Advocacia: Não basta entrar no jogo, é preciso estar preparado
Advogar exige mais que diploma e OAB. Preparação técnica, prática e emocional transformam desvantagens em força real na carreira jurídica.
terça-feira, 10 de junho de 2025
Atualizado em 9 de junho de 2025 13:52
No universo jurídico, a metáfora de um torneio inusitado - onde o objetivo é dar o chute mais preciso, forte e eficaz no "traseiro" do adversário - revela uma verdade profunda sobre a prática da Advocacia. Imagine um competidor com apenas uma perna. Ele não é menos digno ou capaz, mas, para competir de igual para igual nessa modalidade, precisaria treinar mais, desenvolver técnicas e estratégias próprias. Entrar no jogo, nesse cenário, sem estar preparado, é assumir uma desvantagem objetiva.
Assim como no torneio simbólico, o advogado que limita sua preparação ao diploma, à inscrição na OAB ou ao marketing pessoal está apenas "presente no jogo", mas longe de estar competitivo. A advocacia exige muito mais que o básico: envolve equilíbrio emocional diante das pressões, força argumentativa para sustentar teses, estratégia processual na condução dos casos e uma técnica refinada em todos os atos forenses.
Segundo dados de pesquisa da FGV (2023), apenas 20% dos advogados graduados se sentem realmente preparados para lidar com a rotina prática nos três primeiros anos de profissão. Esse dado revela o abismo existente entre o ensino teórico e a realidade prática dos fóruns.
Entrar na advocacia sem investir em formação continuada é como disputar o torneio simbólico com uma perna só, sem qualquer adaptação. A prática forense - conhecimento dos ritos processuais, capacidade de leitura das entrelinhas dos despachos judiciais, e habilidade em construir relacionamentos éticos no mundo jurídico - só se adquire com estudo constante e vivência.
O estudo deve ser contínuo, ler jurisprudências, atualizar-se sobre mudanças legislativas, participar de workshops e grupos de estudo.
O desenvolvimento de soft skills é importante, a inteligência emocional para lidar com frustrações, comunicação clara com clientes e colegas, resiliência diante de derrotas processuais.
E a experiência prática é necessária e importante, o estágio, acompanhamento de audiências, simulações de sustentações orais e elaboração constante de peças processuais.
A oportunidade é para todos. Ao contrário de torneios físicos, em que algumas limitações podem ser irreversíveis, na advocacia todos podem - com dedicação - desenvolver as habilidades exigidas pela profissão. A tecnologia democratizou o acesso ao conhecimento: há cursos online de técnica processual, plataformas de simulação de audiências e comunidades jurídicas de troca de experiências. Não basta apenas querer advogar; é preciso agir como protagonista do próprio desenvolvimento.
A grande lição é clara: advogar é mais do que estar habilitado; é estar preparado. Tal como no torneio metafórico, a vantagem está na preparação específica, adaptada à realidade e aos próprios desafios. Investir em conhecimento, técnica e estratégia é o único caminho para transformar a desvantagem em competitividade - e, no caso da advocacia, não existe limitação que não possa ser superada pelo esforço e pelo aprendizado contínuo.
Stanley Martins Frasão
Advogado, sócio de Homero Costa Advogados Diretor Executivo do CESA Centro de Estudos das Sociedades de Advogados