preocupem com a emissão de gases poluentes pelos veículos automotivos. É saudável que divulguem, como o fizeram na semana passada, a lista dos carros mais ou menos poluentes. Curioso é que só tenham tomado esta providência agora e para mostrar, segundo o estudo oficial contestado pelas montadoras, que os carros movidos a álcool poluem mais do que a gasolina. O que a Opep do pré-sal não faz... Sarney e suas pérolas Sarney cita o Le Monde em sua coluna da última sexta-feira na Folha de S.Paulo e parafraseia um "assessor de Sarkozy" : "a transparência absoluta [em tempo real] é o começo do totalitarismo". Outra frase reproduzida por Sarney seria de "um membro do partido governista francês UMP" : [a internet] "é um perigo para a democracia". Depois destas frases esclarecedoras, o autor de "Maribondos de Fogo" encerra o artigo louvando a livre imprensa e que nunca a atacaria : "Meu Deus, eu nunca fiz isto e não faria", encerra. Sarney é mesmo um vanguardista : mesmo antes da internet ele já via riscos à imprensa livre, não é mesmo ? Afinal, o que fazia a ditadura militar pós-64 que ele tanto apoiou ? Não censurava ? Sarney é um visionário. Lembrando Chico Ciência Nesse tempo de tanta sapiência jurídica que emana do ministério da Justiça do ministro Tarso Genro, não custa lembrar o que Rubem Braga disse da sabedoria do jurista Francisco Campos, dito Chico Ciência, autor de obras jurídicas "republicanas" para Getúlio, o ditador : "Quando as luzes de Chico Ciência acendem, há um curto-circuito na democracia brasileira". Algumas "jurídicas" de Tarso são de assustar os republicanos (sem aspas). Collor, Franklin e os escrúpulos Franklin Martins foi condenado na semana passada a pagar R$ 50 mil ao eminente senador e ex-presidente cassado Fernando Collor de Mello, por danos morais. Martins proclamou em artigo publicado na revista "Brasília em Dia", que Collor era "ladrão", "corrupto" e "chefe de quadrilha". Martins diz que vai recorrer da decisão. Resta saber o que ele diz ao seu chefe sobre as alianças políticas que envolvem Collor. Quem tem a força É cada vez maior a influência de Franklin Martins. Já está causando uma danada de uma ciumeira. Vejam um trecho de um artigo da jornalista Maria Cristina Fernando, no "Valor Econômico", relatando os bastidores de uma entrevista do jornal com o presidente Lula : "Lula é aparteado pelo ministro Franklin Martins -"Não foram só os bancos públicos que quebraram. Os privados, também." - antes de responder que o problema não foi com os banco públicos, mas a irresponsabilidade política dos governantes." Não consta que haja muitos mortais capazes de apartear e interromper impunemente o presidente. Dúvida cruel Mais do presidente Lula ao jornal "Valor Econômico" : "Se Dilma for eleita, ela tem todo direito de chegar em 2014 e falar 'eu quero a reeleição'. Se isso não acontecer, obviamente a história política pode ter outro rumo". É por esses e outros "ses" que alguns maldosos em Brasília costumam especular que Lula não ficaria totalmente infeliz se a sua favorita não vencesse. Oposição sem falas É triste verificarmos o padrão ético da política brasileira. É desesperador verificarmos que a corrupção e a falta de interesse na res publica é generalizada. O senador Sérgio Guerra acaba de ser condenado pelo TCU a pagar as diárias de sua filha na estadia em Nova York em janeiro de 2007. O presidente do Senado que autorizou a viagem do senador por Pernambuco e sua filhinha foi nada menos que Renan Calheiros. Todos os gatos são pardos e não somente à noite... Quem encontrar, avise Já fizemos o apelo, mas não custa renová-lo : quem souber o que as ideias que a oposição vai apresentar para disputar os votos do processo eleitoral com a candidata do governo, por favor, remeta as informações para esta coluna. Se o governo vacila, a oposição cala. E consente. Serra acelera Assessores de segundo escalão do governo paulista já estão sendo escalados e convocados para a campanha presidencial. Pouco a pouco os auxiliares diretos de Serra no governo paulista estão revelando as intenções efetivas do governador em relação aos planos de um possível próximo mandato federal. Demanda e oferta de ações de bancos Grandes bancos internacionais vão passar por uma nova fase nos próximos dois anos. Socorridos pelos governos de seus países, estes bancos trocaram capital por ações - são estatizações parciais. Mesmo com o socorro governamental, muitos dos bancos apresentam indicadores sofríveis de capitalização e liquidez. Precisam de mais capitalizações. Para isto muitos deles terão de emitir novas ações. Assim sendo, os investidores se defrontarão com uma forte pressão do lado da oferta : (i) possíveis vendas de posições dos governos (privatizações) e (ii) novas capitalizações. Haja demanda para tanto. Pré-sal e Petrobras Sabe-se que a estatal de petróleo do Brasil terá papel preponderante nos investimentos e na exploração da camada do pré-sal. O que está difícil de estimar é a influência destes investimentos nos resultados da empresa. Investir em ações da Petrobras se tornou muito mais arriscado que há pouco tempo. Essa a Petrobras vai perder São facilmente identificáveis as digitais da Petrobras nas emendas aos projetos do pré-sal que reduzem o poder a abrangência da nova estatal da área, a Petro-Sal. Não vai vingar. Nos bastidores, antes de nascer, a nova estatal já está sendo devidamente loteada pela base, dita aliada. Tudo pelo social A ideia de se utilizar os ganhos do petróleo na execução de projetos sociais não é nada nova. Países (dentre muitos) como o México, a Nigéria e até mesmo a Arábia saudita já usaram o padrão ideológico "petróleo versus menos pobreza". Recentemente, o falastrão Chávez vem utilizando o argumento político, politiqueiro e populista. A discussão da exploração da camada pré-sal brasileira também passará por este tema. Em tempo : os resultados concretos deste falatório todo nos outros países foram, no geral, desastrosos. Os pobres continuaram pobres, mesmo que tenha jorrado petróleo por todos os lados ! Hino à Negritude Foi aprovado pela Câmara o "Hino à Negritude", de autoria do professor Eduardo de Oliveira. O projeto que oficializou a homenagem ao negro é de autoria do deputado Vicentinho do PT paulista. Foi rejeitada a exigência da obrigatoriedade de sua execução nas cerimônias comemorativas. Esta exigência foi considerada pela maioria dos deputados como sectária na medida em que criaria uma "divisão" entre brancos e negros. Depois das complicadas quotas raciais nas universidades, agora temos o hino ao negro. Será que copiaremos os norte-americanos e teremos agora de dizer "afro-brasileiros", "nipo-brasileiros" e assim por diante ? Mudança de ramo A Força Sindical que um dia se pretendeu uma entidade totalmente independente está em um novo negócio. Depois de engordar seus cofres com parte do dinheiro do Imposto Sindical em troca do amaciamento de suas reivindicações, depois de se meter no BNDES e depois de apropriar-se do controle dos recursos do FAT, a Força Sindical agora se voltou para o pano verde. Seu presidente, Paulinho da Força, foi um dos principais artífices da aprovação, na CCJ da Câmara, do projeto que legaliza os bingos e os caça-níqueis no Brasil. É uma porta aberta ao crime organizado e ao caixa dois. Talvez, estes sejam grandes "investidores eleitorais". ____________
terça-feira, 15 de setembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 69

Crise : superação espetacular Temos de admitir que a crise que se instalou na economia mundial foi gigantesca. Sem dúvida, a maior do capitalismo desde os anos 30 do século passado. Não há tergiversação possível sobre isto. Basta dizer que o sistema financeiro norte-americano simplesmente quebrou como inequívoco sinal das generalizadas irresponsabilidades na gestão das carteiras de crédito e na especulação acentuada com o capital próprio dos bancos (e dos seus acionistas). Pois bem : à luz destes fatos, também cabe reconhecer que a recuperação desta crise foi espetacular. A atuação dos governos - somente por parte dos EUA o gasto total ultrapassa US$ 3,0 trilhões -, bem como a resposta dos diversos segmentos do mercado mostraram que, embora a crise tenha sido perigosa e desastrosa, a saída dela tem sido muito positiva. Para aqueles que se pronunciaram pelo fim do capitalismo, viu-se as profecias serem contrariadas e os profetas se tornaram risíveis figuras. O resto é detalhe. Pouca mudança à vista Se de um lado é preciso reconhecer que a crise produziu menores catástrofes que alguns previram, de outro lado também é preciso aceitar que há algo errado na atuação dos agentes de mercados em relação ao andamento do processo econômico. A especulação deixou de ser uma forma de agregar eficiência à formação de preços dos ativos para ser um processo de distorção desta eficiência. Os agentes econômicos, durante processos agudos de alta e de baixa dos preços dos ativos, se comportam como "macacos enlouquecidos" e não como "seres racionais". Despreza-se a correlação eficiente entre riscos incorridos e retornos esperados e os preços passam a não representar adequadamente o valor dos ativos, a chamada "bolha especulativa". Há muita conversa sobre mudanças na regulamentação dos mercados, mas o fato é que há poucos sinais de mudança sensível na regulação. Muito papo e pouca ação. Nem mesmo os órgãos multilaterais (BIS, BIRD, FMI, BID, etc.), dominados pelos interesses do mercado financeiro, estão dispostos a fazer grandes mudanças. Os mercados devem voltar, talvez no curto prazo, a incorrer nos seus excessos e os governos parecem dispostos a socorrê-los. Há um "risco moral" o qual todos parecem desejar incorrer. BIS e os grandes bancos O Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) é considerado o banco central dos bancos centrais. De fato, é desta instituição que surgem novas regras sobre o funcionamento do mercado financeiro. Pois bem : apesar do pouco apetite do BIS para mudar a regulamentação do mercado financeiro mundial, a instituição está a sugerir que as grandes instituições financeiras mundiais sejam tributadas com alíquotas mais altas para que, desta forma, sejam inibidas a fazer concessões de créditos mais arriscados. Bem, trata-se apenas de um "conselho" do BIS, que antes da crise fazia poucos pronunciamentos sobre a especulação generalizada das instituições financeiras dos países mais desenvolvidos. Agora parece agir. Cautelosamente, talvez para que ninguém lhe ouça. China, a próxima bolha ? Há muita empolgação quando se comenta sobre a China. O país comunista, pródigo na destruição do meio ambiente e no desrespeito aos direitos humanos, tem grandes comentadores e fãs ao redor do mundo. Todavia, há razões de sobra para acreditarmos que há sinais de que aquele país possa ser a próxima "bolha" do mercado financeiro mundial. Dentre estes sinais destacam-se o (i) gasto governamental inconsistente com o crescimento do PIB nos próximos anos, (ii) a falta de higidez no (pouco transparente) sistema financeiro estatal do país e na (iii) na farta abundância de crédito num ambiente de enorme especulação, inclusive no mercado imobiliário. Nós já vimos este filme antes, não ? Barack Obama entre os bancos e os contribuintes Em discurso ontem, o presidente norte-americano lembrou que a intervenção emergencial do governo está começando a surtir efeito, mas alertou que Wall Street não deve deixar para trás as lições aprendidas com a crise. Puro jogo de cena. O fato é que os contribuintes dos EUA estão enfurecidos com o aumento do desemprego que superará 10% neste mês e o farto apoio do democrata às instituições financeiras. Obama não consegue nem conter a ira da opinião pública e nem os ativos lobbies que cercam a Casa Branca e o Congresso. Ficar sobre o muro não é exclusividade dos tucanos brasileiros apenas... No Brasil, a crise parece superada Salve, salve ! O PIB do segundo trimestre subiu 1,9%. Faltam somente 200 mil empregos para que o país recupere o nível de emprego formal pré-crise. O consumo rompe barreiras fruto da maior confiança dos consumidores e da retomada do crédito. Fatos são fatos. A crise mundial afetou muito menos o nosso país. Verdade seja dita e o governo conseguiu administrá-la bem. Não é possível tecer críticas negativas à essência do que foi feito (apoio governamental ao consumo e investimento). O fato de o Brasil não estar vulnerável do ponto de vista externo foi o maior fator para que a crise não nos afetasse dramaticamente. Assim sendo, deveremos voltar ao potencial de crescermos mais de 5% ao ano. Há méritos na política governamental, mas há pecados. Não são veniais. São mortais. Vejamos : 1. A gestão das contas públicas piorou. 2. O sistema tributário não muda, aliás, está ameaçado de piorar com o projeto que tramita no Congresso. Há ainda a nova CPMF. 3. Os investimentos públicos estão em ritmo devagar quase parando. 4. Viu-se algum de novo no setor portuário ? 5. E nas rodovias ? 6. O pré-sal ainda é uma miragem. Se todos estivessem tão confiantes na "gloriosa" recuperação não estariam dizendo que não é o momento ainda de tirar os incentivos que foram dados emergencialmente. Não se surpreendam se a isenções de IPI foram prorrogadas (leia abaixo). Meirelles, Mantega e a crise Sintomático o fato de o ministro da Fazenda e o presidente do BC terem se ocupado na tarefa de dar entrevistas para grandes órgãos de imprensa neste fim de semana. Ambos disputavam o mérito na vitória contra a crise. Uma observação sobre cada personagem : (i) Guido Mantega deixou claro o papel crescente e relevante do Estado na intervenção no processo econômico. Mantega anunciou inclusive novos incentivos à indústria. A crise justificou esta política, mas tal política merece ser consolidada como permanente ? (Pergunta nossa) (ii) No caso de Meirelles, as entrevistas concedidas neste fim de semana têm um evidente sinal por detrás delas : a política de redução de juros acabou. A taxa básica pode ficar estável por um tempo, mas o próximo passo é de elevação. Lula, segundo ele mesmo A vaidade sempre foi considerada o mais grave dos pecados capitais. Dela decorrem outras faltas graves. Bem, não nos cabe especular sobre estas faltas. Mas vejamos esta história. Lula conversa com assessores na sede provisória do governo em Brasília, o Centro Cultural Banco do Brasil. Sabe antecipadamente sobre o resultado do PIB do segundo trimestre. Feliz, solta esta : "hoje não acho que seja justa a comparação de meu governo com nenhum outro da República. O meu governo é melhor que o de Vargas." Bem, os fatos estão a favor do presidente, mas não há ninguém mais a seu favor do que ele mesmo. Alerta para a oposição O grande eleitor de 2010 será a economia. E nesse ponto a notícia do PIB do segundo trimestre foi um verdadeiro desastre para a oposição. Um estudo de dois professores da USP, Alex Ferreira e Sérgio Sakurai, com base em dados de uma série longa das pesquisas de opinião sobre eleições e popularidade presidencial, comprovou que o fato que mais contribui para o prestígio de Lula é o índice de emprego. Por essas e outras, sem um discurso afirmativo, a oposição está meio desarvorada. Radar "NA REAL" As notícias são promissoras, tanto do ponto de vista doméstico quanto do ponto de vista externo. A recuperação está se tornando visível. Ainda não sabemos minimamente sobre a grandeza desta recuperação, mas o fato é que não era tão esperada há seis meses. O mercado mundial parece estar apostando que tal recuperação será crescente e consistente. Bem, somente na confortável cadeira do futuro é que poderemos saber se estas expectativas são verdadeiras. Todavia, o mercado vive de expectativas. Assim sendo, os sinais vitais de benignidade dos fundamentos do mercado permanecem firmes, sólidos e consistentes. Não há razões objetivas para acreditarmos em nada negativo no curto prazo. No médio prazo, os riscos externos estão relacionados à capacidade de sustentação da demanda sem o suporte fiscal dos governos e aqui no Brasil o risco principal é fiscal - o governo gasta mais do que deveria e de forma inconsistente com o crescimento do PIB. Continuamos acreditando em uma "realização de lucros" no mercado de renda fixa e variável, aqui no Brasil e no exterior. Até agora, nenhum sinal de baixa (momentânea) nos preços dos ativos. Todavia, permanecemos aconselhando cautela no curtíssimo prazo em relação aos mercados. Mais uma vez repetimos : cautela não é pessimismo. 11/9/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4602 estável/alta alta - REAL 1,8306 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 58.366,38 estável/queda estável/alta - S&P 500 1,042,73 estável/queda alta - NASDAQ 2,080,90 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Olhar para dentro O governo Lula acaba de lançar o programa "Fim de Linha" para evitar que o Brasil, como vemos às vezes retratado em alguns filmes, continue sendo visto como um paraíso para o banditismo internacional, um refúgio seguro para marginais de várias categorias. Ótimo ! Contudo, seria bom também que se lançasse um programa idêntico para o banditismo tupiniquim, este (tanto o banditismo comum como o de colarinho branco) muito mais pernicioso aos brasileiros que Ronald Biggs, Buschetta e Battisti... Juntos ! A guerra é pesada Lula, maior cabo eleitoral de Dilma Roussef, queria que o Congresso apenas assinasse embaixo dos seus quatro projetos com as novas regras de exploração de petróleo no Brasil. Vai ter de administrar disputas fratricidas no Congresso : 1. A briga entre estados produtores e não produtores no pré-sal pelos royalties do negócio. Ele queria deixar isto para depois de 2011, mas os governadores não querem. 2. A disputa pelo dinheiro a ser aportado no Fundo Social. Era para ser apenas para saúde, educação e ciência e tecnologia ; por causa da Marina Silva foi ampliado para o meio ambiente e a cultura (ministério do PV) ; e no Congresso todos querem uma lasquinha : os defensores da reforma agrária, dos esportes, dos quilombolas, a previdência, dos aposentados, dos índios, etc. 3. A pressão de setores econômicos para serem incluídos na lista dos que receberão incentivos fiscais, outros benefícios e proteções por serem da "cadeia" do petróleo. Se Lula não tiver pulso firme, em vez de incentivar a campanha de Dilma o pré-sal pode azedar as relações com aliados e companheiros. O grande mote de Dilma O governo vai badalar os sinos na recuperação econômica para azeitar Dilma. Porém, o grande mote de campanha da ministra, se Lula vencer os embates relacionados acima, será mesmo o pré-sal. É uma promessa fascinante e que não poderá ser cobrada ou confrontada, pois tudo está ancorado no futuro, no mínimo para 2014, 2015. Por isso, substituirá gradativamente o PAC nos palanques. O sucesso deste pode ser objetivamente medido e comprovado e, pelo andar do cabriolé, não vai render muitas fotos positivas. É Dilma e acabou ! Os insatisfeitos - e eles estão crescendo depois dos dados de algumas pesquisas públicas e privadas - que se mudem : para Lula é Dilma, Dilma, Dilma e pronto. As mudanças de tom em algumas falas do presidente, que parecem indicar alguma vacilação, são apenas indicações de que ele se rendeu à evidência de que a candidatura de Ciro Gomes é quase irreversível e que a de Marina Silva não é irrelevante conforme ele gostaria. Sabe o presidente que não pode brigar com os dois. Por causa de um provável segundo turno, engole os dois sapos a contragosto. Vingança maligna Tancredo Neves dizia que o ex-presidente Itamar Franco guardava suas raivas na geladeira para destilá-las publicamente em algum momento. Lula não é diferente. Que se cuidem aqueles que ele classifica como inimigos, na oposição e até entre os aliados. Aqueles que ousaram, ousam ou ousarão contrariá-lo. Chuvas e trovoadas sobre eles se abaterão na hora certa. Promessa do próprio vingador. O jogo do PMDB e de Lula Reservadamente, sem alardes públicos, desenvolve-se nos bastidores da sucessão presidencial uma pesada queda de braço entre Lula e o PMDB que tende a apoiar Dilma em 2010 : 1. Lula deseja que o PMDB defina o mais rápido possível a aliança formal em torno da candidatura da ministra da Casa Civil. O PMDB quer ganhar tempo, para ver como vai o nível de intenção de votos em Dilma. 2. O PMDB quer que Lula indique oficialmente que a vaga de vice de Dilma será do partido. Lula não deseja se comprometer com isso, publicamente, tão cedo. 3. Lula deseja que o PMDB trabalhe suas direções regionais para fechar logo os acordos dos palanques estaduais com o PT, enquadrando alguns de seus diretórios estaduais. O PMDB quer que Lula e a ministra Dilma Roussef force o PT a aceitar todas as ambições regionais do partido. Dedé, Didi, Mussum e Zacarias O quarteto deve ter sido consultado sobre a compra dos 36 aviões de caça franceses pelo Brasil lá pelos lados do paraíso. Nunca neste país se viu tanta trapalhada política, diplomática e militar juntas. Os desdobramentos serão pesados. Mas é ilusão pensar que a preferência pelo Rafale francês, anunciada pessoalmente pelo presidente Lula, possa ser alterada. Seria outra trapalhada pior ainda. Além do mais, ainda mais quando criticado, Lula não é de recuar. Os últimos ensaios são apenas jogo de cena para tentar conter as consequências mais desastrosas que vêm por aí. Promessa francesa, promessa japonesa Uma das alegações brasileiras para justificar a opção pelos Rafale foi a de que Nicolas Sarkozy prometeu a transferência irrestrita de tecnologia para o Brasil. Em matéria de tecnologia militar, seria o primeiro caso no mundo. Além do mais, devemos lembrar outro precedente. Quando decidiu que o Brasil iria usar o padrão japonês no lançamento da tevê digital, o ministro Hélio Costa apontou como uma das razões o compromisso dos japoneses de instalar um fábrica de chips no país. Passados mais de três, até agora o ministro das Comunicações ainda não anunciou o lugar onde a indústria japonesa de chips será construída no Brasil. O protecionismo, de novo No final de semana, os EUA aumentaram as tarifas sobre os pneus importados da China, e os chineses responderam aplicando restrições às importações de carne de frango e de produtos automotivos norte-americanos. Este não é um fato isolado. Há muitos executivos de indústrias "tradicionais" (de menor conteúdo tecnológico) pressionando as autoridades norte-americanas a adotarem barreiras alfandegárias e não-alfandegárias contra importações, sobretudo chinesas. É uma das formas de se reduzir o impacto do desemprego nestes setores. De outro lado, está aberto o flanco para que outros países venham a adotar medidas protecionistas. ____________
terça-feira, 8 de setembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 68

Pré-sal : a fórmula financeira Não resta dúvida de que o pré-sal é uma extraordinária e importante notícia. Trata-se da maior descoberta de petróleo desde 1976 quando foi descoberto o campo de Cantarell no México. A regulamentação apresentada pelo governo tem duas características gerais : (i) uma forte e decisiva regulação e participação do Estado, via Petrobras e (ii) uma fórmula política para viabilizar a proposta do governo. A Petrobras terá de aumentar o seu capital para bancar o papel a ela destinado nos investimentos do pré-sal. Para ter os direitos sobre cinco bilhões de barris da área do pré-sal a estatal terá de emitir ações. Para manter as suas posições os investidores terão de comprar tais ações, caso contrário haverá diluição desta participação. A grande dúvida é quanto valerão os direitos de exploração da área do pré-sal. Especialistas estimam em algo como US$ 5 e US$ 10 por barril. Por estas contas a Petrobras, terá de emitir entre US$ 25 e US$ 50 bilhões em ações. Estas contas e o papel de principal investidora no novo negócio do pré-sal tornam as ações da Petrobras muito mais arriscadas. Se antes havia o risco "político" relacionado com a gestão da empresa, agora os riscos operacionais e financeiros completam uma equação cujos resultados não são tão visíveis. Haverá muita inquietação com o tema nos próximos anos. Pré-sal : a fórmula política Ao contrário do que se comentou, o presidente Lula não deu razão aos governadores Sergio Cabral, José Serra e Paulo Hartung na questão da partilha dos royalties do pré-sal. Jogou o problema para o Congresso, onde espera que os outros 24 governadores massacrem seus colegas do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Espírito Santo, num eventual embate nos plenários da Câmara e do Senado. O cálculo primário é simples : os três Estados contam com apenas 6 senadores e 126 deputados num Senado de 81 membros e uma Câmara de 513 parlamentares. Seria uma lavada. No entanto, a conta a ser feita é outra. O Rio de Janeiro, o mundo político, empresários, a sociedade de um modo geral, está se mobilizando para defender o que eles classificam como o interesse geral do Estado. O Rio tem mais de 11 milhões e meio de eleitores. É um dos Estados mais petistas e mais lulista e onde ele consegue seus melhores desempenhos na região Sul e Sudeste. Para se chegar ao eleitorado fluminense é preciso somar, por exemplo, o número de eleitores de Alagoas, Ceará, Maranhão e Sergipe. E o que pode acontecer caso a população do Rio fique convencida de que o presidente e sua preferida eleitoralmente trabalham para prejudicar o Estado na divisão dos dividendos do pré-sal ? Pode ser uma sangria de votos na candidatura de Dilma. Aliás, o mesmo pode ocorrer em São Paulo e no Espírito Santo, com mais de 26 milhões e meio de votos. O efeito Marina -1 Até as vésperas do anúncio dos projetos de mudança do marco regulatório da área de petróleo, o Fundo Social que vai ser criado para distribuir recursos do pré-sal contemplaria apenas as áreas de saúde, educação e ciência de tecnologia. Miraculosamente, na festa-comício de segunda-feira, foi citado também o meio ambiente. O efeito Marina - 2 Outro milagre : o governo já está arrancando da algibeira de promessas "um PAC" do Meio Ambiente. O efeito Marina - 3 A expressão "desenvolvimento sustentável" foi incorporada ao vocabulário da ministra Dilma Roussef e vai frequentar cada vez mais o discurso da preferida de Lula. Comendo pelas bordas O governo está sendo muito bem sucedido nos seus esforços, comandado pelo senador Romero Jucá, de barrar os depoimentos mais explosivos que a oposição quer ouvir na CPI da Petrobras. A oposição requer e os aliados atropelam. Para não parecer que não querem qualquer apuração, aceitam depoimentos de técnicos do segundo escalão. A tática pode se revelar perigosa. Na semana passada, dois técnicos do TCU, depuseram sobre as auditorias feitas na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e demonstraram que a própria companhia admitiu sobrepreço de R$ 64 milhões na obra e está renegociando pelo menos dois contratos. Pego de surpresa, Jucá tentou desqualificar os técnicos, tática que já não funciona mais. Sem alardes, sem depoimentos pirotécnicos, a oposição está formando um bom acervo sobre alguns negócios da Petrobras. Um manancial para um relatório que pode não agradar ao governo. Esqueçam o que eu disse : biocombustíveis Quando ainda tinha os biocombustíveis como um dos carros-chefe de seus discursos, principalmente fora do Brasil, um dos argumentos do presidente Lula para defender o etanol brasileiro era o de que ele era um combustível limpo, renovável, ao contrário do petróleo. O presidente aparecia como um arauto do fim da era dos combustíveis fósseis. Toda esta pregação quase religiosa foi para debaixo do tapete na euforia do pré-sal. Tudo é marketing. Agora, será preciso ajustar o discurso para a reunião sobre mudanças climáticas em dezembro, na Noruega. Classificados petrolíferos Os projetos do pré-sal nem bem começaram a tramitar no Congresso e já é violenta a briga nos bastidores pelos cargos na "Petro-Sal", 130 empregos inicialmente, entre eles uma presidência e no mínimo uma meia dúzia de diretorias. Preenchidos sem concurso e com salários de mercado, ou seja, sem a necessidade de obedecer ao teto de remuneração dos servidores públicos de carreira. PMDB e PT já estão recolhendo currículos. No galinheiro Peemedebistas e aliados outros no Senado estão se articulando para indicar o senador Renan Calheiros para relator os projetos do pré-sal numa das comissões pela qual eles deverão passar na casa dos senadores. As duas faces do FGTS Nos últimos meses o governo Lula liberou cerca de R$ 8 bilhões do FGTS para capitalizar empresas do setor de construção civil. O mesmo governo está barrando o uso do FGTS pelos trabalhadores para comprar ações da Petrobras. Quem comprou ações da estatal com dinheiro do FGTS, no governo Fernando Henrique Cardoso, teve seu capital valorizado em mais de 800%. No mesmo período, o Fundo rendeu pouco mais de 50%. Agora temos o pré-sal e a necessidade de capitalização da Petrobras. O governo não deveria reavaliar o tema ? G-20 : a discórdia sobre os estímulos O encontro neste último fim de semana dos ministros responsáveis pela economia e os presidentes dos bancos centrais das vinte maiores economias mundiais foi concluído com duas importantes concordâncias e uma substancial discordância. No que se refere ao sistema financeiro, os ministros avaliaram que seria importante dar uma passo à frente e regulamentar o pagamento de bônus aos administradores dos bancos, bem como traçar novas regras sobre a capitalização das instituições financeiras (aumentar os requisitos de capital do sistema financeiro). Do ponto de vista da manutenção dos estímulos fiscais e monetários, já há desacordo : alguns ministros já sinalizam que devem iniciar um maior aperto monetário e fiscal a partir do final deste ano. Nenhum ministro das principais economias (G-7) deseja estar comprometido com metas econômicas que os impeçam de mudar de política, caso se perceba que a crise está sendo superada. G-20 e os EUA O G-20 é hoje o principal fórum econômico para discussão de temas multilaterais. Foi fortalecido em função do fato de que alguns países emergentes (China e Índia, sobretudo) passaram a ser financiadores fundamentais dos déficits fiscais dos EUA. A importância do G-20 está diretamente relacionada com o equacionamento do déficit americano. Maior o déficit, mais importante o G-20. E vice-versa. A importância "política" do G-20 é muito relativa, embora se faça muito alarde com o tema, inclusive no Planalto Central brasileiro. Radar "NA REAL" Não há muita novidade no front econômico e financeiro na volta das férias no hemisfério norte. Embora não existam sinais vitais de que a recuperação tenha começado nos EUA - há apenas uma "estabilização dos indicadores" -, em outras economias importantes (França, Alemanha e Japão) já há sinais mais vigorosos. As moedas principais estão estáveis entre si, este é um ótimo sinal, as bolsas não apresentam maiores variações (positivas e negativas) e as taxas de juros dos títulos de renda fixa, sobretudo os do tesouro norte-americano, estão em consonância com o momento em que vivemos. De nosso lado, não alteramos o nosso radar. O momento é de transição. Alguma "realização de lucros" pode haver, mas o que os investidores esperam mesmo são indicadores novos e positivos de consumo e investimento. A crise passou, mas a recuperação ainda não é visível. O momento é de moderação das expectativas. Nada de pessimismo, mas também não há razão para euforia. 4/9/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4330 estável/alta alta - REAL 1,8450 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 56.652,28 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.016,40 estável/queda alta - NASDAQ 2.018,78 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Mais uma da Índia A indústria automobilística indiana tem um mercado que representa 19% do tamanho do mercado chinês. Neste ano, a Índia deve se tornar maior exportadora de autos que a China e deve superar em poucos anos a Coréia do Sul e Tailândia como centro produtor. Os aspectos positivos indianos são a mão-de-obra barata e uma eficiente política industrial (combinação de impostos baixos e estímulos de investimentos públicos) que atrai indústrias internacionais para o país. Há ainda o aspecto ecológico : assim como o Japão, a Índia dedica-se à exportação de veículos leves e de baixo consumo de combustível, enquanto outros países asiáticos estão com a produção de veículos menos "ecológicos". A Índia deve ser maior destaque dentre os países emergentes neste futuro próximo. Os sinais vindos daquele país são promissores. A indústria automobilística é mais um destes sinais. Panorama visto de Minas - 1 O governador Aécio Neves vai vender muito caro a condição de candidato do PSDB à Presidência da República. Aécio, indicam assessores, não vai rachar o tucanato nem fazer "beicinho" se não for o escolhido. Mas não aceita o fato consumado da candidatura irreversível de José Serra como alguns tucanos apregoam. De quando em vez, alguém "planta" na imprensa que ele aceitou ser o vice numa chapa pura do PSDB. Não é fato e dificilmente o será. Panorama visto de Minas - 2 O governador José Serra, se vier a ser o candidato do PSDB, só terá uma votação expressiva em Minas Gerais se o acordo dos tucanos for transparente e com Aécio satisfeito. Se os mineiros sentirem que Aécio foi passado para trás a coisa não funciona. Disputa vice-presidencial Cresce a disputa entre os aliados para ver quem será o candidato a vice na chapa de Dilma, um cargo no Brasil meramente decorativo e honorífico. De um entusiasmado Michel Temer na cerimônia de lançamento do pré-sal. "Este é um projeto extraordinário! Podemos comemorar 50 anos depois um novo mote nacionalista : o pré-sal, presidente, é nosso". Trem bala De um especialista na questão de transportes : 1. O trem bala não sai sem muito dinheiro federal. E o governo já está disposto a bancar pelo menos 70% de seus custos (R$ 34 bilhões). O discurso oficial é de que será uma obra para a iniciativa privada. 2. O trem só é verdadeiramente rentável no trecho Campinas- São Paulo- São José dos Campos. Ao fim das contas, somente este trecho será tocado a tempo da Copa de 2014. O Rio de Janeiro corre o risco de ficar olhando para o vento. A palavra do lobista Dirceu Como se sabe, José Dirceu foi cassado em função de seu envolvimento com o "mensalão". Faz hoje política de bastidor como no caso da renúncia do irrenunciável Aloysio Mercadante - foi ele quem articulou politicamente para que o senador paulista ficasse no cargo. Além de política de bastidor, José Dirceu faz lobby. Vejamos o que o líder da esquerda revolucionária nos anos sessenta diz em seu blog sobre o Trem de Alta Velocidade (TAV) : "Precisaremos, realmente, de recursos do BNDES, mas acredito que os fornecedores de material rodante e dos sistemas de segurança e comunicação tem muito interesse em financiar o TAV. E temos a vantagem, nesse momento em que encaminhamos sua implantação, de contar com recursos para esse tipo de investimento no mundo, principalmente da parte dos fornecedores, Japão, China, França, Estados Unidos e Alemanha." Estará José Dirceu trabalhando para alguém neste caso ? Uma calculadora nova O Ministério do Planejamento esqueceu-se de prever na linha de despesas do Orçamento de 2010, recursos para o ressarcimento aos estados da Lei Kandir, verbas para o pagamento do reajuste dos aposentados que ganham acima do salário mínimo, acertado por Lula com os sindicatos, e ainda recursos para novas despesas com pessoal, aumentos e contratações, decididas na última semana. Somente os dois primeiros "esquecimentos" gerarão despesas adicionais de R$ 8,2 bilhões. Além do mais, o ministério de Paulo Bernardo imagina que o governo arrecadará R$ 110 bilhões a mais em 2010 do que arrecadará este ano e mais do que recolheu no "glorioso" ano de 2008. Nada de imposto novo A base aliada desistiu de atender ao pedido do ministro da Saúde José Gomes Temporão para restabelecer a CPMF, apelidada de Contribuição Social para a Saúde (CSS). Por razões meramente eleitorais, não porque acha que o brasileiro paga imposto demais para serviços públicos de menos. A Internet e as eleições É ridícula, senão inútil, as propostas aprovadas pelo Senado Federal que dão conta da censura aos comentários sobre políticos na internet durante o processo eleitoral de 2010. O relator da proposta é o tucano mineiro Eduardo Azeredo. Se até o dia 3 de outubro não for rejeitada, terá força de lei. Enquanto Obama se elegeu nos EUA democraticamente por meio de campanha cujo principal fator de articulação foi a rede mundial, no Brasil a internet será isolada do processo como se isto fosse possível. ____________
terça-feira, 1 de setembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 67

Recuperação : uma questão e fatos Se analisarmos os últimos números do mercado financeiro mundial, podemos concluir que não somente o pior já passou, mas que as perspectivas são promissoras. O índice S&P500, um dos principais do mercado acionário norte-americano, subiu 52% nos últimos seis meses. O MSCI World Index, o qual representa o desempenho das principais bolsas mundiais, subiu quase 60% no mesmo período. O Ibovespa este ano, entre os altos e baixos do primeiro trimestre, alçou voo. Quem comprou o índice no primeiro dia do ano ganhou quase 40%. Quem apostou no caos, simplesmente quebrou. A receita keynesiana usada para evitar uma depressão funcionou. Isto é fato. No caso do Brasil, o impacto da crise foi menor que o previsto e o país está dentre os melhores do mundo. Não foi um caso isolado. A China e a Índia se saíram muito melhor que o Brasil. A questão é : e daqui para frente ? Recuperação das economias centrais : uma necessidade O consumo mundial que andou bem capenga nos últimos meses foi sustentado em grande parte pelo desempenho chinês e indiano. Ambas as economias aumentaram os dispêndios domésticos via investimentos estatais em infra-estrutura e construção civil. Há sinais, inclusive, que no caso chinês houve muita antecipação de compras de matérias-primas o que obscurece uma melhor análise dos dados e tendências. De toda forma, daqui para frente a demanda mundial estará muito dependente da melhoria do consumo e investimento dos países centrais, notadamente os EUA, a Alemanha, o Japão e a França. Nesses países, já há evidências de que a recuperação ganha força. Não muita, mas a tração parece ser crescente. Os mercados anteciparam... Apesar da generalização do crescimento pelos principais países capitalistas, é bom que o investidor tenha em mente que em parte a atual recuperação já foi antecipada. Os mercados vivem de expectativas sobre fatos e, na medida em que os fatos ocorrem, novas expectativas se formam. Neste sentido, a expectativa de que "o mundo não ia acabar" já virou "fato". Agora, resta saber se a economia mundial vai estar bem melhor daqui a, digamos, seis meses. O futuro é incerto, por definição. De nossa parte, acreditamos que, por enquanto, o andamento dos mercados mundiais ficará prejudicado pelas indefinições e inquietações dos investidores. As cotações podem não cair, vão "andar de lado". Algo como tem ocorrido nestas últimas três semanas. Não estamos pessimistas. Apenas alertamos aos nossos leitores : não esperem grandes lucros no curto prazo, como ocorreu nos últimos seis meses. COPOM, entre a teoria e a prática Nestes tempos de recessão, torna-se difícil ser absolutamente afirmativo sobre o que o BC brasileiro irá fazer com a Selic, hoje estacionada no patamar de 8,75%. A inflação não é problema, por ora - o IGP-M caiu pelo sexto mês consecutivo. Não há nada que recomende uma taxa de juros real acima de 1%-2% ao ano. Pois bem : ela hoje está perto de 5% ! Eis a teoria. Há, contudo, um risco considerável : as contas públicas que se deterioram de forma estrutural. Esta é a variável que pode guiar o COPOM a manter a taxa Selic. Eis a prática. Radar "NA REAL" Não procedemos nenhuma alteração relevante no nosso "Radar". Conforme analisamos nas notas acima, estamos num período de transição e de formação de expectativas. Com efeito, os mercados tendem a "andar de lado" sem notáveis desempenhos positivos ou negativos. O mercado está a deglutir dados e informações. No caso do Brasil, acreditamos em alguma "realização de lucros" no mercado acionário e no mercado de juros e títulos de renda fixa prefixados. No primeiro caso, seria natural que os investidores embolsassem lucros. No caso da renda fixa há dois pontos que merecem atenção da parte de nossos leitores e investidores : o fraco e preocupante desempenho das contas públicas no médio prazo e a política do BC no curto prazo (vide nota acima). 28/8/9 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,4303 estável/alta alta - REAL 1,8383 estável/baixa alta Mercado Acionário - Ibovespa 57.700,53 estável/queda estável/alta - S&P 500 1.028,93 estável/queda alta - NASDAQ 2.028,77 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável A vanguarda do atraso Esqueçam Dilma, Serra (ou Aécio), Marina, Ciro ou quem lá venha assumir a presidência da República em 2010. No Executivo certamente teremos mudanças de estilo de governo e até de ênfases na política econômica. No entanto, no modo de ser da política brasileira, na maneira de atuar do Congresso e no modo de agir dos partidos políticos, nada mudará. Teremos mais do mesmo, as mumunhas de sempre da Câmara e do Senado, as "negaças negociais" dos partidos políticos. Como as leis eleitorais estão sendo alteradas, para pior, e como não se alteraram as normas partidárias, qualquer renovação que a eleição de 2010 trouxer será apenas de nomes. No Senado, por exemplo, as últimas eleições, a partir de 1998, o índice de renovação chegou a passar dos 70%. Na Câmara, tradicionalmente, esses índices se situam entre 50% e 60%. As coisas melhoraram a cada quatro anos ? Os fatos mostram que não. Como ensinava Ulysses, é inexorável : o Congresso que vem é sempre pior do que o que está saindo. Quem subir ao Planalto já pode ir se preparando para fazer as barganhas de sempre. Em nome da governabilidade. Os efeitos Marina Depois de o nome da ex-ministra Marina Silva ter sido lançado extra-oficialmente na corrida presidencial, mesmo sem uma pesquisa mais substancial sobre intenções de votos, é possível avaliar que ela pode causar avarias nos votos da chamada "esquerda", de ditos intelectuais, de setores da Igreja e de parte da classe média, tanto os postulados por Dilma quanto por Serra, muito mais para a primeira. Não dá, porém, para mensurar o tamanho desse estrago. É preciso medir melhor até onde vai o potencial eleitoral de Marina e de seus apoiadores. É preciso medir também qual a estrutura - logística, de tempo na televisão, financeira, de gente - com a qual contará. Mensurar Marina a partir do fenômeno Collor é um equívoco. Marina nunca será a queridinha dos grupos poderosos que, a partir de certo momento, jogaram todas as fichas no atual senador alagoano para conter as então ameaças de Lula e Brizola. A ex-ministra do Meio Ambiente tem potencial para tirar sono de poderosos e até abalar candidaturas. Seu discurso domingo na adesão ao PV é consistente. Para saber se vai mais longe é preciso esperar pelos menos uns seis meses. Um confronto interessante Dezembro vem aí trazendo a reunião sobre clima de Copenhague quando, se espera, serão definidos os novos parâmetros para redução em escala planetária dos gases que provocam o efeito estufa. É uma revisão do Protocolo de Kyoto, de 1997, que teve poucos efeitos práticos. Marina Silva é convidada, já confirmou que vai, e certamente será, pela sua reputação internacional com ambientalista, uma das estrelas da Conferência. Lula também deve ir. Ou pelo menos deveria. O detalhe é que o presidente não se contenta com papéis secundários nem gosta de dividir palanques. Os efeitos Palocci Não sairá antes de novembro, dezembro, alguma definição sobre o futuro político de Palocci, agora que o STF decidiu não processá-lo no caso da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo. O placar apertado, os votos de alguns ministros, como o de Marco Aurélio de Mello, e o fato de o Supremo ter admitido que houve crime sem culpar Palocci por ele, esfriou o entusiasmo de quem apostava na viabilidade eleitoral do ex-ministro numa disputa para um cargo majoritário. A munição posta nas mãos dos adversários do ex-prefeito de Ribeirão Preto num ambiente de campanha é ainda altamente explosiva. Uma frase como a de Marco Aurélio Mello, de que "a corda sempre arrebenta do lado mais fraco", é cortante. O efeito Mantega Pelo menos uma estrutura já foi abalada com o livramento de Palocci : a do ministro Guido Mantega, às voltas com uma grave crise na RF, construída por ele mesmo e pelo seu segundo, Nélson Machado. Palocci, que continuou conselheiro econômico e político de Lula mesmo depois de afastado do ministério, sempre foi um fantasma a assombrar Mantega. A própria crise na Receita tem origem nesse medo : o ainda não bem explicado afastamento do secretário, que antecedeu Lina Vieira, fez parte do plano de Mantega de se livrar dos remanescentes da equipe de seu antecessor. Mesmo que eles tenham demonstrado eficiência e competência, como foi o caso de Rachid. Lula e seus preferidos Não precisa ser um analista político afiado para comentar o seguinte quadro. Lula convoca José Dirceu e Palocci. Estes dois homens "de confiança" do presidente foram os responsáveis pelas negociações que impediram a "irrevogável renúncia" do Senador Aloizio Mercadante da liderança do PT, inquieto com a proteção que o PT dava e dá a nada menos que José Sarney ! Ora, não são questões partidárias ou de governo que tornam este quadro dramático para a política brasileira. Trata-se de uma tragédia singular para a República. O resto realmente é detalhe. Antro cobiçado Segundo o "Novo Aurélio", furna significa "caverna ou gruta, fojo, antro, cova, lapa, subterrâneo". Pois é em direção a uma determinada "furna", com valores de Real Grandeza, que o PMDB fluminense mirou seu desejo. Na direção de Furnas Centrais e o fundo de pensão de seus funcionários. Brasileiros de primeira e segunda categorias Façam as contas : 1. O governo federal tem menos de 1 milhão de aposentados e pensionistas; gastou com eles de janeiro a julho de deste ano R$ 35,1 milhões.2. O INSS, responsável pelas aposentadorias e pensões de quem trabalhou no setor privado, tem cerca de 20 milhões de beneficiários; nos mesmos sete meses de 2009, gastou com eles R$ 120,6 bilhões. E nem o Palácio do Planalto nem o Congresso fazem a menor força para aprovar a regulamentação da última "reforma da previdência", que institui um teto para a aposentadoria de quem entrar no serviço público depois da lei em vigor e cria um fundo de pensão para os novos servidores, para complementar os salários quando eles deixarem de trabalhar. Generosidade ? Nem tanta O governo correu para acertar com os sindicalistas e representantes dos aposentados pelo INSS um aumento real de seus benefícios em 2010 e 2011. Não está sendo "generoso" nem praticando sua famosa "justiça social". Na verdade, corre para tentar barrar a aprovação na Câmara de três projetos do senador petista Paulo Paim (PT-RS) que criam grandes vantagens para os aposentados do setor privado. Em período eleitoral os deputados podem ser tentados a aprová-los. E Lula não quer o desgaste de ter de vetá-los. Tem briga boa Esta semana o governo deve cumprir a promessa que fez ao MST de aumentar as exigências de produtividade nas atividades rurais para efeitos de desapropriação com vistas à reforma agrária. O setor rural está em polvorosa e cobra do ministro Reinhold Stephanes uma atitude corajosa em defesa da agricultura : não assinar o documento com as novas normas ou renunciar ao cargo. O PMDB abriga também a maior bancada ruralista, além de ser o partido do ministro e principal sustentáculo do governo no Congresso. Menos horas Se for a votação, em plena efervescência eleitoral, a EC que reduz de 44 para 40 horas a jornada semanal de trabalho no Brasil tem enormes possibilidades de ser aprovada. Ainda mais estando o governo empenhado nela, como demonstrou a participação do ministro Carlos Lupi no debate sobre o assunto promovido pela Câmara. Uma calculadora nova Ou a Petrobras ou o TCU necessita fazer, urgentemente, uma licitação para comprar novas calculadoras. Um deles está com suas máquinas defeituosas, pois as contas de um e outro não batem. O TCU, por exemplo, identificou um superfaturamento de 1.490% no pagamento de verba indenizatória nas obras de terraplenagem no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. A Petrobras não reconhece tal valor. O TCU identificou superfaturamento nas obras da Refinaria Abreu e Lima em Pernambuco. A Petrobras aceita a existência apenas de algumas mínimas falhas. Não é por outra razão que há muita gente boa querendo mudar as regras de atuação do TCU. Como não dá para tratar a doença, quebra-se o termômetro. Votos rarefeitos O presidente da FIESP Paulo Skaf está numa rotina de quem é candidato a governador de SP. Conchavos, reuniões, viagens. É um autor em busca primeiro de uma legenda. Se continuar no ritmo que está, até o ano que vem, 3 de outubro, conseguirá angariar uns dez votos populares. Direito na rua Se o ministro Joaquim Barbosa, do STF, seguir o que ele mesmo defendeu naquele famoso entrevero com seu colega presidente da Corte Suprema, o senador José Sarney que se cuide. Barbosa é o relator do MS da oposição contra o sumário arquivamento das representações contra o presidente do Senado por quebra de decoro. Barbosa aconselhou Mendes a considerar o que as ruas pensam. E sobre Sarney, mostram as pesquisas, o que pensam as ruas não é nada abonador. Japão renova política. E o Brasil ? O Partido Democrata ganhou as eleições japonesas e derrotou o Partido Liberal Democrata. Pela primeira vez desde a segunda guerra mundial, o PD vai governar o país em meio a uma enorme recessão. Trata-se de um teste, mesmo em se tratando de um país desenvolvido como é o caso do Japão. O novo primeiro-ministro deve ser Yukio Hatoyama que conseguiu projetar uma imagem de renovação para a autárquica política japonesa. A população escolheu uma nova via, pois não conseguiu mais enxergar na elite política do país sinais de modernidade. Apesar da renovação dos quadros do PLD, as políticas propostas tornaram-se obsoletas. Os caciques perderam poder e a população parece segura em relação à segunda via. Talvez, no caso do Brasil, o cansaço social com as elites políticas seja maior que no caso do Japão. Será que optaremos por uma nova via ? Virtudes publicitárias Charles Saatchi, ex-guru da publicidade que assessorou a campanha vitoriosa de Margaret Thatcher ao final dos anos 70, lançou um livro no qual pontificam suas memórias e visões sobre a publicidade. Diz ele que para vencer na profissão é preciso ter (i) talento acadêmico mínimo, (ii) uma boa dose de cinismo e (iii) e disposição para engrandecer as ideias alheias. Valeria para a política, sobretudo a nacional ? A anistia 30 anos depois Estamos a comemorar a anistia política promovida pelo governo Figueiredo há trinta anos. Iniciava-se a fase final do regime militar brasileiro. Por que o governo Lula não aproveita a comemoração e lança a público todos os dados e arquivos relacionados com os desaparecidos políticos ? Não seria apenas um gesto de humanidade para com sofridas famílias, mas de coragem política e crença profunda na democracia. O que falta ao presidente ? Ou será que sobra medo ?
terça-feira, 25 de agosto de 2009

Política & Economia NA REAL n° 66

  A vitória e os escombros O simpósio que reuniu os presidentes dos bancos centrais dos principais países desenvolvidos e emergentes em Jackson Hole, Wyoming - EUA, foi um cenário que misturou contido otimismo com o andamento da economia mundial com alertas justificados sobre as pendências resultantes da política de estímulo fiscal adotado por todos os países. Há, de fato, razões que justificam o otimismo. Na semana passada alguns destes sinais foram emitidos nos EUA (aumento das aquisições de casas), França e Alemanha (ambas apresentaram três meses seguidos de aumento da produção industrial). Vale notar, de nossa parte nesta coluna, que daqui pra frente os números de desempenho "na margem" hão de melhorar por duas razões básicas : (i) em função da melhoria factual das expectativas e (ii) em função da base de comparação com o ano passado : a queda foi veloz e forte e isto favorece a comparação entre os indicadores (de produção e consumo) atuais e os passados. As "altas" em relação ao ano passado são apenas "estáveis" em relação há dois anos. Ainda o sistema financeiro Na reunião de Wyoming na última sexta-feira, o presidente do Fed Ben Bernanke disse que a "manutenção da taxa de juros próxima a zero é uma necessidade e assim deve permanecer por um período extenso." Estas palavras revelam insegurança em relação ao ritmo de recuperação da economia americana e mundial, mas, sobretudo, revela as inquietações com o sistema financeiro norte-americano que ainda está muito dependente dos empréstimos da autoridade monetária, bem como das expectativas favoráveis dos investidores. Bernanke fala para um Congresso, desconfiado com os banqueiros, e muito vigilante em relação ao lobby de Wall Street. Reformas, por enquanto, mínimas Obama é bom marqueteiro de si mesmo. Não resta dúvida. Faz as vezes de bom governante. E vende ideias com alguma facilidade. Basta postá-lo perante um microfone e uma câmera e ele começa a mover o mundo. Um Arquimedes da política. Todavia, sejamos práticos, analíticos e pragmáticos : ele não está conseguindo fazer nenhuma reforma radical no sistema financeiro norte-americano. Os interesses instalados em Manhattan são enormes e a sua atuação tem sido feroz na defesa destes. A conclusão é simples e vale anotar : o sistema financeiro mundial continua calcado nos mesmos padrões que levaram a ondas progressivas de especulação nos últimos anos e o governo democrata parece disposto "a mudar tudo para que tudo continue do mesmo jeito." Ora, Barack pode ser marqueteiro de boa cepa, mas não parece não ser herói. Meirelles no Wyoming Henrique Meirelles na reunião dos presidentes dos bancos centrais estava bem comportado. Ao que sabe esta coluna somente um presidente de uma organização multilateral presente ao encontro cumprimentou-o pela entrada na vida política. Não houve espaço para proselitismo político por aqueles lados dos EUA... Meirelles, os juros e a política Semana próxima poderemos ter uma ideia, ainda que inicialmente precária, de como os agentes econômicos, especialmente o mercado financeiro, no jargão do meio, está "precificando" a entrada de Henrique Meirelles na corrida sucessória em Goiás. É semana de reunião do COPOM e os diretores do BC, na última ata, indicaram que, por algum tempo, a taxa Selic não seria reduzida. De lá para cá, algumas circunstâncias mudaram : (1) a inflação se mostra cada vez mais comportada e em queda; (2) a atividade econômica dá sinais de aquecimento; (3) Lula e Mantega avisaram explicitamente que há espaço para juros menores e (4) Meirelles caiu definitivamente na vida eleitoral. Como o COPOM lidará com essas variáveis ? Se segurar os juros, dir-se-á que foi duro para mostrar que a política de Meirelles não influencia suas decisões. Se aprovar uma nova redução, outros dirão que Meirelles e companheiros cederam aos gorjeios eleitoreiros. Serão dúvidas que acompanharão cada passo do BC e de Meirelles até ele se desligar da função. Dúvidas costumam influenciar as decisões de negócio. Juros sobem. Em Israel. O primeiro país a aumentar a taxa básica de juros após o colapso financeiro mundial de setembro do ano passado foi Israel. A taxa básica subiu de 0,50% para 0,75% ao ano. Note-se que o BC lá é comandado por Stanley Fisher, ex-todo-poderoso do FMI. Outros países que analisam a possibilidade de subir os juros nos próximos meses : Austrália, Noruega, Coreia do Sul, Índia e República Checa. FMI e o chefão socialista Pesquisa feita para o noticioso Ouest-France dentre 959 franceses, o chefão do FMI Dominique Strauss-Kahn é o preferido do partido socialista para a corrida presidencial francesa com 33% da preferência, mais que o dobro da charmosa Ségòlene Royal (14%) derrotada por Sarkozy na última eleição presidencial francesa. O FMI não tem credibilidade há muito tempo. Seu chefe pode ter. Na França, diga-se. Enquanto isto o mundo espera uma reforma do sistema financeiro internacional. Radar "NA REAL" Já enfatizamos em colunas passadas o caráter benigno do atual desempenho dos mercados mundiais. Seja na renda fixa, seja na renda variável - ações, sobretudo. Ora, este caráter "benigno" dos mercados não retira os enormes riscos que o cercam. Referimo-nos, sobretudo, às largas incertezas relacionadas com a sustentação do crescimento do consumo e do investimento, especialmente nos países desenvolvidos dos quais a demanda global depende decisivamente. Os sinais são de evidente recuperação, mas isto não quer dizer de forma alguma que o cenário terá sustentação suficiente para prosseguir benigno. Esta afirmação não é uma previsão, seja positiva, seja negativa. O que queremos alertar aos nossos leitores é que, depois de uma melhoria substantiva no mercado financeiro desde o final do primeiro trimestre do ano, a hora é de realizar lucro, reduzir posições e esperar maiores confirmações de que o cenário de fato prosseguirá sendo continuamente promissor. O que foi dito no parágrafo anterior vale para todos os segmentos de mercado. Aqui no Brasil, os preços do mercado acionário estão elevados e a relação risco versus retorno recomenda cautela. No segmento de renda fixa, a hora é de ficar com os pós-fixados e o dólar é uma boa proteção, mesmo que não tenha retornos positivos muito expressivos no curto prazo. Sejamos otimistas, mas não fiquemos eufóricos. 21/8/9   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹        - Pré-fixados NA estável alta  - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ²        - EURO 1,4326 estável/alta alta  - REAL 1,8250 estável/baixa alta Mercado Acionário        - Ibovespa 57.728,59 estável/queda estável/alta  - S&P 500 1.026,13 estável/queda alta  - NASDAQ 2.020,90 estável/queda alta (1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)(2) - Em relação ao dólar norte-americanoNA - Não aplicável Petróleo volátil Quem quiser especular no mundo e quer suscitar grandes emoções, basta participar do mercado futuro de petróleo. Na semana encerrada no último dia 14, os operadores lamentavam a forte baixa do ouro preto para o nível de US$ 66/barril. Na semana passada os indicadores do setor imobiliário mostraram melhoras no último mês. Algo modesto frente às desgraças que caíram sobre o segmento. Pois bem : o petróleo subiu 11% em três dias. Nada mal, hein ? Os especuladores encontram razões onde a própria razão não consegue alcançar... Por aqui, mesmo com a alta, o preço base do barril que a Petrobras utiliza para calcular os preços internos da gasolina e do óleo diesel ainda está muito acima da cotação internacional, o que engorda os cofres da empresa em detrimento do consumidor. No trimestre passado, segundo especialistas, os combustíveis nacionais custaram, em média, de 25% a 30% mais do que seus preços internacionais. Por falar em petróleo... Nesta semana deveremos ter algumas novas (boas ?) sobre o pré-sal. A regulamentação está definida em quase tudo, mas há decisões pendentes sobre a forma de licitar e apurar os resultados. A luta entre os mais liberais e os mais intervencionistas continua firme e sanguinária e passa por negociações de bastidores no Congresso. Vale notar que Dilma, tida como "esquerdista" há não muito tempo, ocupa a cadeira de "mais liberal" nestas discussões. Também é o tal do pré-sal que tem acalmado os ânimos da CPI da Petrobras, mesmo tendo uma chama acesa chamada Lina Vieira... Muitos senadores pescam em águas mais profundas que aquelas que serão penetradas pelos equipamentos de extração. A fresta de arromba do pré-sal, uma das bandeiras da candidatura Dilma Roussef, está marcada para o dia 31, segunda-feira. Será um comício como nunca se viu antes no país. Apenas para anunciar que o governo está enviando ao Congresso três projetos com alterações da Lei do Petróleo. O negócio é o dinheiro As discussões sobre o pré-sal ainda estão pegando fogo a uma semana do anúncio da proposta governamental. Até o submisso governador Sérgio Cabral está dando de "bravinho". A razão é simples : calcula-se que irão sobrar dólares a rodo, em participações e royalties e o governo federal quer administrar os recursos, controlar e direcionar a utilização do dinheiro. Amplia-se extraordinariamente o poder de Brasília e a submissão de Estados e municípios. Nem os ministérios das áreas sociais a serem atendidas pelo Fundo do Pré-Sal opinarão sobre eles. Haverá um grupo especial responsável por isso. A ideia é não esperar o óleo jorrar e ser vendido para capitalizar o fundo. Nos estudos há a sugestão de antecipar o pagamento de contribuições de royalties e participações. É briga pelo poder real. PT saudações Vejam só a ironia : o PT perde espaço no Congresso e ganha espaço nas colunas políticas que tratam de Sarney, Renan e Collor. Neste cenário não devemos condenar o senador Aloizio Mercadante que maneia suas palavras entre uma "irrevogável renúncia" e um "não resisti ao pedido do presidente Lula". Mercadante é vítima do "mercado político" (sem trocadilhos) frequentado sem escrúpulos pelo PT, cuja bancada lidera no Senado. As urnas o absolverão ? Esta deve ser a sua maior dúvida. O estilo Lula... ...de transferência de responsabilidade. Trecho da carta do presidente que fez o senador Aloizio Mercadante "revogar o irrevogável" : "Você me expressou novamente, como tem feito publicamente, sua indignação com a situação do Senado federal e suas duras críticas ao posicionamento da direção do PT nos processos no Conselho de Ética." O presidente esquece, propositadamente, que o "posicionamento do PT nos processos de Conselho de Ética" foi determinado exclusivamente por ele, Lula. Apenas o vexame e a humilhação pública ficaram para os companheiros. Se havia razões políticas para tal "posicionamento" - e quem julga essas razões é o partido e seus líderes, não observadores e oposicionistas - elas deveriam ser assumidas por todos, abertamente. PT histórico Vejamos o trecho a seguir : "[...] não nos impede de apontar as limitações que o MDB partido de exclusiva atuação parlamentar - impõe às lutas populares por melhores condições de vida e por um regime democrático de verdadeira participação popular. O MDB, por sua origem, por sua ineficácia histórica, pelo caráter de sua direção, por seu programa pró-capitalista, mas, sobretudo, por sua composição social essencialmente contraditória, em que se congregam industriais e operários, fazendeiros e peões, comerciantes e comerciários, enfim, classes sociais cujos interesses são incompatíveis e nas quais, logicamente, prevalecem em toda a linha os interesses dos patrões, jamais poderá ser reformado. A proposta que levantam algumas lideranças populares de "tomar de assalto" o MDB é muito mais que insensata: é fruto de uma velha e trágica ilusão quanto ao caráter democrático de setores de nossas classes dominantes." Eis a "Carta de Princípios" assinada pelos fundadores do PT, entre eles Luiz Inácio da Silva, o Lula, em 1º/5/1979. Depois de trinta anos, o que será que pensa o PT do sucessor do MDB ? Notem o "jamais poderá ser reformado" do trecho da referida carta. É auto-explicativo. Uma boa história Agora que Lula move mundos e fundos - obviamente mais fundos do que mundos - para ter o PMDB na aliança governista no Congresso e nos palanques de Dilma Roussef, o ex-deputado José Dirceu poderia contar como foram as negociações com o PMDB no final de 2002 para que ele entrasse formalmente no governo de Lula e as razões que levaram os presidente a desautorizar o acordo depois de ele ter sido anunciado na imprensa pelo seu então futuro chefe da Casa Civil. Uma boa história - 2 Que "mercadantes" razões teriam levado o ex-ministro José Dirceu, em menos de dez dias, a ter mudado de opinião sobre a saída da senadora e ex-ministra Marina Silva do Partido dos Trabalhadores ? Tão logo surgiu a notícia de que Marina estaria de mudança para o PV, Dirceu defendeu que o PT cobrasse dela o mandato, pois ela foi eleita pelo partido e, portanto, o lugar no Senado pertence à legenda e não à senadora. Agora, limita-se a defender - com razão - a fidelidade partidária. Em tese, Marina tornou-se figura oculta. Sem intermediários Dificuldades de relacionamento e negócios emperrados na República ? Passe primeiro no Senado e procure Renan Calheiros, ele resolve. Vá direto a quem manda e é obedecido. "Precificação" em alta Se as grandes redes brasileiras de televisão conseguissem vender quase seis minutos de sua programação num único dia pelo preço que está sendo pago e ainda será pago ao PMDB pelo seu tempo no horário eleitoral obrigatório em 2010, elas poderiam ficar pelo menos um ano sem precisar vender um único anúncio. Falta de decoro e omissão Na sessão do Conselho de Ética do Senado que arquivou os processos de quebra de decoro parlamentar contra os senadores José Sarney e Arthur Virgílio, o PMDB cometeu uma falta gravíssima em qualquer parlamento sério. Algo punível com um processo por falta de decoro contra quem assinou a representação. O PMDB votou em peso pelo arquivamento da representação que ele mesmo havia apresentado contra Arthur Vírgílio. Pode-se deduzir que o ataque ao senador tucano foi uma leviandade, apenas uma represália contra quem mais atacava Sarney, ou o PMDB estava no "acórdão" para salvar a face do Senado. O curioso é que a oposição deveria ter denunciado a manobra e aberto um processo contra quem assinou o documento do PMDB. No entanto, fingiu-se de morta, interessada também em encerrar logo a história. A pantomima foi bem cumprida. Ferve a Fazenda Ao contrário do que imaginava o ministro Guido Mantega, quando nomeou o segundo de Lina Vieira, Otacílio Cartaxo, para substituí-la, a paz ainda não voltou à Receita. A fervura por lá ainda é alta. Palavras como perseguição, vingança e traição vazam as paredes do órgão. A demissão "irrevogável" de 12 funcionários da alta cúpula do órgão vai gerar graves desdobramentos. Com o risco de desestruturar de vez um dos organismos mais importante de qualquer governo : o Fisco. Como a suspeita (acusação dos funcionários demissionários) é de interferência política numa repartição que deveria ser pautada pela impessoalidade, o perigo adicional é criar temores nos cidadãos e contribuintes. Assim quem não quer - I Para pôr o trem bala na linha, o projeto mais visível do PAC, de mais de R$ 34 bilhões, o governo está disposto a fazer diversos sacrifícios. Para atrair concorrentes, está disposto a pagar pelas desapropriações e ainda a bancar boa parte dos investimentos com os cofres do BNDES. Com tanta generosidade, até o mais ingênuo vai querer entrar nesse negócio. Assim quem não quer - II No meio da reportagem sobre dois dos apartamentos usados pela família Sarney em SP, que está no nome de uma pequena empreiteira de obras pública, a Holdden, ex-Aracati, passou meio despercebida uma informação estarrecedora. E que naturalmente não diz respeito apenas ao setor elétrico, onde a empresa atua mais e nem apenas à Holdden. Trata-se existência de um esquema de "terceirização" das concorrências. Por este processo de concorrência, uma empresa com pistolões influentes na República entra na disputa, prepara todo o processo e depois repassa o negócio com grande lucro porque não tem expertise real para tocar o projeto. Ganha para mover papel. É óbvio que a empresa que comprou a execução do projeto precisará encontrar a fórmula para lucrar depois de ter gasto dinheiro no "repasse". Na maioria dos casos (e talvez em função dos "repasses") surgem os aditamentos, serviços e tarifas mais caras... Há uma próspera "indústria sem risco" instalada no setor público - não apenas em Brasília. Pelo menos enquanto os padrinhos estiverem nos lugares certos.