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Entre o otimismo e a exaustão: O contador frente à reforma tributária

A reforma tributária promete avanços, mas impõe desafios intensos à contabilidade. Veja o que preocupa quem vive a rotina fiscal no dia a dia.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Atualizado às 09:27

A aprovação da reforma tributária representa, sem dúvida, um marco histórico para o Brasil. Depois de décadas de debates, entramos em uma nova era do sistema tributário nacional. Como contador com mais de 20 anos de atuação, sinto-me animado em fazer parte deste momento e poder contribuir, como profissional, para a adaptação das empresas a essa nova realidade. No entanto, junto com esse entusiasmo, vêm também preocupações legítimas e relevantes, que acredito serem compartilhadas por muitos colegas da contabilidade e do direito tributário.

A principal delas é a complexidade do período de transição, que se estenderá por vários anos. Durante esse tempo, teremos que conviver com dois sistemas tributários funcionando simultaneamente: o atual, com todos os seus tributos e obrigações já bem conhecidos (e cansativos), e o novo modelo que traz o IBS, a CBS e o Imposto Seletivo.

Para o empresário, isso significa mais insegurança. Para o contador, significa mais responsabilidade e mais trabalho. E o mais desafiador: com pouca margem para erro. Afinal, não teremos tempo para aprender com os próprios passos, como acontece com qualquer grande mudança.

Além disso, há uma enorme incerteza sobre as novas obrigações acessórias. Ainda não sabemos como serão os novos registros, declarações, cruzamentos de dados e formas de apuração. Sabemos que virão - e que, provavelmente, exigirão sistemas atualizados, capacitação técnica e mais investimento em tecnologia e equipe. Mas ainda estamos no escuro quanto ao formato e ao cronograma dessas exigências.

Outro ponto que não pode ser ignorado é que a rotina do profissional contábil já é exaustiva. Entre obrigações estaduais, federais, municipais, prazos apertados e frequentes atualizações de sistemas e normas, o espaço para atuar de forma estratégica e consultiva vai se estreitando. A reforma tributária deveria vir para simplificar, mas, ao menos no curto e médio prazo, ela pode acabar aumentando essa pressão.

Não estou sendo pessimista. Sou entusiasta da mudança, mas acredito que ela só será positiva se for acompanhada de diálogo real com os profissionais da base, que são os que fazem o sistema funcionar. Precisamos de prazos razoáveis, regulamentações claras e acesso a capacitação. Do contrário, a reforma que nasceu para simplificar pode se transformar em mais um pesadelo operacional.

Finalizo com um apelo à união da classe contábil e jurídica: precisamos estar juntos, trocar experiências e nos apoiar nesse momento de transição. Só assim conseguiremos atravessar esse período com segurança e manter o foco no que realmente importa: entregar valor aos nossos clientes e contribuir para um sistema tributário mais justo e eficiente.

Daniel Sousa

Daniel Sousa

Daniel Sousa é contador, especialista em recuperação de créditos tributários e embaixador da FENT Educação

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