O juiz Federal aposentado Odilon de Oliveira, conhecido pela atuação contra o narcotráfico na fronteira entre Brasil e Paraguai, revelou que vive "sob ameaça" sem escolta policial desde 2019.
A proteção havia sido concedida em 1998, quando passou a ser alvo de ameaças de morte de facções criminosas, e permaneceu por duas décadas.
Após sua aposentadoria, em dezembro de 2017, a segurança 24 horas foi mantida por pouco mais de um ano, sendo definitivamente suspensa em fevereiro de 2019.
Desde então, Odilon afirma ter recorrido à Justiça para obter ao menos escolta parcial - três vezes por semana, durante algumas horas do dia, para atividades externas -, mas ainda não conseguiu garantir a medida.
"Juntei cerca de três quilos de documentos que comprovam ameaças, planos de execução e até um atentado que sofri em Ponta Porã/MS", relatou em entrevista ao programa Globonews Mais.
Natural de Mato Grosso do Sul, o magistrado construiu sua carreira na Justiça Federal de Ponta Porã, um dos principais corredores do tráfico de drogas e armas da América do Sul. Sua atuação o colocou na linha de frente do combate às facções, tornando-se alvo de constantes emboscadas e planos de execução.
Responsável por conduzir investigações e ordenar a prisão de chefes do tráfico, entre eles Fernandinho Beira-Mar, Odilon afirmou que tem "implorado ao Conselho Nacional de Justiça" pela retomada de algum tipo de segurança institucional.
Histórico
A situação de risco vivida por Odilon de Oliveira não é nova.
Em 2007, reportagem da revista IstoÉ, repercutida pelo Migalhas, já relatava que o magistrado vivia praticamente recluso em razão das ameaças do tráfico.
Na ocasião, as mais de 100 condenações proferidas contra traficantes levaram facções a colocar sobre ele planos de morte, tendo sua "cabeça" avaliada em até US$ 300 mil.
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Segundo a publicação, o juiz passou meses dormindo dentro do fórum de Ponta Porã e chegou a residir em quartéis militares para se proteger.
Sua rotina era marcada por vigilância constante: nove agentes da Polícia Federal viviam em sua casa, acompanhando-o em todas as atividades. Até para caminhar, era necessário recorrer a áreas militares sob escolta.
"Estou preso como os traficantes, a única diferença é que as chaves de minha prisão estão comigo", disse em entrevista naquela época. Apesar das restrições, mantinha a disposição de avançar contra o crime organizado, destacando que sua estratégia era "quebrar o braço financeiro" das facções.