O Judiciário escuta? Intérprete destaca importância das Libras
Denise Perissini destaca que Brasil tem mais de 10 milhões de pessoas surdas.
Da Redação
sexta-feira, 2 de maio de 2025
Atualizado às 06:50
Garantir o acesso pleno à Justiça é um dever do Estado - e isso inclui assegurar a comunicação entre o Judiciário e os cidadãos surdos. Nesse cenário, o trabalho de intérpretes de Libras é essencial para promover a inclusão e a cidadania. A intérprete Denise Perissini, que também é psicóloga especializada em psicologia jurídica, compartilhou, em entrevista ao Migalhas, detalhes sobre sua trajetória e os desafios dessa atuação.
Confira:
O interesse pela Língua Brasileira de Sinais nasceu cedo para Denise. Sem ter surdos na família, ela conta que sempre foi fascinada pela comunicação visual: "Eu sempre via os surdos conversando. Ficava vidrada, olhando. Um dia eu queria chegar nisso." Movida pela paixão, buscou formação e se especializou.
Atuar como intérprete no Judiciário, ela explica, é um direito fundamental da população. "O surdo, vítima ou testemunha, precisa ter pleno acesso à Justiça. Muitas vezes, é uma questão de dignidade. Sem intérprete, provas importantes podem ser perdidas, como já vi acontecer."
Apesar da relevância da função, Denise destaca que a realidade da remuneração ainda é desafiadora. Como o pagamento geralmente é arbitrado pela Justiça ou depende da Defensoria Pública, os valores podem ser baixos e os recebimentos, demorados. "Se eu colocar na ponta do lápis, em termos materiais, muitas vezes eu não saio de casa. Já recusei convites por conta disso", desabafa.
A intérprete também chama atenção para a necessidade de mais valorização da Libras no Brasil.
"Temos 10 milhões de surdos no país. É muito mais provável encontrar um surdo do que um estrangeiro que fale inglês. Ainda assim, a Libras não é priorizada nos currículos escolares. Isso precisa mudar."
Com a força de suas mãos e a sensibilidade do olhar, Denise exemplifica o impacto de uma comunicação acessível e humana no sistema de Justiça. Para ela, Libras é mais do que uma língua: é cidadania.