Nos últimos anos, falar de ética, integridade e transparência dentro das empresas deixou de ser um “tema bonito” ou pro forma para virar uma necessidade real. Casos de assédio, corrupção e fraudes corporativas têm mostrado que grande parte dessas situações poderia ter sido evitada se os colaboradores tivessem se sentido seguros para falar.
É nesse contexto que surge o conceito de speak up, que não é apenas um canal de denúncias, mas uma verdadeira promoção da cultura de confiança e escuta ativa dentro das empresas, em que qualquer pessoa, em qualquer posição, pode relatar uma conduta irregular sem receio de sofrer retaliações.
Apesar de muitas empresas já disponibilizarem canais de denúncia, a realidade é que boa parte dos colaboradores possui o receio de utilizá-los. Muitos ainda têm dúvidas se o anonimato será realmente respeitado, se alguém da liderança não o retaliará posteriormente ou se a denúncia será ignorada, como se nada tivesse acontecido. O desafio, portanto, não está em simplesmente criar um canal de denúncia, mas em demonstrar de forma prática que o colaborador que age de boa-fé terá sua identidade protegida e que sua voz será levada a sério. A confiança no processo precisa ser construída com clareza, transparência e atitudes consistentes por parte da liderança.
É importante lembrar que falar não é apenas um direito, mas também uma forma de proteção a todos. Quem denuncia ajuda a prevenir riscos, protege colegas, evita prejuízos maiores para a empresa e contribui para a manutenção de um ambiente saudável e ético.
A legislação brasileira já vem reforçando essa visão, seja pela lei anticorrupção 12.846/13, seja pela lei 14.457/22, que trata da prevenção ao assédio e da proteção ao denunciante no ambiente de trabalho. Mas, mais do que a existência de leis, o que realmente faz diferença é a prática diária dentro da empresa, a demonstração de que está comprometida em preservar seus colaboradores.
Nesse cenário, a postura da liderança é determinante. Não basta discursos prontos em reuniões ou políticas bem redigidas, é preciso dar exemplos claros de que não há espaço para condutas antiéticas e que todas as manifestações são levadas a sério, investigadas de forma rigorosa e respondidas com objetividade e transparência.
Líderes que demonstram claramente apoiarem o speak up criam um ambiente de segurança psicológica, onde os colaboradores se sentem encorajados a falar sem medo de retaliação, sabendo que terão apoio real. O apoio da liderança se expressa também na comunicação aberta e constante, no incentivo às manifestações e no compromisso firme em proteger e manter o anonimato do denunciante.
Nada desestimula mais do que perceber que uma denúncia foi ignorada, assim como nada fortalece tanto a confiança quanto ver que relatos são tratados com seriedade e resultam em medidas reais. Essa coerência entre discurso e prática é o que cria o ambiente seguro para que mais pessoas se sintam encorajadas a falar.
Outro aspecto fundamental é a conscientização. Muitos colaboradores ainda não têm clareza sobre o que pode e deve ser denunciado ou sequer conhecem o funcionamento dos canais. É por isso que treinamentos, conversas abertas e exemplos práticos fazem toda a diferença. Quando o colaborador entende que sua denúncia pode ser anônima, que não sofrerá qualquer tipo de perseguição e que está ajudando a proteger a todos, a barreira do medo começa a cair.
Também é papel da liderança praticar a escuta ativa, ouvindo com atenção e valorizando as contribuições dos colaboradores sem julgamento, o que fortalece ainda mais a cultura do speak up. Quanto mais clara for a comunicação e mais visível for a proteção oferecida, mais efetivo o speak up se torna.
Para as empresas, ouvir seus colaboradores reduz a exposição a riscos, danos financeiros e crises de reputação, antecipando problemas, preservando sua imagem e fortalecendo a confiança de clientes, parceiros e investidores.
Ou seja, o speak up não é apenas disponibilizar uma ferramenta, mas de cultivar uma verdadeira cultura de confiança, em que cada profissional saiba que sua voz importa e que usá-la significa proteger não apenas a si mesmo, mas também a coletividade e o futuro da própria empresa.