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Fake Monster e moderação de conteúdo na rede

Show histórico de Lady Gaga em Copacabana atrai 2,1 milhões e expõe urgência da regulação digital contra discursos de ódio e ameaças extremistas.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Atualizado em 15 de maio de 2025 14:00

No começo de maio, as areias de Copacabana foram palco de um show histórico - e recordista de público para uma cantora - protagonizado por Lady Gaga. O evento reuniu impressionantes 2,1 milhões de pessoas no Rio de Janeiro, impulsionando a economia local e atraindo fãs de toda a América Latina.

Um dos fatores decisivos para o sucesso do show foi o trabalho eficiente das autoridades de segurança. A polícia atuou com precisão ao impedir um atentado que, segundo as investigações da operação batizada como "Fake Monster", seria executado com requintes de crueldade durante a apresentação. O ataque, que envolvia explosivos e até o assassinato premeditado de uma criança, foi planejado por um grupo extremista. A ação criminosa foi articulada em redes sociais e aplicativos de mensagens, ambientes onde os responsáveis cooptaram novos participantes inflados por discursos de ódio, especialmente direcionados ao público LGBTQIAPN+.

Além do êxito da operação policial, o episódio levanta um ponto crucial: a governança da internet e a moderação de conteúdo online. As redes sociais vêm sendo exploradas por grupos extremistas não apenas para propagar discursos de ódio, mas também para recrutar indivíduos dispostos a praticar crimes. Quando essas manifestações ultrapassam o ambiente virtual, as consequências podem ser trágicas e irreversíveis.

Geralmente, os alvos desses discursos são minorias e grupos historicamente discriminados por razões tão variadas quanto injustificáveis: gênero, orientação sexual, etnia, entre outros. É certo que tais discursos não encontram respaldo na lei e não se confundem com liberdade de expressão ou livre manifestação do pensamento. No entanto, o debate sobre a regulação do conteúdo online ainda é, muitas vezes, distorcido como uma ameaça à liberdade, quando na verdade se trata de proteger direitos fundamentais.

É legítima a preocupação de que a moderação não se transforme em censura. Nem todo conteúdo deve ser removido da rede. O que se impõe é a necessidade urgente de desenvolver estratégias e medidas legais capazes de proteger a sociedade contra discursos extremistas que, comprovadamente, têm impacto nocivo no tecido social.

No exterior, há exemplos claros de legislações que enfrentam essa questão. A União Europeia, por meio do DSA - Digital Services Act, estabelece regras rígidas para que plataformas digitais ajam de forma mais transparente e eficaz na remoção de conteúdos ilegais. Da mesma forma, leis nacionais como a NetzDG, da Alemanha, obrigam plataformas com mais de dois milhões de usuários a retirar material ilegal no prazo máximo de 24 horas após denúncia formal.

No Brasil, a principal legislação sobre o uso da internet é o Marco Civil da Internet, que entrou em vigor há mais de uma década, num contexto bastante distinto dos desafios atuais. As discussões sobre novas regras evoluem de forma lenta: projetos de lei tramitam a passos vagarosos, enquanto processos com repercussão geral ainda aguardam julgamento no STF.

A ausência de normas claras sobre moderação também contribui para outros problemas graves, como a disseminação de desafios perigosos que colocam em risco crianças e adolescentes. É urgente que se estabeleçam medidas que exijam das plataformas um monitoramento mais eficaz e uma atuação mais proativa na remoção de conteúdos evidentemente ilegais.

Esse contexto deveria servir de estímulo para que o Poder Legislativo acelere a análise das propostas sobre o tema, em diálogo com especialistas e a sociedade civil. Somente assim será possível garantir não apenas uma internet mais segura, mas também uma sociedade mais protegida dos riscos que emergem do mundo digital.

Natalia Gigante

Natalia Gigante

Sócia da Daniel Advogados e Mestre em Propriedade Intelectual e Inovação.

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