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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 26 de março de 2013

Política e Economia NA REAL n° 238

Dilma : popularidade, eleição e economia Com as três pesquisas divulgadas semana passada - uma sobre o governo dela e outras duas sobre as eleições de 2014 - a presidente Dilma, ainda em estado de graça papal, entrou também num nirvana eleitoral. A interpretação generalizada entre os especialistas é a de que, mantidas as atuais condições de temperatura e pressão econômica, a presidente pode preparar o modelito para a posse em mais um mandato de quatro anos a partir de 2015. Seria até um passeio na raia eleitoral, sem os adversários terem ao menos o direito a um segundo turno. Uma façanha que o PT ainda não alcançou : antes de chegar ao governo, Lula perdeu duas vezes para Fernando Henrique Cardoso logo de cara ; depois, Lula disputou o segundo turno contra José Serra (2002) e Geraldo Alckmin (2006) e Dilma Rousseff bateu-se duas vezes em 2010 contra Serra. Dilma : popularidade, eleição e economia - II A expectativa dos principais concorrentes hoje colocados na liça - Eduardo Campos, Aécio Neves e Marina Silva - é que a divisão de votos acabe levando a um segundo turno. Marina em 2010 evitou a vitória de Dilma na primeira rodada. Depois, resta a torcida de cada um deles para que seja ele o segundo colocado na primeira rodada. Do ponto de vista político, a estratégia de Dilma e do PT daqui para frente será apenas fechar o curral aliado para conter rebeliões de parceiros insatisfeitos - daí as concessões ministeriais e outras que virão em estatais e sem segundo escalão. Nessa linha, os partidos valem quanto pesa o tempo de cada um no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão. Em outra ponta, cabe manter também o mais amplo possível os palanques regionais. O que pode exigir do PT sacrifícios em muitos Estados, cedendo a primazia das chapas aos governos estaduais e ao Senado. Fazer esta harmonia, lembrando aos petistas o princípio do "centralismo democrático", é a principal missão hoje do ex-presidente Lula. É a economia, estúpido Para Dilma, a missão principal ficou a de conduzir a economia sem muitas marolas, visando, fundamentalmente : 1. Não deixar o nível de emprego cair. 2. Não deixar cair a renda média real do trabalhador. E qualquer coisa será feita nesse sentido, com embasamento técnico ou artificialmente. Assim, por exemplo, o BC, apesar dos arroubos de seu presidente Alexandre Tombini de anunciar dia sim, outro também, que a autoridade monetária está pronta para combater a inflação, só terá "autorização" para aumentar a taxa básica de juros, a Selic, se os preços ameaçarem fugir demais do controle. O BC pode até aumentar a Selic em uma das suas duas próximas reuniões (no início de abril e no fim de maio), mas se o fizer será, segundo bons e insuspeitos analistas, em apenas 0,25. Um "efeito demonstração". Para não deixar que a inflação fure demais o centro da meta de 6,5%. (Nesta semana deve ser divulgado o Boletim Trimestral de Inflação quando o BC dará sua versão do andamento da economia no mundo e no Brasil). A política econômica continuará sendo conduzida com pacotes pontuais, ora para incentivar o consumo, ora para induzir os investimentos, ora para tentar segurar os preços. Já foram 15 pacotes neste sentido lançados pela presidente nesses seus 27 meses de governo. A confecção dos embrulhos ganhou mais velocidade recentemente. Pelo menos mais um virá esta semana. E a moeda ? Uma variável importante nesse jogo é o dólar. Semana passada ele voltou a estourar a barreira dos R$ 2,00, informalmente admitida no Ministério de Fazenda como seu "ponto de equilíbrio". Muito acima deste patamar bateria na inflação, muito abaixo prejudicaria mais do que ela está sendo prejudicada a indústria brasileira. O BC vai correr ou vai deixar o bicho pegar ? Espírito animal, espírito operacional De um empresário até simpático ao governo, porém com algum espírito crítico, o que fala a alguns de seus colegas, principalmente em entrevistas abertas ao público : "A presidente e cia têm apelado para o 'espírito animal' dos empresários no sentido de animar os investimentos no país. Nada mais correto. Porém, seria muito útil ela despertar também o 'espírito operacional do governo'. A fila de caminhões à beira dos cais é a maior prova de que o animal governista está adormecido em berço esplêndido". Dá para entender o silêncio público dos empresários quando se trata de falar do governo : Dilma não é de levar desaforo para casa. Saindo de forma constante O governo que não conte com a parceria da turma dos "investimentos em portfólio", aqueles que investem no mercado de capitais brasileiro. A grana está saindo das ações e outras securities. A direção é o norte, mais exatamente os EUA. Notável é a ação dos fundos hedge, aqueles que são mais ágeis para acompanhar e, sobretudo, fazer a tendência do mercado. O capital é covarde como se sabe. Ele é esperto também. Fenômeno mais amplo O Brasil é um dos líderes da queda de preços das ações dos mercados emergentes. Todavia, não é o único que cai. A queda é generalizada. Não à toa, neste ano, os mercados emergentes apresentaram o pior retorno desde 2008 e estão em patamares bem inferiores se comparados aos principais mercados acionários mundiais. Os emergentes estão perdendo dinheiro e charme. A hora é da América. Imobilidade na Copa Os projetos de mobilidade urbana para a Copa do Mundo caíram na real (sem trocadilhos). As obras estão indo, sem grande eficiência em termos de calendário de execução. Todavia, estão tropeçando em algo inicialmente nada esperado : não há como encomendar ônibus a tempo para acrescer as frotas urbanas de novas unidades para os torcedores e turistas. A indústria não tem como entregar as encomendas. Indústria a ver navios Já se sabe sobre a fragilidade imensa da indústria brasileira sem competitividade sistêmica e tecnológica. No âmbito da conjuntura a situação é igualmente perigosa. A crise dos portos pode prejudicar a produção industrial em termos de logística e atrapalhar o já débil crescimento dos últimos anos. O governo tem esta possibilidade no seu radar. Todavia, não sabe ao certo o que fazer. Chipre : tabus e realidade Perde-se um enorme tempo com análises do que ocorre em Chipre, país minúsculo e sem importância para a economia europeia. Chipre é a atual Islândia, país loteado por capitais, digamos, duvidosos, que operavam a partir dali por razões tributárias e da frouxa fiscalização. Ora, o país está quebrando as regras de bom comportamento no mercado porque ali há excelentes oliveiras (de boa qualidade) e não muito mais. Agora está devolvendo um pouco da conta para a tropa russa de capitais e alguns mais. Tal qual fez a Islândia. Nada mais.... A "crise cipriota" gera mais certezas do que incertezas : sobre o que se deve fazer e o que não se deve. "Mercados não tem memória" : Londres 1953 No dia 27 de fevereiro de 1953 foi assinado em Londres um acordo de salvação financeira que incluía (i) o perdão de 50% da dívida externa ; (ii) reescalonamento dos pagamentos para o longo prazo e (iii) ajuste dos pagamentos à capacidade do credor. O país apoiado chamava-se Alemanha Ocidental, que além do acordo acima teve abertas as fronteiras europeias, o que produziu um farto resultado comercial no curto prazo. Isso tudo apoiado pela Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal que não se importaram com o histórico do país (duas guerras mundiais, campos de concentração, destruição de suas economias, etc.). Naquela época, a Alemanha teve a glória de ter à frente da nação um estadista : Konrad Adenauer. Hoje, tem Angela Merkel, etc. e tal... As três faces de Eduardo Campos Depois naturalmente da presidente Dilma Rousseff, que não mais vai se apear do palanque eleitoral (ontem ela esteve em dois deles - Serra Talhada, no sertão de PE, e no Rio, em Petrópolis) o presidenciável mais ativo publicamente tem sido o governador pernambucano Eduardo Campos. O tucano Aécio Neves, além de vestir o figurino menos discreto de seu avô Tancredo Neves e dos políticos mineiros, está às voltas com o turbilhão tucano, nas figuras de José Serra e do PSDB paulista. Enquanto não aparar estas arestas, não poderá cair nas ruas. Marina também está totalmente envolvida na criação de seu partido, o Rede Sustentável, o qual precisa estar homologado na Justiça Eleitoral até fim de novembro para que possa sustentar a candidatura dele ao Palácio do Planalto. Caso contrário, ou não concorrerá ou precisará arranjar uma das legendas já existentes para poder disputar. Razões para a tranquilidade de Campos Campos passeia mais ou menos tranquilo sua candidatura por três razões : 1. Seu partido, apesar das resistências dos renitentes irmãos cearenses Ciro e Cid Gomes, está vendo na candidatura do pernambucano para aumentar sua representatividade nacional e seu poder de barganha Federal e nos Estados. Com o "carro-chefe Campos", o PSB acredita que em 2014 poderá eleger mais governadores do que tem hoje e aumentar suas bancadas na Câmara, no Senado e nas Assembleias Legislativas. Mesmo não ganhando o Palácio do Planalto, Campos e o PSB poderiam sair credenciados para 2018 com um excelente cacife. 2. Para os tucanos, a presença de Eduardo Campos na disputa seria a garantia já de um segundo turno, ainda mais se Marina Silva também confirmar sua presença. O PSDB acredita que ele tirará mais votos de Dilma do que de Aécio, principalmente no Nordeste. Além disso, mesmo governista no momento, o governador de PE será um candidato de oposição ao Palácio do Planalto, mais um do qual Dilma, o PT e os aliados precisarão se defender. 3. Para o PT, pelo menos nesta primeira fase, a presença de Campos no grid de largada presidencial é tida como útil porque, segundo os petistas, ele disputa uma faixa do eleitorado com Aécio Neves - e tiraria votos do tucano e até possíveis aliados do mineiro, com o PPS e os rebeldes do PMDB. Racha inclusive em Minas, onde o prefeito de BH, Marcio Lacerda, é do PSB, mas foi eleito com a ajuda de Aécio. E pode rachar até em SP, onde os socialistas se dão muito com o governador Geraldo Alckmin. Em principio, pelo menos, não é interesse de Lula e Dilma que Eduardo Campos saia da raia. Lá na frente se verá. A rifa de Lula A melhor prova disso é que Lula já está rifando a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do Rio, pelo PT. Ele prometeu ao PMDB fluminense e ao governador Sérgio Cabral que não pisará no Estado durante a eleição. Sinceridade É um jogo de feiticeiros. O risco é o feitiço se virar contra algum deles. Do senador e ministro da Pesca, Marcelo Crivella, analisando a política social do governo e os resultados da inclusão social trazida por ela : "A nossa presidenta e o presidente Lula fizeram a gente crescer porque apoiaram os pobres. E o que nos sustenta são dízimos e ofertas de pessoas simples e humildes". Sinceridade - II Seria até uma dádiva para a presidente Dilma Rousseff se as dificuldades que ela está tendo para nomear um novo ministro para a Secretaria de Assuntos Estratégicos tivesse alguma causa nobre. Não tem. Ela já foi recusada pelo PMDB e pelo PSD de Gilberto Kassab. Pelas razões que só a política brasileira explica, como bem demonstra a explicação do deputado do PMDB da Bahia : "É um pasta que não tem orçamento, não tem cargos, não tem órgãos importantes vinculados, não despacha com a presidente, não executa obras, só faz seminários. O partido que assumir nada terá para mostrar, (...) Pensar o futuro é importante ? Mas queremos é executar o presente. Essa coisa de ficar pensando só queima neurônios e não deixa marcas". É realmente um fato inédito no Brasil partidos políticos recusarem ministérios. Se até eles reconhecem a inutilidade da pasta, o que a presidente está esperando para trancar suas portas ? Insinceridade ? Do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista à revista "Época" : "De tudo que ouço do Serra, ele diz que não tem essa pretensão [de candidatar-se mais uma vez à presidência da República]. Nem mesmo de ser presidente do partido. Tenho de acreditar no que ele me diz. O candidato do PSDB será apoiado pelo PSDB de São Paulo. Não tem muita alternativa. É especulação [a hipótese de deixar o PSDB]. Ele nunca me disse isso". Radar NA REAL 22/3/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2856 estável baixa - REAL 2,0128 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.873,12 estável queda estável - S&P 500 1.551,99 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.235,30 estável/alta estável/alta                       (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 19 de março de 2013

Política & Economia NA REAL n° 237

A lembrança do México No início dos anos 90, quando se iniciou o ciclo de enorme valorização das ações ao redor do globo, o país mais "charmoso" para a comunidade financeira internacional era o México. País pobre, comandado por uma "elite bem formada", era lembrado por ser país vizinho da maior economia mundial e por estar construindo um acordo de livre comércio poderoso, o que veio a ser chamado de ALCA - Acordo de Livre Comércio das Américas (1994). O país da revolução de 1910, liderada por Emiliano Zapata, tornava-se aos olhos do "mercado" o país com o futuro mais promissor dentre os pobres que se tornavam emergentes. Além disso, contava-se com as imensas reservas petrolíferas que possibilitaram que o país se tornasse o sexto maior produtor mundial. Depois veio uma crise de dívida que foi superada com o apoio norte-americano (1995). De lá para cá, a despeito dos imensos ajustes macroeconômicos, o país apresentou um crescimento de pouco menos de 4% , mesmo que com riscos baixos - tem uma relação dívida/PIB ao redor de 30% e inflação controlada, por exemplo. A lembrança do México - II Todavia, atualmente o México está longe de ser o destaque dentre os emergentes. Ao contrário, as profecias tropeçaram no crescimento da China, país autoritário politicamente, o qual desprezou (e ainda despreza) muitas das "regras" prezadas pelo mercado (controla o câmbio e os juros, bem como regula um pouco o transparente mercado financeiro, para citar apenas dois aspectos). Além disso, faz a maior inclusão social de todos os tempos no globo, enquanto o México persiste em uma das rendas mais desiguais do planeta e um subdesenvolvimento social gritante. O México é rico em matérias-primas, mas frágil em adicionar tecnologia à sua produção doméstica e às exportações. Com efeito, as previsões dos analistas de então sinalizaram um futuro mexicano inconsistente com os seus reais fundamentos, sobretudo em relação à classe política daquele país. De outro lado, quando "descobriram" a China, o país já conquistava o mundo com sua agressividade. O México foi apenas um ícone, distante do mundo real. A China é uma realidade concreta, um risco considerável e um líder do mundo emergente. A bola de cristal estava errada. E o Brasil ? Seria o Brasil a profecia de hoje, equivalente a do México dos anos 1990 ? Muito se fala no mercado, a sua já famosa "bola de cristal", sobre as perspectivas brasileiras nos próximos anos. O que se vê, contudo, é um país limitado nas reformas estruturais, mergulhado na baixa política, com um discurso social e econômico anacrônico, mesmo que com os tais "fundamentos" de curto prazo sem maiores riscos. Vê-se um país com educação sofrível, sem competitividade industrial, com impostos elevadíssimos, juros estratosféricos e uma democracia corrompida por um sistema partidário parasitário ao poder central e com base social irrefletida nas instâncias superiores. Não se deseja um sistema chinês por estes cantos, é certo. Mas, qual seria o "estado da arte" de nossa própria criação política, social e econômica ? Se for o estado atual, estamos caminhando para a permanência de uma desigualdade imensa perante o mundo, na linha do que é o México : um país bem comportado e que não supera a sua própria impossibilidade histórica, criada dentro do país, de ser muito diferente do que é. Sai governabilidade entra "eleitorabilidade" Não é segredo para ninguém, pois tem sido apregoado com orgulho por todos os envolvidos em palanques de 2014, visíveis e invisíveis, que a reforma ministerial, ora em curso, visa única e exclusivamente acomodar aliados descontentes - e ameaçadores - no curral governista. A lógica é : cargos e influência em troca de votos populares que poucos têm e de tempo na televisão - que todos têm, nem que sejam alguns preciosos segundos para que os "marqueteiros" possam brincar de fazer propaganda política do mesmo modo que vendem sabonetes e iogurtes em tempos não eleitorais. O Brasil político já cultiva um vocábulo esdrúxulo - "governabilidade", em nome do qual, ou seja, de garantir ao governo uma certa paz no Congresso Nacional, praticam-se coisas que até Deus duvida. Sai governabilidade entra "eleitorabilidade" - II Agora, entrou em campo outra novidade no léxico político nacional - a "eleitorabilidade", em nome da qual, como se pôde ver pelas primeiras amostras da reforma ministerial que Dilma iniciou sexta-feira, praticam-se coisas que até o diabo dúvida. É em nome dessa eleitorabilidade que Dilma trouxe de volta ao centro do poder a turma do Carlos Lupi, do PDT, na figura do inexpressivo deputado Manoel Martins, sobre cujas credenciais para o Ministério do Trabalho ainda são desconhecidas. Foi por isso também que a presidente afagou o sempre insaciável PMDB, entregando a Moreira Franco, cuja intimidade com a aviação civil não passa de um passageiro comum ; e ao mineiro Antonio Andrade no Ministério da Agricultura, no caso um fazendeiro, mas que ganhou o posto não por seus méritos, mas para evitar que as ovelhas peemedebistas mineiras, famintas, se desgarrassem para a possível candidatura de Aécio Neves. Da mesma forma, o PR, escorraçado do Ministério dos Transportes, quando Dilma ainda vestia o uniforme de faxineira, por suspeita de estripulias no DNIT, na Valec e adjacências, será gloriosamente reabilitado quando a presidente voltar de Roma, onde hoje assiste a entronização de Francisco no trono de Roma. Sai governabilidade entra "eleitorabilidade" - III O risco é a busca excessiva de eleitorabilidade prejudicar, definitivamente, a verdadeira governabilidade que se exige de um governo : ação e competência. Para que se faça a "superação histórica" que o país necessita. Governabilidade, no Congresso, é uma espécie de gazua para os partidos se apossarem de nacos da administração pública. Dura realidade. Não dava para esperar A turma estava com tanta pressa que se abriu um espaço na agenda da presidente no sábado, dia no qual raramente ela dá expediente quando está no Brasil, para a posse dos três novos ministros. Deve ter sido para todos poderem assinar como ministros sua presença na missa de domingo. Tudo tem limites Dilma, respondendo a críticas da oposição e antevendo outras mais, dado o caráter visivelmente fisiológico das mudanças que fez e ainda vai fazer na sua equipe, fez enfática defesa da "coalizão" governista. De fato, alianças para governar em países de sistema multipartidário são naturais. Mas há coalizões e coalizões, alianças e alianças, critérios e critérios. Os aqui adotados, na atualidade, não são dos mais santos. Sério ? Da presidente Dilma Rousseff na posse, sábado, dos novos três integrantes da sua troupe ministerial : "Nós já iniciamos o processo, estou na metade do governo, e precisamos conduzir a bom termo esse processo, que se pauta em transformar os ministérios do nosso país em ministérios profissionais e meritocráticos". Pelo menos os três empossados e seus familiares parece que acreditaram. Não é apenas o número O empresário Jorge Gerdau, amigo de Dilma e conselheiro (não remunerado) com cargo formal no governo, abriu fogo contra o tamanho do Ministério da presidente. Para ele, ter 39 ministros é "uma burrice". Não deixa de ser, não dá nem para a presidente despachar numa periodicidade razoável com todos eles. Há ministros que praticamente só se encontraram com a presidente em solenidades públicas - passam meses sem falar com ela pessoalmente. Não têm muito o que fazer e dizer e a presidente nada deve ter para dizer a eles. O que mostra a falta de importância de boa parte dos ministérios e das secretarias com status ministerial. Só serve para alguma coisa : acomodar aliados. Porém, o problema maior não é o número - é a qualidade. Aquilo que a presidente, num arroubo, chamou de "meritocracia" sábado. Há uma jornalista brasiliense que define bem o deserto de homens e ideias da equipe de Dilma : "O ministério de Dilma é de segundo escalão". Aprendiz de feiticeira Em matéria de política dos políticos, Dilma parece não ter mais nada a aprender com Lula. Ela já havia passado recentemente no teste dos palanques, ao citar diabos e cervejinhas em seus discursos, no melhor estilo do mestre. Agora, supera-se na arte da escalar ministros errados para lugares errados. Em tempo : antigamente, quando alguma criança fazia uma estripulia, dizia-se que ele tinha feito arte, era um arteiro. Não é o caso da presidente. Em estado alfa Justiça se faça : o vice-presidente e poeta Michel Temer saiu-se muito bem no início da reforma ministerial. Conseguiu uma promoção para Moreira Franco, o gato angorá da burguesia carioca como dizia Leonel Brizola, da inútil secretaria de Assuntos Estratégicos para a abonada Secretaria da Aviação Civil (orçamento de R$ 2,7 bi) e com a responsabilidade de tocar as privatizações (ou concessões, como aconselham os preconceitos petistas) dos aeroportos de BH e do RJ. Emplacou também o mineiro Antonio Andrade no Ministério da Agricultura, área que era de sua influência direta e foi perdida quando o paulista Wagner Rossi, por suspeitas de irregularidades, foi substituído por Mendes Ribeiro, um peemedebista gaúcho de confiança de Dilma e fora da órbita do vice. Em estado alfa - II A vitória de Temer só não foi completa por duas razões : (1) Não conseguiu ainda um ministério "de furar poço", expressão cunhada pelo inefável Severino Cavalcanti para definir a poderosa diretoria de Exploração da Petrobras, mas que serve bem ao desejo do PMDB de ter um ministério mais "eleitoral", tipo Transportes, Cidades, Integração Nacional, saúde. (2) Não se arranjou um ministério para o pupilo predileto dele em SP, o deputado Gabriel Chalita, candidato derrotado à prefeitura de SP com inestimáveis serviços prestados ao candidato (o agora prefeito) petista Fernando Haddad. Chalita esteve com os pés no Ministério da Ciência e Tecnologia, porém foi esquecido depois das denúncias de um ex-assessor seu sobre supostas irregularidades quando ele foi secretário estadual de Educação. Uma queda muito comemorada pela comunidade científica brasileira. Desenvolto como o diabo Em conversa com um grupo de 60 empresários em SP, com grande desenvoltura, como o registrado pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o mais que candidato à presidência da República, Eduardo Campos, deu o mote de sua campanha. "Nós podemos fazer melhor". Nessas tertúlias com os empresários, cada vez mais constantes na agenda do governador de PE, ele tem elevado o tom de suas críticas à condução da política econômica de Dilma, mesmo com os elogios que faz a ela. Elogios que estende também aos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique. Com Campos à vontade, os tucanos também estão subindo aos poucos os decibéis de seus ataques ao governo. Um tango argentino Pelo que vem sendo revelado depois de sua escolha, o agora papa Francisco, o argentino Jorge Mario Bergoglio, tem todas as qualidades para ter sido ungido Bispo de Roma. Além delas, segundo muitos vaticanistas (um tanto na berlinda, é verdade, depois que erraram feio em suas especulações) pesou também a capacidade de conciliação de Francisco, num momento em que a cúpula da Igreja Romana estava perigosamente dividida. Observando a saída do conclave, uma analista política nacional pergunta : quem será o "argentino" dos tucanos ? Na medida em que Dilma empurra seu trio elétrico eleitoral por onde pisa e Eduardo Campos já não disfarça seus desejos, os tucanos ainda estão se bicando - e muito. A continuar desse jeito, restará ao tucanato, como naquele conselho de um médico ao poeta Manuel Bandeira quando constatou que a lesão que ele possuía era muito grave e Bandeira queria saber o que poderia fazer : "Tocar um tango argentino". Esperteza A manchete do "Diário do Comércio" de SP diz tudo do PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, depois que ele admitiu, candidamente, que seu partido não quer ministérios, porém seus filiados podem aceitar algum convite de Dilma : "Kassab sai do governo, mas fica no governo". Só para iniciados O BC tem sido confuso e contraditório em suas comunicações, o que está deixando um tanto quanto desarvorados não apenas a turma do mercado financeiro como também empresários de vários quilates. Junte-se a isto as trombadas com os fatos das autoridades econômicas e está formado o ambiente para as desconfianças sobre os rumos que o governo quer dar mesmo à política econômica. No limite, isto está levando a uma pisada no freio dos investimentos. No fim do mês sai o Boletim Trimestral de Inflação, aguardadíssimo para ver se a comunicação do BC fica mais clara. Semana passada a jornalista Thais Herédia, ex-assessora de imprensa do BC, publicou em seu blog no portal G1 um divertido e útil manual de ajuda aos interessados em decifrar a autoridade monetária : "Como entender o BC em poucas lições". Vale a pena ler - clique aqui. Agora Chipre sacode o mundo Descobriu-se, depois de algum sacrifício físico e mental, que Chipre, 167º em tamanho no mundo e PIB de US$ 25 bi (Campinas tem quase US$ 30 bi) está no euro. Depois se descobriu o que todos sabiam : o belo país mediterrâneo está quebrado. Não bastasse esta percepção aguda do mercado, notou-se que o país não tem saída para solucionar a crise : ou dá um calote nos credores e ajusta o nível de endividamento às possibilidades do país, ou, alternativamente (e simultaneamente), dá um calote interno para se sustentar numa perigosa corda bamba. Os cipriotas optaram, com a anuência dos alemães, a pegar 10% das contas bancárias dos distintos cidadãos para pagar os empréstimos prometidos da União Europeia. Foi o que bastou para os investidores dizerem que "foi criado um perigoso precedente" para a Europa. Como se os investidores nada soubessem sobre calotes e colapsos financeiros. A surpresa talvez seja o fato de os alemães, sempre alertas, estarem por trás de tudo isso. Merkel, como se sabe, é bem heterodoxa, quando lhe interessa. A nossa recomendação é simples : desprezem o assunto e continuem investindo em ações norte-americanas, o atual porto seguro do mercado. Radar NA REAL 15/3/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2966 estável baixa - REAL 1,9874 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.804,76 estável queda estável - S&P 500 1.560,16 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.248,23 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 12 de março de 2013

Política & Economia NA REAL n° 236

Como o diabo gosta (ou a nova Dilma) O "ministro sem pasta" do gabinete da presidente Dilma Rousseff, João Santana, está mais ativo do que nunca. O dedo do marqueteiro João Santana pôde ser visto na semana passada em várias ações da chefe. A principal foi o anúncio da eliminação dos impostos federais da cesta básica, agora acrescida de materiais de higiene pessoal. Foram eliminados o PIS/COFINS e o IPI, no que cabia. É meritória a mudança, isto não se discute. Estava ainda em estudos e a perspectiva oficial era de que fosse lançada no dia 1º de maio, nas comemorações do Dia do Trabalho. O discurso de sexta-feira, dia 8, era apenas para saudar o Dia Internacional da Mulher. Como o diabo gosta (ou a nova Dilma) - II No meio do caminho (ou do dia ?) surgiu uma pedra : pela manhã o IBGE anunciou outro incômodo índice de inflação, o IPCA de fevereiro, de 0,6%, superior a todas as previsões, de fora e de dentro do governo. A inflação anualizada foi jogada para 6,31%, com as previsões já apontando para o estouro do cume da meta (6,5%) em março. Os assessores de Dilma continuaram falando em "paciência" e "prudência", que era preciso esperar os efeitos das medidas adotadas nos últimos meses e que, no segundo semestre, a situação se inverterá. Dilma, porém, está em tempos eleitorais e, assim, entrou em campo a necessidade de combater a má notícia com um ato positivo. Veio, então, a redução dos impostos e o discurso da noite, visivelmente adaptado na última hora. É um movimento que se verá cada vez mais daqui para frente. A questão política condicionando as ações econômicas. A força das palavras Sinal ainda desses tempos é o novo linguajar e o novo estilo de Dilma, visível nos dois palanques que ela ocupou na semana passada : no CE, na quarta-feira, e o televisivo, na sexta-feira. A presidente desfrutou, por assim dizer, momentos de Lula, do melhor Lula em comícios. Como, quando, por exemplo, disse que na hora da eleição se pode fazer "o diabo", que "as casas que o governo está entregando são também boas para tomar uma cervejinha", e quando avisou que "quem está no poder é uma mulher e, por isso, agressores em geral devem tomar cuidado". Sai a gerente tecnocrata entra a política de palanque. Quem ganha e perde com essas mudanças ? Sinonímia "O diabo existe e não existe ?", pergunta Guimarães Rosa no monumental "Grande Sertão : Veredas". Na obra do escritor mineiro os conselheiros de Dilma para os palanques poderão encontrar uma abundante sinonímia da palavra diabo, para enriquecer novos discursos presidenciais. Alguns deles, pela pesquisadora Nilce Sant'Anna Martins em "O léxico de Guimarães Rosa" : "Anhangão, Aquele, Barzabu, Berzebu, Belzebu, Bute, Capiroto, Ele, o Arrenegado, o Austero, o Azarape, o Bode-preto, o Cabrobó, o Canho, o Cão, o Careca, o Carocho, o Coisa-Má, o Coisa-Ruim, o Coxo, o Cramulhão, o Cujo, o Danador, o Das Trevas, Dê, o Debo, o Demo, o Demônio, o Dia, o Diogo, Dos Fins, o Drão, o Dubá, o Dubá-Dubá, o Ele, o Grão Tinhoso, o Homem, o Indivíduo, o Mafarro, o Mal-encarado, o Maligno, o Morcegão, o Nem-sei-que-diga, o O, o Ocultador, o Outro, o Pé-de-Pato, Pé Preto, o Que-Diga, O-que-não-existe, O-que-não-há, o Rapaz, o Satanão, o Sem-gracejos, o Severo-mor, o Solto, o Sujo, o Temba, o Tendeiro, o Tentador, o Tisnado, o Tristonho, o Tunes, O-que-nunca-se-ri, Xu". Em "Noites do Sertão" GR anotou : "Este mundo é diabrável para consumir gente". A política também. A economia, na real Os tropeços do crescimento brasileiro são de natureza estrutural. O Brasil não pode ser o país do consumo de vez que é pobre no salário e no crédito, fruto do subdesenvolvimento industrial neste século da tecnologia. Não é o país do investimento, porquanto cresce pouco e com "voos de galinha" e tem no Estado um freio ao empreendedor e um empreendedor que não sabe gerir. Esta é a economia real. Todavia, há a "economia aparente" que é aquela que é marcada pelos "efeitos estatísticos" : o PIB deste ano pode crescer algo em torno de 3,5%, mas este número é tão sofrível quanto a estagnação de 2012. Além disso, a administração da presidente acumula crescentes inconsistências no que se refere à área fiscal, cambial e monetária - esta última sob risco de uma inflação elevada. O país da "economia aparente" é aquele que é enfraquecido perante as amplas possibilidades que tem. Faz-se anão quando poderia ser um gigante. BC, previsível Conforme comentamos nesta coluna na semana passada, o BC cumpriu o script de fechar, mantendo o juro básico inalterado, o "período da falação". Daqui para frente deverá agir e subir a taxa de juros. A dúvida é a envergadura desta elevação. A nossa aposta é que o juro nominal sobe para algo entre 8,5% e 9% até o final do ano. O que significa que o juro real vai cair, porque a inflação é um fenômeno endógeno (formado pelos agentes) e está dizendo para quem quiser ver que ela está em alta. A boa ideia No momento, a melhor ideia que existe é investir na bolsa dos EUA. O país vive uma crise, mas parece mais apto a superá-la no médio prazo que o Brasil, que não vive uma crise, mas não está apto a crescer consistentemente. Não é desprezível o movimento de saída de investidores daqui na direção do norte. Alta tensão Pelo menos na conta da maioria dos partidos, esta semana a presidente Dilma começa finalmente a definir as mudanças no seu ministério para reforçar os elos de sua aliança eleitoral. O primeiro a fazer as contas será Michel Temer. O partido deverá juntar mais um ministério no seu rosário, para MG, mas não deverá ser o dos Transportes. Como tem políticos e partidos demais, Dilma deve sacrificar alguns "técnicos" para atender a todas as ambições. Secretaria de Aviação Civil é um dos que entrarão na cota dos partidos. Especula-se que vá para Wellington Moreira Franco, peemedebista encostado na inexpressiva Secretaria de Assuntos Estratégicos. O Ministério da Ciência e Tecnologia também esteve para entrar no rol. Porém, a reação da comunidade científica à falência política do deputado Gabriel Chalita (PMDB/SP) salvaram este nicho. O PSD de Gilberto Kassab ganha o novo ministério da Pequena e Média Empresa, provavelmente para o vice-governador de SP, Guilherme Afif. Deve ganhar também alguma diretoria de estatal. Aliás, as estatais também serão usadas para saciar os aliados. A CEF, por exemplo, pode ganhar duas novas diretorias. Na Petrobras, Graça Foster faz de tudo para proteger sua fortaleza da sanha partidária. Haja cargo ! Partidos, longe do palanque No palanque presidencial, como se sabe, não falta a multidão de apoiadores, senadores, deputados, governadores, etc. e tal. Todos prontos para puxar o aplauso da multidão incauta. No Congresso o jogo é, cada vez mais, medíocre. Os partidos ditos "aliados" afiam as facas e operam a pauta congressual em prol de seus interesses. O governo, em alerta, sempre está negociando. A "reforma ministerial" não passa de um ajuste momentâneo de contas mediante pagamento futuro. O passado está pago. São 39 ministérios, afinal de contas. Como antes, como sempre O pastor Marco Feliciano (PSC/SP), contra as minorias, na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Gabriel Chalita, investigado pelo MP, presidente da Comissão de Educação da Câmara. Paulo Maluf e os mensaleiros José Genoino e João Paulo Cunha membros titulares da CCJ. O Congresso continua olhando a sociedade apenas de esguelha. Estratégia Por enquanto, o governo e o PT vão concentrar seus maiores esforços em boicotar a candidatura de Eduardo Campos, minando suas forças e pressionando aliados a não embarcarem na canoa do pernambucano e em impedir, o quanto for possível, o nascimento do Rede Sustentabilidade de Marina Silva. Se o partido dela não nascer até o fim de setembro, não poderá disputar as eleições do ano que vem e a ex-ministra do Meio Ambiente terá dificuldades de encontrar uma legenda com algum peso para disputar a presidência. Ela e o Partido Verde já não se bicam. A determinação é evitar, de todo modo, as duas candidaturas, pois ambos tendem a tirar mais votos de Dilma do que de um candidato oposicionista. Com os dois no páreo, como já demonstrou a candidatura de Marina e seus quase 20% dos votos em 2010, um segundo turno é inevitável. Estratégia - II Outra providência é tentar incentivar, indiretamente, a dissensões no PSDB, com José Serra. As notícias de que Serra pode vir a ser candidato por outro partido, o PPS, por exemplo, se os tucanos optarem por Aécio Neves, nem sempre partem do grupo serrista ou do partido liderado por Roberto Freire. É cantado também por governistas, discretamente. O Palácio do Planalto, com o "ministro sem pasta" João Santana, prepara uma primeira rodada de pesquisas eleitorais para sentir o ambiente depois que a candidatura de Dilma subiu nos palanques. Em um dos cenários com o nome dos possíveis candidatos, Serra será incluído. A esperança palaciana é que, pelo recall de outras vezes que concorreu, o tucano paulista apareça bem colocado e isto gere confusão no tucanato. Mais confusão do que já está hoje. No fundo, Dilma, o PT e Lula preferem disputar com Serra. O ataque a Aécio vai ser calibrado no ritmo alcançado por sua candidatura. Se começar a crescer e o mineiro aumentar o tom de suas críticas, vai ser também mais combatido. E vai começar por MG, com Dilma dando mais atenção a seu Estado para desfazer a "intriga" de que ela é uma mineira que não liga para Minas. Só na cadeia Em tempos mais duros da política brasileira, costumava-se dizer, com cruel ironia, mas com uma dose de verdade, que a esquerda no Brasil só se unia na cadeia. Os partidos de oposição ao governo Federal no país não são propriamente de esquerda e não há ninguém neles ameaçados de perseguição política, portanto, será muito difícil que eles marchem unidos na sucessão presidencial de 2014. A verdadeira batalha do petróleo O assunto da divisão dos royalties do petróleo ainda vai render muito, e dar muita dor de cabeça a presidente Dilma. Sua estratégia final de não interferir na votação dos vetos no Congresso na semana passada já deixou fraturas. A batalha judicial pode ser longa. Dependendo dos arroubos de cada um, pode assustar os investidores que se preparavam para disputar os leilões de novas áreas de exploração de petróleo, previstos para maio e novembro. Especialmente o de novembro, focado no pré-sal. Nada do que acontecer nessa seara, no entanto, tem o poder explosivo de um outro "abacaxi" (criado por ele mesmo) que o governo precisará descascar para que os leilões previstos se realizem com algum sucesso : equilibrar a situação financeira da Petrobras. A verdadeira batalha do petróleo - II A nova lei de concessões, pelo sistema de partilha, estabelece que a estatal petrolífera brasileira deve participar com pelo menos 30% nos consórcios que ganharem a licitação e deve ser a operadora única do campo. Com que dinheiro, depois dos sacrifícios que lhe foram impostos nos últimos anos para ajudar na política antiinflacionária ? Tão difícil que já especula até que o Palácio do Planalto está apenas esperando um momento político mais adequado para tirar um pouco desse peso das costas das estatais, rebaixando as exigências. Improviso O aumento de 5% no óleo diesel, liberado na semana passada, menos de um mês do último reajuste, mostra, no mínimo como a equipe econômica anda improvisando em suas políticas, conduzidas ao sabor de circunstâncias e conveniências inflacionárias e eleitorais. De remendo em remendo o artesão pode perder a mão. Radar NA REAL 8/3/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3033 estável baixa - REAL 1,9569 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.544,79 estável estável - S&P 500 1.556,22 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.252,87 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 5 de março de 2013

Política & Economia NA REAL n° 235

O crescimento além do PIB O resultado do PIB que apresentou um crescimento de apenas 0,9% em 2012 não reflete apenas a realidade objetiva no curto prazo. É direto, espelho de um país que se distancia de suas possibilidades, estas muito mais grandiosas. O problema não é o "estático" desempenho de um ano para o outro, mas a ausência de "dinâmica". O consumo também capenga porque, a despeito do elevado nível de emprego, a população se engalfinhou em dívidas caríssimas no tempo da euforia lulista. A indústria está visivelmente pouco competitiva - 21% dos produtos industriais são importados numa arena cambial onde a indústria local não pode prevalecer. Neste contexto, falta ao governo visão estratégica e à iniciativa privada a vontade política de agir em prol de seus interesses. Todos parecem letargicamente esperar que algo aconteça. Não acontecerá. Enquanto isso, o PIB pode subir 3,0% ou 4,0%, mas a realidade subjacente está sólida e não é nada boa. Copom vai manter juros Num cenário que combina atividade econômica débil e emprego positivo, o BC vai tecer a sua estratégia em relação à inflação extremamente elevada para um país que zela pela sua moeda. O primeiro ato do teatro da autoridade monetária já foi cumprido : Tombini e seus diretores vieram a público para dizer que estão presentes e que a situação será controlada. Foi um calculado (e combinado) jogo de palavras que esclareceu o mercado e alinhou expectativas dos agentes e do próprio governo (que andava meio ausente neste tema). Agora começa a chegar o momento em que o BC terá de passar da prosa para a ação. Todavia, com o PIB lá embaixo e os indicadores de atividade ainda incipientes (no que tange ao crescimento) é provável que tudo fique como está para ver como é que fica. Depois desta próxima reunião do Copom é possível uma alta de juros porque palavras, como se sabe, não movem montanhas (ops !), não reduzem inflação. Perguntas sem respostas Digamos que o PIB deste ano não seja nem 3,0% e muito menos 4,0%. Seja apenas algo entre 1,0% e 2,0%. O que fará a presidente Dilma : removerá a equipe econômica que segue cegamente suas recomendações ? Quem viria a substituí-la ? Mantega e a guerra cambial O ministro Guido Mantega tem sido um exemplar alferes na retórica na qual prega contra a "guerra cambial" que os países centrais (liderados pelos EUA) estariam fazendo contra os emergentes. O Brasil neste tema tem sido o mais loquaz dentre os emergentes - repetiu a dose na última reunião do G-20 em Moscou. A China já pregou há dois anos com mais ênfase em favor da tese da "guerra cambial". Hoje, tem sido mais discreta e prefere cuidar dos vastos interesses cambiais, enquanto o Brasil se consolida como um país exportador de commodities. Em meio a toda esta retórica, Mantega acumula uma contradição substantiva frente ao largo esforço que faz alhures : está fortalecendo o real para manter a inflação baixa. Difícil sustentar argumentos contra os países ricos desta forma. O preço das bravatas O governo tem feito um esforço interno e externo - principalmente externo com as caravanas para atrair investidores nos Estados Unidos sob a batuta do ministro Guido Mantega e à Europa pela palavra da ministra Gleisi Hoffmann - na tentativa de convencer possíveis parceiros de que o Brasil é um porto seguro para quem quer fazer negócios. Não tem sido tão bem sucedido em sua logorréia tanto quanto esperava. Os empresários que ouviram Dilma quarta-feira no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, se publicamente saíram sorridentes, no fundo mantiveram suas reversas. O preço das bravatas - II Lá fora, Mantega e Gleisi também tiveram recepção simpática, mas as perguntas com que eles e outros expositores brasileiros foram bombardeados indicam que o clima de desconfiança e temor permanece vivo. A razão é muito simples : (1) contradições no discurso oficial, (2) certo irrealismo nas análises dos fatos reais da economia nacional e (3) algumas bravatas de governistas e aliados no âmbito interno. O que forma um caldo bem chacrianiano (de Abelardo "Chacrinha" Barbosa : aquele que não explica (ou convence), confunde). No primeiro caso, ainda não foram bem deglutidas, por exemplo, as divergências de ênfase entre o BC e o Ministério da Fazenda em relação à política de juros e à política cambial. Ou, ainda, a respeito da manutenção ou não do tripé macroeconômico que sustentou a economia brasileira desde a última fase do governo FHC até o fim do mandato de Lula antes da eclosão da crise em 2008. O preço das bravatas - III Questões como a confusão provocada pelas mudanças no setor elétrico também pesam nessas análises. O ministro Guido Mantega, na sexta-feira depois da divulgação do PIB de 0,9% em 2012, voltou a dizer que a economia do Brasil sofreu este novo baque por conta da crise externa (sem considerar que vários emergentes foram poupados, em grande medida, dela) e que o país este ano vai crescer 4%, o que nem o BC, por sua última projeção, parece acreditar possível. Tais procedimentos levam os analistas a desconfiar que a equipe econômica nacional não está com um diagnóstico correto da situação e, portanto, não sabe como agir. Ou que quer engambelar o distinto público. É por essas e outras que o prestigioso Financial Times classificou Mantega como um "vaticinador". O preço das bravatas - IV As bravatas são aquelas coisas que os governantes e seus partidos dizem apenas para agradar seu público interno, sem intenções (ou condições) de cumpri-las de fato. Por aqui, não são levadas tão a sério, mas para o estrangeiro, não tão acostumado a certas nuances da brasilidade política, é para valer. Há ainda uma quarta vertente desse estilo : o que se poderia chamar de "Lei de Gerson do setor público" : uma tentativa de levar vantagem em tudo. Isto é visível na atual safra de concessões de serviço público em preparação. Praticamente todos os programas inicialmente preparados para os setores de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos já foram alterados, para melhorar as ofertas feitas aos possíveis concorrentes. O governo Dilma parece estar necessitando urgentemente, além de um choque gerencial, de um choque de realidade. Hora da verdade para o BNDES Anuncia-se que o governo, nos próximos dias, por exigência do TCU, vai divulgar documento o qual torna público os subsídios implícitos nos repasses do Tesouro Nacional para o BNDES. Foram R$ 250 bi desde 2008, captados ao custo da Taxa Selic e emprestados pela TJLP, de taxas menores. Essa diferença não está registrada ainda nas contas públicas. Pode ser o início da hora da verdade financeira também para o BNDES. Os problemas da política de liberalidade e de escolha de "campeões nacionais" do banco já começaram a aparecer. O lucro da instituição caiu 9,55% no ano passado ante 2011. Teria sido ainda pior - de mais de 30% - se o Conselho Monetário Nacional (CMN) não tivesse autorizado a instituição a contabilizar diferentemente de outros bancos, o valor das ações de alguns de seus investimentos em empresas mais complicadas. Já se analisa a possibilidade de o Tesouro injetar mais R$ 8 bi no banco. Como no Soneto da fidelidade ? Quem acompanhou as juras de amor trocadas na semana passada entre a presidente Dilma Rousseff (coadjuvada pelo ex-presidente Lula e o PT) e o PMDB e, ao mesmo tempo, conhece o temperamento da presidente, o pragmatismo de Lula, o apetite do PT e as rusgas às vezes nada discretas entre os dois partidos, logo se lembra dos últimos versos de um dos poemas mais citados de Vinicius de Morais : Eu possa me dizer do amor (que tive) :Que não seja imortal, posto que é chamaMas que seja infinito enquanto dure. Como no Soneto da fidelidade ? - II Uma parcela do PMDB já saiu das festas de núpcias com uma caraminhola na cabeça : apesar de todos os elogios de Dilma e Lula ao PMDB e as referências a Temer, nenhum dos dois ousou confirmar o presidente do PMDB como parceiro (vice, entenda-se) na chapa reeleitoral da presidente. Alegou-se que a não referência direta foi para evitar complicações com a legislação. Ora, desde quando a Justiça Eleitoral é respeitada nesse universo ? Ou não foi Lula quem falou da candidatura de Dilma na festa do PT semana retrasada em SP ? A solidez dessas núpcias será testada logo. Hoje, por iniciativa dos peemedebistas presidentes da Câmara, Henrique Alves, e do Senado, Renan Calheiros, será votado pelo Congresso Nacional o veto presidencial à lei com a nova divisão dos royalties do petróleo. O Palácio do Planalto não queria esta votação agora, pois sabe o poder explosivo que a derrubada do veto pode ter. E se houver votação, o veto cai. Pode rachar a unidade do PMDB e a unidade do partido em torno da presidente. Como no Soneto da fidelidade ? - III É esperado para esta semana também o início da reforma (ou ajuste, como prefere o governo) ministerial imaginada pela presidente. O PMDB quer recompensas por serviços já prestados e por outros serviços que deverá prestar no Congresso. Parece certo já que a seção do partido em MG vai ganhar o Ministério dos Transportes. O PMDB, porém, quer mais, quer mais "cartórios eleitorais", ou seja, postos que ajudem o partido a conquistar votos. Os peemedebistas costumam dizer que os ministérios que eles têm hoje "não elegem nem ao menos um vereador". Verdade histórica Ao contrário do que andam dizendo alguns e escrevendo outros, não foi o ex-presidente Lula o autor do lançamento da recandidatura da presidente Dilma Rousseff. Lula apenas avalizou o que já era fato. Foi a própria Dilma que se lançou, de forma muito pouco subliminar em seu último pronunciamento oficial em rede de rádio e televisão. Lula foi a reboque, com gosto ou sem gosto. Tudo para evitar que Lula crescesse no vácuo da ausência de declarações da presidente. Uma nova Dilma ? Os afagos públicos da presidente Dilma ao PMDB e suas conversas com outros aliados estariam indicando que a presidente Dilma, mesmo sob o risco de desenvolver algumas urticárias, está mais afável aos contatos políticos, sua mais evidente dificuldade na chefia do governo. Talvez não seja sem tempo. O mundo da política não tem a presidente na mesma conta dos eleitores, que dão a ela quase 80% de popularidade no momento. Duas pesquisas recentes realizadas em Brasília indicam que com os deputados e senadores o prestígio da presidente é menor e está em queda. A consultoria Arko Advice constatou que a aceitação de Dilma caiu de 54,7%, em 2011, para 45,8% em 2012. Com 220 entrevistas, a FSB Tracking registrou que a nota dada pelos parlamentares à relação entre o governo Federal e o Congresso caiu de 5,9, em maio de 2011, para 4,4 em dezembro de 2012. Curioso é que a base parlamentar de Dilma conta com 80% dos parlamentares. Como a eleição já está no ar e deputados e senadores só pensam na reeleição, Dilma terá de ser um pouco mais generosa com seus aliados se não quiser colher dissabores. Troféu político Se no Brasil houvesse um troféu para o maior "cara de pau" da política dificilmente em 2013 ele escaparia das mãos do senador Renan Calheiros. Qualquer outro pretendente terá de fazer muito esforço para bater o senador alagoano. E olha que neste país não faltam bons candidatos a este privilegiado título. Desembarque É cada vez mais visível : Lula e o PT estão a cada dia um pouco mais distantes dos companheiros mensaleiros. Solidariedade sim, morrer pela causa, jamais. Agora, os projetos A oposição, com o PSDB, e, ainda na surdina, com Eduardo Campos, assanhou-se com o precipitado lançamento da recandidatura de Dilma Rousseff e está com o flanco adversário aberto para críticas e provocações. Mas, precisa ir além das críticas, como as que Aécio Neves tem feito nos últimos dias, tem de mostrar o que vai fazer para corrigir os erros que aponta. Discurso por discurso, ninguém bate Lula. Radar NA REAL 1/3/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3027 estável baixa - REAL 1,9703 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.499,17 estável estável - S&P 500 1.525,20 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.182,03 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 234

O Banco Central, os juros e o exemplo Como não funcionou totalmente a verborragia oficial para convencer os agentes econômicos, especialmente o mercado, que o BC não tem nenhuma limitação em relação à política monetária e aos juros, começa-se a especular mais fortemente, inclusive nos corredores brasilienses, sobre a possibilidade de a autoridade monetária aprovar na reunião do Copom da próxima semana, ou na do final de abril, um ajuste na Taxa Selic. Seria apenas um aumento pequeno, de apenas 0,25 ponto percentual, apenas para mostrar que o BC continua independente, não sofre "ingerência" nem do Ministério da Fazenda nem do Palácio do Planalto. E mais : que as conveniências eleitorais não batem na porta do imponente edifício meio ocre de grande destaque na paisagem de Brasília, ao lado da Praça dos Três Poderes. O Banco Central, os juros e o exemplo - II O BC só voltaria a mexer nos juros básicos da economia para valer mesmo se as expectativas do governo em relação ao comportamento da inflação não se confirmarem. Pelas contas planaltinas, a inflação anualizada ficará alta até meados do ano, sempre acima de 6% podendo até estourar o centro da meta (6,5%) e depois cairia gradualmente até chegar a 5,5%, a mais recente aposta do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O governo não desistiu de usar todos os instrumentos possíveis para fazer este ano um PIB bem melhor que o do ano passado, que deve ter ficado em torno de 1%. Inclusive os instrumentos monetários. Por isso, o ajuste de 0,25 ponto se vier é apenas para dar o recado de que o BC está vivo. Todavia, esse rumo pode mudar muito se os preços continuarem rebeldes no segundo semestre. Por uma simples razão : é melhor fazer o mal agora (aumentando os juros) quando a eleição está relativamente longe do que ter que mexer com um dos principais slogans da campanha de Dilma quando a luta eleitoral estiver pegando fogo. Política econômica e campanha antecipada Esta coluna ouviu de um dos futuros ouvintes das apresentações do Road Show que Mantega, Gleisi Hoffmann, Luciano Coutinho e outros farão no exterior a seguinte análise : "Nenhum empresário, especialmente na área de infraestrutura, faz apostas grandes, quando faz, em ano eleitoral. O governo, ao antecipar a corrida eleitoral, criou um problema para si mesmo. De um lado, pede dinheiro para quem hesita em dar. De outro, amplia as dúvidas políticas sobre os investimentos. Assim, fica bem difícil...". Obviamente que este não é um ponto de vista isolado. De fato, os maiores comentários dos investidores externos sobre o Brasil é sobre o governo e não os negócios. Questionam a interferência do governo nos setores, as disputas políticas e as reformas que não são feitas. "Na China temos dúvidas grandes sobre estes temas, mas o país cresce acima dos 8%. Por aqui, as dúvidas são grandes, mas o país não cresce", assinala o interlocutor. Câmbio real Os economistas costumam se jogar em cálculos de todas as cepas para saber se o câmbio está valorizado ou desvalorizado. Em países onde há liberdade cambial plena, estes cálculos são incertos. Em países como o Brasil e a China estes cálculos são ainda mais incertos. Todavia, se o governo e o BC quiserem uma informação objetiva, basta fazer uma simples pesquisa sobre os custos para a implementação de um projeto no Brasil e compará-los com outras partes do mundo. A resposta deixaria qualquer burocrata do governo preocupado. Investimentos : caminho de volta Sabe-se que o mundo está complicado. Há enormes incertezas, sobretudo nos países centrais. Isso, contudo, não tem impedido que capitais mais ariscos estejam tomando o rumo dos EUA. Por lá, percebe-se que lentamente o país está saindo da escuridão e os preços dos ativos são mais convidativos. Além do fato de existirem Estados com incentivos fiscais verdadeiramente estimulantes. O segredo de polichinelo continua Já foi dito aqui, mas vale repetir : nenhum governante gosta de antecipar sua sucessão, mesmo se ele for candidato à reeleição e estiver bem na fita de largada. É o caso da presidente Dilma Rousseff. A antecipação só traz desvantagens : divide a atenção do gestor ; assanha os adversários que naturalmente aumentam o tom de suas críticas e cobranças e também entram em campanha ; e assanha ainda mais os parceiros, que ganham mais uma arma de barganha para garantir a aliança partidária reeleitoral. É exatamente isto que Dilma está experimentando agora, depois que botou espontaneamente seu bloco na rua e, na semana passada, ganhou o aval de ninguém menos do maior eleitor do país, o ex-presidente Lula. O melhor exemplo são os parceiros que já estão com seus candidatos lançados à ministérios, postos de segundo escalão e boas diretorias de estatais e até de agências reguladoras. A presidente pretendia fazer uma reforma restrita, como já foi comentado aqui. Não vai dar mais. E por mais que ela se esforce, a presidente deixará os "mortos e feridos" pelo caminho. Um custo que poderá ser cobrado nas votações no Congresso e no palanque de 2014. Pergunta e resposta incômoda Por que Dilma correu todos esses riscos, antecipando ela própria o debate eleitoral ? Há várias teorias circulando. Não erra, porém, quem acreditar que um dos alvos tem hoje residência em São Bernardo do Campo. Lupas sobre a gestão de Haddad Não são poucos os petistas de coturno alto que estão preocupados com a gestão de Haddad no prédio do Viaduto do Chá. Estes acham que o tutelado de Lula está condicionado a ficar longe dos holofotes do dia a dia como era o caso do Ministério da Educação. Há severas dúvidas se o prefeito paulistano aguenta uma enchente num dia e um incêndio no dia seguinte. Ele vai nomear também ? Todos os indícios são de que a presidente Dilma "terceirizou" para o ex-presidente Lula as tarefas de manter a base aliada no Congresso unida e obediente e a de formar o grande palanque com o qual ela pretende disputar a reeleição do ano que vem. O objetivo é macro : é aceitável que fiquem de fora apenas o PSDB, o PPS, o DEM e o partido de Marina Silva (se vier a ser criado). Até mesmo o PSB de Eduardo Campos está sendo cercado para, na hora certa, ser cassado e jogado no redil oficial. Tais objetivos exigem amplas (e às vezes inconfessáveis) negociações. Todos estão dispostos a seguir com a presidente desde que sejam regiamente compensados. Com antecipação, nada de contas a pagar em 2015. É aqui e agora. A moeda de troca mais comum chama-se emprego, em ministérios e postos chaves na burocracia Federal. As perguntas são : (1) Lula recebeu carta branca para negociar como bem entender com os aliados ? (2) Pode fazer qualquer oferta ? (3) Ela vai nomear também ou só indicar ? É bom lembrar que parte das indicações de Lula para Dilma no início do governo dela acabou "faxinada". Eles não estão gostando Uma parcela dos petistas, com todo o respeito que tem por Lula e Dilma e entendem que o objetivo maior do partido deve ser o poder maior da República, não está gostando muito dos movimentos para criar um palanque para Dilma inflado como nunca houve antes na história deste país. O temor se justifica : os aliados, como compensação pela adesão, deverão cobrar, além de empregos, apoios petistas para seus candidatos a governador, apoio preferencial a alguns candidatos ao Senado e alianças nas eleições para a Câmara dos Deputados sempre que for conveniente para eles. É a escola PMDB em ação : não disputa a presidência, mas garante algum poder nos Estados e bancadas de peso na Câmara e no Senado, seus dois grandes trunfos de barganha com a presidência. O PMDB, que é o modelo dos outros em menor escala, sonha em ter candidatos competitivos aos governos estaduais em pelo menos 20 dos 27 Estados. Muitos com o apoio do PT. Como no RJ, por exemplo, onde o petismo já está nas ruas com a candidatura do senador Lindeberg Faria. Acomodação difícil Acomodar tudo isto é uma tarefa complicada até para um político da estirpe de Lula. Uma de suas manobras parece já fracassada : a de fazer Eduardo Campos vice de Dilma e do poeta Michel Temer candidato a governador de SP com o apoio do PT. Nem PT nem PMDB gostaram da conversa e ela está sendo dada como encerrada. Nem tudo são flores Aparentemente, o PMDB está apaziguado e em harmonia depois das eleições de Renan Calheiros para a presidência do Senado e de Henrique Eduardo Alves para a da Câmara. Não é bem assim, porém. Está em convulsão nos bastidores partidários novamente, especialmente na bancada da Câmara e em alguns Estados, a insatisfação da "plebe" com o tratamento que recebe do governo Federal, com as relações sempre na base de intriga com o PT, e com os caciques partidários. Este sempre foi um tema recorrente no PMDB nos últimos tempos, mas que Michel Temer e seu grupo conseguiram contornar com habilidade e sem muitos danos, a não ser alguns sustos que os peemedebistas costumam pregar na presidente Dilma. Agora, porém, está diferente. Como já se entrou na reta final das eleições do ano que vem, os peemedebistas querem ser tratados, tanto pelo governo, quanto pelo PT e os manda-chuvas do partido com "mais respeito", como alguns deles andam dizendo abertamente pelos corredores do Congresso. Ameaças de deserção Há ameaças sérias de deserção, como a dos mineiros bandeando-se para a candidatura de Aécio Neves se não ganharem um ministério ou algo nas estatais que valha por isso. De um modo geral, o PMDB quer mais ministérios "eleitoralmente" melhores que os quase decorativos (sem importância ou porque eles não mandam de fato) que têm hoje. Esta insatisfação pode explodir na convenção do partido dia 2, sábado, quando Michel Temer, tido por muitos como mais dilmista e governista que peemedebista, pretende disputar a reeleição para mais um mandato à frente da legenda. Aposta na deserção Aécio Neves aposta sério na deserção. Não à toa ficou escondido quando a dupla Henrique Alves e Renan Calheiros estava sendo eleita para liderar o poder Legislativo. O risco de Aécio é evidente : pode estar tão sintonizado na "pequena política" que pode esquecer-se de que o eleitor está nas ruas. Aparentemente o mineiro percebeu este risco, mas o seu jogo tem limites : não para de pensar nos parceiros de palanque em 2014. Resta saber se haverá público para escutar o que tem a dizer na eleição presidencial. Além disso, o único aliado interno ao PSDB que tem no curto prazo e que tem voz própria chama-se Fernando Henrique Cardoso, com seus méritos e deméritos. Teoria da conspiração 1. Com a campanha na rua, os fantasmas começam a rondar até cabeças bem assentadas. Alguns dilmistas, por exemplo, estão vendo nesta movimentação toda do governador Eduardo Campos para fixar sua candidatura como sendo, na verdade, um movimento em favor da candidatura de Lula. O governador já teria dito a mais de uma pessoa que a única coisa que o faria desistir de concorrer à presidência em 2014 seria o ex-presidente querer concorrer. 2. Outra teoria conspiratória diz que, em contrapartida, os dilmistas poderiam lançar o balão de ensaio de uma candidatura Lula do governo de SP, única forma segura de quebrar a hegemonia tucana de 20 anos em SP. Criaria certamente um fato quase consumado e um constrangimento para Lula. São teorias um tanto quando absurdas. Porém, em política, bruxas há. Quinta coluna Lula começa sua peregrinação pelo país quarta-feira por Fortaleza, no CE, considerado uma fortaleza inexpugnável dos irmãos Gomes. O governador Cid e o irmão sem mandato Ciro prometem prestigiar o evento do PT que Lula vai abrilhantar. Não está acontecendo de graça a escolha de Fortaleza para inaugurar a nova caravana da cidadania de Lula. No fim de semana, Ciro Gomes, político sem travas na língua, já soltou críticas do presidente do PSB, Eduardo Campos. Brasília conta com os irmãos Gomes para minar o prestígio de Campos por dentro da legenda. Conspiração ou quinta coluna Nas últimas semanas o governo já anunciou diversas revisões nos seus planos de concessão (ou privatização) de rodovias, ferrovias e portos. E outras poderão vir. Havia tantos erros assim ? Foram casos de descuido ou ações propositais de quem é contra essas concessões. Sabe-se que há muita resistência na burocracia e nos partidos às "malditas privatizações". Radar NA REAL 22/2/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3069 estável baixa - REAL 1,9820 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.617,56 estável estável - S&P 500 1.487,85 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.116,25 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 233

Os juros, o câmbio, a inflação e a política Depois de trombadas e abalroamentos em profusão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Alexandre Tombini (lembrete útil : também tem status de ministro) parecem, finalmente, que afinaram a "logorréia" econômica oficial. Pelo que ficou entendido das declarações de Tombini a respeito do "desconforto" do BC com a inflação e das afirmações de Mantega, na Rússia, de que o câmbio não será usado como instrumento de política anti-inflacionária e que esta função é dos juros, a qualquer momento que julgar necessário a autoridade monetária poderá voltar a elevar a taxa Selic, hoje em 7,25% ao ano. O tal de mercado leu rapidamente o recado e na própria sexta-feira, dia da declaração de Mantega, já começou a elevar as taxas de juros no mercado futuro. Os juros, o câmbio, a inflação e a política II Um pouco de cautela nessas análises é aconselhável. Os dois parecem mais interessados em ajustar as expectativas e ganhar alguma elevação dos juros no mercado futuro sem a necessidade de o BC agir diretamente na Selic. A razão é simples : um dos mantras político-eleitorais da presidente Dilma Rousseff é exatamente poder inflar o peito de orgulho e dizer que nunca neste país os juros estiveram tão baixos. E insinuar que podem - e devem - cair ainda mais. Como as eleições de 2014 já estão desgraçadamente no ar... O plano real As indicações mais confiáveis são as de que o governo pretende concentrar seu ataque ao risco de um descolamento da inflação em novas desonerações da folha de pagamento e na eliminação dos impostos que incidem sobre os alimentos da cesta básica. Isto, mais a redução das tarifas de energia elétrica e o menor efeito do aumento do salário mínimo, mais os bons sinais de que a pressão dos preços dos alimentos está arrefecendo, seriam fatores suficientes para não deixar a inflação estourar o limite superior da meta de 6,5%. Esta é a meta real de inflação no Brasil para 2013/2014 : não passar de 6,5%. Governo faz um "ataque especulativo" Ajustes econômicos nunca são neutros, como se sabe. Há sempre um efeito sobre certa variável macroeconômica quando se altera (ou se tenta alterar) outra variável. Note-se que as expectativas têm valor superior aos fatos (futuros), na medida em que são as primeiras que alteram os preços dos ativos e comandam as ações dos agentes. No momento, a política econômica está sofrendo "um ataque especulativo originado dentro do próprio governo". Afinal, são os próprios gestores da política econômica que tornam as coisas confusas, contraditórias e obscuras. Vejamos o caso do juros e do câmbio : não precisa ser economista para saber que a formação da taxa de câmbio é endógena, ou seja, formada pelo mercado. Assim como a inflação. A variável exógena que influi em relação a ambos chama-se taxa de juros básica. Somente esta última, em termos nominais, é administrada pelo governo. Nem mesmo a chamada "curva de juros" está sob a gestão do governo. Logo, se os agentes não entendem os sinais que vem do governo, formam-se expectativas confusas, erráticas. Assim nasce a volatilidade, fruto deste risco. Mantega, Tombini e sua turma estão freneticamente lançando comentários carentes de unidade lógica que favoreça uma menor volatilidade no mercado. Não lhes falta apenas talento para a comunicação. Falta-lhes conteúdo mesmo. A inflação fora de controle ? Já se sabe que este governo não tem competências intestinais capazes de produzir a confiança para que os agentes se arrojem na tarefa de investir e aumentar, assim, o investimento. Esta seria uma tarefa avançada para uma equipe econômica tão fraca de ideias e de concepções estratégicas. Agora, o governo está brincando com a inflação. Esta alcança patamares preocupantes num cenário de fraqueza de demanda. Imagine-se se o crescimento do PIB fosse mesmo de, digamos, 4%. A inflação não seria os atuais 6,0%-6,5%. Provavelmente, saltaria alguns pontos percentuais e com rapidez. A taxa de difusão dos preços já está acima de 60%. Isto significa que os agentes consolidaram a ideia de que a inflação ganhou dinâmica própria e que 6% é piso e não o teto para a carestia. Muitos analistas têm sido cautelosos para fazer prognósticos sobre a inflação. Isto é natural num país pouco acostumado ao confronto de ideias. Todavia, o país está sujeito a uma perigosa incompetência em relação à inflação. A correção disto pode custar mais que a atual estagnação. Pode ser necessária uma recessão. Expectativas de crescimento exageradas O ex-presidente Lula trouxe à política a "nova pauta" da inclusão social. Nada mais justo num país sabidamente desigual. A distribuição de renda ocorreu num ambiente internacional extremamente favorável até 2008 e, depois da enorme crise instalada no mundo, deixou de ser o "fenômeno" tão apregoado pelo ex-trabalhador. O que se seguiu com o governo Dilma foi a evidência de que o crescimento econômico brasileiro não tem dinâmica - os investimentos despencaram (de fato, nunca cresceram consistentemente) e o consumo encontrou o muro do alto custo dos empréstimos e da limitação da renda para pagar dívidas. Isso tudo com o mercado laboral permanecendo (surpreendentemente) positivo, apesar do vergonhoso PIB de 1% no ano passado - os EUA com toda a crise que enfrentam cresceu 2%. Ora, com a inflação em alta, os ataques especulativos de dentro do próprio governo e a taxa de câmbio valorizada, a aposta do "mercado" de que o crescimento vai ser maior que 3% parece bem otimista. Frase da semana Do jornalista Rolf Kuntz em artigo no "Estadão" : "O papa Bento XVI anunciou a intenção de se isolar depois de abandonar o Vaticano. Dificilmente estará mais distante do mundo num convento do que estaria em Brasília". Trair e coçar, é só começar ! Diriam os pecuaristas que a situação política, em matéria de sucessão presidencial, está daquelas em que o bezerro não reconhece a mãe. Na plataforma de lançamento estão Dilma Rousseff, Marina Silva, Eduardo Campos e Aécio Neves. Dilma já está no jogo e fez algo inusitado na política brasileira : precipitou a própria sucessão, com todos os riscos políticos que isto acarreta. A largada antecipada pode levar, por exemplo, a presidente a tropeçar na economia (ver notas acima). Marina Silva, com o recém-lançado "Rede Sustentabilidade", também é nome certo no grid de largada. Eduardo Campos está no páreo, não esconde que é candidato apesar de algumas ambiguidades, está mais para ir que para não ir, mas ainda analisa riscos e oportunidades. Será força influente, porém. Aécio Neves é aspirante sim, só não concorrerá se não conseguir a unidade de seu partido e uma aliança que pelo menos mantenha com ele o DEM e o PPS. Porém, ao contrário de Eduardo Campos, da mesma geração e com quem tem diversas afinidades, ele testa suas possibilidades para dentro e não para fora. Trair e coçar, é só começar ! II Mas fora dos partidos de origem de cada um dos quatro, este cenário não está consolidado - e ninguém aposta em ninguém, estão todos esperando para ver o sopro do vento. O único dos partidos mais significativos que não terá candidato à presidência e que está com um compromisso mais firme, por interesses imediatos, é o PMDB. O partido quer garantir a vice-presidência, que está ameaçada por movimentos de Lula e Eduardo Campos. Também quer mais espaço no governo. Dilma quer o partido não só para suas necessidades diárias no Congresso como também como uma espécie de contraponto a alguma discordância com o próprio PT. Mesmo assim esse compromisso não está passado ainda "em cartório do céu e assinado por Deus" (Vinícius e Baden, no "Samba da Benção"). O restante está de amizade colorida. Dilma conversou com alguns já, mas de nenhum recebeu a garantia de votar com ela em 2014. Estão com ela no Congresso, a sucessão presidencial é outra conversa, para outro momento. O mesmo vale para Aécio, Campos, Marina. Vai depender das ofertas e das chances mínimas de cada um. O que começa a contar é a tal "expectativa de poder". As bruxarias de Lula Lula já deu demonstrações de que em matéria de política é capaz de fazer, como diria aquela bela canção de Dorival Caymmi ("João Valentão"), "coisas que até Deus duvida". Escapou incólume de todos os problemas de seu governo - mensalão, queda de ministros (Antonio Palocci e José Dirceu) - e posteriores - queda de ministros indicados a Dilma, os "bebês de Rosemary" - e elegeu duas apostas, inicialmente consideradas temerárias para a presidência da República e a prefeitura de SP. Mostrou que é mesmo o próprio "cara". Com tal cacife e sem contestações visíveis na área do governo, está agora pretendendo armar um quebra-cabeças realmente sobrenatural : a) entregar a vice presidência da chapa de Dilma à reeleição para Eduardo Campos do PSB, retirando da cabeça do governador de PE o plano de se candidatar ao Palácio do Planalto ano que vem. b) compensar o PMDB e Michel Temer pela perda da vice-presidência com a candidatura à sucessão de Geraldo Alckmin em SP com as bênçãos do PT. Mesmo para um "milagreiro" como Lula, é santo demais para acomodar. O PMDB aceitaria trocar o que acha certo pelo mais que duvidoso, ainda mais que está totalmente alinhado com Dilma ? O PT aceitaria fazer concessões ? O PMDB e o PSB, conhecendo o parceiro como conhecem, confiarão numa resignação petista ? Se conseguir tal façanha, Lula poderá reivindicar o direito a uma "canonização política". Jogo de cartas marcadas ? Há um enigma em algumas movimentações iniciais do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff da sucessão de 2014. Apesar das diferenças de estilo e de ênfase, em dupla, eles atuam na política e na economia como as mais afinadas duplas caipiras. De público, não há divergências e quando surge algum ruído é logo explicado. Agora, porém, parecem em campos opostos nas tratativas para montar o palanque de Dilma para 2014. Lula trabalha para colocar Eduardo Campos no lugar de Michel Temer na recandidatura presidencial. Dilma tem afirmado que a parceria com o PMDB vai permanecer intacta. Das duas uma : ou eles começaram a divergir ou, o que é mais provável, estão jogando em dobradinha para manter o PMDB e evitar que Campos saia imediatamente do redil oficial e só oficializarão a chapa governista no ano que vem. Enquanto isso, ficam os dois distraídos e na expectativa. Para compensar, a ABL Quem sabe das coisas sabe que o PT nunca abrirá mão de disputar o governo de SP com um candidato próprio, pois nunca ter governado os paulistas é um das frustrações petistas. Assim, ele só abrirá mão dessa vaga para um aliado, no caso alguém do PMDB e, ao gosto de Lula : Michel Temer. Isso se o ex-presidente estiver absolutamente certo de uma derrota. Mas, quem sabe, tal estratégia não seja nada para o peemedebismo. Temer, poeta romântico que é, poderá ser compensado com o apoio de Lula à candidatura dele a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Um vespeiro para Dilma No vai e vem das informações desencontradas sobre a reforma ministerial que a presidente Dilma já está negociando com os aliados, assegura-se agora que a mudança será mais ampla que a inicialmente pretendida por ela. Não virá mais apenas para acomodar compromissos com PMDB e o PSD, assumidos nas eleições municipais. Vai atrair de volta para o curral oficial os partidos que andavam desgarrados das mudanças de 2011 por suspeitas de mal feitos, caso dos "faxinados" PR e PDT. Os dois têm "nomes fantasia" no ministério atual, que não são de agrado dos seus caciques. Dilma terá também de fazer algumas compensações regionais para não abrir fissuras perigosas na sua base. É o caso de MG, especificamente com o PMDB. O PMDB mineiro considera-se credor de um ministério por ter, atendendo a um apelo do onipresente Michel Temer, apoiado a candidatura derrotada de Patrus Ananias/PT à prefeitura de Belo Horizonte. Se não receber a compensação, os peemedebistas mineiros ameaçam abraçar desde já a candidatura presidencial do tucano mineiro Aécio Neves. Um vespeiro para Dilma II Até o próprio petismo mineiro acha que Dilma precisa dar mais espaço a Minas no Ministério, hoje representada apenas pelo solitário Fernando Pimentel no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A imagem de Dilma para uma parte relevante dos mineiros é "a de uma mineira que não gosta de Minas", frase esta já explorada por Aécio Neves na campanha municipal. Dilma não pode se arriscar a um atrito com o segundo colégio eleitoral do país, bairrista como ele só, e no qual tanto Lula (duas vezes) e ela (em 2012) conseguiram expressivas margens de votos sobre os adversários. Desta vez um dos prováveis concorrentes será um mineiro, o que ajuda a recrudescer o sentimento nativista das Alterosas. Ao admitir fazer uma reforma ministerial para atender PMDB e PSD de forma restrita, Dilma mexeu num vespeiro de reivindicações que já extrapolam também para o segundo escalão. Haja cargos ! A festa (e a solidariedade) do PT O PT faz uma grande festa amanhã em SP, tendo como astros de primeira grandeza naturalmente a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula para comemorar os 33 anos de criação do partido e os dez anos de petismo na presidência da República. Em meio à apoteose que deve ser o evento será curioso descobrir como o partido, com outros convidados ilustres no palco, tratará os mensaleiros condenados pelo STF, figuras cruciais na fundação e consolidação da legenda. Haverá um ato de solidariedade explícita aos companheiros em dificuldades com a Justiça ou o assunto será esquecido ou apenas tratado de forma envergonhada ? Tem gato na tuba ? Depois de conquistar a presidência do Senado, com o investigado Renan Calheiros, o PMDB está querendo nada menos do que o comando do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa. Na Câmara, onde pontifica Henrique Alves, quem almeja posição idêntica é o PT, ainda às voltas com seus deputados condenados no mensalão. A pequeneza de Dilma Durante a campanha eleitoral que elegeu a novata em eleições, Dilma Rousseff, o Papa Bento XVI declarou que os eleitores não deveriam votar em candidatos que apóiam o aborto. Ora, nada mais natural que um pontífice se pronuncie em relação aquilo que diz respeito à doutrina de sua religião. A mesma crítica tocou a eleição norte-americana do ano passado. Não foi uma censura direta aos candidatos, um erro primário que o atual Papa não cometeu. A sociedade aberta permite este confronto. Note-se como é discutida a questão da pedofilia de certos religiosos nos EUA e na Irlanda, apenas para citar um incômodo assunto para as lideranças católicas. Pois bem : todos os líderes das principais nações do mundo mandaram mensagens à chancelaria vaticana quando do anúncio da renúncia de Bento XVI. A exceção foi Dilma que se recolheu às próprias mágoas. Radar NA REAL 15/02/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3351 estável baixa - REAL 1,9636 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.613,90 estável estável - S&P 500 1.514,14 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.192,03 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 232

A democracia formal e a real - I Inegavelmente o Brasil produziu avanços institucionais importantes ao longo dos últimos trinta anos, especialmente após a promulgação da CF/88, bem como após a estabilização da moeda ao final da administração Itamar Franco e início da gestão de Fernando Henrique Cardoso. O governo Lula representou o passo determinante na transição do poder militar para o civil : a chegada ao mais alto posto por parte do partido mais arraigado na luta pela popularização da democracia coroou a cena da democracia brasileira. Um partido com importantes raízes nos chamados "movimentos populares" adentrou à cena política como ator principal, liderado pelo segundo líder mais carismático da história brasileira. Desde 2003 fortaleceu-se a democracia brasileira naquilo que de forma singela se pode chamar de "democracia formal", entendida como a resultante de eleições livres e plenas garantias individuais e públicas. Há inegavelmente legitimidade política decorrente da existência desta "democracia formal". Todavia, a democracia não é um fim, mas o meio pelo qual se constrói a República, o interesse público, comum e permanente. É preciso dar à democracia este caráter finalista para que se prove de seus benefícios. A democracia formal e a real - II O que se vê hoje no Brasil é uma perigosa ausência de funcionalidade e de fins verdadeiramente republicanos à "democracia formal" construída com enorme esforço social e político. Vejamos brevemente. O governo é uma colcha de partidos de concepções díspares, objetivos obscuros e lideranças empenhadas na obtenção de parcelas de poder e de recursos, sem o devido comprometimento com o ideal basilar de uma verdadeira República. Por sua vez, é no coração do Poder Legislativo, dos municípios à União, que é engendrado o chamado "governo de coalizão" que soma os tais partidos de diferentes matizes para construir governos disformes, com ar administrativo rarefeito e padrão ético duvidoso, para dizer o mínimo. O projeto de poder dos partidos se serve do processo eleitoral para, logo depois deste, se distanciar da res publica e negociar o interesse de grupos que tomam de assalto o Estado. A sociedade, por sua vez, assiste a tudo com perplexidade, de um lado, e de outro, com surpreendente passividade, apenas resmunga por meio da mídia. O sistema de representação não passa de uma ficção política e uma realidade maquiavélica recheada de personagens e ações que resvalam para a obscuridade da corrupção, prevaricação, clientelismo e todas as piores mazelas que já Aristóteles imaginava desde a Antiguidade. A democracia formal e a real - III A eleição de Renan Calheiros e Henrique Alves para liderar as principais casas legislativas do país nada mais é que mais uma das feições corroídas da democracia brasileira neste tempo. É o lado real de nossa democracia. É a face visível que consagra a nossa já combalida história política, marcada pelo clientelismo e patrimonialismo. Tanto a quem elege, como a quem recebe o sufrágio de votos, pouco interessa o interesse público, a higidez ética necessária à liderança do parlamento, a índole republicana e a imagem pública. Calheiros e Alves simplesmente simbolizam as costas viradas ao povo por parte do Parlamento e, daí por diante, pouco importa a dor de garganta de quem terá de engoli-los. Os políticos assistem a tudo e formalmente consagram os eleitos como se a democracia fosse simplesmente um jogo de legitimação. Meios e fins se misturam e fim de conversa. Está feito. Como se não se tratasse do segundo e terceiro cargos mais importantes daquilo que ousamos chamar de República. Eis a regência que a democracia formal lhe concede no Brasil. Sarney imortal Do discurso de José Sarney, agora ex-presidente do Senado Federal, quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras perante o general Figueiredo em 6/11/80 : "Nada melhor para um país do que verificar que os homens públicos prezam os valores do espírito. É possível pensar em Nabuco, em Rui, em Graça Aranha, em Tobias Barreto, João Neves, Otávio Mangabeira, Afonso Pena Júnior e em Afonso Arinos, em Luís Viana, em Alceu Amoroso Lima, em José Américo, em Barbosa Lima, Afrânio Peixoto, Aníbal Freire e em Gilberto Amado sem pensar na política ? Churchill ? De Gaulle ? Mao ?" O que diria o velho senador maranhense sobre a última eleição no Senado e na Câmara ? Depois de Calheiros e Alves A eleição da dupla peemedebista no Legislativo atende a um acordo entre o maior partido brasileiro e o PT há cerca de quatro anos. Os tempos eram outros e o acerto visava atender aos anseios de uma "alternância de poder" entre os dois sócios. Ocorre que a realidade muda. O PSB, duvidoso parceiro do governo no pleito de 2014, lançou candidato alternativo, o mineiro Júlio Delgado e, assim, marcou pontos para Eduardo Campos, o desenvolto governador de PE que anseia dar passos maiores na esfera Federal. No Senado, a eleição de Calheiros foi mais fácil, apesar do candidato ser uma imensa vidraça. Daqui para frente, será relevante observar como andará a aliança entre o PMDB e o PT num novo contexto em que o PT dependerá da caneta de seu maior parceiro. Oposição, Aécio e o futuro Nenhum retumbante discurso enfático da oposição na tribuna do Senado e da Câmara. Nenhuma ação junto à sociedade. Nenhum barulho do presidenciável Aécio Neves contra a eleição no Legislativo Federal. Na surdina, PSDB e parceiros fizeram acordos para sentar na mesa das casas legislativas. Acordos bem pequeninos. Do tamanho da oposição que se diz "alternativa de poder". As eleições de 2014 estão soltas, mas qual a imagem que a oposição quer construir ? Anônima Intimidade Ainda não foi consagrada a nova face poética da República, no caso o vice-presidente Michel Temer, autor de versos verdadeiramente "aéreos". Todavia, não deixa de atiçar a curiosidade de como terá sido a sua atuação na eleição de Calheiros e Alves e sua correspondente articulação com a ocupante do Planalto. Que promessas terão trocado o par neste processo todo ? Como ficará a prometida reforma ministerial ? Serão verdadeiras as versões que dão conta de que o PMDB não ocupará a vice-presidência na chapa de Dilma em 2014 ? Tudo ficou anônimo nesta intimidade do poder. A voz da crítica De Paulo Maluf, citado por Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo do último fim de semana a respeito do livro de poemas Anônima Intimidade do vice-presidente Michel Temer : "Ele imprime uma poesia que vem de dentro da garganta e do coração". Maluf ultrapassa seus conhecimentos mais mundanos quando fala de poesia... Nova estratégia econômica ? E política... I Os últimos sinais emitidos indiretamente pela presidente Dilma Rousseff mostram que o governo mudou sua principal obsessão : não mais persegue a todo custo o "PIBão" que o Palácio do Planalto pediu de presente no ano novo. Por PIBão entenda-se um crescimento da economia entre 4% e 4,5%, a meta que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua vendendo ao distinto público nacional, principalmente aos mais desavisados. O governo se daria por satisfeito com algo acima de 3% - naturalmente superior a 2011 (2,7%) e a 2012 (mas ou menos 1%). Não será difícil conseguir, segundo a quase totalidade dos analistas. O Boletim Focus, pesquisa do BC com cerca de 100 analistas de mercado, divulgado ontem, indicou a mediana do PIB para 2013 em 3,10%. Evidentemente, não é o que Dilma sonhou, mas o que o próprio governo descobriu, com má vontade, ser possível nas circunstâncias. Nova estratégia econômica? E política... II A estratégia agora é preparar o campo para 2014, ano das eleições que a presidente vai disputar e que, com riscos para os planos dela, de Lula, do PT e dos aliados, não pode ser marcado pela perversa combinação de crescimento baixo e inflação muito fora do centro da meta. Quatro anos seguidos com um quadro desses pode destruir o grande cabedal eleitoral da presidente : desemprego baixo e renda em elevação, mesmo que não crescendo nos níveis dos últimos anos. Nesta situação, a oposição pode dar adeus às suas pretensões de voltar ao Palácio do Planalto. Assim, até segunda ordem, pode-se prever, com alguma margem de segurança : 1. A inflação será calibrada para não fugir do teto da meta, de 6,5% e o mais próximo possível de 5%. Sem, contudo, medidas que possam segurar a economia. 2. O dólar será mantido na casa dos R$ 2,00, sem grandes variações para cima e para baixo. 3. O BC só será autorizado a subir a taxa básica de juros dos 7,25% se alguma intempérie ocorrer. 4. O superávit primário de 3,1% não será mantido a ferro e o fogo. E o governo, em lugar de passar o ano garantindo que cumprirá este compromisso para em dezembro aparecer com mágicas para fingir que cumpriu, desta vez deverá admitir antes que não precisa tanto deste número para segurar o tamanho da dívida pública em números palatáveis. 5. O incentivo ao consumo será mantido, talvez apenas com um pouco menos de fôlego. 6. Toda a atenção será dada à ampliação dos investimentos, tanto públicos como privados. Os números preliminares do ano passado estão mostrando que, apesar de todo o discurso e apelos, este item das contas nacionais voltou a decepcionar. E enormemente. Não deixa de ser um plano econômico. Mas é também uma grande plataforma eleitoral. A dúvida mais cruel é saber como os agentes econômicos vão receber as novas regras. Embora o prestígio da presidente Dilma esteja ainda em alta, a confiança no governo, na condução das políticas para a economia e, principalmente, na sua capacidade de fazer, continua a desejar. O nó do investimento Para fazer os investimentos crescerem no ritmo que a economia brasileira necessita (lembrar que o BC escreveu na última ata que nosso problema está do lado da oferta, opinião generalizada entre os analistas não oficiais) a presidente Dilma vai atacar em duas frentes : 1. Na área do governo, aumentar a capacidade de "fazer" dos ministérios e órgãos estatais. Como nos anos anteriores, a execução orçamentária do governo Federal ficou muito abaixo do planejado. Não fossem os investimentos da Petrobras e os relativos ao programa Minha Casa, Minha Vida (que tem um boom do setor particular) os investimentos de 2013 teriam sido quase ridículos. 2. Na área privada, a ordem é envolver empresas e investidores nacionais e estrangeiros, comovê-los com os argumentos (corretos) de que o Brasil é um bom negócio e de que o Estado brasileiro é um bom parceiro (com isso muitos têm dúvidas, dado o intervencionismo estatal em muitas áreas ainda). Na frente interna, a presidente Dilma Rousseff iniciou um trabalho de atração de investidores e passou a receber periodicamente grandes empresários nacionais e de empresas estrangeiras aqui instaladas para conquistá-los, para acabar com a desconfiança da maioria. Na frente externa, a presidente está despachando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e outros auxiliares graduados, para road shows nos Estados Unidos, na Europa e em países do Oriente para venderem o Brasil e as possibilidades de investimentos que aqui estão abertas nas áreas de infraestrutura, petróleo e gás. O sucesso dessas empreitadas dependerá do realismo com que o governo apresentar os projetos, como também suas previsões para a economia nacional. Se o espetáculo for mais ou menos parecido com o que Mantega engambela o público brasileiro, o esforço pode não dar em nada. Os interlocutores que a equipe do show vai encontrar estão muito bem informados sobre o Brasil. O governo precisa vender mesmo é credibilidade, confiança. Radar NA REAL 4/2/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3512 estável baixa - REAL 1,9954 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.575,66 estável estável - S&P 500 1.495,71 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.131,17 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 231

Dilma : 2014 é aqui e agora - I Não foi apenas a oposição que foi surpreendida pelo tom "eleitoral" do discurso da presidente Dilma Rousseff em rede de rádio e televisão quarta-feira passada. Muita gente de boa, até ótima cepa, no governismo também o foi. Uma razão óbvia para o inesperado pronunciamento foi naturalmente colocar o governo na ofensiva, tentar afastar o ambiente carregado na sociedade em relação ao governo - estava se disseminando a sensação de inapetência e incapacidade gerencial de Brasília. Até mesmo entre gente de fé governista. Há informações de que o próprio ex-presidente Lula, em conversa com Dilma no fim do ano passado, teria manifestado sua preocupação com a situação. Por isso, o ativismo presidencial desde o fim das férias. Dilma : 2014 é aqui e agora - II O que intriga é por que, além de mostrar que seu governo não está parado, a presidente também assumiu definitivamente a campanha eleitoral de 2014, quando, poucos dias antes, havia dito que 2013 seria um ano de "arrumação e colher frutos" ? Segundo o repórter Raymundo Costa, do jornal Valor Econômico, ela chegou a dizer a um interlocutor, recentemente, que o mandato dela é de oito anos - uma alusão a seu direito de disputar a reeleição. Assim, o recado do discurso e a antecipação da campanha, que ela não queria porque sabe que embaralha a vida administrativa do governo, não parecem dirigidos à oposição. Esta, além de ainda confusa e de não ter um rumo certo no momento, não contesta o direito reeleitoral de Dilma. Quer apenas, se possível derrotá-la na disputa de 2014 - hoje tem poucas perspectivas de fazê-lo no horizonte atual. O alvo foi o público interno. E logo alguns - ou algum - assumiu a carapuça, dizendo, por meio de auxiliares, que não se pensa numa "canção da volta", como certos movimentos do lulismo davam entender possível. As "viúvas", aqueles companheiros que perderam espaços em Brasília, terão de curtir um pouco mais o seu luto. O poder presente e o poder futuro Há outra razão para o soco na mesa de Dilma : seu mandato entrou na fase de contagem regressiva, como ocorre normalmente com todo governo no Brasil quando ele ultrapassa a metade de sua gestão. Nesta fase o mundo político começa a medir as vantagens entre estar com o poder presente ou namorar o poder futuro. Dilma tem então de mostrar que continua uma boa perspectiva de poder para não começar a esmaecer. Petismo, lulismo e dilmismo O universo governista gira em torno de três ismos : (i) o petismo, que hoje é um apêndice dos outros dois - e cada vez mais dependente deles ; (ii) o lulismo, ainda uma força popular imensa, com ramificações em todos os estratos sociais e saudosistas em todos eles ; (iii) o dilmismo, ainda embrionário, e que quer tirar sua força em dois instrumentos : a caneta e o Diário Oficial. A questão é saber como eles se comporão entre si, uma vez que nem todos os objetivos são os mesmos, e como se comporão com os outros aliados, nas disputas pelo poder no ano que vem. Novos postos De um maldoso de plantão ao observar as novas andanças de Lula, as ordens que anda distribuindo a ocupantes do poder e planos dele como organizar a base aliada de Dilma : "Estão criados mais dois postos na administração pública brasileira : a subprefeito da Praça do Patriarca e a de curador geral da República". O 40º ministério Segundo as contas oficiais, com a futura instalação do Ministério da Micro e Pequena Empresa, a ser destinado ao PSD de Gilberto Kassab e, provavelmente, ao vice-governador de SP, Guilherme Afif Domingos, Dilma baterá o seu próprio recorde emplacando o 40º ministério. A conta está errada. Não de direito, mas de fato, esse ministério número quarenta já existe conforme atestam os bons observadores da cena brasiliense : trata-se de um ministro sem pasta, uma espécie de ministro "plenipotenciário" - o marqueteiro João Santana. Sem o "imprimatur" dele muita coisa não anda lá pelas bandas da República. Ela ainda não despertou A oposição já percebeu que o ponto fraco do governo Dilma está, no momento, na condução da economia e na gestão de seus programas e projetos. A economia ainda rateia e a capacidade executiva de Brasília está vacilante. Porém, a turma do PSDB e parceiros não saem dessas constatações. Não vai para o debate mais aberto e principalmente não aponta alternativas concretas e viáveis. Há promessas de que depois do Carnaval as coisas vão mudar. Será ? Ao modo da oposição brasileira Comentário de um maledicente em circulação por Brasília : "De fato, o PSDB e sua turma resolveram mesmo ser mais ativos, aquecer a oposição, hoje morna, quase gelada, que fazem ao governo Dilma. Por isso apoiam a eleição de Renan Calheiros e Henrique Alves". Desalento Parece inevitável a eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado, e de Henrique Alves, para a presidência da Câmara, ambos do PMDB, apesar da extensa folha corrida dos dois. O Congresso faz questão de ficar de costas para a sociedade - depois não vai se queixar. Para quem ? Diz o vice-presidente da República, Michel Temer, que o senador Renan Calheiros fará uma "belíssima" gestão no Senado. Infere-se, uma vez que Temer é patrono dos dois, que ele pensa a mesma coisa a respeito de Henrique Alves na Câmara. Belíssima para quem ? - é o caso de perguntar, pois nenhum dos dois (Renan ainda nem admitiu publicamente a candidatura) apresentou nenhuma ideia para melhorar o andamento do Congresso. Fala-se em melhorar a imagem da instituição. Como ? Até agora a "campanha" está centrada em aliciar os "eleitores" com promessas corporativas e com o sempre gosto de fisiologismo. O deputado Tiririca pode ser mais uma vez desmentido : pior que está, sempre fica. A liderança de Alckmin O ex-candidato a presidência da República e atual governador de SP Geraldo Alckmin sempre foi uma figura que combinou fidalguia no trato com os seus opositores e ideias políticas relativamente tradicionais. Assim, construiu a imagem de um conservador confiável e administrador prudente. Entretanto, esta imagem vai mudando, desde a sua última eleição ao governo de SP. O governador tem sido uma figura pálida, expressando ideias inacabadas e realizando políticas cujos efeitos ou são demasiadamente limitados ou simplesmente nulos. Veja-se, por exemplo, as idas e vindas de Alckmin na questão dos dependentes de crack e a questão da segurança pública cujo padrão vem caindo nos últimos dois anos. Além disso, o governador paulista parece precocemente empenhado em formar um amplo espectro de apoio político - à moda brasileira - para garantir a sua reeleição nas Terras Bandeirantes. Desta forma, Geraldo Alckmin perde a credibilidade política para criticar as políticas do governo central e perde a chance de firmar como liderança nacional. BC, um rebelde com causa ? A ata do Copom divulgada quinta-feira pelo BC surpreendeu. Nas entrelinhas - algumas mais que visíveis - a autoridade monetária faz críticas veladas à condução da política econômica e dá alguns recados ao grupo do Ministério da Fazenda e adjacências. Os destaques : o problema da economia brasileira no momento não é de consumo e sim de oferta ; não haverá mais queda na taxa de juros ; no superávit primário cheio (inicialmente previsto de R$ 159,9 bi) é essencial para ajudar no combate à inflação ; a inflação está resistente e disseminada ; a recuperação da economia está mais lenta que o esperado ; sem a retomada dos investimentos o PIB não deslancha. O BC subiu o tom e causou inquietação em muitos gabinetes de Brasília. Erro ou puxão de orelha ? É possível, sempre há esta possibilidade, que o BC tenha errado no seu cálculo ao anunciar que a energia elétrica no Brasil ficará apenas 11% mais barata este ano quando a presidente anunciou cortes nas contas que vão de 18,2% para residências e comércio e até 32% para a indústria. O departamento econômico do BC tem uma extraordinária estrutura, tem sido muito correto em suas avaliações e não cometeria um equívoco tão primário. Tanto que quando anunciou sua projeção para a energia em 2013 ele avisou que já tinha considerado os descontos anunciados pelo governo. Como Dilma não gostou nada de ver uma de suas plataformas positivas contestadas (ou diminuídas) horas depois de soltar suas previsões, o BC prometeu revisá-las na próxima ata do Copom, em março. Tipo da emenda que virá pior que o soneto. Sinuca de bico do BC A continuar a letargia econômica brasileira, fruto de uma série enorme de fatores, dentre os quais se destaca a incompetência governamental em engendrar uma taxa de investimento crescente, a autoridade monetária brasileira ficará sozinha e sem alternativa de fazer políticas consistentes. Vejamos : (i) a estagflação atual cria um paradoxo perigoso para o BC. Para controlar a inflação tem de subir a taxa de juros, o que é contraditório com o fato de a atividade econômica estar deprimida ; (ii) o total de crédito concedido pelo sistema financeiro no Brasil está caindo pouco a pouco. O motivo pouco tem a haver com a política do BC - mesmo porque o spread continua elevadíssimo -, mas tem relação direta com a ausência de confiança nas políticas do governo ; (iii) a economia persiste em pleno emprego, o que recomendaria taxa de juro mais alta. Todavia, a economia está atolada e não vai à frente. Basicamente, o BC assistirá inerte aos movimentos do mercado laboral. Concluindo... Atualmente o liquidificador da economia brasileira gira com quatro ingredientes que costumam não combinar : elevado emprego, inflação em alta, crescimento frágil e consumo relativamente aquecido, mas declinante. O que vai dar esta combinação ? O que o governo vai fazer de efetivo para fazer que os ingredientes se misturem sem desandar a receita ? Virada no mercado Claramente o cenário do mercado acionário norte-americano é positivo. A tendência altista está se firmando por conta de quatro fatores básicos : (i) está muito firme a convicção de que a taxa de juros vai ficar mesmo baixa até meados de 2015, mesmo que a inflação se eleve acima dos 2% ao ano ; (ii) os indicadores econômicos mostram demanda para cima, mesmo que num ritmo ainda moderado ; (iii) os resultados corporativos do último trimestre do ano passado mostram lucros com crescimento acima do esperado, com problemas de crédito relativamente limitados e sinalização de lucros ainda maiores no futuro por parte do management das empresas ; e (iv) investidores externos comprando ações americanas. A somatória de melhores fundamentos e fluxos positivos faz da América o lugar preferido dos investidores neste momento. Radar NA REAL 25/1/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3445 estável baixa - REAL 2,0352 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 61.167,97 estável estável - S&P 500 1.502,96 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.149,71 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 230

Guerra de Barack Obama não é fiscal Muita ênfase tem sido dada à "guerra fiscal" que o presidente norte-americano travará no Congresso daquele país a partir das próximas semanas. De fato, o tal do "abismo" nas contas públicas sobre o qual tanto se fala é um jogo político entre aqueles que acreditam que estímulos fiscais e monetários devem ser a essência das medidas necessárias à recuperação da atividade econômica e, de outro lado, a turma que acredita que a intervenção do governo é o "freio" que não permite a recuperação. Como se vê, um velho jogo entre os pregadores do "livre mercado" e os que creem que o Estado tem de suprir a demanda que falta aos agentes econômicos. Alguém que minimamente conheça história sabe que esta questão já foi decidida : o "livre mercado" é uma construção ideológica desprovida de base na realidade econômica do mundo hodierno no qual se combinam monopólios, oligopólios e "neuroses" capitalistas de todos os lados, do efeito "rebanho" dos investidores à "covardia do capital" (termo batizado por Lord Keynes). Apesar da evidência histórica, nos EUA de Barack Obama a luta continua e muito forte. Uma derrota do presidente no Congresso, implica uma redução de pelo menos 2% no PIB. Uma vitória alarga as chances das coisas se arrumarem nos próximos anos. Europa : o pior já passou ? O desemprego na Europa meridional está batendo recordes. A Espanha calcula em 6 milhões o montante de desempregados (26% da mão de obra ativa do país). A Grécia tem 25% de desempregados e desesperados. Todos os países da zona do euro estão com desempenhos sofríveis ou recessivos em termos de PIB, inclusive a Alemanha de Merkel que tem sido surpreendida pela fraqueza dos indicadores de atividade econômica do país. Mesmo diante de tanta dificuldade na Velha Europa, a discussão acadêmica começa a se deslocar de temas sobre a recessão para "se o fundo do poço foi tocado". Ora, sabe-se que é muito difícil saber quando a recessão chegou ao máximo, os níveis de preços das ações bateram no mínimo e a tendência cambial mudou. Todavia, o que se verifica é que está se formando um estranho consenso de que o pior já passou na Europa. Afinal, alguns preços já se movem para cima (imóveis no Reino Unido), os leilões de títulos públicos estão mais demandados pelos investidores (Itália, Espanha, Irlanda) e as novas regras de supervisão do sistema financeiro por parte do Banco Central Europeu tiraram os maiores temores sobre a estabilidade dos bancos, sobretudo os espanhóis. Neste contexto, os mercados acionários estão se movendo para cima e o euro mostra certa fortaleza. Apesar destes tênues sinais de melhoras há um outro perigoso consenso entre os especialistas : o pior pode ter passado, mas as mazelas da crise serão curadas durante muito tempo. Brasil, o país do artigo indefinido Assim, de repente, não mais que de repente, de fontes sempre mantidas ocultas, fica-se sabendo, entre outras coisas que a presidente Dilma Rousseff não gostou do aval dado pelo assessor especial Marco Aurélio Garcia aos arranjos da Venezuela para empossar Hugo Chávez em um novo mandato de corpo ausente ; do imbróglio provocado pelas mágicas fiscais do fim de ano para maquiar o superávit primário ; das escolhas do PMDB para comandos na Câmara e no Senado, especialmente a possível indicação do deputado fluminense Eduardo Cunha (RJ) para a liderança do partido na Câmara ; e outras cositas mas. Traduzindo, nada que não tenha boa repercussão agrada à presidente. É uma nova versão do que "é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde" do ex-ministro Rubens Ricupero : "o que deu certo é meu, o que deu errado é dos meus auxiliares". Ou o lema de alguns treinadores de futebol : "eu ganho, nós empatamos, vocês perdem". Só que esta versão desmente outra que os assessores presidenciais fazem questão de divulgar de Dilma : a gerentona competente que tudo vê, tudo sabe, tudo cobra, "espanca" coisas mal feitas, não perdoa vacilações. A pergunta é : em que lugar estava esta "onipresença e onipotência" quando os feitos desagradáveis foram perpetrados ? A insatisfação da presidente fica no atacado, no artigo indefinido. Há culpas, mas não há culpados. Afinal, pelo seu zelo, todas as políticas são dela. Como culpar alguém de modo definido, no mínimo com um puxão de orelha público e no máximo com a demissão ? Novos rumos A impressão que o governo em Brasília passa é a de que está sentindo o golpe : a imagem de eficiência da presidente, pelas razões expostas acima, está também sendo atingida. Por isso, é visível neste início de ano a postura mais ativa, para fora, da presidente. A abertura do Palácio do Planalto para conversas públicas, individuais, de Dilma com empresários, rara nos dois primeiros anos de mandato, faz parte desta postura. Desde tempos imemoriais esses encontros nunca funcionaram : as empresas não agem na base da lábia, nem de versões : mas de fatos e ações. Porém, as cenas ajudam a criar a impressão de muita azafama na capital da República. O calendário de viagens da presidência, iniciado com a visita ao Piauí na sexta-feira passada e que deverá, até março, contemplar o Nordeste com mais cinco viagens, foram outras em outros Estados, como a SP, na capital, na sexta-feira, para a festa de aniversário da cidade, tem o mesmo foco. O terceiro ponto deverá ser apressar algumas medidas concretas para, na expressão oficial, "destravar" a economia. Como pano de fundo, cada vez mais notícias de cobranças a ministros e auxiliares, de broncas privadas. Sempre na base do "artigo indefinido". Velhos problemas Os problemas fundamentais do governo da presidente Dilma não são a política fiscal, a monetária e nem a cambial. Muito embora nestes itens tenham faltado vigilância cabível ao administrador público, os problemas tem soluções disponíveis e relativamente rápidas (coisa de meses e não anos como nos tempos da inflação alta e insegurança cambial). Além disso, é difícil imaginar no curto prazo (1 ano) que a economia perca um razoável perfil. O problema essencial do governo Dilma é a quase absoluta ausência de prioridades estratégicas e boa capacidade de execução de planos, obras e programas. Não à toa é o investimento o item mais capenga da equação do crescimento uma vez que aí reside a necessidade de presença do governo como bom estrategista e executor. Só assim, a iniciativa privada será seduzida a acompanhar o governo na tarefa de jogar o PIB para cima por meio de investimentos e não consumo. E o que se vê ? O ministro Mantega anuncia a cada semana medidas de estímulo ao consumo, uma clara evidência da falta de sentido estratégico do governo. Até mesmo o "acelerado" setor de construção civil recebe benefícios do governo quando se sabe que nem engenheiros se tem em suficiência para atender a demanda. E onde estão as medidas estratégicas pró-investimento ? Provavelmente, não estejam sequer nas gavetas da burocracia brasiliense. BC na encruzilhada Nem toda unanimidade é burra como pregou Nelson Rodrigues no passado. Todavia, as unanimidades merecem sempre atenção. O BC decidiu, por meio de uma votação unânime, que a taxa de juros básica fica em 7,5% ao ano. Bem, há muito mais razões para a taxa não subir que justificativas para a alta do juro básico. A principal razão para uma taxa de juros baixa é o fato de que a demanda anda fraca e o país está estagnado. Assim como no mundo, o Brasil afrouxa as garras monetárias e, em menor medida, as fiscais. Ocorre que o BC está assistindo passivamente a inflação permanecer em níveis altos, deteriorando o poder de compra da moeda no médio prazo e estimulando pouco a pouco a que os agentes fiquem na defensiva com o acúmulo de (muita) inflação. Assim como nos parece razoável que o juro básico não suba, cabe-nos perguntar o que farão os diretores do BC diante de uma inflação que incomoda a todos ? Aparentemente, a razão principal do silêncio dos diretores da autoridade monetária em relação à matéria é que, para analisar a questão, eles terão de tocar em certos assuntos que incomodam a Esplanada dos Ministérios e o Planalto : aumento dos combustíveis, crise energética, fraqueza dos investimentos, etc., etc. Meia palavra não basta neste caso. E o emprego ? Embora acredite que, ainda que tenha de plantar um pouco mais está na hora de colher os frutos que já semeou (tom do discurso de Dilma no Piauí), o governo está com toda a atenção voltada para duas possíveis assombrações : os níveis de emprego e da renda. Com alguma razão, enquanto esses dois pilares do prestígio de Dilma e do governo não forem abalados, não há riscos de sismos eleitorais. A questão é como manter isto se a inflação ficar mais indisciplinada e a atividade econômica permanecer rateando. Em números : uma inflação próxima de 6% mais um ano e um crescimento entre 3% e 3,5%, como está na média das previsões, são suficientes para manter o mercado de trabalho aquecido e a receita média no mínimo nos mesmos níveis atuais ? Esta é a fonte mais importante da popularidade da presidente. O olho em 2014 Um dos focos das últimas ações de Dilma Rousseff é organizar 2013 para os embates de 2014. Lula será consultado pessoalmente no dia 25 em SP sobre as estratégias políticas daqui para frente. O marqueteiro João Santana também palpita sobre formas - e até conteúdos. As viagens com prioridade inicial no Nordeste têm o claro objetivo de tentar neutralizar a crescente influência do governador Eduardo Campos na região. A nova "caravana da cidadania" que Lula promete reavivar a partir de março, abril, deverá se concentrar inicialmente em rebater Aécio Neves, o principal rival na eleição de 2014. Enquanto o mineiro e o PSDB estiverem ainda nos ensaios iniciais, eles não serão alvos-diretos. O governo espera primeiro ganhar a "batalha da comunicação" para depois enfrentar os adversários. Alguns analistas oficiais acham que não há nada de muito errado nas políticas e ações governamentais, o que há é incompreensão, falhas na comunicação.Depois que o Carnaval passar Agora, parece definitivo. Se é que seja possível dizer que uma decisão tucana, temperada com certo sabor mineiro, é definitiva. O PSDB, em que pese os amuos do sempre amuado José Serra, vai colocar o bloco da candidatura de Aécio Neves na rua depois da quarta-feira de cinzas. Inicialmente, com dois focos : de um lado, tentando manter o PT e o ex-presidente Lula na defensiva, ainda com o "mensalão" e com o "rosegate" ; de um outro, atacando as dificuldades operacionais e gerenciais da presidente Dilma Rousseff. O foco será no segundo ato. Fala-se até que o partido deverá voltar a defender as privatizações do governo FHC para contrastar com as dificuldades (e algumas resistências) de Dilma de deslanchar as concessões/privatizações na área de infraestrutura. O desgaste já ficou Dificilmente ocorrerá coisa diferente na semana que vem no Congresso que não a eleição de Renan Calheiros (PMDB/AL) e Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN) para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente. Porém, a avalanche de denúncias que apareceram contra os dois nos últimos dias - e que poderá crescer até o dia da eleição no legislativo - já tornou o comando deles nas duas casas bem fragilizado. Tanto Alves quanto Calheiros terão de se desdobrar para atender ao seu público interno, sempre muito competente para cobrar as fraquezas dos parceiros, o que pode tornar mais difícil ainda a operação do Palácio do Planalto com o Congresso. Para atender ao baixo e ao alto clero (cada vez em menor número) parlamentar, os dois precisarão, em plena efervescência eleitoral, contrariar interesses do Palácio do Planalto. Basta ver que a plataforma informal e o mundo de promessas lançados pelos dois candidatos contemplam assuntos que Dilma não quer ver nem pintados de verde evoluindo na Marquês de Sapucaí. Possivelmente - se isso ainda é possível - teremos o pior momento do Congresso Nacional em algumas décadas. Radar NA REAL 18/1/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3314 baixa/estável baixa - REAL 2,0402 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 61.920,73 estável estável - S&P 500 1.485,98 estável estável - NASDAQ 3.134,71 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 229

Revisionismo em Dilma ? Nos primeiros dois anos de mandato de Dilma dá para contar nos dedos das duas mãos a quantidade de empresários que passou pelo "confessionário" do Palácio do Planalto, ou seja, que teve a glória de ter uma audiência, pública ou privada, com a presidente. A exceção é Jorge Gerdau, da copa e cozinha presidencial, escolhido por Dilma para comandar um programa de busca de eficiência no governo Federal. De repente, em dois dias a presidente recebeu em seu gabinete seis potentados do que se costumava chamar antigamente de classe produtiva. O objetivo da mudança da postura da Dilma, confessado, é induzi-los a investir mais no Brasil para afastar o país da "armadilha do crescimento" (expressão cunhada pelo economista José Roberto Mendonça de Barros) em que se encontra. No fundo, trata-se de tentar recuperar a confiança desses agentes na atual política econômica, abalada por uma série de sinais contraditórios emitidos de Brasília nos últimos meses. A questão não é apenas ouvir. É também "escutar", procurar entender e, principalmente, fazer a máquina andar na direção e no ritmo certos. A realidade, até agora, é que certo autismo se apoderou de Brasília na gestão Dilma, com excesso de auto-suficiência. Um pouco mais de realismo Segundo alguns analistas, para completar esse "revisionismo" o governo deveria também ater-se mais aos fatos como eles são, marcar mais encontros com a realidade. Entre outras coisas, ajustar suas previsões em matéria de economia, conter seu gosto por promessas e marketing em limites razoáveis, admitir falhas e fracassos, quando for o caso. O episódio da maquiagem do superávit primário, absolutamente desnecessário, é exemplo do que não se deve fazer. A insistência em dizer que o processo inflacionário está dentro dos limites da normalidade também não. O modo como está sendo tratada a questão elétrica, idem. Fontes oficiais chegaram a informar, anonimamente, que um surto de realismo bateria no governo Federal depois da volta da presidente a Brasília, antecipada em alguns dias por causa das conversas sobre uma possível falta de energia. Não foi o que se viu. O esforço brasiliense foi para dizer que tudo vai bem nas barragens das hidrelétricas. Melhor teria sido dizer que o risco de racionamento está muito distante, mas aconselhar à população moderação no uso de energia elétrica. Antes prevenir que remediar. Alhos e bugalhos Na trilha sonora federal do "olha como estou contente", o presidente do BC, Alexandre Tombini, explicou que o resultado da inflação do ano passado não foi um desastre, porque, além de ter ficado abaixo do teto da meta (embora bem acima do centro) foi menor do que em 2011 - 5,84% contra 6,5%. A comparação, no entanto, não é totalmente pertinente. No início de 2012, por razões técnicas totalmente explicáveis e aceitas, o IBGE alterou a ponderação dos itens que compõem a cesta pesquisa para apurar o IPCA. Reduziu, por exemplo, o peso dos serviços, item que nos últimos anos andaram empurrando para cima o índice inflacionário. De acordo com um estudo do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, com a ponderação antiga o IPCA de 2012 teria batido em 6,54%. Logo, Tombini está comparando alhos com bugalhos. Enganos e tramoias De Adam Galinski, PhD em Psicologia Social pela Universidade de Princeton e professor da Columbia Business School, citado pelo editor do jornal argentino La Nación, cuja carapuça cabe em muitas outras cabeças coroadas da América Latina, além da destinatária em Buenos Aires : "Os poderosos são mais propensos a enganar e quebrar as regras, até mesmo as que eles mesmos estabeleceram. Quem detém o poder sente-se psicologicamente invisível. Assim, liberado do olhar dos outros, faz o que lhe dá na telha. Por isso, os poderosos se sentem com o direito de fazer tramoias e tomar o que querem. Esse sentimento de 'ter direito' os torna hipócritas : ao mesmo tempo em que agem imoralmente, sentem que podem exigir dos demais um padrão estrito de moralidade e autocontrole" (Traduzido pelo jornal "O Estado de S. Paulo"). O que o BC vai escrever ? Há uma grande expectativa sobre o que o BC vai dizer na nota explicativa posterior à reunião do Copom de hoje e amanhã e, principalmente, no texto mais alentado da ata do encontro, só liberado uma semana depois. O grupo liderado por Alexandre Tombini vai se deparar com duas realidades econômicas que estavam apenas esboçadas em seus comunicados anteriores : a persistência da inflação em níveis elevados e bastante espalhada e as manobras contábeis do Tesouro Nacional para fingir que entregou o prometido superávit primário cheio (3,1%) em 2012. Quanto à questão fiscal, o BC já vinha fazendo sutis alertas para a política expansionista do governo Federal. Agora não há mais sutilezas. Como o BC vai se virar ? Sua comunicação com os agentes econômicos já anda um pouco cheia de ruídos. E o Palácio do Planalto insiste em equilibrar-se entre a agenda econômica e agenda político-eleitoral. Como o BC vai se virar nessa corda bamba ? Dançando de sombrinha, como na canção da anistia, "O Bêbado e o Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc, imortalizada por Elis Regina ? Dilemas monetários Conceitualmente o Brasil vive um processo de inflação relativamente elevada comparativamente às principais economias e uma taxa de crescimento equivalente ou inferior a vários destes países. Mais que um processo de estagflação, trata-se de um processo estrutural de perda de competitividade na medida em que grande parte desta inflação não é "repassada" à taxa de câmbio ou, ainda, esta última se valoriza mais. A política fiscal expansionista ainda tem efeitos menores no curto prazo, mas pouco a pouco está destruindo a reputação ordeira de nossas contas públicas, apesar da relação dívida/PIB ser muito saudável (35%). Neste contexto, há de se reconhecer que o papel do BC brasileiro não é nada fácil. Subir a taxa de juros num contexto de estagnação seria inadequado. Deixar a inflação "correr solta" também não pode, mas o custo de elevação da taxa de juros seria um exagero frente aos benefícios em termos de inflação. Além dos efeitos de valorização cambial. Portanto, mais que o contorcionismo que o BC terá de fazer em seus documentos públicos será necessário que Tombini e seus diretores, no uso de sua autoridade sobre a moeda, diga como vê os dilemas perante os quais se defronta. Vocação para o poder Não dá para saber com certeza quem será o próximo presidente da República : se Dilma Rousseff, a favorita atual, se um oposicionista disfarçado como Eduardo Campos, um oposicionista moderado como Aécio Neves, uma oposicionista mais radical, como Marina Silva, ou alguém que venha a emergir de surpresa. Todavia, já se pode assegurar, desde hoje, sem nenhuma possibilidade de erro, que um dos principais partidos da aliança que sustentará o futuro governo no Congresso, qualquer que venha a ser o seu comandante, será o PMDB. Desde os tempos do velho PSD, nunca se viu um partido com tanta vocação para o poder como o dos peemedebistas. O imortal Sarney Ex-presidente da Arena, partido que sustentou a ditadura, do qual usou a catapulta do Colégio Eleitoral para virar um aliado do PMDB, o partido de oposição à ditadura, José Sarney continua aos 82 anos a sua trajetória vitoriosa. A exposição de fotos de suas quatro gestões como presidente do Senado Federal é digna das lembranças do "culto a personalidade" dos tempos do stalinismo. O vice-rei do Maranhão permanece na sua posição anfíbia. Quando submerso, age com absoluto silêncio para alcançar o que quer. Quando na superfície, empola a linguagem, suaviza as palavras e, assim, disfarça as grandes ambições que tem. Não à toa domina áreas inteiras do território do poder. Com a aquiescência do PT, o Partido dos Trabalhadores e da presidente que se esforçou para deixar o velho senador se sentar na cadeira da presidente quando de sua viagem ao exterior e na ausência do sempre alerta Temer. Quanta doçura a de Sarney. Tudo pela pátria. Vocação para a derrota ? Bem ou mal, tendo como maior amálgama a caneta e o "Diário Oficial" e a perspectiva de poder futuro, as forças governistas de hoje em Brasília vão se mantendo mais ou menos unidas - à parte os pontapés e golpes abaixo da cintura nos bastidores. Já a oposição formalmente representada no Congresso parece vocacionada para o ostracismo. Vira e mexe o DEM fala em desligar-se dos parceiros. O PPS anda a procura de um autor. E no PSDB o clima é quase de conflito. Fernando Henrique trabalha pela unidade, mas Aécio fica "se fingindo de morto" o que intimida certos parceiros, Serra emburra e fala em fundar um partido novo, Alckmin sai de seus pagos de governador paulista num momento delicado de sua gestão para tumultuar o ambiente pregando prévias para a escolha do candidato presidencial do partido. A seguir este caminho, a oposição estará entrando na antessala de mais uma derrota. Ou, caso Dilma se enrole nas questões econômicas, abrindo espaço para outros oposicionismos, como o de Marina Silva e outros, mais ou menos visíveis. Será ? A depender de boa parte dos caciques tucanos, Aécio Neves assumirá a presidência nacional do partido como primeiro passo para consolidar sua candidatura presidencial. Pelo menos até pouco tempo atrás não era esta a estratégia do senador mineiro ? Terá mudado de posição ? É melhor esperar como São Tomé. Óleo de peroba Em conversa informal com alguns jornalistas na semana passada, o ex-governador José Serra disse não saber a origem da informação, publicada em primeira mão pelo jornal Folha de S.Paulo de que ele cogita fundar um novo partido, diante das dificuldades de viabilizar mais uma candidatura presidencial no PSDB. Para ter uma dúvida dessas, Serra não deve estar se olhando no espelho nem conversando consigo próprio. Se estivesse, saberia perfeitamente quem está espalhando esses "balões" e outros como o de que ele poderia ainda se transferir para o PPS ou para o PSD de Gilberto Kassab. Silêncio no mercado O Brasil ainda é uma sociedade na qual as pessoas temem, de forma quase que absoluta, divergir publicamente da opinião oficial dos poderosos de plantão. É este também o comportamento dos banqueiros e investidores que resmungam palavras de horror contra as políticas governamentais nas reuniões privadas, mas que dão entrevistas de apoio ao governo diante dos jornalistas. Todavia, não deve se enganar o governo : a quebra de confiança dos "poderosos econômicos" é profunda e, talvez duradoura. No mercado de capitais, são os títulos de renda fixa das empresas que lideram as emissões externas. Além da estrutural liquidez internacional fruto da crise profunda em que se encontram as economias centrais, o aumento das emissões se deve a antecipação de operações que seriam feitas no futuro. A razão é simples : temem os empresários que ao final do ano as perspectivas do país esteja piores que as atuais. Mensalão. Ainda. Tudo que vemos na imprensa sobre os embargos a serem interpostos pelos causídicos que defenderam os mensaleiros não passam de especulações, "balões de ensaio", para testar certos ânimos dos ministros do STF. Nenhum sinal da parte dos ministros foi emitido nestes tempos de férias da Corte Maior.Radar NA REAL 11/1/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3364 baixa/estável baixa - REAL 2,0308 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 61.490,68 estável estável - S&P 500 1.464,06 estável estável - NASDAQ 3.110,46 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 227

Governo em alta ansiedadePara a presidente da República, neste conturbado fim de ano, chega como um bálsamo a pesquisa CNI/Ibope divulgada na semana passada, contando que apesar dos percalços econômicos e das complicações políticas de parceiros e aliados com as quais está tendo de se meter sem querer, sua popularidade e a aceitação de seu governo continuam altas - e em alta. Há na pesquisa alguns sinais de alerta, como o aumento da desaprovação das políticas de saúde e de segurança e diminuição da aprovação da política anti-inflacionária e de juros, mas nada ainda há de preocupar - e que não possa ser revertido. Permanecendo tal situação - que gera uma sensação geral de bem estar - a presidente pode seguir sua marcha batida para entrar em 2014 como favorita para mais quatro anos de Palácio do Planalto. Aliás, como registrou outra pesquisa divulgada pelo Instituto DataFolha no domingo. O nó é fazer a economia acelerar, o que sua equipe econômica parece estar com mais dificuldades de fazer. Tanto que ao mesmo tempo em que diz que as medidas de reativação das atividades vão começar a dar certo, expele semanalmente novas providências. O governo diz que os agentes econômicos andam apressados. Porém, a alta ansiedade é dele. Dilma e as duas reputações Além de botar a economia no rumo em 2013 - um ano pré-eleitoral decisivo para 2014 que já começou - para botar seu bloco reeleitoral na rua sem atropelos, sem riscos de "atravessar o samba", Dilma terá de cuidar de duas reputações. A primeira é a do ex-presidente Lula, ainda o maior cabo eleitoral do país, queira-se ou não, afetada pelo "rosegate" e pelas revelações de depoimento recente do publicitário Marcos Valério ao MP. Vale dizer que atingir Lula respinga em Dilma. A presidente sabe tanto disso que já acionou sua mais profunda solidariedade, mesmo sob o risco de engolfar seu governo em histórias que nada têm a ver com ele. Está sendo uma solidariedade pessoal, de amizade, mas também política. Segundo, deve a presidente cuidar de sua própria reputação de "gerentona", seu principal capital político e o mais usado por Lula para elevá-la até o Palácio do Planalto. O governo dá - e já são cada vez mais visíveis - sinais de desarranjo e quase paralisia. Os comentários de que a irritação natural da presidente com seus auxiliares vem crescendo são indicações diretas de que ela está notando esse desgaste em sua imagem. Vejamos na nota que se segue. Atrasos e ineficiências Os fatos são claros. O governo demorou um ano anunciando que o modelo de concessão dos aeroportos de BH e do RJ seriam diferentes, mais aperfeiçoados do que os dos aeroportos de Campinas, Guarulhos e Brasília. Esta semana divulgou que será igualzinho. Quase um ano decorreu entre o primeiro leilão fracassado do trem bala e o novo edital. E mesmo assim a primeira licitação só sai daqui a quase um ano. Isto porque está tudo agora nas mãos de um dos homens fortes de Dilma, o presidente da EPL, Bernardo Figueiredo, uma espécie de ministro de fato da infraestrutura no governo. Os investimentos oficiais, essenciais para puxar as inversões privadas, também estão atrasados. Segundo levantamento do site "Contas Abertas", especializado em contas públicas, até 11/12, o governo tinha conseguido investir apenas R$ 40 bi dos R$ 90 bi previstos no Orçamento Geral da União. Não é por outra razão que o parceiro - e talvez futuro adversário - de Dilma, o governador de PE, Eduardo Campos, está dizendo que os primeiros 90 dias de 2013 serão decisivos para a presidente e seus planos políticos. Novo modelo A presidente Dilma está buscando, a partir de planos gestados no Palácio do Planalto, encontrar uma nova fórmula para gerir o PAC. A fórmula anterior estava intrinsecamente ligada à própria presidente quando ela era a ministra poderosa do governo Lula. Agora, Miriam Belchior não consegue se desvencilhar da árdua tarefa. Assim, a presidente busca uma solução para o problema a partir de duas premissas : (i) tornar os projetos mais afáveis ao capital privado e menos suscetível aos "papéis" de regulador do Estado e (ii) negociar politicamente com outras áreas do Estado, especialmente com o TCU (ligado ao Legislativo), para agilizar a realização de projetos e obras. O grande problema desta mudança da estratégia presidencial é a pouca disponibilidade de recursos humanos próximos à presidente para tornar esta estratégia geral em planos concretos. O tempo de Guido Mantega Eis o que ouviu esta coluna na semana passada de fonte próxima à presidente Dilma : "O tempo para Guido Mantega mostrar que a economia vai andar não é tão curto quanto quer o mercado, mas não é tão longo como muitos na Fazenda imaginam". Nova fórmula para atacar o spread Como se sabe a taxa primária de juros foi reduzida com sucesso comparativamente ao que achava a maioria dos analistas e agentes econômicos. Mesmo a inflação não estando enquadrada da melhor forma possível no modelo de metas estabelecido pelo governo (vide nota a seguir), deve-se reconhecer que controlar a inflação não é a prioridade mais importante de nenhum banco central relevante ao redor do globo. É a atividade econômica a variável mais crítica. Neste contexto, constata-se que o sucesso em torno da queda do juro primário não se refletiu no âmbito dos juros do crédito disponibilizado pelo sistema financeiro. A presidente e o BC estão passando da observação para a ação efetiva em relação ao tema. A criação de um mercado de títulos (securities) de empresas privadas de capital fechado (mesmo as limitadas) é um dos passos imaginados pela autoridade monetária para tornar o elevado spread bancário brasileiro menos relevante para a recuperação da economia. O outro aspecto que cada vez mais chama a atenção do BC e da presidente é que depois de tantas fusões e privatizações, o mercado financeiro brasileiro se tornou excessivamente oligopolizado. Inflação e câmbio O presidente do BC explicitou sem rodeios o dilema que o governo vive : deixar o câmbio se ajustar mais para cima para ajudar o setor industrial brasileiro ou segurar o dólar para não aquecer mais a inflação. Até dez dias atrás, inclusive com referência explícita de Dilma ao jornal "Valor Econômico", a opção era pela desvalorização do real. A pressão dos empresários era para que a moeda americana chegasse a, pelo menos, R$ 2,40. Agora, a direção é outra e o BC está agindo para o câmbio não fugir dos R$ 2,10. Simples a explicação : a inflação voltou a incomodar. É preciso deixar espaços para o aumento dos combustíveis, pois senão a Petrobras deixa de respirar. Excesso de indexação Há excesso de títulos indexados na economia brasileira. A indexação da dívida pública (cuja demanda é crescente) será, nos próximos anos, uma das barreiras que o BC enfrentará e terá de adequar o combate à inflação a um adequado financiamento da dívida pública. Os títulos indexados à inflação estão no limite superior do Plano Anual de Financiamento da dívida pública, enquanto os títulos pré-fixados estão na média da meta do referido plano. Um sinal de que o mercado não confia na estabilidade monetária. Sinais externos : deterioração Colecionados os principais indicadores de desempenho da atividade das mais importantes economias mundiais chega-se a conclusão de que o começo de 2013 pode gerar ainda mais pessimismo para os agentes econômicos. A produção industrial do Japão se aproxima dos patamares mais baixos de 2011. Na Europa, a indústria cai pelo terceiro mês seguido, sendo que a Alemanha também caminha para a recessão por força da queda das exportações. Os dados manufatureiros dos EUA voltaram a dar sinais de fragilidade o que motivou a nova expansão monetária promovida pelo Federal Reserve. Na China dois dados preocupantes : o governo terá dificuldade em manter a nova meta de crescimento (+8%) e as atividades de comércio externo estão caindo, como pode ser constatado pelo volume de carga transportado internamente no país. Neste contexto, não há nenhuma ação política e de gestão econômica que seja capaz de reverter tão grave cenário. Os governos estão acomodados e sem visão e os eleitores ainda oscilam na sustentação de políticas conservadoras, apesar da evidência de que estas não estão funcionando. Um cenário semelhante ao dos anos 30 do século passado. Obama e as mudanças no secretariado Deve-se olhar com muito esmero as mudanças que Barack Obama fará no seu secretariado e no Fed e SEC (Securities Exchange Commission). Como se sabe o presidente norte-americano é um conservador em matéria econômica e foi muito pouco ousado no trato da crise atual. Além disso, não foi capaz de mudar a regulação relacionada com os desmandos cometidos pela turma de Wall Street. As mudanças que estão por vir podem confirmar a personalidade política de Obama ou mostrar que há fatos novos que podem alterar esta personalidade. O recado de Lula Embora tenha aparecido como um "caco" (não estava no script) num discurso que Lula fez em Paris, não foi gratuito o aviso que o ex-presidente fez de que se o incomodarem muito pode ir para as ruas em uma campanha que pode virar campanha presidencial. Foi um recado direto para a oposição que ainda tem medo do ex-presidente. Mas também não deixou de ser um aviso indireto à presidente Dilma e aos dilmistas, sejam eles petistas ou de outros partidos. Algo como : "Não me deixem só !". Alguém pode imaginar o que acontecerá se Lula realmente, reativar seus palanques ? O caso do gás O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que a próxima meta do governo para garantir maior competitividade às empresas brasileiras, depois da redução da conta de eletricidade, será a diminuição do preço do gás, outra reivindicação do setor industrial, principalmente do setor químico. Mantega disse ainda que o governo só não sabe ainda como fazer. Mas não deverá ter dificuldades. Afinal, quem manda no gás no Brasil é a Petrobras... Mel para governadores e prefeitos Para tentar conter um pouco a insatisfação dos prefeitos e governadores com a perda de receitas, em parte por culpa das políticas de isenções fiscais adotadas por Brasília, o governo deve anunciar esta semana a mudança no indexador das dívidas que eles têm com a União. Na prática significa que Estados e municípios vão pagar menos juros e terão mais dinheiro para investir. Era um antigo desejo deles. Com isso, Dilma espera desarmar um movimento, pelo fortalecimento dos Estados e municípios em andamento e que, como já comentamos em outras colunas, era uma das bandeiras que seus oposicionistas já estavam agitando, com grande possibilidade de sucesso. É possível que ela consiga uma trégua, mas não total. Os governadores querem mais, principalmente no caso dos Estados mais fracos economicamente. E na área municipal, o alívio só vem para os grandes, como SP, RJ e outras capitais. Os pequenos e médios municípios, os mais encalacrados, não terão esse alívio porque não rolaram suas dívidas. E eles querem é mais dinheiro - ao vivo e em cores. Natal e Ano Novo Agora é período de festas, de meditações - e de descanso : afinal, como dizia a poeta pernambucano Ascenso Ferreira, "ninguém é de ferro". Aos novos bravos e persistentes leitores desejamos ótimas comemorações, 2013 feliz como nunca. Voltaremos em 8/1. Como agradecimento por nos terem seguido por mais um ano, deixamos este poema : Desejo, de Carlos Drummond de Andrade Desejo a você... Fruto do mato Cheiro de jardim Namoro no portão Domingo sem chuva Segunda sem mau humor Sábado com seu amor Filme do Carlitos Chope com amigos Crônica de Rubem Braga Viver sem inimigos Filme antigo na TV Ter uma pessoa especial E que ela goste de você Música de Tom com letra de Chico Frango caipira em pensão do interior Ouvir uma palavra amável Ter uma surpresa agradável Ver a Banda passar Noite de lua Cheia Rever uma velha amizade Ter fé em Deus Não ter que ouvir a palavra não Nem nunca, nem jamais e adeus. Rir como criança Ouvir canto de passarinho Sarar de resfriado Escrever um poema de Amor Que nunca será rasgado Formar um par ideal Tomar banho de cachoeira Pegar um bronzeado legal Aprender uma nova canção Esperar alguém na estação Queijo com goiabada Pôr-do-Sol na roça Uma festa Um violão Uma seresta Recordar um amor antigo Ter um ombro sempre amigo Bater palmas de alegria Uma tarde amena Calçar um velho chinelo Sentar numa velha poltrona Tocar violão para alguém Ouvir a chuva no telhado Vinho branco Bolero de Ravel... E muito carinho meu. Radar NA REAL 14/12/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3155 baixa/estável baixa - REAL 2,0887 baixa/estável baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.604,92 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.413,58 estável/abaixa estável/baixa - NASDAQ 2.971,34 estável/baixa estável/baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 226

Questões na virada do ano Diante da enorme expansão monetária das principais economias mundiais, associada à crise gravíssima do desemprego, fruto do baixo consumo e do fraco investimento, o principal dilema mundial está em como combinar uma política monetária suficiente para controlar os problemas da débil atividade econômica com as perspectivas preocupantes relativamente à estabilidade fiscal e monetária futura. Em palavras mais singelas, duas variáveis estão a preocupar os gestores econômicos : a recessão e a inflação futura. Em períodos "normais", este dilema é resolvido pela manipulação adequada da taxa de juros. Num momento em que as economias mundiais margeiam a depressão (Europa) ou a recessão continuada (EUA), as dúvidas são enormes. Com um agravante : a debilidade política dos líderes dos países, a despeito dos recentes eventos eleitorais (EUA, França, Espanha, etc.). Assim sendo, 2013 será provavelmente um ano em que o choque de ideias entre os preocupados com a inflação/situação fiscal e os focados no desemprego há de deixar marcas de volatilidade por todo o mundo. Talvez a volatilidade seja ainda maior que em 2012. China, a incógnita da vez Os últimos dados da economia chinesa mostram uma desaceleração contínua e substantiva comparativamente aos padrões anteriores do país. Agora, sob nova direção do partido e do governo comunista (Xi Jinping), o desafio chinês será o de "trocar" investimento por maior consumo. Um momento delicado, portanto. As exportações chinesas foram até novembro apenas 2,9% superiores ao mesmo período do ano anterior. As importações de matérias-primas, tão vitais para países como o Brasil, estão desacelerando, mesmo que mantenham um patamar bem acima da dos produtos manufaturados - o consumo de ferro, por exemplo, está no patamar acima de 8%, enquanto as importações como um todo (dados de novembro) estão estáveis. Outro aspecto importante é que o país comunista começa a ter de lidar com um desemprego maior (8,1% de desemprego urbano, segundo dados oficiais). Politicamente, a despeito do duro controle social exercido pelo Partido Comunista Chinês, este dado é muito preocupante. Por fim, há uma série de dúvidas sobre a higidez do sistema financeiro chinês. Este é um assunto tabu, daqueles que fazem os agentes reagirem rapidamente e de repente quando têm dúvidas. Brasil : fragilidades à mostra Não resta dúvida de que o Brasil padece dos efeitos externos sobre a sua economia. Todavia, considerando-se que o nosso país é relativamente fechado em termos de comércio externo (baixa participação das exportações+importações no PIB), os problemas de crescimento brasileiros estão muito mais ligados com a gestão interna da política econômica. Como aspecto mais relevante, temos a constatação de que a taxa de investimento está baixa, muito aquém daquela que seria necessária para nos colocar numa classificação segura de "país emergente". Ademais, os investimentos públicos são baixos e ineficientemente administrados - o PAC é um fracasso de gestão. O último fato a justificar a debilidade dos problemas relacionados com a taxa de investimento é a fraca articulação do setor governo com o privado. Os objetivos de cada um não são harmonizados por negociações. Ao contrário, o governo toca a coisa pela via da intervenção, como se ele fosse dotado da "última razão" em matérias que merecem atenção e cuidado. Vide a crise do setor elétrico, esta que veio para ficar. Aqui e ali (veja o caso da influente revista The Economist) já despontam vozes contra a política econômica e o ministro da Fazenda Guido Mantega. Esta é apenas a ponta do iceberg. Afinal, é a presidente que tem autoridade e gosto especialíssimo em mandar e desmandar na política econômica. É a presidente que tem a legitimidade política para tal e será ela a ser avaliada pelas urnas. Todavia, até lá o crescimento deve continuar na toada da letargia, como os agentes esperando algo que não sabem bem ao certo o que é. Ainda sobre o paradoxo "emprego versus crescimento" Estamos repisando, mais uma vez neste espaço, que há uma incompatibilidade lógica entre o nível de emprego (elevado) e a atividade econômica (em baixa). A nosso ver, o desemprego já poderia ter se elevado. O fato de não ter acontecido assim foi o principal fato a manter o PIB positivo, mesmo que fraquíssimo (gravitando em torno do 1%). A nosso ver, será a fragilidade (ou não) do mercado laboral que irá sinalizar se entraremos no campo negativo em termos de atividade econômica. Não cremos numa mudança estrutural da taxa de investimento, no curto prazo. De outro lado, será o maior desemprego (se ocorrer) que irá mostrar as entranhas da política brasileira : o governo, até agora relativamente forte perante o Congresso, terá de dobrar joelhos e aí a habilidade presidencial para lidar com este cenário será testada. O governo deve saber disso, mas parece pouco propenso a ser mais atrevido (e menos temido) para mudar o cenário. A luta cambial Ao mexer no prazo para antecipação de operações cambiais, o governo deu sinais de que não tolerará altas severas do câmbio frente ao dólar. Como se sabe, a política cambial é a variável mais fora de controle de qualquer governo. Este pode até controlar a taxa nominal (como no período do primeiro governo de FHC), mas a taxa real (fruto das variações externas das moedas internacionais e da inflação aqui e lá fora) está totalmente fora do controle do governo. O governo aparentemente está mais preocupado com a inflação, no curto prazo, que com a competitividade externa do país. Faz sentido. Afinal, a inflação acumulada nos últimos anos é alta, comparativamente a outros países, bem como há inflação represada, especialmente no setor de petróleo. De todo modo, os agentes estão cautelosos. Sabem que o governo deve conseguir seus intentos imediatamente, mas que as incertezas mediatas estão aumentando. Melhor cuidar-se e se proteger contra flutuações mais agudas no valor do real. Bolsa : investidores e gestores inquietos Estes colunistas têm se encontrado com muitos gestores de ações nas últimas semanas. O que é informado é que está muito difícil estabelecer uma política coerente com os objetivos de cada investidor ou fundo. O cenário muda rapidamente e a análise está cada vez mais focada no curto prazo, mesmo em relação a empresas tradicionais. Isso porque setores importantes da bolsa sofreram mudanças estruturais por força da política governamental (energia, petróleo) e porque outras empresas estão emitindo sinais cada vez mais instáveis sobre as suas perspectivas. Um ambiente nada amigável para quem faz política de investimento de médio e longo prazo. Assim sendo, o ajuste mais natural seria os preços caírem face ao risco. Em alguns casos isso já ocorreu (energia, de novo), mas no geral (refletido no índice Ibovespa) isso não ocorreu porque não há aqui no Brasil e no exterior (para os investidores externos) muitas alternativas mais atraentes. Todavia, os fundamentos do mercado estão muito deteriorados comparativamente ao período pós-2008. Assim, o mercado poderá tomar um rumo mais negativo, caso surjam alternativas às ações brasileiras, ou os investidores finais acabem por sucumbir à ideia de que os retornos são incompatíveis com os riscos. É Dilma ou Dilma As relações entre o PT e a presidente da República são conflitantes : de respeito e de desconfiança. De ambas as partes. Há um certo PT, que perdeu espaço no governo Dilma, que não está satisfeito com ela. E talvez fique menos ainda depois das mexidas que ela pode fazer no ministério e nas lideranças governistas do Congresso em janeiro e fevereiro. Dilma também sabe que este PT está com ela porque ela tem a caneta, o Diário Oficial e uma popularidade que, mantidas as atuais condições de temperatura e pressão econômica, dão-lhe extraordinária oportunidade de se reeleger daqui a dois anos. Mas que se pudessem, gostariam de estar com outra pessoa. Só que as circunstâncias mensaleiras e secretariais fecharam esta porta. Portanto, é Dilma ou Dilma. O que explica a cautela com que o PT trata de temas delicados, como o mensalão e o rosegate, para não envolver a presidente em casos nos quais seu governo não tem nada a ver diretamente. De toda forma, Dilma trata de criar suas próprias bases. Se se notar, ela não mais se socorre do PT ou do próprio Lula para tratar com os aliados. Merece também registro o fato de o ex-marido da presidente e um de seus mais importantes interlocutores, Carlos Araújo, ter deixado o PT e voltado para o PDT, partido no qual ele e a presidente militaram depois que saíram da clandestinidade. É Dilma ou/e... Nunca se viu o PMDB, nos últimos anos, pelo menos publicamente, tão cordato como agora. A presidente manifestou um simples desejo, o PMDB comparece, sem reclamar. Se cobra, se esperneia, é a boca pequena. Com seu faro afinado, o partido que já foi liderado por Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, quer firmar-se como grande aliado de Dilma, tão ou mais importante que o PT. Aproveitando-se exatamente do vácuo deixado pelas vacilações petistas. As razões : (1) defender-se dos ataques do PSB de Eduardo Campos, que tem como uma de suas opções para 2014 expelir o PMDB da condição de vice de Dilma (a outra, é uma candidatura própria); (2) conquistar, discretamente, mais e melhores espaços no governo, conquistando mais "cartórios eleitorais", capazes de lhe garantirem mais votos para a Câmara dos Deputados, o Senado e as Assembleias Legislativas (o PMDB teme perder a condição de maior partido no Congresso para o PT e até para o PSB). Porém, a "fidelidade" peemedebista tem prazo de validade : a recuperação da economia brasileira no ritmo que o ministro da Fazenda há meses vem garantindo que ocorrerá no mês seguinte. O PMDB está e estará onde sempre esteve desde que a ditadura militar acabou : no governo, onde ele estiver e seja quem for. É o dinheiro, estúpido ! As discussões sobre a nova divisão dos royalties do petróleo, as confusões com alguns governos estaduais por causa das regras de prorrogação das concessões de energia elétrica e a queda das receitas dos Estados e municípios - em parte pelo fraco desempenho da economia, mas em parte também pelas isenções tributárias concedida pelo governo Federal com a ajuda dos cofres dos governadores e prefeitos - despertou uma serpente que havia algum tempo era chocada no ventre do Estado brasileiro : a desigual divisão de recursos entre o governo Federal, os governos estaduais e os governos municipais. Presidente rico, governador remediado, prefeito pobre Tecnicamente, é a discussão do chamado pacto federativo, tema que está além dos interesses partidários - na realidade, une bancadas estaduais contra Brasília. Por mais que teorias políticas digam o contrário, deputado sabe perfeitamente que sem apoio de prefeito e/ou governador, sua eleição/reeleição fica muito difícil. Não impossível, mas delicada. Este será o grande tema de 2013, ano pré-eleitoral. São os mantras que Eduardo Campos e Aécio Neves já estão ensaiando enquanto se aquecem para entrarem em campo na sucessão presidencial. Qual será a resposta de Dilma com todos os compromissos existentes no Orçamento Federal ? Falar em "pacto federativo" não comove o eleitor. Batizá-lo como "falta de dinheiro para saúde, segurança..." certamente agita. Cavalos de tróia - I O governo está tratando a pão de ló e vai tratar melhor ainda os irmãos cearenses Cyro e Cid Gomes. Eles são vistos como os únicos capazes de botar algumas pedras no caminho dos planos políticos do governador Eduardo Campos no PSB. Cavalos de tróia - II Não há indicações de que o governo esteja procurando o mesmo na oposição. Tanto que já está incorporando inteiramente o PSD de Gilberto Kassab em sua base política, ignorando as relações do partido com os tucanos paulistas. Por enquanto, não precisa mesmo : os cavalos de tróia do PSDB estão mesmo recheados de tucanos : a vaidade os impede de se entenderem. Radar NA REAL 07/12/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2906 baixa/estável baixa - REAL 2,0793 baixa/estável baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.487,32 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.418,07 estável/abaixa estável/baixa - NASDAQ 2.978,04 estável/baixa estável/baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 225

A decepção do PIB e a ação do governo Para quem acompanha o mundo real da economia e não apenas o mundo das estatísticas, não foi de todo surpresa do PIB de apenas 0,6% no terceiro trimestre em comparação com o período maio-junho. No entanto, para o governo parece ter sido, tal o susto e o estupor que tomou conta de Brasília. De todas as decepções oficiais, a maior foi em relação aos investimentos - 2% menos entre julho e setembro, o quinto semestre consecutivo de queda, mais de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. Estava escrito nas estrelas esse desempenho : as inversões oficiais estão empacadas por inapetência ; e as privadas, por falta de confiança, em parte pelos temores do intervencionismo oficial, tema comentado mais de uma vez neste espaço. Haja vista a confusão do setor elétrico. Quem conversa com empresários sob a garantia de sigilo, não ouve palavras de entusiasmo. Há até boas expectativas, mas o lema é "esperar para ver". É isso que explica o que está deixando perplexa a presidente Dilma : o porquê, apesar de todos os incentivos, a economia brasileira continua quase de ré. Mais do mesmo outra vez Diante desse quadro e sem ter condições políticas (nem de gestão) para atacar com rapidez os verdadeiros entraves ao crescimento do país, o governo deve começar a abrir esta semana sua velha caixa de ferramentas, que, aliás, já mostrou seu caráter limitado. O BNDES deve anunciar novas facilidades de crédito para investimentos, o PSI para máquinas será prorrogado, assim com a isenção de IPI de carros e linha branca, novas desonerações em folha de pagamento surgirão. Será um fim de ano de grande atividade na área econômica, porém, tudo indica, sem nenhuma criatividade. Por essas e outras, em falta de desculpa melhor, as orelhas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltaram a arder. E ainda tem o dólar O mercado começa a apostar que o governo vai soltar um pouco mais a moeda norte-americana - ou seja, deixar o real se desvalorizar, para ajudar a empurrar a economia. Os empresários do setor industrial voltaram a falar abertamente na necessidade de um câmbio de R$ 2,40 por dólar. O problema é saber como isso vai bater na inflação. A redução da conta de luz daria uma folga para alguns reajustes, mas a prioridade é acertar a conta da Petrobras com a gasolina e o diesel. De tantos artificialismos aplicados na economia nos últimos tempos, o governo está ficando na situação de "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". Se o emprego cair... Mesmo diante de um quadro econômico tão opaco e sem "drives", sorte tem o país e, por conseguinte, o governo que não houve aumento da taxa de desemprego. É apenas a boa situação no mercado laboral que está a sustentar o PIB num patamar positivo. Ainda mais quando se verifica no sistema financeiro o aumento da inadimplência relativamente aos empréstimos e o destino de recursos recebidos nestas festas de final de ano para saldar dívidas e não contrair novos compromissos. O Natal deste ano deve ser anêmico e as perspectivas é que o desemprego aumente no ano que vem. Como estamos a chamar a atenção de nossos leitores nestes últimos meses, será este o fator econômico que mais irá afetar o desempenho político do governo. Apesar de tudo, o governo ainda aposta num cenário estável no mercado de trabalho, o que é muito otimismo frente à realidade. Brasil, o pior entre os BRICs e melhor que o Paraguai Dentre os países mais importantes entre os "emergentes", simbolizados pela midiática marca de BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil tem o pior desempenho em termos de atividade econômica. Da mesma forma, o Brasil é o país com crescimento menos entre os mais importantes da América Latina. O Paraguai é o único que tem queda do PIB nos últimos 12 meses, 1,5%. Resta saber o que dá autoridade suficiente a nossa presidente para distribuir sugestões e conselhos a seus colegas da Europa, e das Américas sobre como tocar a gestão econômica. Parece muita pretensão em vista de nosso fraco desempenho. Mas será isso suficiente para retirar a arrogância desta postura ? Uma revoada, mesmo que não grande... A explicação para a alta da moeda norte-americana nestas últimas semanas se deve, sobretudo, à partida dos investidores estrangeiros que estavam há muito posicionadas em títulos e ações brasileiras. Buscam portos mais promissores em outras terras, mesmo que lá fora isso pareça muito difícil no curto e médio prazo. Daí que este movimento não é mais brusco. Todavia, o movimento do dólar deve ser para cima nos próximos meses. Não muito para cima, mas para cima. FMI de papo novo Se existe uma entidade que mostrou sua profunda ineficácia para resolver ou, no mínimo, propor soluções para os problemas críticos das economias, esta entidade foi o FMI. Desde a sua criação na famosa reunião de Bretton Woods, em 1944, o famoso "fundo" nunca funcionou a contento e com o objetivo concebido pelo brilhante John Maynard Keynes. Nas décadas que se seguiram à II Guerra Mundial, o FMI não foi usado para compensar mudanças abruptas nas taxas cambiais, função pensada por Keynes, e passou a ser o vigilante e atrapalhado "auditor" dos principais atores do sistema financeiro internacional. Na crise de 2008, sua utilidade voltou-se para a salvação de bancos e países, sobretudo os europeus. Enquanto seus burocratas atacam o Welfare State, os seus diretores se ocupam de adornar bancos e investidores com a sua caricata aparência de emprestador de última instância. Uma distorção gigantesca. Pois bem : agora a managing director Christine Lagarde, está a defender, citando Brasil e Filipinas, que cabe controle de capitais para sanar a valorização excessiva das moedas. Quem pregasse isso até 2008 seria chamado grotescamente de intervencionista, conspirador contra o livre mercado, incompetente e daí para frente. Por estes tempos, isto soa como um "ovo de Colombo" do velho fundo... Eles não vão ajudar O maior drama da presidente Dilma é que numa hora tão delicada como essa na economia, ela não pode contar muito com seu universo político. O PT, que ainda nem se recuperou com o baque dos resultados do julgamento do mensalão, vê-se agora totalmente desarvorado com a história da secretária Rosemary e seus bebês - não entende, não explica. Os outros parceiros estão preocupados apenas em disputar, com o PT, novos espaços na administração pública. E prontos para criar novos problemas : o irresolvido caso dos royalties, que ainda vai dar muita dor de cabeça, a votação do Orçamento, a MP do setor elétrico. É só aparente É muito maior do que aparenta a preocupação do Palácio do Planalto com o desenrolar da Operação Porto Seguro. Ninguém sabe o que vai sair desta "caixa preta". A tsunami de informações novas que saem na imprensa todos os dias indicam claramente que há uma "operação vazamento" em plena atividade na PF. Passado o susto, haverá uma rearrumação na área - e não será surpresa se cabeças perderem o pescoço quando a poeira baixar. Antes, porém, o governo deverá dar uma resposta "institucional" à sociedade. Fala-se em instituir uma lei da ficha suja para indicação de cargos comissionados. Se vier, já vem com mais 500 anos de atraso. A solução, porém, exige mais audácia : acabar com o aparelhamento político partidário na administração pública, reduzindo, ao mínimo do mínimo os cargos de confiança preenchíveis sem concurso público. E voltar as agências reguladoras a sua origem : com autonomia e independência técnica e financeira. Com gente apropriada para isso. Haverá condições políticas para tal ? Fim de um sonho ? Em princípio, o "romance da secretária", como muitos estão chamando a "Operação Porto Seguro", parece ter sepultado o plano B do PT para a sucessão presidencial de 2014, caso algo venha a colocar a presidente Dilma fora do páreo - a questão econômica, por exemplo. Como dizia o secretário-geral da Presidência Gilberto de Carvalho, antes mesmo da posse de Dilma, o PT entrava no jogo com um atleta extraordinário na reserva, para não dar nenhuma chance à oposição. FHC de volta Não se sabe ainda se por decisão própria ou se provocado por companheiros, a verdade é que o ex-presidente FHC voltou à liça política do dia a dia com grande apetite. Tem falado mais sobre questões efetivas que em tese e já instiga o senador Aécio Neves, ainda "mineiramente" em dúvida, a assumir imediatamente a candidatura presidencial em 2014. Participou de eventos do partido e está concentrando suas críticas na política econômica da presidente Dilma. Aliás, o PSDB vai tirar o foco de seus ataques a Lula e concentrar no governo, explorando as dificuldades econômicas e políticas atuais. Não será surpresa se os chamados "economistas tucanos" elevarem o tom de suas vozes. Edmar Bacha deu o ritmo em entrevista ao "Estadão" de domingo. O que pensa Aécio ? Há ainda outra questão em torno das provocações dos tucanos, liderados por FHC : o que pensa e sabe o candidato oficioso do PSDB sobre como tirar o país da atual letargia ? Até agora, o senador mineiro não passa de um animal político com ideias pálidas e ocas sobre a realidade brasileira. Calculadora emperrada Mesmo com as constantes demonstrações de "evasão gerencial" no governo é difícil entender que ele tenha se equivocado (ou simplesmente errado) no cálculo das indenizações que pretendia pagar às companhias hidrelétricas que têm contrato de concessão vencendo entre 2015 e 2017. Pelo que se diz em Brasília, os estudos para a edição da MP 597 foram exaustivos, envolveram muitos burocratas qualificados e até consultores externos. A discrepância entre o que foi oferecido e as empresas acham que têm direito era brutal - algo entre R$ 20 bi e R$ 50 bi. Até a estatal Eletrobrás chiou - antes de ser convenientemente silenciada. Agora, o Palácio do Planalto recuou e admite novos valores. O que demonstra, como em tantas outras decisões, é que houve, no caso, um misto de autoritarismo e do jogo do "se colar, colou". Agora vai ? Com a pressão que exerceu sobre suas estatais e o recuo tático de mudar o valor das indenizações, é possível que a maior parte das empresas elétricas atingidas pela MP de prorrogação das concessões aceite agora a proposta oficial. O que garante o principal - e mais valioso - objetivo da medida que a redução da tarifa de energia elétrica a partir de fevereiro entre 16,2% e 28%, média de 20%. Mas o modo de agir no caso deixou grave sequela na confiança dos investidores que Dilma terá de trabalhar muito para recuperar. Apesar do tal de mercado, em princípio, não ter memória, como ensinam os entendidos em teoria de finanças. Lavagem de dinheiro Está despertando muito mais preocupação não só nos meios jurídicos mais também empresariais a nova "Lei de Lavagem de Dinheiro no Brasil", em vigor desde junho. Nem todos parecem ter percebido até agora seu alcance. E que é uma posição irreversível do governo brasileiro - aliás, mais : uma questão de Estado. Este foi um dos pontos que Dilma ressaltou ao mostrar aspectos positivos do Brasil em sua recente visita à Espanha. A regulamentação da lei, pelo COAF, já está no site da entidade e entra em vigor em março. Dificilmente o governo recuará de suas posições. Uma boa ideia Está tramitando no Senado uma proposta para impor limites à duração dos mandatos de dirigentes de entidades esportivas. O mandato poderia durar apenas quatro anos. A punição a quem desobedecer seria a proibição de repasses de recursos públicos a clubes, associações, federações e confederações. Uma excelente ideia a ser aplicada também ao mundo político : restringir a dois mandatos consecutivos apenas, o mandato de senadores, deputados Federais, deputados estaduais e vereadores. Assim como para os cargos Executivos de presidente, governador e prefeito, o direito a apenas uma reeleição. Liquidam-se indesejáveis feudos e eles poderiam se submeter a uma reciclagem, a um processo de "reeducação" no mundo real. As declarações de Fux Ainda precisariam ser esclarecidas com lentes mais esclarecedoras as declarações de Fux sobre como foi a sua "campanha" para ser escolhido como membro da Suprema Corte brasileira. Há algo de "realismo fantástico" nas palavras do ministro do STF. Uma operação política que inclui de José Sarney, o nosso eterno político-acadêmico, até João Pedro Stédile, líder do MST, passando pelo ex-ministro Delfim Netto e pelo outro José, o Dirceu, condenado por corrupção e formação de quadrilha, é uma operação inimaginável, até mesmo, por parte de um escritor do porte de Gabriel Garcia Márquez. Qual foi, dentre estes personagens, aquele que teve a maior influência sobre a escolha da presidente Dilma ? Uma questão enigmática, não é mesmo ? Além disso, fica mais uma questão : o que motivou Fux a focar neste tema em sua entrevista à Folha de S.Paulo ? Teria sido o medo de revelações de alguns dos personagens envolvidos naquela longa e estranha articulação ? Uma lição Do professor Victor Gabriel Rodríguez, professor doutor de Direito Penal da USP e membro da União Brasileira de Escritores em artigo no "Valor Econômico" : "Escrever com regularidade a um jornal diário de ampla repercussão fez notar o quanto é árido o cotidiano dos jornalistas, esses que nós juristas amamos criticar. Construir com velocidade um texto curto e preciso, com a responsabilidade de desnudar-se para um público atento, que nota com facilidade erros lógicos e preconceitos que o próprio autor ignora, é uma responsabilidade e tanto. Um risco, melhor dito. Depois de todo o esforço, ver seu texto desatualizar-se e perder sentido em questão de horas, como um pão amanhecido, tampouco é a melhor das experiências. É só mais uma lição de respeito que a vida nos dá diariamente, a que todos já deveríamos estar habituados. Mas não estamos." Radar NA REAL 30/11/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3066 baixa/estável baixa - REAL 2,1181 baixa/estável baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.312,62 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.416,18 estável/abaixa estável/baixa - NASDAQ 3.011,84 estável/baixa estável/baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 27 de novembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 224

Economia e percepção opacas A permanência do paradoxo da economia brasileira pelo qual a economia vai se atolando no baixo crescimento, na ausência de competitividade externa, na fragilidade tecnológica e, surpreendentemente, mantendo uma taxa de desemprego baixa, esconde no curto prazo o cenário opaco para os próximos anos. De fato, mudanças estruturais no Estado, na educação, na produção de novas e avançadas tecnologias, no sistema tributário, na forma de gestão da coisa pública, na eficiência do Judiciário e assim por diante, são as únicas alternativas que podem dar consistência a sustentação do desenvolvimento. Apenas dessa forma, o cenário deixará de ser opaco no longo prazo. Nem mesmo um crescimento maior em 2013 e 2014 evita que planos mais arrojados do setor privado sejam deixados de lado ou moderados. O que preocupa o setor privado mais dinâmico é a ausência de regras mais estáveis e a confiança nos investimentos necessários do Estado - este deveria investir/poupar pelo menos 4% do PIB para que a taxa de investimento relativamente ao PIB ficasse consistentemente ao redor de 22% ou mais. Enquanto o país permanecer no pleno emprego, a percepção social e política sobre o tema fica tão opaca quanto a economia está empacada. Investidores no mercado acionário Não fosse o mundo tão confuso quanto nestes tempos de desesperança no Velho Continente e incertezas na maior economia mundial, os investidores estrangeiros nas ações brasileiras já teriam partido em outra direção. De um modo geral, os reguladores do mercado e as autoridades econômicas brasileiras estão subestimando o humor dos investidores. As mudanças de regras desastradas do governo no setor elétrico, as incertezas em relação a Petrobras e o temor de que mais e mais intervenção estatal reduzam a visibilidade do cenário à frente, bem como a lucratividade das empresas são motivos de sobra para afugentar o capital. A exuberância dos fluxos para o país já cessou. As saídas estão aumentando (não à toa há efeitos sobre a taxa cambial), mas a debandada não ocorreu porque as alternativas são piores no momento. Todavia, que não se tenha ilusão : o desempenho do mercado acionário pode sair da letargia atual para algo pior. Dilma e a regulação Sabe-se que a imagem de "gerente" agrada a presidente Dilma. Todavia, se o uso desta serve a certos predicados políticos, aos olhos dos investidores e empresários é uma imagem que começa a incomodar. São duas as razões básicas para este desagrado : (i) o excesso de intervenção presidencial sobre temas econômicos, regulatórios, financeiros, etc. cria um regime de insegurança crescente dos interlocutores ministeriais e de escalões abaixo da administração pública ; (ii) quando a presidente erra a correção do rumo ou é difícil ou é impossível. Não há a quem recorrer. Um empresário carioca com bom trânsito no Planalto sumarizou as dificuldades para a coluna : "Os burocratas com os quais se fala escutam, mas silenciam. A presidente quando fala, quem escuta, silencia, sai da sala e não tem para quem ligar". As comparações com o tempo de Lula são inevitáveis. O presidente era tido como mais liberal com seus ministros. Talvez fruto de sua inapetência gerencial (ou algo assim) e volúpia política. O que pensa Gerdau ? O que pensa o empresário gaúcho Jorge Gerdau, que tem um gabinete no Planalto, perto da presidente, sobre o despencar das ações do setor elétrico na bolsa de valores ? Suas empresas são grandes consumidoras de energia e podem ser favorecidas pelas medidas do governo. Em compensação, os acionistas das elétricas carregam um prejuízo e tanto para casa. E não tem gabinete palaciano. A Espanha é a nova Grécia ? A pequena Grécia tem o seu futuro comprometido por talvez uma geração. A irresponsabilidade de seus governos nas últimas décadas, somada ao carnavalesco mundo da especulação financeira destruiu suas finanças e economia. Por ora, o belo país mediterrâneo está sujeito ao "padrão alemão", a política econômica de Angela Merkel. A economia grega tem níveis de desempenho semelhantes aos da Alemanha antes da escuridão de Hitler e seus comparsas. A Espanha caminha por um caminho semelhante ao dos gregos : o PIB despenca, o desemprego atinge patamares acima de 25% da força de trabalho, o Judiciário faz greve, a Catalunha faz um plebiscito sobre sua independência, as greves se multiplicam e a mão de obra é exportada (inclusive para o Brasil). O governo tenta saídas. Uma delas é absorver algo entre US$ 115 e 120 bi de "ativos tóxicos" do sistema financeiro. Além disso, imagina-se algo entre US$ 70 e 90 bi de necessidade de capitalização dos bancos espanhóis depois desta "limpeza" com o dinheiro da viúva. Para a segunda parte do plano espanhol, a velha Europa terá de ajudar, mas quem surge no cenário ? Angela Merkel ! Ela diz que a limpeza do sistema financeiro dos países em crise é um "problema nacional". Tal qual fez com a Grécia, Portugal, Irlanda, a líder alemã manda bananas aos necessitados parceiros europeus. A Espanha está mergulhada numa crise econômica generalizada. Seus efeitos políticos ainda podem se tornar mais assustadores que os que ocorrem no país que fundou a ideia de democracia e humanismo. Os liberais modernos Não deixa de ser curioso ver os políticos liberais, defensores do livre mercado pregando mundo afora (e por aqui também) o desmantelamento do Estado do Bem Estar Social (wellfare state) e, de outro lado, com o pires (bem fundo) na mão pedem que o Estado salve as estruturas de seu bem estar nada social. Coisas do aparelhamento ou a "Quadrilha" de Drummond A mais nova história de "estripulias" no governo Federal, a partir do gabinete da presidência da República em SP, parece repetir conhecido poeta Carlos Drummond de Andrade. Parafraseando o mineiro : "Dirceu conheceu Lula que nomeou Rose secretária da presidência que indicou os irmãos Vieira para o governo...". Assim, não surpreende mais uma cadeia de malfeitorias instaladas no governo Federal : é fruto puro do aparelhamento do Estado brasileiro, da escolha de pessoas para trabalhar na base do apadrinhamento, do compadrio, do quem indica. Como a prática foi habitual e a regra nos últimos anos - haja vista as tratativas em curso para futuras mudanças ministeriais -, não será surpresa se outros "casos Rose" (ou DNIT, para lembrarmos um mais antigo) ocorrerem. E, embora não atinja diretamente nenhuma figura de alto escalão, cabem as perguntas : quem nomeou e se baseando em quais critérios ? A verdade é uma só : aparelhamento, sem meritocracia, é porta aberta para a corrupção. Marketing e não a política Nestes tempos a escassez de políticos capazes de estarem em sintonia com os anseios sociais e econômicos é notória. Aqui e alhures. Obama, Merkel, os comunistas de Pequim ou os pálidos latino-americanos são figuras que não movem e não comovem na velocidade que os problemas globais e nacionais exigem. Em compensação, os "marqueteiros" vão ocupando espaços e tornando a política uma res da propaganda, como se projetos e animais políticos fossem apenas "produtos de consumo". João Santana, o marqueteiro petista não foge à regra e manda recados de todas as cepas na sua entrevista à Folha de S.Paulo desta última segunda-feira. A principal já está comentada por todos os lados : Lula como candidato a governador de SP. Mas, o mais notável talvez seja a afirmação de que "o mensalão é o maior reality show da história jurídica não do Brasil, mas talvez do planeta". José Dirceu sentiu o afago e comentou em seu blog. O termo reality show merecia ser melhor explorado junto ao marqueteiro. Talvez signifique coisas bem distintas das ideias ditas "republicanas" feitas por políticos que chegaram ao poder pregando diferente do que praticaram... O marqueteiro e Kassab Outra coisa que poderia ser perguntada a João Santana : o que ele acha de ter feito uma campanha de oposição contra Kassab em SP e ver o atual alcaide paulistano virar governo no plano Federal ? Há razões que até o marketing pode desconhecer... Coincidência. Coincidência ? Sexta-feira, dia 30, a presidente Dilma decide, impreterivelmente, sobre a nova divisão dos royalties do petróleo. Uma briga suicida entre Estados e municípios para um dinheiro gordo. Prefeitos e governadores que ainda não tem direito ao bolo, para não serem produtores de petróleo, não veem a hora de botar a mão nesse tesouro. Os governadores do RJ e do ES e um pouco mais de 50 municípios produtores ameaçam mundos e fundos e mais alguma coisa se perderem suas vantagens. A presidente está naquele jogo, politicamente, do perde-perde. Não tem para onde correr. O que vier a fazer desagrada os aliados e provoca mais barulho no Congresso e, talvez também, no STF. De quebra, vai reacender a queixa de governadores e prefeitos a respeito da concentração de recursos nas mãos de Brasília e sobre a penúria em que vivem eles. Por coincidência, no mesmo dia, o governador Eduardo Campos, um político em ascensão Federal e em busca de uma boa colocação para a 2014, realiza uma pajelança na capital da República reunindo os 443 prefeitos eleitos (ou reeleitos) em outubro pelo PSB. Mais coincidência : o mote do discurso de Campos será "o novo federalismo". Federalismo, para prefeitos e governadores, tem um único significado : dividir melhor o dinheiro dos impostos entre eles e o governo Federal. O PMDB na muda De público, o PMDB nunca esteve tão contente com suas relações com a presidente Dilma e, de tabela, com seu novo amigo de infância, o PT. Nos bastidores não é tão róseo assim. As orelhas petistas nas vozes peemedebistas ardem cada vez mais - é o partido com pretensões sempre hegemônicas, que não sabe dividir. Além do mais, permanece a desconfiança de que, dependendo as circunstâncias (por exemplo, um crescimento exponencial de Eduardo Campos), o partido possa deixar de ser o parceiro preferencial de Dilma e do PT. Por enquanto o PMDB está na muda, não pode fazer marolinha para não prejudicar suas pretensões de presidir a Câmara e o Senado no ano que vem, compromisso que a presidente e os petistas garantem que cumprirão, embora dentro do PT haja muita gente com uma vontade danada de trair. Depois da sucessão no Congresso - ainda mais se não tiver todas as suas pretensões ministeriais devidamente atendidas - o PMDB pode voltar ao velho estilo, o de "está e não está", ao mesmo tempo. Com a entrada de atores com mais peso no jogo, como o PSD de Gilberto Kassab, e o próprio reforçado PSB, os peemedebistas temem por seus espaços. Agora e principalmente no futuro : os comandados de Michel Temer sabem que será difícil para eles, em 2014, manter a condição de maior partido no Congresso, somados os votos na Câmara e no Senado. Depois dos tempos gloriosos da oposição aos governos militares, o partido sempre se faz com o auxílio das máquinas governamentais. Daí a inquietação hamletiana que vai na alma de seus caciques : ser ou não ser governista. A ferro e a fogo. A oposição não muda Passados quase dois meses das eleições municipais - nas quais se não teve um desempenho pífio como ela própria temia, mas também não foi nada brilhante - a oposição formal ao governo Federal está tão perdida quanto estava antes das urnas. Não tem um discurso, não tem propostas, é uma soma de individualidades, vaidades e muita mágoa. Nem ao menos conseguiu traçar um roteiro, fazer uma reunião, para uma análise (ou, como se dizia no passado, uma autocrítica) de seus erros e omissões. É neste espaço que começa a transitar, cautelosamente para não ferir suscetibilidades federais, o governador pernambucano Eduardo Campos. Quando a oposição acordar, se houver espaço para um candidato de oposição da Dilma e Lula em 2014 este lugar pode ser do neto de Miguel Arraes. Por ironia (veja-se nota acima) com um vice do PMDB velho de guerra. Não vão gostar Está para ser julgada no STF uma representação pedindo a proibição das doações "ocultas" da campanha - aquelas que são feitas aos partidos diretamente, mas carimbadas para determinados candidatos. A ministra do Supremo e presidente do TSE, Carmem Lúcia, é um pouco mais radical nesta questão : ela é favorável à proibição de financiamento eleitoral por parte de pessoas jurídicas. Não vai cair no gosto dos partidos. No fundo do poço Poucas vezes o Congresso caiu tão baixo como no episódio ainda não encerrado da CPI Cachoeira-Delta. E não tem emenda para um soneto tão mal ajambrado desde o início. Sem graça De repente, não mais que de repente, sem que nada de novo e substancial surgisse na área, a presidente da Petrobras, Graça Foster, depois de meses defendendo o reajuste da gasolina e do óleo diesel como essencial para recuperar a capacidade de investimento da companhia, descobriu na semana passada que o caixa da empresa vai muito bem, obrigada. Não é o que pensam, nos últimos meses, as pessoas que compram ações da Petrobras. Economia, seu nome é política A força de uma reticência Diálogo da presidente Dilma Rousseff com as repórteres do jornal "Valor Econômico", Vera Brandimarte e Cláudia Safattle, em entrevista concedia em Madri : Valor : E a questão da energia, está uma grande confusão e a Eletrobras está se queixando... Dilma : Você acha que eu quero quebrar a Eletrobras ? Agora, entre quebrar a Eletrobras e ela querer ganhar uma renda que não é dela, que é das empresas brasileiras e da população... Para bom entendedor, uma reticência basta. E tome relação de causa e efeito : os investimentos no Brasil, que caíram já quatro semestres consecutivos, segundo alguns analistas voltaram a recuar no terceiro trimestre do ano. Como os investimentos federais não deixaram de patinar, as previsões para de crescimento para 2013, apesar do otimismo do ministro Guido Mantega, não param de cair : há duas semanas, no Boletim Focus (opinião de cerca de 100 especialistas da área financeira) estava em 4% ; esta semana caiu para 3,94%. Uma tendência ? Radar NA REAL 23/11/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2970 baixa/estável baixa - REAL 2,0844 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.531,68 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.409,15 estável/abaixa estável/baixa - NASDAQ 2.964,97 estável/baixa estável/baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 13 de novembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 223

E ele, em que lugar estava ? Nos últimos dois anos sete bancos foram liquidados ou sofreram intervenção do BC. A razzia começou com o Banco Panamericano, repassado para a Caixa Econômica e o BTG, e seguiu com o Cruzeiro do Sul, o Matone, o Prosper, o Schain, o Morada e, no mês passado, o BVA. O caso Panamericano ainda hoje dá dor de cabeça e seus controladores, especialmente a Caixa, que entrou no negócio, como todos sabem, por uma decisão política de Brasília. E sem ter sido alertada das fraudes que por lá havia, pelo menos é isto que seus dirigentes alegam quando cobrados. Em todos esses bancos foram encontradas fraudes, algumas mais outras menos grossas, que se realizaram ao longo de um bom tempo, não nasceram na antevéspera da intervenção. As revelações que a imprensa vem trazendo a respeito dos negócios do Cruzeiro do Sul são, no mínimo, cabeludas. No mercado também se comenta assustadamente as coisas que se passavam no BVA. Coisas medidas em bilhões de reais, um bom naco com os fundos de pensão das estatais. A pergunta que não quer calar é simples : por onde andava a fiscalização do BC todo esse tempo ? Mais benefícios Na semana passada o governo fez mais uma modificação na regra dos compulsórios. Pode servir como uma luva num banco muito comentado atualmente, até por suas histórias paralelas no mensalão : o mineiro BMG. Curiosidade aguçada Depois dos balanços do trimestre encerrado em setembro dos três maiores bancos privados nacionais - Bradesco, Itaú e Santander - e do maior banco público, o BB, todos com resultados inferiores ao esperado, a grande expectativa do mercado é com os resultados da CEF. A CEF tem sido mais audaciosa que os bancos privados e até que o BB, não só na política de rebaixamento dos spreads, como também na concessão de empréstimos. O BB aumentou seus empréstimos mas teve reduzido seu lucro. A Caixa vai dar uma aula para todos os concorrentes ? O etanol em pane O endividamento das usinas de açúcar e álcool subiu quase 25%, e está próximo dos R$ 52 bi. E a previsão é de que pode subir ainda uns R$ 5 bilhões nos próximos meses. O setor está querendo um fôlego oficial qualquer para ultrapassar a tempestade e não surgir alguns calotes. O problema mais sério está ligado ao preço da gasolina, usado pelo governo como uma das âncoras da política antiinflacionária, mas que ajuda a deprimir o preço do álcool e o caixa das usinas. Será que vai subir ? Há dias, o ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, insuspeito de qualquer tipo de oposicionismo no momento, fez coro com a direção da Petrobrás, dizendo que está mais do que na hora de o governo permitir um aumento no preço da gasolina e do diesel para não garrotear ainda mais o caixa da estatal. Mas não há sinais de fumaça no ar que o reajuste esteja a caminho. Os suspiros da inflação, embora pequenos, incomodam Brasília. O espaço para o aumento dos combustíveis está sendo preparado pela redução das tarifas de energia, entre 16% e 28%, média de 20%, prometido pela presidente Dilma para fevereiro. Uma novela : as tarifas de luz Dilma terá mais trabalho do que imaginava para aprovar a MP 579, de prorrogação de contratos de energia elétrica, somado a redução nas contas de luz. As reações das empresas ao valor das indenizações que terão de receber e ao novo valor da tarifa, não foi das melhores. Até a Eletrobrás está chiando. Dilma diz que não admite que a MP seja desfigurada no Congresso, porém há pressões fortes das empresas e de algumas bancadas estaduais. Nos últimos dias, sinal de que o jogo pode ir longe, quem sabe numa batalha judicial, o ministério de Minas e Energia passou a admitir, por exemplo, reabrir o prazo para a estatal mineira Cemig aceitar a prorrogação de todas as suas usinas com contratos vencendo. Se abrir uma exceção para a Cemig receberá outras reivindicações. Já há quem diga que talvez a redução das contas de luz venha a ser bem menor do que o projetado. Um alerta A votação da redistribuição dos royalties do petróleo, quando a Câmara não atendeu a pelo menos dois desejos da presidente Dilma - destinar o dinheiro em sua totalidade para a área de educação e só adotar novos critérios para o petróleo novo, não incluindo o que já está licitado e em produção - é um alerta para o governo para as dificuldades que ele pode encontrar na hora de votar a MP 579. A Congresso jogou uma bomba no colo da presidente : se vetar desagrada, se não vetar, desagrada também. E nos dois casos o fim da confusão pode ser o STF. Porém, dependendo do correr da briga no Judiciário, o governo pode ficar impedido da realizar, no tempo prometido, licitação de novas áreas de exploração de petróleo, tanto nas áreas do pré-sal como nas outras. Há sete anos não ocorre nenhum leilão, o que está levando à diminuição das reservas nacionais e até a uma estagnação da produção brasileira. Um adiamento desses leilões já marcados - maio e novembro - mais a confusão na área elétrica, não seriam nada agradáveis com os investidores, já ressabiados com o que muitos chamam de excesso de intervencionismo e outros de excesso de voluntarismo do governo brasileiro. Dilma e 2014 A prioridade da presidente Dilma, como ficou claro nos últimos dias, é reorganizar suas alianças políticas com vistas à disputa pela reeleição. As mudanças ministeriais em vista - a presidente diz que não é reforma, serão apenas ajustes - terá apenas este sentido. Não virá para melhorar o desempenho da equipe de governo, embora, em algum momento possa trazer tal benefício. E tudo está sendo feito de comum acordo com o presidente Lula, com quem ela teve, na terça-feira à tarde, no Palácio da Alvorada, uma conversa de longas quatro horas. Como o esquema está fechadíssimo, Brasília, que normalmente já é um poço de boatos, está fervilhando. Certo mesmo é que o prefeito Kassab ganha um Ministério - para ele ou para alguém do PSD - e o PMDB terá mais uma cadeira na Esplanada. Não é a oposição... ...no momento a preocupação de Lula e de Dilma. PSDB, DEM e PPS precisarão primeiro encontrar um rumo antes de incomodarem o Planalto. A fera a ser acompanhada se chama Eduardo Campos. E a tática do governo parece ser dividir seu partido. A cunha são os irmãos cearenses Cid e Ciro Gomes. Ao contrário, por exemplo, do que aconteceu com o PT e o PMDB, que tiveram todas as suas cúpulas reunidas num jantar com a presidente, a conversa de Dilma com o PSB foi dividida em duas : um jantar com Eduardo Campos e um almoço com o governador do Ceará, Cid Gomes. E Dilma parece apostar que o PSD e do B vá domar o PSB. Semana vazia Afora os ajustes da presidente Dilma com seus aliados - ontem ela jantou com o grupo do prefeito Gilberto Kassab - a semana política, mais até do que a semana, com o feriado nacional de 15/11, e o feriado em muitos municípios do dia 20 (Dia da Consciência Negra) vai esvaziar Brasília. Afinal, como ensinava o poeta pernambucano Ascenso Ferreira, "ninguém é de ferro". Pelo menos não todos os brasileiros. Com isso, o Câmara e Senado, ficarão com pouco mais de 30 dias corridos (contando os sábados e domingos) para aprovar, entre outras coisas urgentes, algumas MPS que vão caducar até janeiro, o Orçamento Geral da União e as novas regras para o Fundo de Participação dos Estados. Dificilmente, na correria, sairá uma coisa de alta qualidade.
terça-feira, 6 de novembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 222

  Obama, Romney, China e Dilma Obama pode perder a eleição porque a economia cresce pouco, algo como 2% neste ano. Diga-se de passagem, é mais do que o Brasil crescerá no mesmo período. Afora a evidente ironia, há outro paradoxo na eleição estadunidense. A eleição de Mitt Romney pode aumentar as tensões comerciais entre os EUA e a China e direta e indiretamente ajudar o Brasil. Isso porque o candidato republicano defendeu abertamente maior intercâmbio comercial com a América Latina. O tema foi recorrente, mesmo que obscuro do ponto de vista prático. De outro lado, temos a eleição do presidente chinês a se concretizar entre os comunistas de alto coturno do Partido Comunista que estarão no congresso a partir desta semana. O Brasil acompanha tudo de perto, mesmo porque diante dos evidentes sinais de desaceleração da maior economia emergente, a questão econômica ocupará uma boa parte da festança dos vermelhos chineses. Há alas tecnocráticas do partido que defendem ajustes macroeconômicos que reduzam o crescimento no curto prazo para evitar colapsos de crédito no futuro. Dilma, sabe-se, torce por Obama nos EUA, apesar deste nunca ter trazido muitos benefícios para o Brasil. A questão parece mais ideológica. Quanto à China, a torcida é pela manutenção da política econômica de crescimento que tanto ajuda o preço das commodities brasileiras. Nada à vista, por enquanto, na economia A produção industrial brasileira em setembro caiu 1%. Sinal amarelo com mutação para vermelho em relação à política econômica. A política de estímulos tributários e redução de juros encontrou limite evidente : não há no âmbito privado crença de que esta política seja sustentável no longo prazo. Isto sacrifica o investimento no curto prazo. Ademais, há os planos de investimentos públicos os quais estão escaldados por lerdeza e denúncias de mau uso de verbas, além de carência de visão estratégica e gerencial. O próximo ano pode ser recheado de surpresas negativas no que tange à atividade econômica : a inflação persiste sendo uma incógnita e o desemprego (por ora, baixo) pode subir quando se perceber que o crescimento vai ficar modesto. O risco político da política econômica sobe gradualmente. Mas sobe consistentemente. Duda Mendonça de volta Na última quinta-feira, a conta de publicidade do Senai foi parar nas mãos de Duda Mendonça, depois de longa licitação. Um montante de R$ 200 mi deve ser gastos para divulgar a imensa gama de serviços da entidade. Duda Mendonça foi inocentado no mensalão e já voltou a brilhar na sua área de especialização. De outro lado, volta a ter ligações com Paulo Skaf, o timoneiro da FIESP, com o qual o baiano trabalhou durante sua investida nas eleições estaduais passadas quando Skaf foi candidato ao governo paulista. Todas estas coincidências mostram que Mendonça é um homem abençoado. Agora poderá sair de sua fazenda no Pará e reassumir o seu latifúndio publicitário. Duda é inocente no mensalão, mas não tem nada de ingênuo. Mensalão e a dosimetria Joaquim Barbosa é esperado, no plenário do STF, mais saudável depois de seu tratamento germânico. Resta saber se a tal da dosimetria das penas do mensalão será finalmente menos sofrida para o público. Afinal, a confusão nas primeiras doses foi uma dose para elefante para quem assistia à sessão da alta Corte. Durante a ausência de Barbosa as conversas entre os ministros foram intensificadas pelo brevemente aposentado Ayres Britto. Se saberá no plenário se houve consenso sobre uma metodologia eficiente e, ao mesmo tempo, absolutamente legal, para o cálculo das penas dos mensaleiros. O fato novo ocorrido na ausência de Joaquim Barbosa foram os muitos editoriais de importantes jornais pedindo que as penas sejam "justas" e que não haja "abuso político". Exorcizando Eduardo Campos - I Os dois mais novos amigos de infância, agora de papel passado, o PT e o PMDB, sob as bênçãos da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, comemoram hoje o que, para eles, é uma eterna aliança - até que os votos os separem. Dilma recebe todos no Palácio do Planalto para discutir a nova relação e acertar os ponteiros até a travessia de 2014, quando os dois partidos pretendem estar mais unidos do que nunca, com Dilma e Temer na passarela. Naturalmente, será uma união com "comunhão de bens", um sujeito nada oculto deste encontro. O PMDB vai feliz em busca do dote que acredita fazer jus pelos serviços prestados ao PT, mormente em Belo Horizonte (mesmo com a derrota) e no segundo turno em São Paulo. Uma das noivas peemedebistas a serem contempladas no altar ministerial é Gabriel Chalita. Os do PMDB de Minas Gerais também querem sua compensação. Exorcizando Eduardo Campos - II Outro dote será a confirmação, definitiva enquanto durar, de que as presidências da Câmara e do Senado, no biênio 2013/2014, serão do PMDB, com Henrique Alves (RN) e Renan Calheiros (AL). Porém, nenhum Judas mais oculto será tão malhado na festiva noite palaciana que o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. A demonstração de eterna felicidade que PT e PMDB vão exibir em público, com direito a fotos e imagens para a imprensa, é um recado direto ao neto de Arraes de que não chegou a hora ainda de pensar em altares mais elevados para ele e o seu PSB. Ou se enquadra ou nem é convidado para qualquer boda oficial. Depois desse recado subliminar, estuda-se quem vai avisar diretamente a Campos. Enquanto isto, prepara-se também uma cizânia no PSB, explorando as tensões entre o governador pernambucano e os neocoronéis do Ceará, os irmãos Cid e Ciro Gomes. Mais lugares... Como há candidato demais e postos de menos, ainda mais que quem está lá não quer largar nem uma lasquinha do osso, a presidente Dilma botou entre as prioridades do governo para o Congresso este ano a criação do ministzério da Pequena e Média Empresa, há tempo no compasso de espera no Legislativo. Na última vez que se falou sobre ele, no início do ano, especulava-se que ele seria destinado à empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza. Ela chegou a ter uma reunião sobre o assunto com Dilma no Palácio do Planalto. Agora, será direcionado a algum partido. Dá uma vontade de trair... O PMDB vai sair da reunião com Dilma e Lula certo de que já poderá mandar fazer os ternos novos para as posses de Henrique Alves e Renan Calheiros no comando do legislativo Federal. Pode, em parte, gastar pano à toa. O PT que não é de cama, mesa e banho oficial, cúpula, principalmente o da Câmara, está incomodado com os acertos com os peemedebistas. Ponha-se nesta lista : Arlindo Chinaglia e Marco Maia. Tal insatisfação pode pregar uma peça em Dilma, Lula e companhia. E pode ser o troco do PSB que costura, com a oposição, a candidatura de Julio Delgado (MG) à Câmara. A manobra para enquadrar Eduardo Campos tem riscos e precisa ser feita com grande cautela pelo poder de fogo que ele adquiriu. Definição mais que perfeita Do professor de ética e filosofia política da Universidade São Paulo Renato Janine Ribeiro : "Perguntem a quase qualquer partido político brasileiro o que ele quer ser quando crescer, se crescer, para crescer. É quase certo que, se ele for sincero, responderá : 'PMDB'. Chamo de 'PMDB' um partido de pouca definição ideológica, capaz de sustentar um governo de direita ou esquerda, mas formado por tantas alianças regionais que consegue um bom retorno da União em troca de seu apoio." (...) "Por mais que o modelo PMDB ofereça ganhos tangíveis e certos, os dois partidos que, somados, ou melhor, brigados, chefiam o Estado há quase 20 anos, só conseguiram isso porque não foram nem são PMDB. Nosso grande partido-ônibus é vantajoso para apoiar, não para liderar. Lutar pela hegemonia, como fazem PT e PSDB, tem um custo. Você pode perder. Já fazer alianças com qualquer lado (exagero um pouco no 'qualquer') tem suas vantagens, mas traz um custo : você não disputa a final do campeonato. Pode até se manter na primeira divisão, mas não chega à final do Brasileirão." Um discurso, por favor O problema principal da oposição, definitivamente, não é a falta de líderes, nem de votos, nem suas idiossincrasias e vaidades, nem de falta de figuras coroados. É mesmo de conteúdo, de um discurso coerente, crível, alternativo ao do governo. Simples assim. Com seu gosto pela ironia, o ex-governador Leonal Brizola, na campanha presidencial de 1989, quando cobrado sobre seu programa de governo, costumava responder dizendo que o difícil é criar as condições políticas para governar e aplicar seus planos : "Depois, a gente encomenda uma pelo reembolso postal (a internet ainda não existia) a alguns cientistas na universidade" - dizia. Invertendo um pouco a lógica de Brizola, não seria o caso da oposição começar por aí ? O que o eleitor vai querer saber é o que ela pode fazer de diferente (e de melhor) do que está sendo feito agora. Caldo de galinha e paciência Os mensaleiros petistas, que esperavam ver o PT, institucionalmente, de armas em punho para defendê-los da "sanha" do STF (e da mídia tradicional) terão de munir-se de muita paciência e muito caldo de galinha. E esperaram confortados numa poltrona para não se cansarem. Tanto o partido como especialmente o governo Dilma não parecem muito dispostos mais a ir nesta direção. Percebem que isto manterá aberta uma ferida difícil de cicatrizar em público e que tem poder de trazer pesado desgaste político para eles. Bobagem pensar o contrário. A solidariedade pública será inversamente proporcional à solidariedade pessoal que os réus receberão. A vida continua... Embrulhos federativos - I Na empolgação com a eleição no segundo turno na capital paulista, Dilma abriu espaço na sua agenda logo na segunda-feira depois do resultado oficial para o prefeito eleito Fernando Haddad. Prometeu a ele atender a um de seus pleitos, promessa da campanha em São Paulo : mudar as regras estabelecidas para o pagamento da dívida de São Paulo, renegociado no início de 2000. Para Haddad, esse alívio é essencial para cumprir o plano de governo apresentado aos paulistanos e as promessas soltas nos palanques. Para o PT é essencial porque, como seus dirigentes já confessaram, pretendem fazer de São Paulo a vitrine do "novo modo governista de governar", para a classe média. É plataforma para a reeleição de Dilma em 2014 e para o PT ampliar seu poder Federal e nos Estados. Embrulhos federativos - II Com o afago a Haddad, Dilma, porém, abriu uma panela de pressão que há algum tempo estava para explodir : a insatisfação de governadores e prefeitos com a situação de seus acordos de dívida e com as relações federativas (a divisão do bolo dos impostos e as obrigações de gastos impostos por Brasília a eles). A Confederação Nacional dos Municípios já prepara uma caravana para ir a Brasília conversar sobre o assunto. O governador de MS, de passagem pela capital, já avisou : "Se é para um, tem de ser para todos". Aécio Neves e Eduardo Campos, muito amiguinhos atualmente, têm conversado sobre o assunto. Aécio já incorporou o tema em seus discursos. Dilma pode jogar o assunto na mesa em troca de pontos da reforma tributária. O imbróglio é que este é um jogo que não tem soma zero. Todos querem ganhar. Enquanto isso... ... Senado e Câmara preparam-se para enviar ao STF um pedido de ampliação do prazo, que vence no dia 31/12, para a aprovação de uma nova lei de distribuição do Fundo de Participação dos Estados, um bolo este ano estimado em R$ 55 bi, parte do IR e do IPI. Deputados e senadores tiveram mais de dois anos para discutir e votar a mudança. Agora, se nada for feito, a mina para os governadores fecha no dia 1º de janeiro. Não há mais prazo para aprovar na Câmara e no Senado um projeto desse teor com qualidade. Depois, os parlamentares se queixam da "judicializaçao" da política no Brasil. Mantega também aproveita As necessidades financeiras dos Estados podem tornar a vida do ministro da Fazenda, Guido Mantega, mais fácil no que se refere ao fim da chamada "guerra fiscal". Com a pauta da renegociação das dívidas de Estados e municípios sobre a mesa, o ministro vai tentar fechar um acordo em relação aos benefícios fiscais concedidos pelos Estados para atração de investimentos. Mesmo assim, o que vai sair (se sair) será um acordo para o futuro, pois para o presente as dívidas pertencem. O triste fim da uma CPI Morre da CPI Cachoeira-Delta sem que os partidos tivessem a coragem de investigar o que era realmente importante na história : as relações espúrias da empresa em várias esferas do poder público brasileiro, os "laranjas" que ela usava para fazer seus negócios... Nem o julgamento do mensalão parece causar temores em certas áreas do mundo político e administrativo brasileiro. Mas o MP, se quiser, já tem um bom filão para quem sabe um "Mensalão II - O Retorno". Radar NA REAL 2/11/12   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2789 baixa Estável/baixa - REAL 2,0353 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.307,43 estável estável/alta - S&P 500 1.414,20 estável alta - NASDAQ 2.978,09 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 30 de outubro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 221

A ofensiva da política econômica Há duas semanas, o Ministério da Fazenda e o BC estão preparando a estrada para alguns ajustes na política econômica. A intenção, primeiro, é adaptar o discurso a uma realidade que está teimando em não acontecer como a presidente Dilma e seus conselheiros econômicos esperavam. A inflação, dizem os especialistas, anda danada de teimosa, e não vai chegar ao centro da meta em 2013, como o próprio BC já admite. E ainda está rebelde o suficiente para empurrar os preços este ano para algo acima dos 5,5%. Na outra ponta, a atividade econômica, depois de um alento em agosto, voltou a ficar preguiçosa em setembro e não dá sinais de ter despertado inteiramente da letargia em outubro. Assim, um "PIBinho" entre 1,5% e 1,6% em 2012 já está no baú e muitos analistas dizem que não é muito difícil que o crescimento do PIB de 2013 entre 4% e 4,5% ficar apenas como num sonho de verão. Um analista com grande índice de acerto nessas previsões, o economista José Roberto Mendonça de Barros, já está cravando suas apostas num crescimento da economia nacional apenas entre 3% e 3,5% em 2013. Por isso, a economia andou inundada de boatos, inclusive de dança de cadeiras na área econômica. O que fazer ? Os boatos nascem de uma constatação : o que mais o governo pode fazer para dar um piparote maior na economia, uma vez que medidas como mais incentivo ao consumo, queda substancial dos juros básicos e as desonerações fiscais, mesmo considerando-se o tempo necessário à produção de resultados, não está sendo o bastante. Um novo ataque na base de bondades fiscais começa a esbarrar nas dificuldades orçamentárias. A arrecadação não se recupera ao nível imaginado. E ela vai enfrentar uma safra de prefeitos com os cofres arrombados e ávidos e recursos. Boatos apenas ? No que tange à dança das cadeiras, já se comenta abertamente a saída de Guido Mantega do comando da Fazenda. Sabe-se que o ministro enfrenta problemas pessoais. O que se especula é quem poderia substituí-lo. O nome de Alexandre Tombini aparece no topo da lista. É natural que o apreço da presidente por ele seja grande uma vez que cumpriu a "meta" de reduzir os juros básicos, apesar da inflação relativamente alta e dos exorbitantes juros dos empréstimos. Uma coisa é certa : a presidente, dado o seu perfil, deve querer alguém obediente às diretrizes emanadas do Planalto. Ou seja, dela. Câmbio : um problema sem solução no momento Já comentamos nesta coluna que a taxa de câmbio continua muito pouco competitiva para tornar a indústria nacional menos obsoleta e aumentar o investimento industrial local. Como se sabe, a taxa de câmbio nominal foi controlada pelo governo, na linha do que outros governos, da ditadura à FHC já o fizeram. O problema é que a taxa de câmbio real é incontrolável por definição : depende da taxa de inflação local e externa e da normalidade dos fluxos de capitais. O governo sabe disso, é claro. Tão claro quanto a constatação de que "mexer" na taxa nominal agora implica em mais inflação, estourando ainda mais a meta já estourada. Uma safra magra de resultados Para complicar, a safra de balanço das grandes empresas começou sujeita a uma pesada dieta, o que pressupõe menos impostos de parte dessas companhias para os cofres públicos no curto prazo. Bradesco, Itaú e Santander decepcionaram. A salvação, não total, porém, pode vir dos bancos estatais, BB e CEF, que ampliaram sensivelmente suas carteiras de empréstimos. O lucro da Vale mergulhou. E a Petrobras, embora tenha se recuperado do prejuízo-vexame do segundo trimestre do ano, veio com um lucro bem abaixo do esperado pelo mercado. O que coloca outro dilema para o governo : a companhia precisa fazer recursos com urgência para sustentar seus planos de investimentos e poder entrar, como está obrigada por lei, nos leilões do pré-sal do ano que vem. Desânimo bursátil Se o cenário externo melhorar um pouco, sobretudo na Ásia, a China em especial, dizem os especialistas, o mercado de ações brasileiro pode sofrer um substancial revés. O Brasil ainda é visto como "porto seguro" frente aos "furacões" no hemisfério norte. Todavia, gestores de recursos já não se impressionam com os planos de crescimento governamentais. Sabem que o jogo é apenas para a plateia, pois os fundamentos do país carecem de fortaleza para crescer. Mesmo que ninguém veja um desastre titânico pela frente. De "apaguinho" em "apaguinho"... ... o apagão enche o papo. Para boa parte dos especialistas na área e para os observadores atentos da cena de infraestrutura no Brasil, o blecaute que na madrugada de sexta-feira assolou o Nordeste inteiro e mais parte do Pará e do Tocantins não foi uma surpresa. Era apenas uma questão de tempo. Ele havia sido recentemente prenunciado por dois outros "apaguinhos" menores também no Nordeste e duas interrupções no fornecimento de energia em plena capital da República. E mais : somente este ano, foram registrados, até sexta-feira em todo o país 65 blecautes de porte razoável - uma média de um a cada cinco dias. "Não é normal", nas conformadas palavras do ministro interino das Minas e Energia, Márcio Zimmerman. Alertas já existiam Alertas foram feitos de que caminhávamos para uma situação dessas, por falta de investimentos, porque a Aneel não cumpre direito suas funções, porque as estatais que têm grande peso no setor ainda estão em parte loteadas... E a situação pode se agravar com o susto que está sendo aplicado nos investidores com as novas regras para o setor. Este é o campo que a presidente domina, que fez sua fama de "gerontona" eficiente. Note-se que em outras áreas de infraestrutura, as agências reguladoras também perderam eficiência. Nestas o aparelhamento estatal é muito parecido e outros "apagões" já estão no ar. Só não aparecem tanto porque não tem a visibilidade que existe numa interrupção de fornecimento de eletricidade. O que Dilma vai fazer para dar um choque de eficiência no seu quintal ? No caso, não dá para culpar nem a oposição nem as "perdas internacionais". O sentido de uma eleição Bem ponderados o dever e o haver, os vencedores e vencidos, os achados e os partidos, festejadas a vitórias e lamentadas as derrotas individuais e coletivas, o saldo real das urnas de outubro aponta para um eleitor-cidadão insatisfeito, inquieto, exigente e com extraordinário sentido de urgência. Sentimentos fruto das carências de atendimento público, em todas as esferas da administração, dos serviços minimamente básicos a ela devidos e da mobilidade social alcançada nos últimos anos. Um desafio para quem vai botar os pés nas prefeituras em janeiro - que não terão "dias de graça" para pensar muito -, para os que estão já com assento nos palácios estaduais e no federal e para todos os que sonham com dias de glória em 2014. O futuro político e eleitoral no Brasil nunca se viu diante de tão grande interrogação. O pedaço do latifúndio de Dilma Misturados os ovos, a omelete da recandidatura de Dilma ficou mais vistosa e mais saborosa. Mas ele terá de ser temperado no dia a dia da economia, cujo horizonte tem nuvens internas e externas já visíveis. A presidente, portanto, terá de recompor imediatamente seu conjunto aliado, aparar arestas, atender novas reivindicações que se formaram, para ter tempo e paz para atacar os problemas que estão pipocando (ver notas). O tempo agora é de operar o governo e as relações com o Legislativo. Acerto de contas Têm créditos com a presidente, a serem saldados até fevereiro, quando Dilma deverá encerrar os ajustes que fará paulatinamente em sua equipe : o PMDB e o PSD. O PP, pelo apoio de Maluf (quem diria ?) a Haddad em São Paulo, quer mais, mas pode ter menos. PRP não deu o que recebeu com o Ministério da Pesca. E o PSB, com grande crescimento eleitoral, está no limbo, dependendo de como se comportar o seu presidente nacional, Eduardo Campos. Dilma não é de aceitar ambiguidades. A presidente terá também de haver-se com o PT, partido que sempre quer mais. Sorrindo às escondidas Não se pode dizer que o Palácio do Planalto tenha ficado infeliz com a vitória do candidato do PSB à prefeitura de Fortaleza, derrotando um petista para o qual Lula fez campanha ao vivo. O resultado fortalece os irmãos Cid e Ciro Gomes, uma espécie de contraponto ao imenso poder do governador de Pernambuco no partido. Ao cara o que é do cara Fernando Haddad é a "cara" do Lula. A espetacular aposta do ex-presidente em São Paulo, de tão bem sucedida, mascarou outras visões "caolhas" dele : Manaus, Recife, Belo Horizonte, Campinas, Fortaleza. Modesto, nem foi à festa petista em São Paulo, na qual, sintomaticamente, ganhou justa prioridade sobre Dilma nos agradecimentos do prefeito eleito e mais aplausos que a presidente. Como Zagalo, Lula parece repetir : "Vocês vão ter de me aturar". No PT já não haverá quem conteste as suas vontades. O partido é o homem. Kassab e o PT Vai ser intrigante para o eleitor ver o "famigerado" prefeito de São Paulo virar queridinho do Planalto quando a reforma ministerial vier. Oposição e governo são palavras obscuras para os analistas, mas são uma confusão ainda maior para quem vota na condição de cidadão de uma cidade. Haddad falou horrores de Kassab na campanha, mas este último será recebido em breve pela presidente como parte de sua base de apoio. A política nacional não é apenas incompreensível. Chega a ser algo bem mais complicado de escrever. Seria "impublicável". Não foi dizimada, porém... A oposição, no cômputo geral, ganhou uma boa sobrevida. Porém, ou se renova, arranja outra "cara", mergulha nos problemas nacionais que estão a tirar o sono dos empresários e, dizem, um pouco também do Palácio do Planalto, e apresenta-se como alternativa de fato de poder, ou terá apenas adiado sua extinção para 2014. A diferença entre o PT, maior força do governismo, e o PSDB, ainda a maior força do oposicionismo, é que enquanto o primeiro faz política com vontade (até com um certo exagero religioso), de maneira geral, os tucanos fazem política com um ar blasée, como quem tem coisas mais sérias e mais atraentes para fazer. FHC acerta ao falar em "renovação", mesmo que o próprio príncipe não saiba como fazê-lo. Insatisfação confirmada Como no primeiro turno, com exceções, o eleitor mostrou pouco entusiasmo com partidos e candidatos no domingo. Abstenções, votos brancos e nulos de um modo geral superaram os 25%. Em São Paulo, chegaram a 32%. A maioria dos eleitos ficou com cerca de 37% a 40% dos votos dos eleitores de suas cidades. O que traz para todos os novos prefeitos um desafio : atrair esses eleitores insatisfeitos e desconfiados. Todos começam em débito. A fila andou em São Paulo O sucesso do "poste" Haddad em São Paulo aconselha os ministros Marta Suplicy, da Cultura, e Aloizio Mercadante, da Educação, a manterem muito bem afivelados seus cintos na Esplanada dos Ministérios e traçarem para 2014 planos alternativos. Lula, com a autoridade de quem vislumbrou com acuidade rara o que o paulistano desejava, não resistirá a outro "dedaço" na sucessão de Alckmin. O faro do ex-presidente já se dirige para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o prefeito de São Bernardo, Luís Marinho. Além de São Paulo A experiência vitoriosa em São Paulo, apesar do fracasso em Campinas com Marcio Porchman, deve fazer Lula a levar o PT a tentativas semelhantes em 2014 não só em território paulista. Onde ele colheu alguns de seus grandes fracassos, como em Recife, Belo Horizonte, Fortaleza e mesmo em Salvador, estava associado ao "velho", a figuras já carimbadas como Humberto Costa, Patrus Ananias, Luziane Lins, à dupla Nelson Pelegrini - Jaques Wagner. Um "choque de gerações" deve agitar as entranhas do partido antes das definições de 2014 - ressalvada, na luta presidencial, a prioridade de Dilma. O julgamento do mensalão também vai ajudar nesse processo. O PT vai dar toda solidariedade a seus companheiros condenados, mas não vai jogar seu futuro nisto. As dificuldades que Dirceu e Genoino enfrentaram quando foram votar (e até o aperto passado pelo ministro Ricardo Lewandowski quando foi depositar seu voto) são indicações insofismáveis do potencial de desgaste político do processo. O que vem por aí Reforçado pelas eleições, o PT aquece as turbinas para abrir duas frentes de batalha : uma "nova" reforma do Judiciário e controle social da imprensa. Apenas analisa a melhor hora para desencadear as batalhas. O caso do Judiciário deve ficar para depois do fim da aplicação das penas do mensalão. Não se cutuca uma onça tão grande com uma vara tão curta. Marcos Valério não obedece ao calendário político O destino do empresário Marcos Valério é trágico. Sua vida estará marcada pelo maior escândalo de corrupção da história brasileira e ficar atrás das grades lhe custará parcela preciosa da vida. Sabedor de seu destino poderá não se conformar com ele, pelo menos com a verdade que está nos autos. Esta nuvem pairará sobre a cabeça de muitos poderosos, por muito tempo. Será que emissários irão conversar com ele como ocorreu antes do julgamento do mensalão ? Radar NA REAL 26/10/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2899 baixa/estável baixa - REAL 2,0309 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.148,58 estável estável/alta - S&P 500 1.411,94 estável alta - NASDAQ 2.987,95 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 23 de outubro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 220

Descompasso político e econômico I Temos chamado a atenção de nossos leitores para o "paradoxo" resultante do fato de a economia brasileira estar relativamente estagnada ou crescendo em patamares inferiores aos outros países emergentes (China, Índia, África do Sul, Rússia, quase todos os países da bacia asiática), bem como comparativamente aos outros países da América do Sul, e, de outro lado, não existir nenhuma deterioração política face a este paradoxo. Isso se deve à constatação de que a economia brasileira está praticamente no pleno emprego, apesar deste ser aparentemente incompatível com o nível de atividade atual e prospectivo de 2013. A pergunta que deve ser feita é : esta peculiar situação persistirá ? Bem, ninguém tem bola de cristal para formular uma resposta firme a uma pergunta tão inquietante. Todavia, enquanto as perspectivas estruturais das economias centrais permanecerem obscuras, esta situação pode prosperar. Apesar de muitos senões... Descompasso político e econômico II Uma situação como a acima apontada cria uma crescente instabilidade aos agentes econômicos. Estes apostam, por ora, nas perspectivas de médio e longo prazo, mesmo porque a estes faltam alternativas relativamente aceitáveis no mundo confuso de hoje. O capital é covarde, como dizia Lord Keynes. Porém não tenhamos ilusões : o cenário econômico brasileiro, pouco a pouco, vai se deteriorando no que tange a sua atratividade de longo prazo. Os agentes econômicos ressentem-se de um plano estrutural mais consistente da parte do governo, assustam-se para custos tão altos em moeda estrangeira, temem o intervencionismo governamental - este é muito evidente -, preocupam-se com a falta de infraestrutura, educação e tecnologia, dentre muitos aspectos. Além é claro, da ausência de reformas estruturais e estruturantes nas áreas tributária, trabalhista, previdenciária e de regulamentação de serviços públicos. Descompasso político e econômico III Voltemos à pergunta inicial sobre a estabilidade política e a situação de desemprego, o que se pode dizer com relativa segurança é que as "luzes amarelas" estão acesas na relação entre o governo e os agentes econômicos. Podem não ser ainda muito visíveis na mídia, mas são muito intensos nos bastidores. Do lado do governo, o que nos parece é que esta percepção já foi acolhida no centro do poder. Porém, o que colhemos em nossos contatos é que há certa desorganização estratégica no governo e pouca pressa para mudar os rumos do país. Isto apesar da solidez da base política e da apetência dos agentes políticos pela manutenção do poder. Ainda não se vê sinais de que há mudanças substantivas à vista, mesmo que estas sejam necessárias à satisfação de certas vontades pantagruélicas pelo poder político. Apesar de tudo não seria surpresa se 2013 fosse um ano mais tenso neste sentido que este ano recheado de decepções com a atividade econômica e apesar da "surpreendente" estabilidade política. Dilemas econômicos O "Estadão" está fazendo uma série de entrevistas com ex-presidentes do BC. Já conversou com Armínio Fraga, Affonso Celso Pastore, Carlos Langoni e Gustavo Franco. Embora com alguns pontos de vista diferentes e guardadas as posições da cada um em matéria econômica, há elogios, em tons diversos à condução da política econômica, mas todos apontam que o BC de Dilma caminha para um dilema : para manter os juros como estão em termos reais (1,5% a 1,7%) e não deixar a inflação desgarrar perigosamente, ele terá de liberar o câmbio, acabando com essa situação de um câmbio "flutuante quase fixo". O IPCA-15, uma espécie de prévia da inflação do mês de outubro, deu sinais claros de que os preços andam inquietos - e não apenas os agrícolas. Dilemas políticos Segurar o ambiente econômico em boas condições como agora, é essencial para os planos reeleitorais de Dilma. Seu agudo envolvimento na campanha no segundo turno não deixa ninguém mentir a respeito dos desejos menos secretos dela de ficar no Palácio do Planalto até 2018. Faz na campanha favores a Lula e ao PT e aliados, mas faz mesmo um serviço para ela : compartilhar com eles as vitórias e não ser apontada como culpada de algumas derrotas por omissão. Imagine-se que Fernando Haddad, como recentes pesquisas apontam com bem provável, vença a eleição em SP, sem que ela tivesse dado as caras por aqui ? Seria apenas uma vitória de Lula. Imagine-se - também com grandes probabilidades segundo os institutos de pesquisa - que Nelson Pelegrino, em Salvador, e Vanessa Graziottin, em Manaus, sejam derrotados por detestados oposicionistas, sem que Dilma desse as caras para tentar ajudá-los. A derrota também seria dela. A presidente está aproveitando as eleições para se ligar mais organicamente ao PT e aos partidos aliados, os quais ela sempre tratou com uma certa distância. Há indicações de que fará o mesmo com o mundo sindical. Embora nesse campo, ela possa enfrentar algumas dificuldades em função de sua agenda trabalhista - regulamentação do direito de greve dos servidores públicos, tornar mais flexível as negociações salariais... Dilma tem todos esses grupos gravitando em torno dela - afinal, ela tem a caneta, o "Diário Oficial" e muita popularidade. Mas o apoio popular já se sabe como é volátil : depende da satisfação do eleitor com suas condições de vida. Muitos candidatos situacionistas sentiram essa verdade mais uma vez na pele agora nas urnas municipais. Para preservar esse patrimônio e não ser trocada pelos aliados, terá de operar a economia com grande perícia. A hora e a vez do ministério Auxiliares da presidente têm dito que não é intenção dela fazer uma reforma ministerial mais ampla, nem agora nem no início de 2013. Se acontecer, seriam mudanças pontuais, levadas por circunstâncias específicas. Uma informação que não bate com a realidade e visa livrar a presidente da fila de candidatos e de partidos com pretensões de vagas que já se formam nos bastidores. É inevitável que ela faça a reforma, como já dissemos para se livrar de alguns auxiliares com desempenho insatisfatório, para compensar os "bons parceiros" (caso PMDB, PSD de Kassab) e punir maus companheiros (como o PRB e, dependendo do andar da carruagem do segundo turno e seus desdobramentos, até o PSB e o governador Eduardo Campos). Um manobra que está sendo bem articulada (não se sabe se ainda com o aval da presidente e que depende do sucesso de Gustavo Fruet) em Curitiba é a que levaria Aloizio Mercadante do Ministério da Educação para a muito mais poderosa e influente Casa Civil, alojaria o peemedebista Gabriel Chalita no Ministério da Educação e jogaria a ministra Gleisi Hoffmann de volta ao Senado, para que ela tenha tempo de preparar sua candidatura do governo do PR. Especula-se também que o Ministério dos Transportes, o Ministério das Cidades e até o pouco cobiçado Ministério da Pesca poderão ter outros titulares. Em outros tempos, quando ainda posava de avessa a esse tipo de política menor, Dilma recusaria tais movimentos. Agora, não se sabe. Entre o dizer e o fazer Com grande entusiasmo - nem tão grande assim do BC - o governo está apostando finalmente no aumento dos investimentos públicos e privados para sustentar o crescimento da economia nacional sem sustos e solavancos. O mundo real, porém, parece que pode ter ainda muitas contrariedades para a realização de tais propósitos. Por exemplo : a MP 579 do setor elétrico ameaça dar alguma pane se não for operada bem no Congresso. E já ajudou a aumentar a desconfiança dos investidores externos no chamado "excesso de ativismo governamental". A questão dos aeroportos, mais urgente do que se imagina, depois da confusão em Viracopos no último feriado, está com jeito de emperrar. A primeira proposta para as novas concessões, com a participação majoritária da Infraero, foi rechaçada externamente. A nova, com a Infraero minoritária, mas com a obrigação da participação dos fundos de pensão, já recebeu alguns narizes torcidos também - pois os grandes fundos são controlados diretamente pelo governo. O anúncio do novo modelo virá após o segundo turno, para não desgostar a ala do PT que continua criminalizando as privatizações. Dos portos, ainda não se tem notícias do modelo. E nas estradas há uma questão chave, ainda na resolvida : a taxa de retorno para os novos negócios. Ou seja, em boa tradução : nada sairá ainda este ano. As novas concessões na área de petróleo estão amarradas à delicada aprovação no Congresso da lei dos royalties. Se não sair este ano, pode atrasar os leilões, previstos para maio (áreas antigas) e novembro (áreas do pré-sal). Para completar, os investimentos de responsabilidade do governo, estão, como sempre, no velho ritmo da inapetência oficial : segundo um levantamento do site "Contas Abertas", 651 ações do PAC são tocadas pela União e empresas estatais em 2012. Somadas chegam à cifra de R$ 116 bi, dos quais, passados nove meses do ano, apenas R$ 63,3 bi foram efetivamente pagos (54,6%). (...) a União e as empresas estatais deixaram 310 ações do PAC paradas este ano. As iniciativas somam R$ 15 bi que ainda não saíram dos cofres públicos. Na maioria das rubricas sequer foram realizados empenhos, a primeira fase da execução orçamentária. Apenas R$ 5,3 bi foram reservados em orçamento. O governo necessita, urgentemente, botar em sintonia o seu "dizer" com o seu "fazer". Esperando a oposição As notas acima valem para reflexão sobre o governo atual, mas vale igualmente para a oposição. Esta está curta de ideias, marcada pelo mesmo mal do "caciquismo" oficial, pela voracidade eleitoral e fragilidade na execução dos planos de governos. Aécio Neves, figura de proa da atividade dita de "oposicionista", carece de planos consistentes que possam identificá-lo com a população. A cristalização das estruturas de poder é um fenômeno que pode ser facilmente atribuído à palidez da oposição. Um país tão desigual quanto o Brasil necessita de uma dinâmica política compatível com as ansiedades econômicas e sociais. Não é o que se vê da oposição. Está dominada não pelo governo, mas pela sua própria fragilidade. Uma explicação de "mercado" Um investidor muito bem inteirado das coisas responde à coluna o porquê do mercado acionário brasileiro estar estagnado : "Basta olhar os principais setores do mercado. Petróleo, gás, energia elétrica, mineração, telecomunicações. Em todos eles a intervenção estatal é muito superior à necessária e a obstrução de investimentos é evidente em função dos delírios regulatórios do governo. O investidor sabe disso. Não compra e só não vende porque o mundo vai muito mal". Mensalão : ato final ? Por esta semana teremos o fim do maior julgamento penal da história brasileira. A maioria será condenada e outros tantos devem ir para detrás das grades. Todavia, a pergunta que ocorre é : será que depois das eleições municipais os réus deixarão de ser mudos ? De fato, o STF faz história em um ato mesclado de aspectos jurídicos e, ao mesmo tempo, políticos. Todavia, o script parece incompleto. Os réus são seres de alta atividade política e parte integrante do atual núcleo do ex-presidente Lula, queira este ou não. É difícil acreditar que os réus políticos capitularão às sentenças e penas sem manifestações políticas expressivas. O final do período eleitoral indica que o tempo disto ocorrer está chegando. E duas instituições que se cuidem : o STF e a imprensa. Uma dúvida Como se comportará a presidente Dilma Rousseff na posse do ministro Joaquim Barbosa na presidência do STF no dia 22/11 ? Barbosa hoje é figura detestada no mundo petista, que tem cobrado fidelidades à presidente. Para informação : Dilma não compareceu em SP ao Congresso da Sociedade Interamericana de Imprensa, evento que movimentou durante quatro dias jornalistas e jornais de nível das três Américas. Radar NA REAL 19/10/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3035 baixa/estável baixa - REAL 2,0277 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.922,04 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.433,19 estável/alta alta - NASDAQ 3.005,62 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 16 de outubro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 219

O estado da economia I Abaixo seguem notas sobre aspectos pontuais relacionados à economia no período pós-eleitoral. São aspectos importantes que devem ser observados pelos leitores. Todavia, não podemos deixar de lembrar o "pano de fundo" da economia brasileira no momento. Em primeiro lugar, a atividade econômica encontra-se estagnada com o PIB crescendo muito aquém de seu potencial. Muito embora se possa atribuir ao cenário externo este fraco desempenho, aumentam as suspeitas de que este se deve essencialmente ao conhecido problema estrutural da baixa poupança do setor estatal e de sua baixa produtividade. Além disso, o histórico descaso com a educação e a tecnologia começa a distanciar o país dos BRICs e, até mesmo, dos países latino-americanos (o Brasil, segundo dados da CEPAL, é dos que menos crescem na região e é o que menos cresce dentre os emergentes). Os investimentos públicos são tocados com notória letargia e duvidosa competência. As parcerias entre o setor privado e público carecem de segurança jurídica e eficiência entre riscos e expectativas de retorno. As exportações carecem de valor agregado - somos um país de exportações de produtos primários - e a taxa de câmbio não é competitiva. O estado da economia II Do ponto de vista da inflação, os resultados passados mostram uma inflação acumulada substantiva e uma inflação futura nada promissora, acima da meta projetada pelo próprio BC. Os resultados fiscais são os dados mais positivos, mas o governo ainda não sabe tirar vantagem deste equilíbrio, sobretudo pelo excessivo uso de gastos correntes em detrimento dos investimentos. A relação dívida/PIB é segura, mas não justifica excessos. O paradoxo destas constatações é que vige na economia brasileira o pleno emprego. É o que mantém a sustentação política do governo e evita uma deterioração maior das expectativas. As recentes desonerações das folhas de pagamentos de alguns setores foram boas notícias neste sentido. Todavia, reina no país uma perigosa acomodação das forças políticas em torno do atual status quo político, sem que existam transformações permanentes. Prevalece a velha cultura do "jeitinho", do "deixa prá lá", que compromete o futuro e alija as gerações. As potencialidades do Brasil são reconhecidas mundo afora, mas ainda não emergiram dentro do país, das elites e do próprio governo. Vejamos alguns dados e fatos conjunturais que elucidam esta realidade estrutural. A economia pós-eleição I O governo deixou alguns "pepinos", como diria o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves, na área econômica para não perturbar a paz eleitoral dos candidatos aliados. Vai esperar mais uns dias, mais precisamente até o dia 29, pois ainda tem embates perigosos para seus planos, para começar a degluti-los. Pode ser que a sociedade tenha alguma indigestão. As cobranças já começaram. A presidente da Petrobras, Graça Foster, que logo após sua posse endossou a defesa que seu antecessor fazia de um reajuste para o preço dos combustíveis e havia emudecido suas reivindicações no calor das urnas, voltou à carga. Graça avisou que cortará alguns projetos de investimentos da empresa se não tiver como melhorar seu caixa. Mesmo sendo amiga de Dilma, a orelha de Graça está ardendo em Brasília. De um lado, a turma do Ministério da Fazenda não quer nem ouvir falar nesse assunto enquanto a inflação estiver dando alguns solavancos. De outro, parar com os investimentos é tudo que Dilma não quer ver agora, ainda mais vindo de uma empresa do governo. De quebra, põe em alerta queridos aliados do governo, como o senador José Sarney, os irmãos Cid e Ciro Gomes e o governador Sérgio Cabral. Os primeiros cortes pegariam certamente as refinarias do MA e do CE e o pólo do RJ, todos colocados uma vez "sob observação" pela presidente da Petrobras. A economia pós-eleição II Na mira também está o anúncio de que a meta de superávit primário de R$ 139,8 bi deste ano não será alcançada e que o governo adotará a prerrogativa da lei de diretrizes orçamentárias para abater do total os investimentos do PAC. Aguarda-se apenas a hora mais propícia para o anúncio, para não causar muito tumulto entre os agentes econômicos e minimizar as críticas que certamente virão. Quem conhece a dinâmica de comunicações oficiais, tem duas datas na cabeça - as vésperas dos feriadões de Finados (2 de novembro) e da República (15 de novembro) quando os brasileiros costumam relaxar um pouco. Quanto à mudança em si, muitos analistas acham que o Brasil não precisa mais de fazer um "primário" do tamanho que está fazendo. O problema, dizem, é que as medidas são adotadas "envergonhadamente", como alguém que não tem certeza absoluta do que está fazendo ou então está praticando alguma "arte". Também justifica se o gasto for para investimentos, não para pagar a conta da padaria. Até agora as despesas oficiais com custeio cresceram mais que as de investimento. A economia pós-eleição III Há outras batalhas no Congresso. Deixe-se de lado o Orçamento, cuja aprovação se faz a "toque de caixa" e depois é corrigido ao longo do ano com reprogramações orçamentárias e contingenciamentos. Todavia, não se pode esquecer a MP 579 com mudanças no setor elétrico e mais de 500 emendas que simbolizam as resistências de alguns governos estaduais e, por baixo do pano, de parte da burocracia elétrica estatal. Além disso, há a lei dos royalties do petróleo, que precisa sair logo do papel para não atrasar os leilões de novos poços prometidos para maio e novembro. Não é de responsabilidade direta do governo, mas ele precisará se meter no assunto, apesar de o STF ter dado para o Congresso o poder de mudar as regras de distribuição de recursos do Fundo de Participação dos Estados, um bolo de R$ 55 bi. O Congresso teve dois anos para preparar as novas regras - e pouco fez até agora. Nem um projeto acabado existe. O prazo dado pelo Supremo termina no dia 31/12. Intervencionismo estatal A expressão acima já faz parte das conversas dos grandes empresários e é talvez a melhor explicação para a cautela com que eles estão programando seus investimentos. O ativismo do governo Dilma, cujo último exemplo apontado por eles foi a forma como se está impondo as mudanças no setor elétrico, preocupa - e muito. Mas ninguém aqui dentro por razões que a própria razão conhece de sobra, solta a voz para criticar abertamente as ações presidenciais de intervenção quase sempre indireta, disfarçada, na atividade econômica privada. Mas o que aqui são apenas sussurros, já virou burburinho em outras plagas. É o que verbalizou em entrevista a Patrícia Campos Mello, da "Folha de S.Paulo", Mark Mobius, presidente do fundo Templeton, que tem investimentos de US$ 5 bi no Brasil : "É extremamente preocupante a maneira como o governo vem intervindo em empresas de capital aberto como a Vale e a Petrobras. Elas estão sendo usadas cada vez mais para prestar serviços públicos, o que não é a função delas e prejudica a boa governança corporativa dessas companhias. A intervenção do governo nos bancos também é muito preocupante - o governo pressionar as instituições financeiras para que reduzam os juros cobrados de clientes é uma atitude que vai contra as leis do livre mercado. Há maneiras mais eficientes de fazer isso, aumentando a concorrência. Em parte, o governo fez isso com os bancos públicos, mas não é prudente forçar as instituições financeiras a fazer alguma coisa. Se essa tendência se mantiver, poderá acarretar grandes problemas à economia". Não é um bom conceito para quem está com um pacote de concessões na praça e precisa de atrair investidores quase desesperadamente. O governo pós-eleição e pós-mensalão Será inevitável, no médio prazo, depois do segundo turno - que coincidirá também com o fim do julgamento do mensalão e seu magote de condenações - que a presidente Dilma faça uma reavaliação das forças políticas estacionadas em seu governo. As vozes oficiais que não se identificam já dizem que a presidente não tem intenção de fazer uma reforma ministerial. É informação para o público externo. As mudanças já estão em gestação, para ocorrerem entre o ano novo e o carnaval, mais provavelmente logo depois das eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Elas virão para que Dilma se livre de alguns auxiliares de desempenho considerado insuficiente e para premiar algumas fidelidades e punir algumas infidelidades. O PMDB é quem mais ganhará força, pois leva o crédito do sacrifício que fez em BH e de não ter vacilado um minuto sequer para se colocar a serviço da candidatura de Fernando Haddad em SP. Se os sonhos insaciáveis dos peemedebistas se realizarem, como indica a nova "amizade política colorida" da presidente com o vice Michel Temer, o PMDB não só aumentará sua cota na Esplanada dos Ministérios, como ganhará postos com mais visibilidade eleitoral do que aqueles que agora o partido possui. A incógnita é o PSB do governador Eduardo Campos, uma das estrelas do primeiro turno das eleições. O "fator Campos" A aproximação de Dilma com o PMDB tem muito a ver com o crescimento eleitoral do PSB e a desenvoltura política que o governador Eduardo Campos está exibindo depois que deu uma sova no PT no Recife e, em companhia de Aécio Neves, não deu chances ao candidato de Dilma em BH, o ex-ministro Patrus Ananias, de chegar nem mesmo perto do segundo turno. Campos pode ser uma ameaça tanto para Dilma e seus planos, correndo em faixa própria ou aliado ao PSDB, bem como para o PMDB, tentando alijar os peemedebistas da condição de parceiro preferencial do PT. Por isso, se diz nos meios políticos que ele está sub judice. Seu comportamento no segundo turno e sua movimentação política serão atentamente medidos para ver se ele merece uma compensação pelo desempenho de seu partido ou se vai passar um período de seca. Já não há muito entusiasmo com os dois ministros que Campos mantém em Brasília : o da Integração Nacional e o dos Portos. Passar-lhes um bilhete azul não daria nenhuma dor na alma presidencial. O fator PT Com ou sem vitória de Fernando Haddad em SP - mais provável, segundo as pesquisas, que uma vitória de José Serra - o PT terá um tratamento preferencial na reorganização do governo. As dificuldades eleitorais em algumas praças aproximaram Dilma de seu partido. Há também a necessidade de ajudar a tapar as feridas deixadas pelas condenações do mensalão. Mas o PT que nascerá daí terá ainda a liderança incontestável de Lula, porém com enormes feições da presidente e seu estilo. Para um público específico Em desacordo com as disposições da presidente Dilma, que pediu a seus auxiliares que se abstivessem de comentar publicamente o julgamento do mensalão, o ministro Gilberto Carvalho, secretário geral da Presidência, com alguma cautela, é verdade, já falou duas vezes com a imprensa para lamentar a condenação dos petistas mais graduados pelo Supremo. Carvalho é de extrema confiança de Lula e também afinadíssimo com Dilma, além de figura com trânsito em todo o PT. Portanto, a pessoa mais indicada no governo para prestar solidariedade aos petistas. É a voz de Dilma para o assunto - ela não poderia deixar de dar um recado público aos companheiros, ainda que de forma indireta. O que eles farão ? Não se viu ainda nenhum sinal da oposição de que está se preparando para fazer um "exorcismo" pós-eleitoral para entrar no ano decisivo - para a sucessão presidencial - com uma "nova cara". Mesmo que venha a conquistar mais espaços com o segundo turno, ganhando, por exemplo, postos considerados "emblemáticos" com as prefeituras de SP (mais difícil) e de Manaus (mais provável) seu desempenho eleitoral foi frágil. Não foi trucidada como se previa, porém não foi nada brilhante. O que mostra que sua estratégia política até agora foi equivocada. Aécio Neves tem ensaiado uma linha diferente, com críticas mais objetivas a projetos do governo e com proposições em seus artigos semanais na Folha de S.Paulo. Será este o caminho ? O mensalão e duas dosimetrias : as penas e as palavras Chega a hora de se apurar a totalidade dos condenados pelos crimes contidos na AP 470 e começar a dosar a pena de cada um dos réus com base na sua participação nos referidos crimes, nos seus atenuantes e agravantes, nos seus antecedentes e assim por diante. Uma tarefa árdua para os juízes, um momento tenso para os réus, boa parte destes últimos com o destino marcado para o caminho das grades. Não fossem os réus, gente poderosa, branca, educada, com recursos, famosa, etc. pouco se comentaria. Assim como pouco se fala dos excessos das prisões do Brasil, de seus doentes e de muitos injustiçados. Obviamente, não se pode defender injustiça com outra injustiça. Todavia, como falar em injustiça quando os réus foram julgados pela Suprema Corte do país, cujos juízos em grande parte foram nomeados pelo presidente de honra do PT, o ex-presidente Lula, em cujo governo os desmandos do mensalão ocorreram ? Como falar em "tribunal de exceção" quando notáveis advogados se esmeraram na defesa dos notáveis réus ? Lembremos que dois ex-ministros da Justiça defenderam réus da famosa ação penal ! Diz José Dirceu : "O Estado de Direito Democrático e os princípios constitucionais não aceitam um juízo político e de exceção". Isso sim é um excesso. E não apenas de linguagem. Muito além da realidade mais objetiva. Fala-se até em recorrer aos tribunais internacionais de direitos humanos. Talvez seja mesmo o caso. Quem sabe assim, se possa saber se a dosimetria das palavras de certos réus está correta. Radar NA REAL 12/10/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2935 baixa/estável baixa - REAL 2,0389 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.986,51 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.428,59 estável/alta alta - NASDAQ 3.042,85 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 9 de outubro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 218

A eleição da desconfiança e da insatisfação A pulverização de votos entre diferentes partidos nas disputas nas capitais e nas grandes cidades, a enorme quantidade de segundos turnos nas capitais, as renovações elevadas nas Câmaras de vereadores em diversas cidades, são indicações reais de que o eleitor brasileiro cantou nas urnas de domingo toda sua desconfiança e insatisfação com o quadro atual da política brasileira. Sobrou um pouquinho para todo mundo - governistas e oposicionistas, à esquerda, à direita, ao centro e os "nem tanto". Em SP capital, especificamente, ainda houve um crescimento dos votos nulos e brancos, a maior percentagem desde 2000 na cidade. Entre mortos e feridos e alguns sucessos individuais, perderam todos. Parte do insucesso generalizado pode ser atribuído ao mensalão. Todavia, todos perderam um pouco com a exibição ao vivo e em cores de uma das maiores "ervas daninhas" da cultura política nacional, a corrupção. O eleitor está em busca não apenas do novo, do diferente, mas do confiável. Vai parar neste recado ou em 2014 tem mais ? Renovação A Câmara municipal de SP terá renovação de 40% no próximo ano - em 2008, a dança de cadeiras foi de apenas 29%. Em BH, o índice de novatos chegou a 59% contra 39% da eleição anterior. No mundo dos vereadores foi normal o rolar de cabeças, nos grandes, médios e pequenos municípios. Pulverização No primeiro turno sete partidos elegeram prefeitos nas capitais. Mais oito diferentes desses têm chances de emplacar candidatos no segundo turno. Se tal se verificar, 15 legendas poderão ter prefeitos de capitais, contra 10 em 2008. A mesma tendência está se observando nas cidades com mais de 200 mil eleitores. Há mais gente dividindo o bolo eleitoral no país. Divórcio à vista ? Os caminhos de Eduardo Campos e do PSB com os do PT (e naturalmente de Lula e Dilma) não vão continuar correndo no mesmo sentido por muito tempo. Os projetos políticos são distintos no longo prazo. O PT, a não ser no desespero, nunca abrirá mão de seu projeto de poder hegemônico, nem em 2014 e 2018, nem nunca. Campos tem seus próprios planos. As desavenças em BH, Recife e em alguns outros lugares, por ora, serão atenuadas. Num dado momento, o divórcio será inevitável. Provavelmente, antes de 2014. Caciques em baixa A família Sarney, aliada ao PT foi alijada do segundo turno em São Luís. Jader Barbalho viu seu sobrinho amargar um terceiro lugar em Belém. Renan Calheiros (como Fernando Collor) nem candidato teve em Maceió. Mesmo que Ronaldo Lessa não tivesse a candidatura cassada, não iria para o segundo turno. Bons sinais para o país, maus sinais para as oligarquias. Réquiem para o DEM A chamada "direita" no Brasil sempre teve marcas bastante negativas ao processo democrático. Em grande parte do século XX foi golpista e associada às oligarquias mais atrasadas do país. Ao final daquele século tentou se modernizar, mas foi engolida pelo discurso social democrata que, como no mundo afora, adernou o discurso na direção do centro. No caso brasileiro, o PSDB ficou mais à direita e o PT mais social democrata. Ambos com traços de modernidade e muitos de atraso. O Democratas não conseguiu progredir em nenhuma direção de forma consistente e vê o seu transcurso eleitoral mostrar que a hora é de formalizar o funeral ou seguir outro rumo. Apenas o oligárquico ACM Neto faz às vezes junto ao distinto eleitorado nas capitais. João Alves em Aracaju é nanico. Pois bem : a probabilidade maior é que o velho partido herdeiro da ditadura militar busque uma solução junto a outro partido, via fusão. O problema será o de sempre : como acomodar os caciques em prol de projetos. Sabe-se que os primeiros têm prevalecido. Mesmo que não seja nas urnas. Reaproximação Para seus planos futuros, a presidente Dilma terá de fazer movimentos de maior aproximação (ou reaproximação) com o PMDB e outros aliados eventuais como o PSD do prefeito Gilberto Kassab. Afinal, sua principal aposta nesta eleição era impor uma derrota conjunta em Aécio Neves e Eduardo Campos em BH. De fato, viu Campos, uma incógnita para 2014, sair fortalecido com a vitória no primeiro turno em Recife e um crescimento expressivo de sua base de prefeitos no país. Para o PMDB este retorno é bem vindo, pois o fantasma do PSB e do neto de Arrais há muito assombra o partido do vice-presidente Michel Temer. Como é bom de contas - e saiu das urnas ainda como o partido com maior número de prefeitos - o PMDB saberá cobrar sua parte nesse latifúndio governista Federal. Efeito Lula e mensalão Inegavelmente a ida de Fernando Haddad para a disputa do segundo turno da eleição paulistana foi uma vitória do ex-presidente Lula. Tirado do "bolso do colete" do líder petista, o ex-ministro conseguiu dois efeitos há muito desejados por Lula : (i) tornar a eleição paulistana um "divisor de águas" do predomínio tucano no maior estado da federação com o uso de um "novo nome" e (ii) "proteger" a presidente Dilma no futuro embate presidencial de 2014 da influência tucana paulista. Bem, ambos os objetivos não foram alcançados totalmente, pois, por óbvio que seja, necessitam da vitória final de Haddad. Sem ela, tudo permanecerá à espera de 2014. Todavia, uma coisa se tornou muito certa : o mensalão adquirirá um protagonismo que não teve totalmente no primeiro turno. O jogo será pesado e no exato momento em que José Genoíno e José Dirceu sobem no cadafalso e verão se o dedo do STF vira para cima ou para baixo. Em alto som o tucanato sairá do ninho e cantará : "dai a Lula o que é de Lula e a Haddad o que também é de Lula". O teste de Serra Serra deverá se preocupar menos com suas profundas olheiras e mensagens de 140 caracteres nas madrugadas daqui para frente. A questão segundo um tucano de alto coturno é outra : ele tem de ser capaz de ser um líder partidário e erguer o dedo na direção de Lula. Se ficar com um discurso meramente tecnocrático, vai perder. A questão, segundo este líder, é simples : Serra desuniu muito o tucanato e o elo de união é derrotar o "sapo barbudo", resgatando o passado anterior dos feitos do PSDB. Coisa que Serra sempre se recusou a fazer com todas as letras. Não à toa, o octogenário FHC em suas entrevistas só falou de "mensalão" e nada sobre calçadas ou transportes. Quis pautar Serra e o partido. Voltas às aulas Mesmo com todas as juras de todos os aliados de que os embates eleitorais entre eles não deixaram sequelas, a presidente Dilma terá de fazer um carinho geral para amaciar sua base aliada na volta aos trabalhos do Congresso, prometida para esta terça-feira. A agenda da Câmara e do Senado é ampla e com algumas bombas - mais ou menos inadiáveis e a ser consumida em pouco mais de 20 dias úteis (no apertado calendário legislativo nacional). Sem contar o Orçamento, que tem sido votado cada vez com mais descaso, mas que tem de ser acompanhado com lupa para que os deputados e senadores não extrapolem demais na conta da receita. Há pelo menos dois projetos com hora marcada para sair do forno : a MP do setor elétrico (ver nota abaixo) e as novas regras de distribuição dos royalties do petróleo, essencial para que o governo possa formatar os novos leilões de áreas de exploração, marcadas para maio e novembro. E ainda a regulamentação do direito de greve do funcionalismo público. Bomba elétrica I Em meio à repercussão negativa de dois "apaguinhos" de boas proporções na semana passada, um para uso exclusivo de Brasília, a capital que costuma ser imune a intempéries nacionais, entra o governo num sério embate legislativo para aprovar a MP 579 do setor elétrico. Haverá "queda de braço" com o setor privado para que as novas regras nelas impostas sejam aceitas pelas empresas atingidas inicialmente, pelo mercado de capitais e pelos investidores, principalmente o precioso dinheiro externo. No Congresso a liderança do governo terá de tourear mais de 400 emendas de parlamentares, em todas as direções e defendendo todo tipo de interesse. É o tipo do assunto que perpassa as forças partidárias, envolve aspirações regionais e, portanto, não poderá ser resolvido no Congresso simplesmente com uma ordem unida para a base aliada. Bomba elétrica II No mundo empresarial, embora no curto prazo o mercado tenha se acalmado, há inquietações na área de eletricidade, mas também fora dela. Há certo temor com o que está sendo chamado de "excesso de ativismo governamental". Para completar a confusão, as empresas atingidas diretamente não se manifestaram, porém estavam agindo a todo vapor nos bastidores. E o prazo para que elas digam se aceitam ou não termina dia 15, p.f.. Até o governo parece "piscar" no caso : não pode ter outro sentido a ameaça, nada velada, que o presidente da Aneel fez às empresas recalcitrantes em entrevista ao "Valor Econômico". Nelson Hubner avisou que quem não quiser o jogo agora, pode ficar fora do leilão de concessões se isto vier a ocorrer. Esta confusão toda, se não for bem gerida, pode prejudicar a mais que bem intencionada - necessária e urgente mesmo - redução das tarifas de energia elétrica que está embutida na MP 579. Mensalão em doses O empenho do STF no julgamento da AP 470 já fez despertar o temor de que a roda toda da Justiça vai girar na direção apontada pelos ministros do STF, em casos que envolvam também o setor público e o setor político. Nem tanto pelas sentenças que estão sendo distribuídas, mas pela simples disposição de julgar com mais celeridade tais processos. Entram nessa roda não só outros casos do "mundo político" como o chamado mensalão mineiro (ou do PSDB) e mensalão candango (ou do DEM), como também em histórias nas quais o público e o privado se encontram, como foi o caso da "Operação Castelo de Areia". Haja trabalho para a Justiça e, como disse a respeito do atual mensalão o ministro Marco Aurélio Mello, "haja coração". Melancólica CPI Passadas as eleições, haverá reunião da CPI do Cachoeira. Sabe o que deve ocorrer ? Provavelmente, nadinha. Não porque não existam fatos a serem investigados, mas exatamente o contrário. Estes são fartos e fariam os mais ingênuos ficarem muito mais ruborizados que no caso do mensalão. Com o agravante de que a coisa toda do Cachoeira é "multipartidária", para dizer uma palavra suave. O único movimento que pode alterar a melancolia desta CPI pode vir do réu. Como se sabe, ele está estressado da vida atrás das grades, vê seus recursos negados em função de certo "clamor popular" e, assim, pode buscar alternativas na sua videoteca, desconhecida do grande público. Note-se, adicionalmente, que a situação financeira de Cachoeira vem se deteriorando em função de sua ausência frente aos negócios. Um COPOM para se ver Nosso BC gosta de se autodenominar "operacionalmente independente". Ou seja, na ausência de amarras institucionais que o libertem do jugo da influência direta do Executivo e do Legislativo, diz-se que ele "opera" livremente. Tudo um jogo de palavras. Porém, não é um jogo inútil e sem efeitos. O BC vem agindo coordenadamente na direção de fazer um correto e histórico ajuste do juro básico nativo, bem como relaxou a política monetária em prol da fraqueza da demanda e na ausência de políticas vindas da Esplanada dos Ministérios e do Planalto que jogassem a taxa de investimento para cima. Tombini e seus companheiros de COPOM, nesta quarta-feira, mostrarão se o jogo deles em relação ao juro básico terá uma parada ou se prosseguirá na direção da baixa. O fato é que a demanda permanece ainda "insustentavelmente leve", apesar de melhora que houve, e a inflação não está no figurino que o próprio governo a ela atribui, ou seja, está fora da meta. Na próxima reunião do COPOM, o BC falará sobre tudo isso. É capaz de surpreender e jogar o juros mais para baixo. Câmbio, ainda um problema Mexer com câmbio é infernal. Pode explodir ou murchar. Pode-se agir num sentido e acabar indo em outro. O governo, como se sabe, pode controlar apenas a taxa nominal. A taxa real, por sua vez, depende da inflação do país e do exterior. Os fluxos cambiais, além de imprevisíveis, costumam ser voláteis. Se não existe modelo para prever o câmbio ou fazê-lo ser uma certa taxa, uma coisa é certa : sabe-se quando ele está errado. Basta ver se há debilidade nas contas de comércio, especialmente dos produtos industriais e medir os custos dos produtos non-tradeables, aqueles que não são passíveis de substituição por outros de fora. Numa nota, como esta, não nos cabe fazer enormes digressões acadêmicas sobre o tema, mas deixamos duas mensagens claras : (i) a indústria brasileira persiste sem competitividade internacional, o que aumenta o percentual das vendas externas sobre o PIB de forma consistente e (ii) os custos dos serviços no Brasil têm deixado os "gringos" de boca aberta. Acham caro. O câmbio persiste defasado para as ambições de o país ser de fato "emergente". Radar NA REAL 5/10/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2894 baixa/estável baixa - REAL 2,0255 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.433,63 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.440,67 estável/alta alta - NASDAQ 3.124,49 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 2 de outubro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 217

Eleições e oposicionismo A vida não está muito fácil para os "situacionistas" nesta sucessão municipal. De qualquer legenda, sem exceções. As eleições parecem marcadas por uma explosão de insatisfações mais ou menos generalizadas com os partidos no poder nas prefeituras. Os dados disponíveis nas capitais, por exemplo, indicam, claramente, que os candidatos que trazem alguma tinta de oposicionismo mais visível estão em vantagem na maioria das cidades. Um caso típico é o de Celso Russomano em SP. Outra indicação : o índice de reeleições, que vinha crescendo ano a ano e na última eleição chegou a passar dos 50%, deverá ser bem menor este ano. É fato que boa parte da decisão dos eleitores é tomada somente na reta final, quando algumas posições dos candidatos podem se inverter. Principalmente pela "força" inerente a quem detém o poder. Pode haver também interferências de fatos externos inesperados, como no caso da eleição de Luiza Erundina em SP, tida como impossível dez dias antes da abertura das urnas, e que virou depois da repercussão da morte de operários em confronto policial em Volta Redonda. É fato ainda que a influência de uma eleição municipal nas eleições para governador e presidente da República é limitada. Mas é bom que os candidatos de 2014 e seus partidos prestem um pouco mais de atenção nesse desapontamento que o eleitor está manifestando agora. A influência do mensalão Pesquisa do Datafolha indica que 81% dos eleitores não levam o mensalão em consideração na hora de votar. Isto indicaria a pouca influência do julgamento do STF na eleição municipal. O teste final desta constatação estatística será quando os principais acusados forem julgados a partir desta semana, especialmente no caso de José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares. Este trio reflete a essência da relação do poder central pós-eleitoral da era Lula com a classe política de então. Se a indiferença popular continuar grande em relação ao tema, o mais provável é que o eleitor vá à urna pensando apenas nos interesses de suas cidades. A variável mais interessante deste julgamento é que para Lula, padrinho de vários candidatos de grandes cidades brasileiras, o julgamento é muito sensível para os seus sentimentos de ex-presidente. Na medida em que ele "politiza" o discurso em relação aos veredictos dos juízes da Corte Suprema o eleitor pode começar a prestar atenção no mensalão na hora do voto. Paradoxalmente, o "fogo amigo" é o maior risco para os candidatos oficiais. Silêncio dos inocentes O atual silêncio dos advogados dos principais acusados da Ação Penal 470 tem razão de ser. Um observador das coisas da Suprema Corte e interlocutor frequente de dois ministros do STF confidenciou a esta coluna que os ministros reagiram mal ao barulho inicial dos advogados em relação aos temas do julgamento. Especialmente, com a hipótese levantada publicamente de se recorrer à Corte Interamericana de Justiça, caso os direitos de seus clientes não fossem preservados. Para este interlocutor um ministro disse que seria "estranho que se alegasse 'cerceamento de defesa' quando há réus defendidos por importantes advogados, sendo dois deles ex-ministros da Justiça". Aparentemente, o atual silêncio dos advogados deve permanecer após as sentenças finais. A maior reação deve ficar a cargo dos réus condenados. Com a participação de seus companheiros da política. 2012...2014 Não foi por "boniteza" ou para atender aos insistentes apelos dos aliados, especialmente do ex-presidente Lula e do PT, quase em desespero em alguns lugares como SP, que a presidente Dilma acabou se envolvendo na campanha eleitoral no primeiro turno com muito mais afinco do que deu sinais de que o faria. A ponto de subir no palanque em SP e terçar armas com a oposição em terreno não propriamente institucional. Foi por "precisão" mesmo. Dilma, que daquela principiante em micropolítica do início do governo não tem mais nada, percebeu que seus potenciais adversários em 2014 estavam à vontade para firmar suas posições. Aécio Neves, Eduardo Campos e até Marina Silva estão aproveitando a campanha para ampliar sua visibilidade, a ter contatos com eleitores em pontos chaves. Aécio e Marina peregrinam pelo Brasil de Norte a Sul, e Campos, mesmo com suas obrigações de governador, não perde oportunidade de fazer campanhas para aliados. Dilma precisava então confrontá-los, especialmente Aécio e Marina, que tem aproveitado a campanha para fazer duras críticas a seu governo. O eleitor está pensando somente nas prefeituras. Os figurões só pensam naquela coisa : em Brasília. O verdadeiro peso Veja-se o PMDB. Ele tem seus candidatos às prefeituras nas capitais e em grandes cidades, mas não demonstra a mesma ansiedade que seu rivais como o PT, o PSDB e o PSB para fazer muitos prefeitos nesta área. O negócio do PMDB é o micro, onde ele ainda é imbatível - deve sair das urnas de domingo ainda como o partido com maior número de prefeitos e de vereadores do país. É isto que interessa aos peemedebistas, para manter o seu poder no âmbito Federal. As eleições municipais são determinantes para as eleições para as casas legislativas - a Câmara, o Senado e as Assembleias Legislativas. Em grande parte, com raras exceções de figuras de porte nacional, quem faz o deputado é o prefeito e a máquina municipal - a formiguinha. E nisso o PMDB parece que vai continuar imbatível. Mitos da "nova" classe média Boa parte do mundo político passou a apostar na chamada "nova" classe média, os mais de 40 milhões de brasileiros que nos últimos dez anos, apontados pelas estatísticas do IBGE, saltaram das classes D e E para a classe C. É inegável que mudou o padrão de consumo dessas pessoas e, em consequência, sua qualidade de vida. Mas é inegável também que ainda não se chegou ao paraíso. A começar pelo fato de que uma renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019 por mês, renda esta que o mundo oficial define essa nova classe, não é nenhuma maravilha. É mínimo para a sobrevivência. Depois porque a evolução ainda está no meio do caminho, os padrões de vida mudaram muito pouco, além dos limites da sobrevivência e da aquisição de alguns bens. Levantamento feito pelo portal G1, ligado ao grupo Globo, indica, por exemplo, que pelo menos metade das famílias que moram em favelas e ocupações no Brasil é da nova classe média. Outro estudo aponta ainda que, embora tenha caído 5,5% entre 2009 e 2011, o número de miseráveis no Brasil ainda é de oito milhões de pessoas. Ou seja, há carências e aspirações elevadas ainda. O que pode explicar o clima de "oposicionismo" dessas eleições e a decepção de muitos candidatos e seus padrinhos com os votos da "nova" classe. Destampou-se o caldeirão, criaram-se mais expectativas sem condições de atender a tudo. Preparando o terreno Nem mesmo com aquilo que alguns críticos chamam de "contabilidade criativa" o setor público brasileiro como um todo deverá cumprir este ano a meta cheia de superávit primário de quase R$ 140 bi, correspondente a cerca de 3,1% do PIB. Até agosto os governos economizaram apenas R$ 74,2 bi. Como já era esperado por parte do analistas, está sendo preparado o terreno para anunciar a mudança da meta, com o abatimento de 0,5% desse valor em função de investimentos do PAC, conforme admitido na lei de Diretrizes Orçamentárias. O primeiro passo para essa revisão foi dado pelo BC, sempre tido como o mais exigente nesse item, num anexo ao último Boletim Trimestral de Inflação. Apresenta estudos mostrando que não é necessário um superávit primário da magnitude do atual para manter a diminuição da dívida pública como porcentagem do PIB. Esta também é a posição de um bom número de economistas, que concorda que um "primário" mais alto não é mais necessário, ainda mais depois da mudança do nível de juros. O problema seria de confiança, de controle das expectativas : não se faz essa coisa bem às claras, é sempre meio envergonhadamente, como se não fossem feitas com convicção, apenas na base da tentativa e erro. O mesmo se dá nos debates sobre alterações no tripé de política econômica (câmbio livre, metas de inflação e rigidez fiscal). Super Dilma Acumulam-se as queixas, obviamente no jargão do jornalismo de antanho, "à boca pequena" - ou mais modernamente, em "off" - de setores empresariais com o que chamam de "ativismo governamental", de excesso de "intervencionismo" presidencial. Na última lista de "reclamações" estão novamente os ataques aos juros e agora também às tarifas bancárias, o foco nos cartões de crédito e as mudanças planejadas para o setor elétrico. Mesmo quem aplaude e está sendo diretamente beneficiado, fica apreensivo. Vão ter muitas razões para isto. O governo não vai parar por aí. Tudo que tem relação com o público, está sob o escrutínio do governo. Dilma aprendeu com Lula que é preciso ter certo pragmatismo quando se está no governo, mas em todas as suas ações ele põe também, um viés ideológico, de suas convicções mais profundas. Goste-se ou não, é com isto que os agentes econômicos terão de conviver. Simplesmente foi-se do tempo da "metamorfose ambulante". Super Mantega O ministro Guido Mantega está prevendo que a economia brasileira pode estar crescendo lá para o fim de 2013 ao ritmo de 4,5% a 5% ao ano. O BC é mais modesto, prevê 3,3% entre julho deste ano e junho do ano que vem. Relembrando outras previsões de Mantega, como a do início de 2012 de que o PIB arrancaria 4,5% de elevação, e diante do realismo do BC, que jogou suas expectativas para apenas 1,6% neste ano da graça, o jornalista Sandro Vaia comentou em nota no twitter : "Está na margem de erro". (Assim como nas pesquisas eleitorais, que costumam admitir desvios em suas previsões de até 3% para cima ou para baixo.) A promessa de Ben Bernanke "Mesmo que a economia dos EUA comece a crescer a taxas maiores, os juros permanecerão baixos até meados de 2015". Com esta frase, o presidente do Fed está tentando evitar especulações em relação à taxa de juros básica dos EUA. A boa notícia por detrás desta frase solta é que há uma consistente reunião de dados macroeconômicos que mostram que a maior economia mundial está se recuperando mesmo. Os sinais são de todos os lados, o que mostra que a demanda agregada como um todo está se movendo para cima. Isso é um cenário promissor, mas ainda muito incipiente para que existam especulações a respeito das taxas de juros e inflação - afinal de contas o problema nos EUA é a deflação. Do lado negativo, há a inundação de dólares norte-americanos que deprimem as moedas a eles alinhadas. É o caso de real. Enquanto a Europa se debate sobre a consistência das políticas de expansão monetária, os EUA mostram que há resultados visíveis e positivos em relação a esta. Obama cada vez mais firme. Nas eleições. O debate entre os candidatos republicano (Mitt Romney) e democrata (Barack Obama) programado para a próxima quarta-feira deve mostrar que ambos não devem abandonar a retórica meramente de palavras. Ideias diversas sabe-se que existem. Visões sobre a economia também. Política internacional, a mesma coisa. Todavia, nestes temas, tanto Obama como Romney não tem passado da linha de oportunismo e obviedades. Neste campo, Barack Obama parece jogar bem melhor, pois o republicano tem uma afeição especial pela bobagem. Já falou de um ataque ao Irã, sem que soubesse avaliar as suas consequências; já acusou a parcela mais pobre da população de viver de "esmola do governo"; já acusou a política de tributação nos EUA de ser dura demais, mas o dinheirão do republicano fica estacionado nas Bahamas. Com tanta bobagem, até mesmo os conservadores norte-americanos estão abandonando o barco de Romney (barco não, iate). Alguns conservadores até preferem o neoconservador Obama. Radar NA REAL 28/9/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2894 baixa/estável baixa - REAL 2,0255 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.433,63 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.440,67 estável/alta alta - NASDAQ 3.124,49 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 25 de setembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 216

Nas mãos dela O governo, entre seus afazeres executivos, também é dado a preocupações - digamos assim - semânticas. Foi assim que Dilma decidiu-se intitular presidenta, no que os bons gramáticos apontam como um erro crasso de língua pátria. Assim também, com o sempre incomodado com neologismos e estrangeiros no Brasil, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, decidiu que os documentos brasileiros grafarão o evento esportivo escorreitamente como paraolimpíada e não como pretendem as autoridades esportivas internacional paralimpíada. Paralimpíada, diria um mais desaforado, é a genitora. Tal preâmbulo se justifica por nossa dúvida em saber como a presidente gostaria de ver grafada a nova realidade da política nacional no campo dos aliados : se dilmodependência ou dilmadepêndencia. Uma ou outra expressão marca a extraordinária guinada nas relações da presidente com seu criador político, seu partido e os partidos aliados. De uma situação de dependência dessas forças - a muito cantada lulodependência - ela passou a ser credora. No quadro atual, para as forças governistas, especialmente o PT e Lula, é Dilma ou Dilma. Esta situação vai se refletir não somente na recomposição do território governista no pós-eleição e no pós-mensalão, bem como na formação da equipe que seguirá a presidente Dilma nos seus dois últimos anos deste mandato. Por que ? Três razões explicam a consolidação da liderança da presidente Dilma, sem contrastes : (1) os elevados índices de audiência que seu governo mantém; (2) as dificuldades eleitorais que o PT está enfrentando nas capitais e em algumas cidades grandes e médias, o que fez o partido lançar seguidos sinais de SOS para ela; (3) as trombadas que o PT está recebendo do julgamento do mensalão no STF, o que está deixando o partido desnorteado. Dilma só perde alguns pontos porque se envolveu nesses dois casos mais que esperava, para amainar as angústias de Lula e amigos. A corrida começou Antes do que se imaginava, ainda no primeiro turno das eleições, já começaram as especulações e os balões de ensaio a respeito das mudanças ministeriais que a presidente fará no início do ano, provavelmente logo após a eleição para as presidências da Câmara e do Senado e antes do Carnaval. Na semana passada, o tema mais constante foi uma possível transferência de Aloizio Mercadante do ministério da Educação para a Casa Civil e a volta de Gleisi Hoffmann para o Senado, para cuidar da candidatura ao governo do PR em 2014. A manobra abriria espaço para Gabriel Chalita cuidar das questões educacionais, compensação pelos serviços que ainda vai prestar a Fernando Haddad em SP. Um conhecedor dos humores da presidente ao ouvir tudo isso, ironizou : "Só falta combinar com ela". Todavia, é bom lembrar : o mesmo se dizia de Marta Suplicy no ministério... Na mesma linha, o prefeito Gilberto Kassab já vestiu o fraque de ministro, para ele ou para alguém do seu PSD, e o PMDB mineiro já mandou fazer o terno para reassumir o cobiçado ministério dos Transportes. Por fim, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, levanta peso e halteres para não ser remetido de volta ao Senado. Ao mesmo tempo, arrefeceram os boatos do ofidiário diplomático sobre um possível bilhete azul para o ministro Antonio Patriota. Mais dividido ainda A menos de dez dias das eleições, as pesquisas disponíveis no país começam a dar sinais de que os maiores partidos nacionais, especialmente o PT e o PSDB, começam a recuperar algumas posições. No entanto, o clima geral indica que o quadro partidário sairá mais atomizado ainda no âmbito municipal do que já é. Mais partidos fora do circuito PT/PSDB/PMDB elegerão mais prefeitos. O que leva a supor que o Congresso Nacional (e as Assembleias Legislativas) a ser eleito em 2014 estará ainda mais dividido do que este. Ou seja : mais dificuldades para o presidente eleito em 2014 administrar suas relações políticas. Simples assim Já passam de uma dezena as explicações para o chamado "fenômeno Russomano" em SP, até que provem o contrário, a maior surpresa desta temporada de eleições municipais. Enquanto não se desvenda o "mistério", a melhor lição está numa definição de um velho e experiente político. Perguntado por que havia perdido as eleições, ele foi simples assim : "Porque mais eleitores votaram no meu adversário do que em mim". Uma vitória e uma derrota, numa cidade com população complexa como a de SP, com suas inúmeras carências, não têm uma única, nem mesmo apenas duas ou três explicações. É a soma de um conjunto de variáveis. Do cansaço com os donos do poder - municipal, estadual e Federal - aos surtos de populismo que de vez em quando assolam o país, passando por discursos velhos travestido de novo ou de vozes da experiência. Com diria Nelson Rodrigues, o eleitor (e os analistas) podem não saber as razões do sufoco pelo qual estão passando, mas José Serra, Fernando Haddad e seus partidos sabem muito bem porque estão apanhando. Quanta tristeza José Serra e Fernando Haddad só não serão ao mesmo tempo escorraçados de um segundo turno nas eleições na capital paulista porque seus partidos, por inércia, ainda tem adeptos em bom número no eleitorado e porque os outros concorrentes não têm cacoetes para ocupar uma prefeitura de SP. Se dependessem da campanha que estão fazendo, de seus programas no rádio e na televisão, já estavam fora da disputa desde já. Nunca se viu tanto dinheiro desperdiçado em marketing e em propaganda. Alemanha agora pressiona a Espanha Mariano Rajoy, primeiro-ministro da Espanha, alcançou o poder em novembro do ano passado por meio de um discurso conservador recheado de fórmulas para resgatar o país ibérico da barafunda em que se encontrava. Sua eleição foi saudada como uma espécie de contrapeso à revolta social dos gregos, povo sabidamente afeito à crítica e à luta. A primeira-ministra alemã sempre quis estrelar o cenário dos conservadores europeus, guiando-se por um comportamento calculado e aparentemente austero na tentativa de lembrar Margaret Thatcher. Dentro deste figurino a alemã, saudou a eleição de Rajoy como positiva para a solução da crise europeia. Pois bem : passados alguns meses, a irritadiça Angela Merkel já demonstra infelicidade em relação ao colega espanhol. Acusa-o de "prevaricar", adotando sempre medidas parciais e sem efetividade. Sobretudo no que tange ao resgate dos bancos (que necessita de pelo menos US$ 130 bi) e a necessidade de "equilibrar o orçamento". A irritação de Merkel é compreensível : a germânica não tem quase 30% da mão de obra ativa desempregada na porta de seu gabinete. Quando isso ocorreu na Alemanha, o novo eleito foi, nada mais nada menos, que Adolf Hitler. China : medidas de estímulo e pessimismo em alta A pesquisa do chamado "livro bege" chinês, documento vital sobre o "estado da economia", entrevistou entre o início de agosto e início de setembro cerca de 2.000 executivos daquele país. A conclusão do estudo foi que estes executivos esperam o ano mais fraco em 22 anos, desde a chamada era Deng Xiaoping, ideólogo da abertura econômica chinesa. Os fatores críticos desta conclusão são conhecidos : (i) crise europeia profunda e (ii) baixa vitalidade da economia norte-americana. O governo comunista de Pequim já lançou um programa de estímulo à economia doméstica, algo como US$ 150 bi a serem gastos em setores absorvedores de mão de obra, como é o caso da construção civil. De toda a forma, o crescimento do PIB do país este ano será de algo como 7,5%, um invejável patamar quando comparado à tragédia europeia e ao atoleiro americano. O mais importante para o Brasil é o risco de que permaneça altamente dependente no campo externo da China no momento exato em que esta mostra sinais de vitalidade em declínio. BRICs : faz sentido ? Que vivemos um mundo mediático não resta dúvida. Ideias e o desenvolvimento destas se fazem à luz de uma nova restrição ao pensamento : a modelação intelectual que seja capaz de rotular e nem sempre explicar muito. O estudo da economia e das relações entre os países não escapa a esta sina. Na década de 70, o Brasil era vislumbrado juntamente com a Coréia do Sul e o Japão, as novas forças motrizes da economia mundial. Os países asiáticos seguiram em frente e investiram em educação e tecnologia de forma a sair altamente competitivos para competir fora de suas fronteiras. O tal do "planejamento industrial" foi usado largamente para proteger as economias locais e alavancar o desenvolvimento social. O Brasil ficou ao largo envolto em uma mistura potente de inflação e endividamento. Agora, sob a cunha de BRICs, o Brasil se coloca juntamente com a Rússia, Índia, China e África do Sul. A sigla ficou sonora, mas os resultados da política diplomática e comercial deste grupo de país é pífia. A Rússia joga um jogo estratégico próprio, a Índia emerge de interesses essencialmente domésticos, a China tem objetivos claramente imperiais na África e (em menor medida na América Latina) e a África do Sul é pequena demais para tourear as políticas de seus, digamos, "colegas". O Brasil tem pouco a ganhar numa estratégia conjunta com estes países, mas ainda há quem leve a sério analisar profundamente o tema. Ruídos entre BC e Fazenda, ou vice e versa I Após um período de calmaria, quando pareciam jogar "por música" - sob a batuta da presidente Dilma, bem mais ligada nas minudências da política econômica que seu antecessor - o ministério da Fazenda e o BC voltaram a se estranhar. Não foi do gosto da turma do BC a série de declarações do ministro Guido Mantega e, com menos insistência, do secretário Executivo Nelson Barbosa de que o BC não precisará elevar os juros no Brasil ano que vem. Parte dos agentes do mercado acha que pode ser necessário, porque a inflação ainda não está nos eixos, caminhando para o centro da meta. O clima chegou a ficar pesado na semana passada, depois que Mantega disse, na Europa, que ainda há espaço para os juros no Brasil caírem mais ainda. Mantega espargia seu otimismo em nível planetário, na "Europa, Franca e Bahia". Amuo do BC forçou imediatamente o ministério da Fazenda a soltar uma nota em Brasília explicando que o ministro se referia não à taxa Selic e sim aos juros dos empréstimos e financiamentos, os chamados spreads. Ruídos entre BC e Fazenda, ou vice e versa II O resultado é que os analistas consultados pelo BC para o Boletim Focus aumentaram nessa segunda-feira não somente a previsão para a inflação deste ano como também para os juros. Um dado intrigante dessa nova rodada de divergências entre a Fazenda e o BC é que, nas outras ocasiões em que elas surgiram, a presidente Dilma discretamente pediu aos fazendários para não fazerem comentários sobre juros - e também a respeito de câmbio - de público. Agora, ela ainda não disse nada. Com isso, o BC, terá de redobrar suas falas. O governo vive um momento bom demais para ter esse tipo de escorregão. Em tempo : sai esta semana o Boletim Trimestral de Inflação do BC. Vai dar para ver até que ponto a Fazenda e BC pensam da mesma maneira. Mensalão : Barbosa e Dilma O ministro Joaquim Barbosa pode até ter um tom mais aguçado na leitura de seus votos e certo peso na pena na hora de sentenciar. Todavia, a motivação de seus votos é exemplar, calcada nos autos e no famoso (e pouco praticado) silogismo aristotélico. Sempre podem caber reflexões jurídicas na boa prática forense, sobretudo em temas complexos. Citar a doutrina e repisar a jurisprudência nada mais são do que explorar os percursos das fontes de Direito. Barbosa, nesta labuta do chamado mensalão, tem sido mais direto com construções diretas sobre um montante considerável de provas. A citação do depoimento da ex-ministra das Minas e Energia e atual presidente da República no voto de Barbosa foi extraída dos autos e nada conspira para a distorção da forma e congruência do voto do ministro. A nota da presidente após o voto, esse sim, destoa da boa prática republicana da separação dos poderes. De Locke a Montesquieu. De Paris a Washington. Uma conclusão pode ser extraída : Dilma tem um estilo chamado "direto". No caso, direto para o público interno do PT e seu ex-chefe quando era uma comportada ministra. Mensalão : a hora dos políticos Doutrinadores repisam em volumosos livros que a verdade dos autos é aquela possível e não a real. Isso porque quase sempre não é possível enquadrar todos os fatos de um crime no necessário e garantista meio formal de se alcançar a Justiça, o processo. Dos autos do mensalão o que se vê não são volumosas "verdades", mas conceitualmente apenas uma : existia um vasto esquema financeiro com financiadores de um lado e financiados de outro. A causa e o efeito também são evidentes : imensos e atuantes bolsos políticos foram recheados com dinheiro "sujo". O objetivo deste esquema foi qual mesmo ? Diz o MP que para fundear outro esquema, o político. Ora, provou-se que o financiamento existia e era imoral e ilegal. Agora, examina-se se o esquema político existia e como funcionava. Daí, basta colocar a espada da Justiça sob os agentes do esquema criminoso. Ao que tudo indica isso acaba por acontecer e, provavelmente, sobre boa parcela dos "líderes políticos" dos partidos aliados do primeiro mandato do presidente Lula. Com a possibilidade concreta de que os culpados sejam levados para detrás das grades, uma consequência que se vê diariamente nos fóruns do país, sobretudo no caso de acusados pobres. Do lado político, conforma-se um discurso de que há uma "conspiração" em torno do julgamento e para além dos autos. Lula e o PT neste último item é que tem de provar se isso é a verdade real. Até agora, não conseguiram e é isto que protege o STF que felizmente sabe disso e tem agido bem. Escorregão ? Não surpreende, ao contrário do que se está dizendo, a renúncia do ex-ministro do STF, Sepúlveda Pertence, da presidência da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Pertence, como se diz lá em MG, sua terra de origem, é "uma pessoa de opinião". E, embora comungue posições políticas com a presidente Dilma, Pertence andava incomodado com as constantes informações plantadas oficiosamente na imprensa, de que ela não tinha gostado de algumas decisões da Comissão, de investigar e pedir explicações a auxiliares dela. As trocas recentes de conselheiros foram apenas as gotas d'água. Não bate com o discurso de transparência do governo. Radar NA REAL 21/9/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3118 baixa/estável baixa - REAL 2,0311 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 61.176,25 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.460,15 estável/alta alta - NASDAQ 3.175,09 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 18 de setembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 215

Momento presidencial Em que pese ter de "tourear" as angústias petistas com a questão do mensalão e com o risco de Fernando Haddad não ir nem para o segundo turno em SP, a presidente Dilma vive um de seus melhores, talvez o melhor até agora, momento na presidência. Ela, sim, poderá se declarar vencedora das eleições, pois os partidos governistas, naturalmente tantos que são, farão muito mais votos que a mirrada e às vezes assustada oposição. Pode ter essa "vitória" tisnada um pouco caso o PT fracasse em SP e em BH, onde ela acabou se metendo mais do que inicialmente pretendia. Economia melhora Do ponto de vista da economia, depois dos sustos do primeiro semestre, há sinais consistentes de retomado crescimento do PIB. Não com o vigor que o ministro da Fazenda, Guido Mantega projeta, mas para dar um alívio de apontar para um crescimento de 4% em 2013, aliás, como estão prevendo os analistas ouvidos pelo BC para o Boletim Focus. E está sendo muito aplaudida pelos empresários pela guinada que deu na política econômica, com foco na redução do dito "custo Brasil" e mais incentivo aos investimentos. Esta parte falta apenas decolar para valer. No terreno das intenções, vai muito bem, obrigado. Com isso, Dilma vai firmando o próprio caminho, livre das amarras dos parceiros e formando o próprio "dilmismo". De mãos menos atadas ainda ficará dependendo do resultado das eleições em alguns lugares e dos votos finais dos ministros do STF no mensalão. Congresso dá trabalho Mesmo com todo esse cacife, a presidente continua enfrentando dificuldades na hora do vamos ver no Congresso com os aliados. Pode sofrer uma nova derrota na votação da MP do Código Florestal e não está conseguindo domar os parceiros na questão da destinação de 10% do orçamento para a Educação. O governo quer 7%. Ela tentou barrar o projeto na Câmara e não deu certo. Agora está nas mãos dos senadores. "Mensalão" norte-americano A reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed (sigla em inglês, FOMC), decidiu na semana passada recomprar US$ 40 bi por mês em títulos do Tesouro norte-americano "até que o mercado laboral apresente melhoria", bem como se comprometeu a manter a taxa de juros básica perto de zero até meados de 2015. No caso das compras de títulos o BC dos EUA comprará títulos com prazos mais longos (de até 30 anos) com o objetivo de deixar uniformes (e baixas) as taxas de curto e longo prazo. Com isso, espera a autoridade monetária levar a taxa de desemprego para um nível de 7% da mão de obra disponível, por meio do incremento do consumo. Em poucas palavras, o Fed vai injetando dinheiro no sistema financeiro todo mês para estimular a economia. O contribuinte americano teme pagar conta mais alta no médio prazo, via aumento de impostos. Mas, por enquanto, a ordem é colocar mais comida na mesa do trabalhador desempregado. Uma escolha política a ser legitimada nas eleições de novembro. Dólar para baixo Como sabemos, os EUA estão com a atividade econômica debilitada, mas, do ponto de vista cambial, se financia junto ao mundo o qual teme o andar da carruagem dos europeus e não confia nem no iene e nem na moeda chinesa, o Yuan. Para o Brasil, o "mensalão" do Fed joga uma incerteza sobre a estabilidade do dólar no mercado externo, o que pode valorizar o real e prejudicar a já debilitada competitividade brasileira. Todavia, não nos esqueçamos que os EUA representam 1/4 da economia mundial e a sua recuperação ajuda mais o mundo do que a tão comemorada China. Os próximos dias dirão mais sobre os efeitos do adicional (e enorme) relaxamento monetário dos EUA, mas uma coisa é certa : o Brasil terá de se adaptar à nova situação. Quem sabe, reduzindo mais que o esperado a taxa básica de juros. Tensão no poleiro brasiliense A manobra da presidente Dilma para ajudar a candidatura de Fernando Haddad em SP, levando a senadora Marta Suplicy para o ministério da Cultura, vai, com o correr do tempo, criar forte tensão em seu ministério, agora com três indisfarçáveis candidatos ao governo paulista : a própria Marta, Aloizio Mercadante, que só "pensa naquilo", e o ministro da Saúde Alexandre Padilha, um dos mais ativos cabos eleitorais de candidatos petistas a prefeito no Estado. Os planos de Lula, porém, segundo boas fontes, seriam outros, na dependência, é claro !, de uma vitória de Haddad na capital paulista : reservar a vaga para o prefeito de São Bernardo, Luis Marinho. Mudanças radicais ? Uma derrota conjunta do PT e do PSDB em SP, ou seja, uma vitória de Celso Russomano na capital, já não mais improvável, provocará, inevitavelmente, um deslocamento do centro do poder no petismo, apesar ainda de Lula, e no PSDB, de SP para outras regiões. E moverá também o eixo da política nacional, que passará a gravitar mais em torno da presidente Dilma e menos do PT lulista e, dependendo do resultado as urnas em Belo Horizonte e Recife, de Aécio Neves e Eduardo Campos. O PMDB, mesmo que "ganhe" as eleições, continuará como coadjuvante. Está difícil Leitura atenta das últimas pesquisas DataFolha e Ibope indicam que não será nada fácil para José Serra e Fernando Haddad alijarem Celso Russomano do segundo turno. Só se vier uma revelação estrondosa contra o candidato do PRP. A "guerra religiosa" que estão criando não deve surtir efeito. Aos vencedores, as batatas As direções dos partidos políticos, os dois que sempre se digladiam nacionalmente, PT e PSDB, além do PMDB e agora de um ativo PSB e até do novel PSD, já estão azeitando suas calculadoras para, tão logo findas as eleições, se declararem vencedores. Porque... 1. Ganharam a eleição em SP (nessa pode furar o bloco o PRB) 2. Elegeram o maior número de prefeitos 3. Elegeram o maior número de vereadores 4. Tiveram o maior número de votos para prefeito em todo o país 5. Tiveram o maior número de votos para vereador em todo o país 6. Fizeram mais prefeitos nas capitais 7. Fizeram mais prefeitos nas cidades com mais de 200 mil habitantes 8. Fizeram mais prefeitos nas cidades médias Motivos para comemorar, assim, não faltarão. E todos farão jus a um saco de batatas. A política sem programa e sem afeto Uma leitura mais, digamos, republicana das eleições brasileiras e do próprio político brasileiro mostra que, na ausência de substanciais diferenças entre os programas partidários, o jogo na arena política está cada vez mais situado no campo dos personagens e não no enredo. Em SP, Russomano é sinal mais evidente do processo, mas não se poderia excluir o caso de Eduardo Paes no Rio, Márcio Lacerda em BH, Gustavo Fruet em Curitiba e assim vai. No plano nacional temos os apáticos Aécio Neves e Eduardo Campos, personagens que podem renovar a política brasileira, mesmo que não saiba se para melhor. Num país com tantas diferenças sociais, disparidades regionais e culturas diversificadas, este processo de "fulanização" da política é caminho certo para o populismo que permite que qualquer um "dos que aí estão" assuma a carapuça. CPI da Pizza Assim como não quer nada, o Congresso está para sepultar a CPI Cachoeira-Delta sem grandes revelações. As sessões foram suspensas até depois das eleições. E não há sinais de que os parlamentares estejam aproveitando esse tempo para analisar os documentos provenientes das quebras de sigilo pedidas por eles. Depois, o tempo será muito até o fim do ano para mais debates na Comissão de vez que a Câmara e o Senado estão atulhados com matérias para votar. A verdade é que eles se dão por satisfeitos com o barulho que fizeram no início e não têm a menor intenção de investigar profundamente a empreiteira Delta e suas relações com o poder em todo o país, não apenas no Centro-Oeste. Teme-se que desta cartola possam sair coelhos muito raivosos. Principalmente se puxarem o fio das "empresas-laranjas" usadas pela empresa de Fernando Cavendish. É um laranjal de alta qualidade e que abastece mais gente além da Delta. Mensalão : um dia após o outro A principal "novidade" da Ação Penal 470, vulgo "mensalão", não veio ao final da semana passada, do plenário do STF, mas da revista Veja. A nosso ver, a referida reportagem não traz propriamente uma "novidade", mas explicita com fidelidade as tensões em torno do julgamento do "núcleo político" da referida ação penal. Marcos Valério deve ir para a prisão e, diante do fato quase concreto, jogou para o público interno acusado, sinalizando que pode não ser tão silencioso quanto nos últimos anos. Para o público externo, a distinta opinião pública, os efeitos ainda são desconhecidos, mas os votos do STF parecem que darão o tom das expectativas que se formarão no campo político, na fronteira temporal das eleições de outubro e novembro. Neste sentido, a voz cansada de Marcos Valério não ajuda em nada no andamento da Suprema Corte e pode até piorar. É o caso dos vídeos gravados por Valério, cuja existência foi revelada no Blog do jornalista Ricardo Noblat (clique aqui). Alguns dos acusados sabem disso e podem sair da "toca" para projetar e proteger a própria imagem. Parece ser o caso de José Dirceu. A sanha jurisdicional tende claramente à condenação. A opinião eleitoral ainda está por se manifestar. O caminho dos acusados pode ser na direção da prisão e isto pode causar ainda muitos distúrbios. Cruzeiro do Sul liquidado Ainda estão para ser bem mais transparentes os acontecimentos que levarão à bancarrota do Banco Cruzeiro do Sul. Não que seja certo que isso venha acontecer, mas porque não deixa de ser curioso como um banco pode estar tão débil por tanto tempo nas barbas do BC. Não há surpresa na liquidação do banco depois de evidente ausência de interesse por parte do eficiente mercado financeiro. O banco vai para o seu crepúsculo, silenciosamente. O que deixa mais curiosidade sobre outro caso, agora já esquecido : a salvação do Banco Panamericano. Esta história precisa ser conhecida. Liberação de compulsórios Parecem muito boas as ideias que dão conta que o BC estuda a liberação de depósitos compulsórios do sistema bancário. Faz sentido para a política governamental de achatamento dos famosos (e elevados) spreads bancários brasileiros. Tal liberação deve acontecer talvez no curto prazo. E pode ajudar, sobretudo, a galera pequenina dos pequenos bancos. Radar NA REAL 14/9/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3118 baixa/estável baixa - REAL 2,0311 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.057,68 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.459,33 estável/alta alta - NASDAQ 3.184,97 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 11 de setembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 214

Tripé da política econômica mudou... A última ata do Copom do BC, divulgada na quinta-feira, desencadeou, mais uma vez, a discussão sobre se o governo teria abandonado ou não a meta de inflação como um dos pilares da política econômica. O Copom admite que o centro da meta, de 4,5%, não será mais alcançado nem em 2012, nem em 2013, nem no primeiro semestre de 2014. Como o câmbio está sempre vigiado pelo BC, e deixou de ser flutuante para valer há tempo, e como o superávit primário tem sido alcançado a bordoadas certo artificialismo, estaria então, no governo Dilma definitivamente esquecido o tripé que sustentou a economia brasileira desde 2000. ...a meta é o crescimento Não há surpresa quanto a isso - só se surpreende quem não acompanha os movimentos da presidente Dilma. Pode-se entender que ela sempre se alinhou com a corrente dita desenvolvimentista. E é o que ela e sua equipe estão revelando. O governo, tem, na realidade, um meta de crescimento, que, pelas declarações públicas das autoridades, é de no mínimo 4% para os próximos dois anos. Coincidentemente é o período que a sucessão presidencial começará a pegar fogo com Dilma tendo no seu encalço naturalmente um oposicionista, além do governador Eduardo Campos e o fantasma de Lula. Assim, as metas da estabilidade econômica serão adaptadas tanto às circunstâncias econômicas quanto às da política. Não é obrigação São muitos os economistas que defendem, nas circunstâncias atuais, a flexibilização das metas. Muitos dizem mesmo que "o primário" está demais. O problema não é o governo trocar de parâmetros. É fazer isso de forma envergonhada, sem dizer oficialmente, dando a impressão de que não está seguro quanto à necessidade e ao acerto das mudanças. Afinal, as metas não são uma norma rígida - são um compromisso político assumido por ele. Ninguém vai ser preso se não cumprir. Do modo que leva causa insegurança nos agentes econômicos. O que pode explicar boa parte da cautela dos investidores. Como mostram os dados do PIB, ele vem caindo desde o final de 2010. Hollande : depois das eleições A marca histórica mais relevante desde os anos 90 em matéria econômica diz respeito ao fato de que o tal do "mercado" é aquele que acaba em última instância impondo às regras da política econômica. A despeito das eleições, os governantes tão logo empossados sucumbem às "normas gerais" advindas do imperativo categórico mercadológico. Socialistas acabam se parecendo com liberais e liberais acabam concedendo às matizes socialistas. Partidos políticos pouco significam e a sociedade acaba inerte às mudanças políticas e econômicas. François Hollande, presidente da França, acaba por realizar a sina de todo governante. Partiu para um ajuste fiscal significativo (30 bi de euros) com o fito de ajustar o déficit público para algo como 3% do PIB. Contraria a própria campanha, marcada por uma visão divergente da ortodoxia alemã. Com isso, o desemprego deixou de ser a prioridade nº 1, o crescimento vai cair e é o fim da visão keynesiana do político francês. Tudo para que a política econômica agrade o financiador da dívida francesa. Em detrimento inclusive dos ricaços franceses que terão uma forte tributação sobre seus ganhos correntes. E Obama ? Barack Obama vem tratando do tema econômico com base nas necessidades de reduzir o desemprego e aumentar a atividade econômica. Reprisa, com o apoio do Fed e do mundo inteiro (que compra dólares norte-americanos), a política de Franklin D. Roosevelt. Isso tudo sem mexer muito com o poder de Wall Street e dos financistas que estão a financiar seu adversário nas eleições de novembro, Mitt Romney. A questão vital para depois das eleições será sobre a continuidade (e até aprofundamento) desta estratégia. Com uma relação dívida pública/PIB acima de 110%, o elegante e competitivo Obama vai ser mais agressivo em relação a sua estratégia ou fará um governo de "ajustes". Não será dos discursos eleitorais que retiraremos esta resposta. China : queda da atividade Que a recuperação da economia europeia e norte-americana será sofrida, todos já puderam verificar, seja em função dos indicadores divulgados, seja pelo animus dos analistas. Agora, o que se discute para valer é o quanto a China pode desacelerar e se há fôlego doméstico para manter o crescimento em chama alta. São crescentes as notícias de que o governo comunista de Pequim irá lançar um pacote de estímulo econômico de pelo menos US$ 500 bi. O problema é saber se será suficiente para barrar o longo declínio da taxa de crescimento a qual ainda é robusta (mais de 6% este ano), mas dá sinais de que vai cair mais. Além disso, dez em cada dez analistas do setor financeiro da China tem dúvidas sobre a higidez do sistema daquele país. A transparência é deficiente e o governo insiste em manter rédeas curtas quando o assunto é prestação de informações. Por fim, o mundo desenvolvido depende muito mais do que deveria da China. O Brasil, por sua vez, vem perdendo participação da indústria no PIB e as suas commodities são o alento chinês para o crescimento. Agora sai ? Depois de uma ofensiva em que parecia mostrar suas garras, a presidente da Petrobras, Graça Foster, esqueceu a história do aumento da gasolina e do óleo diesel para reforçar o caixa de investimentos da companhia. O BC diz que não espera reajuste de combustíveis para este ano. Mesmo não perseguindo com perseverança o centro da meta inflacionária de 4,5%, o governo não pode deixar que ela fuja demais do limite - e a Petrobras terá de continuar pagando sua cota. Agora, com a redução dos preços das tarifas de energia elétrica em 2013 os combustíveis sobem ? Segundo o próprio ministério da Fazenda a redução da conta de luz ajudará a reduzir ao redor de 0,55% da inflação no ano que vem. Uma tentação para o aumento da conta do tanque dos veículos. Cândida confissão Se não recebeu ainda não deve estar longe de receber um puxão de orelhas o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. O governo fez tudo para apresentar como uma medida puramente econômica a redução das tarifas de luz. De fato, a decisão deve ter um impacto positivo no custo de produção no Brasil, sem contar que reduz também o custo das famílias, deixa um pouquinho mais de dinheiro para a poupança e o consumo. Porém, com uma candura de quem não é nada ingênuo, Lobão admitiu os frutos eleitorais da medida, convenientemente anunciada um mês antes das urnas, em cadeia de rádio e televisão. Não esquecer que a medida vinha sendo estudada há mais de três anos. Disse o ministro : "Não haverá um brasileiro que não ficará feliz com isso. Isso mexe com o humor de todos. (...) esse anúncio pode vir a ter um reflexo político. E se isso for bom para a campanha de aliados, é um ótimo sinal". Lobão lembra o estilo prosador e revelador de boas notícias de seu padrinho José Sarney. Resta saber se agrada a presidente, apreciadora de comedimentos eleitorais. Ela vai entrar em campo para valer ? I Esta semana será possível ver qual a disposição de presidente Dilma de se envolver com mais vigor na campanha eleitoral a favor dos aliados governistas, ainda no primeiro turno. A disposição inicial era não se queimar, não desagradar parceiros optando por um ou outro candidato de sua base de sustentação política. Aliados governistas estão se enfrentando por todo o país. A exceção admitida foi BH, onde ela resolveu se meter diretamente, pela candidatura do petista Patrus Ananias. Menos para dar um socorro ao PT em si e muito mais para tentar barrar um possível fortalecimento de dois de seus possíveis adversários em 2014 - Aécio Neves e Eduardo Campos. Agora, Dilma já gravou participação exclusiva para o programa de Fernando Haddad em SP. E está sendo insistentemente solicitada a fazer o mesmo para Humberto Costa, no Recife, e Nelson Pelegrino, em Salvador, ambos petistas como Haddad. Mesmo correndo o risco de tornar-se sócia de alguns fracassos eleitorais, uma razão mais alta se alevantou para Dilma. Aliás, duas : mostrar solidária com seu criador, o presidente Lula, e dar satisfações a seu partido, o PT. Ela vai entrar em campo para valer ? II Tanto Lula como o PT vivem uma espécie de "crise existencial" provocada, em parte, pelos rumos que está tomando o julgamento do mensalão, e pelos sinais trazidos pelas pesquisas eleitorais de que o partido não vai tão bem como imaginou que poderia ir nas eleições nas capitais e algumas grandes cidades. A presidente sabe que o PT com algum transtorno pode virar um transtorno para ela depois de outubro. Não foi à toa que ela foi à SP na quarta-feira passada para uma conversa reservada com o ex-presidente Lula, sem nenhuma agenda oficial na cidade. A confortável situação de Eduardo Campos e do PSB O governador Eduardo Campos, sem direito a mais uma reeleição em PE, tem indicado a pessoas que conversam com ele que não tem intenções de candidatar-se ao Senado, que é o caminho natural de quem como ele quer continuar na política e com menos de 50 anos de idade, tem todo tempo do mundo para entrar na fila de voos mais altos. Sendo assim, ele traçou seu rumo, a partir de um alicerce montado no crescimento do PSB nas eleições de 2010 e de audaciosas manobras eleitorais este ano, como o rompimento das alianças com o PT em Recife, em BH e em Fortaleza, entre outras, com três possibilidades : 1. Ocupar a vice-presidência na chapa oficial, mais do que provavelmente com a cabeça de chapa de Dilma, mas não descartando Lula também. Tomaria o lugar do PMDB de Michel Temer. 2. Virar vice numa chapa de oposição, atrelado a uma candidatura de Aécio Neves pelo PSDB. Os dois estão se dando as mil maravilhas em Minas e têm um diálogo fácil. 3. Virar ele próprio candidato a presidente pela base aliada, caso a economia complique-se e complique a vida de Dilma, e Lula não tenha fôlego para disputar outra corrida presidencial. Campos percebeu que o PT não conseguiu renovar seus quadros e não dá sinais de que terá um grande nome nacional até 2014. É Dilma ou Lula, ou nada. Campos, com habilidade, fez seu plano sabendo que não corre grandes riscos : a tendência do PSB é sair mais forte das eleições municipais, principalmente se ganhar Recife, onde Lula fez uma aposta de risco, e Fortaleza, a reeleger Marcio Lacerda em BH. O governo Dilma não tem a menor condição de brigar com a legenda. Seria um desastre para o governo no Congresso com sua base aliada amorfa e indisciplinada. Campos fez uma aposta de muito pouco risco. E os aprendizes de feiticeiro, hein ? Até a última pesquisa DataFolha surpreendeu todos os analistas, políticos e palpiteiros de plantão, apontando a solidez da candidatura de Celso Russomano do PRB à prefeitura de SP, petistas e tucanos não estavam incomodados com o desempenho dele, na verdade estavam até gostando. Há indícios de que uns e outros, por baixo do pano, deram força para Russomano. Os petistas achavam que Russomano tiraria votos de Serra e ajudaria a levar Haddad para o segundo turno. Os tucanos acreditavam que ele esvaziaria o petista. De fato, está acontecendo - Russomano está sugando os dois. É no que dá brincar de feiticeiro em eleição. Língua ferina De um maldoso de plantão em SP : "Engana-se quem pensa que o prefeito Gilberto Kassab traiu o ex-presidente Lula e a presidente Dilma ao apoiar José Serra e não Fernando Haddad para a prefeitura paulistana. Pelo contrário, foi o melhor serviço que ele prestou aos dois, jogando nas costas de Serra seus baixíssimos índices de aprovação". Mensalão : as contas dos advogados Em Direito Penal é duvidoso usar apenas indícios para acusar. É necessário que existam provas "concretas" que se constatam no caso concreto. Pois bem : o julgamento do mensalão passou da fase dos indícios para a das provas cabais de que o viés punitivo do STF é gritante. Os efeitos imediatos recairão sobre os réus, cuja probabilidade de irem para detrás das grades passou do campo das hipóteses para o campo dos fatos. Os réus estão tensos e pedindo aos notáveis do Direito Penal que lhes dê referências sobre a possibilidade de prisão. As bancas, é lógico, já fizeram as contas, mas em pelo menos dois casos mais "graves" ainda não passaram a informação a seus clientes. Ainda apostam em medidas dilatórias. Mensalão : além das penas Dura a realidade de quem apostou que o mensalão não produziria efeitos políticos relevantes. Já há pesquisas que mostram que o noticiário tem efeito significativo para o eleitor. Terá maior efeito quando mais políticos foram julgados pelo STF, notadamente os casos de José Dirceu e José Genoíno. A mídia irá repercutir estes casos com intensidade e seus efeitos se propagarão no exato momento da eleição em primeiro turno ou entre os dois turnos. Ademais, os líderes políticos permanecem tensos com a possibilidade de que Marcos Valério e seus companheiros da SMPB acabem de complicar a situação, revelando novos dados e informações sobre o caso. Nesta hipótese, o mensalão enfim pode chegar ao Palácio do Planalto. Não necessariamente na atual ocupante da cadeira presidencial. Radar NA REAL 7/9/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2795 baixa/estável baixa - REAL 2,0242 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.335,27 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.437,92 estável/alta alta - NASDAQ 3.140,01 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 4 de setembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 213

A notícia desastrosa do PIBinho Não foi o resultado do PIB do segundo trimestre, com um crescimento de apenas 0,4%, o que mais assustou. Já era mais ou menos esperado, já estava "precificado", como dizem os analistas. Além disso, já havia sinais de que a partir do fim de julho, meados de agosto, a economia havia engatado uma marcha menos lenta. Assustou mesmo foi o dado sobre os investimentos. Os gastos brasileiros em máquinas, equipamentos e obras caíram 0,7% nos três meses terminados em junho, quando comparados com o trimestre encerrado em março. Nada menos do que 3,7% na comparação com o mesmo período do ano passado. A taxa de investimento no trimestre ficou em 17,9%. O ideal, apontado pelos analistas é de 24%, pelo menos. O sinal é que a economia brasileira está com fôlego curto para crescer, sem gerar problemas de inflação e/ou nas contas externas. Muitos especialistas calculam que a possibilidade de crescimento hoje (chamado PIB potencial) está entre 3,5% e 4%. O desafio é acelerar os investimentos, o que esbarra nos gargalos existentes e na proverbial insuficiência governamental em matéria de recursos e gestão. É bom, mas... Só se vê elogios para o pacote de privatizações de rodovias e ferrovias e para a disposição do governo de avançar também nesse sentido nas áreas de aeroportos e portos. São, porém, elogios teóricos, um tanto como São Tomé : esperando acontecer para crer. Em princípio, duvida-se que o governo vá cumprir o cronograma para as estradas e trens. E teme-se o modelo que poderá vir para os aeroportos, com a possível exigência de que a Infraero seja a sócia majoritária dos novos negócios. Um imenso Portugal Do ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, conselheiro de governos petistas : "Se quisermos ter em 2030 algo parecido com o nível de renda per capita em paridade de poder de compra de Portugal de hoje, temos de crescer em torno de 5% ao ano (mais ou menos 4% do PIB per capita), em média, nos próximos 18 anos. Isso pedirá cuidadosa e rigorosa política fiscal, capaz de sustentar a política monetária (que produzirá o equilíbrio interno), e adequada política cambial (que produzirá o equilíbrio externo)". A receita e o superávit envergonhado Há muitos economistas que não acreditam mais que seja necessário o governo fazer um superávit primário do tamanho que está prometido, de R$ 139 bi, cerca de 3,1% do PIB. É opinião de gente de dentro do mundo oficial, como de fora. Os últimos dados das contas públicas, com a arrecadação abaixo do estimado pelo Tesouro Nacional, indicam que esta promessa não será cumprida integralmente. No entanto, as autoridades insistem na fantasia - tanto agora como para o ano que vem. São coisas assim que minam a confiança na política oficial, e levam a adiamentos de decisões por parte dos agentes econômicos. Modelo em cheque Em meio a tantos assuntos conjunturais envolvendo a política econômica brasileira, bem como sob o fogo cruzado da crise internacional, há outro importante e intrigante ponto que precisa ser analisado, face à fragilidade do crescimento brasileiro. Trata-se do esgotamento do modelo de "consumo crescente" adotado durante os anos de fartura do governo Lula. As medidas de estímulo ao consumo vão surtir efeito, mas sua sustentabilidade ao longo do tempo dependerá muito mais do crescimento dos salários e do emprego do que da melhoria das condições de crédito (taxas de juros mais baixas e disponibilidade de recursos). Assim, a única e consistente alternativa é o aumento rápido e consistente do investimento (aumento da capacidade produtiva do país). Ora, por tudo que se viu até agora, os planos do governo são ambiciosos, mas, mesmo que exista muita eficiência na execução, o processo será lento e gradual. Com efeito, a somatória do esgotamento do modelo de consumo e da lentidão nos investimentos implicará numa longa estagnação do crescimento per capita. Os dois Bancos Centrais Quem quer elogiar o Banco Central de Alexandre Tombini relembra que ninguém como ele acertou na análise do recrudescimento da crise europeia e marcou um gol de placa iniciando há um ano, quando ninguém esperava, a queda da taxa básica de juros que trouxe a Selic de 12,5% para 7,5%. Quem tem dúvidas vê a situação de outra maneira : apesar da queda acentuada dos juros, o PIB segue raquítico, por uma razão : o BC teria errado a mão lá atrás quando resolveu dar uma desaquecida na economia em fins de 2010. Agora, estaria tendo dificuldades para dar ritmo mais veloz aos negócios. A realidade é que tanto a política fiscal quanto a política monetária estão em xeque. Há quem já esteja esperando alguma reviravolta numa delas - ou em ambas. Ninguém ouviu direito Embora tenha tudo a ver com um dos sujeitos nada ocultos do julgamento do mensalão - a questão dos financiamentos de campanha passou quase despercebida em algumas graves revelações do ex-diretor do DNIT, Luiz Antônio Pagot, semana passada na CPI Cachoeira-Delta. Pagot confessou que, a pedido do tesoureiro da campanha presidencial da aliança comandada pelo PT, arrecadou cerca de R$ 6 mi para os cofres eleitorais, com cerca de 30 empresas detentoras de contratos com o ministério dos Transportes. Ele teria também trabalhado por doações para Ideli Salvatti (PT), candidata ao governo de SC, e Hélio Costa (PMDB), concorrente ao governo de Minas, ambos derrotados. As doações, segundo ele, teriam sido totalmente legais. Cabe a um gestor público agir partidariamente, eleitoralmente, no uso de suas atribuições funcionais ? Pagot foi (ou é) o único. Está aí a mais aberta confissão da promiscuidade existente no Brasil entre os negócios públicos e os interesses eleitorais, tanto na esfera Federal como nas esferas estaduais e Federais. E sem distinção de colorações partidárias. Quem protege esse patrimônio ? O conselho curador do FGTS, formado com a participação de representantes dos trabalhadores, existe para fiscalizar a gestão do patrimônio dos assalariados brasileiros alocado no fundo. Esse objetivo do conselho não vem sendo cumprido, necessariamente. O governo tem feito cada vez mais "política social" com esse dinheiro, com taxas de juros negativas. O FGTS está bancando agora boa parte dos subsídios do Minha Casa Minha Vida. São políticas meritórias, mas que deveriam ser financiadas por recursos do orçamento. Lula e seus riscos eleitorais A confissão é do próprio Lula, em entrevista na semana passada ao jornal The New York Times : "Não é fácil saber como agir no papel de ex-presidente". Por esta razão, não saber ficar fora do varejo da política e também por exigências do PT e outros aliados que têm nele o mais espetacular e eficiente cabo eleitoral, Lula está se metendo na campanha eleitoral mais do que a prudência - a política, não a médica - aconselham. Envolvido em picuinhas e filustrias como está, Lula corre o risco de sair das eleições menor do que entrou, principalmente se algumas de suas apostas, como em São Paulo, Recife e Belo Horizonte, derem errado. Político de grande faro, não dá para entender como Lula, mesmo em solidariedade aos amigos e companheiros, se envolveu com tanto ardor nas eleições. Há, porém, quem entenda que o ex-presidente age assim porque sente necessidade de reafirmar sua ascendência sobre a aliança governista, em parte ameaçada pela ascensão de Dilma. Lula se acostumou com o papel de prima donna da companhia e não aceita cedê-lo a quem quer que seja. Não se pense que na aliança governista, apesar (ou em que pesem elas) das afirmações de Lula, o jogo de 2014 já esteja jogado. Fim de uma parceria ? Dependendo do crescimento geral do PSB e, principalmente se ele vencer as eleições em Belo Horizonte e em Recife, será impossível manter a aliança já longeva entre ele e o PT. As mágoas estão pesadas. Quem é o adversário ? Esta semana, pelo comportamento dos dois partidos no horário eleitoral, será possível saber se o PT e o PSDB já jogaram a toalha. Se eles esquecerem um pouco o candidato Celso Russomano, e concentrarem seus ataques um no outro, é porque consideram que o candidato do PRB já comprou o seu passaporte para o segundo turno. A trajetória de Russomano, candidato ao melhor estilo populista-conservador está surpreendendo até os mais atilados analistas políticos. Não há quem não tenha apostado que a essa altura ele já estaria desmilinguido, com a disputa polarizada entre Fernando Haddad e José Serra. Um fenômeno a ser estudado com atenção, mesmo que na frente venha a se esvaziar. Uma lição para petistas e tucanos e também para políticos arrumadinhos como o "novo" PMDB. Parece haver certo cansaço da população de SP com a mesmice dos ditos "grandes". Fato este que atesta que o desinteresse pelas eleições até agora, muito mais que em tempos passados no mesmo período. Há quem diga que pode ser a repetição de um fenômeno Collor. Guardadas as devidas proporções, é possível ver alguma semelhança. Será um caso apenas paulistano ? Algum prenúncio para 2014 ? João Paulo e o paradigma do mensalão Está evidente que a condenação do deputado João Paulo Cunha é sinal de uma tendência, no caso, rigorosa, do plenário do STF. O deputado não pode ser considerado, assim como José Dirceu e José Genoíno, uma estrela do governo passado. Apesar de ter ocupado a presidência da Câmara dos Deputados, a carreira do ex-sindicalista corria à margem do "núcleo duro do poder", formado pelo ex-ministros Palocci, Luiz Gushiken e José Dirceu. Assim, há quem especule que será sobre Dirceu, último a ser julgado da Ação Penal 470, o corolário de todo o processo ora em julgamento. Referimo-nos exclusivamente aos políticos envolvidos no caso. Se todos forem condenados e José Dirceu não o for, haverá certa estranheza no ar. Sobretudo, por se tratar de um acusado de formação de quadrilha. Os quadrilheiros serão punidos, mas "o cabeça" não será. Neste sentido, o julgamento vai ganhando ar de maior tensão, sobretudo quando se sabe que de seu resultado será extraída a estratégica política do ex-líder estudantil e ex-ministro de Lula. Reações políticas e o Direito Não deixa de ser notável que os advogados de defesa dos réus do mensalão, estejam, por esses dias, mais silenciosos e discretos em suas ações. Estes já cantaram em restaurantes e apelaram com ênfase para que a mídia refletisse suas opiniões e promoções pessoais. Agora parecem estar mais tímidos diante do fato de que as palavras do relator e dos ministros soam como uma música pouco sonora e o enredo é suficiente para arrepiar o cidadão comum. Nunca neste país a leitura dos votos mostrou tanto as tripas de como o poder pode ser (ou é) exercido. Resta saber se, ao final de tudo, com a eventual condenação dos acusados, os advogados evocarão outra vez institutos, princípios e conceitos tão importantes para o Estado e a sociedade. Assim, concepções valorosas, tais como, a ampla defesa, o contraditório e o Estado de Direito poderão se somar ao discurso político dos réus tornados condenados por força das sentenças da Corte Suprema. Se condenados poderão alegar "injustiça" por parte do STF ? Radar NA REAL 31/8/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2598 baixa/estável baixa - REAL 2,0333 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.061,45 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.399,48 estável/alta alta - NASDAQ 3.048,72 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 28 de agosto de 2012

Política & Economia NA REAL n° 212

Confusões e divergências fazendárias I Tem mais coisa que uma simples trapalhada por trás da retirada, poucas horas depois de ter sido divulgada no boletim economia brasileira do ministério da Fazenda, das previsões para o PIB deste ano e dois próximos e da expectativa oficial de investimentos para 2012. A explicação : os números estão sendo revistos. De fato, precisavam mesmo. Enquanto o mercado financeiro já faz previsão para o crescimento da economia abaixo de 2% e o BC já se fixou em 2,5%, com claro viés de baixa, os fazendários ainda cravavam 3%. No caso dos investimentos, elas estavam menores que o dado anterior. A desculpa é que, como o PIB oficial do segundo semestre sai sexta-feira (previsão de analistas : de + 0,3% a + 0,8%), haverá mais segurança para as pitonisas da Fazenda depois de conhecê-lo. Ora é desculpa de muito farrapo : nessa altura o ministro Guido Mantega e sua equipe já têm informações suficientes do IBGE para saber como andou oficialmente a economia brasileira em abril, maio e junho. Confusões e divergências fazendárias II O fato real é que, internamente, estão surgindo na equipe econômica divergências mais acentuadas sobre a condução da economia brasileira e, portanto, a respeito dos resultados de suas políticas, do que até pouco tempo atrás. Mantega ainda é o grande animador de tudo, mas há duas estrelas com o prestígio em franca ascensão com quem de fato decide e faz questão de decidir sempre, até, dizem as más línguas, sobre a compra de clipes - Nelson Barbosa, o secretário Executivo do Ministério, há mais tempo voz ouvida no Palácio, e mais recentemente, Arno Agustin, secretário do Tesouro. Mais e mais serão vozes influentes. Aliás, faz parte do estilo Dilma : não ouvir apenas os titulares. Que o digam ministros de várias extrações. COPOM : mais queda dos juros Em meio a apuração dos efeitos da política de estímulos monetários e tributários empreendidos desde o início do ano pelo governo, o BC vai reduzir ainda mais a taxa básica de juros na próxima reunião do COPOM. Ainda não se sabe ao certo os efeitos de todos os estímulos econômicos, como é razoável se esperar. Todavia, já se sabe, por meio de várias análises que podem ser engendradas, que a taxa de juros básica se aproxima do seu ponto mínimo possível, qual seja, o de equilibrar crescimento da atividade econômica sem acelerar a inflação. Restam, ainda no campo monetário e financeiro, os resultados (relativamente modestos) da redução dos juros dos empréstimos e financiamentos. Daqui para frente, o crescimento econômico estará muito mais dependente do estímulo ao investimento de vez que o estímulo ao consumo está quase todo dado. Neste campo, as habilidades dos senhores da Esplanada dos Ministérios terão de ser redobradas e os sinais do Palácio do Planalto terão de ser cada vez mais ressonantes. Pacote atrasado (e fatiado) I Em princípio, o pacote para turbinar a economia brasileira seria anunciado em um lance só, tudo de uma vez. Depois foi "fatiado" (palavra da moda) para permitir ao governo mais momentos de exposição positiva e marketing. Os marqueteiros oficiais teriam aconselhado esse método (estilo Joaquim Barbosa) para que se criassem mais ondas positivas e se rivalizasse na mídia com o noticiário do mensalão. As boas novas viriam em sequências semanais : concessão de ferrovias e rodovias ; concessão de portos e aeroportos ; redução das tarifas de energia elétrica ; inclusão de mais setores da economia na redução da contribuição para a Previdência Social. Pacote atrasado (e fatiado) II Todos os projetos em estudo há bastante tempo e mais do que pré-anunciados. Sobre a situação da eletricidade, por exemplo, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, deu a notícia somente mais de dez vezes somente este ano. No entanto, o pacotão do PIB emperrou logo após seu primeiro filhote, o das rodovias e ferrovias, anunciado em suas grandes linhas, mas faltando o essencial : os detalhes, que ainda vão demorar alguns meses para serem todos conhecidos. O restante ficou para setembro e algo até para agosto. As razões : (1) havia muito voluntarismo, muita improvisação e pouco estudo nos pré-anúncios ; (2) as divergências entre as diversas áreas envolvidas no projeto, inclusive algumas de cunho ideológico ; (3) a presidente está sempre insatisfeita com o que se lhe é apresentado. Uma questão também de dinheiro Nos casos específicos da energia elétrica e da contribuição empresarial para a Previdência Social há um agravante : o caixa do Tesouro e o compromisso com a meta de superávit fiscal. O governo não está em condições de abrir mão da receita agora. E talvez tenha de ser comedido, pelo menos inicialmente, pelo menos nos primeiros meses de 2013. A duas medidas só devem começar a valer mesmo a partir de janeiro ou mais. O Orçamento da União, a ser enviado ao Congresso até sexta-feira, vai dar mais dicas sobre o que se pode esperar da promessa da presidente Dilma de tratar os brasileiros um pouquinho melhor em matéria de tributos. PIB do segundo semestre O PIB do segundo semestre do ano será anunciado provavelmente na próxima sexta-feira. Deve crescer algo em torno de 0,5%. Duas atenções e uma conclusão devem ser notadas. As atenções estarão voltadas para o consumo das famílias, em particular, e do setor privado, em geral. Em segundo lugar o percentual do investimento. A conclusão mais óbvia será a de que o PIB não vai além dos 1,7%-1,8% este ano. Para desgosto de todos. E ranger de dentes no PT e no Planalto. Europa : a Grécia a caminho do Dracma Não há razão para tecermos grandes considerações sobre a situação da Grécia. Basta ver que o PIB vai cair cerca de 8% somente este ano. Um acúmulo de mais de 20% desde 2008. A sustentação do país já não está ligada aos burocratas de Berlim e Frankfurt. Está nas ruas de Atenas e das cidades e campos daquela bela península e suas ilhas. O país não tem como cumprir o que querem os outros "cooperados" do sistema monetário europeu. A velha moeda, o dracma, deve voltar às mãos do povo grego, recheada de inflação e instabilidade. O cerco se fecha. Resta saber como se comportarão os investidores em relação à Itália e à Espanha. Greves : administrar as sequelas É possível que o Palácio do Planalto consiga arrefecer os ânimos dos grevistas Federais esta semana. A greve já passou dos limites, tanto para a autoridade do governo, como para a paciência da sociedade e os negócios. Os grevistas tendem a ceder em muitas áreas, pelo cansaço, pelo temor de maiores perdas e pelo desgaste perante os cidadãos atingidos direta ou indiretamente pelas paralisações. A presidente ganhou pontos diante da opinião pública, o que é bom para sua imagem e projetos futuros. Mas, terá de administrar sequelas que podem mais tarde atingir os mesmo projetos. Está com um funcionalismo de um modo geral insatisfeito, saudoso dos tempos de Lula e que, na menor oportunidade, pode voltar a criar problemas. Qualquer influência da paralisação e da insatisfação dos servidores nas eleições, com prejuízos para aliados, será debitado na conta de Dilma, na sua "inabilidade" para lidar com os sindicatos e os movimentos sociais. Em números eleitorais, os funcionários públicos são poucos no universo de votantes brasileiro, porém são politicamente ativos e influentes. O papel de Lula Ainda não é sabido se ajudou e o quanto ajudou o ex-presidente Lula na gestão desta turbulenta onda de greves. Parece que pouco. Resta saber, se for possível, como vê o Planalto esta participação do honorável ex-líder sindical. Sabe-se que as reuniões "secretas" do ex-presidente tem sido vazadas, como no caso do encontro com Gilmar Mendes e Nelson Jobim, antes do julgamento do mensalão. Se tais reuniões "secretas" com as centrais sindicais existiram, estas permaneceram tão secretas quanto visíveis eram as greves. Eleições : o que está em jogo para Dilma I Para o eleitor de um modo geral a eleição é essencialmente municipal, mas para muitos partidos e políticos as urnas de outubro tem outros significados e outro alcance, para o bem e para o mal. Vamos, nas próximas colunas, avaliar a situação de cada um deles. Começamos hoje com a presidente Dilma. A presidente está nesse jogo numa espécie de "ganha-ganha". A não ser que a combalida oposição consiga um desempenho de bom tamanho, principalmente nas capitais e nas grandes cidades, Dilma será a grande vencedora das urnas de outubro, com a enfiada de partidos aliados que tem em torno de seu governo. Onde houver um governista eleito, o troféu será dela. Eleições : o que está em jogo para Dilma II Seu grande risco é uma derrota em BH, capaz de ofuscar o grande sucesso mais do que previsível, onde se meteu para derrubar ao mesmo tempo Eduardo Campos e Aécio Neves. Se meter, por pressões dos aliados, em algumas outras cumbucas, tipo São Paulo e Recife, pode ficar com respingos de uma derrota. Outra situação problemática que terá de administrar será a insatisfação de alguns aliados, que tenderão a jogar parte de prováveis derrotas no alheamento presidencial. De todo modo é quem está mais à vontade na eleição. Até porque poder ver-se livre de alguns aliados incômodos em derrotas para as quais nem sonha nem torce, mas para que seriam bem-vindas. Só em sonhos seus aliados mais fiéis admitirão algumas derrotas específicas dos petistas e dos peemedebistas, somados aos fracassos do PSB, derrotas estas que lavariam a alma presidencial, transformando-a, sem contraste, na mais forte figura da política brasileira. Um governo vitorioso sem uma grande figura vitoriosa em seu campo é um governo sem mais sombras. O único desafio passaria então a ser a economia, única capaz de dar algum fôlego à oposição e/ou a companheiros de jornada. Mensalão : contornos (cada vez mais) incertos O STF tece um longo tecido jurídico para sentenciar 38 réus, numa mistura de argumentos factuais, jurídicos e retóricos (estes mais a cargo do relator e revisor). Ao mesmo tempo, está se formando na opinião pública - esta limitada aqueles que de facto tentam entender tudo que corre no salão principal da Corte Suprema - uma percepção de que interesses, além do livre convencimento dos juízes, estão fluindo com mais força para dentro do STF. (As entrevistas de advogados e ministros do STF complicam ainda mais). Ademais, evoca-se na Corte e, sobretudo fora dela, de forma crescente, nomes consagrados (juristas ou não) para justificar o que fizeram e o que não fizeram os réus para merecer tal penalidade ou absolvição. Falta mesmo é a opinião clara dos juízes que julgam o caso. Com efeito, a confusão está crescendo. Deve-se observar que, sem esta transparência "pedagógica" das sentenças, o distinto público vai sentir cheiro de pizza no ar. Ou seja, é preciso que os julgadores sejam mais transparentes em relação ao que estão concluindo. O tal do mensalão precisa satisfazer além dos autos. Senão, o julgamento histórico vira "retórico" e a Justiça parecerá ainda mais inalcançável para o cidadão desprovido de privilégios. Radar NA REAL 24/8/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2512 baixa/estável baixa - REAL 2,0308 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.425,76 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.411,13 estável/alta alta - NASDAQ 3.069,78 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 21 de agosto de 2012

Política & Economia NA REAL n° 211

Pacote : quebra de paradigma Não importa se trata de privatização ou de concessão ou até de data maxima venia ou qualquer apelido que a paranoica política brasileira queira dar ao pacote lançado pela presidente Dilma na semana para ajudar a reativar o PIBinho que tanto incomoda ao governo. O fato, em primeiro lugar, é que assistimos à mais fantástica transformação "ideológica" do grupo petista no poder, desde quando Lula, ainda candidato à presidência da República, em meados de 2002, lançou a "Carta ao Povo Brasileiro" renegando a promessa de "mudar tudo que está aí", e depois que eleito, abraçou boa parte da política econômica herdada de seu antecessor, FHC. É um tabu sério que está quebrado, é a admissão que o governo não tem condições financeiras, nem talento, para resolver um dos maiores gargalos ao desenvolvimento nacional. Pacote é bom, mas o passado condena... O pacote como carta de boas intenções de conceder (ou privatizar) foi muito bem recebido. Porém, falta o restante e o essencial que são os leilões até que os investidores possam a começar a trabalhar. E é uma etapa delicada, que precisa ser acompanhada com atenção, pois o governo não tem bons antecedentes nesta área. A primeira concessão do governo Lula, no setor rodoviário, que envolveu, entre outras estradas, a rodovia Fernão Dias, está empacada. O modelo adotado foi responsável pelo desastre, difícil de consertar sem mais gastos oficiais. A própria Dilma Rousseff ficou inconformada com o resultado do leilão dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Campinas. Sabe-se que são mais três dores de cabeça à vista. O governo acredita que, com a criação de uma super estatal de planejamento, com poderes bem amplos, evitará outros problemas. O interesse pelos leilões dirá se sim ou se não. Mas isto é coisa para o ano que vem. Nada acontecerá antes de meados de 2013. Com efeitos mais visíveis apenas no PIB de 2014. Sem risco As ferrovias podem se tornar o negócio mais atraente desse pacote. Haverá dinheiro farto do BNDES, com juros módicos, como sempre. E o governo poderá comprar a capacidade de carga do empreendimento, pagando ao concessionário se o serviço não for usado. É subsídio do Tesouro Nacional, um negócio que todo mundo quer - sem risco. O governo admite também algo parecido no trem bala, cuja privatização deve ser tentada outra vez, brevemente. Quem levar, terá garantia mínima de passageiros. No divã Está sendo demais para alguns delicados estômagos petistas : privatizações a granel, planos para atrair mais capitais estrangeiros para áreas estratégicas e um tratamento não muito delicado, como nos bons tempos de Lula, para o funcionalismo público e as centrais sindicais. A continuidade do pacote Outro aspecto que nos parece essencial para a consecução do sucesso do pacote é a sua continuidade. O governo precisa coletar o mesmo sucesso que teve ao lançar o pacote de logística no caso da redução do consagrado "Custo Brasil". Os sinais são positivos, como no caso da redução da tarifa de energia elétrica, mas será preciso, como no caso do pacote lançado na semana passada, que o governo persiga os objetivos com tenacidade e competência. Ademais, a paciência do governo será testada com o advento do cenário eleitoral de 2014. Até lá serão parcos os efeitos estruturais sobre a economia, mas isso não retira a importância deste pacote do governo Dilma. Todavia, as carpideiras da área política, especialmente no PT, poderão alegar que as mudanças ora feitas não foram positivas. Será um erro pensar assim. Mas, é a prática que se verifica. Rever a governança dos projetos Já comentamos nas notas acima que o governo tem dificuldades para gerenciar os enormes projetos que está a lançar para enfrentar as deficiências estruturais da economia brasileira. O passado já provou isso. Se há algo de inventivo que o governo poderia implementar seria uma nova "governança" para supervisionar estes projetos atraindo recursos humanos dispersos na órbita do setor público e privado para se organizarem em um novo modelo que possa aumentar a eficiência dos projetos. Inclusive este é aspecto essencial para que se possa atrair por meio de instrumentos financeiros e do mercado de capitais recursos privados. A CVM, por exemplo, pode dar uma colaboração excepcional nesta matéria de governança. Os primeiros sinais de recuperação I Dados econômicos de emprego, movimento do varejo e a prévia do PIB do BC trouxeram alegria para o Palácio do Planalto e arredores : foram positivos, até acima do esperado pelos mais otimistas, com sinais de que a economia brasileira pode até estar começando a sair da modorra em que se encontra há meses. Eles foram comemorados quase com foguetório por Dilma, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e até pelo mais contido presidente do BC, Alexandre Tombini. Mantega, incorrigível, chegou a dizer que a economia brasileira já "cruzou o Cabo da Boa Esperança". Economistas dizem que os sinais são realmente mais positivos, mas que para este ano não dá mais. A aposta agora é que se alcance o ritmo de crescimento, anualizado, de 4% no fim do ano. Os primeiros sinais de recuperação II Os indicadores do BC sobre a atividade econômica dão a exata medida do que está a ocorrer no país : os estímulos fiscais e monetários (taxa de juros) estão produzindo resultados, mas estes serão insuficientes para elevar o PIB para algo além de 1,5% - 2,0% neste ano e um pouco mais no ano que vem. A boa notícia é que a melhoria do cenário externo, mesmo que bastante incipiente, favorecerá o Brasil e daí pode haver uma boa surpresa que eleve um pouco mais o patamar de crescimento. De toda a sorte, o crescimento dependerá muito da capacidade do governo em investir entre 4% - 5% do PIB. Hoje investe perto de 0%. Neste item, as pressões grevistas são um péssimo sinal sobre o futuro estrutural do investimento público do Brasil. A inflação A inflação ganhou alguns graus de aquecimento. Tem reunião do Copom do BC na semana. Da decisão que ele vai tomar em matéria de juros (a previsão é de outra queda da Selic, de 0,5 ponto percentual e talvez mais uma em outubro) e da ata que divulgará na semana seguinte, para sabermos o que o governo está pensando e prevendo. Se teme a inflação ou não e se está satisfeito ou não com o ritmo que o PIB está tomando. Greves : Dilma complicada Passada a temporada de greves Federais, já um tormento para os brasileiros, a presidente da República precisará rever todo o seu esquema de relações com o funcionalismo público, em particular, e com as centrais sindicais, em geral. Mal acostumados com o período folgazão de Lula, eles estão infelizes e insatisfeitos com a dureza de Dilma. A greve tende a arrefecer, com as concessões que o governo já está fazendo, nem tanto quanto os sindicalistas queriam, mas além do que Dilma poderia dar. Como as negociações foram tumultuadas e há franca desobediência por parte de algumas categorias, sequelas sérias vão ficar. E nenhum governo pode ter paz se tiver a seu lado parceiros permanentemente insatisfeitos. Salvador Dali no Brasil Depois algumas pessoas se incomodam quando se diz que o Brasil às vezes é um país difícil de entender, um país surrealista na sua vida pública. Os policiais Federais, em lugar de simplesmente fazer uma greve, adotaram o que chama de "operação padrão". Em outras palavras : fazer o que dizem os manuais, trabalhar direitinho, conforme as regras. Porém, eles usam isto para tumultuar a vida dos cidadãos e chantagear o governo. O governo, por seu lado, em lugar de ficar feliz que seus funcionários decidiram trabalhar como ensina o figurino, entra na Justiça para impedir que eles façam a "operação padrão", portanto, que trabalhem direitinho. Imagine o que se passa em portos, aeroportos e fronteiras quando não há 'operação padrão". É por essas e outras que o jornalista e escritor Ivan Lessa, morto recentemente, gostava de chamar o Brasil de "Bananão". EUA voltam a crescer. Pouco São muito consistentes os indicadores de crescimento da atividade econômica nos EUA. Depois de mais de quatro anos tropeçando em variáveis negativas por todos os lado, a maior economia mundial dá sinais de que, enfim, a chamada demanda agregada começa a se movimentar consistente e generalizadamente. Todavia, a fraqueza do mercado laboral deve persistir por mais alguns anos (dois ou três). Este aspecto negativo põe um teto as possibilidades de crescimento dos EUA juntamente com a imensa irresponsabilidade com a qual a Europa lida com a crise de seu sistema financeiro. De toda a forma, as notícias dos EUA são um alento para o Brasil e a sua irmã gêmea no crescimento, a China. Melhor ainda para Obama. A Alemanha critica o BCE Há três semanas escrevemos neste espaço sobre as declarações muito positivas do presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi sobre a necessidade de um plano de resgate para o combalido sistema financeiro europeu. Perguntávamos, contudo, se Draghi estava de posse de um mandato assinado pela Alemanha. Pois bem : o Banco Central Alemão está aumentando gradualmente as críticas ao plano do BCE de não estabelecer limites prévios para o resgate das dívidas dos bancos europeus, sobretudo da Europa Meridional. Note-se que as críticas germânicas surgem no exato momento em que a Espanha começava a se financiar com maior estabilidade nas taxas de juros e nos volumes e a Grécia está anunciando novas medidas de austeridade. Mais um sinal de que Berlim vê a crise com os olhos hegemônicos de quem está bem e jamais se financiou tão barato com o medo dos investidores em relação aos seus pares na UE. O BCE terá dificuldades para implementar seus planos e não será com a Grécia, Portugal e Espanha. A última chance Desde hoje - e pelos próximos 45 dias - estamos à mercê do horário de propaganda obrigatória no rádio e na televisão, em dois turnos diários. Com as mesmas trucagens de sempre, com ilusões sendo vendidas ao eleitor em programas de custos cada vez mais milionários. Fazer política no Brasil tornou-se um grande negócio, tanto que há sempre alguém disposto a criar um partido político. Já são atualmente 30 legalizados e cerca de 10 em processo de elaboração. Poderiam ser mais úteis se fossem menos publicidade e mais políticos. Os debates eleitorais jornalísticos também estão perdendo o sentido, tais as amarras a que são submetidos. Bem ou mal, no entanto, nesse mundo do espetáculo político, a melhor forma do eleitor entrar em contato com os candidatos e tentar encontrar um bom nome (ou o menos pior) para votar. E é a última esperança dos candidatos que andam periclitando nas pesquisas eleitorais. Dará tempo ? O modo de se fazer, vá lá, propaganda eleitoral no Brasil, somado ao modo também de fazer político e ao isolamento que a maioria dos governantes e políticos com mandado costumam adotar, estão afastando cada vez os eleitores de seus representantes. A confiança é baixa e o entusiasmo nenhum. A política no Brasil está ficando profissional demais. No mau sentido. Mensalão : hora dos resultados Três tipos de resultados serão produzidos a partir das decisões dos ministros do STF nas próximas semanas em Brasília relativamente ao denominado mensalão : (i) de caráter subjetivo serão os efeitos decorrentes das sentenças sobre a vida pessoal e política de cada um dos acusados, especialmente no caso dos mais importantes ; (ii) de caráter objetivo serão as repercussões sobre os políticos e os partidos políticos. Neste item, já há sinais de que o PT começa a estar mais sensível em relação ao que ocorre no plenário do STF e acaba por desabar sobre a imagem pública do partido ; (iii) de caráter psicossocial, na medida em que a população formará uma percepção - certa ou errada, não importa - sobre como é feita a Justiça no Brasil. Neste último item, a forma e o conteúdo das discussões entre os ministros do STF concedem ao cidadão leigo uma compreensão obscura sobre o que de fato está em jogo. O STF deveria se ocupar em exercer um papel mais "pedagógico" e menos "midiático". Ou seja, mais informação e menos entrevistas. Isso acresceria à Suprema Corte uma imagem de defensora dos temas verdadeiramente republicanos que afetam a vida do país. Do jeito que se apresenta o debate no plenário, a imagem que fica é a de os ministros se guiam por "questões menores", o que não é o caso. Estes efeitos se entrelaçam e criarão um cenário ainda pouco certo sobre o futuro. A semana promete neste sentido. Radar NA REAL 17/8/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2343 baixa/estável baixa - REAL 2,0188 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.082,37 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.418,16 estável/alta alta - NASDAQ 3.076,59 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 14 de agosto de 2012

Política & Economia NA REAL n° 210

Inflação elevada e crescimento baixo A inflação ano a ano vem se comportando dentro da meta, mesmo que tenha ameaçado "transbordar" nos últimos anos. O problema é que a cada cinco anos a inflação acumula, no ritmo atual, algo como 20%. É um número e tanto e provoca distorções de todos os lados, dos balanços aos preços históricos considerados para fins de tributação. Este é um dos problemas mais sérios quando se é negligente na perseguição de números mais baixos de inflação. A acumulação de variações anuais de preços também corrompe as relações econômicas entre os agentes e destes com o Estado, sobretudo nas relações capital versus trabalho. De outro lado, o crescimento pífio deste ano e do ano passado, bem como a falta de sustentação do investimento nos últimos anos, tornam o país incompatível com a categoria de "emergente". Este é estrategicamente um problema crítico que precisa ser atacado pela administração atual com o custo de não aproveitarmos a dinâmica positiva conseguida a duras penas. E o cenário externo pode até melhorar. Se correr o bicho pega... ...se ficar o bicho come. Com sua habitual generosidade com o bolso alheio, o Congresso ampliou significativamente os setores com direito às mudanças na contribuição previdenciária no Programa Brasil Maior. E ainda acrescentou à MP 563 a isenção de impostos nos produtos da cesta básica. Em princípio, boas providências. A proposta de cesta básica originalmente é até do PT. Só que não levaram em conta as limitações do caixa do governo nem apresentaram medidas compensatórias. Sobrou para Dilma. Se ela vetar, vai contra o seu próprio discurso atual e contra medidas que estão para anunciar no pacotão. Se não vetar, compromete as contas do Tesouro Nacional já um tanto delicadas. A solução seria cortar outras despesas oficiais. Mas cortar despesas é um palavrão federal. Enfim, a primeira dobra do pacote Depois de muitos balões de ensaio e alguma vacilação, a presidente Dilma marcou finalmente para amanhã, numa reunião com os empresários, o anúncio do pacotão de medidas com as quais pretende reativar a economia brasileira. As linhas gerais já são conhecidas e visam desta vez mais o investimento do que o consumo. Haverá algumas limitações, principalmente no que diz respeito à diminuição dos impostos, porque o caixa oficial está muito baixo. E também uma limitação semântica : vão ser feitas "concessões" de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, não "privatizações", pois esta é uma palavra maldita em certas searas governistas. Assim como não serão feitos leilões, mas licitações. Filustrias à parte, o pacote não chega a tempo de dar uma sacudidela no PIB deste ano. Este já está dado e, com muito boa vontade, passa do 1,5%. O foco é 2013 e 2014, anos decisivos para os planos eleitorais da presidente. Por diversas razões, como mostram as greves dos servidores públicos, o passaporte político de Dilma ainda não está totalmente carimbado por seus parceiros. Depende de ela ser capaz de manter intacto o sucesso econômico e social herdado de Lula. Derrubar a máscara Fechado o pacote o governo não terá mais condições de manter a fachada de que vai fazer um superávit primário este ano de quase R$ 140 bi, algo próximo a 3,1% do PIB. Não vai dar. Já alguns comentaristas preparam o ambiente para que a medida não seja interpretada como um salvo conduto à gastança pública. O problema é que o que está crescendo mais no governo é o gasto de custeio, não o de investimento. Intriga nacional Com o aumento das dificuldades econômicas, as paredes de Brasília e alguns ouvidos em SP estão cada vez mais sobrecarregados com intrigas envolvendo a equipe econômica de Dilma. Há gosto de jogar a culpa de tudo em alguém. Como não pode ser a presidente nem quem já não está no governo... Um cenário externo mais favorável ? É certo que o cenário internacional tem colaborado decisivamente para que o país tenha um desempenho ruim em termos de crescimento, mesmo que os problemas estruturais (inflação alta, despesas correntes elevadas, competitividade industrial cadente, carência tecnológica, educação deficiente, etc.). Todavia, há uma mudança importante lá fora. O mercado financeiro e de capital está mais confiante e consistente, acreditando mais firmemente nas medidas de liquidez que podem ser introduzidas pelo Banco Central Europeu, bem como em função da recuperação do consumo nos EUA. Não deve ser algo episódico. Pode ser estrutural, ou seja, o início de um novo ciclo. E há mais : a China deve lançar medidas de estímulo ao consumo doméstico e, com isso, alavancar os preços das commodities, um ponto extremamente sensível ao Brasil. Não à toa, as bolsas de todo o mundo, inclusa a brasileira, andaram subindo com o ingresso de recursos novos de investidores. Não aposte contra Nossa melhor recomendação, conforme já apontamos nas últimas semanas nesta coluna, é que os investidores e agentes não devem apostar num cenário de mais pessimismo. Ao contrário, podem até ficar mais otimistas, mesmo que isso não deva retirar a necessária moderação diante de tantas variáveis. Os movimentos que estamos registrando no mercado internacional, mesmo num momento de férias no norte do Globo, são positivos e consistentes. Os fundos hedge, especulativos como são, perceberam certas mudanças no cenário, entre as quais no segmento de commodities (metais e agrícolas) e reverteram suas imensas posições vendidas. Ademais, o Brasil vai ter uma boa safra agrícola, no exato momento em que os EUA tiveram uma queda de produção substancial em função de razões climáticas. Uma relação inamistosa I Depois de um princípio de governo em que precisou recorrer algumas vezes ao ex-presidente Lula livrar-se de algum aborrecimento, a presidente Dilma Rousseff, a partir da série de demissões em que se viu obrigada a fazer por "malfeitos" praticados por auxiliares herdados do antecessor, deu cara própria a seu governo e firmou seu papel e sua liderança. Para desgosto de muitos petistas e lulistas, ela se livrou da sombra do ex-presidente. O governo, que começou Lula-Dilma, passou a Dilma-Lula e de um ano para cá, Dilma apenas. Lula virou quase uma "fotografia na parede", respeitado, mas com pouca influência. Uma relação inamistosa II A greve dos servidores públicos em plena efervescência, trouxe uma reviravolta. Na semana passada Dilma procurou Lula em SP e pediu a ele que interferisse junto às centrais sindicais para acabar com o movimento. Lula que sempre teve total ascendência sobre a CUT, o braço sindical do PT, também ganhou influência sobre as outras centrais depois que generosamente cedeu a elas, sem necessidade de nenhuma prestação de contas, uma fatia do imposto sindical. Um dinheirinho hoje que passa dos R$ 100 mi anuais. De novo a presidente volta a ficar dependente de Lula e do PT num momento em que parcela significativa do petismo ligada a Lula também está insatisfeita com a presidente. Isso porque ela está formando o seu próprio petismo (ou dilmismo) e está se envolvendo menos do que eles gostariam na campanha eleitoral em favor dos candidatos do partido. Ainda mais : mandou o governo publicamente ficar longe do mensalão. Uma relação inamistosa III A presidente também tem queixa : ninguém entende a força das greves Federais, com ânimos cada vez mais acirrados quando se recorda que a grande influência no sindicalismo público é da CUT. Dilma e Lula não se desentendem, mas seus partidários já não rezam sempre pela mesma cartilha. Passados o mensalão e as eleições haverá naturalmente uma reacomodação de forças no PT e na base governista. Confronto à vista ? O governo apresenta contas para mostrar que não tem recursos para atender a todas as reivindicações dos servidores Federais. Seriam mais R$ 92 bi de gastos por ano. Vai atender a duas ou três categorias apenas e se der algum aumento linear, ela será mínimo, quase simbólico. Seus argumentos : precisa de recursos para as políticas de incentivo ao crescimento da economia que vai lançar, para garantir o emprego dos assalariados privados, que não gozam das mesmas vantagens dos servidores públicos. Além do mais, estes já tiveram aumentos generosos nos tempos de Lula, bem acima da inflação, o que de um modo geral é verdadeiro. Os líderes dos servidores, porém, não querem conversa. Semana passada, as lideranças sindicais chegaram até a denunciar o governo junto a OIT. E estão recrudescendo o movimento, já atingindo a sociedade com prejuízos para alguns setores econômicos. O governo mostra pouca habilidade para negociar. Os partidos governistas já começam a ficar incomodados, com medo de alguma rebarba eleitoral. Lula, como Dilma pediu, vai se meter nessa encrenca ? Quem garante ? Em tempos de mensalão, greves dos servidores e pacote econômico, os dirigentes do PT e do PMDB arranjaram um tempo para um evento público em Brasília, praticamente ignorado pela imprensa, para reafirmar o compromisso do PT de apoiar candidatos do PMDB no ano que vem às presidências da Câmara e do Senado. Embora o compromisso já estivesse lavrado em papel timbrado, o PMDB via, com razão, movimentos do PT para fugir dele pelo menos na Câmara. Esta ação agora surgiu depois que o PMDB socorreu o PT na disputa pela prefeitura de BH. E tem o aval da presidente Dilma, com interesses especiais na eleição na capital mineira. Mas quem garante de fato que o compromisso será mantido até fevereiro do ano que vem ? Afinal, o PMDB e o PT vivem brincando de Tom e Jerry e os dois estão empenhados numa briga particular para ver quem cresce mais nas urnas de outubro. E o Senado ? Um dos obstáculos a esse entendimento pode se chamar Renan Calheiros. Preferido do PMDB à presidência do Senado, nem de longe ele é o candidato dos amores de Dilma e do PT. Há movimentos para levar o ministro Edison Lobão para o Senado para concorrer como candidato governista. Dilma daria duas cartadas : troca um ministro pouco eficiente e se livra de um incômodo. Renan ficaria reservado para concorrer ao governo de AL. Não se sabe se o PMDB todo concorda com isso. Além do mais, para Renan pegar o Senado é melhor ainda para ajudar sua candidatura a governador. O resultado dessas divergências pode ser açular uma candidatura da oposição com apoio de dissidentes governistas - até de petistas. O último suspiro Mais uma semana e entra no ar a campanha eleitoral obrigatória no rádio e na televisão, última oportunidade dos candidatos que estão rateando nas pesquisas de melhorarem suas avaliações. Espremidas entre os Jogos Olímpicos e o mensalão, que está provocando mais interesse do que se imaginava, as propagandas daqui para a frente terão de se desdobrar para atingir o eleitor. Nunca se viu, nas capitais e nas cidades médias, tão parco interesse por uma eleição como a de agora. O que, em tese, dá alguma vantagem para quem disputa a reeleição ou por quem é já mais conhecido do eleitor. O índice de reeleição este ano deve crescer em relação ao de eleições anteriores. Mensalão : começam os votos Os votos do ministro-relator Joaquim Barbosa e do revisor Ricardo Lewandowski serão os primeiros e devem encaminhar uma boa parte dos votos dos demais ministros do STF no julgamento do mensalão. Obviamente, esta é uma opinião precária de vez que são muitas as possibilidades de resultado deste histórico julgamento. Aliás, as previsões iniciais relativas ao caso, foram em larga medida frustradas. O que se vê são defesas relativamente acanhadas, frente à propagada capacidade jurídica dos defensores dos acusados e ministros concentrados em sua tarefa de ouvir e rejeitar recursos dilatórios. O problema de todo o caso será o confronto entre o que está nos autos e aquilo que está no imaginário popular. Como se sabe, a classe política não é exatamente dotada de grande credibilidade junto ao cidadão. Além disso, a corrupção e o descaso dos políticos com as causas, digamos, republicanas, faz com que o distinto público queira Justiça. Eventualmente, a custos elevados. O STF terá de lidar com isso e esta será a questão final do mensalão. Ainda sem explicações Seria, no mínimo, de bom tom que o ex-presidente Lula, o ministro Gilmar Mendes e o ex-ministro Nelson Jobim explicassem claramente os objetivos daquela reunião entre os três antes do início do julgamento do STF. Além disso, cabe explicações do procurador-geral da República sobre as pressões que teria sofrido. Muito se fala sobre coisas tão sérias e pouco se explica. Suzana von Richthofen, Nardoni e Mensalão Do blog de José Dirceu em 11 de junho último, reproduzindo o fraseado de Márcio Thomaz Bastos, o "God" (segundo seus colegas) : "A imprensa faz publicidade opressiva em casos de grande repercussão", observou o ministro dizendo-se tranquilo na constatação porque "mesmo integrando um valor constitucional da mais alta nobreza, a imprensa não está livre de sofrer críticas". Para ilustrar esse comportamento da mídia, Thomaz Bastos mencionou casos de grande repercussão como os de Suzane von Richthofen, presa porque mandou matar os pais tomando parte no crime; o do casal Nardoni, condenado e preso pela morte da filha/enteada Izabela; e o da atriz Daniela Perez, assassinada pelo colega da TV Globo Guilherme Pádua e a mulher deste, Paula Thomaz, que cumpriram pena e já estão em liberdade. Ao lembrar o processo von Richthofen, Thomaz Bastos o classificou como exemplo paradigmático de casos nos quais a opinião pública atropelou o devido processo penal e a estudante, acusada de mandar matar os próprios pais foi julgada em meio ao clamor público". A voz de "God" é a voz de quem ? Radar NA REAL 10/8/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2340 baixa/estável baixa - REAL 2,0287 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.280,93 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.405,87 estável/alta alta - NASDAQ 3.020,86 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 7 de agosto de 2012

Política & Economia NA REAL n° 209

Mensalão: os primeiros passos Ainda nos parece cedo para que se possa analisar o andamento do julgamento da ação penal 470 no STF. Afora o fato de o referido julgamento ter características específicas e inéditas, o noticiário sobre o caso está opaco, com as partes gastando tempo em relações públicas. Até mesmo os ministros da STF nos parecem excessivamente expostos num contexto em que estes terão de "dizer o direito" para os réus e a sociedade. Dos pontos que levantamos previamente em relação ao caso na semana passada vale acrescentar : 1. Os temores do PT em relação ao caso parecem substancialmente maiores do que poderiam ser aferidos previamente. O envolvimento de Lula no tema dá bem a conta do nível das preocupações. A "contaminação do partido" no processo eleitoral pode ocorrer; 2. A credibilidade do STF está sendo mais ameaçada pelas declarações dos advogados na mídia que pela influência da opinião pública. Alguns advogados parecem oscilar entre uma defesa dos réus perante a opinião pública e a "defesa técnica" requerida ao caso; 3. Muito embora contestada em certos aspectos "técnicos", o procurador-geral da República fez de sua fala uma descrição devastadora sobre a condução dos negócios públicos e privados no primeiro governo de Lula; 4. Dificilmente o julgamento da ação penal será um novo paradigma para os casos de corrupção que correm na Justiça brasileira. A especialidade do caso retira, a nosso ver, a esperança de que esta seja uma nova prática do Judiciário brasileiro em casos assemelhados; 5. Do ponto de vista "técnico" é possível que o julgamento do caso traga novidades no que tange às provas necessárias para que uma condenação penal possa ocorrer, especialmente nos casos dos tipos penais de "formação de quadrilha" e "corrupção". O STF pautará o assunto. A robustez das provas, sobretudo as testemunhais e documentais está sendo contestada pelos advogados de defesa; 6. Há considerável indiferença da cidadania em relação aos primeiros momentos do julgamento, apesar de toda a divulgação na mídia. A política está em baixa. Por conta da ignorância pública sobre o assunto, bem como em função da descrença de que existem homens públicos à altura dos problemas do país. (vide nota abaixo sobre as eleições). PT quer Ação Popular contra Gurgel A dimensão do incômodo que o julgamento da Ação Penal 470, o "mensalão", está provocando no principal partido que sustenta o atual governo é dada pela resolução de uma reunião na sede nacional do PT em SP que quer submeter o procurador-geral da República a uma Ação Popular. A justificativa para tal ação é a de que Gurgel gastou volumosos recursos públicos para "nenhum resultado relevante". Ao contrário, os advogados de defesa que se apresentaram no palco, ontem, embora contestem ponto por ponto das acusações de Gurgel, uns com algumas duras expressões, não o confrontaram diretamente. Parecem não querer ir na jugular de Gurgel para não mexer num vespeiro poderoso como o MP. Em ocasiões assim, as corporações sempre se fecham. Não esquecer que alguns poderes do MP estão sendo contestados no STF, o que o torna ainda mais unido. Eleições ? Que eleições ? Capítulo II As primeiras pesquisas do Ibope depois de liberada a campanha municipal nas principais capitais brasileiras indicam a indiferença do eleitor ainda em relação às disputas : menos de 30% indicaram saber quem são os candidatos em suas cidades. A audiência do primeiro debate entre os concorrentes em SP e RJ, na quinta-feira, respectivamente de 2 pontos e 1 ponto são sinais muito evidentes de que os eleitores ainda não estão nem aí para eleição, têm mais o que fazer como disse o ex-presidente Lula para explicar que não ligaria a televisão para ver o julgamento do mensalão. E o pior para os candidatos que precisam desesperadamente de exposição pública para sair do marasmo em que se encontram é que ainda vão dividir mais uma semana na mídia com a Olimpíada e mais um mês com o julgamento da Ação Penal 470, nascida mensalão. Pesquisa : quem perde o sono ? Fora Celso Russomano, o consumo de drogas contra a ansiedade deve estar crescendo vertiginosamente nos meios eleitorais de SP, em todos os ditos principais concorrentes. Serra e os tucanos precisam descobrir porque o candidato, de longe o mais conhecido de todos, não fura o teto dos 30%, e na última pesquisa do Ibope já baixou desse patamar. Os mais maldosos dizem que é o efeito Kassab. Assim como já há muito petista acreditando que o efeito Maluf está pesando demais nas costas de Fernando Haddad. "Fotografiazinha desastrada", dizia um adepto outro dia. Há, também, dois fatores que seguram Haddad no bloco de baixo : a de Lula, menos ativo até agora do que o necessário para dar gás ao protegido e a da presidente Dilma, de quem o petismo esperava um grande empurrão, mas que, pelas últimas informações, não quer meter por hora a mão na cumbuca paulistana. Vai cuidar apenas de seu predileto em BH, o de SP que outros embalem. Quanto a Gabriel Chalita, apenas cumpre a sina do PMDB em SP nos últimos anos, cada vez mais irrelevante politicamente. Parece que não há reza nem influência vice-presidencial que infle o balão do candidato peemedebista. Ainda é cedo para qualquer prognóstico. Porém, os grandes terão de fazer força maior do que esperavam para desalojar o candidato do PRB da altura onde está. Parece que subestimaram um pouco a influência da atividade de Russomano na televisão. E Lula ? O ex-presidente passou por uma extensa série de exames clínicos e de laboratório no Sírio-Libanês para avaliar suas condições físicas e saiu de lá com uma alforria para participar da campanha eleitoral a partir de hoje de modo que bem entender. Pelo menos esta foi a informação oficial. A prática se verá a partir de hoje. De toda forma, Lula deve participar com empenho de corpo presente em apenas quatro campanhas, em princípio : naturalmente do delfim Fernando Haddad em SP, de Patrus Ananias em BH, de Humberto Costa no Recife e de Luís Marinho em São Bernardo. A liberação médica, porém, vai aumentar a pressão para que o ex-presidente, com sua invejável popularidade, corra para socorrer outros companheiros e até aliados que vierem a enfrentar apuros com adversários. Os complicados desvãos do pacotão de agosto Antes de a presidente Dilma fazer seu périplo olímpico em Londres, as previsões oficiais são que o novo pacote de incentivo à economia deveria ser lançado esta semana, numa reunião festiva em Brasília com os empresários, hoje. As linhas gerais das medidas já estariam praticamente fechadas : - Redução do preço da energia elétrica; - Mais mudanças na cobrança da contribuição previdenciária das empresas; - Privatização (o PT e o governo preferem que se chame concessão) de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias; - Reforma na cobrança do PIS e da COFINS. Porém, o pacotão não foi apenas adiado : ele será também anunciado em etapas, com parte dele possivelmente apenas em setembro. A razão é simples : como as contas do governo estão emagrecendo a olhos vistos no lado da receita, e continuam sofrendo de obesidade no lado das despesas, e como as medidas implicam em renúncia de arrecadação, as maquininhas do mundo econômico oficial foram postas a funcionar para apresentar propostas que sejam de fatos viáveis, sem levantar suspeitas de que o governo abandona os planos de superávit fiscal robusto para pagar os juros da dívida e dar segurança ao BC para manter a Selic na rota da redução. Um obstáculo a mais Para complicar ainda um pouquinho, há a greve dos servidores Federais, que Brasília está tendo dificuldades de administrar. Ela não arrefece, pelo contrário, e vai obrigar o governo a abrir suas burras um tantinho mais do que esperava. Não havia planos, por exemplo, de dar nenhum aumento geral para o funcionalismo, apenas correções para algumas categorias como professores universitários e militares. Agora, o ministério do Planejamento espreme o orçamento para encontrar recursos para um reajuste que pelo menos cubra a inflação. Vendedor de automóveis ? O ministro Guido Mantega anunciou, com a antecedência de quase um mês, que o governo não vai prorrogar a isenção de IPI para carros fabricados no Brasil. A suspensão desse benefício significa, automaticamente, o aumento dos preços dos automóveis nacionais, hoje com peso significativo na formação do PIB industrial. Lutando para botar a economia num elevador com maior velocidade, nesta altura a suspensão do benefício pode diminuir de novo a venda de veículos e, consequentemente, estancar novamente a produção da indústria. Mas uma notícia dessas, vinda da autoridade competente, tende também a provocar uma corrida às lojas, com antecipação de compras antes que o preço suba. Aliás, já ocorreu. Há fila nas revendedoras para veículos mais baratos. A indústria não poderia escolher um propagandista melhor. E Mantega pode ter garantido preciosos pontinhos no PIB industrial nos próximos meses para chegar a seu compromisso de botar a economia crescendo a 4% ou mais no fim do ano. Concentração bancária ? A presidente Dilma, segundo informações que circularam na época, teria se manifestado contrariamente a uma possível venda de parte das operações do Santander no Brasil para uma das grandes instituições financeiras nacionais. A hipótese foi levantada no auge da crise da economia espanhola, quando não se sabia ao certo o tamanho do problema dos bancos de lá. A história da possível venda foi desmentida, o Santander, apesar da confusão em sua terra natal, permanece impávido, embora como todo o sistema financeiro mundial, inclusive no Brasil, com queda nos resultados. Dilma não teria apreciado o negócio porque tema uma concentração muito forte de negócios bancários no Brasil, tida como indesejável. Mas a realidade é que tal concentração já está ocorrendo, como mostrou reportagem do jornal "Valor Econômico" na semana passada. De cada R$ 100 emprestados no Brasil, R$ 80,34 foram desembolsados por apenas cinco bancos : BB, Itaú Unibanco, Bradesco, CEF e Santander. É o maior nível de concentração bancária no país dos últimos dez anos. Os ativos desses cinco bancos foram de 57% em 2007 para 86% do PIB agora. Herança maldita ? Um mau comportamento do balanço da Petrobras no segundo trimestre já era esperado pelos analistas de mercado. Mas era apenas uma queda no lucro, não um prejuízo de mais de R$ 1,3 bi (o lucro há um ano foi de R$ 10,9 bi). As razões já são sobejamente conhecidas e podem ser definidas com poucas palavras : o uso da empresa como instrumento de política econômica do governo, tanto para aceleração de investimentos como para o combate à inflação. O primeiro efeito desse resultado, além do natural estresse na bolsa, deverá ser a liberação para a empresa aumentar mais os combustíveis nas suas refinarias, agora sem a possibilidade de o governo compensar esse reajuste nas bombas com cortes na CIDE. O imposto já está zerado. Esse dado deverá necessariamente de ser considerado pelo Copom do BC em sua próxima reunião, no fim do mês, quando se espera uma nova baixa na Selic de 0,5%. A inflação parece que começa a apertar o cerco. Do ponto de vista político, a Petrobras, sem outra saída, começa a explicitar a "herança maldita" dos recentes tempos de bonança. Os limites da Graça A presidente da Petrobras pretende - ou pretendia - indicar uma pessoa de confiança para a diretoria internacional da empresa, como já fez em outras substituições promovidas por ela na diretoria herdada de José Sérgio Gabrielli. Acontece que o ex-diretor, Jorge Zela, era da cota do PMDB na empresa. E o PMDB de Minas, dono da vaga esse tempo todo, tinha outro candidato que não o de dona Graça Foster. Como os mineiros peemedebistas são considerados peças-chave na candidatura de Patrus Ananias, apadrinhado de Dilma, à prefeitura de BH, firmou-se o impasse. Para que lado penderá o coração da presidente : para o de sua amiga Graça ou de seu interesse eleitoral em dar uma lição nas urnas a Aécio Neves e Eduardo Campos ao mesmo tempo ? Estabilidade no exterior ? O desempenho dos principais segmentos do mercado financeiro e de capital no exterior foi muito bom nas duas últimas semanas. Das commodities às ações, os investidores estão apostando que o Banco Central Europeu irá implementar uma política monetária francamente expansionista para superar a crise no Velho Continente. Será uma verdadeira novidade em função das restrições germânicas a este tipo de estratégia "global", desprovida do viés nacionalista que prevalece nos diversos governos europeus. Bom, até agora, tudo está confirmado apenas pelas palavras de Mario Draghi, o presidente do BCE. Nenhuma palavra mais substantiva dos entes da federação confirma se Draghi tem poder e condições para efetivar esta estratégia. De toda a forma, se o BCE lograr sucesso nesta estratégia, esta notícia se somará a excelente notícia de que nos EUA a recuperação ganha consistência. Inclusive no vital campo laboral, neste momento eleitoral. Pesquisa : a quem interessa ? A CNT é uma entidade patronal, como o próprio nome diz, do setor de transportes, sustentada em sua quase totalidade pelo imposto sindical, ou seja, dinheiro público. Já é estranho que uma entidade com tais características patrocine uma pesquisa periódica de cunho meramente político, com serviços do Instituto Sensus. Mais estranho ainda ficou a iniciativa da direção da CNT de incluir na sua mais recente sondagem, divulgada na semana passada, de um item sobre as preferências dos eleitores brasileiros a respeito das longínquas eleições presidenciais de 2014 e incluindo entre uma das chaves com possíveis candidatos ninguém menos do que o ex-presidente Lula da Silva. Lula, obviamente, aparece dando um banho em Aécio Neves, com mais de 60% das preferências contra pouco mais de 10% do senador mineiro. Não é essa a questão, ninguém desconhece a popularidade de Lula, ainda intocada. As dúvidas são outras : a quem interessa, uma vez que Lula, quando não tem um ato falho, se diz carta fora do baralho ? Combinaram com a presidente Dilma, cada vez mais empenhada em fazer o seu próprio caminho e montar suas próprias fidelidades ? Radar NA REAL 3/8/12 TENDÊNCIA. SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2416 baixa/estável baixa - REAL 2,0281 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.255,22 estável/alta estável/alta - S&P 500 1.390,99 estável/alta alta - NASDAQ 2.967,90 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 31 de julho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 208

Dez observações sobre o "mensalão" A partir desta semana e, provavelmente, até o final de agosto, o noticiário estará recheado de notícias sobre o julgamento dos 38 réus acusados de um esquema de financiamento eleitoral, apoio partidário, tráfico de influência e tantos outros fatos - a também "alcunhada" Ação Penal 470. Não estamos relacionando "tipos penais", mas traduzindo a percepção que os crimes trazem à população. A despeito da importância do julgamento, relacionamos alguns aspectos que devem ser levados em consideração na análise da política e da economia. Vejamos : 1. É muitíssimo improvável que o julgamento influencie o andamento do mercado financeiro e de capital, a economia e os negócios; 2. O governo Dilma não se envolverá em nenhum aspecto do julgamento. O Congresso se envolverá e muito. Pode haver paralisia legislativa, motivada pelas eleições e pelo mensalão (vide nota abaixo); 3. Nenhum dos réus que serão julgados têm atualmente influência junto ao governo Federal, exceto em certas áreas de interesses específicas, como é o caso do ex-ministro José Dirceu; 4. A credibilidade do STF será testada, mas não de uma forma especial. Já houve casos em que o STF contrariou a opinião pública e sua credibilidade não foi "testada" no sentido que alguns dão à palavra; 5. A credibilidade de alguns ministros do STF será testada, principalmente aqueles que tenham impedimentos relativamente ao caso; 6. O julgamento do mensalão não é nem essencialmente político e nem essencialmente "técnico". Está revestido de múltiplos aspectos que lhe dão uma conotação "especial", "mista", o que desfavorece prognósticos razoáveis; 7. A imprensa estrangeira fará cerrada cobertura do julgamento e pautará a imagem do país mundo afora; 8. O PT sofrerá os efeitos políticos do julgamento, sobretudo por ser o partido do establishment político atual; 9. O resultado do julgamento e sua forma de condução farão jurisprudência relevante em casos relevantes no futuro e/ou a "competência originária" do STF será revista; 10. Ainda estão sem explicações a reunião de Nelson Jobim, Gilmar Mendes e Lula antes do mensalão, bem como o encontro de Paulo Okamoto, ligado à Lula, com Marcos Valério, a figura-mestra no esquema de financiamento do mensalão. Que influência terão no julgamento ? E Dilma ? A presidente ordenou peremptoriamente a seus ministros a não se envolverem num caso em que seu governo só tem a perder se se meter, e nada a ganhar. De sua parte, torce a favor dos réus, quase todos aliados seus e muitos de seu partido. Mas há cabeças pensantes da república de Brasília acreditando que, politicamente, não seria de todo mau se o STF desse um corretivo em alguns dos mensaleiros. Ela ficaria ainda mais livre de algumas amarras partidárias e livre do risco de alguns dos acusados voltarem à cena, com o diploma de inocente e vítima, cobrando espaços. Sem barulho O julgamento do mensalão deve ocorrer sem grandes manifestações públicas e passeatas, carreatas, plantões em frente ao tribunal, mobilização de massas e outros que tais antes prometidos ou imaginados por alguns acusados e seus apoiadores. Conclui-se que poderia ser daquelas táticas que poderia sair pela culatra. A voz agora, de preferência, só para os advogados. O silêncio, agora, é de prata, ouro e diamante. Há outros desafios para Dilma Nem só de mensalão viverão nesses dias o mundo político e o mundo oficial de Brasília. Dilma já determinou que seus auxiliares não se envolvam nessa história. Afinal, seu governo não tem nada com ela. Quem pariu esse "mateus" que o embale. A ajudinha que ela pode dar aos companheiros direta ou indiretamente envolvidos no processo é anunciar medidas positivas para tentar desviar um pouco o foco das notícias certamente negativas para eles que fluirão do prédio do STF. A agenda da presidente nesse dias contempla uma série de outros desafios, estes sim capazes de abalar (ou de melhorar) a imagem e a percepção da opinião pública a respeito de seu governo : 1. A greve dos servidores públicos não dá sinais de amainar, pelo contrário, está crescendo. Já há reflexos na economia e pode atingir brevemente os serviços para a população. Os dirigentes sindicais estão intransigentes e o governo toma atitudes erráticas : ora ameaça e toma atitudes severas, como mandar cortar o ponto e editar um decreto permitindo substituição de grevistas, ora acena com a possibilidade de rever punições e dar um aumento linear aos servidores, possibilidade antes veementemente negada. 2. Esboçam-se em setores privados algumas paralisações com grande poder de prejudicar a população, caso do selvagem (já) movimento dos caminhoneiros, com bloqueios de algumas rodovias estratégicas (Fernão Dias no sábado, Dutra no domingo e na segunda-feira). O Dia D para o governo dar uma solução para os problemas dos fretes, segundo os líderes da categoria é hoje. Até agora está restrito aos "fretistas" individuais, mas a questão é a mesma das grandes transportadoras. Com um agravante para o lado delas : as mudanças no regime de trabalho dos motoristas, justas por sinal, exigirão novas contratações e, portanto, aumentará também o custo dos serviços, já onerado com outros aumentos, com o do óleo diesel. 3. A presidente vai ter de se ajustar com a indústria automobilística, com ameaças de demissão nas montadoras de carros de passeio e demissões e suspensões de contratos de trabalho nas produtoras de caminhões. Dilma ameaça não prorrogar a isenção ou redução do IPI que vence em 31 de agosto, uma decisão equivocada nessa altura para quem quer incentivar o aquecimento da economia. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come : não pode obrigar a indústria a não demitir nem pode correr o risco de as vendas de carros sofrerem novos baques. 4. É preciso fechar o pacote de agosto, com novos incentivos ao florescimento do PIB, com mais incentivos fiscais, renúncias de receita, ao mesmo tempo em que a arrecadação tributária dá sinais de que não vai atingir as metas programadas para este ano. 5. Está na hora de dar um choque gerencial para valer no setor público. Quando se descontam a maquiagem e os disfarces, o que se vê é um ritmo muito baixo na execução dos investimentos públicos. 6. A presidente e seus operadores econômicos ainda não ganharam a batalha das expectativas dos agentes econômicos. Uma coisa é que eles dizem no Palácio ou em público, outra o que dizem na surdina ou como agem. 7. O Congresso volta ao trabalho amanhã, é certo que naquele ritmo pré-eleitoral, ávido ainda por um bom tratamento e com alguns temas explosivos no gatilho : Código Florestal, royalties do petróleo, fator previdenciário... Todos são "instrumentos de barganha". Tudo isso num cenário de eleição municipal no qual os aliados, apesar das aparências, mais se digladiam do que se entendem, a exigir uma constante vigilância da presidente para não se indispor com uns e outros e ter de apagar incêndios na Câmara e no Senado. Economia : a espera de medidas De uma forma geral, o governo tem diagnosticado corretamente as vulnerabilidades da economia brasileira, sobretudo aquelas relacionadas à desindustrialização do país. Todavia, falta ao governo, um plano "orgânico" para enfrentar tais vulnerabilidades. Assim, parece que a repercussão das medidas é limitada a alguns setores e não ao "sistema" como um todo. Aparentemente, o governo percebeu o erro e agora pretende tornar os efeitos das políticas mais macroeconômicas. A queda dos juros básicos, neste sentido, atinge este objetivo. Já o ajuste cambial, difícil de ser executado, não atendeu plenamente ao objetivo pleno de "proteger" a indústria. As medidas de crédito carecem de um diagnóstico completo : não basta reduzir as taxas (o que é essencial). É preciso ter confiança no futuro e é isso que falta. Não à toa, os investimentos privados capengam e os públicos estão em níveis deploráveis. Ao governo falta um choque de competência e ao setor privado, um choque de otimismo, com medidas críveis. Agosto trará novidades. Veremos se suficientes para acabar com a letargia econômica. Fora de foco ? A imprensa, no que diz respeito à lei de transparência pública, tem concentrado suas maiores preocupações na cobrança de divulgação dos salários dos servidores públicos, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, na União, nos Estados e nos municípios. É preciso, de fato, saber os abusos que se cometem nesta área. Porém, é preciso não negligenciar outros ramos da administração pública, ralos de dinheiro talvez muito mais daninhos. Os contratos do DNIT, por exemplo, podem trazer grandes revelações, assim como os da Funasa e de diversos órgãos de desenvolvimento regional e os repasses voluntários da esfera Federal para Estados e municípios. E os contratos com as ONGs ? Dariam grandes revelações ainda os contratos de publicidade e a contratação de serviços de assessoria de imprensa, de comunicação, de relações públicas e realização de eventos tanto pela administração direta e pelas empresas estatais. Outro filão está na contratação de consultorias. O campo é fértil. O governo gostou Os sorrisos não poderiam estar mais escancarados em Brasília, naqueles palácios do Executivo desenhados por Oscar Niemeyer, com o sucesso de público de ações oficiais como o combate aos bancos nos juros altos, o ataque aos planos de saúde e, mais recentemente, o golpe certeiro nas telefônicas de celulares. A moda pegou... Vem mais por aí. Mario Draghi tem procuração ? O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, tem sido um dos poucos líderes europeus que reúne bom senso, credibilidade técnica e, mais importante, capacidade de agir. Em meio à passividade geral dos líderes do Velho Continente diante das tragédias que se instalaram por lá, sobretudo na Europa Meridional, Mario Draghi sabe que não adianta ficar pregando medidas de austeridade diante da miséria social de países como Espanha, Grécia, Itália. Finanças em ordem é matéria ordinária. Expansão monetária para conter a recessão é matéria extraordinária. De toda a forma, ao dizer na semana passada que "o euro será salvo a todo custo", Mario Draghi apontou na direção correta. Os investidores, parcela bem informada da opinião pública, reagiram bem ao redor do mundo, mostrando para alemães e sua banda "fiscalista", que mais ação monetária é necessária. Resta saber se o italiano tem procuração de Berlim para falar coisas tão óbvias. Agosto negro para os gregos Nas negociações de agosto, Atenas não conta nem com o FMI, nem com o BCE e nem com a União Europeia para minorar os ajustes fiscais que terá de fazer para pagar as contas. Tentará fazer e provavelmente fracassará. Será uma batalha mais difícil que a de Salamina. Boa notícia para o Brasil ? Os fundos hedge persistem comprando posições no mercado de commodities. Trata-se do movimento mais forte dos últimos três anos e está ocorrendo mais forte nas últimas três semanas. Os administradores destes fundos acreditam que a China e, até mesmo a Europa, adotarão medidas de estímulos que serão suficientes para levantar os preços das commodities. Normalmente, os fundos hedge, dado seu caráter altamente especulativo, "sinalizam" mudanças relevantes nos preços dos ativos. Se confirmada esta tendência, haverá direta e decisiva influência sobre a bolsa brasileira, bem como sobre a pauta de exportações do país. Uma adesão capenga Hoje tem festa no Palácio do Planalto, com direito à presença dos presidentes-parceiros Cristina Kirchner, da Argentina, e José Mujica, do Uruguai, para a assinatura do documento de adesão da Venezuela como membro pleno do Mercosul. Mas será apenas uma cerimônia política, pró-forma. O país de Hugo Chávez, apesar de ter tido sua adesão ao bloco aprovada há vários anos, tendo ficado apenas na dependência formal da aprovação pelos parlamentos dos outros países, não tomou nenhuma iniciativa objetiva para adotar as medidas necessárias para sua integração de fato ao bloco. As possíveis vantagens econômicas só surgirão a muito longo prazo. Agora foi só política e, se quiserem forçar a interpretação, "diplomacia". Eleição ? Que eleição ? Os políticos já estão quase se matando, os adversários e até aliados. Mas quem anda pelas ruas, principalmente das grandes cidades, nem percebe que estamos distantes apenas um pouco mais de dois meses das eleições municipais. A não ser quem está diretamente no jogo, ninguém mais está interessado nos candidatos e seus cabos eleitorais. Esta apatia pode ser até um sinal de um certo amadurecimento político da população, como nos países mais avançados, nos quais a disputas eleitorais são fatos naturais. Mas podem ser também - na verdade é o que mais parece - um sintoma da decepção dos cidadãos com a política no país, seu modo de ser e de fazer. Como a política é essencial, em algum momento esta situação vai virar - e virar-se contra os que estão hoje em cena no mundo dos políticos. De fazer inveja aos mineiros Dados do TSE indicam que em 106 dos 5.568 municípios brasileiros não haverá disputas eleitorais em outubro : neles só há um candidato a prefeito, indicação de falta de ambição, o que sobra no restante do país, e/ou de um grande espírito de conciliação e desprendimento, mercadoria em falta quase sempre no mercado político tupiniquim. Mas nenhum município supera, nesse quesito, o de Mato Queimado, no noroeste do RS. Com 16 anos de existência e 1,8 mil habitantes, nunca teve uma briga pela prefeitura. Os líderes dos quatro partidos da cidade (PT, PMDB, PTB e PP) se reúnem a quatro anos e escolhem um candidato único. Não há também oposição na escolha de vereadores : todos os candidatos concorrem numa chapa única, da coligação. E ainda são os gaúchos que carregam a fama de turrões, enquanto os mineiros desfrutam a de eternos conciliadores. Radar NA REAL 27/7/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2244 baixa baixa - REAL 2,0292 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.553,12 estável estável/alta - S&P 500 1.385,87 estável alta - NASDAQ 2.958,09 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________