Em sua última semana de vida, o Papa Francisco fez uma doação pessoal de 200 mil euros (cerca de R$ 1,2 milhão) a uma penitenciária em Roma, na Itália. Esses seriam seus últimos bens. A informação foi revelada pelo bispo Benoni Ambarus naquarta-feira, 23, e divulgada pela agência de notícias italiana Ansa.
O bispo é diretor do escritório para pastoral carcerária e encarregado de assuntos de caridade em Roma. Segundo Ambarus, a doação foi destinada a uma fábrica de massas no centro de detenção juvenil Casal del Marmo.
Preocupado desde o início do pontificado com os reclusos, o Papa Francisco manteve-os como figuras centrais da sua missão como líder da Igreja Católica até o último momento.
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Lava-pés
Em março de 2024, o Papa visitou a Penitenciária Feminina de Rebibbia, em Roma. Na visita, repetiu o gesto de Jesus na Santa Ceia e lavou e beijou os pés de 12 detentas. Na homilia, sem texto escrito, falou improvisadamente sobre o episódio, destacando que Jesus se humilhou fazendo entender que “veio para servir”. Em 2015, o pontífice visitou o setor masculino do presídio para a mesma celebração.
Em dezembro de 2024, Francisco participou da abertura da Porta Santa do Jubileu 2025 na mesma penitenciária. Na ocasião, teria incentivado os presos a não perderem a esperança e a manterem as portas e os corações abertos.
Ressocialização
A Abracrim – Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas enalteceu o gesto inspirador de Sua Santidade em favor da ressocialização de pessoas privadas de liberdade.
“A atitude do Sumo Pontífice transcende qualquer simbolismo religioso, afirmando um valor universal de justiça, compaixão e compromisso com a dignidade humana, especialmente daqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade e exclusão.”
Veja a nota:
A ABRACRIM, por sua diretoria nacional e presidências estaduais, vem a público enaltecer o gesto humanitário e inspirador do Papa Francisco, que, em seus últimos dias de vida, destinou a totalidade de seus bens pessoais a projetos sociais voltados à ressocialização de pessoas privadas de liberdade, em prisões e centros de detenção juvenil em Roma.
A atitude do Sumo Pontífice transcende qualquer simbolismo religioso, afirmando um valor universal de justiça, compaixão e compromisso com a dignidade humana, especialmente daqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade e exclusão. Ao direcionar seus recursos para iniciativas de capacitação e reinserção social no sistema prisional, o Papa Francisco reafirma a importância da função ressocializadora da pena, conforme proclamado nos instrumentos internacionais de direitos humanos e em diversas constituições democráticas.
A Abracrim, que tem entre suas missões institucionais a defesa intransigente das garantias fundamentais, reconhece e louva este gesto como um verdadeiro testemunho de fé no ser humano e na possibilidade real de recomeços. Acreditamos firmemente que a ressocialização deve ser pilar estruturante de qualquer política penal responsável, sendo inaceitável a lógica puramente punitivista que perpetua a marginalização e impede a reconstrução dos laços sociais.
Ao destacar a relevância dos projetos de reintegração social, o Papa Francisco lança luz sobre um dos maiores problemas da sociedade contemporânea: o abandono do sistema carcerário, a indiferença em relação à vida e ao retorno à sociedade daqueles que nele estão.
Seu gesto nos convoca à reflexão e à ação, e nos fortalece na luta por uma justiça penal verdadeiramente transformadora e humanizada.
Curitiba/PR, 24 de abril de 2025.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS ADVOGADOS CRIMINALISTAS
ABRACRIM