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O anti-intelectualismo no Brasil

Ler livros no Brasil e adquirir conhecimento mais aprofundado é motivo de escárnio pelos pares.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Atualizado às 13:10

No Brasil, as pessoas têm horror ao conhecimento e aos livros. Basta que alguém seja visto com um livro na mão, seja de Cervantes, Homero ou mesmo de Asimov, que a pessoa se torna motivo de escárnio no seio social. Esse fenômeno é denominado de anti-intelectualismo, traduzindo-se em um apreço pela falta de conhecimento. Contudo, não é apenas uma questão de classes socioeconômicas, é um fenômeno cultural que se instala também na elite "intelectual" universitária/acadêmica.

Um caso pessoal ilustra bem o anti-intelectualismo universitário no Brasil. Estava eu lendo um livro na faculdade, chamado "O Positivismo Jurídico: Lições de Filosofia do Direito" (sou graduando em Direito), do jusfilósofo Norberto Bobbio, um clássico da filosofia jurídica. Uma pessoa conhecida questionou o que estava lendo e lhe disse que estava lendo o livro mencionado. Ah, caro leitor: ouvi poucas e boas! A frase que veio demonstra bem o anti-intelectualismo: "Por qual motivo você está lendo Bobbio?! Isso é inútil! Precisa ler lei seca, apenas!"

Senti-me afrontado e ao mesmo tempo fiquei sem palavras com os dizeres desta pessoa. Questionei-me como uma pessoa tinha convicção de que Norberto Bobbio, um dos escritores mais importantes da escola positivista jurídica, e seus livros eram inúteis. Com o exemplo dado, vê-se que as pessoas são avessas ao conhecimento no Brasil. A ilustração do caso concreto é uma parcela, no ensino superior (o que é gravíssimo). Em tese, a classe universitária deveria ter apreço ao conhecimento e à leitura de livros clássicos (clássicos podem ser literários ou mesmo de uma determinada área do saber, como o Direito), todavia não é o que ocorre de praxe.

Outrossim, os estudiosos - entenda-se por aquele que lê e estuda buscando um conhecimento mais aprofundado e não apenas segue o script da universidade, qual seja: estudar para as provas e passar de período em um curso - sofrem represálias por buscarem um conhecimento de forma autônoma e mais aprofundada que os demais. Sofrem eles o bullying, sentem o isolamento de seus pares para com eles e são alvos de escárnio por parte dos colegas (e até dos professores, o que se torna mais do que gravíssimo).

O que fazer o estudioso, o autodidata e o leitor diante desse cenário, o qual é alvo de escárnio, isolamento social e bullying? Parafraseio Jordan Peterson: antes de tentar consertar o mundo, arrume primeiro sua cama. Você não mudará o mundo, a cultura brasileira do anti-intelectualismo e as pessoas à sua volta, no entanto consegue alterar a sua vida e seus próprios horizontes. Parafraseando também o professor Olavo de Carvalho, não se deve mudar o sistema, pois você se tornará escravo dele. O que deve ser feito é criar o seu próprio sistema, alterar a sua mentalidade, adquirir mais conhecimento. É uma guerra cultural e mental.

Como em "Fahrenheit 451" de Bradbury, tentam vencer pela futilidade para tornar a mentalidade do cidadão acrítica em relação à realidade. Porém, não se deixe vencer pelo anti-intelectualismo arraigado na sociedade. Arrume sua cama, construa seu próprio sistema. Não tente alterar o mundo, mas altere a si mesmo, porquanto esta é a única forma de não ser vencido na guerra mental e cultural. Não seja parte da massa, seja da contramão, a resistência, a contra-corrente.

Erick Labanca

VIP Erick Labanca

Graduando em Direito do 5° Período UNIFAGOC, estagiou no Procon, estagiário da DPMG, escritor de artigos de opinião, ensaios e artigos científicos da área jurídica.

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