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A nova estratégia na advocacia: O sócio que decide demais e enxerga de menos

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Atualizado em 25 de novembro de 2025 10:46

Em boa parte dos escritórios, o problema não é falta de trabalho. É excesso de decisões tomadas no escuro. Sócios passam o dia resolvendo impasses, aprovando demandas, opinando sobre tudo e colocando energia em urgências que poderiam ter sido evitadas. O volume de decisões cria a sensação de produtividade, mas não cria avanço real. O escritório se movimenta muito e progride pouco.

Esse comportamento não nasce de falta de inteligência. Nasce de um vício estrutural: decidir antes de enxergar.

A rotina jurídica empurra o sócio para a reatividade. O telefone toca, o cliente pressiona, a equipe pede orientação, a pauta muda, o prazo vence. O ciclo se repete até virar cultura. E quando a cultura se estabelece, o sócio começa a tomar decisões rápidas, porém rasas.

O curioso é que esses escritórios têm bons profissionais, boa reputação e boa entrega técnica.

O problema não é jurídico.

O problema é estratégico.

A miopia silenciosa que consome tempo e margem

Quando o sócio decide sem enxergar, três efeitos aparecem:

1. As decisões ficam inconsistentes.

Um dia é uma diretriz. No dia seguinte, é outra. A equipe se adapta, mas não avança. Não evolui. Não fica autônoma.

2. A operação jurídica vira um campo de microcrises.

Cada escolha mal calibrada gera retrabalho, desgaste ou duplicidade de esforço. Tempo, dinheiro e energia jogados fora.

3. O escritório perde competitividade.

Enquanto discute o que fazer na semana, o mercado se move no mês. E, ao invés de fazer poeira, o escritório come poeira.

Essa miopia não se resolve com mais reuniões, mais relatórios ou mais ferramentas. Ela só se resolve com uma mudança de abordagem: menos impulso, mais leitura.

O que falta não é controle. É método de interpretação

Todo escritório tem informações: números, feedbacks, tendências, dados de clientes, reclamações, resultados financeiros.

O que falta é uma lógica para transformar tudo isso em clareza estratégica.

O sócio precisa responder três perguntas antes de decidir:

1. O que está mudando lá fora?

Sinais políticos, sociais, econômicos, tecnológicos e comportamentais que já afetam a advocacia.

2. O que isso significa para o meu escritório?

Como essa mudança atinge o modelo de negócio, a operação, a cultura e os serviços.

3. Qual é a ação estratégica correta?

O que fazer agora, o que preparar para depois e o que investigar para o futuro.

Sem esse filtro, o escritório só reage.

Com esse filtro, o escritório passa a prever.

Por que a maioria dos sócios não enxerga bem?

Porque foram treinados para resolver, não para observar.

A formação jurídica valoriza resposta e reação, não diagnóstico.

No ambiente de pressão, quem "decide rápido" é visto como líder.

E, no curto prazo, isso funciona.

Mas no longo prazo, vira um atraso.

Decisão sem contexto vira gasto, ruído e desgaste.

É por isso que alguns escritórios patinam mesmo com boa equipe.

E é por isso que outros, menores e discretos, crescem de forma surpreendente: eles enxergam o que vem antes.

A virada de chave: Enxergar antes para decidir certo

A mudança começa quando o sócio adota três elementos simples:

1. Radar de sinais

Organizar o que está acontecendo no mundo e como isso chega ao jurídico.

Sem isso, o sócio fica refém da opinião da semana.

2. Hipóteses estratégicas

A lógica "Se X acontecer, então faremos Y".

Tira o peso da intuição e dá precisão às escolhas.

3. Sprints de 90 dias

As decisões deixam de ser isoladas e passam a seguir uma trilha de execução clara.

Quando o sócio vê primeiro, decide melhor.

Quando decide melhor, o escritório cresce com menos fricção.

E quando a estratégia vira hábito, a operação respira.

O escritório que vence não é o que decide rápido

É o que decide certo.

A advocacia está ficando mais competitiva, mais técnica, mais digital e mais exigente.

Sócios que seguem operando no modo "resolver o dia" começam a ficar para trás.

Um escritório forte não nasce de mais horas trabalhadas.

Nasce de sócios que enxergam antes, evitam erros óbvios, escolhem o caminho com precisão e mantêm o foco no que realmente importa.

A diferença entre estagnação e crescimento está no primeiro passo: deixar de decidir no escuro.