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Tecnologia e Justiça: O papel da IA no Direito e seus limites

A IA no Direito levanta debates sobre limites e ética, evidenciado por caso no TJ/SP, onde sentença foi acusada de ter sido gerada por IA, destacando a necessidade de regulamentação.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Atualizado às 14:02

O uso de IA - Inteligência Artificial no Direito tem despertado discussões profundas, especialmente com o avanço de ferramentas como o ChatGPT. Recentemente, um caso no TJ/SP trouxe à tona questionamentos sobre o impacto dessa tecnologia no sistema judicial. A acusação de que uma sentença teria sido escrita por IA foi considerada absurda pelo desembargador responsável, mas o episódio evidencia a necessidade de refletir sobre os limites e as potencialidades da tecnologia no âmbito jurídico.

No caso em questão, uma das partes alegou que a sentença que negava a abusividade de juros em um processo de execução havia sido, supostamente, escrita por uma IA. Para embasar o pedido, o texto da sentença foi submetido ao ChatGPT, que sugeriu haver uma "probabilidade média a grande" de o texto ter sido gerado total ou parcialmente por IA. Contudo, a própria ferramenta admitiu que, sem acesso à fonte original ou ferramentas específicas, não era possível confirmar a autoria. 

Ao analisar o recurso, o desembargador destacou que a acusação era extremamente grave e demandava provas concretas. Ele apontou que a análise feita pelo ChatGPT baseava-se apenas em aspectos técnicos e formais do texto, sem apresentar evidências reais de uso antiético da tecnologia. Além disso, o magistrado enfatizou a ausência de fundamentação no recurso, que não dialogava diretamente com o conteúdo da sentença, violando o princípio da dialeticidade. A decisão concluiu que as razões apresentadas eram infundadas, justificando o indeferimento do pedido.

Esse caso, mais uma vez, realça os desafios do uso de IA pelos profissionais do Direito e a necessidade de compreender suas limitações. Ferramentas como o ChatGPT podem ser úteis na organização de documentos e análise de textos, mas não foram projetadas para determinar a autoria ou substituir a avaliação humana, nem para fazer acusações. 

A utilização inadequada dessas tecnologias pode levar a interpretações equivocadas, colocando em risco a credibilidade do sistema judicial. Além disso, ferramentas de IA operam com base em modelos estatísticos que analisam padrões, mas não possuem a capacidade de compreender o contexto ou realizar juízos de valor. Isso significa que, embora possam identificar similaridades ou padrões textuais, não conseguem atestar, com precisão, a autoria de um documento ou a ética de seu uso.

O episódio também evidencia a urgência de regulamentações claras para o uso de IA no sistema jurídico. Algumas medidas que poderiam ser implementadas incluem a certificação de ferramentas, exigindo auditorias independentes para garantir segurança, confiabilidade e conformidade ética. Também é necessário assegurar que nenhuma decisão judicial seja automatizada sem a intervenção ou revisão de um juiz e promover programas de formação para operadores do Direito sobre o uso adequado da IA e suas limitações. Ademais, o desenvolvimento de normas específicas pode garantir que o uso da tecnologia respeite os princípios fundamentais da justiça.

Embora a IA ofereça oportunidades para aprimorar a eficiência e a acessibilidade do sistema judicial, também apresenta desafios significativos. Sem regulamentação adequada e um entendimento técnico aprofundado, há o risco de que a tecnologia seja usada de forma inadequada, prejudicando decisões judiciais e gerando conflitos e acusações desnecessárias. É essencial que o Judiciário e os profissionais do Direito compreendam os limites e as potencialidades da IA. O uso dessa tecnologia deve ser sempre supervisionado, com um olhar atento à ética e à responsabilidade. Assim, é possível garantir que a IA não apenas respeite os princípios do Direito, mas também contribua efetivamente para a promoção da justiça.

Casos como este demonstram que a tecnologia e a ética devem caminhar juntas. A IA não deve ser vista como uma ameaça, mas como uma aliada do Direito, desde que utilizada de forma responsável. Regulamentações claras, capacitação profissional e supervisão criteriosa são fundamentais para garantir que a IA seja usada em benefício da justiça, sem comprometer a credibilidade do sistema judicial.

Renata Nilsson

VIP Renata Nilsson

CEO e sócia da PX Ativos Judiciais | Consultora especializada em fundos de investimentos (FIDCs) e plataformas focadas na aquisição de créditos judiciais incluindo trabalhistas, cíveis e precatórios.

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