Barroso faz balanço da gestão e destaca menor acervo do STF desde 1993
Presidente também ressaltou políticas de inclusão, sustentabilidade e avanços tecnológicos no Judiciário.
Da Redação
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
Atualizado às 18:26
Ministro Luís Roberto Barroso, que deixa a presidência do STF no próximo dia 29, apresentou, em sessão plenária, nesta quinta-feira, 25, balanço das principais iniciativas conduzidas durante o período à frente da Corte e do CNJ.
O discurso destacou eixos como integridade do Judiciário, racionalização da litigiosidade, promoção de direitos fundamentais, sustentabilidade, tecnologia, comunicação social e relações institucionais.
- Veja a íntegra do relatório.
Padrão nacional de magistratura
Barroso destacou a criação do ENAM - Exame Nacional da Magistratura, que já habilitou 16 mil candidatos, entre eles 4,5 mil negros, 1,6 mil pessoas com deficiência e 30 indígenas.
"Com o exame nacional vamos criar um padrão de magistratura, eliminar rumores de coisas erradas e tornar o Judiciário mais feminino e diverso", afirmou.
No mesmo espírito, foi instituído o Exame Nacional de Cartórios, que permitiu, após 36 anos da Constituição, o primeiro concurso em Alagoas.
Redução da litigiosidade
Entre as medidas, destacou-se a exigência do protesto da dívida ativa antes da execução fiscal, que levou à extinção de 13 milhões de processos e reduziu em um terço o acervo nacional.
Também foram encerradas ações sem movimentação útil e execuções fiscais inferiores a R$ 10 mil.
No STF, houve queda de quase 19% no estoque processual, alcançando o menor patamar desde 1993.
Na seara trabalhista, homologação judicial de termos de rescisão passou a impedir ações posteriores; no previdenciário, houve adoção da teleperícia e fluxos unificados.
Em inventários, foi autorizada a via cartorial mesmo com menores, com participação do MP. O resultado geral foi a redução de 3,5 milhões de processos no Judiciário.
Veja:
Direitos fundamentais e justiça social
A gestão consolidou a resolução de paridade de gênero nas promoções por merecimento, garantindo que, após promoção de um homem, a vaga seguinte seja obrigatoriamente de uma mulher. Já foram promovidas 31 magistradas em todo o país.
Outras medidas incluíram:
- Protocolo de julgamento com perspectiva racial;
- Programa de bolsas a candidatos negros à magistratura (com bolsas de R$ 3 mil e vagas em cursos preparatórios, financiados pela iniciativa privada);
- Retificação das certidões de óbito de vítimas da ditadura e da chacina de Acari, ocasião em que Barroso pediu desculpas em nome do Estado brasileiro.
O Judiciário também destinou R$ 200 milhões de penas pecuniárias à Defesa Civil do RS, em resposta às enchentes.
Confira:
Sustentabilidade e inovação
Foi firmado o pacto pela transformação ecológica entre os três Poderes.
O CNJ passou a exigir de todos os tribunais inventário, redução e compensação de emissões de carbono, com meta de neutralidade até 2030.
O STF já alcançou carbono zero, com iniciativas como eliminação de plásticos, frota híbrida, usina solar fotovoltaica e plantio de árvores.
Na área de tecnologia, criou-se o Portal de Serviços do Judiciário, que unificou o acesso para usuários e permitiu consulta processual nacional, peticionamento eletrônico e domicílio judicial eletrônico para empresas.
Foram aprimorados o SNIPER (busca patrimonial) e criado o SisPreq (gestão digital de precatórios e RPVs). Também houve piloto para bloqueio e liquidação de criptoativos.
No STF, avançou-se na digitalização de processos sigilosos e no uso de IA, com a ferramenta "MarIA" produzindo minutas-padrão, relatórios e resumos.
Barroso ressaltou, contudo, a necessidade de cautela: "em nenhuma hipótese o juiz pode abdicar do dever de decidir".
Comunicação e transparência
A Presidência passou a divulgar resumos em linguagem simples de julgamentos do Plenário e firmou o Pacto pela Linguagem Simples com 90 tribunais.
As ementas foram padronizadas em quatro parágrafos (caso, questão jurídica, razões de decidir e dispositivo/tese).
O STF lançou o app da TV Justiça, criou canal no WhatsApp (premiado em 2024) e uma aba de casos relevantes no site, com 50 decisões resumidas em português, inglês e espanhol.
Foram instituídas a Ouvidoria do STF e a Ouvidoria da Mulher, além de campanhas contra a violência doméstica, com destaque para ações no arquipélago do Marajó.
Relações institucionais e internacionais
Barroso promoveu diálogos com magistrados em 20 Estados, palestras em escolas e ampliou programas de cidadania.
No âmbito internacional, o STF sediou o encontro de Supremas Cortes do G20 e de presidentes de Cortes latino-americanas, além de visitas a cortes de países como EUA, França, Alemanha, Índia e Japão.
Entre acordos celebrados, destacou o de R$ 170 bilhões no caso Mariana, a instalação de 15 mil câmeras corporais na PM de SP e a solução para a disputa da Linha Amarela no Rio.
Julgamentos emblemáticos
O balanço elencou casos de grande repercussão julgados em dois anos, como:
- Descriminalização do porte de maconha para uso pessoal;
- Responsabilidade civil de plataformas digitais;
- Estado de coisas inconstitucional no sistema prisional;
- Letalidade policial no RJ;
- Transporte gratuito em dias de eleição;
- Omissão na regulação da licença-paternidade;
- Proteção da Amazônia e do Pantanal;
- Critérios para fornecimento de medicamentos fora do rol da ANS;
- Transparência em emendas parlamentares;
- Prisão após condenação pelo Tribunal do Júri;
- Desintrusão de terras indígenas;
- Acesso de pessoas trans a políticas públicas de saúde;
- Direito à licença-maternidade em cargos temporários.
Itinerância e governança
O CNJ também promoveu a itinerância cooperativa, levando atendimento em áreas como saúde, previdência e cidadania a locais remotos, como Humaitá, Lábrea, Chapuri e Boca do Acre, com mais de 25 mil atendimentos. Barroso relatou visitas a comunidades do Vale do Javari, aldeias Yanomami e ao Quilombo dos Palmares.
Na governança do STF, foram implementados estudos de impacto econômico em ações, sessões específicas de sustentação oral, atualização do regimento interno e retorno do julgamento das ações penais às turmas.
Também foi ampliado o programa contra desinformação, inaugurado o Espaço Servidor, ampliado o berçário e avançada a obra do Museu do STF.
No CNJ, foi concluída a aquisição de sede própria, realizado concurso público com 84 nomeados e criado um fundo financiado por 1% dos fundos especiais estaduais para custear serviços de tecnologia.
Símbolos e democracia
Barroso encerrou ressaltando o simbolismo da iluminação do STF nas cores verde, amarela e azul.
"A democracia tem lugar para liberais, conservadores e progressistas. Ninguém é dono da bandeira, nem das cores nacionais, assim como ninguém tem o monopólio da verdade, da virtude ou do amor ao Brasil", afirmou.
Assista: