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O legado ambiental do Papa Francisco

domingo, 27 de abril de 2025

Atualizado em 25 de abril de 2025 12:50

O Papa Francisco, reconhecido pelo seu espírito despojado, incorporando a humildade franciscana em seus atos, preocupou-se não só com o avanço da biotecnologia, como, também, com o ser humano, visto tanto na sua individualidade, como na sua contextualização coletiva. Com tal iniciativa demonstrou, ao longo de seu pontificado, um interesse desmedido em abrir novos canais para que a Igreja pudesse dialogar com as mais recentes tecnologias que vão, a passos rápidos, invadindo e se assenhorando do universo, influenciando diretamente a vida do homem. Não só o aparato tecnológico, como, também, muitos outros temas relevantes afastados até então da preferência cristã, como, por exemplo, a aproximação e o acolhimento dos homossexuais, refletido no documento Instrumentum Laboris que, pela primeira vez, usou a sigla LGBT, além do interesse em abrigar as famílias irregulares, principalmente as privações estabelecidas aos divorciados.

Dentre inúmeras ações merece especial destaque a iniciativa papal de proclamar uma tutela ordenada ao meio ambiente. A transformação provocada na humanidade abriu espaço para que a Igreja se ajustasse diretamente às questões que gravitam com mais intensidade, exigindo uma postura mais condizente com a realidade humana.

Tanto é que teve aceitação global a Carta Encíclica Laudato Si, de iniciativa do Papa Francisco, cuja mensagem é a união de toda família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral. O Bispo de Roma assim se manifestou na oportunidade: "Lanço um convite urgente para renovar o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós".1

Pode-se até dizer que a salvadora expressão "desenvolvimento sustentável", entendida hoje na sua interpretação mais extensiva, cunhada com a intenção de balizar as intervenções do homem no meio ambiente, provocou uma nova responsabilização social e desencadeou o interesse para que várias comunidades mundiais assinassem compromissos e convenções para estancar ou até mesmo tutelar a vida e a saúde das pessoas, além de evitar danos irreversíveis ao próprio ambiente, provocados pela prática indevida das atividades econômicas.

Todos os povos, notadamente os chefes de Estado, já se certificaram que é impossível um crescimento ilimitado num mundo dotado de recursos finitos e esgotáveis. A natureza não possui a capacidade ilimitada de prover a economia e daí a necessidade do acesso ecologicamente equilibrado e da exploração racional das riquezas naturais.

O brado de alerta anunciado no documento papal fez com que novos olhares fossem direcionados para um tema de tamanha importância - a humanidade, decisivamente, não pode continuar sugando o capital natural do planeta além da sua capacidade de renovação e de regeneração dos estoques de bens - e que até hoje garantem a sobrevivência de todos os seres na Terra. Problemas comuns a todos os povos demandam soluções concretas globais.  As nações, nas suas individualizadas posturas, pretendem se adequar e ajustar ambientalmente as suas políticas públicas às práticas cotidianas de proteção e conservação do patrimônio ecológico mundial. Os governantes sabem que não é mais possível qualquer postergação. A natureza já está respondendo e cobrando, indistintamente, preço elevado para tamanho descaso.

Aquilo que deveria ser uma casa comum, representando o condomínio mundial ou patrimônio comum, a res communis omnium, passa a ser um objeto de fruição imediata, tratando a natureza como se máquina fosse podendo montá-la e desmontá-la, de acordo com as necessidades e conveniências do modelo econômico.

Tamanho continua sendo o reflexo da Encíclica do Papa Francisco que a Campanha da Fraternidade deste ano tem como tema principal a Fraternidade e a Ecologia Integral, cuja proposta foi abraçada pela Igreja Peregrina, assim chamada pelo Concílio Vaticano II.

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1 Papa Francisco. Laudato Si'. Paulus Editora, Edições Loyola Jesuítas, 2015, p. 16.