O futuro da Justiça passa pela automação inteligente
A inteligência artificial já não é mais um conceito futurista no Direito.
sexta-feira, 11 de julho de 2025
Atualizado às 11:13
A IA já não é mais um conceito futurista no Direito. Ela é realidade presente, moldando a forma como advogados, juízes, servidores públicos e gestores jurídicos atuam e tomam decisões. O crescimento acelerado desse mercado, previsto pela consultoria Tractica (atualmente incorporada à Omdia), aponta para um salto impressionante: de US$ 22,6 bilhões em 2020 para US$ 126 bilhões em 2025. Esse dado, por si só, ilustra o tamanho da revolução em curso.
No entanto, mais do que números, o que nos interessa é compreender como essa revolução impacta o ecossistema jurídico brasileiro.
A era da eficiência: IA como estratégia jurídica
Em um cenário com mais de 83 milhões de processos em trâmite no Brasil, segundo o CNJ, a busca por soluções que melhorem a eficiência processual é mais do que legítima: é uma necessidade estrutural. Nesse contexto, a automação de tarefas repetitivas e operacionais, como leitura de intimações, extração de dados, elaboração de petições iniciais e respostas padronizadas, tem se mostrado um dos caminhos mais promissores.
Ferramentas baseadas em IA generativa, como as oferecidas por plataformas jurídicas brasileiras, têm desempenhado um papel transformador. O uso de chatbots jurídicos com capacidade de aprendizado, algoritmos de análise preditiva e robôs de atendimento automatizado está, gradativamente, migrando de iniciativas experimentais para o núcleo operacional dos escritórios e departamentos jurídicos.
De acordo com a consultoria McKinsey & Company, empresas que implementaram soluções de IA registraram aumentos de produtividade entre 20% e 40%. No setor jurídico, esse impacto é potencialmente maior, dado o volume massivo de dados, decisões repetitivas e documentos estruturados que caracterizam a rotina da advocacia.
Legaltechs brasileiras: O novo ecossistema de inovação no Direito
Desde 2023, temos assistido à consolidação de legaltechs brasileiras que se destacam não apenas pelo uso intensivo de tecnologia, mas pela proposta de democratização do acesso à Justiça.
O relatório AB2L 2024 identificou mais de 330 legaltechs ativas no Brasil, com soluções que vão desde inteligência documental até plataformas de mediação online e predição de sentenças. Trata-se de um setor em franca expansão, impulsionado não apenas por venture capital, mas principalmente pela demanda real por eficiência e escalabilidade nos serviços jurídicos.
Essas startups jurídicas operam com um mindset diferente: ao invés de ampliar o número de profissionais para lidar com a demanda, utilizam dados, automação e IA para fazer mais com menos - e com mais precisão. Isso tem desafiado não só os modelos tradicionais de escritórios, mas também o modo como o Judiciário enxerga a própria prestação jurisdicional.
Advocacia em transição: Como a automação está redefinindo os escritórios
O impacto da automação inteligente não se restringe ao contencioso. Escritórios que antes cresciam exclusivamente pelo aumento de pessoal agora se reestruturam em modelos orientados por dados, com controladorias jurídicas automatizadas, KPIs de performance individual e coletiva, painéis em tempo real e gestão financeira preditiva.
Nesse novo modelo, a figura do advogado-operário, que atua de forma artesanal, dá lugar ao advogado-gestor, que entende de processos, tecnologia, comunicação e inovação. Não é uma substituição, mas uma transição: a expertise jurídica continua essencial, mas precisa estar integrada a uma infraestrutura tecnológica.
IA e inclusão: Democratizar o acesso à Justiça
Um dos argumentos mais fortes a favor da adoção da automação inteligente no Direito é o seu potencial de democratização da Justiça. Hoje, milhares de brasileiros sequer conseguem ajuizar uma ação ou obter orientação jurídica por falta de acesso, tempo ou dinheiro. A IA, quando usada de forma ética e estratégica, pode reduzir esse gap.
Chatbots jurídicos gratuitos, plataformas de triagem automatizada de demandas, redação de petições iniciais por IA generativa e sistemas de acompanhamento de processos integrados ao WhatsApp são algumas das soluções já em uso. Esses recursos não substituem o trabalho humano, mas o potencializam, liberando os profissionais para o que realmente importa: análise crítica, criatividade e relacionamento com o cliente.
Nesse sentido, a IA não é inimiga do advogado, ela é, paradoxalmente, o caminho para torná-lo ainda mais necessário em tarefas de alto valor agregado.
Claro, nem tudo são flores. O uso de IA no Direito suscita desafios relevantes, especialmente no que se refere à ética, responsabilidade civil e proteção de dados. Quem responde por uma decisão automatizada incorreta? Como garantir que os algoritmos respeitem o devido processo legal? Qual o limite da automação na atuação judicial?
Essas questões exigem regulação séria e participação ativa das ordens profissionais, conselhos e associações de magistrados. O uso da IA precisa ser transparente, auditável e orientado por princípios constitucionais, como dignidade da pessoa humana, ampla defesa e contraditório.
No Brasil, o debate está apenas começando. Mas é fundamental que não percamos tempo discutindo se a tecnologia é "boa" ou "ruim": o foco deve estar em como utilizá-la de forma responsável, estratégica e inclusiva.
A Justiça do futuro é a Justiça do agora
A pergunta que se impõe não é mais "se" o ecossistema jurídico adotará a inteligência artificial, mas "como" o fará - e com que velocidade. A história já mostrou que as revoluções tecnológicas não esperam pelos indecisos. Como bem disse Peter Drucker, "a melhor forma de prever o futuro é criá-lo". No campo jurídico, criar esse futuro passa por abraçar a automação inteligente não como um substituto, mas como um aliado estrutural da Justiça eficiente, acessível e humana.
O setor que hoje hesitar em adotar soluções como jurimetria, IA generativa, automação de fluxo e atendimento robotizado, corre o risco não apenas de perder competitividade, como também de se tornar irrelevante em um cenário em que os dados, a agilidade e a escalabilidade são os novos imperativos do sucesso jurídico.
Ao incorporar IA generativa em sua estrutura e promover um modelo de gestão orientado por dados, plataformas dão um exemplo prático de como essa transformação pode ser feita com responsabilidade, eficiência e, sobretudo, compromisso com a democratização da Justiça.