Guerra por Eldorado Celulose chega ao fim com acordo entre Paper e J&F
Após sete anos de litígios judiciais e arbitrais, J&F compra participação da Paper Excellence na Eldorado Celulose por US$ 2,6 bilhões, encerrando uma das maiores disputas corporativas da história recente do país.
Da Redação
sexta-feira, 16 de maio de 2025
Atualizado às 11:00
Um dos maiores embates empresariais do Brasil chegou ao fim nesta quinta-feira, 15. A disputa entre a J&F Investimentos e a Paper Excellence, do empresário indonésio Jackson Wijaya, pela Eldorado Celulose, se encerra com um acordo que envolveu a recompra da participação da companhia estrangeira na produtora de celulose.
A J&F adquiriu os 49,41% que estavam com a Paper, pelo valor de US$ 2,64 bilhões (valor estimado em aproximadamente R$ 15 bilhões). A transação leva a J&F a ser a única acionista da Eldorado.
Ao longo de quase uma década, o caso percorreu uma trajetória complexa, marcada por idas e vindas na Justiça, arbitragem internacional e acusações mútuas.
Agora, com a negociação final, todos os envolvidos saem com algum ganho - inclusive o Judiciário, que se livra de um processo caro, de grande porte e longa duração.
Em comunicado conjunto, a J&F e a Paper Excellence afirmaram que a transação "atende plenamente aos interesses de ambas as partes e põe fim, de forma plena e definitiva, a todos os processos judiciais e arbitrais em curso".
"A J&F demonstra, com esse investimento, a sua confiança no Brasil e na Eldorado. A Paper Excellence seguirá explorando oportunidades no setor de celulose e papel."
O valor final do acordo veio pouco abaixo do que vinha sendo discutido. Segundo o jornal O Globo, o valor começou a ser acordado em US$ 2,9 bilhões (R$ 16,3 bilhões). Na reta final, foi reduzido para US$ 2,7 bilhões (R$ 15,2 bilhões) e o contrato foi firmado por US$ 2,64 bilhões (R$ 15 bilhões).
Entenda o histórico da disputa
O imbróglio começou em 2017, quando a J&F negociou a venda da Eldorado Celulose à Paper Excellence. A transação previa a transferência da empresa por R$ 15 bilhões, incluindo o passivo de R$ 7,4 bilhões. Inicialmente, a Paper, por meio de sua subsidiária no Brasil, adquiriu 49,41% das ações e pagou R$ 3,8 bilhões. O restante do valor iria ser depositado, com previsão de conclusão do negócio em até um ano.
O acordo, contudo, não se concretizou. A transferência da parcela restante foi judicializada no ano seguinte, e o relacionamento entre as partes se deteriorou quando o China Development Bank, que financiaria a operação, abandonou a negociação. A Paper acusou a J&F de dificultar a liberação de garantias e o pagamento das dívidas, enquanto a J&F alegava descumprimento contratual por parte da empresa estrangeira.
Em paralelo, surgiram questionamentos sobre a legalidade da posse de terras brasileiras por uma companhia controlada por estrangeiros. A Paper, embora registrada no Brasil, é vinculada ao empresário indonésio de origem chinesa Jackson Widjaja.
A legislação nacional exige que terras rurais sob controle estrangeiro passem pelo crivo do Incra e, em casos mais amplos, do Congresso Nacional - o que se tornou objeto de análise do TRF-4 em 2023.
Arbitragem, decisões judiciais e disputas de espaços
Sem consenso, o caso foi levado à arbitragem em 2021, onde a Paper saiu vitoriosa. Ainda assim, a J&F questionou a suposta parcialidade de um dos árbitros e levou o tema de volta ao Judiciário paulista. A Justiça suspendeu a transferência do controle da Eldorado e, em seguida, houve uma sequência de decisões (ora determinando a transferência do controle da empresa, ora barrando a operação) que postergaram a resolução.
No início de 2025, a disputa ganhou novo capítulo quando a Paper baldadamente buscou US$ 3 bilhões em indenização junto à Câmara de Comércio Internacional, em Paris.
Enquanto isso, no Brasil, o TJ/SP entendeu que o caso deveria retornar à 1ª instância. Aliás, foi esta última vitória da empresa brasileira, com atuação do advogado e ex-ministro Cesar Asfor Rocha na Corte bandeirante, que foi decisiva para destravar o acordo.
Acordo final e encerramento da disputa
Agora, em maio, com a assinatura do acordo, a J&F retoma integralmente o controle da Eldorado. A recompra ocorre em um cenário mais favorável à empresa brasileira, dado o aumento do valor patrimonial da companhia, influenciado pela valorização cambial e pelo preço da celulose.
Ao fim e ao cabo, todos os envolvidos buscam virar a página - e a Eldorado Celulose retorna completamente ao controle da J&F.
Além de pôr fim à disputa societária, o acordo alivia o Judiciário de um caso bilionário e complexo, que há anos mobiliza advogados, árbitros e magistrados em várias frentes.