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A leitura do DNA do brasileiro

domingo, 25 de maio de 2025

Atualizado em 23 de maio de 2025 12:07

Para o historiador, é importante garimpar todas as informações a respeito do fato que pretende pesquisar; é como se fosse um arqueólogo que utiliza métodos científicos em busca de vestígios que possam transmitir os hábitos e culturas que, com o passar do tempo, deixaram de existir.

Aplica-se a mesma regra àqueles pesquisadores científicos que procuram desvendar a genética humana. Assim como a história do Brasil é importante para o conhecimento do país, vez que relata todos os acontecimentos relevantes até os dias atuais, o conhecimento do genoma da população é igualmente necessário para desvendar as informações genéticas que apontem as características do povo. Na realidade, em razão da tecnologia cada vez mais apurada, estamos diante da identidade externa, que é constatada com mais facilidade e a interna, que é justamente a coleta científica de informações genéticas de um grupo.

O projeto "DNA do Brasil", assim conhecido, liderado pelos pesquisadores da USP, coletou importantes informações a respeito do DNA do povo brasileiro e já mereceu publicação feita recentemente pela revista Science.

O objetivo da pesquisa é conhecer os fatores genéticos do povo brasileiro para compreender as doenças mais prevalentes e atuar preventivamente, formando uma verdadeira arquitetura do genoma pátrio onde serão encontrados indicadores clínicos que detectarão os prováveis grupos de risco e as recomendadas ações que devem ser tomadas para combatê-los. A leitura do DNA, desta forma, irá oferecer condições para garimpar informações importantes com a finalidade de desvendar e reconhecer o código genético da população e, a partir desse marco, possa fazer a prevenção contra as doenças com predisposição genética localizada.

É sabido que a população brasileira não é proveniente de uma única origem. Pelo contrário. Pela sua formação histórica, é fruto de uma miscigenação exacerbada. Aqui encontramos desde os povos indígenas, africanos, portugueses, italianos, espanhóis, alemães e outros imigrantes europeus, asiáticos, formando uma integração genética e cultural. Uma verdadeira Torre de Babel genética.

O que até então parecia uma evidência, agora, com sólidas conclusões, chega-se a uma afirmação categórica no sentido de que a miscigenação esteve sempre presente e que cerca de 60% da herança genética é europeia, enquanto que 27% reside no continente africano e 23% proveniente da comunidade indígena.1

Conhecer a função que cada gene exerce no interior do DNA significa ler a informação genética e descobrir o código da vida. A ciência inclina-se, desta forma, para desvendar os genes responsáveis por determinadas moléstias, como Alzheimer, Síndrome de Down, Mal de Parkinson e muitas outras, com a intenção de alterar o código genético e possibilitar sua erradicação definitiva.

O estudo, por se tratar de uma inovação, que certamente renderá inúmeros benefícios para a saúde da população, merece o prestígio da comunidade uma vez que desempenhará importante tarefa e proporcionará ao Estado novas leituras para desenvolver políticas públicas que visem à redução de doenças tendo como prioridade as ações preventivas. Parte-se para uma medicina preventiva estruturada no genoma para garantir a saúde das pessoas. É uma verdadeira ponte ligando harmoniosamente o passado a um futuro promissor carregando melhores práticas para a ars curandi.

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1 Disponível aqui.