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Em carta a Moraes, mulher se desculpa por pintar estátua; veja íntegra

Cabeleireira presa por atos de 8 de janeiro diz que perdeu "muito mais do que a liberdade"

27/3/2025

A cabeleireira Débora Rodrigues, presa durante os atos de 8 de janeiro de 2023 — data que ficou conhecida como o Dia da Infâmia —, enviou uma carta ao ministro Alexandre de Moraes pedindo perdão pela invasão à Praça dos Três Poderes. No documento, ela classificou sua conduta como "um momento de impulso". Débora ganhou notoriedade por ter pintado, com batom, a estátua da Justiça que fica em frente ao STF.

No documento manuscrito, datado de 6 de outubro de 2024, a mulher de 39 anos diz que foi a Brasília com a intenção de participar de uma manifestação pacífica e que, ao se aproximar da estátua, um homem — que ela afirma não conhecer — começou a escrever uma frase e pediu que ela a terminasse, pois sua letra era ilegível. "Talvez me faltasse malícia para rejeitar o convite, o que não justifica minha atitude", afirmou.

Ela se apresenta como "uma cidadã comum e simples" e afirma que jamais compactuou com violência ou ilegalidades. Ao ministro, escreveu: "Sou uma mulher cristã [...], sempre mantive minha conduta ilibada".

Na carta, alega que não sabia do valor simbólico da escultura nem de seu custo, estimado em dois milhões de reais.

"Se eu soubesse a importância daquela estátua, jamais teria a audácia de sequer encostar nela."

Débora relatou as consequências da prisão para sua vida pessoal. Disse que, ao longo de um ano e sete meses de reclusão, perdeu "momentos que nunca mais voltarão" com os filhos, como "a troca dos dentinhos de leite" e "anos letivos".

"Meus filhos estão sofrendo muito, choram todos os dias por minha ausência, passam por psicólogos a fim de ajudá-los a organizar os sentimentos", lamentou. "Perdi muito mais do que a minha liberdade", escreveu.

A remetente diz se envergonhar do ocorrido e manifesta desejo de se afastar da política. "Hoje tenho aversão às políticas e quero ficar o mais distante possível disso tudo", disse.

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No encerramento da carta, faz um apelo: "Termino essa carta na esperança de que essa demonstração sincera do meu arrependimento possa ser levada em consideração por Vossa Excelência".

Débora dos Santos, conhecida por pintar estátua da Justiça com batom em 8/1/23, escreveu carta ao ministro Alexandre de Moraes.(Imagem: Gabriela Biló/Folhapress)

Relembre

Débora está presa desde março de 2023, após ser detida na oitava fase da Operação Lesa Pátria, deflagrada pela PF para investigar os participantes e financiadores dos atos golpistas.

A PGR apresentou denúncia contra Débora em julho do ano passado, e imputou à investigada os crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima, além de deterioração de patrimônio tombado.

Ao votar, Moraes, relator do caso, propôs pena de 14 anos. Após, o ministro Luiz Fux pediu vista do processo para reavaliar a dosimetria.

Pena proposta

Após ser publicizado o voto de Alexandre de Moraes propondo pena de 14 anos, pulularam pelas redes sociais comentários no sentido de que a pena seria exagerada.

Mas, cabe esclarecer um ponto. A pena foi fixada por cinco crimes, sendo o vandalismo na estátua apenas um deles.

Os crimes de abolição violenta do Estado Democrático e Golpe de Estado receberam as maiores penas: 4 anos e 6 meses, e 5 anos, respectivamente.

Veja a versão completa

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