Uma instituição sim. Não se pense na cola como uma atividade paralela ao ensino, à qual poucos se dedicam. Ela faz parte integrante do sistema, e acompanha os estudantes do ensino básico, do colegial, no meu tempo clássico ou científico, até a faculdade. Era e talvez ainda seja muito utilizada pelos alunos de menor assiduidade às aulas e menor empenho nos estudos. Eu me incluo nesse rol.
Para exercer essa, para muitos, indispensável operação extracurricular, é preciso coragem e cautela. O destemor, a ousadia não podem vir desprovidas dos cuidados e atenções em grau máximo. Para que a empreitada tenha sucesso deve-se diminuir os riscos de ser pego...
Sempre houve, como há, professores rigorosos, vigilantes e outros mais distraídos, complacentes. Há, ainda, os que frustram os coladores. São aqueles mestres que deixam consultar os livros e os códigos, no caso do direito, durante as provas. Nesse caso toda a preparação da cola terá sido em vão.
Uma característica da instituição é que muitas e muitas vezes dá ao aluno colador muito mais trabalho colar do que estudar. Por que então não abrir os livros para se preparar? Porque colar é mais instigante, arriscado, traz mais emoções.
Agora, a sua organização é uma tarefa complexa e demorada. Necessário que se escolha o tamanho da cola e das letras; a sua cor; a diversidade das matérias, pois não se sabe o que será perguntado na prova; o local da sua colocação e outros detalhes.
As moças, aparentemente mais reservadas, são, na verdade, mais destemidas e ousadas que os rapazes. Quando são pegas colando ou imaginam que o serão, colocam a cola em locais “inacessíveis” aos recatados professores. Ficam isentas de punição.
Eu nem sempre colei. Algumas vezes eu compartilhava o que sabia, passando cola. Certa ocasião pude testemunhar uma, diria quase devoção à instituição. Após ditar a resposta de uma questão a um colega da PUC, disse-lhe “o resto você deve encher linguiça”. Sem perder tempo ele pediu-me “dite a linguiça!!!”.
Esse foi um exemplo de total fidelidade à cola.