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Veja íntegra da decisão que ordenou tornozeleira a Bolsonaro

Ministro Alexandre de Moraes apontou atuação coordenada entre Jair e Eduardo Bolsonaro para coagir autoridades brasileiras e instigar sanções dos EUA contra o país.

18/7/2025

Ministro Alexandre de Moraes determinou nesta sexta-feira, 18, a imposição de medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro.

A decisão de 47 laudas foi divulgada pelo STF.

Nela, o ministro aponta que Bolsonaro atuou de forma coordenada com o filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro, para obstruir o curso da ação penal em trâmite no STF e tentar submeter a Corte ao "crivo de outro Estado", por meio de atos hostis promovidos com apoio do governo dos Estados Unidos.

A decisão será submetida a referendo da 1ª turma do STF, no plenário virtual, que será iniciado ainda nesta sexta-feira, 18, a partir do meio-dia. Os ministros terão até a próxima segunda-feira, 21, para votar.

Ministro Alexandre de Moraes determinou cautelares contra Bolsonaro.(Imagem: Lula Marques/Agência Brasil)

Segundo o ministro relator, há provas suficientes da prática dos crimes de:

A decisão sustenta que Jair Bolsonaro, mesmo após encerrada a instrução processual da AP 2.668, persistiu em "atuar dolosa e conscientemente" com o filho para criar instabilidade institucional, intimidar autoridades públicas e induzir a aplicação de sanções contra o Brasil por parte do governo norte-americano.

O documento cita, entre as provas, postagens, declarações públicas e a confissão do próprio Jair Bolsonaro sobre a transferência de R$ 2 milhões ao filho, em maio de 2025, quando Eduardo já estava nos EUA articulando com o governo estrangeiro medidas contra o Brasil.

A PF considerou essas ações como parte de uma "campanha criminosa para obstruir o andamento da ação penal" e influenciar politicamente o STF.

Envolvimento de autoridades estrangeiras

A investigação também aponta o envolvimento direto do presidente dos EUA, Donald Trump, que publicou mensagens públicas criticando o julgamento de Jair Bolsonaro e anunciando tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.

A defesa da aplicação da chamada "Lei Magnitsky" (legislação americana que permite sanções contra agentes públicos estrangeiros) também teria sido promovida por Eduardo Bolsonaro nas redes sociais. 

Moraes destacou a tentativa de Jair Bolsonaro de "condicionar o fim da taxação/sanção à sua própria anistia" como elemento que comprova a "atuação criminosa escancarada e despudorada" para constranger o STF.

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 Medidas impostas

Com base na gravidade das condutas e na necessidade de garantir a ordem pública, a instrução criminal e a aplicação da lei penal, Alexandre de Moraes impôs medidas cautelares.

Bolsonaro está proibido de ausentar-se da comarca onde reside, devendo cumprir recolhimento domiciliar noturno das 19h às 6h de segunda a sexta-feira, e integralmente nos fins de semana, feriados e dias de folga. 

Também foi determinada a proibição:

Foram autorizadas buscas nos endereços residenciais e profissionais de Bolsonaro, visando apreender aparelhos eletrônicos, documentos e valores em espécie superiores a R$ 10 mil e acesso autorizado a dados armazenados em nuvem, e-mails e sistemas digitais, inclusive com arrombamento de cofres e portas, se necessário. 

A decisão também permite busca em veículos e hospedagens temporárias e orienta a PF a evitar exposição midiática de Bolsonaro durante o cumprimento das diligências.

 Defesa da soberania e do Judiciário

O voto de Alexandre de Moraes invoca expressamente o art. 1º, I, da CF, segundo o qual a soberania nacional é fundamento da República.

O ministro encerra com uma citação de Machado de Assis "A soberania nacional é a coisa mais bela do mundo, com a condição de ser soberania e de ser nacional", para reforçar que o STF "não permitirá que seu funcionamento seja submetido ao crivo de outro Estado".

Réu no STF

O ex-presidente Jair Bolsonaro é réu no STF (AP 2.668), acusado de liderar uma organização criminosa envolvida na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A ação penal chega em sua fase final e se aproxima do julgamento. As alegações finais da PGR foram apresentadas na última segunda-feira, 14, e pedem a condenação do político.

Segundo a PGR, Bolsonaro integra o chamado "núcleo 1" do grupo e teria articulado, direta e indiretamente, ações para impedir a posse do presidente eleito, inclusive incentivando manifestações golpistas e questionando o sistema eleitoral.

A PGR imputa a Bolsonaro os crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Além disso, o órgão pede sua condenação com pena de prisão.

Veja a versão completa

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