Migalhas de Peso

Difamação pós-impeachment

Estratégia de muitos militantes políticos e da própria defesa do ex-presidente Lula foi atacar a reputação do país perante a comunidade internacional.

20/9/2018
Fábio Medina Osório

O discurso de ódio difundido no processo eleitoral de 2018 tem sido muito estimulado por aqueles que agridem a imagem do Brasil no exterior, chamando nosso país de uma espécie de regime autoritário disfarçado de democracia.

 

Esse virulento ataque ao Brasil pode confundir a opinião pública internacional, pois de fato existem algumas "democracias de fachada", onde as instituições são fracas e os processos representativos e fiscalizadores, precários.

 

Desde o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, a estratégia de muitos militantes políticos e da própria defesa do ex-presidente Lula foi atacar a reputação do país perante a comunidade internacional, como forma de retirar-lhe a legitimidade para o julgamento judicial.

Questionaram-se a imparcialidade e a independência do Poder Judiciário, bem assim como o respeito aos direitos humanos pelos tribunais brasileiros. Incentivou-se o descumprimento de decisões judiciais como fórmula de resistência "democrática".

 

Consumado o impedimento, a campanha internacional prosseguiu, com força crescente. Hoje, há muita desconfiança em relação às instituições brasileiras no exterior, por conta do poderio dessa militância persistente que sustenta a tese do "golpe de Estado". Essa campanha selvagem infiltrou-se até mesmo nas instituições de ensino estrangeiras e nacionais.

 

Acredito que muitos subestimaram os efeitos e a extensão dessa jornada internacional de difamação deflagrada contra o Brasil. De certo modo, alimentou-se um ódio interno e uma divisão ainda maior na sociedade brasileira. Se houve um golpe, poderia haver também "revolucionários" que estariam legitimados a resistir ao golpe fora da institucionalidade. Eis uma consequência lógica desta tese absurda.

 

Um golpe de Estado remete à antítese de democracia e à violação de direitos humanos. Justifica, talvez, e para muitos, um direito à violência contra um Estado ilegal, autorizando até mesmo a luta armada como forma de resistência.

 

Todavia, o que ocorreu no Brasil foi um julgamento dentro da normalidade de uma presidente da República por crimes de responsabilidade e um julgamento do ex-presidente Lula e de muitos outros políticos por crimes comuns no âmbito da operação Lava Jato.

 

Adotar, nesses casos, como estratégia de defesa — inclusive com uso de recursos públicos — a desconstrução da imagem do Brasil é inaceitável. Esse discurso fomentou extrema polarização no cenário político-eleitoral pátrio, favorecendo tendência mundial e das redes sociais. Ponto culminante dessas relações de ódio foi o atentado ao candidato Jair Bolsonaro, perpetrado por um ex-filiado ao PSOL. Se consumado o homicídio, haveria indelével mácula no processo eleitoral. Motivação claramente política do criminoso.

 

A democracia brasileira é uma realidade, e nossas instituições funcionam. O atual presidente da República, mesmo investigado e denunciado, escolheu integrante da lista tríplice do MPF para ser procuradora-geral da República, quando a Constituição de 1988 lhe permitiria livre escolha dentre os membros do Ministério Público da União. Nenhum político está acima da lei. Se houve embaraços à Lava Jato, vieram à tona e foram corrigidos a tempo. Os obstáculos certamente existem, e a sociedade precisa ficar atenta. O Poder Judiciário brasileiro vem mostrando total independência. Empresários poderosos têm sido atingidos por operações policiais. Temos uma imprensa livre e crítica. Uma democracia não se faz apenas nas eleições, mas também nos controles permanentes sobre os governantes. Daí porque os processos de impeachment constituem decorrência do princípio republicano. E a reação de grandes líderes à operação Lava Jato não poderia ser a destruição da imagem do Brasil no exterior.

 

__________

*Fábio Medina Osório é advogado e sócio do escritório Medina Osório Advogados.

Fábio Medina Osório

Advogado sócio do Medina Osório Advogados. Doutor em Direito Administrativo pela Universidade Complutense de Madri, Espanha. Mestre em Direito Público pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ex-Ministro da Advocacia-Geral da União. Presidente da Comissão Especial de Direito Administrativo Sancionador da OAB. Presidente do Instituto Internacional de Estudos de Direito do Estado (IIEDE).

Veja a versão completa