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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 24 de julho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 207

O pacote de agosto e suas restrições I Está nos altos fornos da equipe econômica, sob o olhar sempre e cada vez mais atento da presidente Dilma Rousseff, uma nova rodada de medidas para turbinar o crescimento do PIB nacional, com foco agora mais nos investimentos do que no consumo. Prepara-se um "grandioso" evento, com direito ao foguetório marqueteiro que tem marcado os anúncios das políticas públicas de Dilma, como ocorreu na semana passada quando prefeitos das cidades brasileiras de mais de 250 mil e menos de 700 mil habitantes voaram para a capital da República para receberem a notícia de que podem contar com R$ 7 bi do governo central para projetos de mobilidade urbana. O pacote de agosto e suas restrições II O lançamento está cercado de grande expectativa, pois - como revelou a jornalista Claudia Safatle no jornal "Valor Econômico" - Dilma estará inaugurando a "segunda fase" da política econômica de seu governo. O forte, especula-se, será a abertura de mais concessões públicas nas áreas de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e hidroenergia. Haveria também redução das tarifas de energia elétrica, com o governo abrindo mão de algumas taxas penduradas na conta de luz, e alterações na forma de cobrança do PIS e da COFINS. E algo mais que a cachola burocrática expelir de última hora para tornar o pacote mais apetitoso. Um deles pode ser a redução nas contribuições previdenciárias das empresas para outros setores além dos já agraciados recentemente. Esta segunda parte implica em o Tesouro Nacional abrir mão de parcelas de sua arrecadação, o que pode colocar em xeque um dos sustentáculos da política econômica, pelo menos em tese : o superávit primário. Realismo e ideologia No PT já há discussões sobre a "contaminação" do governo Dilma pelo micróbio privatista de FHC. Afinal, o novo e correto pacote do governo busca essencialmente a atração do setor privado para o processo de investimento. Isso requererá que o setor privado encontre possibilidades concretas de lucro no futuro e um ambiente regulatório confiável capaz de ultrapassar a atual e as próximas administrações. O PT sabe disso, mas faz que não sabe. Além disso, por debaixo da saia do governo não são poucos os lobistas petistas enfronhados nos "novos" negócios do governo Federal. A ideologia ? Bem, esta fica para a militância bobinha... E o pré-sal ? Pelo menos pelo que se sabe até agora, o pacote de agosto não incluiu licitações de novas áreas para a exploração de petróleo, incluindo o pré-sal. Desde 2007 o governo não faz um único leilão de áreas marítimas, com bloqueios, portanto, de investimentos estrangeiros. Durante um tempo explicou-se a suspensão desses leilões pela necessidade de se estudar melhor a posição das reservas do pré-sal. Desconfia-se, no entanto, que o atraso visa preservar a situação da Petrobras, sem capital suficiente para entrar pesado nesses leilões. Há sinais de que companhias estrangeiras do setor já estão virando os olhos para outros mercados. Teles : lembrando Nelson Em tempos menos raivosos do "politicamente correto" e de mais bom humor no país, a seu modo de provocar polêmica, o escritor Nelson Rodrigues criou uma frase, a respeito das relações conjugais, que pode se encaixar muito bem nesta conturbada relação do governo e da Anatel com as empresas de telefonia celular. "O governo pode não saber bem porque está batendo nas teles, mas elas sabem perfeitamente bem porque estão apanhando." Elas negligenciaram e as autoridades vacilaram. Eis os fatos onde não há mocinhos. Registre-se a interferência direta do governo. Foi dele a ação para a Anatel, em tese uma agência independente, agir com a dureza que agiu. O que não é bom para a imagem de uma administração que se prepara para promover uma série de concessões de serviços públicos para a iniciativa privada, processo no qual a confiança do investidor na estabilidade das regras e na autonomia dos órgãos reguladores é essencial. A parte oficial De mais, a punição das companhias, com a apresentação de novos planos emergenciais de investimentos, por si só não resolve os problemas dos serviços em visível deterioração, se o governo não botar também seu bloco da rua : 1. Apressando a já mais do que atrasada nova lei geral de telecomunicações no Brasil. 2. Resolvendo com os Estados e municípios a questão dos obstáculos à instalação de antenas. O risco é o vexame do 3G e do 4G na Copa do Mundo. 3. Não der mais autonomia, inclusive financeira, à Anatel, para fiscalizar as teles e proteger o consumidor, inclusive liberando os recursos do Fust e do Fistel que estão represados para engordar o superávit primário das contas públicas. O primeiro é dinheiro que o contribuinte paga para a universalização dos serviços de telecomunicações ; e o segundo, para fiscalização do sistema. 4. Não reduzir a pesada carga tributária para o setor, aproximando-se de 50% da conta paga pelo consumidor, um insumo essencial na economia da informação deste século. Frouxidão fiscal ? I A grande dúvida é se o governo vai sustentar sua promessa de fazer este ano uma superávit nominal de R$ 139 bi, cerca de 3,1% do PIB, economia de recursos compartilhada também com Estados e municípios. Esta meta é considerada essencial para manter a confiança dos agentes econômicos e assegurar a credibilidade da política de redução de juros. O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, tem garantido que o a promessa de superávit será cumprida. E que os investimentos públicos não serão prejudicados, pois não há incompatibilidade entre as duas coisas. De fato não há, ou não deveria haver. Mas os números da execução financeira do Tesouro, até abril, e a revisão da programação orçamentária, divulgada na última semana, levantam dúvidas. Vejamos. Frouxidão fiscal ? II A começar por duas informações básicas : já chega a R$ 23 bi a queda na previsão de arrecadação para este ano; os investimentos Federais até agora cresceram pouco mais de 2% em relação ao ano passado ao mesmo tempo em que as despesas com a máquina pública subiram mais de 10% no mesmo período. Para não propor mais cortes nos gastos por causa de tais resultados, o que o mundo político execra sempre e mais ainda em anos eleitorais, o Tesouro já partiu para algumas prestidigitações, revisando para cima as previsões de receitas "atípicas" e cobrando mais transferência de dividendos das empresas estatais. Por isso, juras à parte, sussurra-se cada vez com mais estridência na capital que a meta de superávit será alterada, descontando-se do prometido pelo menos R$ 40 bi de despesas do PAC. Eles também vão pagar O ministério da Fazenda está prevendo uma diminuição de R$ 4,9 bi nas transferências obrigatórias para Estados e municípios, pela redução na arrecadação do IR, do IPI e da Cide. Os dois últimos em parte por causa da concessão de isenções fiscais. Prefeitos e governadores estão com os cabelos em pé porque estão pagando parcelas das "bondades" concedidas pelo governo Federal sem nenhum reconhecimento. Mais um nó para Dilma A Câmara, já a caminho da farra eleitoral, incluiu numa das MPs aprovadas no fechar das luzes do primeiro semestre, um artigo isentando totalmente os produtos da cesta básica da cobrança de IPI, PIS e COFINS. Medida socialmente justa, principalmente porque beneficia as camadas de renda mais baixa, mas que deixa os arrecadadores do governo de orelha ardendo. O governo quer barrar a proposta no Senado, para não forçar Dilma a um veto impopular num momento em que ela já está desgastada com o funcionalismo público. Os senadores toparão assumir o desgaste ? O curioso é que a medida foi incluída na MP por sugestão da oposição, que reativou um projeto já existente na Câmara de autoria de deputados do PT. Eles chiaram com a "traição" mais não tiveram coragem de votar contra. O BNDES e seus grandes negócios O BNDES não está se dando bem no ramo das carnes, um de seus maiores investimentos nos últimos anos. Segundo levantamento do jornal "Valor Econômico", o investimento do banco dos grandes negócios com recursos públicos tem um valor de R$ 2,56 bilhões menor do que quando foram realizados na JBS, na Marfig e na BRF - Brasil Foods. Sem contar as perdas no Frigorífico Independência. Boa capacidade de previsão econômica é isto, o resto é sonho. A ausência de "visão holística" Nota-se pelas notas acima que a política econômica do governo é um amontoado de medidas as quais poderiam ser maximizadas pela adoção de um plano capaz de orientar todo o governo na área econômica. Vejamos. 1) O governo diz que prima pela orientação estatal dos investimentos, mas a sua competência é duvidosa. 2) Reconhece o BNDES o atraso tecnológico da indústria, mas resolveu investir pesado no pulverizado e pouco tecnológico setor de frigoríficos, cuja governança é, digamos, no mínimo, duvidosa. 3) Tenta atrair o setor privado para os investimentos, mas o principal partido que sustenta o governo sente-se preocupado com os impactos "ideológicos". 4) Prega a transparência nas contas públicas mas faz ginásticas contábeis para a obtenção do superávit fiscal projetado pelo próprio governo. Por fim, talvez o governo não tenha um articulador das políticas governamentais porque os membros do establishment tenham medo da personalidade, digamos, forte, da presidente. Serviço incompleto O Congresso foi para as férias de meio do ano, das quais só retornará para valer em fins de outubro, depois do segundo turno das eleições municipais, deixando uma série de sérias pendências para trás, coisas cujas soluções não podem passar deste ano, tais como o novo Código Florestal e as novas regras para divisão dos royalties do petróleo e dos minérios. O mais urgente de todos, pois tem prazo inadiável para o fim do ano, estabelecido por determinação do STF, é a reformulação das regras do Fundo de Participação dos Estados. Haverá tempo suficiente em novembro e dezembro para aprovar esses novos projetos além da obrigação de decidir sobre o Orçamento de 2013 ? A Europa : Espanha, Itália e Grécia A crise na Europa caminha a passos de lebre e a solução da crise vem a passos de preguiça. No caso, de preguiça alemã. Como já comentado amplamente na imprensa internacional, o pacote do Banco Central Europeu para o sistema financeiro espanhol foi insuficiente para dar liquidez aos bancos e suficiente para atrair toda a especulação possível para o país. O regulador do mercado de capitais espanhol teve de proibir as operações de "venda a descoberto" para evitar que a especulação com as ações de bancos ganhasse ainda mais vigor. A situação é crítica e muitos bancos e médios correm o risco de entrar em colapso. Do lado da Itália, o governo "tecnocrático" tão acreditado pelo "mercado" não consegue reduzir o custo de rolagem da dívida italiana. Desta forma, as contas fiscais vão se agravando e o futuro do crescimento econômico está sendo comprometido pelo crescente endividamento do país. A especulação dos investidores a cada leilão de dívida é generalizada. Já a Grécia, a "Tróika" (UE, Banco Central Europeu e FMI) desembarca na capital dos helênicos para não fazer nenhuma concessão ao duro pacote de medidas de austeridade que a UE impõe aos gregos. Esta é a "chave" para que a Grécia saia do euro. Cumpre-se, desta forma, a estratégia alemã que considera o país um "mal menor" no Velho Continente. A caminho da depressão Teremos muita emoção vinda da Europa nos próximos dias e semanas. O momento é decisivo. Parece-nos que a Espanha está próxima de um colapso semelhante ao primeiro débâcle da Grécia e que o seu sistema financeiro pode sofrer uma insolvência espetacular. Como é notório na Europa, há uma tendência a sublimar ou subestimar a crise, mesmo quando milhões começam a tomar o caminho das ruas, seja para protestar, seja porque simplesmente foram despedidas. A Alemanha faz um papel vergonhoso. Foi sócia da irresponsabilidade fiscal do Continente, dos gregos aos franceses, passando pelos irlandeses, espanhóis, italianos e por aí vai. Agora se comporta como sempre o fez : a Alemanha acima de tudo. No passado, isto foi resolvido por meio de duas guerras mundiais. Desta feita, a solução poderá vir por uma depressão semelhante ou superior a de 1929 e anos seguintes. A Grécia deve sair do euro em breve. O euro é a pálida imagem daquilo que se imaginava de um sistema econômico de colaboração. O jogo político nas eleições municipais À medida que avança a corrida eleitoral nos municípios, aumentam as especulações em Brasília e nas capitais estaduais sobre o quadro político que se seguirá ao resultado das eleições. Do lado do governo, especula-se com a informação de que a presidente vai aproveitar quedas e subidas eleitorais, fidelidades e traições de outubro, para reformular sua base de sustentação parlamentar, para tornar mais coesa, dentro do princípio, menor e mais confiável. Alguns partidos, dados a muitas infidelidades e cobranças demais, tipo PR, PSC e PTB seriam expelidos e outros, como o PMDB, novo bom menino da praça, seriam mais apreciados e agraciados. O problema é saber se os "novos" fiéis serão fiéis mesmo, pois nem sempre as grandes dores de cabeça de Dilma (assim como antes com Lula e FHC) vieram das pequenas legendas. Os maiores amigos costumam ser os piores. O lado dos partidos pós-eleições Do lado dos partidos fala-se em fusões de legenda (o PMDB estaria saindo na frente para atrair parceiros) e em conquistas de adesões individuais. Os dois parecem movimentos fadados ao fracasso, servem na verdade para fazer barulhos e assustar adversários. As fusões parecem quase impossíveis porque nenhum cacique, dono de partido vai renunciar a dois patrimônios valiosos : o tempo no horário obrigatório no rádio e na televisão e as verbas do fundo partidário. Nesse caso, surpresas quase impossíveis à parte, o máximo que se pode esperar é formação de alguns blocos ou blocos partidários para atuação conjunta no Congresso. As adesões individuais de peso, de gente com mandato, esbarram nas normas da fidelidade partidária estabelecidas pela Justiça. Poucos se arriscarão a cair nelas e perder o mandado, enquanto não forem amainadas. A cigana está enganando ? Ensina a prudência política, a proverbial de Minas Gerais ou qualquer outra, que é bom olhar com um pouco de ceticismo qualquer pesquisa eleitoral, ainda mais nessa fase na qual as campanhas estão começando a ir para as ruas, faltando ainda mais de dois meses para a abertura das urnas em primeiro turno. Sinais emitidos pelas sondagens iniciais de diversos institutos somadas a certo faro político mais aguçado estão indicando que alguns caciques políticos podem ter dissabores em outubro, que podem ter sido enganados por ciganas de sua confiança. Haddad, a esposa e o marqueteiro Aparentemente, no caso de Fernando Haddad, será seguido o roteiro das campanhas norte-americanas, nas quais conhecer a esposa do candidato é vital para a formação da opinião pública. Ana Estela há de aparecer no vídeo e dará sua visão sobre saúde pública, bem como sobre as virtudes do marido. Ou seja, além de conhecer o desconhecido Haddad, o eleitor conhecerá a desconhecida esposa do desconhecido. Uma estratégia de marketing que deve ter as suas mensuras bem apuradas pelo "cientista" João Santana. Fundamentos da política no Brasil O "negócio" eleitoral no Brasil está ficando assim então : o candidato consegue um "padrinho", um cacique de um partido. Aí ele, o cacique, alija todo mundo do processo interno de escolha do candidato. Depois o padrinho arruma uma coalizão de outros partidos, a mais vasta possível e fecha acordos subterrâneos às custas da futura administração do apadrinhado. Tudo para conseguir horário de TV que será preenchido por um sábio marqueteiro contratado a preços altíssimos que adota uma estratégia revolucionária que torna o digníssimo eleitor uma audiência quase ovina para tudo que foi programado. Enquanto isso um tesoureiro bem informado dos negócios do território eleitoral vai percorrendo com a sua mala as salas dos poderosos de plantão. Estes últimos, temerosos das viradas das pesquisas desta e de futuras eleições depositam seus recursos nas contas do partido - esta é a forma usual. A final da corrida eleitoral temos a apuração de recursos e votos. O cacique terá de negociar ambos. De novo. Russomano, no topo Não há surpresas, ao contrário do que dizem os jornais, nas pesquisas dando conta do empate técnico entre Serra e Celso Russomano. Este empate mostra com perfeição o momento e o cenário com o qual o eleitor se defronta na eleição paulistana : desconforto com os candidatos, com as alianças, com o desconhecimento dos programas, com a atual gestão e assim vai. Russomano consegue cabalar votos dentre estes desgostosos e "perdidos", sobretudo das classes mais pobres e ligados às igrejas pentecostais. Além do candidato ter considerável presença na mídia. O problema disso, é que não será um processo simples e rápido como os marqueteiros imaginaram "extrair" Russomano da corrida, se isso for possível. Ele pode ter vindo para ficar, inclusive perto dos patamares superiores. Isto não é uma previsão. É uma possibilidade. Que os marqueteiros nem sequer admitiam. Quadrilha Um poema do mineiro Carlo Drummond de Andrade, recentemente homenageado na Flip, com o título acima : João amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lilique não amava ninguém.João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandesque não tinha entrado na história. Nos prolegômenos que cercam as defesas prévias no processo do mensalão vai-se para o mesmo "encilhamento" : Duda acusa Valério, que acusa Dirceu, que acusa Delúbio, que não acusa ninguém. Apenas uma observação : se todo mundo está passando a bola da responsabilidade para o outro, vai para o ralo a alegação de que o mensalão não existiu. Como culpar alguém por algo que teria sido um delírio coletivo ? Radar NA REAL 20/7/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2087 baixa baixa - REAL 2,0406 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.194,79 estável estável/alta - S&P 500 1.362,66 estável alta - NASDAQ 2.925,30 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 17 de julho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 206

De Dilma para Dilma. Com ardor I Para os eleitores brasileiros e até para os candidatos às urnas de outubro, as eleições deste ano são municipais. Não é assim, porém, para o establishment político-partidário, no situacionismo ou no oposicionismo Federal. Para os caciques e seus agregados é apenas um rito de passagem necessário e importante para 2014. Lula já havia botado suas fichas na mesa desavisadamente, como não querendo, mas querendo, quando no programa do Ratinho anunciou que poderá se candidatar a um novo mandato se Dilma não quiser ou não puder. Por que Dilma não quereria ou não poderia ? - perguntou-se aos quatro quadrantes, inclusive naquele Palácio situado num dos triângulos da Praça dos Três Poderes. De Dilma para Dilma. Com ardor II A resposta veio logo, firme e sem meias palavras : ela pode, quer e vai brigar. De forma inusitada para quem era - e não escondia - avessa ao joguinho miúdo do mundo dos políticos. Dilma deixou de lado a cautela de quem não pretendia botar muito a cara nas sucessões municipais, para não se incompatibilizar com nenhum aliado, tantas as divisões deles nos municípios, e saiu para botar ordem na casa, diretamente em duas disputas cruciais - SP e BH. Ilude-se quem pensa, porém, que ela agiu para dar uma mãozona ao PT e até ao grande companheiro Lula, cujas operações políticas nessas duas capitais, especialmente em SP, com a ameaça de um isolamento de Fernando Haddad, estavam azedas. Cirurgicamente Dilma deu a Secretaria de Saneamento do Ministério das Cidades para um correligionário de Paulo Maluf e jogou o PP nos braços de Haddad. Lula foi apenas aos jardins malufistas para posar para a foto. Em BH botou o PMDB e o PSB na chapa do petista Patrus Ananias, depois do rompimento da aliança PSB/PT, por obra de ajustes entre o senador Aécio Neves e o governador Eduardo Campos. De Dilma para Dilma. Com ardor III Dilma foi exatamente tentar implodir as pedras em seu caminho de 2014 e deu seu recado de que está viva. É coincidência apenas que tenha sido na mesma direção dos interesses do PT. Em seguida, a presidente começou a assentar seu próprio caminho, em seguidas reuniões no Palácio da Alvorada, fora do horário de expediente para não parecer que faz política eleitoral quando deveria estar trabalhando. Acertou-se com o PMDB, de Michel Temer, que andava desconfiado das intenções da presidente para o futuro com ele; com o PSB de Eduardo Campos, a quem havia contrariado nas manobras mineiras; e com a bancada do PT, pelo menos parte dela. Recato presidencial ? Agora, se não houver mais ruídos, ela se recolherá a certo recato eleitoral, como chegou a ser anunciado oficialmente pela ministra Ideli Salvatti. Qualquer resultado eleitoral que não seja o fortalecimento da oposição é bom para ela. Outros movimentos políticos agora apenas depois do segundo turno e até fevereiro, após as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, quando então deverá haver ajustes nos ministérios. Ficaram restos a pagar - Gilberto Kassab, PMDB mineiro - e contas a cobrar. Tudo isso não quer dizer que Dilma está com menos apreço, menos gratidão e menos respeito por Lula. Tudo permanece intocado. Mas o momento político dela, a não ser o desejo de botar a oposição definitivamente de joelho, não é exatamente o mesmo momento político do antecessor e benfeitor. Nem todos, porém, confiam Apesar dos movimentos da presidente, alguns aliados ainda não dão como certo que a sucessão de 2014 transcorrerá entre Dilma e um oposicionista, possivelmente Aécio Neves. 1. Os mais lulistas do PT não acreditam que o ex-presidente está fora do tabuleiro, até porque se sentem alijados da linha de frente do governismo, com o nascimento de uma espécie de PT da D (PT Dilma) em oposição ao PT do L (PT do Lula). 2. Michel Temer, com todos os cuidados, deixou claro em entrevista a Eliane Catanhêde, na "Folha de S.Paulo", que o PMDB não descarta concorrer com candidato próprio. Se o partido se destacar em outubro, a crista peemedebista vai crescer. 3. Eduardo Campos e seu PSB também dependem das urnas municipais para uma avaliação melhor de suas reais possibilidades. E todos estão de olho numa só questão - o desempenho da economia. Uma fonte de legitimação de qualquer governo hoje pelo mundo, além dos votos nas democracias, é o grau de satisfação dos eleitores com sua situação econômica e a qualidade de vida que tem. Nenhum governista acredita que Dilma vai poder ser candidata à reeleição se não garantir o leite das criancinhas. Novos articuladores Depois que a imagem de Lula como um articulador político infalível ficou comprometida por alguns tropeços cometidos por ele nos últimos tempos, dois outros nomes passaram a ser incensados em certas rodas movidas a cabrestos como novos gênios dessa raça - Gilberto Kassab, do PSD, e Michel Temer, do PMDB. Do lugar onde se encontram observando o cenário político brasileiro atual, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e outros da mesma estirpe devem estar, como diria Eça de Queiroz, tendo "frouxos de riso". A chave do crescimento mundial Na semana passada, a China anunciou o menor crescimento do PIB desde o início da crise financeira internacional, em setembro de 2008. As reações mundiais não foram propriamente de surpresa, mas de expectativa de como o governo comunista de Pequim iria reagir diante deste fato. Nesta segunda-feira, veio a primeira resposta do premiê chinês Wen Jiabao que anunciou medidas de estímulo ao investimento externo, bem como redução da taxa de juros e reservas bancárias. Uma receita tradicional que deve ser seguida, com menores efeitos, pelo Fed e pelo Banco Central Europeu (apesar deste enfrentar enormes divergências internas). O risco da política chinesa é a continuidade de substanciais desequilíbrios internos. Setores como o de construção civil persistem relativamente aquecidos e inflacionados, enquanto o setor industrial sofrem os efeitos da crise internacional. Especula-se no mercado internacional o quanto a China poderia gastar numa nova política de estímulo fiscal. Em novembro de 2008, os gastos foram da ordem de US$ 500 bi. A maioria dos analistas acredita em um número superior neste momento. Mudança de rumo Desde o início do primeiro trimestre deste ano, os fundos hedge, os quais especulam em diversos segmentos do mercado internacional, estavam apostando firme na queda dos preços das commodities em função da queda contínua da atividade industrial chinesa nos últimos trimestres. (A China consome 11% do petróleo produzido no mundo e 40% do cobre, apenas para citar dois exemplos). Pois bem : desde as primeiras notícias sobre o possível pacote de estímulo à economia chinesa, estes fundos reverteram suas posições baixistas e passaram a apostar na alta das commodities. Cabe observar cuidadosamente este movimento de vez que este deve ter influência decisiva sobre a economia brasileira e a bolsa local. Ainda é cedo para qualquer prognóstico, sobretudo porque o sucesso da política chinesa dependerá do aumento do consumo doméstico às custas da obtenção da poupança externa via saldo comercial, um dogma econômico até agora do governo chinês. Relembrando Keynes e Hoover Dizia Keynes que "o capitalismo é muito importante para ser cuidado pelos capitalistas". O mundo de hoje é mais estranho : os comunistas estão cuidando do capitalismo. J. Edgar Hoover ficaria boquiaberto. Brasil, na expectativa Dificilmente os efeitos das medidas adotadas pelo governo para retomar um nível mais elevado da atividade econômica surtirão efeitos substanciais. O endividamento das famílias, a insegurança com o emprego e a contenção do investimento privado e público adormeceram as melhores expectativas de crescimento. Isso tudo num ambiente internacional altamente negativo. De toda a forma, o fato novo, para o bem e para o mal, é a fragilidade da economia chinesa. Dependendo da reação de Pequim, o Brasil pode ter melhores dias. Falta de líderes Convenhamos que a crise internacional é terrível. Ceifa esperanças de gerações, de famílias e cria uma instabilidade política que contrai ainda mais o cenário econômico. Todavia, quando vemos os líderes do G-7 ficamos ainda mais alarmados. Não passam de governantes de suas paróquias, preocupados com efeitos imediatos e eleitorais e sem uma visão abrangente. Não saem às ruas para lutar por ideias que valem a pena. Apenas para coletar votos por meio de discursos preparados por marqueteiros. Este é talvez o maior problema da crise atual. Peugeot e Hollande Será muito curioso sabermos como o presidente francês François Hollande exercerá a sua "intolerância" aos planos do Grupo PSA Peugeot Citröen de fechar uma fábrica o que resultará no corte de aproximadamente 14 mil empregos. O assunto ganhou vastos contornos políticos e entrou no debate nacional, sobretudo depois da ameaça presidencial. Afinal, qual o poder que o presidente tem para evitar esta tragédia ? Sobretudo, quando a empresa francesa acaba de ter sua qualidade de crédito rebaixada e o risco de inadimplência aumentou... Delírios sobre a classe média Do economista Marcio Pochmann, ex-presidente do IPEA e candidato à prefeitura de Campinas pelo PT : "A grande maioria dos empregos criados foi de no máximo um salário mínimo e meio, e no setor de serviços. No conceito de classe média, as pessoas estão em carreiras em que o aumento da escolaridade aumenta também a renda. São funcionários públicos, professores, bancários. Não é o que acontece no Brasil agora. Se a pessoa é motorista de ônibus, não adianta fazer um pós-doutorado que não terá um salário maior." Do sociólogo Amaury de Souza : "A discussão relevante é sobre a permanência dessas pessoas que ascenderam à classe média. Temos que analisar qual o risco de elas voltarem a ser pobres. Isso vale para o Brasil e para o mundo, porque o crescimento da classe média é mundial e é um efeito da globalização." O desafio do mundo político é entender como esta dita "nova classe média" ou "classe média do Lula" se comportará eleitoralmente. Renovadora ? Emulará o comportamento da velha classe média ? Os suspeitos Depois de 57 dias de greve os professores das escolas de ensino superior Federal receberam uma proposta de reajuste salarial e não gostaram do que ouviram. Ficam pelo menos mais uma semana parados. A operação padrão dos auditores fiscais da Receita Federal está atrasando a liberação de mercadorias importadas em portos e aeroportos e na Zona Franca de Manaus há indústrias com produção reduzida ou parada por falta de insumos e componentes. Segunda-feira, mais um grupo de servidores Federais das agências reguladoras entrou em greve juntando-se, segundo cálculos dos dirigentes sindicais, a outros 300 mil, em diversos órgãos, que já estão com os braços cruzados. Os sindicalistas públicos prometem ainda transformar a esplanada dos ministérios esta semana em que um grande acampamento de funcionários insatisfeitos. A esta altura, a presidente Dilma já deveria estar se perguntando - se ainda não está - como assim tão de repente o "instinto animal", tão adormecido na era Lula, foi despertado. E não deve procurar os velhos bodes expiatórios, os suspeitos de sempre - a oposição e a crise internacional. Eles estão mesmo é dentro de casa. Mensalão : salve-se quem puder ? A proximidade do julgamento do mensalão parece que está também despertando o "instinto animal" da sobrevivência entre os acusados. A leitura dos memoriais apresentados pelos advogados de alguns dos suspeitos mostra claramente que muitos estão tentando se livrar jogando a culpa em outros. Delúbio Soares é um dos apontados e, de fidelidade canina, parece disposto a não reagir, assumindo uma culpa maior do que lhe cabe naquele latifúndio de "recursos não contabilizados". O publicitário Marcos Valério, no entanto, não parece propenso a se imolar nesse altar de sacrifício. Em outra ocasião, precisou ser devidamente acalmado. O documento de defesa de seu advogado é sinal de que ele necessita novamente de cuidados. Recordar é viver O mensalão só deu no que deu e ainda pode dar mais depois de uma entrevista do então deputado e presidente do PTB Roberto Jefferson à jornalista Renata Lo Prete no jornal "Folha de S.Paulo". Jefferson, cujo partido também se beneficiou das "mensalidades", soltou sua voz de tenor amador quando começou a desconfiar que estavam querendo jogar sobre ele e o PTB toda a culpa das falcatruas nos Correios na ocasião, motivo da CPI em andamento no Congresso. Ele viu armações do ministro chefe da Casa Civil, a época, José Dirceu, em notinhas de jornal e foi o que se viu. Qualquer semelhança com o incômodo manifestado por Marcos Valério pode vir a não ser mera coincidência. Radar NA REAL 13/7/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2274 baixa baixa - REAL 2,0411 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.330,51 estável estável/alta - S&P 500 1.349,54 estável alta - NASDAQ 2.908,47 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 10 de julho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 205

Política e Economia : não serão como antes I As evidências estatísticas e as pesquisas de tendências da economia indicam que a economia brasileira está em fase de desaceleração. O PIB de 2012 deve ficar abaixo dos 2,0% e, quiçá, até bem mais para baixo. O consumo das famílias está constrangido pelo endividamento do passado e pelo crescente medo de piores dias para o mercado de trabalho. A atividade industrial sofre abertamente os sinais de ausência de competitividade, depois de anos de negligência cambial e de uma frouxa política de competitividade externa, bem como sofre os reflexos do consumo declinante. Do lado dos investimentos, as empresas daqui e alhures percebem que o Brasil é um país emergente de categoria inferior : cresce menos e é mais oscilante em termos de atividade. O resultado é que o investimento privado está claudicando e esperando sinais mais evidentes para decidir quanto e quando investir mais. Já o setor público expõe sua incompetência para liderar os investimentos e, até mesmo, para planejá-los. Política e Economia : não serão como antes II Todas nossas observações acima relacionadas podem ser comprovadas por uma longa e consistente lista de indicadores, a qual não está especificada aqui, para tratarmos de outro assunto : a possibilidade de que o país ingresse num período, eventualmente longo, de estagnação de seu desenvolvimento. É preciso considerar que o crescimento econômico está retornando ao cenário de "voo de galinha" tão propagado pelos economistas e políticos nas duas décadas passadas. Naqueles anos, o constrangimento era essencialmente cambial, do qual decorriam os efeitos nos juros, na política fiscal e assim por diante. Desta feita, a natureza da estagnação está mais relacionada a três aspectos básicos : (i) a falta de uma gestão econômica que planeje o médio prazo em diante. Falta cérebro governamental para guiar as expectativas ; (ii) o Estado onera a economia por meio de uma carga tributária disfuncional e alta e, de outro lado, investe pouco porque gasta muito em despesas correntes ; (iii) sobram reservas ao país, mas falta uma política cambial e industrial que acresça ao PIB uma crescente participação do comércio exterior. Em poucas palavras : somos um país caro, pouco eficiente tecnologicamente no setores privado e público, e gastador na esfera dos governos. Política e Economia : não serão como antes III Apesar das evidentes deficiências do país quanto ao crescimento, há uma contradição que impressiona na política : não há nenhuma força política organizada que represente os interesses, digamos, "desenvolvimentistas". Com esta palavra, referimo-nos não às práticas conjunturais da política econômica como nas décadas passadas, mas aos que defendem a modernização do Estado e do setor privado como instrumento de transformação econômica e social. A oposição, neste particular sentido, é de deixar qualquer eleitor ruborizado de vergonha e, sobretudo, de raiva. Enquanto isso, uma espécie de "temor reverencial" ao poder central e suas ramificações regionais e no Estado se sobressai. A popularidade presidencial, neste sentido, acanha ainda mais os insatisfeitos silenciosos. Ademais, o PT, a essência política destes tempos, se entranha nas cidades e nos rincões com o que há de mais atrasado na prática política brasileira. E aí, o que é oposição e o que é governo fica ainda mais opaco de se analisar. Todavia, as mudanças estão por vir e não devem ser pequenas. Política e Economia : não serão como antes IV O pacto político existente ao final do governo Lula está muito mais carcomido que a aparência indica. Em primeiro lugar, as elites industrial e financeira já não coletam os benefícios de uma atividade econômica elevada e/ou em alta. Pouco a pouco começa a se manifestar esta insatisfação. O problema aqui, como dito logo acima, é que não há depositários políticos muito confiáveis para elevar o tom das insatisfações. Do lado do "trabalho", as mais numerosas greves já espelham que a titânica união sindical em torno da presidência está longe de ser o que foi sob Lula. A base pobre da sociedade, justa beneficiária do certo progresso dos "anos Lula", ainda está solidamente apoiando ao governo, mas a política paternalista de transformação social tem limites, sendo o principal deles a capacidade do Erário de bancar as políticas sociais. Política e Economia : não serão como antes V O que estamos a dizer é que o status quo do exercício da governança brasileira não será o mesmo na provável conjuntura de estagnação econômica e social vindoura. Nos próximos dois anos pelo menos. Tanto o governo quanto a oposição terão de enfrentar contradições novas que são incompatíveis com o imobilismo político atual. A navegação das políticas à sombra da renda crescente das commodities está em cheque. Caberão novas iniciativas. As que o governo vem fazendo até agora são condições necessárias para tal, mas largamente insuficientes para alavancar o país ao título verdadeiro de emergente. As eleições municipais serão o primeiro termômetro deste processo. Logo após teremos o início da corrida presidencial de 2014. A presidente tem a legitimidade política dos 56 milhões de votos que recebeu, mas não se legitimou ainda no poder por meio de uma governança própria que seja capaz de se chamar de "governo Dilma". Ela ensaia ações com sua marca, mas acaba tropeçando no fantasma do "sapo barbudo" de outrora. Isso tem limites. Dilma provavelmente sabe disso. Parece, contudo, não saber ainda que caminho tomar. Não é como diz a Fazenda ? Do economista Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Ipea : "A política econômica está se transformando num emaranhado de medidas desconexas, pontuais, que não estão atuando no sentido de ganhar tempo para que se encontrem estratégias de longo prazo. As estratégias de longo prazo passaram a ficar de lado. (...) estamos perdendo o foco da política econômica". Porém, o ministério da Fazenda não vai desistir de seus pacotes, esta semana provavelmente teremos mais alguma dose, além de mais uma redução - prováveis 0,5% na Selic. A cada sinal de fraqueza da economia e da insatisfação presidencial, a máquina de pacotes solta mais um embrulho. A notar : quem voltou a falar com desenvoltura foi o presidente do BC, Luciano Coutinho, ex-professor de Dilma na Unicamp. E soltou o verbo contra o "erro" do câmbio subvalorizado por muito tempo. "Nova herança maldita" (ver notas na coluna da semana passada). Para não triturar a base Diz-se em Brasília que a interferência, nem tanto indireta como se queria que parecesse, na sucessão em BH, ajudando a montar a candidatura do PT com apoio do PMDB e do PSD de Gilberto Kassab, foi pontual, assim como em SP, com a Secretaria de Saneamento do Ministério das Cidades entregue a Maluf pelo apoio do PP ao petista Fernando Haddad. Diz-se que Dilma será durante o primeiro turno discreta para não descontentar partidos aliados divididos nos municípios. De fato, se expuser, pode sobrar para o governo depois, no Congresso. Mas ela, tanto no lance paulista como no mineiro, deu dois passos para si própria : tenta conter o que pode vir a ser talvez seus dois principais concorrentes em 2014, dependendo das circunstâncias : Aécio (e o PSDB, garroteando o partido em SP) e Eduardo Campo e o PSB (contendo a expansão dos socialistas para o Sudeste). Por isso, aconselha uma raposa brasiliense diplomada em Minas : que se cuidem os petistas que ainda não aderiram ao dilmismo com afeição. Feliz como pinto no lixo Quem ficou todo prosa com as divergências PT/PSB em algumas capitais (Fortaleza, Recife, João Pessoa, Belo Horizonte) foi ninguém menos que o PMDB. O partido que temia ficar alijado da condição de parceiro preferencial de Dilma e do PT em 2014 já não está com tanto medo assim. E já tem certeza também de que a presidente já não apoia os movimentos petistas para retirar dele, como acertado desde o ano passado, as presidências da Câmara e do Senado. Ministérios em nome da paz Era intenção já da presidente, segundo fontes bem oficiosas, iniciar seus dois últimos anos de governo com alguns novos ministros, mais ajustados ao modo da presidente e ao próprio jogo dela. Seriam as ditas mudanças pontuais. Com a insatisfação crescente de Dilma com o desempenho do governo em algumas áreas, por inapetência para dar um bom ritmo nos investimentos, as mudanças não devem ser tão pontuais acima. E agora, com algumas "infidelidades" comprovadas e outras "fidelidades" renovadas, as trocas devem ser maiores. O PMDB, por exemplo, já voltou a sonhar em voz mais ou menos alta com a conquista do ministério dos Transportes, para sua seção mineira. Ajustes técnicos e políticos Na lista das pastas a terem vagas abertas em Brasília para novos titulares, além da dos Transportes, especula-se sobre o Itamaraty, as Minas e Energia e a Integração Nacional. Entrariam alguns outros menos votados para conformar o ministério também à nova correção de forças que deve sair das urnas. Até um possível espaço para Gilberto Kassab ou alguém de sua legenda. Jogo de alto risco O prefeito de SP está com fama de articulador político de alta costura. Deu um nó no experiente DEM, arranjou adeptos em vários partidos, conseguiu ganhar nos tribunais superiores tempo diferenciado no horário político obrigatório no rádio e na televisão, deu um passeio com Lula em SP acenando com um apoio a Fernando Haddad e depois caindo nos braços de José Serra e outras façanhas mais. Porém, está se deixando, segundo alguns, levar demais pela esperteza e pode, como se diz popularmente, cair do cavalo. Faz praça com o PSDB em São Paulo, com o PT em Minas, com Eduardo Campos no Recife e com Dilma nacionalmente. As manobras já levaram a ruídos internos no partido que ainda nem teve um teste de urna : perdeu o apoio de parte do pessedistas mineiros, levou críticas de uma de suas estrelas, a senadora Kátia Abreu. É o que dá fazer um partido sem ideologia, sem programa, de "direita, do centro e de esquerda" ao mesmo tempo. Pode deslanchar, pois não é nada diferente do restante, como bem mostra a sopa de letrinhas das alianças partidárias formadas Brasil afora nesta eleição municipal, mas pode também virar uma viúva Porcina, a que foi sem nunca ter sido. Aliás, as composições partidárias deste ano são a prova da total falência do sistema partidário brasileiro. Ele pode trazer sérias complicações para a presidente Dilma nos seus dois últimos anos, mais do que tem trazido agora. Julgamentos e eleições O STF está decidido a julgar o tal do "mensalão" com inédita rapidez. Sobram evidências deste fato. É difícil estimar os efeitos eleitorais deste fato sobre as urnas municipais de outubro e novembro. O maior risco é que do silogismo das sentenças saiam inconsistências e injustiças que sejam incompreendidas pelo distinto público. De outro lado, vários marcos penais nascerão dos acórdãos, especialmente quanto aos crimes de lavagem de dinheiro e contra o fisco. A repercussão de tudo isso não será tão objetiva como se poderia imaginar, daí as incertezas quanto aos efeitos políticos e eleitorais. Também temos, em menor medida, o julgamento na obscura Jersey, paraíso britânico. Paraíso fiscal, diga-se. Lá o ex-alcaide paulistano Paulo Maluf é réu. Pode ter de devolver alguns milhões de volta aos cofres do município. Se condenado mostrará as suas tripas de corrupto no exato momento em que desfila com o candidato petista pelas ruas do município do qual extraiu a riqueza obscena de Jersey. Se inocentado, Jersey não terá de prestar contas ao eleitor de cá como no caso de nossa Suprema Corte. À beira de um ataque de nervos I Não é de paz o ambiente no meio dos mensaleiros e de seus advogados, apesar das aparências. Nem todos estão aceitando as transferências de culpas que estão sendo engendradas para tentar ajudar na defesa de uns poucos figurões. À beira de um ataque de nervos II Há gente do mais alto coturno que não está nada feliz com o alheamento oficial público e privado no processo de mensalão. Mas não há como cobrar nem dar o troco. Mas os amuos são sérios. Nelson Rodrigues e a internet O jornalista Matias Molina, em artigo no jornal "Valor Econômico" a respeito do extinto jornal "Diário Carioca", em cujas páginas iniciou-se nos anos 1950 a modernização do jornalismo brasileiro, relembrou algumas das "diatribes" do dramaturgo, escritor e também jornalista Nelson Rodrigues a respeito de algumas dessas inovações trazidas dos EUA pela dupla Pompeu de Sousa e Danton Jobim : "O idiota da objetividade inunda as mesas da redação e seu autor foi Pompeu de Sousa. Aliás, devo dizer que o 'copy desk' é o idiota da objetividade, são gêmeos e um explica o outro (...). O 'Diário Carioca' nada concedeu à emoção, nem ao espanto. Getúlio deu um tiro no peito. Ali estava o Brasil, novamente cara a cara com guerra civil. E o que faz o 'Diário Carioca' ? A aragem da tragédia soprou nas suas páginas ? Jamais (...) O 'Diário Carioca' não pingou uma lágrima sobre o corpo de Getúlio. Era a monstruosa e alienada objetividade". "Se lá aparecesse Proust, seria reescrito do mesmo jeito" e "se o 'copy desk' já existisse naquele tempo, os Dez Mandamentos teriam sido reduzidos a cinco". O que diria Nelson hoje da internet e de seus 140 toques no twitter ? Em tempo : este ano relembra-se o centenário de nascimento do escritor. Vale a pena revê-lo no teatro e relê-lo, agora que o Sobrenatural de Almeida parece ocupar-se da nossa política e da nossa economia. Radar NA REAL 6/7/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2290 baixa baixa - REAL 2,0281 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.394,05 estável/baixa estável - S&P 500 1.354,38 estável alta - NASDAQ 2.937,33 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 3 de julho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 204

Europa Unida ? I A reunião dos líderes das 17 nações que compõe a UE na semana passada levou a conclusão óbvia de que sem ajuda ao sistema financeiro e na ausência de medidas mínimas de estímulo econômico a zona do euro iria explodir ou passar por uma longa estagnação. Uma vitória de quase todos os países contra a burra teimosia da alemã Angela Merkel. Apesar da decisão, há que se observar as "regras" desta ajuda, as quais devem estar prontas no próximo dia cinco. Neste campo, os germânicos terão mais instrumentos para mostrar seu poder e novamente as nações em crise estarão à mercê dos debates. Dois outros pontos também são relevantes : (i) o tamanho do pacote de ajuda (150 bi de euros), se este será suficiente e (ii) as regras de união fiscal e o monitoramento centralizado no Banco Central Europeu do sistema financeiro. Neste último item houve de fato um avanço mais significativo de vez que se superou a visão excessivamente nacionalista dos membros da UE. Europa Unida ? II Enquanto os líderes europeus buscavam a solução para seus gigantescos problemas comuns, Bruxelas divulgava a taxa de desemprego nas 17 nações, 11,1%, a mais alta deste o início da série. A Espanha bateu o recorde de 24,6% e a Grécia, 23%. Neste contexto, o risco político permanece elevado e as possibilidades de que a longa duração da crise contamine as decisões recentes são muito elevadas. Nesta semana, o FMI estará visitando Atenas e cobrará mais resultados dos cansados gregos. Na Espanha e Itália os leilões de dívida pública darão o tom dos mercados e os ingleses estão debatendo se saem da UE. Como se vê, será preciso algum tempo para se verificar se a Europa conseguiu de fato um ponto de convergência ou se adiou os conflitos por mais algum tempo. Começa o período de férias no Velho Continente. Haverá descanso ? Os mercados respiram A reunião da UE e a decisão da Suprema Corte norte-americana que validou juridicamente o plano de universalização do setor de saúde proposto por Obama foram fatores suficientes para a euforia do mercado ao final da semana passada. A probabilidade maior é que exista certa calma no mercado nos próximos dias e, até mesmo, semanas. Todavia, a tendência estrutural é que os investidores mantenham-se cautelosos e que as oscilações de humor retornem com o tempo. Serão precisas constatações mais veementes de que o auge da crise foi superado para que haja uma reversão de expectativas no cenário do mercado financeiro e de capital ao redor do mundo. Até lá, haverá muita observação, mesmo porque as apostas num cenário negativo são as que prevalecem no momento. Número que assusta De todas as revisões a respeitos de suas perspectivas para a economia brasileira este ano, a mais assustadora feita pelo BC em seu último Relatório Trimestral de Inflação é a dos investimentos privados : saltou de um crescimento de 4,7% em relação ao ano passado para apenas 1%. Pior ainda diz o IBRE, da FGV : será zero o incremento dos investimentos em 2012. Assim, não há crescimento sustentável forte também em 2013. O PIBinho do BC Não foi muito ao gosto do governo a iniciativa do BC de reduzir de uma cartada só, de 3,5% para 2,5% seu prognóstico de inflação para este ano e de aumentar de 4,4% para 4,7% a previsão de inflação. A observação contra é de que o BC foi na onda do "mercado" e pode influenciar negativamente a decisão de investidores. Contudo, tudo indica que Alexandre Tombini e seus diretores estavam preocupados em perder crédito de confiança com os agentes econômicos, tal a defasagem entre as perspectivas deles e as do BC. Em matéria de crescimento da economia, por exemplo, a maioria das previsões, tanto dos "mercadistas", como dos homens dos negócios, gira em torno de 2% - esta semana a previsão na mediana do Boletim do BC ficou em 2,05%. Há um mês estava em 2,72%. Daí para baixo. A confiança sobre os efeitos das medidas constantes de aceleração do crescimento do ministro Guido Mantega são limitadíssimas. A impressão generalizada é que o governo peca por falta de ousadia, por limitações de ordem gerencial e de ambiente político. PT : o adversário é outro I O PT acreditava que os adversários a serem batidos em 2012, com vistas ao jogo principal de 2014, eram o PSDB e o PMDB, os dois únicos que poderiam, segundo a ótica petista, ameaçar seus sonhos de hegemonia na política nacional e de controle do poder para uns bons anos futuros, até 2018 ou, quem sabe, para além deste período. Os tucanos por razões óbvias são a oposição de fato e de direito, embora confusa, e os únicos que, teoricamente, podem ameaçar a permanência do PT no poder Federal. Por isso, até, o empenho superior para derrotar o PSB em seu berço - agora, na prefeitura da capital paulista, com uma preparação para tomar o Palácio dos Bandeirantes em 2014. O PMDB por seu tamanho, sua capilaridade, é um parceiro incômodo por seu apetite e suas exigências e que, como um pêndulo, pode mudar os rumos de sua aliança e fazer o negócio da política pender para outro lado. A ideia é enfraquecer o PMDB e substituí-lo por outra legenda como parceiro preferencial nos próximos anos de poder. PT : o adversário é outro II De repente, não mais que de repente, o PT começou a desconfiar que o verdadeiro adversário pode ser outro, exatamente aquele que ele estava cevando para futuras alianças prioritárias : o PSB do governador Eduardo Campos. As manobras políticas do neto do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes na condução das alianças municipais despertaram nos petistas a certeza de que Campos, político jovem, simpático, e bem avaliado governante, está armando voos próprios que não passam necessariamente pelas asas do PT. PT : o adversário é outro III O rompimento das alianças com os petistas em Recife e em Fortaleza foram os primeiros sinais de alerta. A demora da definição em SP e depois as confusões causadas por Luiza Erundina em SP também levantaram suspeitas. Finalmente, veio no fim de semana a decisão do PSB de BH de não aceitar coligação para a eleição de governadores, levando ao rompimento da aliança entre os dois partidos para reeleger Marcio Lacerda. Mesmo que a crise de Minas seja contornada, pois ainda há tempo, a desconfiança ficou. Para os petistas, Campos só quer vantagens, só cede mesmo onde seu partido não tem interesse ou está fraco. O fantasma da traição ronda a mente de muitos petistas. O problema é o que fazer, uma vez que o PMDB não é de incentivar ninguém a pôr a mão no fogo por sua fidelidade. O PT começa a ficar isolado politicamente. Um tanto por sua própria culpa, por seu próprio apetite. Quem com hegemonia fere, corre o risco de ser ferido com traições. Dilma : os adversários são os mesmos Não é uma divisão ainda clara, nem admitida, mas é visível nos corredores da política que já há um PT de Dilma e um PT de Lula. Enquanto Dilma e os seus, ainda muito minoritários, estão cada vez mais dilmistas, boa parte do PT é cada vez mais lulista, o que necessariamente não quer dizer a mesma coisa, embora o abrigo de ambos seja a mesma sigla. A desconfiança dos lulistas é que a presidente age cada vez mais, sem rupturas, para deslocar o eixo de poder no partido. Alguns não ousam nem pensar, mas a eleição presidencial de 2014 está neste jogo. A quem interessa ? I Lula promete federalizar a eleição municipal de SP. Será bom para Fernando Haddad ? Afinal, ele terá de se haver com discussões sobre temas com os quais nem ele e nem a cidade tem nada a ver, como o mensalão e o caso dos aloprados. Ou podem ser temas bons para Lula que quer manter um discurso nacional e ainda rever algumas das histórias de seu governo. Pode ser bom para Dilma que poderá ter algumas de suas políticas contestadas em palanques físicos e eletrônicos pela oposição ou para Lula que não aceita, de forma alguma, um papel secundário nas discussões políticas e econômicas nacionais. De qualquer modo, a presidente tem demonstrado não estar interessada em se envolver diretamente e com força na campanha municipal. Nem ela nem seus ministros de mais confiança - estes talvez com exceção de suas áreas de interesse eleitoral. A quem interessa ? II Quem também parece muito interessado na "federalização" do debate eleitoral é o senador Aécio Neves. Sem estar diretamente envolvido na disputa, com uma situação mais ou menos tranquila em MG, apesar do último arrufo na aliança PSB/PSDB/PT em BH, ele quer aproveitar a campanha para se tornar nacionalmente mais conhecido e firmar suas diferenças tanto com Dilma, Lula e o PT, mas também com José Serra, ainda seu maior - e talvez único - adversário no tucanato. Com Serra restrito a SP e tendo de se defender dos ataques que receberá de todos os adversários, Aécio estará mais ou menos livre para voar pelo Brasil, ajudando tucanos e outros aliados possíveis. Terá tempo livre até para tentar dar uma ajudazinha aos tucanos de SP - se for solicitado. Diagnóstico correto, mas incompleto Da ministra Cármen Lúcia, do STF, e presidente do TSE, ao votar contra o pedido do PSD de Gilberto Kassab, aprovado por seus pares, de ter mais tempo de TV na propaganda eleitoral obrigatória : "Eu diria que aos partidos novos falta povo. Eu não conheço democracia sem povo". Na realidade, cada vez mais falta "povo" aos partidos brasileiros de um modo geral, não apenas aos novos, agremiações de caciques e meros dutos eleitorais. A nova herança maldita - capítulo I Semanas atrás informávamos que nos bastidores oficiais de Brasília já se começava a rosnar sobre certa "herança maldita" - uma "nova", é claro, distinta daquela que Lula atribuía ao ex-presidente FHC sempre que alguma dificuldade aparecia a sua frente em seus oito anos de Palácio do Planalto. Agora, já não muito discretamente, esta nova herança começa a ser explicitada. O primeiro foco foi a Petrobras, com a revisão de seus planos de investimentos para os próximos cinco anos. Cortando daqui e dali, a presidente da empresa, Graça Foster, disse, sem citar seu antecessor, José Sergio Gabrielli, que as metas anteriores eram irrealistas, que projetos eram aprovados a esmo, sem estarem prontos e daí por diante. Graça e sua comandante no Palácio do Planalto estão jogando para o alto facas para que estão caindo em suas próprias cabeças : Lula era o presidente dessa fase de irrealismo, mas Dilma foi ministra das Minas e Energia e, portanto, chefe da Petrobras durante uma parte desse período. Durante todo o mandato de Lula, foi presidente do Conselho de Administração da empresa, só sendo substituída por Guido Mantega quando saiu para se candidatar à presidência da República. Por que só Gabrielli paga toda a responsabilidade por uma gestão de claro viés político na maior estatal brasileira ? E por falar em política A revisão feita nos investimentos da Petrobras gerou sérios ruídos políticos com aliados preferenciais e complicados de Dilma : a suspensão da construção das refinarias do CE e do MA, dois compromissos político-eleitorais de Lula, acendeu a irritação dos suscetíveis e agressivos irmãos Gomes - Ciro e Cid - e o discreto (nas reações), porém não menos agressivo quando se trata de defender seus feudos, senador José Sarney. Sobrou para o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, tourear as feras. Logo ele, Lobão, que de sua pasta é sempre um dos últimos a saber das coisas. A nova herança maldita - capítulo II Há muitas outras línguas coçando em Brasília, além das da Petrobras vindas diretamente do RJ. Das mais inquietas é a área educacional. Mas que está forçada a sofrer calada para não prejudicar o candidato Delfim à prefeitura de SP, Fernando Haddad. Mesmo assim, possivelmente como reflexo da greve dos professores universitários, que além de reivindicarem um plano de carreira, propugnam também por melhores condições de trabalho, a presidente Dilma baixou um decreto, pouco comentado esta semana, tornando mais rígidas as regras para aberturas de novas universidades públicas federais : "A implantação de novas unidades de ensino e o provimento dos respectivos cargos e funções gratificadas dependerá da existência de instalações adequadas e de recursos financeiros necessários ao seu funcionamento". Um dos orgulhos da dupla Dilma-Haddad é exatamente a criação de uma série de novas escolas federais. Em tempo : essas histórias sobre a nova herança maldita terão ainda muitos capítulos. Ambiente conturbado Amplia-se o clima de greve entre o funcionalismo Federal diante da quase indiferença - os líderes sindicais dizem que é má vontade e intransigência - dos negociadores oficiais. As conversas quase todas estão obstruídas ou ocorrem em escalões sem poder de decisão e não há sinais de que alguma solução possa estar a caminho, mesmo no longo prazo. Troca-troca na CPI Para aquecer a CPI Cachoeira-Delta e não deixar que ela morra desmoralizada, os partidos concordaram com a convocação do dono da Delta, Fernando Cavendish. Até porque divergências entre os aliados tornam inevitável tal procedimento. Todavia, chamar para depor uma testemunha bomba como o ex-diretor geral do DNIT, Luiz Antonio Pagot, continua fora de propósito. Para livrar Pagot do foco do PSDB e da oposição, os governistas ameaçaram convocar também Paulo Vieira de Souza, ex-diretor de engenharia da Dersa, conhecido como Paulo Preto, e acusado de fazer caixa dois para campanhas tucanas. O jogo ficará, então, no momento, empatado. Pânico supremo As circunstâncias que levaram o ministro Lewandowski a entregar seu parecer sobre o processo do mensalão num prazo que, confessado por ele, ofendeu seus desejos e princípios, criaram um pavor maior ainda entre os mensaleiros e seus defensores de que eles não deverão ter dias muito tranquilos depois do dia 2/8. Já há entre as defensorias quem já esteja fazendo contas de possíveis penas. E ninguém estranhe que, no desespero, eles comecem a se estranhar, uns acusando outros para se defenderem. Será cada um por si e nenhum por todos. Isenção do STF O STF está abalado pelas pressões de todos os lados para julgar os envolvidos no tal do mensalão. O voo raso do supersônico que quebrou as janelas do "Palácio da Justiça" é, inusitadamente, bastante simbólico do momento por que passa a Suprema Corte. Cabe-lhe por dever de ofício ter isenção nos seus julgamentos. A necessária transparência dos juízes vem dos autos, representação maior e quiçá única da honestidade e decência que se espera de qualquer juiz, sobretudo daqueles que integram o STF. Ocorre que o excesso de exposição da mídia dos ministros, suas opiniões sobre o trabalho dos colegas e a incômoda liberdade dos advogados nos corredores da Corte acabam por intrigar quem olha de fora o trabalho do STF. Estarão os togados a praticar a melhor Justiça ? Veremos. Substituição no STF Vai ser igualmente interessante verificar como será a atuação da presidente Dilma na substituição dos dois ministros do STF que se aposentam após o julgamento do mensalão, no caso, Peluso e Ayres Britto. O midiático ex-ministro Márcio Thomaz Bastos está restrito em suas ações por conta de sua clientela caudalosa, sobretudo a acusada de jogatina e corrupção e outras coisas mais. De outro lado, a presidente Dilma estará a formar a Suprema Corte possivelmente para além de seu próprio mandato. O momento do STF é especial e seu destino no médio prazo dependerá muito de eventos importantes no curto prazo. Radar NA REAL 29/6/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2588 baixa baixa - REAL 2,0119 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.354,63 estável/baixa estável - S&P 500 1.362,16 estável alta - NASDAQ 2.935,05 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 26 de junho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 203

Decálogo da política brasileira I A democracia brasileira, do ponto de vista formal, teve avanços significativos desde o final do regime militar, sobretudo com os novos papéis que o Legislativo e Judiciário passaram a exercer. Muitos momentos difíceis do processo político, tais como o impeachment do presidente Collor ou o mensalão, foram ultrapassados graças a estes avanços formais da democracia brasileira. Nos últimos anos, contudo, nota-se uma significativa deterioração dos valores republicanos no Brasil em todos os segmentos e aspectos do poder político. Esta deterioração tem efeitos objetivos e práticos sobre o processo político com efeitos nefastos sobre a sociedade brasileira que, com indiferença e pouca participação, vê seus interesses cada vez menos representados por aqueles que recebem os votos e mandatos populares. Vejamos, a seguir, dez constatações que submetemos à apreciação de nossos leitores. São os sinais vitais da política brasileira no momento. Decálogo da política brasileira II 1) Os partidos políticos não têm mais relevante expressão ideológica e sequer programática, seja interna aos partidos, seja externa, perante a sociedade; 2) Grupos de interesses são a essência do processo parlamentar em detrimento dos partidos políticos; 3) Os mais bem votados nos partidos quase sempre não tem expressão parlamentar, sendo utilizados pelos "caciques" como mera manobra eleitoreira; 4) Escassos são os debates no parlamento a respeito das grandes questões nacionais; 5) As assembleias legislativas e as câmaras municipais estão esvaziadas pela excessiva centralização dos interesses políticos e econômicos na União; 6) As CPIs não são a forma de fiscalização do poder pelas minorias, mas meios de manobra da maioria parlamentar para pressionar o governo; 7) As indicações políticas aos cargos executivos visam primordialmente o "financiamento" das campanhas eleitorais em todos os âmbitos do poder; 8) A oposição e a situação se definem por mera aparência de discurso e se confundem por interesses imediatos; 9) Não faz sentido falar em oposição e situação quando observados os interesses eleitorais de cargos majoritários federais, estaduais e municipais. Quaisquer alianças são possíveis, dependendo da instância eleitoral; 10) Novas lideranças políticas não nascem da oposição às antigas lideranças, mas como continuidade destas. Ministérios : tensões nos céus de Brasília Não é para agora, possivelmente apenas para o fim do ano ou início de 2013, mas os bastidores de Brasília já começam a especular e a se agitar por causa da reforma ministerial que a presidente Dilma deverá fazer para dar um toque ainda mais seu à equipe de governo nos dois anos finais de seu primeiro mandato. Dilma vai livrar-se de assessores cujo desempenho, na ótica palaciana, é totalmente insatisfatório e dar ao governo a conformação partidária que sair das urnas de outubro. No jogo, também, as presidências da Câmara e do Senado. Dilma vai entrar em 2013 com suas tropas absolutamente alinhadas para os embates de 2014 - e não somente para disputar com as oposições. Antes, precisará ganhar embates interna corporis. Os partidos mais tensos são, obviamente, o PT e o PMDB, pois são os que mais têm a perder nas trocas que a presidente pode fazer. Choque elétrico Com habilidade, Dilma prepara um choque na área de energia de seu governo. Edison Lobão já foi convencido a voltar para o Senado, para disputar pelas forças governistas, como representante do PMDB, a presidência da Casa, em substituição a José Sarney. Ficaria tudo em casa e empurraria Renan Calheiros, a quem Dilma não quer ver nesse lugar, para uma candidatura ao governo de AL. Com a saída de Lobão, Dilma acabaria de profissionalizar o setor elétrico oficial. O problema de Lobão é arranjar outra vaga em Brasília para o filho, Edison Lobão Filho, seu suplente. Mas sempre se dá um jeito. De quem Dilma não gosta ? Pergunta de uma alma maldosa de Brasília depois de verificar que a presidente Dilma, para afastar as candidaturas de Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves às presidências, respectivamente da Câmara e do Senado, está oferecendo aos dois peemedebistas apoios às candidaturas deles aos governos de seus Estados : "O que Dilma tem contra AL e o RN para querer tão mal às suas populações?". Realpolitikagem Análises, indignações e aplausos de várias tonalidades surgiram desde que Lula cedeu aos encantos de Maluf e foi confraternizar-se com o ex-governador, ex-prefeito e deputado nos jardins de sua casa para angariar minutos eleitorais para a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura paulistana. Lula não está sozinho nesses gestos, o dele foi apenas mais descarado. José Serra carrega nos braços o PR de Valdemar Costa Neto e do DNIT. Gabriel Chalita tem o PMDB e só não pegou ninguém até agora porque está sem charme eleitoral. Luiz Flávio D'Urso, pretenso candidato do PTB, se oferece para vice, pode ser tanto de Haddad como de Serra. E por aí vai a vergonha partidária nacional. Não é só São Paulo que está nesse caminho. A realidade é que o Brasil vive o auge da "realpolitikagem", extraordinária definição para nossa mancebia política cunhada pelo humorista Luis Fernando Veríssimo. E podem ter certeza de que dias piores virão em outras eleições, pois não há nenhum indício de que o apodrecido sistema eleitoral e partidário brasileiro possa sofrer alterações. Para pior, porque piorar é sempre possível. O verdadeiro inimigo Nas forças governistas, PT e PMDB vivem em eterna vigilância - um contra o outro, um com medo de levar uma rasteira do outro. Mas os dois já começam a desconfiar que podem estar dormindo com um nada discreto inimigo em casa - o PSB. As manobras do governador Eduardo Campos despertam a suspeita de que ele está se preparando para dois cenários em 2014 : desalojar o PMDB do lugar de parceiro preferencial do PT numa possível reeleição de Dilma ou, se o cavalo passar arriado, logo saltar para uma candidatura presidencial. Por mais paradoxal que seja, com a ajuda de Lula. No afã de derrotar José Serra de toda maneira em São Paulo, o ex-presidente está abrindo espaços para Campos que petistas já consideram excessivos. Sem régua e sem compasso Não em razão das sequelas do tratamento do câncer, visíveis nas dificuldades que ele exibiu durante algum tempo para caminhar e nas dificuldades ainda para utilizar seu principal instrumento, a voz, mas por falta de medida, por falta de crítica e autocrítica, o fato é que o ex-presidente Lula exibe indícios de perda de sua decantada sensibilidade política. Fora da presidência e sem temperamento e formação para ser um ex-presidente comum, parece ter perdido a régua e o compasso. Quanto mais Dilma firmar o seu próprio governo, mais Lula se inquietará. Dirceu e seu estado-maior Quem viu e/ou esteve envolvido com as providências para a defesa de José Dirceu no julgamento do tal do "mensalão" ficou impressionado com a organização do petista. Pareceres jurídicos de conhecidos advogados somam-se ao trabalho de especialistas em redes sociais, assessoria de imprensa e analistas políticos. Tudo ao gosto aguerrido do atual lobista de interesses privados e ex-combatente político nas fileiras petistas. Todo mundo está sendo bem pago e em dia. Eis um empreendimento privado de sucesso. Para gosto do gestor. Uma cama para Dilma O governo apressou nos últimos dias a liberação de verbas das emendas parlamentares, antes que entre em vigor a proibição da transferência de recursos para Estados e municípios em ano eleitoral. O governo quer com isso empurrar os gastos nos Estados e municípios para aquecer a economia e, ao mesmo tempo, adoçar um pouco a boca de deputados e senadores aliados. Mesmo assim não está conseguindo conter as insatisfações da base governista. Há quem esteja prevendo para breve uma derrota do governo em alguma votação no Congresso. Pode ser na Câmara. Uma possibilidade é o projeto que acaba com o fator previdenciário, defendido pelas centrais sindicais e por uma ala do PT e do PMDB. A pressão é para que Marco Maia bote o projeto na pauta esta semana. A oposição, sonhando acordada ? São tantas as idiossincrasias eleitorais entre os partidos aliados que a oposição já esta refazendo suas contas e acreditando que poderá ter um desempenho no pleito municipal bem melhor do que imaginava em suas conversas reservadas. Acreditam os oposicionistas que as disputas principalmente entre PT, PSB e PMDB para fazer o maior número de prefeituras possíveis acabará trucidando-os em muitos lugares. A questão é saber o que a própria oposição está fazendo para ficar com esse espaço. Nunca se viu uma oposição no Brasil tão dividida, tão apática, tão sem garra. Do modo como as coisas estão, se oposicionistas e governistas trocarem de lado, é bem provável que o eleitor nem perceba. Uma longa recessão Está cada vez mais consensual a percepção de que a crise internacional pode demorar ainda de três a cinco anos. Os seus efeitos econômicos já estão espalhados, sendo que a atividade econômica, bem como os seus efeitos sobre o emprego, o investimento e as finanças públicas das economias estão em fase de "consolidação". Restam os efeitos políticos os quais tem propiciado mudanças de governo sem que isso represente ainda mudanças de rumo. É a política que alterará para pior ou para melhor o andamento da economia mundial. Faltam lideranças para tanto, mesmo porque as soluções passam por extensas e dolorosas mudanças no trato das questões internacionais. Por enquanto, os políticos cuidam de seus quintais, como no caso da Alemanha e dos EUA, o que gera um jogo de baixa colaboração entre os países. Nas próximas duas semanas veremos os efeitos das negociações no âmbito da UE em Bruxelas. A Grécia voltará à pauta desta feita acompanhada pelas crises agudas na Espanha e na Itália. Angela Merkel está se enfraquecendo, mas no lugar de suas estapafúrdias propostas econômicas nada está sendo colocado que fique de pé. Os mercados Não se tenha em mente alguma tranquilidade sustentável nos diversos segmentos do mercado financeiro e de capital ao redor do globo. Ao contrário, as posições "compradas" que apostam num maior otimismo no cenário externo estão se enfraquecendo. Alguns potentes segmentos de mercado, sobretudo os hedge funds, se preparam para fazer apostas na piora ainda maior da situação da Espanha e da Itália, além de acreditarem no enfraquecimento do euro. Na margem, o Brasil e a Índia estão entre os piores emergentes. A China parece que vai sustentar uma taxa de crescimento expressiva, porém decrescente. O sistema financeiro está frágil, mas suficiente pronto para apostar no agravamento ainda maior da crise externa. Tudo indica que, desta feita, os efeitos sobre o Brasil serão mais severos. Como explicar ? A economia brasileira está visivelmente desacelerada. No entanto, o desemprego está caindo : passou de 6% em abril para 5,8% em maio segundo o IBGE. Quais as razões desse aparente paradoxo ? É sustentável nesta situação em que o crescimento do PIB deve ficar, segundo as mais diferentes análises, em torno dos 2% este ano ? É para já Esta semana sai mais um pacotinho de medidas para provocar a elevação do PIB. A paciência da presidente Dilma está a cada dia mais curta. Tudo com o olho no curto prazo mais do que no longo prazo. Gasolina e contas públicas Mais uma vez, para não aumentar a gasolina e o óleo diesel para o público e não despertar a no momento adormecida inflação, o ministério da Fazenda autorizou a Petrobras a aumentar os preços desses combustíveis nas suas refinarias e zerou a CIDE. Com isso, ele abre mão de uma receita de cerca de R$ 420 milhões mensais. Isso quando a arrecadação tributária está crescendo menos que o previsto e há pressões para a desoneração de mais impostos para as empresas. Como fica, então, o superávit primário, que é uma das garantias que o BC tem para continuar diminuindo os juros ? Não fica. É cada vez mais certo que o governo adotará a prerrogativa de abater gastos do PAC da conta do superávit. A dúvida é saber até quando o artificialismo econômico vai funcionar. Radar NA REAL 22/6/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2489 baixa baixa - REAL 2,0716 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.439,50 estável/baixa estável - S&P 500 1.335,02 estável alta - NASDAQ 2.892,42 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Cautela e caldo de galinha Depois das duras reações iniciais ao impeachment de Fernando Lugo no Paraguai, quando chegou a avisar que o gesto extremo do Congresso paraguaio "teria consequências", a presidente Dilma está moderando nas suas posições. A suspensão do Paraguai da Unasul e do Mercosul é um gesto político forte, mas com consequências mais simbólicas do que todo o resto. O governo brasileiro fez questão de dizer que não haverá embargo comercial e todos os acordos bilaterais entre Brasil e Paraguai estão mantidos. Ou seja, a vida continua. É racional a cautela brasileira : Itaipu, brasiguaios, fronteiras porosas... De imediato, neste lado sul do continente latino-americano, a maior preocupação para o Brasil é a situação econômica da Argentina. Contas a pagar Já são três as contas do passivo do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, na contabilidade do Palácio do Planalto : 1. A viagem pouco expressiva de Dilma aos EUA. 2. As críticas que sobraram para o Brasil por causa do pouco ambicioso documento final da Rio+20. 3. A surpresa do impeachment do presidente do Paraguai, Fernando Lugo. Há tempos a situação política dele era gravíssima. Patriota pode conquistar pontos se conseguir conduzir com habilidade as retaliações aos paraguaios. Mas já há contagem regressiva no Palácio do Itamaraty. O fracasso da Rio+20 Quando os interesses são difusos, mesmo que sejam importantíssimos, a cooperação tem de ser reforçada. Quando não há cooperação internacional, o fracasso é retumbante. Foi o que aconteceu com a Rio+20. A ausência dos principais líderes mundiais e a falta absoluta de consenso, no momento delicado da economia internacional, jogaram a conferência para o fracasso. O Brasil percebeu isso com certa rapidez e tratou logo de colocar em pauta um texto de encerramento da conferência insosso e irrelevante. Eis a glória da diplomacia pragmática e pouco ambiciosa de Antonio Patriota e seu parceiro Luiz Alberto Figueiredo Machado. Rio+20 e o marketing Não faltaram marcas famosas dando apoio para a Conferência de Sustentabilidade, a Rio+20. O governo pareceu privatizar o evento. Em meio a tanto engarrafamento na Cidade Maravilhosa a exposição das marcas até que foi um sucesso. Tinha-se tempo para olhar as placas de apoio enquanto se esperava o trânsito fluir. Devagarinho, é claro. Em estado de alerta Cerca de 90% das universidades Federais e alguns institutos superiores oficiais de ensino estão parados há mais de um mês por uma greve de professores, sem sinais de um acordo. Semana passada funcionários do Itamaraty em diversas embaixadas e consulados no Exterior pararam - e é possível que finda a Rio+20 haja paralisações em Brasília também. Os metrôs federais saíram recentemente de uma greve, os funcionários do Judiciário fizeram várias manifestações na capital por aumentos salariais. Os auditores fiscais estão em operação-padrão há mais de uma semana, prejudicando movimentação de mercadorias e reduzindo a arrecadação de impostos aduaneiros. A PF também está se preparando para apresentar suas reivindicações salariais. Sindicatos dos servidores em Brasília já fizeram mais de uma reunião para discutir o que fazer : querem começar decretando estado de greve. A pax sindical dos tempos de Lula está por um fio. Parafraseando Brecht O que são os arrastões nos restaurantes de São Paulo quando comparados aos preços que eles andam cobrando ? Muitas pessoas estão deixando de comer em restaurantes não propriamente por medo dos meliantes, mas por estarem assustadas com as contas. ____________
terça-feira, 19 de junho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 202

A Grécia votou Não se pode dizer que os gregos deixaram de votar pensando em ficar na chamada "eurolândia". Afinal de contas, a Nea Democratia é o partido que incorpora a visão mais eurocentrista dentre todos os partidos gregos. Além disso, a coalizão a ser formada pode alcançar uma maioria relativamente folgada num país que viveu uma inusitada fragmentação política. A pressa em formar um novo governo e a tentativa de atrair para a coalizão mais que os partidos "tradicionais" indicam que os gregos buscam uma saída para a tragédia na qual entraram. Todavia, a probabilidade de ficar no euro é pequena. Isso porque nos próximos meses haverá um grande acúmulo de pagamentos e as pressões sobre o novo governo serão enormes. A disposição da Alemanha de Merkel em flexibilizar a rigidez fiscal está muito mais vinculada ao necessário proselitismo pró-europeu que algo efetivo para que os países voltem a crescer. De toda a forma uma coalizão mais sólida entre os helênicos pode servir para que a saída do euro seja possível, sem que isso provoque uma hecatombe. Veremos. Espanha e Itália O risco da Espanha já está em níveis da América Latina dos anos 80. O mais incrível é que a União Europeia já injetou 100 bi de euros para salvar o sistema financeiro e os analistas acreditam que serão necessários mais 80-90 bi para que exista estabilização. Enquanto isso, os investidores, dotados do famoso espírito de "debandada", já voltam seus canhões especulativos para a Itália. A cada leilão de títulos públicos o risco-país sobe e o financiamento se torna mais penoso para o erário. A sina da Itália será igual a dos outros países meridionais da Europa e a Irlanda. Todos sabem disso, mas o jogo geopolítico da Alemanha ainda permanece suficientemente forte para evitar uma revisão mais drástica do processo. A calmaria durará pouco Talvez os mercados ainda reajam nos próximos dias às notícias da eleição grega e da melhoria da volatilidade. Mas a coisa está mais para "tiro curto". Não há nada suficiente para reverter este processo agudo de contenção do crédito. É certo que não é hora para os otimistas, mas não deixa de ser horrível ter que dizer que o pior pode não ter passado. Não vai jogar a tolha, mas... O ministro Guido Mantega vai continuar jurando de pés juntos que o PIB semestral brasileiro, de julho a dezembro, será de 4,5%. Contudo, hoje todo o esforço da política econômica está voltado para não deixar a economia derrapar abaixo dos 2,5%. Mas será que funciona colocar o PIB num elevador movido a empréstimos - crédito para o consumidor e, agora, dinheiro para os governos estaduais ? No caso dos governos estaduais, inclusive, quem garante que eles não vão pegar recursos no BNDES para investimentos já programados, liberando recursos para outras despesas muito apreciadas em anos eleitorais ? Os pacotinhos estão saindo, mas... ... está faltando uma parte na contribuição que a presidente Dilma deseja que o setor público dê para acelerar o ritmo da economia brasileira : um ajuste nas contas oficiais, com cortes de despesas desnecessárias, para sobrar mais dinheiro para obras e investimentos. Não há incompatibilidade entre ajuste fiscal e investimentos, ao contrário do que querem fazer crer a "obtusidade córnea e má fé cínica" de alguns analistas oficiais e oficiosos. Satisfeitos, mas nem tanto Ninguém recusa dinheiro - e ainda mais uma boa bolada - oferecido com vantagens, como é o caso da linha de crédito de R$ 20 bi oferecidos pelo governo Federal aos governadores, via BNDES, com juros de família, de 7,1% ou 8,1% (com e sem aval). Agora, os 27 chefes de Executivo estaduais vão brigar para ver como o bolo será dividido, qual a cota de cada um nesse latifúndio. Tem também na mesa mais R$ 39 bi do BB. Tudo para obras e investimentos. Os governadores gostariam, porém não era isto - ou só isto - que eles queriam. O que eles pretendem mesmo do governo Federal é dinheiro para valer, não apenas empréstimos. Eles querem melhorar seu fluxo de receitas, permanentemente. Os governadores se queixam da perda de participação no bolo tributário nacional. Querem ver na mesa, por exemplo, a definição da nova divisão dos royalties do petróleo. Só depois aceitam discutir mudanças mais profundas no ICMS. Ninguém reage, mas... As cobranças da presidente Dilma a seus ministros, para que sejam mais ágeis ao tocar a máquina do governo, principalmente no que diz respeito à liberação de recursos para investimentos e programas, estão ficando cada vez mais duros. E incomodam. Mas ninguém reage abertamente. No privado, no entanto, muitos se justificam dizendo que o problema não é de seus ministérios e sim do "detalhismo" da presidente, que tudo quer ver e interferir nos mínimos detalhes, bem como da Casa Civil, por onde tudo tem de passar e não tem a agilidade que a presidente acha que deve ter - ou tinha no tempo dela. As orelhas de Gleisi Hoffmann devem arder todos os dias. Outras que estão ardendo um tanto são as da ministra do Planejamento, Miriam Belchior. As duas estão começando a criar a fama de "engavetadoras". Radar NA REAL 15/6/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2585 baixa baixa - REAL 2,0609 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.104,69 estável/baixa estável - S&P 500 1.348,84 estável alta - NASDAQ 2.872,80 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Encanto quebrado ? A greve em mais de 50 universidades e instituições superiores de ensino federais caminha para completar seu primeiro mês. Parece o primeiro sinal claro de que os dias da pax sindical que Lula celebrou com as centrais sindicais e o funcionalismo público Federal estão contados. Já houve paralisações nos metrôs federais e, na semana passada, boa parte dos médicos do SUS pararam por um dia. E, como se diz nos meios sindicais, "há indicativos" de que outros movimentos podem pipocar em greve. Uma turma do judiciário já fez manifestação pública na última sexta-feira. Paredes com ouvidos Certo hospital de SP - e acerta quem pensar no Sírio-Libanês - além de praticar excelente medicina, por motivos óbvios tem também dotes políticos, palco que é de atendimento de grandes figuras da República. Suas paredes são ágeis. Semana passada, dois personagens que bem conhecem tanto Dilma quanto Lula, pois prestaram atendimento a ambos, trocaram algumas confidências e concluíram que Dilma está afastada demais dos políticos, ao contrário de seu antecessor. E que isto pode sair caro para ela. Até aí não tem nada demais : o mundo político não ligado à presidente, mesmo seus aliados, pensa a mesma coisa. O intrigante é que o diagnóstico parece ter saído do pensamento do "Grande Eleitor". CPI : não adianta correr Vexames à parte, é inevitável a convocação do dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, para depor na CPI. Há apenas um refresco esta semana porque se descobriu em Brasília que os deputados e senadores são imprescindíveis para os debates sobre os rumos do planeta na Rio+20 e estabeleceu-se um recesso branco na Câmara e no Senado. Porém, com a história da "tropa do cheque" e as primeiras revelações da quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico da empresa em todo o país, não haverá muitos parlamentares dispostos a botar a cara para bater. Nem com a blindagem que o PMDB e o PT criaram. O próprio Planalto, mesmo temendo alguns respingos pela proximidade da Delta com o PAC, não vai se meter neste pantanal para salvar quem quer que seja. A convocação do ex-diretor do DNIT, Luiz Antônio Pagot, também não escapa. A estratégia para evitar mais desastres será garantir a convocação, mas sem data para o depoimento, jogando tudo para agosto, depois do recesso parlamentar, na esperança de que o julgamento do mensalão e a campanha eleitoral arrefeçam as repercussões. As contas da Delta Esta coluna teve uma conversa reveladora sobre os pagamentos da Delta para "intermediários" das obras contratadas. Segundo as denúncias, incluídas as originadas das operações policiais, a Delta pagou algo como R$ 145 milhões às empresas suspeitas. Nossas informações de um profissional que detalhou as contas dos últimos quatro anos da empresa "está faltando dinheiro"... Ou seja, mais revelações virão à tona. Ou servirão para que as luzes não recaiam sobre os distintos beneficiários... Só de longe Quanto ao mensalão, não há hipótese de o Palácio do Planalto, se envolver ainda que muito discretamente, por baixo do pano, em qualquer coisa que diga respeito ao julgamento no STF. Bem que os envolvidos e seus padrinhos gostariam de algum gesto nesse sentido, porém vão ficar esperando sentadinhos para não cansarem muito. A turma de Dilma quer distância dessa bomba, é questão de outra turma. Também não muito perto O envolvimento da presidente Dilma na campanha eleitoral, a favor dos aliados, deverá ser muito menor do que todos gostariam vê-la ainda mais com a popularidade dela andando lá pelos 80%. Há pelo menos duas razões para isso : (1) ela quer manter uma posição mais institucional ; (2) há muita confusão entre os aliados em várias cidades importantes e isso pode criar problemas para ela com a base, quando algum partido se sentir preterido. A presidente vai ajudar, permitindo imagens nos programas eleitorais, até gravando mensagens. E dando ajudas indiretas, como fez esta semana ao reservar um lugar para um indicado de Maluf para o ministério das Cidades em troca do apoio do PP malufista ao petista Fernando Haddad em SP. Nada do engajamento do antecessor. No segundo turno esta determinação pode mudar. Bananão e bananinhas Morreu semana passada em Londres o jornalista e escritor Ivan Lessa, dono de um texto sofisticado e de fina ironia. Costumava chamar o Brasil de "Bananão", embora não deixasse de amar o país a seu modo e distante desde o fim dos anos 1970. O que a CPI fez na semana passada, com as mornas inquirições dos governadores Marconi Perillo (PSDB/GO) e Agnelo Queiroz (PT/DF) e a recusa em convocar para depor Fernando Cavendish e Luiz Antônio Pagot, parece uma homenagem do Congresso a Lessa - para provar que em matéria de política continuamos cada vez mais uma república bananeira, um Bananão. Pêndulo eleitoral 1 De repente, o PT de SP, que parecia caminhar para o isolamento na disputa pela prefeitura paulistana, deu a impressão de sair da solidão. Na sexta-feira, conseguiu, com uma mãozinha da presidente Dilma e o grande empenho de Lula, dois trunfos eleitorais : emplacou Luiza Erundina, do PSB, uma política de boa imagem, e arranjou o apoio do PP de Paulo Maluf. Assim, aumentou o tempo no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão. E ficou com a que, nas circunstâncias poderia ser a melhor vice para o quase desconhecido Haddad. Porém, nem bem saboreava essas vitórias e mais o resultado da pesquisa DataFolha divulgada no domingo, com seu candidato saindo da estagnação em que se encontrava a meses, passando de 3% para 8% nas intenções de votos dos paulistanos, o PT sofreu um duro revés. Erundina, que até havia ensaiado algumas justificativas para estar do mesmo lado de Maluf, um político que ela detesta e do qual sofreu muitas agressões, tão de repente quando aceitou ser vice de Haddad, anunciou que vai rever sua posição - na verdade, disse que não quer mais o lugar - seu estômago revelou-se delicado demais para engolir o malufismo. Lula, dirigentes do PT e do PSB ainda tentarão demover Erundina. Parece difícil. Agora, é medir o prejuízo que isso pode trazer para a campanha de Haddad. Pêndulo eleitoral 2 No campo adversário, o PSDB de José Serra, que parecia navegar em águas limpas, além de perder os minutos eleitorais do partido de Maluf, está enrolado em tremenda confusão por causa da formação da chapa de vereadores de sua aliança. Ele quer um blocão, exigência dos outros partidos para apoiá-lo, porém a turma de candidatos do PSDB não quer a aliança nas eleições proporcionais, com medo de perder vagas especialmente para o pessoal do PSD de Gilberto Kassab. Mal estar Estão cada vez maiores as indisposições entre o PT e o PMDB e deste também, embora não confessada, com o governo Federal. Bons peemedebistas nem desconfiam mais, têm quase certeza de que se prepara uma cama para deixá-los mal nas disputas pelas prefeituras e diminuir seu poder de fogo na aliança governista. O epílogo desse processo seria cortar as candidaturas de Renan Calheiros à presidência do Senado, de Henrique Alves à presidência da Câmara e trocar de vice na chapa de uma reeleição de Dilma. Rio+20 Quem for ao maior encontro sobre sustentabilidade nos últimos anos no planeta vai descobrir que os resultados objetivos da reunião foram deixados de lado pelos participantes, sobretudo pelos países mais desenvolvidos. Todavia, a simbologia mais intrigante do evento é o fato de se ver o Rio congestionado de carros, sem capacidade de operar eficientemente seu transporte público e os serviços (públicos e privados) de qualidade duvidosa. Haverá quem acredite que até a Copa e as Olimpíadas as coisas melhorem, mas a amostra destes primeiros dias nas terras cariocas foi sofrível. Os correspondentes estrangeiros O cenário era eleitoral : os correspondentes estrangeiros de São Paulo elegiam uma nova diretoria para a sua associação na Escola de Direito da GV. Dois candidatos concorriam. Os programas eleitorais tinham lá suas divergências em termos de administração e finanças. Todavia, no tema mais importante todos concordavam : o governo Dilma piorou muito as relações com os jornalistas de órgãos internacionais. Estes não conseguem entrevistas com pessoas-chaves do governo, não tem acesso ao Planalto e nem aos governos estaduais. Dizem que o Brasil está em alta na mídia estrangeira, mas que, por aqui, os governos não dão bola para os correspondentes. Falta matéria-prima para "vender" lá fora. ____________
terça-feira, 12 de junho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 201

Agora a Espanha - I O conservador Partido Popular ascendeu à chefia do governo espanhol com a sua tradicional pregação pró-mercado. Encantou a maioria do eleitorado, incluso o mais jovem, com o ideário genérico da "austeridade". A mesma pregação da alemã Angela Merkel, a mulher sem graça que tenta incorporar o espírito de Thatcher, a dama de ferro. Pois bem : depois de cerca de seis meses de governo, Mariano Rajoy teve de pedir a bagatela de 100 bi de euros para que o sistema financeiro do país não quebrasse. Ressalta-se que este pacote assiste tão somente aos problemas financeiros e nada se destina à tragédia do desemprego galopante de cerca de 25% da força de trabalho (mais de 50% entre os jovens até 30 anos). Ademais, esta é a segunda intervenção do sistema monetário europeu nos bancos do país - grande parte da injeção de recursos por parte dos maiores BCs do mundo ao final do ano passado foi parar nas mãos dos espanhóis. Agora a Espanha - II O ideário pretensamente liberal de Mariano Rajoy era uma farsa, isso até os ossos de Lord Keynes já sabiam. Afinal, o tal do "mercado" é uma ficção ideológica cada vez mais sem lugar no cotidiano. O mais incrível é que a bolha imobiliária que causou este processo foi engendrada pelos conservadores espanhóis, agora socorridos pelo sistema europeu. A austeridade caberá, sobretudo, ao povo espanhol que terá de despejar suas moedas na sacola estatal que viabiliza tudo isso. A Espanha se junta, assim, ao seleto grupo da Europa meridional, composto por Portugal e Grécia e, do outro lado, os desesperançados irlandeses que votaram, há dois fins de semana, na austeridade da senhora Merkel. Ainda falta a solução da Itália, esta mais vigorosa para se sustentar no curto prazo, mas igualmente carente de crescimento. Agora a Espanha - III Poderemos ter um pouco de calma nos próximos dias. Todavia, em breve, os helênicos voltarão a votar (no próximo dia 17) e a fragmentação política do país gerará mais tensão ao Velho Continente. É quase certa a vitória do Syriza, contrário ao acordo, muito embora seja possível uma coalizão (intrigante) entre o Socialista Pasok e o conservador Nea Democratia. De todo modo, a pequena Grécia caminha para sua saída do euro. Será ao mesmo tempo uma tragédia (sem trocadilhos) e uma esperança. Quem viver, verá. Afora isso, pode-se afirmar que não há nenhuma possibilidade concreta de que possa se reverter o dramático quadro social de toda a Europa. A política de austeridade de Merkel persiste levando o Continente para a beira do precipício. Enquanto, não se adotar um receituário expansionista do ponto de vista monetário e fiscal, o destino da Europa está mais para a depressão econômica que a simples recessão. Em tempos de Eurocopa, melhor torcer contra a política econômica da Alemanha. Não apenas nos gramados. E o FMI, quem diria ! Da Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, um dia antes do Comissariado Europeu decidir despejar até 100 bi para resgatar os bancos da Espanha : "As autoridades políticas tem de deixar os mercados com suas ações em lugar de permitir que os medos do mercado guiem suas políticas." A Espanha pediu e a União Europeia agiu por puro medo do mercado. CPI : o barulho e o tsunami Os depoimentos dos governadores Marconi Perillo (PSDB/GO) e Agnelo Queiroz (PT/DF), hoje e amanhã na CPI Cachoeira-Delta, vão fazer uma barulheira política, com os petistas tentando comprometer os tucanos e vice-versa. Porém, será um barulho muito mais eleitoreiro do que tudo, até porque o Congresso não pode fazer nada com os dois, se seus desvios suspeitos forem comprovados. Eles só podem ser cassados pelas respectivas Assembleias Legislativas nos Estados (Câmara Distrital em Brasília) ou depois de longo processo no Supremo. Barulho de verdade, tsunami mesmo, virá quando a Comissão, inevitavelmente, mergulhar nos negócios da Delta. As últimas informações do Coafi enviadas à CPI são, segundo pessoas que manejaram os documentos, de tirar o sono de muita gente, multipartidariamente. Rindo sozinho. Até quando ? Com o PSDB e o PT em guerra esta semana na CPI Cachoeira-Delta, enrolados hoje no depoimento do governador Marconi Perillo, tucano de GO, e amanhã no de Agnelo Queiroz, petista do DF, o PMDB está uma felicidade só. Em parte ele armou esta confusão para os dois concorrentes mais perigosos do PMDB nas eleições municipais : uniu-se aos tucanos para chamar o depoimento de Agnelo e aos petistas para convocar Perillo. Esta alegria pode durar pouco : petistas e tucanos preparam o troco para trazer Sérgio Cabral à CPI quando a empreiteira Delta entrar na berlinda de fato e de direito. Nessa hora, não haverá amizade do governador fluminense com o ex-presidente Lula e com o senador Aécio Neves. A vingança de petistas e tucanos será comida crua mesmo. PT : de nau sem rumo a nau com novo rumo ? O raciocínio que se segue é de um petista de escol, de bem com o partido e de bem com a vida, mas que, por motivos óbvios, não quer (ainda) se identificar para não cair na roda da inquisição dos companheiros mais intolerantes. Entende o interlocutor que seria útil ao PT passar por alguns "sustos" nas eleições municipais deste ano, com derrotas em cidades consideradas "chaves" para a legenda, para que os petistas revejam suas políticas dos últimos anos e retome o leito perdido quando se rendeu totalmente à realpolitik nacional. Parafraseando Delúbio Soares em uma reunião do PT, que discutia botar na internet as contas do partido, o interlocutor diz que "concessões como estão sendo feitas, alianças como estão sendo praticadas, é burrice demais". Ele lembra que a militância petista tradicional já não tem o entusiasmo de sempre - há apenas uns poucos remanescentes dos bons tempos nas ruas, a burocracia do partido e muitos assalariados temporários. Para encher convenções é preciso patrocinar alguma coisa. O partido está cada vez mais dependente do ex-presidente Lula. E, com todo respeito, diz, Lula não é eterno nem eternamente infalível em suas projeções políticas. Por fim, mesmo sendo paulista e paulistano, acredita que seria útil que o PT ficasse menos atrelado às coisas de SP. O mensalão em foco - I A entrevista do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, advogado de um dos réus do processo e autor da tese de que o mensalão não passou de um jogo de "recursos não-contabilizados", a um programa de televisão no fim de semana em SP, revela a surpresa que tomou conta de suspeitos e de suas equipes de defensores com os rumos que o processo tomou nos últimos tempos no STF. Os sinais, vindos de vários causídicos de acusados das estripulias mensaleiras, era de que eles esperavam - ou será que tinham ilusória certeza - que o julgamento seria postergado para o ano que vem. Por obra e graça de algum "espírito" desconhecido, dava-se como certo de que nada ocorreria neste ano. Talvez por que estivessem tão crentes, tão confiantes nesta possibilidade, é que tenham colocado as chamadas "manguinhas de fora". E a situação, que parecia segura, se inverteu. O mensalão em foco - II O STF encheu-se de brio. Não foi por pressões da opinião pública, pois esta ainda não entrou no clima do jogo, e nem por culpa da sempre culpada imprensa, que não tem a influência que se lhe atribui quando as coisas imaginadas pelos estrategistas políticos não dão certo. Foi muito mais por causa das provocações e o ar de superioridade exibido sem certo pudor pelos defensores e amigos dos acusados. Pode-se ter certeza de que o movimento da CPI Cachoeira-Delta e o encontro Lula-Gilmar Mendes (via Nélson Jobim) foram decisivos para a decisão do STF de tentar encerrar o processo até setembro. Qualquer movimento parecido com essas duas desastradas ações só pode aumentar os brios do Supremo e prejudicar, ainda mais, a defesa dos réus. É uma questão de matemática O governo não admite publicamente que reduzirá, como permitido pela lei de Diretrizes Orçamentárias, a meta de superávit primário deste ano, abatendo do total parte dos investimentos do PAC. Vai deixar simplesmente que ocorra. Avisar antes pode aumentar as desconfianças dos agentes econômicos externos e obrigar o BC a continuar justificando a baixa contínua da Selic. A ordem é acelerar os investimentos públicos - e como a arrecadação não está subindo no ritmo previsto nem as despesas correntes estão de fatos contidas, não dá para investir num ritmo maior do que foi feito até o fim de maio e, ao mesmo tempo, ficar com o superávit cheio de 3,1% do PIB. Até os milagres têm limite. É uma questão de matemática. Os planos de aceleração dos investimentos - I Da lista de medidas que se especulava em Brasília a serem possivelmente adotadas pelo governo para, de sua parte, acelerar a retomada de um ritmo mais acelerado de crescimento da economia nacional, duas já saíram do papel semana passada - a CEF reduziu os juros e ampliou o prazo para financiamentos da casa própria e o BNDES cortou os juros de empréstimos para capital de giro das empresas. Os planos de aceleração dos investimentos - II E novas providências foram incluídas no rol das medidas em estudo : 1. O aumento da capacidade de endividamento dos Estados e municípios. 2. Criar um RDC para compra de equipamentos para as áreas de saúde e educação. 3. Aumentar o limite de refinanciamento de dívidas bancárias com incentivo tributário de R$ 30 para R$ 100 mil. 4. Mudar artigo da lei de Responsabilidade Fiscal para tirar exigências de contrapartidas - novos impostos, aumentos de alíquotas - para concessão de incentivos fiscais. 5. Estabelecer juros mais baixos e regras mais generosas para financiamentos agrícolas. 6. Dar maior prazo para as empresas recolherem impostos federais. 7. Ampliar e antecipar as compras governamentais, com preferência para empresas nacionais com diferença de preço até 25%. Como Dilma está "no pé" de seus ministros, com cobranças diárias, o pacote deve ser acelerado esta semana. Cair na realidade Do economista José Roberto Mendonça de Barros, em artigo no "Estadão" de domingo : "É impossível não ver que temos aqui um problema muito maior do que uma flutuação conjuntural e que é hora de parar com avaliações triunfalistas ou a denúncia de conspirações internacionais. Num mundo que vai crescer menos, a disputa vai se elevar, e o que vai falar mais alto é a capacidade de competição de cada país." Efeito dominó ? Sem ver riscos de uma "crise sistêmica" no setor bancário brasileiro, alguns analistas dizem que o Banco Cruzeiro do Sul não vai fechar agora a lista de instituições financeiras brasileiras em dificuldades, sob intervenção ou vendidas à força, numa lista que inclui, entre outras, o Banco Panamericano, o Banco Schahin, Matone, Morada... Para esses analistas, na conformação atual do sistema financeiro do Brasil, os pequenos bancos vão se tornando inviáveis. Uma das preocupações da presidente Dilma é evitar a concentração bancária no Brasil. Radar NA REAL 8/6/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2534 baixa baixa - REAL 2,0329 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.429,85 estável/baixa estável - S&P 500 1.325,66 estável alta - NASDAQ 2.858,42 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 5 de junho de 2012

Política & Economia NA REAL n° 200

PIB : Riscos e oportunidades (I) Não foi totalmente inesperado, mas teve uma dose relevante de surpresa a divulgação do crescimento de apenas 0,2% no primeiro trimestre deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado. Neste ritmo, o PIB anual cresceria ao redor de 2%. Deixemos de lado o resultado (excepcionalmente ruim) do setor agrícola. O crescimento da indústria foi de 1,7% e do setor de serviços foi 1,3%. Ambos continuam com desempenho mensal muito fraco - o crescimento da indústria foi levemente negativo em abril (-0,2%). A análise dos segmentos da indústria e de serviços indica que o país tende à estagnação de vez que o consumo das famílias está positivo, mas está caindo em função da estabilização do mercado laboral e, principalmente, em função do endividamento pessoal. Ou seja, enquanto a indústria patina, o resultado do PIB flutuará em função do consumo. A agricultura permanece como a "incógnita" da equação. PIB : Riscos e oportunidades (II) O resultado do PIB no primeiro trimestre deste ano indica que não há espaço para o governo repetir a estratégia de 2008/09 para que o PIB do país cresça. O estímulo ao investimento e seus correspondentes reflexos sobre a competitividade brasileira são aspectos necessários, muito embora não suficientes para que o PIB retorne ao patamar de pelo menos 5% de crescimento. O estímulo ao investimento privado dependerá, do lado do empresário, da taxa de juros, mas especialmente da desoneração fiscal. Do lado do mercado é preciso alimentar o consumo doméstico. No que tange ao investimento público a coisa é mais complicada : há um "nó" que mistura problemas de regulação, eficiência de execução e problemas de litígio intra e extra no Estado. PIB : Riscos e oportunidades (III) Pelas razões acima relacionadas a questão do crescimento se tornou mais complexa que em 2008. Além disso, o contexto internacional indica um quadro de piora e não de melhora. Estes são os riscos. A oportunidade consiste em aproveitar a atual conjuntura e organizar o governo para exercer o seu papel de estimulador do crescimento. Não há no âmbito do governo "centros de planejamento e execução" de políticas públicas voltadas para o investimento. O próprio ministério do Desenvolvimento carece de mais poder para propor políticas. Ademais, o PAC necessita de uma gestão mais ativa, seja na fiscalização, seja na concepção e na implementação de investimentos públicos. O Brasil não pode confirmar a percepção de que o seu crescimento é débil e insustentável. É preciso reverter este quadro. Com paciência e gradualismo, porque não será uma tarefa fácil. Investimentos : alguns dados Para ficar num eufemismo, o governo continua demonstrando um extraordinário déficit de execução. Até abril, os gastos do PAC foram inferiores aos realizados no mesmo período em 2010 e 2011. Obras prioritárias como a transposição do rio São Francisco e a Ferrovia Norte Sul estão com seus cronogramas totalmente estourados - em anos, não simplesmente em dias ou meses. O DNIT acaba de confessar que 30 mil quilômetros de estradas dos poucos mais de 50 mil sob sua responsabilidade estão sem contratos de manutenção - e a maioria em frangalhos. Mais uma vez foi adiada a assinatura dos contratos de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. O PIB e o capital político do governo O PIB é conceito incompreensível para a imensa maioria da população brasileira, uma abstração que não entra no seu estômago nem no seu bolso, assim como outros conceitos tais como superávit primário, metas de inflação... O que interessa, popularmente, é a conta final, o que vai para sua algibeira para pagar suas contas. Portanto, na frigideira de tantas discussões sobre o que se quer saber é o seguinte : qual o efeito de tudo isso no emprego e na renda do brasileiro ? É possível manter os dois em alta, com o horizonte que se tem pela frente ? O capital político a presidente Dilma é este : a paz social que isto proporciona. Crescer pelo consumo ? Pensem nesses números... 1. A classe média no Brasil, segundo os últimos estudos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da presidência da República, é formada pelas famílias com renda per capita de R$ 291 a R$ 1.019. 2. O PIB per capita dos brasileiros é de US$ 11,6 mil. 3. Cerca de 10 milhões de famílias no Brasil já estão com mais de 30% de sua renda comprometida com pagamento de dívidas. Agora respondam : ainda é possível sustentar o crescimento da economia brasileira por muito mais tempo com simples estímulos ao consumo ? Medidas adicionais de estímulo É questão de dias - muito mais para poucos dias - o governo anunciar que vai reduzir a meta de superávit primário deste ano, estabelecida na lei de Diretrizes Orçamentárias em cerca de 3,1% (o valor real é R$ 139 bilhões) para permitir mais investimentos públicos na luta para elevar o PIB. Vai utilizar-se da facilidade concedida pela própria LDO de abater do superávit parte dos gastos com obras do PAC. Vale tudo para não deixar o PIB ficar abaixo dos 3%. Aliás, desde a revelação do PIBinho de 0,2% no primeiro trimestre, passou-se a especular em Brasília, em informações de "cocheira" ou balões de ensaio, sobre o "arsenal" que o ministro Mantega tem para elevar o ritmo de crescimento da economia : (1) mais desonerações da contribuição patronal para a Previdência Social; (2) unificação na cobrança do PIS e da Cofins; (3) ampliação dos investimentos das estatais; (4) liberação da Petrobras da obrigação de compras com um mínimo de 65% de conteúdo nacional; (5) queda da Selic em agosto para menos de 8%; (6) redução dos juros do BNDES; (7) redução dos impostos para diminuir as tarifas de energia e transporte; (8) aceleração das concessões de serviços públicos; (9) novos incentivos pontuais, com os recentemente dados a setores como o automobilístico, de motos, de ar condicionado; (10) mais liberação de crédito e novos recursos para os bancos públicos; (11) eliminação de alguns entraves à entrada de capitais externos aplicados tempos atrás. É pagar para ver. A crise é latente. E permanente A ação de bombeiros poderosos abafou a crise instalada com a revelação do encontro "secreto" entre o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, sob os auspícios, a vigilância e, inicialmente, os aplausos do ex-ministro Nelson Jobim. Jogou para a catacumba sem que o deprimente - e indecente para todos os seus personagens - episódio ficasse devidamente esclarecido. Não elimina, porém, o mal estar vigente nas relações entre os três poderes da República, especialmente entre o mundo político representado pelo Legislativo e o Executivo, de um lado e o Judiciário. Há uma tensão latente, insatisfações e queixas mútuas. Sem conciliadores à vista, num momento de descuido alguma coisa pode explodir. Por pouco não foi agora, na trêfega ação Lula-Gilmar-Jobim. É com eles também O mesmo desamor Executivo e o Legislativo dedicam ao MP - incomoda-os o trabalho investigatório dos promotores. O Supremo e o mensalão Não há mais dúvidas : a CPI Cachoeira-Delta e o "convescote" Lula-Gilmar empurraram o STF para um impasse : ou julga logo ou julga logo o processo do mensalão. E sem se render a qualquer tipo de chicana. Por isso, como se dizia na imprensa de antigamente, há "mensaleiros", petistas ou não, infelizes com o ex-presidente Lula. Jobim sim, Jobim não Nota ferina do jornalista Carlos Brickman em sua excelente coluna : "O excelente colunista político Jorge Bastos Moreno, de O Globo, conversou com Jobim logo que Veja publicou a notícia. Jobim, disse Moreno, afirmou-lhe que o encontro tinha sido casual, que Gilmar costuma ir a seu escritório e apareceu sem saber que Lula estava lá. Depois, disse aos jornais que Lula lhe havia pedido para chamar Gilmar. Em qual Jobim acreditar ? Este colunista, que viu Jobim gabar-se introduzir itens não votados na Constituição, que o viu militando entusiástico nos Governos Fernando Henrique, Lula e Dilma, que sendo ministro de Lula votou em Serra, dá uma sugestão a Moreno : em nenhum deles. Jobim seria o nome ideal para uma Comissão da Inverdade". Dilma-Lula : gratidão e dívida Como fez ainda na semana passada em cerimônia no Palácio do Planalto, na qual arrancou aplausos calorosos para Lula, a presidente Dilma faz questão de registrar publicamente sempre que pode a gratidão que tem pelo companheiro por tê-la, praticamente sozinho, elevado até onde a elevou. É gratidão eterna. Porém, Lula, aos poucos, vai acumulando passivos para com a presidente, com custos que podem pesar para ele no futuro. Na contabilidade negativa está ter jogado o governo dentro de uma CPI que nunca interessou à presidente, e na qual, está provado, o governo não tinha nada a ganhar. A abertura das contas da empreiteira Delta nacionalmente é pura dinamite pronta para explodir nas cercanias do PAC. Já se fala em Brasília que a CPI Cachoeira-Delta pode virar a CPI do PAC. Esta semana podem vir as desagradáveis convocações da ministra Miriam Belchior e de Erenice Guerra, segunda de Dilma na Casa Civil (e depois a primeira), para explicarem as relações PAC-Delta. Lula deu uma declaração - gratuita ou marota ? - num programa popularesco de televisão, dizendo que poderá ser candidato à presidência da República caso ela não concorra, para não deixar um tucano voltar ao Palácio do Planalto. Ele despertou nos aliados "descontentes" com Dilma um comichão de outra "alternativa de poder" além de Dilma. Os aliados com birra do Palácio do Planalto não são poucos. PT versus PMDB Está cada vez menos "amigável" a relação do PT com seu principal parceiro na aliança governista. A pouca confiança existente entre os dois esvaiu-se de vez. A "ajuda" peemedebista para a convocação de Agnelo Queiroz para depor na CPI e para a quebra do sigilo da matriz da Delta é fruto desse desentendimento. O PT em nome de Dilma e das alianças municipais teve de engolir mais ou menos calado. Depois das eleições será outra coisa. Congresso desobediente Por falta de acertos entre o Palácio do Planalto e suas bases, duas MPs editadas pelo governo no fim do ano passado não foram votadas a tempo e perderam validade. Uma delas continha pelo menos um ponto considerado crucial para agilizar os investimentos públicos : estendia às obras do PAC o Regime Diferenciado de Contratação adotado nos projetos para a Copa de 2014. O RDC permite queimar etapas nas exigências da lei de licitações. Os parceiros continuam insatisfeitos com o tratamento do Palácio - nem nomeações, nem o dinheiro de verbas no ritmo que desejam, nem açúcar e afeto. O mesmo desgosto contribuiu para puxar votos aliados a favor da quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da empreiteira Delta em todo o país. Dando corda ao adversário Mesmo contra a vontade deles, como mostra a confusão em que se meteram no caso do governador Marconi Perillo, os aliados, em especial o PT, têm se metido em tantas trapalhadas, que vão acabar acordando os oposicionistas e dando a eles um fôlego que não esperavam conquistar tão cedo. É o milagre da ressurreição de Lázaro. Radar NA REAL 1/6/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2492 baixa baixa - REAL 2,0423 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 53.402,90 estável/baixa estável - S&P 500 1.278,04 estável alta - NASDAQ 2.747,48 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Intrigas vaticanas Para quem acha que a intriga política é coisa apenas para o mundo leigo, aconselha-se a leitura do que passa no momento na Cúria Romana, em duas reportagens do jornalista José Manuel Vidal para o jornal espanhol "El mundo" : 1. Um pastor rodeado de lobos - clique aqui. 2. Os dois partidos que mandam na cúria - clique aqui. Brasília, PT, PMDB e PSDB são fichinhas diante desta história. ____________
terça-feira, 29 de maio de 2012

Política & Economia NA REAL n° 199

Mais turbulência pela frente Se não havia ilusão de que a crise atual não comportaria saídas fáceis, está se consolidando entre os agentes econômicos mundiais de que a crise atual deve incorporar novos e perigosos elementos capazes de prejudicar ainda mais o crescimento econômico mundial pelos próximos anos. Destacamos : (a) A elevada probabilidade da retirada da Grécia do euro. Eis um assunto muito comentado, mas cujas consequências são imprevisíveis; (b) A fragilidade financeira da Espanha, Itália e, em menor medida, da França indica que os bancos centrais terão de socorrer cada vez mais estas instituições que estão tendo de financiar no mercado; (c) O desemprego campeia no Velho Continente e as mudanças políticas que virão mostrarão cada vez mais a exaustão do modelo "Merkozy" de austeridade fiscal em meio a um crise semelhante a dos anos de 1929; (d) O agravamento das relações comerciais é notório e a incapacidade de negociar dos países é notável; (e) A China e outros países asiáticos começam a apresentar quedas (na margem) de seu crescimento com efeitos severos sobre a demanda mundial; (f) Os EUA estão em ano eleitoral e o debate sobre a economia ganha contornos de certa irracionalidade no que tange à política de expansão fiscal e monetária. Não haverá somente um aumento da volatilidade nas economias em geral. A possibilidade de uma depressão mundial é concreta e será um "fantasma" a perturbar a vida dos governos e seus cidadãos. O "bom posicionamento" do Brasil frente à crise Uma simples comparação dos indicadores econômicos do Brasil e as economias centrais do capitalismo nos leva ao diagnóstico de que estamos muito bem posicionados. Todavia, trata-se de algo contextual e relativo. Os efeitos do agravamento da crise mundial hão de ser despejados sobre a economia nacional. Neste sentido, a expansão do crédito e as medidas de estímulo ao consumo doméstico são positivas, mas serão mitigadas pela deterioração sistemática das expectativas dos agentes no campo do consumo e do investimento. Haverá, por conseguinte, os efeitos políticos deste processo com os atores políticos criando ruídos que refletirão a insatisfação social do menor crescimento. Por sorte, o emprego ainda não foi atingido, mas será seguidamente "contestado" pelo agravamento da crise externa. Investimentos : a necessária urgência de reformas O PAC intrinsecamente possuiu atributos para modificar a rota econômica do Brasil. Todavia, a sua implementação está carecendo de eficiência, além de sérias barreiras regulatórias. O Planalto sabe disso, tanto é que novamente se especula sobre o "retorno" da gestão deste importante programa governamental à órbita direta da presidência da República. Centralizar este acompanhamento nas cercanias palacianas pode até aumentar a visibilidade da execução, mas é condição apenas lateral ao processo. É preciso atrair fundos e visões privadas para os investimentos públicos, alinhando competência na concepção de projetos e eficiência financeira e operacional à sua execução. Estas variáveis mexem em aspectos ideológicos que precisam ser superados, não somente pelo centro do governo, mas pelas forças que o apoiam. A tarefa é árdua. Economia : estrutura e conjuntura Até os economistas mais ligados ao governo, como o ex-ministro Delfim Neto e o professor Luiz Gonzaga Belluzzo já admitem que apenas com incentivos ao consumo, sem um forte empurrão nos investimentos - a começar pelos investimentos públicos, ainda e sempre rateando - a economia brasileira não vai muito longe. Pelo valor da face, poucos analistas creem num crescimento sustentável do PIB a uma taxa superior a 3%. Os sinais de nervosismo em Brasília indicam que o fantasma de um PIBinho, abaixo dos 2,7% de 2011, começa a rondar a Esplanada dos ministérios e o Palácio do Planalto. Sexta-feira o IBGE deve divulgar o PIB do primeiro trimestre - previsão geral para um aumento máximo de 0,5% sobre o último trimestre do ano passado. Os vidros do Palácio devem tremer. O ministério da Fazenda deve vir com novas medidas na linha do consumo para ganhar tempo e esperar o que vem lá de fora... se algum milagre acontece. Os problemas do Brasil são mais profundos e medidas circunstanciais de pouco valem. Humor azedo Por essas e outras, tirante os setores diretamente beneficiados, não são dos mais agradáveis os sentimentos dos empresários em relação à política econômica conduzida pelo ministro Mantega. No anonimato, o tal do "off", e cobras e lagartos saltarão no ar. Eles acham que o governo não tem visão de longo prazo e, muitas vezes, joga apenas para a plateia, para a arquibancada. Alguns já estão até arriscando soltar discretamente seu descontentamento. Bancos de investimento Uma das ideias que poderia ser desenvolvida pelo governo é analisar a possibilidade de estimular a formação de bancos de investimento que se especializariam na viabilização financeira de projetos com prazo de maturação maior. No passado remoto (anos 1970) quando ainda existiam de fato estas instituições a sua atividade foi se reduzindo em função da inflação. No atual contexto em que o país tem um funding de mais longo prazo, tais instituições poderiam "retornar" e contribuir para financiar novos projetos ao largo de toda a economia brasileira. Até mesmo estímulos fiscais poderiam ser dados a estas instituições. De outro lado, com a política governamental de redução de juros, encontraria maior consistência no que diz respeito ao financiamento do desenvolvimento. BC : reduções à vista O governo pode e provavelmente fará mais reduções do juro básico. Não é algo apenas para esta próxima redução do COPOM. O mercado pode ser surpreendido com quedas de juros além daquela que imaginam. O mistério da economia chinesa Os sinais são de que a China está num processo de desaceleração maior do que suas autoridades previram e o mundo não gostaria de ver. Já não deve crescer nem os 8% inicialmente projetados por analistas econômicos. Um crescimento ainda robusto, mas um desastre para o resto do mundo. Lula - Gilmar Mendes : dores de cabeça Quaisquer que sejam as versões - e muitas surgirão nas próximas horas e dias - e interpretações para o inusitado encontro entre o ex-presidente Lula da Silva e o ministro Gilmar Mendes, do STF, patrocinado pelo ex-ministro (de muitos cargos) Nelson Jobim, a verdade é que ele já plantou sobre Brasília nuvens carregadíssimas. Isto terá repercussões inevitáveis na CPI Cachoeira-Delta, nos cuidados do Supremo no julgamento do mensalão e até nas eleições municipais. E trará mais dores de cabeça políticas para a presidente Dilma, já sobrecarregada com as questões difíceis da economia, a conexão Delta-PAC e os distúrbios florestais. Lula - Gilmar Mendes : os fatos Aos fatos, para que se entenda bem a confusão saída do escritório de Jobim numa amena tarde de abril : 1. O encontro era para ter sido secreto, tanto que sua divulgação pela revista "Veja" um mês depois do ocorrido causou furor e correria por parte dos envolvidos para montar versões. 2. Somente os muitos ingênuos acreditam que foi uma coincidência Lula e Mendes aparecerem no mesmo local e hora sem um saber da presença do outro. 3. O ex-presidente e o ministro do STF não são propriamente amigos e não foram lá conversar amenidades nem discutir o esquema Corinthians e Santos na Taça Libertadores da América. 4. O único ponto de contato entre os dois é o mensalão : Lula como intransigente defensor dos suspeitos e Mendes como um dos julgadores. Em princípio, esse movimento, assim como a CPI, parece não ter sido nada positiva para a defesa dos mensaleiros. Perguntas de jurista sério Não é exagerada a intimidade de ministros do STF com as câmaras de TV e com certas bancas de advocacia ? Por que os ministros não falam mais nos autos e menos em reuniões e pela mídia ? Distúrbios florestais Foram somente apenas ruídos, de todos os lados, as primeiras reações aos vetos da presidente Dilma ao texto do Código Florestal aprovado pela Câmara. As alterações que o Planalto vai tentar aprovar por MP, para recompor o vácuo deixado pelos vetos presidenciais, apenas fazem remendos. O Código fica capenga e vai gerar novos confrontos entre ruralistas e ambientalistas no Congresso, sem grandes proveitos. E o pior : a presidente corre riscos de não colher frutos de sua ação na Rio + 20, pois o texto definitivo do novo Código brasileiro não ficará pronto até lá, gerando desconfiança entre os conservacionistas de que foi apenas um lance de marketing e que o governo cederá depois aos ruralistas. Na realidade, o governo está pagando o preço de não ter se metido mais nas discussões do projeto nos três anos em que ele tramitou no Congresso e de ter deixado que ele entrasse no ar em clima da Fla-Flu ou de Corinthians e Palmeiras, com debates muito mais marcados por motivações emocionais que por considerações de ordem técnica e científica. Pérolas coloridas Quem garimpou as joias foi o jornalista Ancelmo Gois em sua coluna em "O Globo" : Lembrando Jânio Fernando Collor, na CPI do Cachoeira, tem chamado mais atenção pelo. linguajar circuncisfláutico. Quinta, ao justificar a estapafúrdia tentativa de convocação do coleguinha Policarpo Jr., da "Veja", declamou : - Não se me acoime de ter comportamento alapado, lançadiço ou rafeiro em relação ao hebdomadário em tela. - Hã ? Gois explica. - "Acoimar", segundo o "Aurélio", é castigar, punir, censurar. "Alapado" é escondido. 'Lançadiço" é desprezível. 'Rafeiro" é o indivíduo que acompanha sempre o outro, como cão de guarda, vigiando-o, defendendo-o. "Hebdomadário" é semanário, caso da "Veja". Em tempo. - "Circuncisfláutico" quer dizer rebuscado, pretensioso. Jânio e Collor Antes de Fernando Collor tomar posse, foi consultar-se com o ex-presidente Jânio Quadros. Perguntou o presidente eleito o que achava de seu governo. Jânio respondeu que preocupava-o o fato de Collor ser muito jovem. Collor instantaneamente respondeu que a sua idade era a mesma de quando Jânio tornou-se presidente. Jânio não se fez de rogado e disse : " e veja no que deu o meu governo". O mesmo ghost writer ? O senador Collor agora se diz vítima de uma conspiração, golpe congressual levado a cabo, com a ajuda da imprensa, pelos setores mais atrasados da elite de um país que ele tentava modernizar com sua política de abertura econômica. Lula diz que o mensalão foi uma invenção das elites com o apoio da grande imprensa para dar um golpe em seu governo. Dá até a suspeita de que o orientador, o escritor fantasma desses dois textos é a mesma pessoa. Dilma e a biruta do PT O ex-ministro e ex-deputado José Dirceu, dizia, antes de Dilma tomar posse, que, agora sim, o PT estaria de fato no governo e o Brasil veria um verdadeiro governo do PT. Não era uma crítica a Lula, governo que Dirceu ajudou a criar e do qual fez parte, mas a constatação de que o ex-presidente tivera, por razões até de sobrevivência, de viver no puro pragmatismo e, por isso, fazer muitas concessões que contrariavam antigos dogmas petistas. Agora, com Dilma mais ideológica, fazendo muito daquilo que o petismo original pregava, haja vista o ataque aos bancos e aos juros altos, o maior ativismo do governo na vida econômica, o empenho em fazer da Comissão da Verdade mais próxima do que querem os petistas do que Lula de fato mandou o ministro Nelson Jobim negociar, o PT não está feliz, está mesmo até incomodado às vezes. Por que essa insatisfação ? A questão parece não estar propriamente nas "políticas", mas na "política" - a influência do partido é bem menor agora que com Lula. E parte importante da legenda está alijada das decisões da presidente. Matando dois coelhos Crescem em Brasília as especulações sobre o apoio da presidente Dilma às candidaturas de Renan Calheiros ao governo de Alagoas em 2014 e de Edison Lobão à presidência do Senado em 2013, na vaga de José Sarney. Se der certo, ela se livra de dois problemas com uma só cajadada : Renan será sempre um presidente do Senado instável e incômodo e ainda pode não se eleger em Alagoas; e abre vaga no ministério das Minas e Energia para um ministro de fato, e não apenas formal. Na encruzilhada Ou a CPI Cachoeira-Delta convoca hoje os governadores Marconi Perillo (PSDB/GO), Sérgio Cabral (PMDB/RJ), Agnelo Queiroz (PT/DF) e o empreiteiro Fernando Cavendish e aprova a quebra de sigilo bancário da empreiteira Delta nacionalmente ou pode fechar as portas por absoluta inutilidade. Radar NA REAL 25/5/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2534 baixa baixa - REAL 1,9797 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.463,16 estável/baixa estável - S&P 500 1.320,68 estável alta - NASDAQ 2.839,38 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Voos turbulentos Sabe-se que a presidente Dilma não ficou muito entusiasmada com o resultado dos leilões de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília. O governo chegou até a cogitar trocar alguns operadores ou mesmo trocar pelo menos um concessionário. Não encontrou amparo legal para o empenho. Agora, adia mais uma vez, por mais 15 dias, a assinatura dos contratos, mais um atraso no já atrasadíssimo processo de arrumação desses aeroportos para a Copa de 2014. Como diria o Barão de Itararé, parece que há no ar mais coisas do que simples aviões de carreira. Dinheiro fácil (I) A CEF não é a maior instituição financeira no Brasil. Mas é mais generosa na hora de gastar em publicidade, à frente do BB e de gigantes como o Itaú e o Bradesco. Segundo o ranking da publicação "Meio & Mensagem" em 2011, a CEF ficou em quinto lugar como maior compradora de anúncios, com gastos de R$ 428 milhões, atrás apenas das Casas Bahia, da Unilever, da Ambev e da Petrópolis, e na frente até da joia mais rara da coroa estatal, a Petrobras. Dinheiro fácil (II) O PT sozinho, ano passado, ano não eleitoral, portanto de vacas mais magras para os cofres do partidos políticos, arrecadou, de contribuições do setor privado, mais de R$ 50 mi, dez vezes do que conseguiram seus principais concorrentes nesse "mercado", o PMDB e o PSDB. E depois ainda falam em "financiamento público de campanha". ____________
terça-feira, 22 de maio de 2012

Política & Economia NA REAL n° 198

Pavões também não se bicam Na política brasileira acreditava-se - o que, aliás, se comprova quase todos os dias - que tucanos de plumas mais vistosas se bicam com gosto e frequência. Era, acreditava-se, uma característica apenas deles. Agora, descobre-se que os pavões partidários também não se bicam, embora suas "armas" sejam menores que a dos tucanos. Petistas de vários costados andam eriçados com certas ações da presidente Dilma, apenas ainda não botaram seus bicos para fora - é gente que se queixa de perda de espaço, de pouca atenção, de mudanças de política e até, agora, de ignorar os riscos de julgamento do mensalão. Menos discretos, dois coloridos (não são assim os pavões) peemedebistas, Nelson Jobim e Michel Temer, trocaram bicadas, aliás, flechadas mesmo, na semana passada, explicitando certo mal estar existente no partido que vende a imagem de estar unido em torno de seus líderes atuais. Se o PMDB não for muito bem nas eleições municipais, a disputa vai se acentuar. O ar político não está dos melhores para as aves partidárias. O que a Petrobras não diz ao Brasil. Nem à Argentina (I) Publicamente, o governo brasileiro e a Petrobras receberam com naturalidade a tomada pela Argentina da petroleira YPF das mãos da espanhola Repsol. O Brasil não viu ameaças aos negócios da nossa empresa estatal do setor por lá. Recebeu em Brasília o ministro argentino responsável pela área petrolífera e interventor na reestatizada YPF e até acenou, mesmo que apenas como uma cordialidade diplomática, com a possibilidade de a Petrobras fazer novos investimentos no país vizinho como deseja a presidente Cristina Kirchner. Ao mesmo tempo, apesar de desejos manifestados pelo ministro das Relações Exteriores da Espanha, que inclusive esteve em Brasília na semana passada, Dilma se recusou a condenar a posição adotada por sua colega argentina. Não aplaudiu abertamente, pela óbvia razão de não despertar desconfianças em investidores sobre o Brasil. O governo brasileiro aparentou total normalidade no caso. Para a Petrobras, dizia-se, nada muda. O que a Petrobras não diz ao Brasil. Nem à Argentina (II) Para o mundo real, no entanto, o conteúdo é outro. Em recente documento encaminhado à SEC, a Petrobras apresenta de outra forma a questão da YPF. Não a normalidade que passou para os brasileiros. Segundo relato das agências de Notícias Infolatam e Efe, a Petrobras informou aos americanos que é provável que o governo de Kirchner "siga intervindo" na indústria petroleira além do que já fez com a Repsol. Informa também que a intervenção na YPF pode ter "efeitos materiais adversos" sobre seus "próprios negócios, condição financeira e resultados operacionais". Diz ainda que "as permissões e concessões de exploração de petróleo e gás na Argentina estão sujeitas a condições e podem não ser renovadas ou ser revogadas". A CVM foi comunicada oficialmente dessas preocupações ? Os investidores brasileiros sabem dela ? O governo Kirchner, com quem Dilma quer manter uma vida serena, sabe dessas desconfianças brasileiras ? O pior dos mundos ? O governo Dilma testa uma "nova" política econômica, na qual o tripé usado nos últimos anos do governo FHC e na maior parte dos anos do governo Lula - meta de inflação, superávit primário robusto e câmbio flutuante - é relativizado e dá lugar a outras variáveis, como a do crescimento econômico vigoroso, com mais incentivo ao consumo interno num momento delicado. Os ventos do exterior sopram cada vez mais incertezas, para o lado negativo . E o mar interior não está nada róseo : 1. A inflação, discursos oficiais à parte, não dá sinais de arrefecer até agora, caminha para ficar mais para cima dos 5% do que para o perseguido centro de meta de 4,5%. 2. O crescimento da economia está lento e a recuperação do ritmo, esperada para o segundo trimestre foi adiada nas expectativas gerais, para o segundo semestre. Sem milagres, se o PIB ficar um pouco acima dos 2,7% do ano passado, em torno de 3% já será considerado excelente. 3. O forte crescimento da arrecadação tributária prevista inicialmente no Orçamento, uma das bases para, ao mesmo tempo, manter-se os gastos públicos, custeio e investimento, em níveis mais elevados que no ano passado e a meta de superávit primário de 3,1% do PIB, já está se frustrando. O Ministério do Planejamento, no relatório de avaliação fiscal do bimestre março/abril, reavaliou a previsão de receita em menos R$ 10 bilhões. 4. Os investimentos, tanto os privados quanto os públicos, estão em câmara lenta. Segundo as estimativas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, as inversões particulares no Brasil (medidas pela formação bruta de capital fixo, sigla FBKF) encolheram 2,5% em relação aos três meses anteriores. Do lado oficial, os investimentos tiveram uma queda de 5,5% nos primeiros quatro meses de 2012 em relação ao mesmo período do ano passado. Nessa situação, haja discurso otimista do ministro Guido Mantega, que espalha sua confiança dia sim outro também, e de seus auxiliares. Ontem mesmo, Mantega deitava esta pregação no "Valor Econômico" e o secretário da Política Econômica do Ministério da Fazenda espargia a mesma lenga lenga no "Brasil Econômico". Como Dilma não quer ver a economia patinando, o governo começou a atacar ontem, com corte no IPI dos carros e outros incentivos ao consumo. Reprises de um filme - o crescimento pelo consumo - esgotado no momento, segundo muitos analistas. Mais uma jabuticaba ? Mesmo com o gosto pela cor rósea, o governo já admite internamente que o PIB deste ano não será o dos sonhos da presidente Dilma. O ministro Guido Mantega deu a senha em entrevista ao "Estadão" ao admitir que partir de um patamar de 2,7% (o PIB de 2011) não é todo ruim. Mas não dá o braço totalmente a torcer e, como os meteorologistas costumam falar em "sensação térmica" quando o frio que as pessoas sentem parece maior do que aquele que os termômetros marcam, imagina que chegaremos ao fim do ano com uma sensação de PIB de 4,5% a 5%. Mais uma genuína contribuição brasileira para o vocabulário econômico. O BC e suas circunstâncias É diante desse quadro que o BC não terá outra circunstância do que continuar a queda, em ritmo acelerado da taxa de juros. Para a maioria dos analistas, o piso do fim do ano da Selic não será mais 8%, mas 7,5%. A volta de uma expressão Se a cabriolé da economia não mudar de ritmo como Dilma quer e Mantega assegura que ocorrerá e a situação europeia se deteriorar ainda mais como muitos parecem acreditar, não será surpresa que uma expressão em voga no Brasil depois que FHC deixou o governo, a tal "herança maldita", volte ao proscênio no linguajar oficial. Mesmo que discretamente sussurrado e endereçado não mais ao seu primeiro destinatário. Silêncio constrangedor Mesmo diante desse quadro, a oposição não tem o que dizer. Nem para uma condenável crítica aberta, puramente oportunista, muito menos com propostas concretas para políticas diferentes das que estão em jogo. O silêncio ecoa diante dos eleitores mais atentos e mais informados. Quando alguém ousa sair do óbvio, como recentemente o senador Aécio Neves em Recife, falando em uma "agenda para o Brasil da oposição para os próximos 20 anos", não explicita suas ideias. Governo politicamente balofo e oposição raquítica de nomes e ideias : eis os males do Brasil neste momento. Enquanto isso, na Europa... A cada semana que passa os sinais mostram que os líderes europeus não estão habilitados a lidar com a imensa crise do Velho Continente. O desemprego grassa por todos os países e a receita germânica de austeridade dá provas inequívocas de sua incompatibilidade com a realidade financeira dos países meridionais da Europa. A Espanha está à beira de um colapso de seu setor financeiro, a França apresenta sinais de acentuação da crise de emprego e a Itália se sustenta enfrentando a cada leilão de títulos públicos maiores custos e menor liquidez. A Grécia provavelmente sairá do euro e restará mais incerteza e sofrimento. Não vale apostar numa estabilização das economias europeias caso as medidas e políticas continuem dentro do padrão atual. Commodities em queda Desde o começo do mês as perdas dos mercados acionários foram de mais de US$ 4 trilhões. A instabilidade europeia está diretamente ligada a este resultado. Os preços das commodities persistem caindo, no rastro de uma substancial desmobilização de ativos por parte dos especulativos fundos hedge. Na semana passada, completou-se o período de três semanas seguidas de queda nos principais índices de commodities. Grande parte do segmento de metais está caindo, bem como as commodities agrícolas, especialmente o suco de laranja. Para o Brasil, este cenário é, ao mesmo tempo, deflacionário e redutor da atividade econômica. Note-se que a China pode ter um crescimento ainda menor que os 6% inicialmente imaginado considerando-se este cenário. Neste sentido, as exportações brasileiras devem sofrer muito mais que outros países, dado que a pauta de comércio exterior está muito mais dependente do desempenho das commodities que nos anos 80 e 90 do século passado. JP Morgan : mais um sinal dos tempos A perda de US$ 2 bilhões em operações de tesouraria com derivativos do banco americano não deve ser considerado como uma "exceção" na indústria financeira internacional. Muitos bancos podem não ter registrado perdas gigantescas como esta, mas o potencial de perdas é enorme. Infelizmente, desde a crise de 2008, os órgãos reguladores das principais economias não foram capazes de impor legislações mais rigorosas para que se evite este tipo de perdas. Os lobbies da área financeira são poderosos e paralisaram a onda reformista que parecia estar surgindo ao final de 2008. O que se vê é um elevado nível de complacência regulatória que enfraquece o sistema financeiro e a economia mundial. Os políticos permanecem captando recursos para as suas campanhas eleitorais no rico mundo financeiro. Sobretudo nos EUA. Especialmente, no caso do ex-reformista Barack Obama. Direto para o forno de pizza Ou alguns políticos mais audazes e menos comprometidos entram no jogo ou a CPI Cachoeira-Delta vai morrer lentamente nas mãos de pizzaiolos de diversas colorações partidárias. A oposição discursa e faz corpo mole. E os situacionistas ficam definidos no torpedo "nós somos teu" dirigido pelo deputado petista de SP e ex-líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, ao encapuzado (ou melhor, "enguardanapado") governo do RJ, Sérgio Cabral. O lado mais raivoso do situacionismo tinha como foco na CPI o procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, parte da imprensa, em especial a "Veja" e a oposição. Agora, o foco (ou a falta de foco) é evitar que a CPI vá mais fundo nas investigações. Para Dilma é um alívio que os aliados tenham tomado juízo, pois chegar fundo na Delta e em Cachoeira paralisa o Congresso e pode parar centenas de obras federais Brasil afora. Salvando os bancos públicos ? A intenção, anunciada na imprensa e não desmentida oficialmente, de transferir créditos atrasados (também conhecidos como créditos podres) da CEF para a Empresa de Gestão de Ativos do Ministério da Fazenda, e que pode ser estendida a outros bancos oficiais, BB e que tais, tem cheiro de limpeza dos balanços dessas instituições, depois que elas foram forçadas a ser generosas nos juros e nos empréstimos ao público. Salvamento disfarçado em operação técnica. Há indícios de que o balanço da Caixa mostrará que todo o lucro dela decorre da remuneração dos serviços prestados ao governo, como um dos agentes financeiros oficiais. As operações com o público estariam no vermelho e com um azul bem tisnado. Rir para não chorar Como não tem infraestrutura viária (nem hoteleira, diga-se) para atender as necessidades de circulação de visitantes da cidade na Rio + 20, o governo carioca de Eduardo Paes, de comum acordo com o governo estadual e Brasília, declarou oficial feriado local nos dias da reunião de cúpula da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, 20, 21 e 22 de junho, um feriadão que vai de quarta-feira até domingo. E, como o ritmo dos preparativos para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 está de lento a quase parando, já se prevê que feriados idênticos poderão ser decretados por ocasião de algumas das competições desses grandes eventos. Pela Copa, ainda, o calendário escolar deverá mudar no país inteiro e as cidades-sedes deverão ter feriados nos dias dos jogos para facilitar o trânsito. A possibilidade é tanta que o humor carioca já está sugerindo até que se enforque de uma vez também o ano de 2015, exprimido que ficará entre duas memoráveis festas. E a Igreja Católica ainda não sabe o porquê Atrelada a exigências e comportamentos um tanto antiquados, alguns até mediáveis, a Igreja Romana mostra as estatísticas : vem perdendo fiéis para outras denominações religiosas, especialmente os neopentecostais. Estas andam muito mais afinadas com o "novo mundo". Em São Paulo, por exemplo, a Igreja Universal tem pelo menos um templo em que há um "drive thru de oração". Outro, tem uma espécie de "terceirização" também das orações : o fiel encontra um caixinha onde deixa o pedido de uma reza, sua contribuição pecuniária e alguém de direito ora por ele. Não há conhecimento ainda se a Universal aceita orações pela Internet ou tem delivery para esse serviço. Radar NA REAL 18/5/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2823 baixa baixa - REAL 2,0412 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.513,16 estável/baixa estável - S&P 500 1.295,22 estável alta - NASDAQ 2.778,79 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 15 de maio de 2012

Política & Economia NA REAL n° 197

O cenário deve piorar I A imensa dificuldade da Grécia em formar um governo, seja de união nacional ou não, simboliza o quão está esgarçada a sociedade daquele país. Todavia, o momento grego não é nada exclusivo. A desesperança, o desemprego, a ausência de alternativas reais na economia e na política não são monopólio do pequeno país balcânico. O tratamento da crise por parte da União Europeia (que segue os passos dos franceses e dos germânicos), do Banco Central Europeu e do é simplesmente um desastre, seja nos resultados produzidos até agora, seja no conteúdo recessivo das medidas de austeridade. O Velho Continente caminha para um cenário que pode combinar uma severa depressão e uma instabilidade política nunca vista depois da queda da Alemanha hitlerista. O cenário deve piorar II Os operadores e os próprios governos já tratam a Grécia como um país a caminho (curto, provavelmente) para a saída do euro. É provável que as autoridades estejam subestimando os efeitos deste fato, tratado com certa negligência pelos analistas de plantão. Todavia, os sinais são de forte deterioração do crédito no sistema financeiro espanhol, bem como em Portugal, Irlanda, Itália e, até mesmo, na França. Na Alemanha, os efeitos econômicos são bem menores, mas já há sinais de que a chanceler Angela Merkel começa a perder suporte político. A nosso ver a Europa está próxima de reviver e, quem sabe, ampliar o stress do período final de 2008 e do primeiro trimestre de 2011. As quedas das principais bolsas europeias são apenas um prenúncio do que está por vir, caso a passividade política prossiga sendo a principal marca entre os europeus. A negação da política Foi destaque no jornal espanhol "El País", mas passou longe da percepção do mundo político brasileiro, um fenômeno observado nas eleições provinciais italianas. Pouco conhecido fora da Itália, o Movimento 5 Estrelas, cujo mote é "não aos partidos", conseguiu significativa votação em várias regiões e estará representada com bom número de vereadores em grande parte dos municípios da Bota. Já é a terceira força do país nas províncias. E ontem, na Espanha, com grandes manifestações, o movimento dos "indignados", comemorou seu primeiro ano de existência. Brasil vai sofrer mais que no passado Convenhamos. Lula disse ao final de 2008 que a economia brasileira sofreria apenas os abalos de uma "marolinha" frente ao tsunami internacional. Depois de implementar medidas de estímulo econômico provou-se que o ex-presidente estava certo. O estilo Dilma é mais discreto, muito embora seja mais diretamente atuante na definição das medidas que devem ser tomadas para resguardar a economia brasileira. Só que desta vez os efeitos da crise internacional serão mais sentidos por aqui. Os preços das commodities não estão mais no pico, os investidores estrangeiros reajustam suas carteiras resgatando recursos investidos em ativos brasileiros e a confiança doméstica deve ser negativamente afetada pelo fraco crescimento da economia brasileira. O dólar é o melhor indicador da evolução dos fatos e será dele que extrairemos os principais custos políticos e econômicos que o país incorrerá nas próximas semanas. É hora de atenção e cautela. Falta qualidade ? Até os "desenvolvimentistas" do governo admitem que é preciso haver certo nível de ajuste fiscal - grosso modo, economia nos gastos para abater a conta de juros - normalmente um discurso próprio dos "conservadores neoliberais". Porém, mesmo tendo abraçado o discurso, o ministério da Fazenda continua atrás de mágicas para não ter de ir mais fundo no corte de despesas oficiais, em princípio para não comprometer a meta da presidente Dilma de fazer o PIB nacional "bombar" em pelo menos 4,5% ao final de 2012. Da cartola fazendária em prol do superávit primário continuam saindo, entre outras contribuições para as contas públicas fecharem, o aumento dos dividendos repassados pelas empresas estatais e o crescimento do uso dos depósitos judiciais - até agora este item nas contas já aumentou 20% em relação ao ano passado. Está na hora de se discutir um pouco mais a qualidade do ajuste fiscal e não apenas os números alcançados. No fundo, são contas que ficam para serem acertadas no futuro. Os juros Se na área fiscal o desempenho dos governos é sofrível, na área dos juros o governo Federal vai bem. Conseguiu estabelecer com calma os novos parâmetros da caderneta de poupança, pressiona pela queda dos custos dos empréstimos incrementando a concorrência via bancos oficiais e, com isso, capitalizou popularidade e atenção para o assunto. É provável que os efeitos deste processo sejam mitigados pelo agravamento da crise internacional. A hora parece mais apropriada para que o governo tire os investimentos da letargia e aumente o percentual das inversões no PIB. Ademais, não se deve subestimar a vontade do governo de reduzir ainda mais a taxa básica de juros. Esta pode cair além dos 8% tão comentados no mercado. Radar NA REAL 14/5/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2823 baixa baixa - REAL 1,9967 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.539,61 estável estável - S&P 500 1.338,35 estável alta - NASDAQ 2.902,52 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Nem Kirchner nem Chávez, mas... O governo Dilma, em matéria de intervenção econômica, não pode nem de longe ser comparado ao da Argentina Cristina Kirchner, menos ainda ao do venezuelano Hugo Chávez. Inegavelmente, porém, é crescente a interferência governamental na atividade econômica privada. Haja vista : 1. O ataque aos bancos privados para obrigá-los, a ferro e fogo, a reduzirem os juros de seus empréstimos. 2. A interferência na autonomia do BC, negada por ambos, o BC e o Palácio do Planalto, mas evidente. 3. O uso da Petrobras como agente de política econômica. 4. O uso do BB como agente de política monetária, quando, tanto ele quanto a Petrobras são empresas de economia mista, portanto com acionistas minoritários que merecem respeito. 5. As pressões constantes do ministério das Comunicações sobre a Anatel, em tese uma agência independente, e sobre as empresas concessionárias, com ameaças de mudanças de regras. 6. A interferência, esta semana, no setor hoteleiro do RJ para forçar a cobrança de diárias menores do que as extorsivas diárias que o setor esta cobrando para hospedagem na cidade durante da Rio + 20. Muitas causas podem ser até justas, porém sua repetição e extensão podem criar ruídos que interferem em decisões de investidores privados em ampliar suas inversões no país. Eles acreditam O Papai Noel, o Saci Pererê, a Fada Sininho e outros entes assemelhados acreditam piamente, de jurar de pés juntos e com os dedos cruzados, que o governo não se meteu na compra da empreiteira Delta pela J&F, cujo carro chefe é o frigorífico JBS Friboi que tem 32% de seu capital nas mãos do BNDES. A derrocada da Delta ameaça quase 300 obras que a Delta tem pelo país, boa parte do PAC, cuja mãe, nomeada por Lula, é a presidente Dilma. A Delta já abandonou o Maracanã (em tese empreendimento privado, mas com dinheiro público) e as obras de um dos três corredores exclusivos para ônibus no Rio, do PAC da Mobilidade para a Copa. E, segundo o "Estadão" de domingo, a empreiteira parou também obra da transposição do São Francisco, já gerando abalos sociais na região do Cariri, Ceará. Entregar a execução dos projetos às empresas colocadas nas licitações, como começou a ser aventado em Brasília, pode levar à contestações no TCU e no Judiciário. Uma "nova" Delta, com novos gestores expelindo a "velha" Delta, é uma solução que cai do céu para o governo. Por isso, Dilma não interferiu - ela veio por obra e graça de algum santo. Resta saber se a manobra vai funcionar. O trio de ouro Causa inveja nos meios empresariais brasileiros e até internacionais a eficiência e a competência para encontrar e fazer bons negócios do trio dos mais atilados empreendedores surgidos no Brasil nos últimos anos : (pela ordem alfabética) André Esteves (BTG Pactual), Eike Batista (empresas X) e Joesley Batista (JBS Friboi e Cia.). É a turma que tudo escuta, tudo vê e tudo sabe. Bola fora Pode ser somente a tal "mera coincidência", mas a realidade é que desde que ficou explícito que o alvo principal dos patrocinadores petistas (Lula à frente) da CPI Cachoeira Delta, é embaralhar o julgamento do mensalão no STF, os mensaleiros só acumularam más notícias : (1) o ministro Joaquim Barbosa apressou a entrega de sua representação final no processo; (2) o mesmo Barbosa negou uma chicana jurídica, comandada pelo ex-ministro Márcio Thomas Bastos, que intentava jogar a maior parte do processo para a primeira instância, retardando o julgamento dos acusados; (3) o STF já começou a estabelecer os procedimentos para o julgamento, inicialmente conferindo ao procurador-geral da República cinco horas para fazer a acusação, e não apenas a uma hora de praxe. Além do mais, as pressões da CPI sobre o procurador Roberto Gurgel, geraram reações nada agradáveis no MP e no Judiciário para os que estão prestes a sentar no banco dos réus do mensalão. Popularmente falando, é tiro que pode sair pela culatra. O foco desse grupo deve mudar. O problema é que não dá, nessa altura, para concentrar apenas em Carlinhos Cachoeira e mais quatro ou cinco políticos. A Delta está no picadeiro - e isto é o motivo do maior desagrado da presidente Dilma com os "fogueteiros" da CPI. Moço ajuizado O deputado Odair Cunha, do PT de Minas, relator da CPI Cachoeira-Delta, tem jeito daquele menino arrumadinho e obediente que se sobressai na escola. Além disso, tem o pedigree da escola mineira de fazer política, a real e a folclórica. Por fim, não tinha ligações com o petismo paulista, dominante no partido e patrocinador da CPI nos moldes a pegar desafetos e proteger mensaleiros. Exatamente por essas qualidades foi o preferido do Planalto para relator. E vai cumprindo direitinho até agora a missão, de evitar que ela pegue fogo, embora às vezes pareça intimidado com o jeito grosseiro e histriônico do senador Fernando Collor. Com a ajuda do presidente da CPI Vital Rego, de perfil parecido, Cunha trabalha para evitar sobressaltos - não está com nenhum entusiasmo, pelo menos por enquanto, para convocar o procurador-geral. A fonte de inspiração da dupla é o palácio do Planalto, não o PT. É a política A nomeação do ex-senador baiano César Borges, oriundo do grupo de ACM e hoje abrigado no PR de Alfredo Nascimento, Blairo Maggi e Valdemar da Costa Neto, para uma das vice-presidências do BB apenas demonstra que o discurso da presidente Dilma de que a opção preferencial de seu governo é por técnicos, é bem relativo. O arranjo tenta acalmar o PR, em ebulição porque não consegue retomar, como deseja, o ministério dos Transportes. O PMDB, com vagas já surrupiadas na Petrobras e ameaçado de ser despachado da presidência da Transpetro, anotou direitinho no seu caderno de "deveres e haveres" esse agrado da presidente ao PR. Na Petrobras o partido já perdeu a "diretoria de furar poço" que dividia com o PP e está para sair também da área internacional - o diretor Jorge Zeleda está assim numa espécie de "aviso prévio". A preocupação é outra Embora tenha abalado algumas convicções no partido, não tirou muitas horas de sono dos petistas a pesquisa do Ibope que deu Serra com grande vantagem na intenção de votos para a prefeitura de SP e Fernando Haddad na rabeira, com apenas 3%. O potencial do partido é bem maior e mesmo um velho poste leva, somente por inércia, de 20% a 25% dos votos. O que tira mesmo o sono é a incerteza sobre condições que Lula terá para botar Haddad nas costas e sair com ele por aí. Este será o diferencial em SP. No resto do país será diferente, pois Lula não vai muito longe além dos limites do Estado, ainda por precaução. E Dilma, também precavida, talvez não se disponha a subir em palanques para dar a ajuda que o PT espera dela. Centralismo democrático O empenho do PT por SP e por Haddad é tanto que a Executiva nacional baixou um decreto tipo "centralismo democrático" : em cidades de mais de 200 mil habitantes, todas as capitais inclusas, a definição do candidato do partido à prefeitura terá de ser referendada pelo Diretório Nacional. O PT está disposto a ceifar seus talentos para angariar apoios para o ex-ministro da Educação na capital paulista. ____________
terça-feira, 8 de maio de 2012

Política & Economia NA REAL n° 196

Mercados nervosos I Dois países, duas sociedades, decidiram que querem mudar o rumo das suas economias. A França e a Grécia, esta última com maior intensidade, votaram neste último fim de semana e a conclusão é que para os cidadãos o sofrimento com o desemprego e a depressão econômica estão pesando muito para serem tratados como mero assunto econômico. A liderança da Alemanha e a sua receita "tradicional" está sob risco. Com isso, o mercado financeiro ficou novamente nervoso e temeroso de que um cenário incrementado de risco venha a prevalecer. O certo é que na Grécia mais de 50% dos jovens (até 30 anos) não tem emprego - a taxa de desemprego total é de cerca de 25%. Na Espanha o cenário é igualmente grave. Na França está se agravando. Em Portugal prevalece o pessimismo. E assim vai. Mercados nervosos I Angela Merkel, muito bem acomodada politicamente nas fronteiras alemãs, sabe que as coisas mudaram e trabalhará para que tudo continue como dantes. Todavia, o tempo e o sofrimento social não permitirão que os problemas sejam tratados como se as economias funcionem como se fossem orçamentos domésticos. Lord Keynes já descobriu nos anos 30 do século passado que num cenário depressivo receitas tradicionais de nada servem. É preciso inventividade e liderança, ainda mais quando a origem da crise surgiu pela irresponsabilidade dos governos no tratamento de suas contas fiscais associadas a uma especulação secular. Nas próximas semanas, as páginas políticas da mídia é que darão o tom dos mercados e fazer apostas neste momento é tarefa arriscada. De nosso lado, a recomendação é de cautela. De toda a forma, a tendência mais clara é que passaremos por uma nova rodada de tensões nas próximas semanas. A começar pela Grécia dividida que terá de anunciar para o seu povo que vem aí mais uma rodada de aperto fiscal para pagar as contas de junho e julho. Quem viver, verá. Riscos financeiros A estabilidade do sistema bancário europeu está mais do que tensa. O cenário de iliquidez está voltando com tudo. Enquanto isso, as agências de classificação de riscos continuam trabalhando como se fossem marinheiros do Titanic : sabem o que está acontecendo, mas ficam com seus alertas inúteis. Desconstruindo Lula ? Não por gosto, mas por necessidade, o fato é que a presidente Dilma tem procurado afastar cada vez a imagem de seu governo da de seu antecessor. Não passam despercebidos de nenhum bom observador da cena política nacional os movimentos da presidente, iniciado com a história da "faxina" - amainado em seguida porque, insegura politicamente ainda, ela precisou de Lula para acalmar muitos aliados - agora a faxina é retomada. O tiroteio contra os bancos, a firme determinação de forçar o BC a continuar empurrando os juros básicos para baixo e a ousadia política de alterar as regras de remuneração das cadernetas de poupança, contrastam com a timidez de Lula nesta área. Auxiliares de Dilma discretamente chamam a atenção para esta diferença entre os dois. Ousa-se até dizer que o padrinho dela era um tanto submisso ao interesse do mundo financeiro e à vontade do BC lembrando que o dito guardião da moeda era dirigido por um ex-banqueiro, Henrique Meirelles, e hoje o é por um homem da instituição e com uma diretoria de funcionários públicos comprometidos com a questão de Estado. Mais evidências da "faxina" A ofensiva da Dilma (com Graça Foster na presidência da Petrobras) para reduzir a influência política na empresa, também é apresentada - e visto externamente - como parte desse processo de "desconstrução" de certa herança lulista. Um processo que atinge também parte do PT mais ligado ao ex-presidente, especialmente sua vertente paulista. Dilma, avalia-se, continuará prestando todas as homenagens que Lula merece, como a participação direta nas homenagens que ele recebeu no Rio de Janeiro, das universidades públicas, na sexta-feira. Até com direito a choro presidencial. Mas o distanciamento do estilo Lula de governar será marcado cada vez mais. Desconstruindo a oposição ? Sem alarde, mas com atitudes de gosto popular, tal qual a cruzada contra os bancos e a campanha dos juros baixos, a presidente está também tirando o fôlego da oposição. Seus líderes não têm nada a dizer - de bom e de concreto - sobre essas últimas ações da presidente. Nem propostas alternativas. Nem mesmo sobre as mudanças na caderneta de poupança, um risco político calculado que Dilma resolveu tomar, os oposicionistas sabem o que falar. Perplexos, sem discurso, parecem estar esperando algum Godot : um possível, eventual fracasso das medidas da presidente. Correm risco de completa inutilidade. O PMDB desconstruído O partido de Sarney, Temer, Jucá, Henrique Alves e Renan viu os movimentos para a convocação da CPI com um sorriso maroto e com aquele ar blasé de quem não tem nada com os fatos e estava esperando o circo incendiar-se para cobrar alto pelos serviços de bombeiro para controlar a crise que, ao gosto peemedebista, engolfaria a oposição e o PT e pelo menos parte de gente do governo, com Lula e Dilma. O PMDB de tantas batalhas inglórias sentia-se desta vez nas nuvens. Mandou até um segundo time para a CPI. Errou o cálculo quando na liça entrou o volúvel governador do Rio, Sérgio Cabral, amigo de fé e irmão camarada de Fernando Cavendish e da empreiteira Delta. Sérgio Cabral nunca foi da cozinha dos caciques peemedebistas, era mais lulista que tudo - e até ousou, em suprema audácia, insinuar-se para uma vice-presidência de Dilma em 2014. Mas o comando do PMDB, mesmo a contragosto, não pode jogar Cabral aos leões - respingaria no partido, cujo currículo nesse campo nunca foi dos melhores. O PMDB já mergulhou na CPI, agora não mais como um simples e isento observador. O momento de "vestal" ao modo Demóstenes Torres dos peemedebistas durou muito pouco. A meta de Dilma Sai definitivamente do ar a meta de inflação e entra a meta do PIB. Todas as decisões do governo só têm este objetivo : alavancar o crescimento da economia. E como o ritmo ainda está lento para o lado da indústria, com estoques elevados, não se descartam novas medidas de incentivo ao setor, independentemente da baixa dos juros. Conselhos do Conselheiro Do ex-ministro Delfim Neto em artigo no jornal "Valor Econômico" : "Devido à finitude dos fatores de produção internos e do limite do crédito para financiar as importações, não é permanentemente possível maximizar, ao mesmo tempo, o crescimento econômico e a inclusão social sem produzir ou um aumento da taxa de inflação, que anula e torna uma ilusão a inclusão social, ou um déficit em conta corrente não financiável, que acaba matando ao mesmo tempo o crescimento e a inclusão. O problema é físico e não ilidível por mágicas monetárias, fiscais ou cambiais". Em tradução livre : não é possível fazer a economia crescer a tapas e pontapés. A batalha dos juros Enquanto os bancos oficiais, por "indução" da presidente, ampliam os cortes de suas linhas de crédito, os bancos privados, depois de reduzirem marginalmente suas taxas, parecem ter adotado um modelo "Gandhi" - resistência passiva para ver o que vai dar. O credo presidencial Da presidente Dilma no dia em que anunciou as alterações na poupança : "Queremos um país com taxas de juros compatíveis com aquelas praticadas no mercado internacional. Queremos que o nosso câmbio não seja objeto de políticas [monetárias] expansionistas, que, de forma artificial, sobrevalorizem a moeda brasileira e tornem também de forma artificial os nossos produtos pouco competitivos. É a chamada amarra do câmbio. E queremos que o país tenha impostos mais baixos para segurar a produtividade dos seus produtos, dos seus processos de trabalho (grifo nosso)". Para a primeira oração do credo, Dilma já botou toda a sua fé, ameaça e os bancos oficiais no ar. Para a segunda, está fazendo o que pode com o BC agindo para desvalorizar o real. Nas duas, porém, nem tudo depende dela. A terceira, porém, a dos impostos mais baixos, está totalmente no colo do governo e do Congresso. Por isso, a pergunta : quando, com a mesma vontade do ataque aos juros, ela vai botar o governo na linha dos impostos mais decentes. E como um todo e não apenas pontualmente, para alguns setores apenas ? Manda quem pode... ... obedece quem tem juízo. O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou como iminente a demissão do diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, um dos poucos remanescentes da era José Sérgio Gabrielli na diretoria da empresa. Sem subterfúgios, Graça Foster desmentiu secamente a informação. E Lobão calou. Que a Petrobras não dá bola, a não ser formalmente, ao ministério das Minas e Energia não é novidade. Lobão sabe das decisões da empresa na última hora, quando elas são fato consumado - quando não sabe pela imprensa. No entanto, alguns atribuem o "escorregão" do ministro, agora, a um lance político calculado. Seria uma tentativa de embolar as mudanças que Graça Foster está fazendo na direção da empresa, criar algum constrangimento para ela e salvar a cabeça de dois protegidos do PMDB que também estão quase na porta da rua : o diretor internacional, Jorge Zeleda, e o presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Inútil tentativa. Fala quem pode Estranha-se no universo político o silêncio dos mais midiáticos dos ministros da presidente Dilma : Aloizio Mercadante, da Educação, e Alexandre Padilha, da Saúde. Eles estão agora falando para dentro ou, como diz em Brasília, roucos de tanto calar. Outro cujo silêncio deixou de incomodar, falar agora somente sobre o que é pertinente a sua área, deixou de ter opiniões próprias sobre a política econômica, é o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. São coisas que confirmam cada vez mais o temor que os auxiliares têm da presidente Dilma, de seus humores e de suas cobranças. Poupança : só as cadernetas ? Não há analista sério, do ponto de vista econômico, estritamente técnico, que não tenha aplaudido a presidente Dilma no caso da alteração das cadernetas de poupança. Mas, há, pelo menos, três observações que são repetidas : 1. Alterou-se a remuneração, mas não se eliminou a indexação. 2. É preciso avançar na desindexação da economia brasileira, iniciada com o Plano Real e nunca completada. Outras amarras emperram mudanças mais profundas no sistema financeiro brasileiro. 3. O governo pegou a sua parte na história, pois a alteração na caderneta visa também garantir a manutenção dos clientes para os títulos da dívida pública. Quando ela vai dar uma contribuição maior, reduzindo mais velozmente essa dívida ? 4. Será preciso atacar agora também os juros do crédito imobiliário. A poupança e a política Em princípio, Dilma não enfrentará resistências políticas no Congresso no caso das cadernetas. Mas tudo vai depender de como a população reagirá, se ela vai entender as mudanças, com regras mais complexas, e aceitá-las. O governo tem agora pela frente uma batalha da comunicação e vai precisar da ajuda dos bancos particulares. Por precaução, Dilma não saiu para defender a medida. Para atacar os bancos, aproveitou todas as oportunidades possíveis. Nas cadernetas, deixou a exposição mais para Mantega e o BC. Os efeitos da política de juros Em que pese os acertos que o governo tem conseguido na política de juros e de câmbio, não há que se esperar uma taxa de crescimento robusta para este ano. Além dos efeitos nefastos da crise internacional, tem-se de considerar que o emprego se estabilizou, que a renda disponível dos assalariados está comprometida com empréstimos do passado e a confiança do consumidor e do investidor está mais baixa relativamente a fase de prosperidade do período entra 2009 e 2011. Talvez tenha chegado o momento do governo fazer um "choque de gestão" no PAC de forma a dar uma injeção de ânimo no setor privado. Radar NA REAL 4/5/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3059 estável baixa - REAL 1,9206 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 60.820,93 estável estável - S&P 500 1.369,10 estável alta - NASDAQ 2.956,34 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 24 de abril de 2012

Política & Economia NA REAL n° 195

O momento do mercado (I) Não se pode afirmar que os diversos segmentos de mercados não tenham sido mais otimistas que os próprios indicadores de desempenho das economias. Isso se deve ao fato de que os investidores estão operando em duas vertentes principais : (i) a primeira em função da crença (parcialmente justificada) de que a economia mundial (especialmente os países centrais do capitalismo) irão se recuperar a partir do ano que vem; (ii) uma segunda corrente acredita que um cenário de estagflação é provável e, na sua ocorrência, deter ativos reais é uma alternativa à renda fixa que tem rendimentos negativos. Como se sabe, o tal do mercado costuma acertar na tendência, mas exagera quase sempre. Não fosse esta a sua característica a "eficiência" dos investidores teria evitado muito antes as "bolhas especulativas" que destruíram o crescimento global. Os bancos centrais e as autoridades econômicas estão buscando evitar de todas as formas que exista excessiva volatilidade, esta uma inimiga visível e atuante na deterioração das expectativas. O momento do mercado (II) Do nosso ponto de vista, o próximo trimestre será, ao contrário do desejo das autoridades, um trimestre de alta volatilidade, muito embora sem os impactos devastadores do final de 2008 e início deste ano. Os preços dos ativos no mercado financeiro melhoraram muito em relação aos seus patamares inferiores e nos parecem "justos" para o momento de indecisão que vivemos. Nesta categoria se enquadram o mercado de ações local e dos EUA. No caso da Europa, por conta de sua situação de crédito, as ações devem sofrer mais, em termos relativos. Para o Brasil, o maior perigo reside no fato de que as ações locais devem acompanhar os preços das commodities no mercado externo. Como mencionamos na semana passada, há fundadas razões para acreditarmos que os investidores estão "desmontando" posições em diversos segmentos do mercado de commodities e isso conspira contra o valorizado mercado acionário brasileiro. Além disso, o resultado das exportações será afetado por este processo. Não à toa, a mexida do dólar para cima tem menos relação com as atuações do governo nos juros e no mercado cambial. O momento é de cautela. Não estamos mais pessimistas, mas não encontramos razões para acreditarmos em altas de preços nos ativos brasileiros. A dor de cabeça dos preços dos combustíveis O dólar, empurrado pelo BC, caminha celeremente para chegar aos R$ 1,90 - ou até mais. O petróleo não dá sinais de que vai perder preço tão cedo. Isto coloca em xeque a política de preço dos derivados de petróleo imposta à Petrobras pelo governo. Até Graça Foster, tida e decantada como fiel escudeira da presidente Dilma, já começa a chiar. Vai ter de ficar quietinha mais um pouco. O governo não quer botar gasolina na inflação para não atrapalhar seus planos de juros baixos e empurrão no consumo. Crescimento em foco Acerta o governo em mirar sua estratégia econômica em ativar a atividade econômica. Além disso, a queda do spread bancário é desejável e, de fato, possível. O uso dos bancos oficiais neste processo também nos parece justificável, muito embora seja necessário que exista estrita observância governamental ao aumento da inadimplência. O ponto crítico e ainda pouco atendido pelas políticas do governo é a questão do investimento. Neste item, a desconfiança dos agentes em relação ao PAC e aos investimentos em infraestrutura é considerável. É preciso retirar das mentes destes agentes a sensação de que existe uma gestão deficiente da parte do governo. Além disso, é importante se identificar no ambiente regulatório onde estão os "gargalos" e trabalhá-los com a iniciativa privada, preservando o interesse público. Ações efetivas neste campo deveriam retirar os temores de que a infraestrutura não será capaz de atender o crescimento do consumo. O governo deve saber que aí reside o maior risco. Todavia, ainda não se identificou o que o governo fará a respeito. Tem de ser algo de impacto, sob pena de ficar obscurecido pelo ambiente político tumultuado. Em suma : Os investimentos estão em queda (ou, no mínimo, estagnado), o consumo deve subir e mais incentivado ainda - essas contas podem não fechar no longo prazo. O filhote de Merkel Jens Weidmann, o jovem presidente do Bundesbank (44 anos), o banco central alemão, está fazendo uma vigorosa e pública exortação pela "disciplina fiscal e monetária" dos governos europeus. Ademais, está se confrontando com a política de acomodação monetária adotada pelo Banco Central Europeu, sob a liderança do italiano Mario Draghi. Pouco parece incomodar o tecnocrata de Merkel, o recrudescimento dos temores em relação à divida soberana da Itália, Espanha e Portugal. Também pouco leva em consideração que estes países e outros tantos, como é o caso da Grécia, estejam com um desemprego gravitando entre 20% e 25% da força de trabalho. Além disso, o burocrata alemão não faz nenhuma reflexão crítica que aponte que a causa do desarranjo fiscal e monetário atual se deve a necessidade imperiosa que os governos tiveram para salvar os bancos privados que andavam metidos no imenso processo especulativo desde o início dos anos 2000. Ora, Weidmann não é apenas inconveniente. É o retrato fiel de um conservador descolado da realidade mais óbvia. Lord Keynes deixa saudades. França : os extremos são fiéis da balança eleitoral Nicolas Sarkozy e François Hollande conquistaram a vitória para a disputa do segundo turno. Agora não deverão apenas buscar apoio nos outros candidatos presidenciais. Terão de fazer uma ginástica olímpica, marcada por evidentes traços de contorcionismo para atrair os votos de quase 30% do eleitorado que votou na extrema direita transfigurada em Marine Le Pen (18% do total de votos) e outro tanto que votou em Jean-Luc Mélenchon (11%). Ao que parece, a ginástica maior ficará por conta do atual presidente que terá de atrair os votos da extrema direita. O maior efeito deste processo pode ser sobre o "pacto" de Merkel com Sarkozy no que tange a superação da crise europeia. Os compromissos de Hollande com o seu eleitorado sindical devem mitigar os planos alemães para que exista mais aperto fiscal na Eurolândia. A CPI da vingança (ou do medo) Para alguns petistas, incendiados por Lula, a CPI do Cachoeira, será a CPI da "vingança". Para a maioria do Congresso, será a CPI do "medo" - o número de assinaturas recorde na proposta de convocação não quer dizer nada - ninguém quer ficar mal com o eleitor sendo contra investigações de corrupção. O que não quer dizer que a Comissão, cuja instalação e primeira reunião estão previstas para quarta-feira, vá seguir em frente. Pode ser que sim, pode ser que não. E o mais provável é que não. "Malfeitorias" demais passaram por esta "Cachoeira" para que haja empenho de verdade nas apurações. Como diz o dito popular, "se arrependimento matasse" muito gente boa que incentivou a CPI estaria agora apagando fogo no inferno. Só Lula não dá sinais de arrefecimento de ânimo, para desalento de muitas pessoas ligadas à presidente Dilma. Hora do PMDB Um dos efeitos, da convocação da CPI foi que Dilma, depois de uma manobra arriscada para se livrar de certo peemedebismo, vai agora depender das mesmas figuras que queria jogar no ostracismo, para não deixar as investigações atropelarem o governo - José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá. Outra consequência : Dilma terá de fazer um esforço redobrado para que projetos de seu interesse andem na Câmara e no Senado e andem no rumo que ela quer. Alguns parceiros vão aproveitar a confusão para cobrar pedágio do Palácio do Planalto. A inflação na economia está acomodada, mas a política está inflacionada desde que Lula botou fogo na CPI. Dilma e as perspectivas de poder Não deixa de ter sido um pouco estranho o DataFolha haver incluído em sua última pesquisa sobre a popularidade da presidente Dilma e a aceitação de seu governo uma pergunta específica para saber quem deveria ser o candidato do PT ao Palácio do Planalto em 2014. Deu Lula com folga e não Dilma, apesar do prestígio da presidente estar nas alturas e em crescimento (66%) muito acima do que Lula e FHC alcançaram em períodos idênticos de governo. No entanto, mesmo a informação de que o PT prefere Lula a Dilma (também não é uma surpresa) é boa para ela. Por mais que sonhem os mais lulistas dos petistas, Lula, pelas peripécias que enfrentou - e ainda está enfrentando -, é peça fora do esquadro na sucessão presidencial de 2014. Vai colher votos, não para ele. Assim, Dilma aparece como única opção viável para o PT, só correndo riscos se a economia começar a fraquejar e os sonhos de consumo da chamada nova classe média sofrer um baque. O que explica a insistência dela em não deixar arrefecer o consumo, as pressões para a queda dos juros e o aumento da oferta de crédito bancário. E enquanto ela for a perspectiva de poder, os aliados, mesmo contrariados em alguns desejos, não abandonarão o iate presidencial. Judiciário em chamas As trocas de "amabilidades" entre os ministros Cezar Peluso e Joaquim Barbosa, trouxeram a nu o que já era bem evidente : a idiossincrasias e disputas de ego no Supremo Tribunal Federal. Quem leu reportagem do jornalista Luis Maklouff Carvalho em edição do ano passado de revista "Piauí" sobre o STF e os senhores magistrados percebeu o tamanho da confusão e o impasse a que está chegando a Suprema Corte. Fruto de escolhas de ministros nos últimos anos, que, mesmo com embasamento técnico, levaram em conta principalmente questões políticas. É consequência também da extraordinária "judicialização" das atividades sociais, políticas e econômicas no Brasil. Os ministros deixaram de ser apenas magistrados e agora são também partícipes do processo. O ministro Ayres Britto, no discurso de posse na presidência do STF deu sinais claros que está consciente do problema. Sua grande contribuição à Justiça brasileira nesses poucos meses (se aposenta em novembro) que ficará à frente do Supremo será colocar a instituição dos eixos, podando egos, idiossincrasias e veleidades de popularidade. Ativismo midiático De Joaquim Falcão, professor de Direito Constitucional da FGV DIREITO RIO, em entrevista ao jornal "Valor Econômico" : "O Supremo mudou de cultura. No passado tinha uma cultura mais interna, discreta, onde se sobressaia mais a Corte, o colegiado. De uns 15, 20 anos para cá essa cultura mudou e passou a ser mais individualizada, menos colegiada. Isso se reflete inclusive nas decisões do Supremo. Mais de 80% das decisões são hoje tomadas individualmente pelos ministros, e não tomadas pela Corte como órgão coletivo. Outro ponto que se fala é um certo ativismo político do Supremo, quando [o STF] tenta se expandir interferindo em matéria que seria do Legislativo, ou do Executivo ou ainda quando passa a intervir demais em assuntos de domínio privado. Esse ativismo não me preocupa nesse momento, porque não acredito que tenha passado de um ponto expressivo. O que me preocupa é o ativismo midiático, com excessiva exposição pública, individualizada dos ministros. O ativismo midiático cria mais insegurança do que o ativismo jurídico". Obama : 10 a 1 O Partido Democrata, ao final de março último, tinha US$ 100 milhões para a campanha eleitoral de Barack Obama. Dez vezes mais que o provável candidato republicano Mitt Romney. Muitos analistas têm relevado que, mais do que nunca, a eleição norte-americana não é mais um "show da democracia", mas uma aberração da "plutocracia". Em meio à crise atual, o establishment da maior economia mundial dá sinais que Obama representa mais os seus interesses que o ideário "mercadista" e liberal dos republicanos. E isto se reflete nos números da conta bancária do primeiro presidente negro. Obama docemente se converte a um moderado discurso para a eleição. Romney não consegue radicalizar : falta-lhe consistência com o dramático cenário das classes mais pobres e médias da sociedade americana. A eleição de Obama em novembro parece certa até agora. Radar NA REAL 20/4/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3134 estável baixa - REAL 1,8838 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.494,08 estável estável - S&P 500 1.378,53 estável alta - NASDAQ 3.000,45 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 17 de abril de 2012

Política & Economia NA REAL n° 194

"A CPI que todos apoiam e ninguém quer" O título acima é de uma reportagem do jornal "Valor Econômico" de sexta-feira e define com perfeição os rumos que o pedido de investigação das estripulias financeiras do "corretor zoológico" Carlinhos Cachoeira no Cerrado (Goiás e Brasília) e, provavelmente, alhures. Depois do entusiasmo inicial, os governistas, principalmente o PT, estão procurando agora uma forma de evitar a CPI ou, ao menos, torná-la inócua. E a oposição, que seria, segundo cálculos iniciais dos petistas, a grande vítima da Comissão, e somente aceitou a investigação porque, como minoria, não tinha outra saída, agora olha o circo governista pegar fogo. A CPI e o Planalto Dilma já espalhou sua proverbial irritação por todos os lados depois que percebeu que : (1) as investigações podem tumultuar o Congresso e prejudicar votações importantes na Câmara e no Senado; (2) os aliados insatisfeitos podem aproveitar o momento para jogar combustível na fogueira e ainda fazer suas prosaicas cobranças (vulgo chantagem); (3) um dos prováveis alvos da CPI, a Construtora Delta, queridinha de Cachoeira, é queridinha também das obras do PAC; (4) O PT, com o governador Agnelo Queiroz, também está na roda, ou seja, a bomba não deve estourar apenas nas mãos do PSDB (Marconi Perillo) ou do DEM (Demóstenes Torres) e companhias belas. A estratégia agora será ir segurando o quanto der a instalação da Comissão. Para isso, foi providencial o período que o senador Sarney passará internado em SP. A esperança é que, com esse jogo morno, dê tempo para a Comissão de Ética do Senado propor e o plenário cassar Demóstenes e a punição deixar a opinião pública satisfeita e relaxada. Lembranças de outra CPI Muitos dos que alertam para os riscos do governo da CPI lembram-se de um episódio que poderia ter mudado os rumos do governo Lula, ocorrido na CPI do Correios, a que desvendou o mensalão : acuado, o publicitário Duda Mendonça confessou que havia recebido parte do dinheiro por seus serviços prestados da campanha presidencial de 2002 em dólares e no Exterior. Foi quase o fim do mundo. Quem estava em Brasília e no Congresso aquele dia viu petistas com lágrimas nos olhos de desespero. Poderia ter sido o fim do governo Lula. E o ex-presidente, para evitar um provável processo de impeachment, chegou até a admitir a possibilidade de não se candidatar à reeleição no ano seguinte. A oposição, não se sabe bem por quais razões se acomodou - diz-se que esperava Lula sangrar sem precisar que ela brigasse. É o que dizem : se um publicitário escolado como Duda escorregou diante dos parlamentares, o que pode acontecer com gente mais inexperiente ou com contas a ajustar com o governo, nesta CPI do Cachoeira ? O medo baixou Segundo uma analista com trânsito nos meios político e jurídicos, com a decisão da semana passada autorizando o aborto de fetos anencéfalos, o STF deu mais uma demonstração de que, em questões de grande relevância (ou no "atacado"), não "decepciona". Foi assim, também, na confirmação da validade da Lei Ficha Limpa. Pode até vacilar no "varejo", porém não titubeia no essencial. Foi essa percepção, que não passou despercebida no mundo político, que levou parte dos governistas a considerar totalmente inoportuna uma fala do presidente do PT, Rui Falcão, tentando ligar a CPI do Cachoeira ao mensalão. No dia seguinte à divulgação da gravação de Falcão, ele mesmo tentou explicar que não era bem assim e petistas de escol cuidaram de dizer que uma coisa não tem nada com a outra coisa. Baixou o medo de que tal posição pudesse irritar os ministros do Supremo, pois pode parecer uma tentativa de pressionar o tribunal no julgamento do caso dos mensaleiros. Tudo que não se quer nos meios governistas é um Supremo irritado. Aliás, o que o PT quer mesmo é evitar qualquer julgamento do mensalão este ano. Para isto é que estão trabalhando os advogados dos mensaleiros, principalmente o ex-ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos. Aliás, Thomas Bastos, por coincidência, também é advogado de Carlinhos Cachoeira. Demasiado desumano É certo que Lula não sabe ficar quieto, e tem comichões quando vê um palanque. Mas quem viu a participação dele no evento do PT sábado em São Bernardo do Campo, quando o ex-presidente teve de suspender seu discurso por um acesso de tosse, percebeu que não são nada corretas as exigências que o PT está fazendo a seu principal líder para participar das campanhas municipais desde agora. O tratamento a que Lula se submeteu exige que ainda passe por um período de repouso quase absoluto. Notícias do manicômio tributário - I Na coluna da semana passada, lembramos que, a partir do momento em que as dobras do mais recente pacote de incentivo à indústria lançado pela presidente Dilma fossem desvendadas, outros aumentos de impostos poderiam aparecer, além do reajuste no IPI dos cigarros e mais Cofins nas importações. Pois bem, já apareceu um. Na MP 563, estão embutidos possíveis aumentos no IR e CSLL das empresas, como registra a exposição de motivos que acompanha a MP : "Como algumas das alterações introduzidas pelos artigos 38 e 40 da MP podem implicar aumento do tributo (grifo nosso), em atenção ao princípio da anterioridade foi estabelecido que a produção de efeitos ocorreria em 2013". Notícias do manicômio tributário - II Depois da leitura mais acurada da MP 563, da troca da contribuição previdenciária de 20% sobre a folha de salários por um percentual de 1% a 2% sobre o faturamento de 15 setores da indústria, as empresas começam a descobrir que a operação será tão confusa que em muitos casos pode até não compensar a mudança. E que vai encarecer os serviços contábeis fiscais das companhias. Só um exemplo : uma mesma empresa pode ter produtos desonerados e outros não, o que exigirá que ele faça separação dos custos com a folha para cada produto, pois uns continuarão recolhendo 20% e outros 1% ou 2%. A dona dos juros Quem define o tamanho dos juros no Brasil é a presidente Dilma. O ministro Guido Mantega é o transmissor do fato consumado e o BC o executor, quando é o caso. Na "guerra" do spread o BC continua calado. Aliás, o ministro da Economia de Dilma é...Dilma Rousseff. A reunião do Copom No contexto atual a queda dos juros é possível em função da tranquilidade cambial e da inflação. Assim sendo, uma queda de mais 0,75% da taxa básica para 9% ao ano é provável. Os elementos analíticos do BC devem reforçar a tendência declinante dos juros, mesmo porque a recuperação da demanda doméstica não será tão rápida quanto se imagina, algo além deste ano. O limite dos juros básicos Há dois limites que devem ser obedecidos ex ante pelo governo no atual contexto de redução de juros. O primeiro é a inflação controlada, a qual não se pode fazer maiores previsões altistas. Os fatores de elevação da inflação estão quase todos controlados. Apostar em alta contínua dos preços neste momento é de alto risco. O segundo é o risco do país, representado pela diferença entre os juros dos títulos do Tesouro dos EUA e a remuneração dos títulos soberanos do país. Este spread gravita atualmente ao redor de 3,5% ao ano. Logo, se somarmos uma inflação anual prevista de 4,5% com o risco país, a taxa de juros doméstica presumivelmente "neutra" do país seria de 8%. Este nos parece o limite da taxa de juros básica no atual contexto. Movimento das commodities e fundos hedge Sabidamente, uma das razões para a tranquilidade da macroeconomia brasileira diante dos colapsos financeiros dos últimos anos nos países de capitalismo central é o fluxo expressivamente positivo advindo do segmento das commodities. Pois bem : há um discreto movimento dos denominados hedge funds reduzindo posições nesta categoria de ativos. Dados da Commodity Futures Trading Commission, entidade fiscalizadora dos EUA, mostram que desde o final do ano passado os contratos de commodities detidos pelos fundos hedge caíram quase dez por cento. Em alguns casos, a queda das posições foi acentuada, como no caso do cobre (-84%). Este movimento pode se acentuar em função da expectativa de redução da atividade econômica da China. Eis um dado para ser observado atentamente. É crucial para o Brasil. A primeira vítima A "guerra" do spread já fez sua primeira vítima : o presidente da Febraban, Murilo Portugal. Ex-dirigente do FMI, Portugal não deverá perder o emprego, mas perdeu a utilidade para os banqueiros : não é mais interlocutor aceitável para o governo Federal. Em 2006, quando o mesmo Guido Mantega, nesse caso em apoio de Lula, como o que está tendo de Dilma, começou um movimento, via bancos oficiais também, para reduzir o spread bancário, o então economista-chefe da Febraban, Roberto Luis Troster, deu uma entrevista criticando a medida, dizendo que ela não daria certo. Pelo que se vê seis anos depois, nessa nova investida do governo, os juros persistem elevados. Troster, porém, perdeu o lugar. Há quem diga que Portugal vai para a geladeira por ter enfraquecido a posição dos bancos particulares. Erro de cálculo Muitos dos que se incomodam hoje com algumas ofensivas, na área política e econômica da presidente Dilma, como agora do spread bancário, não imaginaram o que sempre estava na cara : a presidente é diferente de seu protetor, o ex-presidente Lula. Enquanto Lula é dado a acomodações, negociações e conciliações, Dilma tem menos "cintura", é muito mais ideológica e mais determinada a fazer acontecer aquilo que acredita. A CUT e o imposto sindical - a farsa Não deve ser colocada no rol das coisas sérias a campanha da CUT contra o imposto sindical. No fundo ela retoma um mote do Lula sindicalista, dela mesmo e do PT antes de apearem no Palácio do Planalto. Só seria meritória se enterrasse de vez esta herança do getulismo e forçasse os sindicatos e suas centrais a sobreviverem apenas da contribuição voluntária de seus associados. Também associados voluntários. Não é bem isto o que a CUT prega. Ela defende a substituição do imposto por outra contribuição disfarçada do trabalhador, também compulsória, para filiados e não filiados. Muda-se o nome para permanecer tudo como está. O tempo político de Aécio Um voo sobre a sucessão presidencial, do lado da oposição, visto da terra das Alterosas : 1. Não passa pela cabeça do senador Aécio Neves outra coisa que não ser o candidato tucano à Presidência, com o apoio dos atuais aliados do PSDB, PPS e DEM e, provavelmente, com incorporação de outros parceiros - PSB, PDT, PP, PTB e, se vingar, o PSD de Kassab. 2. Não adianta cobrar agora do ex-governador mineiro uma oposição agressiva ao governo da presidente Dilma. Primeiro, porque não é o estilo dele, mais voltado para o modelo do avô, Tancredo. Depois, porque é contraproducente num momento de alta popularidade da presidente. 3. O momento de Aécio é procurar alianças e firmar sua imagem fora do circuito Minas - Rio de Janeiro - Brasília. Fará cada vez mais viagens para outros Estados, para conquistar tucanos e apresentar-se ao eleitorado. 4. Agora, ele fará apenas críticas no "atacado", procurando mostrar os equívocos da política econômica e em outras políticas como de saúde, educação. Chama-se a atenção para discursos que tem feito no Senado nesta linha e artigos semanais na "Folha de S.Paulo". Por aí vai formando uma espécie de plataforma de campanha. Acredita-se que Dilma começará a fraquejar quando a economia entrar em dificuldades. Será, então, a hora de atacar. Não antes do ano que vem, nem antes dele próprio Aécio se firmar como candidato com visibilidade. Sempre a imprensa Em entrevista ao jornalista Fausto Macedo, do "Estadão", o novo presidente do TRF da 3ª região, Newton De Lucca, usando expressões como "jornalismo trapeiro", "bandoleiros de plantão", "niquices", "meandros de certos poderes midiáticos no Brasil" e que tais, defender a criação de um "habeas mídia" no Brasil, lançado em seu discurso de posse. Apesar do estilo e do linguajar, De Lucca não consegue disfarçar sua verdadeira intenção que é de criar um instrumento capaz de constranger o livre exercício da liberdade de imprensa. Nesse item ele corre na mesma linha de parcelas do PT que nunca deixaram de sonhar com algum tipo de "controle social da mídia" e pensam aproveitar uma possível CPI do Cachoeira para voltar ao ataque a jornalistas e meios de comunicação. Em tempo : De Lucca é poeta, autor dos livros "Pintando o Sete" e "Odes e Pagodes". Radar NA REAL 13/4/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3126 baixa baixa - REAL 1,8375 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.105,60 estável estável - S&P 500 1.370,26 estável/alta alta - NASDAQ 3.011,33 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 10 de abril de 2012

Política & Economia NA REAL n° 193

Medidas de estímulo : consumo e investimento (I) Um dos "enigmas" mais complexos na ciência econômica é aquele que tenta discernir se é o consumo que precede o investimento ou vice-versa. Este "enigma" torna-se ainda mais relevante quando se decide adotar medidas macroeconômicas : deveriam estas estimular prioritariamente a variável "consumo" ou a variável "investimento" para estimular a economia ? Bem, enquanto a ciência econômica não resolve completamente esta questão, o governo brasileiro resolveu estimular o consumo por meio de medidas fiscais e creditícias. Uma rota de mesma natureza do que ocorre nos EUA, para citar o exemplo mais gritante do momento. Todavia, contrariamente aos EUA, que têm uma magnífica base de investimentos instalada, sobretudo em termos de infraestrutura, o Brasil carece de meios de transporte, logística, energia, tecnologia, etc., que sejam suficientes para tornar o crescimento sustentável (crescimento do PIB sem inflação). Medidas de estímulo : consumo e investimento (II) Tomada a questão da nota anterior e analisado o pacote de estímulos adotado pelo governo na semana passada, não poderíamos afirmar que as medidas carecem de fundamentos e, no geral, eficiência para fazer a economia crescer. Já o total de recursos (R$ 7 bi de renúncia fiscal, por exemplo) parece pouco para reverter a atual estagnação econômica. Ademais, os estímulos às exportações foram muito pontuais e baseados essencialmente em medidas protecionistas. Nada de relevante do ponto de vista de todo o sistema foi adotado. Este sim é um ponto crucial. Além disso, medidas de proteção contra importações podem ser até justificadas em função das práticas adotadas por países como a China, mas, de outro lado, não há evidências de que a produtividade doméstica está aumentando a ponto de nos deixar mais competitivos no futuro. Em outras palavras, o pacote ataca as adversidades conjunturais com eficiência duvidosa, mas não deixa nenhum rastro de que há uma mudança estrutural à vista. Medidas de estímulo : consumo e investimento (III) Não há razão, entretanto, para que fiquemos pessimistas com o que o governo implementou na semana do feriadão de Páscoa. A direção das medidas está correta, embora o tiro seja de curto alcance e faltem medidas de estímulo ao investimento. Por exemplo, por que o governo não lança um largo programa de estímulos às PPPs para elevação dos investimentos em infraestrutura (estradas, energia, transporte ferroviário, etc.) ? Mesmo o tão comemorado pré-sal merece maiores atenções. Não é preciso ser um analista dedicado para perceber que o PAC está lento e que muitas das medidas não são efetivas para a melhoria das condições da infraestrutura nacional. Talvez estas medidas estruturais sofram um peso maior da "avaliação ideológica" que se faz delas no centro do poder. Afinal, teriam de ser discutidos temas caros ao PT e outros partidos que apoiam o governo, tais quais, a privatização e mudanças regulatórias. O que estará pensando a presidente a respeito disso ? Manicômio tributário Um fato é certo : o pacote aumentou um pouquinho mais a complicação do nosso complicado sistema tributário brasileiro. E mais discretamente do que o faz quando falava das medidas consideradas positivas adotadas semana passada, o ministro Mantega não deixou de apresentar a conta das bondades oficiais : a Cofins de produtos importados será elevada sob a alegação de que é preciso compensar o custo da "desoneração" da folha salarial de alguns setores (agora 15) e o IPI sobre bebidas também será elevado. Como algumas das propostas adotadas terão de passar pelo Congresso via MPs e nem todas as dobras do pacote, anunciado às portas de um feriado ainda não foram escarafunchadas, um analista das questões de impostos no Brasil suspeita que no fim, noves fora nada, ante o que foi dado e o que será cobrado, ainda sobrará um troquinho para o Tesouro. Caso contrário, a meta de superávit primário de 3,1% do PIB este ano somente fechará com muita mágica. A competição bancária Ninguém há de negar que o setor bancário brasileiro é um dos mais eficientes do mundo e sua higidez é inegável. Isso não é ponto a favor do ponto de vista da microeconomia. É virtude macroeconômica de vez que nos distancia de crises bancárias que juntamente com as cambiais são as mais graves que podem ocorrer numa economia. De outro lado, também parece evidente que o mercado financeiro brasileiro está excessivamente oligopolizado, isso para dizer o mínimo. As privatizações dos bancos estaduais, a fusão de bancos brasileiros e estrangeiros, a aquisição de pequenos e médios bancos por parte das grandes instituições, bem como o colapso de outras instituições financeiras na Europa e nos EUA, tornaram o mercado doméstico pouco competitivo. Esta é uma das causas para que o spread bancário seja campeão do mundo. Some-se a isso, com relevante importância, os excessos tributários que afetam o crédito e a falta de velocidade judicial na recuperação de créditos para agravar ainda mais o quadro. Neste contexto, o mercado de crédito brasileiro é um obstáculo de monta para estimular o consumo e o investimento. Neste último item, reside uma das grandes atratividades dos empréstimos oficiais do BNDES, cujo custo de captação é mais barato e a taxa final mais atraente para as empresas que desejam investir. Vejamos na próxima nota o tratamento que o governo deu ao tema no bojo das medidas divulgadas na semana passada. Bancos oficiais e aumento de competição Olhada a estrutura do mercado financeiro brasileiro, vê-se que os bancos oficiais, no caso a CEF e o BB, ocupam excelente posição dentre os grandes deste mercado. São altamente lucrativos, mesmo se comparados às instituições financeiras globais e, em menor medida, relativamente aos grandes bancos brasileiros. Em tese, seriam ótimos instrumentos para se estimular a competição no mercado doméstico. O governo sinalizou que agirá neste sentido e já "mandou" reduzir drasticamente as taxas de juros dos empréstimos destes bancos, incluindo o do cheque especial e do cartão de crédito. Há muitas e complexas variáveis a serem analisadas neste tema. De nossa parte, ficamos com duas questões que nos parecem vitais : (i) se fosse apenas uma questão de comando estatal, por que isto não foi feito antes ? Adicionalmente, (ii) será que a redução dos juros bancários levará em consideração os riscos trazidos pelo aumento da disponibilização de mais crédito, sobretudo o aumento da inadimplência e o estímulo à tomada de crédito de maneira irresponsável por parte dos agentes ? Assim como as demais medidas de estímulo ao consumo, a utilização dos bancos oficiais como "reguladores de mercado" parece tem sido realizada de supetão, sem que exista um "plano diretor" que ataque este problema de forma estrutural. Com riscos significativos para o sistema de crédito. Basta ver o exemplo do que aconteceu lá fora até 2008. É indecente, mas... Não há dúvida, tecnalidades a parte, que o spread bancário no Brasil é para além de pornográfico. Mas cabe outra pergunta : por quanto tempo os bancos oficiais aguentarão as novas taxas aplicadas a partir desta semana, se não houver mudanças total no sistema, sem tingir seus balanços de vermelho ? É político também Não era o objetivo principal, nem do pacote da indústria, nem os movimentos dos juros do BB e da CEF, mas pelo timing, pela pompa da festa para a indústria em Brasília, são dois excelentes reforços políticos para a presidente Dilma, ainda em alta nas pesquisas. É marketing do bom : ajuda a segurar os insatisfeitos aliados. De outro ponto de vista, são mais medidas que ajudam o governo a ganhar tempo antes do inevitável confronto com nossas fraquezas estruturais. O desafio é saber : até quando. Ainda sobre os bancos oficiais Há pouco tempo o governo andava preocupado com as disputas de poder envolvendo a diretoria do BB e da Previ. Está tudo em paz agora ? Estará pronta a diretoria do BB para exercer o seu papel "regulador" no mercado ? E o BC ? Foi notada a pouca presença do presidente do BC no lançamento do pacote econômico na semana passada. De outro lado, muitas das medidas tem relação direta com a autoridade monetária e financeira. Sinal de que a independência operacional do BC está cada vez menor ? O momento parece ser novamente, todo de Mantega. O ministro da Fazenda até aventurou-se, diante de outro número positivo da inflação, a dizer outra vez que estão asseguradas mais condições para a baixa dos juros Selic. Recado para o BC de que os 9% até o fim do ano previstos pelo mercado já não agradam ? Radar NA REAL 5/4/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3129 baixa baixa - REAL 1,8182 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 63.691,18 estável estável - S&P 500 1.398,08 estável/alta alta - NASDAQ 3.080,50 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Congresso anão Em meio as mudanças econômicas em curso, o Congresso permanece como um ator coadjuvante na discussão dos grandes temas nacionais. Ao que parece, não há apetite para tal. De outro lado, qualquer tropeço do governo na Câmara ou no Senado será oportunidade para "espetar" (na palavra de um deputado que frequenta o "baixo clero"). Ou seja, entre o debate nacional e a chantagem contra o governo, a escolha do Congresso parece feita. Dilma e Obama Está certo que o governo americano deixará de pensar que cachaça é rum. Bem como o governo brasileiro vai incorporar por aqui o bourbon norte-americano. Reduzir a visita da presidente Dilma aos EUA a estes temas é empobrecer a análise. Há importante mudança de sentido na política externa brasileira, na direção dos EUA e em detrimento aos excessos terceiromundistas cometidos na octaetéride de Lula da Silva. Muito embora o Brasil seja um país bem menos importante que deveria ser para os EUA, a China comunista não parece ser um parceiro estrategicamente confiável. Dilma parece concordar. Cachoeiras e cascatas Os tentáculos de Carlinhos Cachoeira alcançaram muito além do natimorto político senador Demóstenes Torres e do Estado de Goiás. Espalharam-se por diversos partidos e pisaram também no solo do governo do DF. Por sua influência política tão vasta, trata-se, na verdade, de um "Rei do Cerrado". Na UTI Cachoeira à parte, inspira cuidados no PT o governo Agnelo Queiroz no DF. Por via das dúvidas, o governo Dilma cedeu dois servidores seus para cobrir o flanco petista na capital : Swedenberger Barbosa, ex-José Dirceu e secretário-Executivo de Gilberto Carvalho foi para a Casa Civil do DF, e Luiz Paulo Barreto, ex-secretário Executivo da Justiça saiu para a Secretaria do Planejamento. As razões do cerco petista a Agnelo são duas : histórias duvidosas e deficiência administrativa. E isso pega muito mal na vitrine que é Brasília. Na UTI - II Inspiram mais cuidados ainda o ministério da Pesca e o humor da ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti. Quem disse que o PMDB está na muda ? Atribui-se à ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, com by pass na colega Ideli Salvatti e no líder do governo no Senado, Eduardo Braga, a formação do bloquinho PR/PTB no Senado. A manobra teria levado o PR a voltar aos seios oficiais e reforçaria o governo no Senado. Neo-política, Gleisi parece ter caído num conto do vigário : a manobra teve, na realidade, o velho e experiente dedo peemedebista, e o bloquinho é mais uma fonte cobradora de peso no Senado. Contas a pagar Dilma celebrou uma paz momentânea na Câmara e no Senado : prometeu aos governadores mudar o indexador do contrato de rolagem das dívidas estaduais, prometeu liberar parte das emendas parlamentares até junho e prometeu resolver as pendências ministeriais do PDT e do PT. Em troca, quer levar na Câmara o Código Florestal sem mudanças no texto que saiu do Senado, e, no Senado, a Lei da Copa e a Resolução 72, que acaba com a chamada "guerra dos portos". Quem vai ter de pôr primeiro as contas na mesa. O real Do assíduo leitor desta coluna, publicitário Alexandre Filizola : "Não há mais situação ou oposição. Há um saque à coisa publica a luz do dia". ____________
terça-feira, 3 de abril de 2012

Política & Economia NA REAL n° 192

Estímulos à economia : fatos e expectativas Em matéria econômica, as expectativas antecedem aos fatos. Na política, ocorre o contrário. Na economia, os agentes operam em função das expectativas. Na política, os agentes políticos operam em função dos fatos e, assim, formam-se as expectativas. Nesta terça-feira, Dilma tentará operar as expectativas dos agentes econômicos por meio de uma série de medidas que visam reverter o quadro de letargia que está por tomar a economia. Também, criará um fato político, tentando atrair, para o suporte de seu governo, agentes econômicos desconfiados em relação a seu governo. As chances de sucesso das medidas econômicas são relativamente limitadas em função de dois aspectos gerais : (i) ao estimular setores econômicos específicos, os efeitos das medidas se limitam em larga medida a cadeias de produção limitadas. Sobretudo a desoneração de certos tributos nas exportações tenta criar uma espécie de "taxa de câmbio" para cada setor "selecionado". Com isso a competitividade do sistema é mitigada em prol de uns poucos ; (ii) a taxa de investimento cresce em função do "espírito animal" dos agentes pelo qual estes criam uma nova base produtiva para lucrar no futuro. Ora, com o consumo cadente (os salários em termos reais estão estagnados) e pouca crença dos agentes em relação às reformas estruturais e regulamentações estatais pró-iniciativa privada, o cenário torna-se mais incerto. O governo sabe disso, mas aparentemente operará conforme as necessidades forem surgindo. Ou seja, no ritmo lento e gradual que é a marca da gestão Dilma. Por tudo isso, o fato político é insuficiente para ampliar a base política do governo. A necessária criatividade e paciência presidencial Há de se reconhecer que a política econômica do governo é segura, mas carece de criatividade num mundo complexo e cheio de armadilhas. Assim, estrategicamente, o governo mostra-se incapaz de operar contra a "guerra cambial" que ele próprio diagnostica. Enquanto isso, os países centrais, especialmente os EUA, atuam com medidas vastas e de peso - no caso norte-americano, até com o "apoio" dos modelos e algoritmos do Pentágono - o governo Dilma não enfrenta assuntos pendentes e relevantes. Vejamos alguns pontos : quem estrutura "políticas industriais" que atraem investimentos externos ? Quais os efeitos concretos da "política de campeões" do BNDES ? Há algo de "esquisito" numa economia onde a tributação sobe em termos reais e a atividade econômica patina. O fisco tem de combater a sonegação, mas não estará onerando exatamente os mais produtivos ? O BC reduz (corretamente) os juros básicos, mas como agirá em relação ao spread bancário e aos elevados custos do crédito doméstico ? Eis algumas questões inquietantes que precisam ser enfrentadas e que carecerão de dois outros aspectos : (i) dependem, em parte, de apoio político congressual e social e (ii) da paciência presidencial em articular interesses e ações governamentais. Ambos os aspectos andam meio capengas. Novo imposto ? Informações extraoficiais da semana passada, enquanto Dilma carregava a tiracolo na Índia dois de seus outros conselheiros em matéria de economia - o ministro Pimentel e o secretário-executivo do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa - davam conta de que a presidente teria pedido mais criatividade ao ministro Mantega nas medidas do pacote de indução ao crescimento mais acelerado da economia nacional e proteção da indústria pátria. Ela não quer mais do mesmo. Nesse caminho, a Fazenda deixou vazar em Brasília a informação de que pode criar, excepcionalmente, uma Cofins especial para taxar os produtos importados. Criatividade, mais do mesmo de sempre ou uma forma de compensar a desoneração de alguns impostos para alguns setores da indústria ? Silêncio constrangedor Todas essas discussões sobre pacote ou não pacote, mais ou menos subsídios, redução dos juros do BNDES (uma das medidas em estudo), que transferem dinheiro público de um lado para outro, determinando vencidos e vencedores, e de um modo ou de outro, para o bem e para o mal vão interferir na vida de milhões de brasileiros, se dão totalmente à margem do Congresso e dos partidos. A sociedade em seus momentos mais cruciais continua indefesa. A oposição não sabe o que fazer, os governistas sabem bem demais o que querem. E o ministério do Desenvolvimento ? Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento e amigo da presidente, deveria ser peça fundamental para a articulação econômica do governo. Todavia, anda tropeçando na prestação de contas de seus altíssimos rendimentos pós-gestão na prefeitura de BH e, ao mesmo tempo, anda se desentendendo com a Fazenda de Guido Mantega. Não há nenhum empresário, ao que parece, querendo protestar contra a falta de apetite do Desenvolvimento para atacar os problemas da indústria nacional. Todavia, não são poucos os sussurros que se ouvem nas reuniões de empresários quando o assunto gravita em torno das políticas do Desenvolvimento. Se fossem em voz alta, tais sussurros corariam as bochechas do mineiro. Mas ele ainda tem prestígio Apesar disso, do "malfeito" (vide Dilma) de que é suspeito, o ex-prefeito de BH ainda é um dos homens de maior confiança da presidente. Basta ver as fotos das viagens dela ao Exterior, como p. ex. esta agora à Índia para a reunião dos Brics : Pimentel está sempre ao lado. Sem contar o esquema que ela montou para evitar que ele vá explicar-se na Câmara e no Senado. No calcanhar dessa estratégia está a Comissão de Ética Pública da Presidência. Abriu-se uma investigação sobre as consultorias de Pimentel, com o voto de desempate do presidente da Comissão, o ex-ministro do STF, Sepúlveda Pertence. Viu-se no voto de Pertence uma reprimenda pública e dura a Pimentel. Bons farejadores de Brasília apostam que vai ficar por aí. Pimentel poderá receber apenas uma reprimenda leve, ao contrário do que ocorreu, por exemplo, com o ex-ministro do Trabalho, Carlos Luppi. Observa-se que o pedetista carioca, ao contrário do petista mineiro, não está no coração de Dilma. Além do mais, quando a Comissão anunciou que trataria do caso Pimentel, a presidente não escondeu sua contrariedade. Algumas daquelas pessoas que portam a voz da presidente, anonimamente, informaram até que ela pensava em trocar praticamente todos os membros da Comissão. A história foi timidamente desmentida. Mas ficou o recado. Um momento decisivo para o prestígio do grupo dirigido por Pertence. Enquanto isso nos EUA... Não se sabe ainda se a demanda "em aquecimento" nos EUA será suficiente para sustentar e estimular o investimento e, sobretudo, o consumo futuro. Todavia, a patota de Wall Street começa a especular que é possível que a maior economia do mundo esteja saindo do buraco em que se meteu. Não são poucos os que temem uma disparada futura da inflação, é verdade. Basta ver que os metais e outras commodities que são "reserva de valor" persistem com demanda por parte daqueles que querem se proteger contra um dólar mais frágil e inflacionado. Todavia, no curto prazo está se consolidando a ideia de que as ações seguirão em rota de alta (o que ajuda a demanda) e o emprego sobe ainda mais no curto prazo (atualmente ao redor de 8,7%). Obama agradece duplamente o melhor desempenho da economia e o discurso desencontrado dos republicanos, além da tibieza verbal e política de seu principal candidato Mitt Romney. A sina de Obama pode ser a reeleição. Depois dela, virá a necessidade de dar maior consistência à política econômica. Aí a "onça vai beber água". Por enquanto, vale apostar na melhoria de cenário. Os BRICS O mercado financeiro e de capital é hábil em provocar movimentos mais enérgicos nas economias (grandes e pequenas) de todo o mundo. Todavia, também é pródigo em modismos e siglas. Jim O'Neill, chefe de pesquisa econômica da Goldman Sachs, cunhou o acrônimo BRICS para se referir a um "grupo" de países que inclui o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, esta última "incorporada" tardiamente aos presumidos emergentes. Pois bem : deste acrônimo nasceram muitas iniciativas governamentais, inclusas as reuniões de cúpulas que tentam articular as ações destas nações. A julgar pelos resultados da reunião da semana passada na Índia, o destino destas reuniões parece ser o de produzir muito papel e pouco resultado. O motivo é simples e, por enquanto, bem claro : nenhum destes países tem suficiente interesse comum para se somar aos outros do grupo. A China está preocupada com o seu passivo comercial perante os EUA, a Índia tenta se opor a certas estratégias da China, a Rússia vive booms e revezes conforme andam as cotações de petróleo e a África do Sul, bem... de fato, não sabemos... A fome e a sede O PT, acusa abertamente os aliados e os fatos o comprovam, é partido de deixar apenas migalhas para os aliados. Mesmo quando faz concessões, como agora quando cederá algumas disputas em capitais e grandes cidades, com mais de 150 mil habitantes, está de olho grande em coisas maiores. No caso, manter no redil petista em 2014 os parceiros de hoje. Os parceiros entregam-se ao jogo. Uns por falta de opções e porque o Palácio do Planalto, com cargos, verbas, canetas e "Diário Oficial" é um imã irresistível. Outros, visam, além dessa vantagem, estar próximos e bem situados para o momento do bote, quando ele se abrir. Nesta última posição estão o PMDB e o PSB. Os dois se preparam para eventuais vacilações petistas em 2014. Com Lula fora de uma outra empreitada eleitoral, só resta ao PT abraçar-se a Dilma ou criar uma opção em dois anos caso a presidente falhe. No primeiro caso, há parte do PT que não saboreia inteiramente a presidente, porque acha que ela usurpou o que era deles. E, no segundo, tropeços vários anularam o surgimento de líderes de peso no partido no médio prazo. É nesse vazio que apostam os sedentos aliados de hoje, possíveis adversários do PT amanhã. Lula em tempos de crise Contrariando conselhos médicos, Lula mergulhou de vez na campanha eleitoral, um dia apenas após ter tido a excelente notícia de que houve remissão do seu câncer na garganta. O fez pelo gosto, pelo prazer, e porque fazer política é tudo para ele. Já marcou até aparições públicas, que certamente desabarão em grandes comícios, em abril - uma em São Bernardo outra em Brasília. Está fazendo por gosto mas também porque, apesar da aparente tranquilidade, os pepinos políticos estão no ar : é Haddad que não deslancha, são os parceiros que estão cobrando caro do PT e do governo Federal as parcerias de outubro, e as dificuldades de Dilma com o Congresso, apenas empurradas com a barriga para "depois da Semana Santa". Somente Tio Lula para botar a casa em ordem, mesmo com sacrifício. Radar NA REAL 30/3/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3323 baixa baixa - REAL 1,8291 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 64.510,97 estável/alta estável - S&P 500 1.408,47 estável/alta alta - NASDAQ 3.091,57 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 27 de março de 2012

Política & Economia NA REAL n° 191

Dilma : mudanças e confronto ou marketing ? (I) Dilma aproveitou a entrevista à revista "Veja" - à qual, aliás, nunca dedicou especial carinho, sempre dedicou "mau olhado" porque partiram da publicação semanal as principais denúncias de "malfeitos" que derrubaram um magote de ministros herdados de Lula - para anunciar que está adotando novas práticas políticas nas relações do Palácio do Planalto com o Congresso e os partidos aliados. "Não gosto desse negócio de toma lá dá cá" - avisou ela. Por "toma lá dá cá" entenda-se o amálgama da ampla e amorfa base aliança eleitoral e legislativa formada por Lula para facilitar a eleição de Dilma e dar sustentação a seu governo na Câmara e no Senado. Dilma : mudanças e confronto ou marketing ? (II) Antes, já se havia providenciado a divulgação dessa recente disposição da presidente com um bombardeio da imprensa com informações de fontes oficiosas a partir das derrotas recentes da presidente no Senado e na Câmara e da troca abrupta dos líderes governistas nas duas casas do Legislativo. Providenciou-se até uma declaração de apoio de ninguém menos que o presidente Lula, criador e mentor do monstrengo político que agora assombra o sono de Dilma. Como Lula está com a voz sob embargo, portou-a, para certa incredulidade geral, o novo líder da presidente no Senado, Eduardo Braga. Torce-se para que tal propósito presidencial seja para valer e que, principalmente, seja exequível. Há dúvidas fundadas, porém, entre muitos analistas de que isso seja possível e de que seja para valer por uma simples e boa razão : qual o real cacife da presidente para se confrontar com os partidos que a apóiam ? Qual a disposição dos partidos, inclusive e principalmente o PMDB, em abdicarem do "toma lá dá cá" que os sustenta a falta de programas, ideologia e identificação real com os eleitores ? A desconfiança é a de que não passa de mais um lance de marketing para desviar a atenção da opinião pública do corner político em que ela se encontra. Encontros com visibilidade É por essa razão que os encontros dos últimos dias entre a presidente e um grupo selecionado de empresários e a primeira reunião pública de Dilma com os líderes sindicais, patrocinados e badalados pelo Palácio do Planalto estão sendo vistos muito mais como uma estratégia de Dilma para acuar partidos e Congresso do que como encontros de trabalho. Afinal, os problemas que afligem empresários e trabalhadores são conhecidos até pelos bebês candangos. E para eles urge apenas soluções. Diagnóstico e receituário estão à disposição de Dilma, de Mantega, de Alexandre Tombini e de quem mais de direito para que exerçam na plenitude a tal de "vontade política" que tanto faltou aos governantes brasileiros antes de Lula. Segundo ele mesmo, Lula. Economia : sustentáculo sob risco Não há nenhum risco iminente para a economia brasileira do ponto de vista cambial ou fiscal. Mais do que as mágicas de marqueteiros, vozes empresariais e sindicais a favor, o apoio irrestrito de Lula e outros que tais, os pilares que sustentam a presidente são mais chãos : a economia e a inflação sob controle. Dilma controla a economia com as mãos de ferro, e, em segunda instância, nas de Guido Mantega e Alexandre Tombini, com os palpites dos conselheiros externos para esta área, Luis Gonzaga Belluzzo e Delfim Neto. De outro lado, o desempenho da atividade econômica dá evidências que o quadro de criação sustentada e empregos e aumento do consumo e do investimento que prevaleceu nos últimos anos não é mais um "porto seguro". Ao contrário, o PIB de 2011 foi decepcionante e os indicadores deste ano são sofríveis e declinantes. O governo terá de combater os riscos que vem de fora e que permanecerão por muito tempo e a deterioração das expectativas no front interno. Dilma e Mantega sabem disso e parecem correr contra o relógio. Todavia, falta-lhes a clareza sobre o rumo estratégico que vão tomar com o objetivo de traçar políticas de curto, médio e longo prazos. A reunião da semana passada, apesar de ser uma tentativa de acuar a classe política, também deixou rastros de que o grau de improvisação da política econômica é significativo. Os empresários sabem disso, mas não falam. Agem com discrição, reduzindo investimentos e vagas de trabalho. Os parâmetros da economia Os números oficiosos que o governo sob a batuta (e o tacape) da presidente Dilma está perseguindo este ano são os seguintes : 1. Crescimento do PIB não inferior a 4%, a ser alcançado a ferro e fogo. 2. Dólar na faixa de R$ 1,80 a R$ 1,90, o mais próximo possível do número superior. 3. Juros básicos no máximo em 9%. 4. Inflação abaixo da do ano passado, que bateu em 6,5%. Sem sacrifícios, porém, para atingir o centro da meta de 4,5%. 5. Manutenção do consumo pelo menos nos níveis do ano passado e continuidade da ascensão das famílias das classes D e E para a classe C. Como ainda não tem - e nem se sabe se conseguirá - criar condições políticas para colocar o Brasil nesta rota sem riscos de percalços, adotando as tão necessárias reformas estruturais no país, o governo apela para expedientes de curto prazo e muito artificialismo na política econômica. Dois exemplos : 1. Para garantir que a inflação não saia dos eixos, apesar dos apelos quase desesperados do Petrobras, protela um necessário (e já atrasado) reajuste no preço dos combustíveis. 2. Para cumprir a promessa de fazer um superávit primário de 3,1% do PIB, está forçando as estatais a aumentar a entrega de dividendos ao Tesouro Nacional, vai ficar este ano com mais de R$ 3 bi do FGTS e, apesar do dito em contrário, estanca seus planos de investimentos, segurando a liberação de recursos. O problema é que, em algum momento, tudo que é artificial desmancha no ar. Não seria melhor assim ? Na conversa com os jornalistas de "Veja" a presidente Dilma admitiu (até que enfim uma autoridade diz isto !) que a carga tributária no Brasil é alta demais. Como já havia acenado para os empresários, prometeu reduzi-la. Como e em que condições, porém, ficou no vazio. Anteontem, domingo, o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou um estudo mostrando que os incentivos que o governo concedeu a determinados setores da economia, pontualmente, em seis anos custaram R$ 97,8 bi aos cofres do Tesouro. Ingênua pergunta a economistas e tributaristas oficiais e não oficiais : se os mesmos recursos viessem sido utilizados para uma diminuição linear de impostos, para todos os setores e não para alguns escolhidos, o resultado final para a economia brasileira não teria sido muito melhor ? Conselheiro marqueteiro Diz o sempre bem informado jornalista Ricardo Kotscho (por meio de seu blog "Balaio do Kotscho"), com a experiência de alguns anos vividos no Palácio do Planalto nos tempos de Lula, que o principal conselheiro de Dilma, na ausência temporária mais efetiva do ex-presidente, é João Santana. Nada contra ele, cuja competência no seu fazer de marketing político é inquestionável. Mas quando um marqueteiro passa a dar as cartas no campo da política real, algo está fora do lugar. E tem muito para não dar certo. Dilma disse, na reveladora entrevista à "Veja", que somente há crise política de fato quando se perder a legitimidade política. Porém, legitimidade, que só se conquista com o voto popular, pode ser perdida de várias maneiras e por diversas razões. Collor, por exemplo, perdeu por "malfeitorias", Sarney por inapetência gerencial e inflação nos infernos. Do macro ao micro A serem totalmente fiéis alguns relatos, sem identificação da fonte, a respeito do encontro da semana passada da presidente Dilma com 28 dos maiores empresários brasileiros, ela teria ouvido do presidente do grupo JBS Friboi, José Batista Junior, críticas a seu modo de governar, já referidas aqui nesta coluna e apontado como um dos maiores entraves a que o governo seja mais eficiente. Centralizadora, detalhista, rude a ponto de intimidar e inibir a iniciativa de ministros e colaboradores, Dilma leva sua administração a uma semiparalisia, a atrasos constantes em liberar projetos, à demora em tomar decisões. Pela expressão atribuída a Batista Junior, ela se prenderia demais ao micro em detrimento do macro. Para uma língua maldosa de Brasília, ela dá mais atenção ao consumo de grampos que ao buraco da estrada. Assim como a mestre ? Definição do líder do governo no Senado, Eduardo Braga, por um empresário amazonense bem informado e frequentador das rodas políticas locais : "Ele é realmente muito inteligente, articulado, por isso se julga quase um Deus. É arrogante, autoritário, prepotente e não escuta o que lhe falam por, como uma semidivindade, já saber tudo". Arlindo Chinaglia é visto pelos colegas da Câmara como pessoa de muitas arestas e também um tanto prepotente. A ministra Ideli Salvatti é histriônica, um elefante em loja de louças em matéria de habilidade política. Dois outros possíveis auxiliares de Dilma na tarefa de amainar o Congresso estão fora : Lula, por causa da voz prejudicada pelo tratamento médico e porque precisa manter ainda um bom repouso ; Michel Temer, sumido por razões que não se entendem (mas se explicam facilmente). O clima está, assim, mais para o confronto que para a conciliação. Pragmatismo lulista Frase do ex-presidente Lula em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" anos atrás, citada semana passada pela colunista Dora Kramer : "Qualquer um que ganhar a eleição, pode ser o maior xiita ou maior direitista, não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o que se quer e o que se pode fazer vai uma diferença do tamanho do oceano. Se Jesus Cristo viesse para cá e tivesse votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer uma coalizão". Agora é fazer a unidade de fato Tucanos eram todos sorrisos, no domingo, depois da prévia que escolheu Serra como o candidato do PSDB à prefeitura de SP. Plumados federais, estaduais e municipais pareciam ter descoberto a pólvora da unidade partidária, sempre ameaçada pelo desfile de egos na passarela partidária. Contudo, os 52% alcançados por Serra, quando se esperava algo entre 70% e 80% para o ex-governador e ex-prefeito, foi, embora eles não digam, uma decepção. Mostrou a divisão ainda existente no partido e fortes resistências a Serra. Antes de começar a caçar alianças com outras legendas, os tucanos precisam fazer mesmo é uma aliança entre si. Conseguiram no domingo dar até alguma alegria à, no momento, cambaleante candidatura do petista Fernando Haddad. Dando lustro na imagem O novo presidente do TJ/SP, Ivan Sartori, está se saindo, no momento em que o Judiciário em todo o Brasil está na berlinda, pior do que a pior das encomendas : em pouco tempo à frente do TJ conseguiu desafiar a corregedora do CNJ, Eliane Calmon (voltou atrás), atacou a imprensa e ameaçou retaliar o jornal "Folha de S.Paulo", e decidiu mandar pagar auxílio alimentação a todos os magistrados do Estado, retroativamente a 2006, com justificativas um tanto canhestras. Assim se vai "lustrando" ainda mais a imagem da Justiça brasileira. Radar NA REAL 23/3/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3329 baixa baixa - REAL 1,8151 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 65.812,95 estável/alta estável - S&P 500 1.397,11 estável/alta alta - NASDAQ 3.067,92 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Com a própria corda no pescoço Diz o advogado contratado pelo senador Demóstenes Torres (DEM/GO) para defendê-lo das suspeitas de ligações suspeitas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que juridicamente nada atingirá o político do Democrata, pois as possíveis provas conta ele seriam ilegais. A questão não é esta, contudo. Politicamente, Demóstenes está liquidado. Se ficar no Senado, será um morto-vivo, enforcado na própria corda ética com que procurou (acertadamente) enforcar muita gente. É mais um político que não faz o que apregoa, com o agravante de ser também um promotor de Justiça. Não há relação de amizade possível entre um homem público e um contraventor. Há muita gente no Congresso, no entanto, com receio de bater forte nessa história. Afinal, o notório bicheiro Cachoeira está na origem do primeiro escândalo do governo petista : a o caso Waldomiro Diniz. Fed tentando manter a reputação Ben Bernanke, o presidente do Fed, está fazendo uma pregação de profeta para assegurar que a política de expansão monetária e dólar fraco permaneça por muito tempo. Para ele a hora não é para se pensar em ajustes fiscais para o imenso déficit que resta na maior economia mundial. O que ele não diz explicitamente e que todos sabem é que o mundo continua a financiar o projeto econômico norte-americano. Os investimentos em papéis do Tesouro Americano continuam enormes e não há fuga de capitais na direção de China e outros BRICS, apesar de todas as avaliações dando conta do declínio do Império Americano. Aviso aos analistas A taxa de desemprego dos EUA que vem caindo nos últimos meses reflete mais a desistência de desempregados em buscar empregos que a sustentação da demanda. Portanto, ainda não é anúncio seguro para alimentar grandes expectativas. Em defesa da liberdade de expressão Patrícia Blanco foi eleita para a presidente do Conselho Diretor do Instituto Palavra Aberta, vago desde a aposentadoria de Evandro Guimarães nas Organizações Globo. O Palavra Aberta tem por mote defender o livre direito de expressão no Brasil e foi criado, entre outros, a ANJ - Associação Nacional de Jornais, ABERT - Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão, ANER - Associação Nacional de Editores de Revistas, e a ABAP - Associação Brasileira de Agencias de Propaganda. ____________
terça-feira, 20 de março de 2012

Política & Economia NA REAL n° 190

O pior já passou ? (I) O título desta nota é uma das perguntas mais repetidas em tempos de crise, especialmente quando se trata de uma crise de proporções equivalentes à de 1929. Há quem seja capaz de dar uma resposta clara em meio ao cenário obscuro que se desfralda perante os olhos do analista. De nossa parte, preferimos repisar alguns aspectos já abordados difusamente nos últimos meses. Vejamos : 1. A crise de crédito iniciada em meados do terceiro trimestre de 2008 ainda produzirá efeitos por mais alguns anos. Um montante enorme de capital foi "queimado", o que reduz a capacidade do sistema financeiro privado financiar o consumo e o investimento; 2. A perda de capital do sistema financeiro privado se transformou numa crise fiscal de Estados de vez que recursos públicos foram utilizados para resgatar, mesmo que imperfeitamente, o sistema privado. Assim... 3. A capacidade de consumo e investimento público também estão limitados, o que limita a criação de emprego via dispêndios públicos; 4. As taxa de desemprego das economias centrais devem permanecer elevadas por alguns anos, até que a produtividade (mais produção com o mesmo quantum de fatores de produção) cresça. O efeito é que o consumo está estagnado; 5. Faltam lideranças políticas capazes de mudar as expectativas dos agentes e, com efeito, alterar a debilitada confiança de consumidores e investidores; 6. Não houve alteração significativa na forma de operar dos mercados. Os reguladores não conseguiram alterar politicamente e de forma significativa os riscos sistêmicos relacionados à má alocação de recursos, sobretudo no que tange à especulação; 7. O preço do petróleo, bem acima de US$ 100/barril, retira ainda mais o poder de compra dos consumidores dos países centrais. O pior já passou ? (II) Em larga medida os fatores de risco acima mencionados continuam presentes no cenário mundial e estão ainda a espalhar seus efeitos, desta feita sobre os países menos desenvolvidos (ou emergentes) dentre os quais o Brasil, a China e a Índia. Estes últimos começam a dar sinais de que vão crescer menos do que se projetava há poucos meses, sobretudo a China, que ainda cresce muito, mas bem menos (para os padrões chineses) quando se analisam os últimos trimestres em relação aos imediatamente anteriores. Paradoxalmente, é possível, e até mesmo provável, que os ativos reais e financeiros dos países mais implicados com a crise se valorizem. Isso se deve não propriamente em função de uma mudança estrutural nos frágeis fundamentos, mas em função da queda do risco espelhado na volatilidade dos mercados. Cai o risco, sobem os preços. É este fenômeno que estamos a identificar nos diversos segmentos do mercado acionário norte-americano, especialmente o de empresas tecnológicas (NASDAQ). No caso dos EUA, há tênues sinais de recuperação, mesmo que não sejam ainda seguramente promissores. Assim sendo, a nossa melhor visão indica que se esta calmaria atual permanecer mais algum tempo, o valor dos ativos vai subir ainda mais. Não é o caso de se desprezar os significativos riscos. Todavia, não é o caso de majorá-los. O pior já passou ? (III) Na opinião da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, já está passando sim. Embora alertando que há ainda muito o que fazer, ela percebe "os mercados financeiros estão mais calmos e os indicadores recentes sugerem um pequeno ímpeto na atividade econômica, basicamente nos Estados Unidos" e que "existem sinais de que as fortes ações de política econômica - especialmente na Europa - estão fazendo a diferença". O BC : mais transparente e menos soberano O anúncio da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do BC deixou ao mercado o entendimento de que a taxa básica de juros cai para o patamar de 9% e por aí fica por um bom tempo. Há quem critique o BC por esta linguagem "surpreendente". A nosso ver não há propriamente uma "surpresa". A mudança da linguagem da autoridade monetária, mais transparente e previsível, chega em boa hora. O futuro não é tão opaco desde 1929 e os BCs de todo o mundo têm procurado demonstrar que estão mais ocupados com a recessão que com a inflação. Para isto tem inovado na linguagem abandonando as frases mais tradicionais de seus informes. O Brasil segue esta linha e está correto. O que nos parece mais preocupante é que esta positiva mudança vem acompanhada por uma desconfiança crescente de que a soberania operacional do BC está mais reduzida. O governo parece interessado em dar as cartas na política monetária e isto não é institucionalmente interessante, sobretudo quando os problemas estruturais da economia brasileira estão se multiplicando e contaminando as expectativas dos agentes ansiosos por investir. O governo precisa mostrar que está operando para minorar os riscos macro e microeconômicos da economia brasileira, sem retirar da autoridade monetária a necessária soberania operacional para agir em favor do real. A bola esta com o Planalto e não com o BC. E a caderneta de poupança ? Ou o governo propõe uma mudança em relação à remuneração da caderneta de poupança ou a política monetária do BC ficará limitada no que se refere à redução dos juros. Dificilmente isto ocorrerá nestes meses pré-eleição, mas esta questão é urgente e necessária. O rumo do câmbio É certo que o governo tem um "arsenal" para tentar controlar a valorizada taxa de câmbio. Isto não significa que as medidas combinadas com vistas a este objetivo vão funcionar bem, sobretudo porque os efeitos são bem elásticos, seja sobre o mercado financeiro, seja sobre a economia real. O maior risco de todos, a nosso ver, é que uma queda mais forte dos preços das commodities possa desvalorizar mais velozmente o real. Neste caso, podemos ter o recrudescimento da inflação e os consequentes efeitos sobre a taxa de juros. E o tal do "arsenal" pode ser inútil e o BC talvez tenha de mudar sua postura de acomodação monetária mais rapidamente. É lógico que estamos falando de uma hipótese ainda não muito visível, mas o governo deveria examinar esta possibilidade para fins de estabelecer políticas macroeconômicas que evitem riscos exacerbados. A gerente e o seu perfil político Ao que parece a presidente gostaria de projetar para o seu imenso eleitorado a imagem de "gerente" em detrimento da de "líder política". O noticiário carregado de informações que dão conta de atrasos significativos no cronograma de obras indica que o perfil tecnocrático pretendido pelos viventes palacianos de Brasília está distorcido e pode contaminar o eleitorado mais à frente. Como as coisas não vão bem também na arena política, há perda de identidade por parte da presidente. Apesar disso, Dilma goza de invejável taxa de aprovação popular por conta do "bom desempenho econômico". O fato é que a taxa de emprego está menos exuberante e os ganhos de renda andam caindo. A paciência popular pode tomar o sentido contrário e resvalar na popularidade presidencial. O governo talvez esteja exagerando na crença de que são imbatíveis. Mas enquanto o amparo popular bafejar a presidente, a rebeldia de seus aliados - entre os rebeldes inclua-se parte do PT - será limitada. Dilma em seus labirintos Segundo tese que as fontes oficiais fazem questão de alimentar, a mais recente crise política que Dilma está enfrentando com seus parceiros é uma "crise da política" (ou dos partidos), sem maiores consequências. Coisa de estômagos ávidos e mau atendidos. Não é bem assim, porém, no mundo real, embora a dose de fisiologismo esteja na origem das rebeliões contra a presidente. Tudo isso gera prejuízos sim, imediatos e de longo prazo : 1. A necessidade de nomear gente não qualificada para cargos no Executivo e de manter ministérios e órgãos e secretarias inúteis torna o governo mais ineficiente ainda do que qualquer governo normalmente já é e encarece seu custo para a sociedade. 2. Por causa desses desarranjos, o governo já desistiu de levar adiante qualquer uma das reformas estruturais que dariam mais segurança à economia nacional. A reforma tributária se restringirá, se ocorrer, apenas ao fim da guerra do ICMS entre os Estados; a reforma política dorme em berço esplêndido; a previdenciária vai se resumir à criação do fundo de aposentadoria dos servidores federais; a trabalhista e sindical a presidente acaba de descartar em conversa semana passada com líderes sindicais. E assim por diante. 3. A ANTT já está parada, por falta de quorum em sua diretoria para tomar decisões colegiadas. 4. Dificilmente será votado antes de julho o Código Florestal. 5. As novas regras de distribuição dos royalties do petróleo continuam suspensas, com prejuízos para os Estados e municípios que reivindicam parte desses recursos e atrasos na licitação de novas áreas para exploração. O fisiologismo e a articulação política, ao contrário do senso comum, tem um custo elevadíssimo, não são para serem tratadas como "coisas da politiquinha". Não é dela apenas A crise que Dilma vem enfrentado praticamente desde que tomou posse, em intervalos cada vez menores entre um episódio e outro, não é uma crise do governo Dilma somente, embora a situação se agrave pelo estilo da presidente. É uma crise do "sistema político" de partilha do poder com um carrilhão de partidos. A presidente pode até mudar isso. O problema é que... ...Dilma é de choque Dilma parece não admitir ser contrariada. Lula também não. Que o diga o senador Eduardo Suplicy, no index lulista desde que ousou disputar as prévias presenciais petistas com o ex-presidente em 2002. Só que Lula tinha jogo de cintura elástico, sabia como poucos usar o bambolê da política. Como se diz popularmente, fazia com a arte do limão uma limonada. Dilma até agora só mostrou que é capaz de fazer da limonada um limão. Carrega ressentimentos e os expõe, às vezes com truculência, como se deu agora na demissão dos líderes. Mantém ministros sob permanente tensão, com cenas de humilhação diante de terceiros. Está colhendo os azedumes que espalha. Líderes sem liderança ? Eduardo Braga (Senado) e Arlindo Chinaglia (Câmara) vão ter de esforçar muito para confirmarem na prática a liderança que Dilma lhes entregou. Nenhum dos dois é conhecido por sua habilidade política, ambos costumam ser ásperos e ríspidos, ao contrário de seus antecessores, Romero Jucá e Cândido Vaccarezza. Mas Dilma não levou para casa o desaforo da derrota de Bernardo Figueiredo (ANTT) no Senado nem as conversas de Vaccarezza com os ruralistas para tentar mudar o texto do Código Florestal aprovado pelo Senado. Deu o rompante e até terá de segurar a ventania. Ontem, segunda-feira, ela já se meteu diretamente nas negociações para a aprovação da Lei Geral da Copa, ação que até agora evitava fazer. Vai ter se se meter cada vez mais. Em fogo brando Piora a situação o fato de a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, por culpa de seu estilo não raras vezes grosseiro, não estar mais nas graças de seus liderados. Ideli está sendo cozinhada em banho-maria por gente de diferentes partidos. Se não mudar, o óleo pode ferver e vai ser outra enxaqueca para Dilma. Eduardo tropeça Não foi muito feliz do senador Eduardo Braga em algumas de suas primeiras declarações como novo líder do governo no Senado, ao dizer coisas como, por exemplo, "a política do 'toma lá, dá cá' está no passado" e "os partidos terão direito de indicar, mas dentro de um novo contexto". Primeiro, é confessar que esta prática era normal, o que a presidente sempre fez questão de negar. Segundo, porque vai irritar os parceiros, que também detestam se apontados publicamente como fisiológicos. E terceiro, porque não é real : um governo que acaba de nomear o senador Marcelo Crivella para o inútil ministério da Pesca e se prepara para recolocar o PDT no ministério do Trabalho única e exclusivamente para adular aliados, não está mudando nada. E os aliados tanto sabem disso que vão continuar chiando e levando. O novo slogan do franciscanismo político pode até ser este : "É chiando (ou chantageando) que se recebe". Este sabe o certo Veja-se o PMDB nesta história : está amuado, mas ficou quietinho, pois sabe que as mudanças vieram para tudo permanecer como está. O PMDB teme mesmo é que tentem lhe "roubar" a presidência da Câmara (e até a do Senado) em 2013 e a vice-presidência da República em 2014. Troco na agulha Para lembrar a presidente Dilma de que ele existe, é forte e merece ser bem tratado, o PMDB já prepara uma armadilha para o Palácio do Planalto : escolhido por Renan Calheiros para relatar o Orçamento da União de 2013 no mesmo dia em que foi escorraçado a liderança do governo no Senado, Romero Jucá estuda a possibilidade de tornar as normas do orçamento impositivas e não apenas autorizativas. Hoje, pela lei, o governo é "autorizado" a gastar tanto em tais lugares. Não está obrigado. Se o Orçamento virar impositivo, ele terá de cumpri-lo rigorosamente. Uma camisa de força para a gestão da economia. E um possível desastre pela forma pouco séria como o Congresso trata do assunto. Mas o PMDB sabe como pouco criar o perigo para depois salvar a "mocinha". Haddad na UTI Lula não terá muito tempo de sossego quando for liberado pelos médicos até o fim desse mês. A candidatura do ex-ministro Fernando Haddad à prefeitura de SP inspira sérios cuidados. E somente Lula, com muito esforço, pode tirá-la da UTI. Baixou o desânimo em uma parte dos petistas. E há petistas com indisfarçável sorriso de vingança, com cara de "eu não avisei". Para mal de todos os pecados do ex-ministro, seu substituto na Educação, Aloizio Mercadante, sem querer ou querendo, está "desconstruindo" sua gestão aos poucos. Depois é que serão elas Tudo indica que Serra levará as prévias do PSDB paulistano neste domingo, contra os seus dois contendores na disputa, o deputado Ricardo Trípoli e o secretário estadual José Aníbal. Mas o processo todo, até pela ação tortuosa de Serra, deixará sequelas. E Serra nunca foi bom aparador de arestas. Pelo contrário. Radar NA REAL 16/3/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3243 baixa baixa - REAL 1,8081 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 67.684,13 estável/alta estável - S&P 500 1.404,17 estável/alta alta - NASDAQ 3.055,60 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 13 de março de 2012

Política & Economia NA REAL n° 189

Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - I Lula voltou neste fim de semana para casa, um tanto mais magro, curado da pneumonia. Até o fim do mês terá o exame definitivo para saber se está com o câncer da laringe "zerado", como se diz popularmente. Os médicos que o acompanham garantem que seguido um repouso absoluto até lá, já pelos meados de abril ele poderá retomar o que mais gosta na vida - fazer política. Porém, mesmo com esta chancela médica, as duas idas de Lula para o hospital em espaços de duas semanas, abatido por causa da queda de suas imunidades como consequencia do rigoroso tratamento a que se submeteu (e também pela inobservância de certa moderação de atividades nesse período), abriram para os aliados, de um modo geral, e os parceiros mais diretos, a terrífica visão de que não deverão (não poderão) contar com um Lula 100% provocador por um bom tempo. Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - II Esta possibilidade real de ter que lidar com um Lula mais moderado já abriu também disputas na seara oficial tanto para o futuro imediato de 2012, como para o futuro mais distante de 2014. Este ano, quem contava com Lula para alavancar candidaturas e ajudar a impingir derrotas humilhantes na oposição, em outubro, já está tirando não somente "o cavalinho", mas "a tropa inteira da chuva". Queira ou não a presidente Dilma, tal situação vai obrigá-la a cair na vida eleitoral mais visivelmente do que apenas dando apoio "logístico" aos aliados. Terá de mostrar a cara - e não apenas em SP. (Aliás, São Paulo, com as brigas internas do PT para ver quem comanda a campanha de Fernando Haddad, politicamente e financeiramente, com o ex-ministro patinando nas pesquisas, e com a dificuldade de somar aliados à candidatura do ex-ministro da Educação, é o mais límpido sinal da falta que Lula faz. Em outros municípios, começam a pipocar também indícios de que a união dos aliados federais no nível das prefeituras também começa a desandar). Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - III No plano de 2014, por mais cruel que isso possa parecer, os aliados também já dão indicações de que estão atordoados com a possibilidade de não terem mais "um craque no banco de reservas" (expressão usada por Gilberto de Carvalho como uma ameaça quando se falava no plano da oposição de desestabilizar politicamente Dilma). E já fazem movimentos para o jogo da sucessão presidencial nessas condições. Os movimentos do PMDB na Câmara (manifesto dos deputados Federais) e no Senado (participação decisiva, porém não única, na derruba do diretor-geral da ANTT) são lances que extrapolam as divergências por cargos e verbas e as eleições de outubro. O olho do furacão peemedebista está em 2014. Lula é o grande avalista de peso do PMDB na coalizão (mais parece uma "colisão") governista. Nunca foi sonho de consumo de Dilma, como ela tem demonstrado na prática ao tratar os ministros do PMDB como essência de segunda categoria. Lula, 2012 e 2014, uma odisseia eleitoral - IV Os peemedebistas temem perder o lugar de vice de Michel Temer para o PSB e, ao mesmo tempo, preparam-se para uma eventual possibilidade, dependendo do andar da carruagem econômica, de as forças aliadas ficarem sem uma candidatura forte em 2014. Os mesmos passos do PSB do governador Eduardo Campos - vice ou candidatura própria no ano da Copa - é o foco do partido. As outras legendas olham também para o fato de Dilma, por modo próprio ou induzida por circunstâncias, entre elas um menor protagonismo forçado de Lula, estar redesenhando a correlação de forças na base aliada, não só com a redivisão da participação dos partidos no poder como também dentro do próprios partidos. No PT, por exemplo, é visível a perda de força do mundo baiano do governador Jaques Wagner (perdeu de uma só vez Florence no ministério do Desenvolvimento Agrário, Negromonte no ministério das Cidades e Gabrielli na Petrobras), a contenção do "paulistanismo" e a ascensão dos gaúchos de sua lavra política. Dilma em transe Há alguns meses escrevemos nesta coluna que o excesso de centralização que a presidente Dilma está imprimindo a seu governo estava deixando os ministros em pânico e inseguros, com medo de tomar iniciativas, de tomar decisões e depois serem "espancados" (figurativamente, esclareça-se) por ela. Havia, por isso, uma paralisia decisória e um enorme déficit de execução no governo, visível até para um míope. De repente, Dilma deu-se conta dessa situação e propaga "irritação" que teria crescido segundo fontes que nunca se identificam. Gerou, embora negada como motivação, até a demissão do ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence. Teria sido, segundo alguns, para dar um exemplo, para dar um recado do desgosto da presidente. Dilma e a área econômica A insatisfação atinge até a área econômica, exceção do BC que tem feito direitinho o dever de casa traçado por Dilma : incentivar de preferência a retomada do crescimento econômico em ritmo de avião supersônico. O carnaval já passou, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai ter de botar seu bloco "desenvolvimentista" de novo esta semana na rua. A dúvida é saber se com a preocupação de Dilma com os detalhes a máquina vai desemperrar. Uma alma maldosa em Brasília diz que há ministro da Esplanada que não vai nem ao banheiro sem consultar antes o Palácio do Planalto. Um novo estilo Dilma, depois dos sustos políticos dos últimos dias, promete inaugurar esta semana um novo modelo de relações com os partidos aliados, o Congresso e os sindicatos. Vai amanhã ao Senado, o que não fez no ano passado, para a homenagem ao Dia das Mulheres. A presidente recebe na quarta-feira os dirigentes das centrais sindicais, a terceira vez em mais de um ano de governo. Inicia com o PMDB as rodadas de afagos aos parceiros de coalizão. Teria mandado (a conferir) as ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann apressarem a liberação das emendas dos parlamentares, segundo fontes oficiais emperradas mesmo por culpa da lentidão (e até uma certa desobediência, pasmem !) dos ministérios. Dilma está abrindo a porteira, mas a quer sob controle. Está pagando para ver. O risco é se a abertura for limitada e as confusões continuarem. Se houver uma brecha maior, o risco é a presidente ficar nas mãos dos nunca inteiramente saciáveis parceiros. Dilma e o apoio das elites A presidência de Lula se caracterizou por uma vontade férrea em se destacar das suas bases políticas originárias, sobretudo os sindicatos e os denominados "movimentos sociais", além de boa parte dos funcionários do Estado. Assim, forjou com inegável competência política a aquisição de credibilidade junto à burguesia financeira e empresarial. Aqui e lá fora. O resultado do PIB de 2011 o qual dá mais evidências do continuado processo de desindustrialização do Brasil é mais um sinal de que as elites empresariais estão dando conta de que o atual governo e sua agenda econômica já não atendem os seus interesses como no passado lulista recente. Junte-se a isso a ineficiência governamental em gerir a coisa pública no que tange às obras de infraestrutura e reformas estruturais. Por estas e por outras, está se abrindo um espaço político de insatisfação que apenas não está sendo aproveitado em função da ausência de uma oposição ativa e de uma maior organização política das elites. Artilheiro sem precisão ? O ministério da Fazenda, em conjunto principalmente com o BC e o ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior deverá, na sequência da queda de juros patrocinada pelo BC semana passada, anunciar nos próximos dias novas medidas para incentivar a produção nacional e para não deixar o real se valorizar (em economês se diz também "apreciar") demais. Sempre que as coisas se complicam para o ministro Guido Mantega, este avisa, em tom de ameaça, que o governo dispõe de um arsenal de medidas quase infinito para combater tais ameaças. É possível, mas até agora o arsenal parece composto de armas de antes da Primeira Guerra Mundial e/ou o artilheiro não anda bem de pontaria. Um levantamento feito na semana passada pelo jornal "Valor Econômico" mostra que desde o início do governo Dilma já foram adotadas 16 medidas de proteção comercial ou para aumentar a competitividade da indústria brasileira. Com efeitos muito limitados como provam as constantes novas providências ditas no embornal. Será por essa razão que a presidente Dilma ameaça ela mesma pegar em armas ? Um fato para complicar O STF não tinha outra atitude a tomar que a de voltar atrás na decisão de considerar inconstitucional a transformação da MP que criou o Instituto Chico Mendes. Filustrias à parte, o caos jurídico que se instalaria no país, pois outras 500 leis resultantes de Medidas Provisórias, teriam o mesmo destino. Todavia, os ministros do Supremo criaram um enorme problema para o governo ao considerar que daqui para frente o rito de passar antes das MPs por uma comissão especial de deputados e senadores deve ser obrigatoriamente cumprido. O Palácio do Planalto terá de negociar muito mais com o Congresso para fazer valer sua vontade legislar sem que os parlamentares opinem para valer, como ocorre hoje com o modo de tramitação das MPs. É um avanço democrático sério e vai despertar na Câmara a discussão sobre os ritos das MPs, que tem uma proposta de alteração profunda, de autoria conjunta José Sarney-Aécio Neves, já aprovada pelo Senado e ainda em suas gavetas. A proposta visa dar mais tempo ao Senado, "dividindo-o" melhor com a Câmara para analisar as MPs, acabar com o contrabando (inclusão de assuntos de todo o tipo numa MP, fora de seu objeto específico) de emendas, e forçar o Executivo a cumprir a norma de só editar o instrumento quando de fato ele cumprir os princípios constitucionais de urgência e relevância. Novos vocábulos do economês O brasileiro já começou a ouvir falar e vai ouvir muito mais ainda a respeito de três novos termos incorporados ao vocabulário diário do economês nacional nesses tempos em que o governo trata de adaptar a política econômica de meses atrás ao propósito oficial de turbinar o crescimento econômico. Acostumem-se : 1. PIB potencial - mede quanto a economia brasileira pode crescer sem provocar inflação nem problemas sérios nas contas externas. 2. Taxa neutra de juros - é a taxa básica de juros real (Selic menos inflação) que pode ser aplicada pelo BC sem gerar inflação e sem inibir o crescimento. 3 NAIRU, sigla em inglês para taxa de desemprego de equilíbrio ou neutra, aquela que não provoca aumentos salariais que onerem demais os custos das empresas por gerarem aumentos salariais muito acima da produtividade da economia. É bom acompanhar porque não existe nenhum termômetro econômico para medir nenhum dos três com precisão. Ao contrário, estas estimativas tem um caráter experimental perigoso : podem gerar um desequilíbrio custoso para qualquer lado, sendo que somente a posteriori tais desequilíbrios podem ser corrigidos. Se nem eles sabem Não nos cobrem, por favor, informações sobre os movimentos da oposição que não sejam as mumunhas políticas e o nhem nhem nhem de sempre. Se nem os oposicionistas sabem direito o que está acontecendo e que seja relevante e mesmo ainda sabem o que fazer, o que podem dizer os pobres mortais que não têm bola de cristal ? O fator China Já começam a pulular por aí os rebentos das informações que dão conta que a China está a reduzir a atividade econômica. Por alguma destas artimanhas desconhecidas o governo comunista de Pequim conseguirá limitar o crescimento em 7,5%, nada acima e nada abaixo. Os chineses parecem dotados de conhecimentos milenares, mas é difícil acreditar que quando se "freia" uma economia é possível se prever com precisão o quanto uma economia reduzirá em termos de produção, investimentos, etc. O certo é que o mundo teme tanto o assunto que nas últimas semanas andou aumentando a tensão no mercado financeiro que costuma ser pródigo neste tipo de especulação. Também parece bem razoável acreditar que nenhum país consegue crescer constantemente a taxas de 10% ao ano sem que se gerem desequilíbrios estruturais na formação fixa de capital (vulgo, investimentos) e no setor de crédito. A China não tem tais riscos mais identificados porque transparência não é o forte de Pequim e ninguém está (ainda) conseguindo saber algo diferente sobre o gigante do oriente. Todavia, as últimas tensões no mercado devem ser levadas a sério. A China pode não continuar sendo a força motriz que movimenta o mundo enquanto os países centrais do ocidente jogam hordas de desempregados nas ruas. A China e o Brasil - I A China está sustentando o preço de nossas commodities lá nas alturas. Mesmo com algum recuo nas últimas semanas, os bons comerciantes externos sabem que as cotações estão ótimas. Todavia, não se pode ficar pendurado na ideia de que isto é eterno. Alguém poderia imaginar que estamos exagerando. Convidamos o leitor a pensar no seguinte : estaria a taxa de câmbio neste patamar valorizado e haveria tranquilidade cambial não fossem os chineses comprando as nossas valorizadas exportações. Há, como se vê, um problema estratégico a ser resolvido : ou se aumenta o consumo doméstico (e se estimula uma pauta de exportações mais variável) ou estaremos pendurados num parceiro só, para o bem e para o mal. A China e o Brasil - II Se o risco chinês é considerável e merece atenção, mesmo que seja inescapável dado seus efeitos para o mundo atual repleto de destruição de empregos, redução de consumo e investimento, há de se considerar que políticas comerciais com excessos protecionistas, bem como ajustes que tornem elevada a volatilidade do câmbio não são boas práticas. É preciso fazer ajustes significativos em todas estas variáveis sem que isto reverta as boas expectativas de forma abrupta. Uma tarefa muito complexa e que o governo da presidente Dilma não parece muito preparado para fazer em vista de seus problemas de gestão. O Brasil tem perdido a sua dinâmica em meio aos parceiros de comércio exterior. Faltam às exportações conteúdo tecnológico e exploração de nichos. Sobra às importações uma taxa de câmbio tão favorável. O país parece querer brincar com fogo. Ainda sobre a decisão sobre o juro básico Ao que parece o BC está mesmo sensibilizado com a estagnação da atividade econômica que o país está metido. A queda de 0,75% da taxa básica de juros na semana passada foi realmente um recado para os agentes econômicos de que o BC está preocupado mesmo é com a queda da produção e que abandonou o regime de metas de inflação pelo menos em seus moldes mais tradicionais, para dizer o mínimo. Tombini e sua equipe estimulam a imaginação dos analistas de plantão em prever até que nível a taxa de juros básica pode cair. Note-se que o BC de Dilma está em pleno jejum de palavras no que tange à política fiscal e aos baixos ganhos de produtividade da economia brasileira. Isto não nos parece de boa cepa. Assim sendo, é bem possível que a taxa de juros caia para patamares nunca imaginados a princípio (8% ou menos) e que isto ocorra ainda neste primeiro semestre. Resta saber se será suficiente para estimular uma economia que parece estagnada, sobretudo no campo político. Radar NA REAL 9/3/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3147 baixa baixa - REAL 1,8200 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 66.703,96 estável/alta estável - S&P 500 1.371,69 estável/alta alta - NASDAQ 2.988,34 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 6 de março de 2012

Política & Economia NA REAL n° 188

Dilma, tensão, choro e lulodependência A quaresma trouxe pesadas cinzas políticas para a presidente Dilma, refletidas no choro por ela exibido sexta-feira no Palácio do Planalto. Não há que se imaginar que ela, durona como é tida, tenha soltado lágrimas por causa da dispensa do ex-ministro Luis Sérgio, político petista fluminense que humilhou duas vezes. Menos ainda se deve supor que a emoção tenha sido pela aquisição para o ministério da Pesca do senador e bispo licenciado Marcelo Crivella. Seria muita vela para pouco santo. A razão, segundo bons observadores políticos de Brasília, seria outra : o alto grau de tensão a que Dilma está submetida em razão das confusões no campo governamental, nada especificamente a ver com a economia, que é um outro departamento. Vê-se a presidente assolada por : 1. Rebelião na base aliada e as desavenças explicitadas publicamente entre o PT e o PMDB. A insatisfação é grande e é diretamente com a presidente e a forma como ele se conduz politicamente. 2. O documento dos militares da reserva com críticas indiretas à presidente e diretas do ministro Celso Amorim. Nasceu pequeno, cresceu e merece uma resposta dura do governo. Porém, isto pode acender um rastilho de pólvora, pois junta insatisfações com a Comissão da verba com desencantos salariais e com a falta de recursos para reaparelhar as Forças Armadas. 3. A disputa pelo poder dentro do BB; uma queda de braço entre petistas, com reflexos no meio ambiente da equipe econômica. 4. A inesperada (para quem não lê bem a política) entrada de José Serra na corrida eleitoral pela prefeitura de SP, criando dificuldades para a montagem de uma coligação governista ampla para apoiar a candidatura petista de Fernando Haddad. Com isto, Dilma vai ter de mostrar mais sua cara na sucessão paulistana, coisa que não estava em seus planos. E que já começou a fazer dando a Crivella o ministério da Pesca. Em consequência dessa confusão, Dilma teve de correr para os braços de seu criador, reacendendo a velha conversa da "lulodependência" coisa que ela vinha tentando apagar, até com algum sucesso, nos últimos tempos. Sistema esgotado Toda essa confusão demonstra que o sistema de coalizão partidária amplo, que sustenta o governo Dilma, montado milimetricamente pelo ex-presidente Lula, está se esvaindo. É gato demais no balaio para uma pessoa com pouca experiência e pouco apetite político como Dilma. Quando o partido do vice-presidente da República, Michel Temer, que é também seu presidente licenciado, faz circular um manifesto como o assinado pela maior parte de sua bancada na Câmara, dá para ver o tamanho da encrenca que Dilma tem pela frente. De agora em diante, a tendência é aumentar as cobranças dos aliados e as concessões por parte do Palácio. Não é esse o problema A questão preocupante não é o fato de o bispo-senador Marcelo Crivella não entender de pesca, nem ao menos colocar uma minhoca no anzol. Não tem importância. Os ministros que o antecederam na Pesca também não sabiam e o ministério não tem razão de existir. Qualquer coisa, ou nada, é a mesma coisa. O problema é o modo como ele foi escolhido e as credenciais que o levaram ao posto - apenas razões eleitorais e partidárias. Ainda é cedo O PSDB está exultante com a entrada de Serra na eleição paulistana, principalmente depois que o DataFolha já o colocou em primeiro lugar na pesquisa da intenção de votos. Por outro lado, baixou um mal estar no PT e no Palácio do Planalto, com as dificuldades que agora se apresentam para Fernando Haddad. O PT, Lula e Dilma já davam nas mãos a prefeitura de SP. E mais : um passo decisivo para a tomada do Palácio dos Bandeirantes, em 2014. É cedo para tudo isso. A eleição pode virar. O cacife dos eleitores de Haddad, do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, é pesado. E tanto para Lula quanto agora também para Dilma ganhar a eleição na capital paulista virou ponto de honra. Espertinho demais Kassab está atirando em tantas direções que está com grandes possibilidades de terminar o seu mandato falando sozinho e com um partido natimorto nas mãos. Se o PDB não conseguir mais tempo no horário obrigatório no rádio e na televisão deixará de ser uma noiva cobiçada em qualquer lugar do Brasil. E o despacho do ministro Lewandowski, negando ao PSD o direito de ocupar presidências das Comissões permanentes da Câmara, pode ser um indício de como os tribunais decidirão quando chegar o momento de definir se ele terá direito a mais tempo na mídia. A tese é que o partido ainda não passou pelo "teste das urnas" e esse teste que define os direitos partidários. Lula em repouso Não há nenhuma indicação de que a saúde do presidente Lula, em relação ao câncer do qual ainda está se tratando, piorou. É efeito do tratamento a que foi submetido, agravado, segundo bons especialistas, com alguns "descuidos" do presidente. Por seu estilo, por exigências de seu partido e também de demandas da presidente Dilma em alguns momentos de dificuldades, Lula se expôs mais do que o aconselhável. E como diagnosticam seus médicos, ficou com a imunidade comprometida. Agora, terá de ser mais obediente e se submeter a um repouso para valer, mais prolongado, mesmo depois que sair do hospital. O que para a presidente Dilma, com os pepinos que está vivendo, não é nada bom. E menos bom ainda é para os candidatos petistas às prefeituras, especialmente Haddad, politicamente ainda incapaz de andar sem as duas muletas de Lula a escorá-lo. Economia em marcha lenta I Há poucos anos discutia-se muito entre os economistas que o crescimento não era sustentável em função das restrições cambiais que o país historicamente tinha. No governo FHC, o crescimento per capita gravitou ao redor de zero. Na era Lula, regada pela bonança internacional, o crescimento per capita pulou para algo em torno de 3%. De todo o modo, este crescimento é substancialmente inferior aos países mais importantes dentre os emergentes, os chamados BRICs, e menor que os principais países da América Latina, excetuando-se o México. Esta constatação se repete neste primeiro ano da presidente Dilma : o Brasil continua patinando, a despeito do grande prestígio que tem perante o mundo desenvolvido em crise. Note-se que estamos analisando em termos relativos o que retira o argumento de que este baixo crescimento se deve a crise externa. Economia em marcha lenta II Há muitas possibilidades para se justificar este crescimento medíocre. O mais aparente é que a taxa de investimento instável, ao redor de 20% do PIB, ainda é baixa em comparação aos outros países com características semelhantes às do Brasil. Logo, chegamos à taxa de juros básica e de crédito aberradamente desequilibradas. De outro lado, a inflação brasileira acumula perdas importantes em termos de poder de compra. Ademais, a taxa de câmbio está supervalorizada, basta se verificar o desempenho dos preços do segmento de serviços. Por fim, temos um resultado fiscal equilibrado, mas que onera em excesso os segmentos mais produtivos da economia em favor de um obeso Estado. Menor produtividade, menor crescimento. Economia em marcha lenta III Como se vê nas notas acima, a economia brasileira não parece tão saudável quanto se apregoa mundo afora. Ocorre que quem está muito adoentado são os países centrais do capitalismo. Nesta comparação, o Brasil brilha e talvez aí resida a negligência generalizada em torno de reformas essenciais para dotar a economia brasileira da vitalidade necessária que justifique os excessos verbais quando se comenta sobre a economia brasileira por aqui e lá fora. A economia, neste ritmo lento, de fato, e "atraente", na aparência, faz jus ao desempenho político da presidente Dilma, e vice-versa. A presidente gosta de ser conhecida pelo seu caráter de "gerente". Uma imagem bem discrepante com a realpolitik da coalizão partidária que preside, onde cabe tudo, de comunistas errantes pelo mundo, no ministério dos Esportes até a vanguarda do atraso, nas Minas e Energia. De Sarney às políticas da condição feminina. De Dilma à Lula. A economia imita a política. E vice-versa. Não há reformas relevantes e não há gerência competente. O que se vê é um Brasil muito melhor perante um mundo muito ruim. BC cheio de dúvidas Se fosse pelo crescimento frágil da demanda no final de 2011 e o fraco desempenho da atividade destes dois meses iniciais do ano, bem como o comportamento bem mais moderado da inflação, o BC poderia ser mais agressivo em reduzir a taxa de juros básica, bem mais rápido que se espera. Há quem aposte nisso. A nosso ver, a questão não é quem ganha esta aposta, mas o quanto isto é possível num momento em que uma boa parte dos resultados positivos da inflação se deve ao câmbio valorizado e, de outro lado, o quanto o petróleo em alta lá fora pode contaminar a dinâmica de preços por aqui. Alguém poderia chamar a atenção para os riscos chineses, mas vamos combinar que, por enquanto, chega a ser uma grande pretensão tentar adivinhar o que seria uma crise da China a estas alturas dos acontecimentos. A crise pode (deve ?) até acontecer, mas não há possibilidade de se prever quando. O que nos parece, por ora, é que Alexandre Tombini e sua turma vai continuar reduzindo o juro básico obedecendo a máxima de que "quando não se sabe exatamente o que se está fazendo, faça devagar". Se o BC apertar o passo e for mais rápido na redução dos juros, é possível que tenha de voltar a aumentar os juros mais cedo. A opção pela segurança nos parece mais óbvia. Palpites e apostas Hoje, o IBGE divulga os resultados oficiais do PIB do ano passado. Até os mais empedernidos governistas, aqueles que há pouco mais de um ano imaginavam que a economia nacional poderia crescer até 5% em 2011, estão conformados com uma elevação do PIB entre 2,7% e 2,9%. O discurso oficial será que isto é o que mostra o "retrovisor", o importante é que está em andamento. Um PIB para fechar 2012 crescendo ao ritmo de 5%. Esse dado de baixo desempenho, porém, poderá ser útil para o Copom, cuja reunião para definir a nova taxa básica de juros começa hoje e termina na quarta-feira. Alguns analistas acham que o BC pode cortar a Selic com mais força, algo entre 0,75 e 1%, sob a alegação de que é necessário incentivar o crescimento da economia. Segundo eles, o presidente do BC, Alexandre Tombini, deu a senha quando, na semana passada, em depoimento no Congresso, fez questão de enfatizar que a economia brasileira está crescendo há três trimestres abaixo de seu potencial. Faça-se o jogo. Juros da poupança Semana passada, discretamente, o ministério da Fazenda negou que esteja estudando rever a forma de remuneração da caderneta de poupança. Como se sabe, eis um assunto delicado, sobretudo porque envolve uma multidão de famílias das classes mais pobres do país. Não tenhamos ilusões : qualquer baixa consistente dos juros no patamar de um dígito requererá uma nova forma de remuneração da caderneta de poupança. A combinação de uma remuneração fixa com um "índice" é incompatível com um cenário de juros mais baixos. Resta o imenso problema político a ser gerido pelo governo de plantão. Só para lembrar : num dado momento do governo Lula esse assunto aflorou, mas foi logo descartado, tais as reações que provocou. A memória de Fernando Collor, Zélia Cardoso de Mello e seu plano econômico ainda é muito presente. Antes de mexer na poupança, Dilma e Mantega terão de fazer uma demorada catequese. E em ano eleitoral, nem os mais fiéis aliados se sentirão com vontade de meter a mão nessa arapuca. A "guerra cambial" A presidente Dilma adotou a terminologia do ministro Mantega e passou a apregoar contra a "guerra cambial". Há muitas coisas desconhecidas no mundo atual a despeito do avanço científico que vivenciamos. Definir uma "guerra cambial" é complicado, mas aparentemente devemos acreditar na presidente e seu ministro com muita boa vontade. Todavia, talvez seja o caso de acreditarmos mais na guerra comercial, marcada pelas barreiras alfandegárias e não-alfandegárias que rodeiam a Terra. Nossos hermanos do sul, por exemplo, estão fazendo acrobacias de todo tipo para evitar déficits comerciais crescentes. Os EUA estão tentando de tudo para barrar os produtos chineses que campeiam pelo país e os europeus tentam se resguardar dentro do próprio Velho Continente contra os produtos mais baratos do Leste Europeu. No que diz respeito às moedas a coisa parece comportada. As moedas flutuam de lá para cá sem grandes efeitos propriamente "cambiais". Os chineses, por exemplo, estão onde sempre estiveram : com a moeda desvalorizada para bancar as suas exportações que inundam o mundo. O Brasil, por sua vez, tem de desatar o histórico e problemático mundo dos juros altos. Não é à toa que o real é o campeão de valorização. Eleições e crise internacional Os olhos inundados de lágrimas de Vladimir Putin, vencedor da eleição deste fim de semana na Rússia, inauguram o período de eleições em países importantes. Até o meio do ano teremos eleições na França, país mais importante na estratégia alemã de colocar ordem na eurolândia. A Grécia se encontra com as urnas em meio a sua tragédia, em abril. A Itália continua com um cenário instável para o governo "tecnocrático" do professor Mario Monti. Por fim, temos a corrida eleitoral norte-americana, marcada pelo desacreditado Obama e pela oposição estridente dos "napoleões perdidos" republicanos. Neste ano haverá enorme rebuliço político no hemisfério norte. A sustentação para os planos reformistas e salvacionistas dos países centrais dependerá destes resultados. Olhada pela política, a economia será volátil. Radar NA REAL 2/3/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3221 baixa baixa - REAL 1,7353 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 67.781,60 estável/alta estável - S&P 500 1.369,63 estável/alta alta - NASDAQ 2.976,17 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Mendes, um militante ? Chega parecer coisa de militante partidário a "cruzada" do ministro do STF, Gilmar Mendes, contra a chamada Lei da Ficha Limpa. Na sessão do STF que confirmou a validade da norma, usou argumentos um tanto canhestros, bem rebatidos por colegas como a ministra Carmem Lúcia, e deu a nítida impressão, pelo estilo e tom de voz, de querer constranger (e influenciar) a nova ministra Rosa Weber. Neste domingo, voltou ao ataque no "Estadão" preconizando a alteração da lei pelo Congresso, alegando que ela é uma roleta russa. Mas não fica claro, na entrevista, porque ela seria essa ameaça. ____________
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 187

Novidades da política monetária Ao que parece o BC vai tentar alternar ainda mais a política monetária vigente. Além de reduzir a taxa de juros básica por meio de um remodelado sistema de metas de inflação, o BC levará em conta alguns aspectos específicos sobre o desempenho da economia internacional. Para muitos dos policy makers incrustados na autoridade monetária o cenário de atividade econômica externa será muito pior que aquela que o tal do "mercado" prevê. Será esta a motivação mais importante para levar a taxa de juros para algo como 8% ao final do ano. O cenário fiscal do governo não se mostra mais restritivo, mas mesmo assim o BC acredita que tem os elementos econômicos para justificar uma política monetária ainda mais expansionista. O problema concreto é que a inflação continua alta e o real valorizado coloca um ponto de interrogação sobre a sustentação desta estratégia do governo. A pior notícia do ano... ...para o Brasil a economia veio da China : as importações chinesas caíram 15,3% em janeiro. Ainda não dá para saber se é uma tendência, por causa do crescimento menor, ainda que bem elevado da economia local. Mas se for... apertemos o cinto. Este parece ser a principal justificativa para o BC estar tão pessimista em relação ao cenário internacional. Grécia : o pacote vai, mas o país fica O pacote de ajuda à Grécia deve sair, mas as possibilidades do país se sustentar são cada vez menores. O corte da dívida parece ser insuficiente para o quadro recessivo e permanente a que o povo grego está sujeito. Além do mais os US$ 170 bi da dívida refinanciada tem uma taxa de juros elevada (3% ao ano) para as perspectivas do PIB do país. Até agora o que dá para dizer é que o plano franco-germânico conseguiu levar ao país a repetir o cenário da grande depressão dos EUA dos anos 30, com consequências políticas imprevisíveis. As demonstrações em Atenas simbolizam não apenas a perda do status quo da classe média do país. São protestos desesperados de um país europeu perante seus próprios parceiros. Estamos bem mais perto do colapso do país e, quiçá, do euro. A Alemanha parece que não se lembra de sua própria história pré-ascensão de Adolf Hitler. Obama e Robin Hood Em ano eleitoral, o presidente Obama tenta equilibrar as contas públicas por meio do aumento da taxação de dividendos de 15% para 39,6% para casais que ganham mais de US$ 250 mil e indivíduos que ganham mais de US$ 200 mil por ano. Adicionalmente, Obama proporá ao Congresso aumento da tributação de ganhos de capital e impostos para manter o novo sistema universal de saúde. Tudo isso, eleva a tributação em mais de US$ 1,4 trilhão de impostos nos próximos dez anos. Estas propostas terão resistência num Congresso controlado pelos republicanos. Não tenhamos ilusões, contudo. Se os republicanos ganharem as eleições novos impostos virão, para sustentar o monumental déficit realizado pelo governo para sustentar a frágil atividade econômica do país pós-2008. Para os republicanos, a taxação deve ser mais linear. Obama tenta tirar dos ricos e dar aos pobres, tal qual o simpático morador da Floresta de Sherwood. O arco e flecha de Obama é um articulado discurso voltado para os desempregados que ele quer ver colocando seu nome na urna. PMs : barrigada nacional Há um alívio e até alguma satisfação com o fim oficial da "greve" da PM da Bahia e o fracasso da paralisação dos PMs do RJ. De fato, não havia outra saída para as autoridades senão enquadrar os rebelados, com a intransigência de nem ao menos discutir, agora ou no futuro, qualquer tipo de anistia, como se fez no passado recente com aprovação do Congresso e sanção da presidente Dilma. Há na democracia um princípio chamado "Estado de Direito" que é intocável. Porém, o problema que gerou a confusão na Bahia e no Rio e ameaçou avançar por outros Estados não foi eliminado com o enquadramento dos policiais baianos e fluminenses. A polícia continua ganhando muito mal de um modo geral, é mal treinada, tem péssimas condições de trabalho, com equipamentos insuficientes e muitas vezes obsoletos, não há uma política nacional de segurança pública eficiente nem políticas regionais de qualidade. Barrar a votação da PEC 300 - que equipara os salários dos policiais e bombeiros de todo o país aos dos mais bem pagos, de Brasília - não é uma rima nem uma solução. Empurrar a questão com a barriga, escudando-se na necessidade de manter o poder da autoridade e na desculpa de que as contas públicas não suportam mais gastos nesta área, é continuar alimentando o ovo de uma serpente venenosa e de grande poder de desestabilização social e política. Wagner e os números O motim da polícia baiana ajudou a esconder o descalabro da segurança pública no Estado nos últimos anos. Os números são eloquentes demais : o total de homicídios em Salvador saltou de 315 em 2000 para 1.484 em 2011. Em 2000, a taxa de mortes por cem mil habitantes na região metropolitana da capital era de 12,9 relativamente a 26 do Brasil; em 2011, com 55,5 - pulou honrosamente para o sétimo lugar. No Rio e, principalmente, em São Paulo, essas taxas têm caído consistentemente. Mas não há nenhum governador mais festeiro no Brasil do que Jaques Wagner. A Lula, as batatas. Ou melhor, a política Lula escolheu pessoalmente e solitariamente o candidato à prefeito de SP pelo PT, Fernando Haddad. Além disso, determinou que o partido faça aliança na capital paulista com Kassab. Estabeleceu também a estratégia eleitoral petista para as grandes cidades : ceder a cabeça de chapa aos aliados quando eles tiverem alguma chance maior que a do PT. A ordem é priorizar o jogo de 2014. Lula ainda interferiu na disputa dos senadores petistas determinando que aceitassem a permanência de Marta Suplicy na vice-presidência do Senado, contrariando acordo firmado no ano passado segundo o qual ela cederia o posto a José Pimentel. Na Câmara, o ex-presidente ordenou que o deputado José Guimarães, cujo assessor foi flagrado com dólares na cueca pela polícia há poucos anos, deixasse para o paulista Gilmar Tato a liderança do PT na Câmara. A presidente Dilma consulta-se permanentemente com o presidente em questões partidárias. Nenhuma troca de ministros e funcionários graduados do governo deixou de ser comunicada com antecedência a ele. Quando uma coisa não agradou ao ex, como a ideia de reduzir o número de ministérios, foi imediatamente arquivada, sem discussões. Dilma e o PT terceirizaram de vez as operações políticas para quem de fato entende do negócio. Susto seletivo A ex-prefeita e senadora Marta Suplicy revelou-se assustada com a possibilidade de acordar de "mãos dadas" com Kassab. Para marcar posição contra esta aliança patrocinada por Lula não foi nem à festa em Brasília pelos 32 anos de vida do PT. Mais parece uma indignação coletiva, levada pela mágoa de ter sido tirada a fórceps da disputa pela prefeitura paulistana. Afinal, nunca incomodou a Marta amanhecer de "mãos dadas" com Maluf, Collor, Sarney e outras antigas bestas-feras do petismo. Unidade ameaçada Não apenas para Marta parece estar sendo indigesto demais deglutir um acordo com Kassab. Há petistas muito bem postados e politicamente maduros que temem um racha no partido em SP, com reflexos em outros lugares nos quais também companheiros estão sendo forçados a renunciar para beneficiar aliados. Também em BH a situação está fervendo, como não é tranquila no PR. Um levantamento preliminar indica que das 26 capitais em 13 o PT cederá vagas de cabeça de chapa a parceiros. É muito para os estômagos mais delicados. O homem da buzina As ações de Kassab, vendendo-se ao PT e botando preço para um acordo com o PSDB de Alckmin, ao mesmo tempo em que dá sinais de que poderá aparecer na corrida eleitoral paulistana com um candidato próprio, tem lá o seu método. Kassab precisa manter a chama de que tem força política. Até agora, ele não tem dotes a oferecer aos candidatos : sua popularidade é pífia e o PSD não tem tempo substancial no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão, o grande motivador de dez entre dez alianças eleitorais. Desconfia-se também que Kassab está tão "oferecido" ao PT, a Lula e ao governo na esperança de que eles ajudem a influenciar a justiça no pleito do PSD de conquistar mais dinheiro do fundo partidário e mais tempo no rádio e na televisão. Diz um ditado da política brasileira que muita esperteza costuma comer o espertinho. Cinzas oposicionistas Pelo mover do cabriolé, a oposição não dá as caras para valer antes do Carnaval, quiçá apenas após a aleluia. Quando aparece, é mais do mesmo, fica apenas nas minudências. As ironias da semana passada sobre a incoerência do PT no caso das privatizações é pura infantilidade. Privatização, uma discussão semântica Governo e aliados, de um lado, e oposição, de outro, trocam farpas e caneladas para saber que o leilão dos aeroportos foi apenas uma concessão (tese governista) ou uma privatização (tese oposicionista). Discussão periférica. As questões centrais são : 1. Saber se há de fato uma mudança nos, como se diz, paradigmas petistas e dilmistas, e o governo vai prosseguir nessa toada ou a privatização foi levada apenas pelo "estado de necessidade" criado pela Copa e pela Olimpíada. As dúvidas são pertinentes : ainda no fim da semana passada o governo reforçou a musculatura da Telebrás, uma estatal que estava para ser extinta e foi revivida há cerca de dois anos, sem ainda ter dito para que de fato serve, embora tenha aumentado bastante seu custo para os cofres públicos. 2. Saber se de fato a concessão dos Aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília foi um bom negócio, se vai funcionar ou se o governo vai correr para tapar buracos. O próprio Palácio do Planalto parece ter dúvidas, tanto que vozes oficiosas já aparecem para dizer que a presidente Dilma ficou preocupada com a situação dos consórcios e que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou dirigentes de fundos de pensão das estatais para que eles expliquem o surpreendente valor do lance no principal aeroporto licitado. Isto é o que interessa, o resto é paisagem. Bobagem maior Fazer cartilhas políticas para explicar medidas políticas soa como uma volta ao passado da esquerda soviética durante a ditadura comunista pós-1917. O PT quer fazer uma cartilha para explicar que as concessões de aeroportos não são a "privataria" tucana do passado. Mas, será que a cartilha vai explicar também as razões da incompetência estatal na gestão de empresas e concessões públicas ? Ou será que as concessões feitas às empresas privadas não são uma tentativa de sair do lamaçal estatal ? Radar NA REAL 10/2/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3210 baixa baixa - REAL 1,7200 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 63.997,86 estável/alta estável - S&P 500 1.342,64 alta alta - NASDAQ 2.903,88 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Dialética defliniana Do ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto em entrevista no jornal "Valor Econômico" : "Tenho uma grande confiança na dialética entre a urna e o mercado. Cada vez que a urna exagera nos benefícios, o mercado vem e pune. E cada vez que o mercado exagera, vem a urna e pune." Acerto das contas O ministro Mantega expõe amanhã, na primeira reunião do ano, o Conselho Político do governo, o estado das contas da União e dá indicações dos cortes que deverão ser anunciados no Orçamento deste ano - cortes preliminares, é verdade. No mundo oficial trabalha-se com três números : R$ 60 bi, pela calculadora dos técnicos da Fazenda; algo entre R$ 55 e R$ 50 bi pelos ábacos dos ministros econômicos, e perto de R$ 45 bi na ponta do lápis do universo do Palácio do Planalto. Em revisão Depois da comprovação dos atrasos nas obras de transposição do Rio S. Francisco e da ferrovia Transnordestina, as palavras "eficiência" e "competência" estão sendo postas em xeque em muitos gabinetes coroados de Brasília. Longevidade ministerial Não foram poucas as especulações intramuros do poder central, na semana passada, de que Guido Mantega poderia sair em breve do ministério da Fazenda em função de seus problemas pessoais relacionados com a saúde de sua esposa. ____________
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 186

O protecionismo no Brasil e o câmbio A valorização excessiva da moeda brasileira espalha diversos sinais de desindustrialização. A taxa de câmbio é um tema macroeconômico dificílimo, pois prever e "administrar" o câmbio é uma tarefa inglória, com resultados imprevisíveis. Também difícil é fazer ajustes em acordos comerciais em função dos generalizados interesses que se formam ao redor destes. É o caso dos acordos comerciais do setor automotivo com Argentina e México. Ambos são fontes de elevados déficits (uma soma além dos US$ 2,5 bi) e de transferência sistemática de produção e empregos. O Brasil tenta ajustar ambos os acordos, com graus de dificuldades bastante diversas nos dois casos, mas no fundo o problema essencial é a taxa de câmbio. O Brasil é atualmente um país excessivamente caro, com custos sistêmicos (trabalho, juros, impostos, etc.) elevados e com infraestrutura custosa e ineficiente. Portanto, ao ir à mesa de negociação com seus "parceiros", o Brasil leva consigo seus próprios e enormes problemas diante de poucas virtudes do lado oposto. Uma negociação de perdedores perante China, Índia, etc. Em tempo : a produção de veículos em janeiro, segundo a Anfavea caiu 19%. By by made in Brazil Depois de conhecidos os dados oficiais do desempenho da indústria no ano passado - crescimento de meros 0,3%, quando o comércio, mesmo com a parada dos últimos meses deve ter chegado a 7% - e da balança comercial de janeiro, com um déficit de US$ 1,3 bi, não dá para esconder que a indústria brasileira passa por um processo bem avançado de extermínio, ressalvados alguns setores. E a velocidade desse processo vem crescendo. E cada vez que há um sinal desses, o governo saca, algumas vezes até na prática (mas a maioria apenas no discurso e nas promessas), um arsenal de medidas pontuais para atenuar o problema. Por incapacidade - ou falta de condições políticas de atacar os verdadeiros problemas que não só estão matando nossa indústria, mas que mantém a economia nacional num nível de crescimento mediano apenas, porque qualquer avanço mais acentuado do PIB, como os 7,5% de 2010, ameaça com inflação e outros desarranjos. Vale lembrar que enquanto não tivermos condições de melhorar a infraestrutura viária, a portuária e a aeroportuária, não tivermos um sistema tributário decente, não estabelecermos um Estado mais ativo e menor oneroso, vamos de remendo em remendo, só isso. E basta ver os propósitos do governo para este ano, embora cheio de boas intenções, listados no documento de Dilma na abertura do Congresso, para sentir que nossas deficiências mais profundas vão demorar algum tempo a serem enfrentadas e sanadas para valer. Protecionismo na América Não se deve levar ao pé da letra nenhuma afirmação de candidatos durante a corrida eleitoral. Falam demais e, sabidamente, mentem. Todavia, no caso de Mitt Romney e Obama é certo que o discurso protecionista em relação à China terá sobrevida além da eleição presidencial. O questionamento sobre as "práticas comerciais injustas" (Romney) e dos "desajustes comerciais da China" (Obama) caem como uma luva perante um eleitorado sedento pela retomada da atividade econômica local e pela proteção à indústria e empregos dos norte-americanos. Note-se que esta visão tem especial apelo junto ao eleitorado mais pobre (latinos e negros), que é aquele mais disposto a votar no momento de eleger o presidente. O resultado disso tudo pode ser um comportamento mais contido dos investimentos americanos ao redor do mundo. Neste aspecto, o mundo perde. E não é pouco. A Grécia no centro das atenções Nesta semana, o governo grego deve finalizar o pacote de renegociação de sua dívida de US$ 170 bi. Uma tarefa extremamente complexa, seja no que tange ao convencimento do mercado de um "corte" no total a ser recebido futuramente, seja no âmbito interno, especialmente junto às centrais sindicais em função da redução de pensões, salários e empregos. Ao que parece, haverá um acordo, mas a dúvida vai permanecer no front : como um país poderá sobreviver tanto tempo sob recessão contínua e desesperança social ? Esta questão sensível não haverá de influenciar os investidores que são os mais hesitantes em aceitar o novo prazo de renegociação (30 anos) e a taxa de juros (3,6% ao ano), considerada baixa ? Note-se que o desconto da dívida é de mais de 70% e, mesmo assim, as condições de crédito do país não serão restabelecidas. O momento é decisivo e deve marcar o cenário nesta semana e, quiçá, na próxima. O momento dos mercados é positivo, mas esta renegociação é uma espécie de benchmark para os outros países endividados. Haverá eleições ? As eleições gerais estão marcadas para abril próximo na Grécia. Todavia, o Partido Socialista, liderado pelo ex-primeiro-ministro George Papandreou já se articula para que o governo "técnico" do primeiro-ministro Lucas Papademos permaneça por mais tempo (quanto seria ?) de forma a dar "maior credibilidade" às atuais renegociações. A questão que decorre desta proposta do Partido Socialista é "como pode um governo 'técnico' se sustentar politicamente perante uma população que está sofrendo as agruras deste monumental ajuste econômico" ? Há, desta forma, um vazio político que é incompatível com as necessidades do atual processo social e financeiro do país. Eis um sinal evidente de que a probabilidade de uma "ruptura" em relação à união monetária é elevadíssima. O papel da Alemanha, Inglaterra e França O foco da Alemanha e da França neste momento delicado da União Europeia é a manutenção da força do Euro. Angela Merkel, em especial, tem se esmerado em implementar rígidos padrões de disciplina fiscal junto aos países endividados da Zona do Euro. Não haveria nada de errado neste processo, não fosse o fato dele estar sendo acompanhado com uma visão hegemônica pela qual a Europa está sendo dividida entre "poderosos" e "periféricos". Neste contexto, a Alemanha e a França estão debilitando ainda mais os países com problemas de crédito e, em contrapartida, aumentando as dúvidas em relação à sobrevivência do Euro. Um dúbio jogo faz o primeiro-ministro inglês David Cameron, que deseja um Euro mais fraco perante a moeda nacional da Inglaterra e, ao mesmo tempo, se encarrega de se somar às duras requisições fiscais de Berlim e Paris. Um jogo perigoso cujo custo pode ser desconhecido, embora se saiba de antemão que é desastroso. Aeroportos privados Os contratos de prestação de serviços aeroportuários em processo de leilão são per se um bom e tardio sinal para a economia brasileira, tão necessitada de modernização na sua infraestrutura. Todavia, este não parece ser um sinal de mudança geral no pensamento governamental em relação ao tema. A participação privada nos setores básicos da economia brasileira continua sendo percebida pelo governo como algo "secundário". As maiores apostas do governo Dilma estão relacionadas com o próprio desempenho estatal. Não à toa, a imagem de "gerente" da presidente está associada aos gigantescos planos do Estado em várias áreas consideradas estratégicas. O que se vê de concreto, portanto, é muita falação e pouca ação, tudo em linha com a lentidão, ineficiência e outros procedimentos nefastos que convivem com as áreas de infraestrutura. Regular a participação do setor privado nestas áreas é papel essencial do governo. Todavia, considerá-lo secundário perante o Estado é miopia de muitos graus. É o que ocorre. A licitação dos aeroportos não é sinal de mudança neste tema. Comemorar ou estranhar ? O governo festeja o valor alcançado pela concessão dos três principais aeroportos brasileiros - Guarulhos, Viracopos e Brasília - no leilão de ontem - R$ 24,5 bi, quase cinco vezes mais que o lance mínimo de R$ 5,5 bi estabelecido no edital de licitação. É o caso de perguntar : não houve um erro de cálculo ? É de se imaginar que nenhum dos consórcios entrou no jogo para perder dinheiro, e, portanto, não foi perdulário no seu lance. Tudo não estaria sendo subestimado pela necessidade que o governo tinha de correr com a privatização por causa dos prazos exíguos para preparar os aeroportos para a Copa ? Além do mais, o consórcio que puxou os fabulosos ágios oferecidos tem a proeminência da Previ, do Funcef e do Petros, fundo de pensão dos empregados de empresas estatais - respectivamente do BB, da CEF e da Petrobras - sobre a vontade dos quais o governo põe e dispõe, manda e desmanda. Na outra ponta, é notável a ausência, entre os vencedores das principais empreiteiras brasileiras, Odebrecht, Camargo Correia e Andrade Gutierrez, que parecem, por não terem ousado mais nos lances, não terem percebido a possibilidade de retorno que os vencedores levaram. Ficaram ausentes também as operadoras dos maiores aeroportos do mundo. A presença de um operador experiente era exigência do edital. Em compensação, a estatal Infraero ficou com 49% nas sociedades e o BNDES, com até 80%, vai abrir suas burras para financiar os investimentos nos três aeroportos. Nem tanto assim A bem sucedida privatização de ontem, pode ser considerada (1) uma privatização envergonhada porque impôs-se a Infraero no negócio com a participação de 49% e (2) com grande empuxo estatal, pois o BNDES, vai financiar até 80% dos investimentos necessários com aquele jurinho de pai para filho. Abraços de afogados O processo de reforma ministerial e quejandos que está praticamente se encerrando com a troca do PP (Mário Negromonte) pelo PP (Aguinaldo Ribeiro) e em áreas específicas do segundo escalão, demonstra definitivamente que a presidente Dilma e seus aliados, inclusive o maior deles, o PT, estão indissoluvelmente ligados, unidos como irmão xifópagos para o que der e o que vier : 1. Todos os parceiros saíram insatisfeitos com reforma mixuruca : alguns fazem ameaças mais abertamente, outros resmungam pelos cantos, mas nenhum tem condições de romper de fato com a presidente ou mesmo aplicar-lhe um "corretivo". Não pelo menos enquanto ela estiver surfando na popularidade proporcionada pelos ainda bons ventos econômicos. 2. A presidente, por mais que faça pose de brava e ponha seus áulicos a decantar sua dureza, suas cobranças, sua intolerância com a inapetência gerencial, não tem condições de desprezar o "conselho" e as indicações dos parceiros. Se tivesse, o ministro das Cidades seria outro, não o paraibano quase desconhecido Ribeiro, nem o PDT voltaria ao ministério do Trabalho. Ele é a força Não há nada que possa acontecer no PT que não passe pelo crivo de Lula. Por isso, já se diz que o partido tem duas sedes : a oficial, na Vila Mariana, onde se hospeda normalmente o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, e a de fato, no Ipiranga, onde dá expediente o Instituto Lula, com audiência infinitamente superior à da primeira. Ele é a consciência ? Nos últimos meses, em diversas ocasiões - as duas últimas numa entrevista para "The Economist" e em artigo no "Globo" e no "Estadão" de domingo, o ex-presidente FHC tem se esmerado em fazer criticas, provocar, apontar caminhos e dar paternais puxões de orelhas em seus companheiros de oposição. (Aliás, classificar de oposição o que está aí no momento é mera força de expressão ou licença poética.). Os conselhos são em vão : os oposicionistas só saem do sono em que mergulharam para cordialmente se desentenderem. ...da mãe Joana ? Faltam explicações convincentes para o episódio de nomeação e demissão do presidente da Casa da Moeda. 1. Foi um homem de Mantega para o qual o PTB ofereceu sua barriga de aluguel ? 2. Foi fruto de um acordo partidário que Mantega nomeou, como ele mesmo disse, sem conhecer a pessoa ? 3. Ele foi demitido por causa de suspeitas de "malfeitos" (apud Dilma). 4. Ele foi demitido porque o excelente trabalho (classificação de Mantega) executado na Casa da Moeda estava encerrado ? O episódio, quais que sejam as explicações reais, diz tudo do modelo nacional de distribuição de cargos públicos. A Casa de Moeda, pelo que se viu, foi tratada quase como uma casa de tolerância. Radar NA REAL 3/2/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3063 baixa baixa - REAL 1,7276 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 65.217,40 estável/alta estável - S&P 500 1.344,90 alta alta - NASDAQ 2.905,66 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Ecos da incompetência É inadmissível, inaceitável, ilegítimo, ilegal e tudo o mais o terror ao qual a PM está submetendo o povo da Bahia. Terror que já ameaça se espraiar para outros Estados. É inadmissível, inaceitável e ilegítimo também os salários que são pagos aos policiais no Brasil, as condições de trabalho a que eles estão submetidos, baixa qualificação das tropas e o número insuficiente de policiais. Este é o gravíssimo impasse que o Estado brasileiro não resolve, por inapetência e incompetência, embora o país orgulhe-se de ser a sexta economia do mundo. Sexta economia para quê ? cara pálidas. ____________
terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 185

Estados Unidos : a política em crise A eleição nos EUA está revestida de substancial simbolismo, não apenas para o Império, mas para todo o mundo civilizado e democrático. Do lado republicano, os dois candidatos têm situação notoriamente inquietante. Newt Gingrich faz um discurso que beira o reacionarismo. Isso para não falar de sua vida privada, recheada de histórias de adultérios e sinais de mau-caratismo. Mitt Romney, por seu turno, faz apologia do livre mercado, o que parece lhe favorecer de forma espetacular : o candidato milionário com seus investimentos no mercado financeiro americano e em paraísos fiscais paga 1/3 dos impostos que o trabalhador médio paga. Do lado democrata, a sustentação de Obama se dará entre os latinos, negros e os mais ricos que crêem em reformas sociais. Todos estas classes são aquelas que o próprio presidente não assistiu em sua primeira administração em função da ausência de coragem para enfrentar Wall Street. O Império tropeça não apenas na economia, mas especialmente na política. Sarkozy e a sua salvação O lançamento do plano de estabilização da economia francesa neste fim de semana foi revestido por uma apatia particular. Os franceses viram no plano um político emparedado pelas eleições de poucas semanas à frente. Além disso, o eleitorado está acomodado num padrão de vida no qual o empregado de uma casa não está dando à mínima para o desempregado da casa ao lado. Políticas verdadeiramente republicanas são difíceis de serem implementadas num contexto em que os políticos têm de convencer os súditos sobre perdas e quase nenhum ganho no curto prazo. A aliança com os alemães põe em evidência a crescente fragilidade francesa perante seus pares europeus. Os eleitores não se encantam com nada que veem à direita e esquerda. Querem mesmo é o que se vê no retrovisor. Isso eles não haverão de ter nos próximos longos anos. Europa : crise amainada e longa Na Europa, a despeito dos problemas de rolagem da dívida grega, há indicações concretas de que o risco de crédito do sistema financeiro pode ser paulatinamente afastado. O tratamento fiscalista, recomendado pela chanceler alemã Angela Merkel, há de estabilizar as piores expectativas, mesmo que imponha ao Velho Continente uma recuperação da demanda muito lenta e gradual. Ou seja, a estabilização está a ocorrer num patamar elevadíssimo de desemprego e de desesperança social para as classes mais pobres. Os traços de "estadista" da líder alemã estão associados a este deplorável contexto. Uma situação bem diversa de Margaret Thatcher nos anos 1980, quando a "Dama de Ferro" fez um ajuste modernizante em termos de produtividade num contexto de desemprego conjuntural e não estrutural. As feições de enfermeira da Primeira Guerra Mundial de Angela Merkel combinam com o cenário letárgico e sofrido da Europa. Brasil, coalizão estável ? É "chover no molhado" dizer que vivemos uma situação de estabilidade. De fato, nada parece incomodar a sociedade brasileira de forma dramática neste momento. Todavia, o que importa mesmo e é pouco comentado é o fato de que as políticas públicas emanadas do governo estão calcadas numa coalizão de partidos que instalam célere e profundamente seus interesses particulares dentro do Estado. A corrupção e o desempenho frágil dos resultados em termos de modernização e reformas são os sinais exteriores deste cenário desalentador. Se houve maior mobilidade da renda nos últimos anos, aspecto inegável, de outro lado não existem transformações estruturais e permanentes, tais como na educação, saúde, infraestrutura, tecnologia, etc. A excepcional popularidade da presidente Dilma, que coleta índices de aprovação absoluta ao redor de 50% da população, deve ser analisada sob a perspectiva de que os interesses estão acomodados e estabilizados, mesmo que não exista progresso evidente. Os conflitos mediados pela política engendram o progresso econômico e social. No Brasil de hoje há estagnação nas reformas e, sem pressões sociais organizadas, o cenário de negociatas políticas se espalha. Abrem-se a cortinas do ano político-eleitoral O ano político-partidário brasileiro começa para valer a partir desta semana com a reabertura, depois de amanhã, dos trabalhos do Congresso. Registre-se que, do ponto de vista legislativo, será um ano mais curto e menos "produtivo" que 2011, por tratar-se de um ano eleitoral. Os anos eleitorais já são naturalmente capengas no Legislativo e, até mesmo, em parte do Executivo, mas este 2012 deverá ser um pouco mais pois está marcado como prévia decisiva para 2014, tanto pelo governismo quanto pelo oposicionismo. Cada passo terá os dois olhos nas urnas antes de qualquer coisa. Dilma e os aliados Para a presidente o ano começa com os aliados insatisfeitos, como sempre com as ameaças de cortes de verbas e com a distribuição de cargos. A mini reforma ministerial em curso e as trocas anunciadas e especuladas no segundo escalão desagradaram gregos, troianos e baianos de um modo geral. E podem desagradar mais ainda os parceiros presidenciais. Especialmente a dupla do barulho PT/PMDB, dois adversários nada cordiais. Mas Dilma, montada em alta avaliação popular, nem tem nada a temer nesses primeiros momentos. O PT arrulha, chora pelos cantos, mas não morde. Aprendeu a ser obediente, até porque sabe que aconteça o que acontecer, ele ainda será o primeiro. Se não por nada, porque tem Lula. Já o PMDB estrebucha, faz ameaças, insinua chantagens, mas é um balofo sem muitas prendas. Não tem para onde correr a não ser para o poder Federal. Dilma, não tem nenhum projeto inadiável no Congresso este ano para ser submetida ao "toma lá dá cá" que marcam essas votações. Para a administração do dia a dia, o Congresso é desnecessário para o Planalto. Com quem ele está ? De um peemedebista independente, nem governista nem oposicionista, pouco chegado também ao fisiologismo de sua legenda : "A quem realmente serve Temer : ao governo do qual é vice ou ao partido do qual é presidente licenciado ? Não dá para tentar ter dois patrões o tempo inteiro, uma hora o telhado desmonta". Férias prolongadas A política volta à ativa. Mas a oposição tudo indica vai prolongar suas férias. De preferência no Exterior. No Brasil, só para brigar entre si. Dilma, gerência e eficiência Como saída do nada, começou a pipocar nos meios de comunicação, a partir da primeira reunião ministerial de Dilma, informações sobre as cobranças que a presidente está fazendo a seus auxiliares, as exigências de mais eficiência, reforçando a imagem de "gerentona intransigente" com que sempre foi apresentada aos brasileiros, intolerante com erros, desvios e malfeitos. De fato, há que pôr os auxiliares na linha, uma vez que na prática a imagem de que Dilma é de mandar e não aceitar falhas está ficando comprometida pelo mundo real. Algumas dessas falhas registradas nas últimas semanas : 1. Mais uma vez, no ano passado os investimentos em saneamento básico previstos não foram integralmente cumpridos. 2. O projeto mais vistoso do ex-presidente Lula, a transposição do Rio São Francisco, está tão atrasado a ponto de talvez não ser concluído nem até o fim deste mandado de Dilma, sem contar que vários trechos dados como concluídos precisam ser refeitos. 3. Para cumprir a promessa de inundar o país de creches até 2014 o governo precisará a partir de agora inaugurar cinco creches por dia nas cidades brasileiras. 4. Uma das "meninas dos olhos de Lula e Dilma", a parte de construção de moradias populares no programa Minha Casa, Minha Vida, sete em cada dez contratos não saem do papel como constatou reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo". Aposte se quiser Os dados ainda não estão contabilizados, mas o governo Federal investiu no ano passado cerca de R$ 43 bi. Este ano está prevendo gastar em investimentos quase o dobro - R$ 80 bi. E ainda fazer um superávit fiscal robusto, sem subterfúgios e sem prejudicar a política social. Copa e Olimpíada : sinais exteriores de deterioração É preciso que prédios tombem no centro da Cidade Maravilhosa para que apareçam, com certa discrição, análises que questionem os caminhos que estão sendo tomados relativamente à Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Falta liderança competente e honesta para tocar tantas obras e a supervisão política de onde estão indo os recursos públicos é, para dizer o mínimo, frouxa. Os problemas de infraestrutura são gigantescos nas principais sedes da Copa do Mundo e as soluções não parecem atacar problemas básicos de mobilidade urbana, rede hoteleira, disponibilidade de mão de obra educada, assistência médica e assim vai. Basta verificarmos como está a situação de aeroportos e o deslocamento destes para os centros das principais cidades. No Estado, em qualquer nível, são poucas as informações disponíveis e os interesses comerciais ao redor dos eventos contribuem para que não exista debate sobre o tema. Rio+20 ilustra os problemas A Conferência da ONU sobre sustentabilidade que ocorrerá no Rio de Janeiro em meados do ano trará um impacto significativo para a cidade, mas bastante inferior à Olimpíada e à Copa do Mundo. Pois bem : as autoridades estão com enormes problemas apenas para acomodar os participantes deste evento, inclusos aí os mais de 150 chefes de Estados que virão. Será que podemos ter tanta convicção que em poucos anos tudo irá mudar ? Câmbio, turismo, Copa e Olimpíada Bem fez o presidente da Embratur, Flávio Dino, em levantar a questão do câmbio em entrevista à Folha de S.Paulo publicada ontem. O turismo é setor estratégico para o Brasil, mas falta organicidade às políticas públicas voltadas para o setor. Ademais, o fluxo turístico no Brasil está na direção do exterior : no ano passado os gastos de estrangeiros no país foram da ordem de US$ 7 bi e os brasileiros gastaram cerca de US$ 22 bi lá fora. O déficit de turismo de US$ 15 bi equivale às exportações do setor de soja. Dados do BC e do ministério do Desenvolvimento. Eis um evidente sinal de que temos um problema cambial a resolver. Se a situação permanecer como está é bem provável que os gigantescos investimentos em eventos esportivos não sejam remunerados. Alguém vai pagar a conta, não é mesmo ? O plano de voo da economia Os leitores desta coluna não devem ter ficado surpreendidos com as revelações da última ata do Copom do BC que confirmam tudo que se negou oficialmente durante o ano passado inteiro : a meta principal do governo, com o amplo beneplácito do BC, é o crescimento do PIB (para Dilma, repita-se, ao ritmo de 5% no fim do ano) mesmo que ao custo de mais inflação. Dilma tem o ano para firmar sua própria popularidade, ainda dependente dos fluidos da boa economia do passado e tem pela frente o ano eleitoral que vai determinar os passos decisivos das sucessões estaduais e Federal de 2014. Esses planos não combinam com qualquer fato econômico negativo, especialmente na seara do emprego. O futuro ? Ora, o futuro é outra coisa. Como ensina o conselheiro Acácio, hilariante personagem de Eça de Queiroz, o problema é que as consequências vêm sempre depois. E nos cálculos políticos, o depois nunca é medido. Depois, arranja-se. O BC de Dilma Apesar de certos analistas estarem boquiabertos com o fato de que Alexandre Tombini está alinhado com a política econômica da presidente Dilma, na realidade não há surpresas. Tombini faz o que promete o governo. A independência da política monetária nunca foi verdadeira no Brasil. No passado recente, na era FHC, o BC serviu juros elevados para bancar a política de câmbio fixo do governo e ajustar o balanço de pagamentos nas temporadas de crise. Agora, serve às ambições "desenvolvimentistas" do governo. O problema disso tudo é que se nas safras boas o BC contribui para o sucesso, nos momentos ruins o BC não é anteparo para que se chegue ao pior cenário. O tema sobre a independência da autoridade monetária está em pauta no mundo inteiro. Veja-se o caso do BC dos EUA e da Europa, ambos sob fogo cerrado de investidores e "formadores de opinião". O problema adicional que o Brasil tem é que a supervisão política sob o BC é absolutamente irrelevante. Quando o chefão do BC é forte, per se isto parece ao "mercado" uma "garantia". Quando é fraco como Tombini, o tal do "mercado" fica com a pulga atrás da orelha. Juros de um dígito É legítimo o debate, dentro e fora do governo, sobre a necessidade de juros básicos mais baixos. O erário não deve pagar juros altos e injustificados para os investidores em títulos públicos. Todavia, há limites para que isto ocorra. O principal é a inflação. No caso do Brasil, a inflação está ainda elevada e se a demanda mais forte vier é provável que ela não caia muito abaixo do nível de 6%. Este patamar impõe uma deterioração no poder de compra da moeda inaceitável no médio prazo. Portanto, o momento de transição atual, possivelmente de uma demanda cadente para algo mais elevado, é muito sensível para a política monetária. Se o governo forçar a mão, a inflação pode não cair e, até mesmo, subir. Outro ponto sensível : a taxa de câmbio da moeda brasileira é incompatível com exportações mais elevadas e com a atração de investimentos externos. Se a taxa de câmbio for desvalorizada a inflação vai sofrer dupla pressão de demanda e custos. Neste momento saberemos os custos da intervenção do governo sobre a autoridade do BC. O lado "bom da inflação" Cálculos publicados segunda-feira pelo "Valor Econômico", da lavra da própria Receita Federal, indicam que o fato da inflação no ano passado ter sido de 6,5% cravados, um pouco mais de 0,5% acima da de 2010, propiciou um aumento de R$ 50 bi na arrecadação de impostos da União em 2011. O que também pode explicar uma parte da "boa vontade" de certas autoridades com alguns pontinhos mais de inflação. Para consumo dos mais crédulos Jacta-se o ministério da Fazenda de ter alcançado com folga de R$ 1,7 bi a sua parcela do superávit primário em 2011, isto sobre a meta corrigida, que havia sido aumentada em mais R$ 10 bi em meados do segundo semestre do ano passado. A economia para pagar juros, de parte da União, teria sido de cerca de R$ 12 bi, uma garantia de que o compromisso de guardar R$ 139,8 bi em 2012 irá ser cumprido. Sucesso total da política de austeridade fiscal do ministro Guido Mantega, avalia-se oficialmente. Mas será mesmo ? Vamos aos fatos : além de parte da sobra ter sido garantida por um aumento de arrecadação de mais de 10% em 2011 na comparação com 2010 e com uma diminuição nos investimentos de também cerca de 10%, foram deixados R$ 24 bi de obras concluídas no ano passado e serviços já prestados para serem quitados este ano - os famosos restos a pagar. Ou seja, se o governo pagasse seus compromissos em dia, a promessa de superávit teria sido descumprida inteiramente.Radar NA REAL 27/1/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3114 baixa baixa - REAL 1,7419 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.904,20 estável/alta estável - S&P 500 1.316,33 alta alta - NASDAQ 2.816,55 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Vai pra casa, Padilha ! Em Brasília, o ministro da Saúde é apresentado como um dos mais bem avaliados pelo dito exigentíssimo termômetro da "gerentona" Dilma. E não há mesmo semana em que Alexandre Padilha na apareça nos meios de comunicação anunciando algum programa e um providência de sua pasta ou de avental branco como um médico em plena ação visitando hospitais, unidades de saúde, postos de vacinação, a Cracolândia em São Paulo, locais onde, naturalmente por mera coincidência, encontrará a postos máquinas fotográficas, câmeras de televisão e microfones à espreita. No entanto, tal azáfama ainda não chegou ao grande público usuário dos serviços que Padilha comanda. O dever de casa do ministro parece não ter surtido efeito real. Recente pesquisa do DataFolha mostra que, apesar de ter encerrado o primeiro ano de governo com aprovação recorde de 59%, Dilma obteve um resultado negativo na pesquisa : aumentou em 11% o número de brasileiros que consideram a saúde como o principal problema do país. A comparação é entre o último ano da gestão Lula para o primeiro da governança Dilma. ____________
terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 184

Brasil : calma externa e letargia Num contexto em que a economia norte-americana dá evidentes sinais de fortalecimento e que os riscos sistêmicos, embora altos, estão menos agudos, a economia brasileira vai se saindo bem dos turbilhões dos últimos anos. Todavia, há que se observar o enorme desperdício de oportunidades para colocar o país diante de um cenário sustentável e progressista. Há uma conformidade, não somente do governo, mas de toda a sociedade, em permanecer ao largo de reformas estruturais. Da educação à infraestrutura, passando pela tributação e previdência, nada de novo se verifica na política brasileira. A ausência de conflitos é mais sinal de doença que de vitalidade : a coalizão serve à manutenção da estabilidade do governo, mas cria um imobilismo secular. Mesmo os avanços, tal qual a previdência do setor público, são mitigados pelos interesses corporativos, os quais são pacificados antes mesmo de serem conflitados. Não há debate e nem greves. Os partidos são aglomerados comandados por elites que loteiam o setor público com seus asseclas. O cenário não é de calma, é de letargia. O imediato e o futuro Como não há um "projeto Brasil" vamos de remendo em remendo, de tapa buraco, em tapa buraco, de olho sempre na próxima eleição : sobe e desde IOF ; IPI ; juros ; crédito ; compulsório bancário ; contingenciamento do Orçamento ; carga tributária... Não é sem razão que um funcionário do tipo burocrata-obediente fez um desabafo na semana passada que define a situação com perfeição e vale para tudo. De Bernardo Figueiredo, presidente da ANTT : "Estamos no limite da gambiarra, do apagão logístico". O país do etanol e autossuficiente em petróleo importa... etanol e petróleo. Inflação e câmbio lideram preocupações Se no âmbito dos fatores estruturais a economia brasileira é letárgica, do ponto de vista conjuntural sobra à sociedade dois problemas críticos : a inflação elevada que está destruindo o poder da moeda no longo prazo e a sobrevalorização cambial que inviabiliza a indústria brasileira do ponto de vista da competitividade externa. Há chances concretas da inflação cair um pouco mais neste primeiro trimestre e, talvez no segundo. Todavia, isto dependerá, como vem dependendo, do desempenho da taxa cambial e da relativamente fraca atividade econômica. Qualquer mexida para cima destes dois fatores há de influenciar a evolução dos preços domésticos. Ou seja, há uma equação entre atividade, câmbio e inflação, ainda para ser resolvida. Por enquanto, o governo não esboça nenhuma solução que seja crível. EUA : PIB para cima Nesta semana, será divulgado o PIB norte-americano do quarto trimestre de 2011. O crescimento deve gravitar ao redor de 3% em função do aumento do consumo e da reposição de estoques do setor produtivo. Uma excelente notícia para o mundo e para o pálido presidente Obama. O crescimento deste ano deve atingir algo entre 2,5% e 3,0%. Todavia, os eleitores irão às urnas pensando no próprio emprego. Reunião do Fed Nada de novo deve ser esperado da reunião do Banco Central dos EUA nos próximos dias 24 e 25 de janeiro. Já se sabe que a taxa de juros básica ficará praticamente zerada daqui até meados de 2013 e que os riscos de alta da inflação são negligenciáveis. Enquanto isso, todos esperarão a análise dos policy makers sobre a atividade econômica em alta. Agências de rating Os investidores não deram a menor bola para os rebaixamentos da nota do risco de crédito de países europeus, inclusa aí a França, da Standard & Poor's. De outro lado, os burocratas da União Europeia, em Bruxelas, continuam a observar as ordens emanadas de Berlim. As agências de classificação de risco não têm credibilidade, como sabemos. Os erros seguidos desde meados dos anos 90 ensinaram que daquele oráculo não há pitonisa que seja crível. Todavia, ainda há efeitos significativos nestas reclassificações : há fundos que são obrigados a vender ou comprar títulos de países que são "reclassificados" pelas agências de risco. Isto ocorre por força de previsões nos estatutos destes fundos. Portanto, apesar de toda a falta de credibilidade das agências, há quem seja obrigado a segui-las. Isto fere a própria eficiência de mercado. Radar NA REAL Continuamos a acreditar que o mercado acionário norte-americano continuará a ser o destaque dentre os diversos segmentos do mercado financeiro mundial. A recuperação da atividade econômica americana num cenário de menores riscos agudos, até mesmo no Velho Continente, vai "inflacionando" os preços dos ativos. No Brasil, o BC deu provas que tentará estabilizar os juros básicos num patamar ainda mais baixo, apesar da inflação ainda estar num patamar elevado. No mercado de câmbio, a estabilidade é jogo quase dado. Resta o mercado acionário que será positivamente influenciado pelo melhor desempenho do mercado externo, mas que encontra duas barreiras muito importantes : (i) há muitas operações de venda de ações da parte de fundos de private equity e de acionistas controladores, o que aumenta a oferta de ativos num mercado ainda débil de demanda e (ii) a cada vez menor atuação de investidores estrangeiros no mercado local. 20/1/12   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2864 baixa baixa - REAL 1,7553 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.312,10 estável/alta estável - S&P 500 1.315,38 alta alta - NASDAQ 2.786,70 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Caroço no angu baiano Fica combinado assim : o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, deixa o cargo no próximo mês para Maria das Graças Foster (conhecida como Graça Foster) e desembarca numa secretaria do governo da Bahia para se preparar para a sucessão de Jaques Wagner, daqui a três anos. Esta é a versão oficial. Mas as paredes dizem : 1. As relações da presidente Dilma com Gabrielli, desde os tempos que ela ainda estava apenas ministra, sempre estiveram mais para UFC do que para Pequeno Príncipe. 2. Graça é das graças de fé de Dilma, que quando formava seu governo pensou para ele a própria presidência da Petrobras e até a Casa Civil, mas prevaleceram as preferências de Lula, respectivamente por Gabrielli e Palocci. 3. Gabrielli tinha laivos de independência ; Graça é técnica e dedicada. 4. Na Petrobras, Dilma aposta muitas fichas de investimentos para o PIB brasileiro crescer os 5% que ela espera este ano. No ano passado, a empresa de Gabrielli não cumpriu seu cronograma de gastos. 5. O TCU está de olho nos gastos da empresa sem licitações. De barbas e pulgas Depois de tudo que Brasília deixou vazar para explicar a troca de Gabrielli para Graça Foster, com insinuações de que se dá mais um esvaziamento do lulismo e do petismo no poder Federal, os últimos fios das barbas do PT entraram de molho e a pulga atrás da orelha de Lula ficou assanhadíssima. Na esteira de Gabrielli sairiam outros apadrinhados políticos da direção da empresa, substituídos, ao gosto da presidente, por técnicos. Finalmente começam a desconfiar que Dilma está balançando a árvore da aliança partidária escalada por Lula para elegê-la, sustentá-la e tutelá-la. Outros aliados também que se apoquetem. Sem força política própria ainda, Dilma tenta comê-los pelas bordas. E como tem a caneta, o Diário Oficial e a carranca... Nó em pingo de chuva Dilma, no ajuste ministerial, está enrolando em papel machê todos os aliados, inclusive o PT e o PMDB de Michel Temer. Estão todos emburradinhos. Ninguém, porém, vai chiar em público contra uma presidente que chega ao segundo ano de mandato com mais popularidade até do que Lula na mesma ocasião. Nesse páreo, FHC não vê nem poeira. E a única ameaça que a presidente pode ter pela frente nos próximos meses é um desarranjo na economia, cujos cordões ela não controla todos. Simples assim Do professor Renato Janine Ribeiro, da USP, em artigo no jornal "Valor Econômico" de ontem : "O PT está fazendo muita falta ao Brasil : na oposição... Dizendo isso, não estou criticando - aliás, nem elogiando - seu governo ; só constato que desde 2003, quando ele ganhou as eleições para a presidência da República, não tivemos mais oposição digna desse nome." Algo a acrescentar ? Balançando a roseira FHC balançou todos os galhos da frondosa árvore onde os tucanos, em prolongado ano sabático de oposicionismo, curtiam suas fogueiras de vaidades e idiossincrasias. Há tempos o ex-presidente vem tentando tirar os parceiros da modorra em que mergulharam dando-lhes algumas indicações de como fazer oposição. Inclusive quando mandou os procurar a nova tal classe média. Na verdade, indicava que eles deveriam sair do ar condicionado e ir comer poeira atrás dos eleitores. Não conseguiu grande entusiasmo e agora então balançou a roseira dos parceiros ao meter seu palpite na disputa que paralisa o PSDB e toda a oposição, entre Aécio e Serra para ver quem "perderá" a próxima eleição de Lula e o PT e os seus parceiros. Com a defesa da candidatura do mineiro, que ele considera natural, deve obrigar os tucanos a se mexer e joga Serra no sereno. Será curioso ver a reação do ex-governador paulista, em tese mais amigo de FHC que Aécio. O jogo de Kassab Não é preciso ir muito longe para verificarmos o absurdo : o PSD de Kassab flerta com o PT para ver se o antigo parceiro fiel, o PSDB, cai em seus braços. O PT que faz acirrada oposição ao prefeito paulistano, começa a avaliar a aliança não apenas como "possível", mas como "desejável" dada a sua ambição de retomar o controle da maior cidade do país. A situação seria risível se não tivesse os efeitos nefastos sobre o processo democrático que necessita de mínima sintonia entre ideologia partidária e o distinto eleitorado. Diz-se, nas rodinhas de políticos, inclusos os de alto coturno, que "a política é a arte do possível". No caso de Kassab, "a política é o circo do impossível". Sem cacife O problema do prefeito paulistano é que, no momento, ele não tem um dote muito generoso a oferecer aos parceiros que tem procurado, a não ser que inclua nesses bens a máquina da prefeitura na campanha. Sua popularidade está no porão e o PSD não sabe se terá um tempinho alentado no horário gratuito no rádio e na televisão. Quem precisa mesmo, desesperadamente, de alianças, e não só na capital paulista, é o partido de Kassab. Para não virar um natimorto. Mercadante e a arrogância Ao que parece, o ministro Mercadante terá muita chance de reaver um pouco de seu debilitado capital político, ao assumir o ministério da Educação. Não sossega em pensar em nova candidatura o governo de SP em 2014. Dentre os vários percalços em seu caminho político está a sua conhecida arrogância. Conta-nos um transeunte contumaz dos corredores do poder de Brasília uma cena que ilustra esta característica de sua personalidade. Vinha certo dia o bochechudo senador (hoje ex) Heráclito Fortes (DEM/PI) andando pelos corredores do Senado Federal quando vê um colega dando entrevista para a TV. Passa por ele e cumprimenta o colega : "bom dia Mercadante!". Logo após a entrevista, o colega questiona Fortes a razão de chamá-lo não pelo seu nome, mas pelo nome do ex-senador paulista. Fortes explica : "se está dando entrevista para a TV com grande afinco e não responde sequer "bom dia" aos colegas, só pode ser o Mercadante...". A "simpatia" ambulante de Mercadante já causa arrepios nos habitantes de sua nova pasta, acostumados à suavidade no trato de Fernando Haddad. ____________
terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 183

Dilma, entre o corte e o crescimento No mundo economicamente conturbado que descrevemos em notas abaixo, a presidente da República prepara-se para definir os rumos da economia brasileira em 2012. Os objetivos básicos, teóricos, de Dilma são três : 1. Crescimento do PIB para chegar num ritmo de 5% no final do ano, com um mínimo de 4% para o ano cheio. 2. Trazer a inflação para perto dos 5% ao ano, o quanto mais próximo possível dos 4,5% do centro de meta marcado pelo Conselho Monetário Nacional. 3. Fechar o ano com o juro Selic de um dígito, de 9% ou 9,5%. O essencial, no entanto, é o crescimento, do qual a presidente não abre mão depois dos decepcionantes, para ela, 3% ou menos de PIB no ano passado. A chave dessa equação é o investimento público, tido como indutor do investimento privado, segundo a ótica oficial. E, por isso, o jogo é saber quanto é possível cortar do Orçamento deste ano sem comprometer esta rubrica e ainda manter os programas sociais os quais Dilma também não dispensa. Analistas privados e parte da equipe econômica calculam que será necessário um corte inicial de entre R$ 60 e R$ 70 bi para que se cumpra a meta de superávit primário cheia de 3,1% e com isso o BC possa tranquilamente continuar cortando os juros e mesmo assim ajustando a inflação. Outra parte dos que falam de economia no governo acham que um corte desta magnitude é impossível sem sacrificar investimentos. É equilibrar essas duas posições que a presidente está desafiada a fazer nas próximas semanas, uma vez que as divergências de opiniões entre seus auxiliares já começam a pipocar na imprensa e a provocar disputas e boatos. Veja, a propósito, declarações do secretário-executivo do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, sexta-feira em SP, entrevista do secretário do Tesouro Arno Augustin, no "Valor Econômico" de ontem, e declarações esparsas do ministro Guido Mantega. Eles não estão totalmente em sintonia. Para completar as dificuldades da presidente, há a avidez eleitoral de deputados, senadores, governadores e prefeitos para menos rigidez no controle dos gastos públicos. Brasil, em ritmo lento O Brasil sofre os efeitos do enfraquecimento da economia mundial nos últimos três anos, mas a perda de dinâmica se deve fundamentalmente à letargia governamental em promover reformas e engendrar políticas públicas para sustentar o crescimento econômico. Não há reformas econômicas estruturais, sobretudo no que tange à desoneração tributária e o conteúdo tecnológico de nossas exportações é baixo e pouco dinâmico num ambiente internacional altamente competitivo. O governo teima na viabilização de seu PAC, mas o que se vê é um lento, gradual, mas consistente processo de desindustrialização. A moeda está valorizada, sob qualquer critério de avaliação, e os juros, muito embora sejam declinantes no curto prazo, se mantêm elevados nos prazos mais elásticos. O que se vê é uma estagnação muito além da mera observação dos indicadores econômicos. É quase uma atitude mental. As atividades no setor financeiro ou de fusões e aquisições, apenas para citar um exemplo, estão bem vigorosas. Todavia, escondem a essência daquilo que transformaria o país : os investimentos públicos são pouco eficientes e produtivos, a infraestrutura carece de uma oferta crescente e o setor privado ainda está desconfiado com o ambiente externo e com a consistência do crescimento doméstico. Mesmo que o Brasil cresça, digamos, 5% este ano, falta ao país a evidência de que este crescimento é sustentável e digno da denominação de país emergente. Cenário do mercado O desempenho da bolsa de valores brasileira demonstra claramente que o Brasil está estagnado. Os resultados para o investidor no ano passado foram negativos e no último trimestre relativamente ao início do ano, o resultado pode ser considerado irrelevante. Como sempre enfatizamos aos nossos leitores, não fazemos previsões. Preferimos falar de tendências. A nosso ver o destaque positivo do mercado neste primeiro trimestre deve ser o mercado acionário dos EUA, que vivem um momento de recuperação econômica que merece redobrada atenção. O Brasil deve ser favorecido por esta tendência favorável nos EUA. Do ponto de vista negativo, apontamos a China como o principal risco potencial e a Europa, obviamente, como o risco visível mais relevante. Assim sendo, para o investidor ainda é tempo de manter cautela, dado que nada indica que a crise internacional terá solução mais duradoura por força da confusão da política europeia. De toda a forma, não há porque se acreditar piamente num processo ainda mais danoso, muito embora esta possibilidade sempre exista. Os custos de um colapso do euro, apenas para citar o exemplo mais evidente, é algo tão grandioso que de nada adianta fazer previsões sobre as consequências, caso esta hipótese se tornasse real. Por fim, é concretamente possível que ao menor sinal de consistente recuperação da Europa, o desempenho mundial seja bem melhor que estimam os analistas, economistas e agentes. Rupturas ocorrem em momentos de euforia e recuperações em momentos de depressão. O importante é observar as mutações das variáveis de risco e retorno. Uma tarefa diária já que as bolas de cristal dos gurus de mercado parecem trincadas. A teimosia alemã e a derrocada europeia Não precisa ser um analista financeiro para perceber que a estratégia fiscalista da Alemanha está fracassando na busca da recuperação da economia europeia. Desde outubro de 2011, quando foi adotada completamente a estratégia de Angela Merkel, o euro caiu 9,5% frente ao dólar, as bolsas europeias despencaram, enquanto o S&P 500, principal indicador do mercado acionário norte-americano, subiu 3,4%. E tem mais : nem a estratégia do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, de emprestar recursos, de forma ilimitada, para o sistema resultou na recuperação da confiança no Velho Continente. Os "tecnocratas" que estão a comandar a política na Espanha, Portugal, Grécia e Itália, continuam com o seu receituário de contenção fiscal, mas os agentes persistem inquietos e pedindo mais "prêmios por risco" a cada leilão de títulos europeus. Agora a Standard & Poor's. Não bastasse o euro ser a pior moeda entre as dez mais relevantes, incluso aí o Brasil (que teve o melhor desempenho em termos de valorização cambial), o México, e a Nova Zelândia, a agência de classificação de risco Standard & Poor's revisou no fechamento da semana passada a nota de nove países europeus ; a França foi "rebaixada" e perdeu a sua condição de "triple A". O efeito deste rebaixamento é a redução da demanda por títulos franceses de vez que muitos fundos são proibidos de adquirir títulos que não possuam a classificação máxima em termos de risco de crédito. Do ponto de vista informacional a S&P nada mais fez do que colocar gasolina na fogueira e projetar o que todos esperam no atual contexto : mais depreciação do euro, mais turbulência financeira, mais risco de colapso de empresas privadas e o desemprego campeando o Velho Continente. O setor privado vê o crédito se contrair A elevação dos prêmios de risco dos títulos soberanos está alijando as empresas europeias do mercado de crédito. Os custos de contratação e rolagem de empréstimos estão subindo celeremente e as empresas começam a concorrer ainda mais para obter recursos no sistema financeiro. Este processo maléfico está se espalhando pelo sistema e já atinge inclusive grandes conglomerados empresariais de toda a Europa. A Alemanha não é uma ilha O PIB alemão mostrou-se sólido em 2011 e cresceu 3%. Isto está no retrovisor. Daqui para frente, a demanda europeia por produtos alemães vai cair e o desempenho do país dependerá ainda mais de seu sólido setor exportador. Além disso, a crise bancária pode (deve ?) contaminar os bancos alemães que estão com ativos recheados de títulos soberanos da Itália, Espanha, Portugal e Grécia. Angela Merkel sabe disso, mas se recusa a admitir que o BCE cumpra o seu papel de emprestador de última instância, como faz o Fed do outro lado do Atlântico. A aposta de Merkel é grande e há quem creia nela. Até agora, o barco europeu só fez balançar e se encher de água. Veremos. Lembrança Nas três vezes em que o Brasil, no governo FHC, sofreu colapsos cambiais, as autoridades econômicas assinavam acordos com o FMI prometendo aumentar o superávit fiscal. Era uma medida importante. Todavia, o essencial era o papel de "emprestador de última instância" do FMI e outras instituições multilaterais. Por que, no caso europeu, isto seria diferente ? EUA, recuperação consistente ? Não resta dúvida de que houve uma recuperação significativa do consumo dos norte-americanos no último trimestre, com resultados ainda reduzidos sobre o desemprego. Todavia, a estratégia de "atolar o mercado com liquidez" do Fed, está com menor pressão política da parte dos republicanos e dos agentes econômicos. Ponto para o candidato à reeleição Barack Obama. Os diversos segmentos econômicos estão em recuperação, muito embora a consistência deste movimento apenas se confirme ao longo deste ano. O mercado financeiro e de capital está com um desempenho crescentemente otimista e, não fosse o risco europeu, os investidores poderiam estar comemorando lucros maiores. O grande teste, todavia, será político. Obama tentará a reeleição e, até agora, conta com a fragilidade do discurso republicano, muito embora as pesquisas eleitorais mostrem um empate técnico entre Obama e seu provável adversário Mitt Romney. O tempo dirá, mas a eleição será decisiva para reforçar ou mitigar o enorme esforço monetário da maior economia mundial. China, o enigma Os dados econômicos divulgados pelo governo comunista de Pequim mostram que o vigor da economia chinesa está à prova. O crescimento marginal da atividade econômica está tendendo para uma redução para algo entre 6% e 7%. A China perde dinamismo interno em setores vitais, tais como a construção civil e alguns setores de consumo. O emprego se sustenta e pouco se sabe concretamente sobre a situação de crédito. As exportações estão vigorosas, mas as importações crescem, sobretudo em setores tecnologicamente mais avançados. Para o bem do mundo e especialmente para os exportadores de commodities, tal qual o Brasil, é essencial que a China estabilize o seu crescimento em patamares elevados. Caso contrário poderemos assistir a um ajuste negativo na economia mundial, absolutamente indesejável num momento em que os países centrais estão atolados na estagnação. Radar NA REAL 13/1/12   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2677 baixa baixa - REAL 1,7873 estável/baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.146,60 estável/alta estável - S&P 500 1.289,09 alta alta - NASDAQ 2.710,67 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Reforma sem reforma E improvável que Dilma faça uma ampla alteração na composição nominal de seu ministério, como em algum momento se chegou a imaginar e alguns ainda torcem para que aconteça : uns de olho na possibilidade de se melhorar a qualidade da equipe e outros (os partidos aliados) nos cargos. É mais improvável ainda, como assessores da presidente chegaram a insinuar que poderia acontecer, que Dilma aproveite a ocasião gerada pela saída de ministros candidatos para fazer também uma reforma da conformação ministerial, fechando e fundindo pastas. Sairão uns quatro ou cinco ministros e no máximo haverá um enxugamento. Por duas razões : 1. Embora infunda medo nos aliados, Dilma não tem condições de afrontar os partidos, como ficou agora claro no episódio envolvendo o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e o PSB do governador Eduardo Campos. 2. Não dá ainda para romper bruscamente com a herança pessoal de Lula, de quem o PT, os aliados e o próprio governo vão depender muito para um bom desempenho eleitoral em outubro. Ainda mais se a economia se complicar, Lula será a salvação. Ele e a fraqueza da oposição. Na trilha de Ascenso Ferreira O poeta pernambucano tem um verso que diz mais ou menos assim (citado de memória) : "Hora de comer, comer / Hora de dormir, dormir / Hora de descansar, descansar / Hora de trabalhar, pernas pro ar que ninguém é de ferro". Este é o lema que a oposição brasileira adotou no ano sabático que se concedeu em 2011, com o fito de incomodar o menos possível a presidente Dilma e seus aliados. E que ainda não foi encerrado, haja vista a vista grossa que se fez com o caso Bezerra. Será que Aécio Neves, José Serra e suas turmas sabem que haverá eleição este ano e que elas poderão ser determinantes para 2014 ? Balanço preliminar de 2012 Para não perdermos tempo este ano, nem gastarmos bits inutilmente, vamos já de uma vez eliminar alguns temas que costumam rondar os debates políticos brasileiros todos os anos. 1. Por ser um ano eleitoral, a reforma política ampla não se realizou, ficou adiada para 2013. 2. Do mesmo modo, pelas mesmas razões, a reforma tributária ampla, voltada para simplificar o sistema de cobrança de impostos no Brasil e começar uma redução da carga tributária nacional, não avançou, está à espera de melhor ocasião. 3. Foi ainda protelada a reforma sindical e trabalhista. Dito isto, vamos nos concentrar nos assuntos possíveis. ____________
domingo, 8 de janeiro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 228

Assim, não há confiança que resista ! No mais recente Boletim Trimestral de Inflação, o BC, em leve tom de advertência, escreveu : "A lenta recuperação da confiança contribuiu para que os investimentos ainda não mostrassem reação após estímulos introduzidos na economia". Ainda como um alerta, o BC classificou como ligeiramente expansionista a política fiscal do governo. Pois bem, daí para cá, depois de contribuir para que o Congresso Nacional entrasse em férias sem aprovar o Orçamento de 2013, o Palácio do Planalto editou uma MP autorizando o direito de gastar R$ 42,5 bi em investimentos até que os deputados e senadores produzam uma peça orçamentária qualquer. Este valor é quase 70% de tudo que o governo terá gasto em 2012 em investimentos. Está inaugurada desse modo a administração centralizada e arbitrária do Orçamento. Flexibilização da LRF Foi remetido também ao Congresso um projeto de modificação do ICMS com um artigo que permite a flexibilização da lei de responsabilidade fiscal. Como se diz popularmente, onde passa um boi passa também uma boiada. Além disso, uma série de decretos, portarias e que tais, com triangulações contábeis entre o Tesouro Nacional, BNDES e CEF, envolvendo títulos públicos e ações de estatais, permitirá ao governo anunciar que cumpriu a meta cheia de superávit primário em 2012 de R$ 139,8 bi (cerca de 3,1% do PIB). No entanto, a economia real primária (receitas menos despesas excluídos juros) de todo o setor público ficará mesmo em torno de 1,9% do PIB. O resto não é poupança de fato para reduzir a conta de juros, é desconto de gastos com o PAC e contabilidade criativa. No entanto, segundo a maior parte dos analistas, o governo teria um amontoado de boas e justas justificativas para não cumprir a meta de superávit. Um documento recente do BC, pouco comentado, mostrava que um superávit bem menor do que o atual será possível manter a relação dívida/PIB (uma medida da solvência do governo) em níveis aceitáveis. Realidade maquiada O governo preferiu, à luz de suas manobras contábeis, em lugar de um encontro com a verdade, que poderia parecer um fracasso, maquiar a realidade. Como as pessoas do lado de fora sabem minimamente fazer contas, ele apenas praticou um autoengano. E leva a suspeitar que outras maquiagens podem ter acontecido ou ainda vieram a acontecer. Não é uma boa forma de conquistar a confiança dos agentes econômicos, ressabidos nos últimos tempos com a política oficial, como constatou o BC. BB de fora Enquanto o BNDES manipula ações que tem em carteira de lá para cá e a Caixa Econômica virou acionista até de frigoríficos e de empresas com fraco desempenho na bolsa, o BB, pelo menos aparentemente, foi poupado de dar sua contribuição nessas manobras. O fato de ter ações negociadas em bolsa e acionistas privados parece ter salvado a instituição. BNDES e CEF não têm supervisão de acionistas, têm de cumprir fielmente a vontade do dono. Muy amigo ! O BNDES empurrou um monte de ações complicadas da carteira do BNDESpar para a Caixa Econômica. Se der prejuízo, o Tesouro, ou seja, "a viúva", garante. Discordância fiscal Ao que tudo indica, há uma certa "má consciência" nas hostes federais em relação ao pacote de salvação do superávit primário. Imediatamente após a divulgação (atrasada) das principais manobras da contabilidade criativa, começaram a aparecer nos jornais informações de que houve constrangimentos na equipe econômica, que houve discordâncias, de que se defendia o anúncio de um superávit menor e coisas tais. Como sempre, não se identifica quem é quem na história, numa comprovação de que, se houve divergências mesmo, ninguém teve coragem de contestar quem manda de fato. Não é crível que a presidente Dilma não esteve a par da cada manobra, ela que não abre mão nem de decidir que tipo de clipes o governo comprará. Confusão à vista - I Neste dia 10, o governo deve pagar aos Estados a primeira parcela de 2013 do Fundo de Participação dos Estados - FPE correspondente a 21,5% do IPI e do IR, tributos arrecadados pelo Tesouro Nacional mas compartilhado com Estados e municípios. Serão cerca de R$ 50 bi este ano. Acontece que em fevereiro de 2010 o STF considerou caduca a regra de divisão do bolo, datada de 1989, e deu prazo ao Congresso, até 31 de dezembro de 2012, para estabelecer uma nova divisão, com base nas mais recentes pesquisas censitárias e econômicas do IBGE. Acontece também que Câmara e Senado foram para as férias sem cumprir esta obrigação. Está um impasse. O Congresso acha que uma norma do TCU pode vigorar até que ele se disponha a votar a nova regra. Não é esta a decisão do STF : para ele a distribuição dos recursos tem de cessar. Os governadores, com razão, estão apavorados e furibundos. O dinheiro é essencial para todos, para boa parte é vital, pois o FPE representa até 60%, 70% do orçamento. Quem não receber, não paga servidores e terá de parar muitos serviços. O governo está temeroso de soltar o dinheiro e incorrer num crime de responsabilidade. O STF não pode agir se não for provocado. José Sarney, Marco Maia e os líderes partidários foram para o doce descanso sem ao menos pedir ao Supremo a dilatação do prazo. Dilma está de férias na Bahia. Quem vai resolver o problema, fruto da pura inapetência do Congresso para o trabalho ? Confusão à vista - II Há um sincero empenho de Brasília em dar uma mãozinha (ou seria "mãozona" ?) ao prefeito de SP, Fernando Haddad. Pode ser por razões, digamos assim, humanitárias, ajudar a cidade mais complicada - a mais rica, mas também das mais miseráveis - do país e também político-eleitorais : a administração do ex-ministro da Educação, como foi admitido já por caciques petistas e do governo Federal, será a vitrine da nova maneira de governar do PT e, por tabela, de Dilma. Uma das formas de ajuda envolve renegociar em melhores bases a enorme dívida pública paulistana (que monta 200% da arrecadação anual). A confusão é que se der para um e não quiser arranjar um problemão, Dilma terá de facilitar para todos. E não há prefeito que não esteja de pires não. Nem governador que não queira rever suas dívidas garantidas pelo governo Federal. Revisionismo petista ? O PT - até porque não é de seu estilo - não abandonará os companheiros condenados no mensalão. As palavras de solidariedade se multiplicarão. Este, porém, parece ser o limite, o mesmo da presidente Dilma. Nada de campanha nas ruas, de incentivo a qualquer tipo de movimento de confronto com o Judiciário. A leitura mais atenta de algumas declarações de Fernando Haddad, Tarso Genro e até de Rui Falcão indicam este caminho. Latir sem morder. As prioridades do PT são outras : preservar a imagem do presidente Lula, inegavelmente abalada pelas histórias dos "bebês de Rosemary" e o seu silêncio em torno do assunto ; e preparar o partido para as eleições de 2014, que, a depender do andar do cabriolé da economia, pode se configurar complicada. Será preciso mostrar mais eficiência administrativa em Brasília e nos Estados e prefeituras administradas pelo partido para se contrapor ao discurso oposicionista. Não tem explicação, ou... ...será que tem a ausência do ex-presidente Lula da Silva na posse de seu pupilo Fernando Haddad na prefeitura de SP ? Lula parece estar numa fase em que prefere não ter contatos com aglomerações não controláveis e jornalistas idem. O PSDB se move ? Como anotado neste espaço há alguns meses, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está tomando a dianteira dos tucanos, com Aécio Neves a tiracolo, para preparar o PSDB para o embate eleitoral de 2014. Algumas estrelas do tucanato econômico já estão engajadas no projeto, entre eles Armínio Fraga e Pedro Malan. Não há ainda, pelo menos ao que se saiba, um mote para a campanha, mas de início dois pontos devem ser atacados : o fraco desempenho da economia brasileira e a proverbial (e comprovada) inapetência executiva do governo. Basta ler alguns dos últimos artigos que Aécio assinou na Folha de S.Paulo para ver que a campanha já começou. Os últimos textos e entrevista do ex-presidente FHC também estão nesta linha. Um problema de discurso A principal dificuldade oposicionista para conquistar o eleitorado é a de "traduzir" os seus diagnósticos acadêmicos para um plano politicamente factível de transformação social e política do país. Reuniões de estrelados ex-governistas ao som das garças cariocas de pouco valem se as grandes questões sociais do país não foram apreciadas no contexto atual, depois de quase três administrações petistas. O Brasil é um país de fortes contradições e desigualdades. Não será um discurso acadêmico a desenrolar soluções de livro-texto que fará a população mudar o voto. É preciso que se construam alternativas de mudanças críveis do ponto de vista político. Senão, o voo tucano continuará curto e o bico enorme. A disputa está acesa Na Bahia, de onde só retorna oficialmente no dia 11, a presidente Dilma descansa e medita. Em suas elucubrações, naturalmente, mudanças no ministério. A bendita reforma, para acomodar alguns compromissos, como os assumidos com Gilberto Kassab e com o PMDB de SP, e dar uma sacudidela em algumas áreas. A reforma já teve várias faces, segundo informantes informais de Brasília : primeiro seria apenas pontual, depois seria mais ampla, depois voltou a ser pontual, agora... Publicamente Dilma nunca deu nenhum sinal de que será assim, ou assado, ou cru. Já na "ilha da fantasia" Em Brasília, mesmo nesses tempos vazios de homens e de política, especula-se. E parece que a frigideira de assar ministros em fogo brando já foi acesa - se não pelo presidente, por gente do mundo oficial. Na semana passada, em mais de uma nota de origem anônima dos jornais, duas ministras tiveram referências nada airosas : Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Miriam Belchior, do Planejamento. Guido Mantega parece fora do fogo, até porque a política econômica não é dele, é de Dilma. Os ministros das Minas e Energia e dos Transportes também parecem preservados, mas as áreas deles não, pois são as que geraram mais reclamações nos últimos tempos. Dilma não quer fazer muito barulho, mas se depender do apetite dos aliados, haverá um trucidamento na Esplanada dos Ministérios, em órgãos públicos e até em estatais. Cenário pouco promissor Já comentamos diversas vezes neste espaço que há uma contradição entre o fato de a economia brasileira estar "atolada" no baixo crescimento e o emprego persistir elevado. Com efeito, a deterioração política do governo foi muito aquém de seu desempenho sofrível em termos de PIB, especialmente na área econômica onde falta capacidade de gestão, visão estratégica e liderança. O que sobra no governo é criatividade para esconder os fracos resultados e para fazer maquiagem de indicadores de resultado fiscal, conforme já comentamos acima. Neste início de ano não há nenhum sinal emitido com razoável consistência de que o país está alterando seu caminho. Nada. Pode ser que o governo recomponha a sua capacidade diretiva, seja por meio de mudanças ministeriais, seja por mudanças efetivas de visões políticas. Todavia, em política os fatos precedem as expectativas - ao contrário do tal do "mercado". Até agora nada pode ser elaborado que indique que o Brasil crescerá razoavelmente e que a dinâmica do desenvolvimento mudará. Apesar do discurso oficial. Sobre o abismo O acordo fiscal de Barack Obama com o Congresso dos EUA é algo muito provisório e pouco alentador. Na prática, o acordo não vale mais de dois meses. Em meio ao (nosso) carnaval teremos de novo as manchetes mundiais comentando a nova possibilidade de a maior economia do mundo cair no "abismo". As dúvidas sobre o desempenho fiscal dos EUA também estão presentes nas minutas da última reunião do Federal Reserve, divulgadas na semana passada. A divisão de visões na autoridade monetária indica que será o principal problema de Obama no curto prazo. Talvez no médio também. Suspiros, de alívio... As novas regras relacionadas às exigências de liquidez por parte do sistema financeiro internacional, emitidas sob o guarda-chuva do "Acordo da Basiléia", foram recebidas, mundo afora, com alívio pelas instituições financeiras e pelos governos. Apesar de regras mais duras serem essenciais para uma nova tentativa de disciplinar o funcionamento do sistema financeiro internacional, se houvesse um maior endurecimento destas, dois tipos de riscos seriam incorridos : (i) o puro e simples descumprimento dos "novos diplomas" sobre a necessidade de capital por parte das instituições financeiras, por absoluta incapacidade dos bancos em cumprir as determinações do acordo e (ii) a percepção de que o risco sistêmico voltou a imperar. A retirada de recursos do sistema também seria muito negativa para uma economia mundial carente de créditos para financiar o crescimento. Feitas as contas, esqueceu-se a ortodoxia. Novas regras de emissão de títulos de mercado Apesar da flexibilização do "Acordo da Basiléia" ser favorável a disponibilização do crédito, as novas regras para emissão de títulos de empresas de capital fechado (limitadas e sociedades anônimas) não deveriam ser deixadas de lado pelo BC e pela CVM, os quais estão estudando o assunto há algum tempo. Afinal, estes títulos são alternativas essenciais para a queda do spread bancário e para uma melhor distribuição dos recursos entre os aplicadores de recursos e captadores de dívidas. Vale conferir o comportamento do governo após a decisão sobre o "Acordo da Basiléia". Pobre presidente ! Esquema que se desenha na capital da República : Presidente da Câmara : Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN) Presidente do Senado : Renan Calheiros (PMDB/AL) Líder do PMDB na Câmara : Eduardo Cunha (RJ) Líder do PMDB no Senado : Eunício de Oliveira (CE) Além disso, vice-presidente da República : Michel Temer (PMDB/SP) Nas mãos dos dois primeiros, Alves e Calheiros, de forma quase autocrática, estarão decisões cruciais para a tranquilidade do Palácio do Planalto : a pauta de votação da Câmara, do Senado e do Congresso e a instalação de CPIs. Tudo indica que o estoque de Lexotan das farmácias próximas do Palácio do Planalto e do Palácio da Alvorada terá de ser reforçado.Radar NA REAL 04/01/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3043 baixa/estável baixa - REAL 2,0358 baixa/estável baixa Mercado Acionário - Ibovespa 62.523,06 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.466,47 estável/abaixa estável/baixa - NASDAQ 3.101,66 estável/baixa estável/baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 182

Brasil, "deitado em berço esplêndido" O título desta nota pode sugerir que somos a famosa "ilha de prosperidade em meio a um mundo caótico". Não é o caso. Estamos mais para aquele que fica a "olhar as estrelas do céu, mesmo que esteja deitado sobre um terreno pouco seguro". O modelo de governança baseado na coalizão de partidos políticos pouco interessados naquilo que se chama de res publica é um fracasso monumental. Se serve à estabilidade do governo, não serve ao progresso social e econômico. A queda de sete ministros do governo atual ao longo do primeiro ano de governo não é apenas um sintoma deste fracasso. É a própria doença. O Brasil é o país de maior potencial para ser o melhor de se viver diante dos desafios do século XXI. Todavia, a nação se sujeita aos entraves mais perniciosos da política, da corrupção ao descaso na gestão pública. Há os que acham que nunca estivemos tão bem. De nosso lado, preferimos acreditar no nosso potencial e verificar os resultados. A coisa não vai bem. A inflação está elevada e corrói os contratos e os salários, o desempenho fiscal é mediano e pouco preventivo, os juros permanecem altos em função dos dois fatores anteriores e há uma irradiante letargia em relação aos investimentos públicos e privados. O país cresce pouco e, não fosse o desempenho agrícola, ficaria evidente que estamos em um perigoso processo de perda de competitividade industrial, com baixa produtividade e câmbio valorizado. Infelizmente, a tendência é que permaneçamos nesta toada. Aquém do que devemos e muito aquém do que podemos. Ao modo de um balanço Um resumo bem sucinto do que foi nosso país nos últimos 365 dias dirá o seguinte : avançamos, para continuar onde estávamos. O Brasil ficou mais velho, mas não mais leve, nem mais sábio. Nossas instituições político-administrativas não evoluíram (algumas até, muito pelo contrário), não aperfeiçoamos nossas práticas políticas nem corrigimos nossas incríveis falhas na infraestrutura econômica nacional. Como diria um bom caipira, não vivemos, vegetamos. Sem sustos, mas também sem brilhos. Seja o que Ele quiser Começa mais um ano eleitoral, com eleições municipais com cara de eleição presidencial e eleições Federais. A experiência nos mostra que é bom elevar as mãos aos céus. 2011 e 2012 estão custando ao país o preço da farra de 2010. Custo dividido em partes iguais com a crise internacional. Reforma sem reforma Com a crista elevada pelos dados da última pesquisa CNI/Ibope, na qual aparece mais bem avaliada em seu primeiro ano de governo do que o foram no mesmo período os ex-presidentes FHC e Lula, Dilma estabeleceu parâmetros para a tal reforma ministerial que vai fazer em janeiro, de uma só vez ou em conta-gotas, num espaço de um mês, não se sabe ao certo. 1. Não haverá profundas, talvez nem rasas, alterações na estrutura ministerial, com fechamento e/ou fusão de ministérios e secretarias. Festa entre os apreensivos aliados. 2. Os partidos indicarão nomes, mas não conduzirão as escolhas e feudos partidários serão eliminados. Tristeza entre os parceiros, mas a conferir ainda a viabilidade política desta pretensão. 3. As mudanças trarão surpresas - não se sabe se agradáveis ou desagradáveis - para amigos e conselheiros. Noves fora tudo isso e mais o que se disser, a tendência é uma reforma sem reforma, mudanças para continuar tudo como está. Marta ao léu Na lista das "surpresas" das mudanças ministeriais, começou a aparecer o nome do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante para o ministério da Educação, local que Fernando Haddad vai deixar vago para disputar, com a muleta de Lula, a prefeitura de SP. É tudo que Mercadante deseja : um ministério com muita verba, cheio de capilaridade, de enorme importância e visibilidade, bom para alavancar sua candidatura ao governo paulista em 2014. E é tudo que Marta Suplicy não gostará de ver. Depois de ser posta de lado por Lula na disputa pela sucessão de Kassab, a ex-prefeita e os "martistas" remanescentes sonhavam exatamente com a Educação para empurrá-la para uma candidatura ao Palácio dos Bandeirantes. Marta parece condenada por seu próprio partido e por seus "amigos" a passar um bom período na chuva e no sol da política, sem proteção. Ainda Fernando Pimentel A presidente Dilma não é nem a firme combatente à corrupção e falta de ética pública que alguns midiáticos querem tornar e nem uma condescendente com tais desvios. É o que se chama de "pragmática". Faz uns cálculos políticos de um lado e, de outro, acaba por escolher o que lhe parece mais fácil. O mineiro Pimentel bem que pode merecer os polpudos fees que recebeu no seu período pós-cargo público em Minas. Todavia, as explicações dadas para estes recebimentos elevados mostram que seus talentos permanecem desconhecidos para que se possa medir o merecimento da fortuna. Pimentel, José Dirceu e Palocci, para citar três próceres da esquerda brasileira, podem ser chamados de "burgueses afortunados" cujas virtudes nos negócios ainda precisam ser desvendadas pela investigação científica, já que a policial não produz resultados. Quatro mosqueteiros e um coringa Não são apenas os números medíocres das pesquisas eleitorais que deixam dúvidas em relação à candidatura própria dos tucanos em SP. Na verdade, os líderes partidários, mesmo aqueles que se dizem comprometidos com este ou aquele pretendente, reconhecem que falta um discurso para cada um dos candidatos (ou mosqueteiros sem rei). Um dos fundadores do PSDB diz mais : "Quando se discute a 'herança' de Mário Covas é sinal de que estamos num funeral". Por tudo isso, o Palácio dos Bandeirantes mantém bem aceso o diálogo com Kassab. A candidatura de Guilherme Afif Domingos pode até não agradar alguns palacianos, mas quando comparada aos "mosqueteiros", o "coringa" Afif parece bem melhor como candidato. Chalita, o ambicioso Sabe-se que as ambições do deputado Gabriel Chalita não são pequenas. Conta-se que mesmo antes de ter a expressiva votação para deputado Federal ele já especulava sobre a hipótese de um dia ser presidente da República, contaram a esta coluna colegas de faculdade em Lorena. Chalita, o escritor Na roda de ex-colegas estudantes de Chalita se faz a seguinte brincadeira : "o Gabriel escreveu mais livros do que leu". Na semana passada, o deputado Federal lançou mais um de seus livros : "Sócrates e Thomas More - Correspondências Imaginárias". Deve ser mais um best seller. Oposição de brincadeira Nas rodas dos bares da esquerda festiva dos anos 70, o gostoso era falar mal do governo da ditadura. Agora que a esquerda e direita não existem e os velhos esquerdistas viraram burgueses empedernidos, as rodas de amigos podem falar mal, não apenas do governo, mas também da oposição. Não há algo mais pálido na política brasileira que a oposição. Simplesmente porque esta de fato não existe. E a que existe parece clamar para aderir ao governo, incluso aí o mineiro Aécio Neves, a quem se atribui enormes chances de ser candidato à presidência da República. Aliás, os artigos do ex-governador na Folha de S.Paulo podem ser apontados como absolutamente distantes do debate dos grandes temas nacionais. Por tudo isso, os holofotes persistem próximos à sociologia do ex-presidente Fernando Henrique. Aos 80 anos ainda é a grande renovação da oposição brasileira. Prorrogação Por tantas assim, nada indica que a oposição oficial a Dilma, representada pelo PSDB, pelo PPS e pelo DEM sairá em 2012 do "ano sabático" que se concedeu em 2011, no qual se dedicou a espezinhar a si própria, em infindáveis disputas, e a encher a paciência da parte mais bem informada da sociedade brasileira que sabe que sem uma oposição firme e atuante a democracia latu sensu no país e a administração pública ficam capengas. Prorrogação - II ...já a oposição oficiosa, representada pelos partidos da base aliada, que tanto trabalho deu à presidente Dilma este ano, promete entrar, no ano que logo vai se iniciar, mais afiada do que nunca, tangida pela intermináveis disputadas por postos e cargos, de vários escalões, e pelas eleições municipais. Dilma, orçamento e vetos A presidente da República tem seu último embate no Congresso marcado para quinta-feira, dia 22 : a votação do Orçamento Geral do ano que vem. Como sempre, o documento sairá das mãos dos deputados e senadores engordado em sua previsão de receita e, em consequência, inchado nos gastos. Isto nunca foi problema para o governo. Ele fez no início do ano o chamado "contingenciamento" de despesas e suspende todos os gastos que considerar desnecessário. Entretanto, em ano eleitoral, uma coisa está incomodando Dilma : a insistência de deputados e senadores de aprovarem verbas para aumentos de algumas categorias e funcionários públicos, em especial no Judiciário (quase 15% para juízes, média de 56% para servidores) e ainda garantir um reajuste bem acima da inflação para os aposentados que recebem acima do salário mínimo. Quem ganha até o mínimo já tem 14,5% de aumento garantido a partir de janeiro. Político gosta de fazer esses favores em ano eleitoral. E há ainda o indisfarçado compromisso do PMDB com o STF de lutar pelo reajuste do Judiciário em troca do pronto restabelecimento do mandato de senador de Jader Barbalho. Dilma avisou que se correr risco de perder esses embates vai acionar seus mais fiéis para deixar a votação do Orçamento de 2012 para uma ocasião mais propícia. É possível tocar a administração alguns meses sem um Orçamento consolidado. A presidente, porém, poderia deixar o Congresso agir como quisesse e depois usar o seu poder de veto para bloquear os aumentos que julgar inconvenientes. Ela parece, contudo, estar no mesmo jogo dos parlamentares : não quer arcar com uma medida (corte de aumento de funcionários e aposentados) considerada impopular. Supremas questões judiciárias Por causa da briga por esse aumento e mais o caso Jader (pela visível barganha), declarações extemporâneas do ministro Lewandowski a respeito de possível prescrição de parte dos supostos crimes dos mensaleiros, e, ainda, por disputas de vacilações no CNJ, o Judiciário vai para suas férias regulamentares sob os olhares muito desconfiados da sociedade brasileira. Muito se diz que ele está se tornando muito político e nem sempre a política com P maiúsculo. 2011 : a crise é dos países ricos Estamos a viver a maior crise econômica desde o período pós-1929. Há pelo menos 35 milhões de desempregados nas maiores economias mundiais. A tipologia desta crise difere daquelas que presenciamos durante os anos 90 do século passado quando países como o Brasil, Argentina, México, Coréia do Sul, Tailândia, Indonésia e Rússia sofreram crises cambiais, fruto do elevado endividamento externo e interno e de modelos com taxas de juros fixas. Desta feita, a crise ocorre no capitalismo central e, apesar da conjunção de fatores semelhantes às da crise dos anos 90, as soluções não dependem de mudanças de "modelo", mas de garantias políticas para que medidas fiscais e monetárias sejam adotadas. Eleições nos EUA definirão rumo da crise Nos EUA, Obama mostrou-se, até agora, um anão político, incapaz de arregimentar na sociedade forças que sejam capazes de suportar mudanças estruturais na economia norte-americana, a começar pelas disfunções existentes no sistema financeiro. Além disso, suas políticas "keynesianas" encontram barreiras substantivas no Congresso, torneado por um esquisito "conservadorismo" que pode levar o país a não financiar as suas despesas do setor público. Nos EUA, o ano é eleitoral em 2012 e, neste caso, a briga das urnas vai dizer se o modelo keynesiano de recuperação - que já produz resultados em termos de elevação da atividade econômica - vai seguir em frente, como ocorreu com Roosevelt nos anos 30, ou se o "fiscalismo" republicano vai ser testado. Uma rápida olhada nos candidatos à presidência do Império, incluindo Barack Obama, não é dos mais alentadores. Quem viver, verá. Europa : indefinições germânicas Na Europa, a coisa é bem mais complicada. Os "interesses nacionais" se misturam a um modelo confederativo sem estruturas suficientes para acomodar políticas necessárias à gestão fiscal e, mais importante no momento, a gestão monetária. O jogo do poder acaba por dividir o Velho Continente entre "ricos" e "pobres", "centrais" e "periféricos". Angela Merkel e Nicolas Sarkozy parecem gostar de desfilar perante os fotógrafos como líderes da Europa, cheio de regras a impor às nações que seriam seus pares. Não passam de míopes políticos a transitar por estradas econômicas inviáveis que faz o mundo discutir seriamente o colapso da moeda de 17 países. Nem a história política e nem as sábias análises de John Maynard Keynes lhes abrem os olhos. 2011 foi mais que um ano difícil. Foi um ano em que a Política (com "P" maiúsculo) fracassou para a solução de uma crise que alimenta a desesperança de muitos em meio a processos de especulação e ausência de regulação em favor de um capitalismo progressista. A Europa em 2012 Neste espaço sempre fomos cautelosos em fazer previsões. Por uma razão simples : estas estão fadadas ao erro. Preferimos analisar processos e deles extrair tendências. Na semana passada, afirmamos que houve uma mudança importante na crise europeia. Ao que parece a ação do Banco Central Europeu (BCE), num misto de "emprestador de última instância" e de "fiscal orçamentário de Berlim", pode resultar na extinção paulatina da "crise aguda" de crédito. Todavia, restará uma vasta "crise crônica" que tornará o desempenho econômico da Europa a soma de letargia econômica com momentos de agonia. Os países meridionais do continente terão de rolar bilhões e bilhões de dívidas soberanas. Neste cenário as mesas de operação do sistema financeiro vão pedir spreads elevados para financiar os países. Enquanto isso, Berlim reclamará reformas fiscais e estruturais que demoram anos para serem viabilizadas. Em singelas palavras : os países meridionais vão ter de apagar incêndios enquanto Berlim quer discutir as causas do incêndio. O BCE deve moderar este jogo perigoso até o limite que impeça o colapso do euro, mas sem resolver o problema básico do crescimento, do desemprego e, logicamente, do endividamento. Resta saber se a política suporta esse perverso jogo. De olho na China É possível que a China, promovida nos últimos anos a "motor da economia mundial" por economistas de várias vertentes, seja um fator de risco enorme, muito embora não esteja diariamente em pauta. É difícil imaginar que o país possa sustentar nos próximos anos uma taxa de investimento de 40% do PIB, o dobro da taxa brasileira, sem desequilíbrios e formação de "bolhas especulativas". Há quem acredite nisso - até mesmo já acreditaram no fim da história. O país tem a virtude de ser credor de todo o mundo e ter reservas elevadas, como é o caso do Brasil. De outro lado, é um país pouco transparente, comandado por uma estranha classe de burocratas comunistas, e que pode estar escondendo "esqueletos" no armário, tais como a subcapitalização do sistema financeiro e a inadimplência do setor de construção civil. Talvez seja impossível analisar tantas vertentes de riscos na China comunista. Todavia, há o concreto risco de o mundo estar acreditando demasiadamente que esta estrela do oriente seja um sustentáculo sólido de brilho eterno. Protecionismo em alta A OMC já reclama do Brasil. O protecionismo está à solta por aqui. Há duas semanas houve uma reunião entre 50 grandes empresários e os ministros da área econômica, incluído o ministro do Desenvolvimento, o abastado consultor Fernando Pimentel. O que se viu foi o seguinte : de um lado, os empresários pedem protecionismo tarifário, não-tarifário e câmbio desvalorizado. De outro lado, assumem pouquíssimos compromissos com a competitividade externa e alta produtividade. O que quer a elite econômica brasileira é uma reserva de mercado para aqui vender e poucos compromissos para vender lá fora. Tudo às custas do consumidor daqui. Para este, um sonoro "enquadre-se" para não dizer palavra mais grosseira. Radar NA REAL 16/12/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3022 baixa baixa - REAL 1,8625 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.096,90 estável/alta estável - S&P 500 1.219,66 estável/alta alta - NASDAQ 2.555,33 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Furos na telefonia Apontando graves irregularidades no relacionamento da Anatel com as operadoras de telefonia no Brasil e ainda a violação dos direitos dos usuários entre outros problemas, o deputado Federal Nelson Marchezan Filho entrou com uma representação em Brasília, na 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, contra essas empresas. São 54 páginas de duras acusações. Por exemplo : apesar do elevado índice de Procedimentos de Apuração por Descumprimento de Obrigação (6.921 em 2010), num total de cerca de R$ 136 milhões em multas, apenas R$ 10 milhões, menos de 8% foram pagas de fato. É por essa e tantas que a Anatel é vista como uma agência reguladora (não é a única) caolha : olha quase nunca para o lado do consumidor do serviço _________
terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 181

Da crise aguda à crise crônica I Não existe nada mais terrível em economia que a crise cambial somada à de crédito. Eis uma combinação demoníaca. As crises cambiais normalmente são agudas e, após certo tempo, tem um desfecho evidente : ou cessam ou provocam o colapso de um modelo. O Brasil cessou sua mais recente crise cambial no governo FHC quando saiu da taxa fixa. Por sua vez, a Argentina entrou em colapso quando extinguiu o seu currency board latino-americano. Eis dois exemplos ilustrativos. Os europeus estão fazendo suas escolhas nestes últimos meses. Neste último fim de semana decidiram ampliar o papel do Banco Central Europeu (BCE) provendo-lhe o papel de "emprestador de última instância". O que isto significa ? Expandir a liquidez e o crédito quando o setor privado não o faz. A despeito da análise de uma enorme parcela da mídia local e internacional, este passo foi relevante. Retirou os europeus do imobilismo, sobretudo a Alemanha e sua líder, as marcas registradas da incompetência para lidar com crises como a atual. Da crise aguda à crise crônica II De outro lado, é preciso reconhecer que a possibilidade concreta de que não haja no Velho Continente um colapso de crédito e da moeda, não implicará uma mudança substancial no quadro recessivo de lá. Por duas razões básicas : (i) a "operação" estruturada pela França e Alemanha que resultou num papel mais ativo do BCE do ponto de vista monetário (que permite a assistência de liquidez) prevê uma contenção fiscal de curto, médio e longo prazo. Em outras palavras, o que a dupla Merkel-Sarkozy fez foi pagar o papagaio dos países endividados no banco e depois pedir para que eles vendessem suas roupas para pagá-los. Retiraram demanda futura em troca de recursos no curto prazo. Basta dar uma espiada nos números de emprego do continente para verificar que o pedido franco-alemão vai estimular a recessão e não a atividade econômica. De outro lado, (ii) a dinâmica política da Europa continuará confusa, pois os países em recessão vão se tornar mais instáveis politicamente. Em alguma hora, os "burocratas" que estão instalados em Roma, Madri e Atenas hão de ser contestados pelas hordas de desempregados que rodeiam os parlamentos. Da crise aguda à crise crônica III Considerando que o pior já passou em termos de liquidez e que a recessão vai continuar, talvez por muito tempo, forma-se um cenário cheio de paradoxos, no qual haverá um certo otimismo no curto prazo, onde haverá recuperação do valor dos ativos reais e financeiros, das ações aos títulos de crédito privados e públicos, e no médio prazo a velha Europa vai ficar cambaleando em termos de consistência da atividade econômica. Para o Brasil e o mundo, este cenário será mais razoável que o atual e, ao mesmo tempo, não permitirá que a expansão seja muito elevada. Será modesta e consistente com a modéstia das soluções políticas da crise. Assim sendo, 2012 será, a nosso ver, um ano bem melhor que este que se finda, mas será muito distante a mínima ideia da abundância que prevaleceu entre meados dos anos 90 e o final de 2007. Sejamos, portanto, otimistas, mas limitados pela realidade do poder fático da recessão que há de continuar contaminando os negócios e as sociedades dos países centrais e periféricos. EUA : a demanda mostra-se crescente Os americanos continuam amargurados, especialmente os mais pobres (que são muitos) daquele império. Todavia, a leitura "técnica" dos números de consumo do país permite que se fale em uma emergente recuperação. A massa salarial mostra-se estabilizada, ou melhor, levemente crescente, as vendas de carros crescem com certa consistência, o consumo de energia está se elevando, as vendas de bens básicos e de não-duráveis cresceu bem (uma surpresa !) e a demanda de crédito melhorou muito. Não à toa, os lucros corporativos estão em bons patamares e as ações estão mais demandadas pelos investidores. A decisão do Fed e do Governo de permitir que a inflação suba é sábia. É deste processo que nasce a recuperação, no melhor estilo de Keynes. É lógico que processos como este geram desequilíbrios, mas governar é uma tarefa que exige escolhas e, no caso, a escolha foi correta : o maior risco é a deflação e o desemprego e é preciso cuidar disso primeiramente. Depois, calçado em suporte político originado das urnas do ano que vem, a sociedade vai demandar novas soluções. Resultado : do nosso ponto de vista os EUA entraram num ciclo positivo, mesmo que inicial, e o melhor sinal de que isso deve ser verdade é que as ações estão em alta e assim deverão permanecer por um bom tempo. Quem viver (ou comprar), verá (ou lucrará). Brasil : cenário estranho, não é mesmo ? A estagnação do PIB no terceiro trimestre não é, como disse o ministro da Fazenda Guido Mantega, uma "surpresa". As restrições do crédito, a alta dos juros básicos no final de 2010 e, obviamente, a crise externa, foram fatores de monta para reduzir o consumo por estes lados. Quanto ao investimento, este mantém-se modesto, por razões estruturais, para não dizer "históricas". Neste contexto, a ação do governo ao expandir o crédito (de novo) e reduzir os juros básicos faz todo o sentido. Todavia, convenhamos que a inflação está elevada (6,5%) e a indexação (sim ela existe !) ainda há de mantê-la incômoda em 2012, além de outros fatores sazonais (preços dos serviços, educação e alimentos). Este cenário, portanto, poderia ser simplificadamente denominado de "estagflação". Isto ocorre pelas razões que elencamos logo acima, mas também pela incapacidade da atual administração de estruturar um plano de gestão de investimentos que mova a demanda para cima, sem que se force muito o consumo para o alto. Assim, a inflação poderia ficar contida pela modesta demanda por bens de consumo e a atividade ganharia força por meio dos investimentos em infraestrutura e aumento de produção, com efeitos positivos sobre a produtividade do país. O que não registramos, porém, é uma dinâmica governamental que crie as condições para isso. Em outras palavras : falta consistência na administração da economia e liderança política para criar fatos e gerar expectativas positivas. Dilma : ministérios, mistérios e ação I Quando disse que a parada da economia brasileira no terceiro trimestre foi um "serviço" brasileiro, para justificar o argumento de que "nos fizemos e agora podemos" desfazer, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esqueceu o essencial : o BC desaqueceu a economia até levá-la ao ponto zero, para segurar a inflação, que vinha aquecida pela festa fiscal eleitoral de 2010. Também contribuiu para esse esfriamento o enxugamento dos gastos que Mantega, contrariando seus naturais pendores - e também o de Dilma no passado - passou a promover este ano. Agora, que a dose pareceu excessiva, corre-se para combater o prejuízo. Mas com o agravante de a inflação ter voltado a incomodar. A dúvida é : o governo está com armas totalmente afiadas entre o BC e o ministério da Fazenda ? Dilma : ministérios, mistérios e ação II Um dos pontos nevrálgicos desta questão continua sendo a disciplina fiscal do setor público, necessária para que o BC possa cortar os juros e as amarras ao crédito sem medo da persistência da inflação. Pelos dados disponíveis, o propósito - um superávit fiscal de 3,1% do PIB será alcançado. Sem necessidade das mágicas de 2010 que acabaram ajudando a empurrar a inflação de 2011 para perto dos 6,5% do limite superior da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Porém, como havia sido apontado aqui neste espaço em outras ocasiões, este superávit, se não teve mágicas, está sendo alcançado de uma forma, digamos, não muito religiosa. Vem especialmente de um crescimento de cerca de 12% reais da arrecadação tributária e de uma substancial redução dos investimentos. Até novembro, os investimentos Federais caíram R$ 16,5 bilhões até novembro em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo levantamento do site "Contas Abertas" as inversões Federais caíram em todos os níveis, enquanto as despesas de pessoal e de custeio subiram em termos em relação a 2010. Para reativar a economia até chegar em 2012 a um crescimento próximo de 5%, o governo terá de inverter esse mix de sua política fiscal. Há condições para tal ? Dilma : ministérios, mistérios e ações III É nesse ponto que entram as conversas, agora mais em surdina em Brasília, também aqui comentadas, de que a presidente Dilma pretende ir em janeiro um pouco além de uma simples reforma ministerial. Daria um pontapé numa reforma administrativa para reduzir paulatinamente o custo da máquina Federal e liberar recursos para investimentos. Faria parte dessa política as pressões sobre o Congresso para votar um Orçamento - até o dia 22, mais apertado em gastos supérfluos e sem aumentos salariais para servidores públicos nem correção das aposentadorias para quem recebe do INSS acima do salário mínimo. Surgem então novas dúvidas, a seguir. Dilma : ministérios, mistérios e ação IV Em ano eleitoral, com uma base ávida e pantagruélica, com seu próprio partido com projetos de expansão nas urnas, parece difícil que a presidente, sem pôr em risco o que aqui se chama falsamente de governabilidade, consiga promover um enxugamento real da máquina que deixe sobras substanciais para aumentar os investimentos do governo. Por isso mesmo, depois de ter alimentado a mídia de informações sobre diminuição do número de ministérios e que tais, os porta-vozes oficiais fecharam-se, tudo começou a virar um mistério. A cada informação nesse sentido, os aliados entravam em pânico e abriam suas panelas de pressão. Há indicações seguras de que até Lula entrou em campo e não foi para incentivar a limpeza. Dilma : ministérios, mistérios e ação - V Outro empecilho ao crescimento dos investimentos (tido por bons observadores como responsável também pelo fraco desempenho dos gastos oficiais deste ano) está no modus operandi do governo sob Dilma. Centralizadora, detalhista, de temperamento irascível quando algo não está exatamente como ela quer que esteja, a presidente, diz um observador privilegiado, inibe seus auxiliares. Não há quem se atreva levar para ela propostas mais audaciosas, toca-se, mesmo assim com muito cuidado, o burocrático, o que é sabido e acertado. Os temas - e as opções de gastos - só entram na agenda governamental depois que passam no radar da presidente. Por isso, os planos demoram, os investimentos param e quando os projetos surgem, saem capengas porque são analisados na correria. Esta semana mesmo teremos uma amostra disso : até depois de amanhã, o governo deveria apresentar os detalhes de uma mal chamada "política automotiva", anunciada há mais de três meses quando foi aumentado o IPI dos carros importados. Não sairá mais nesta data. Ou muda Dilma ou fica a economia com uma perna capenga ? Os oferecidos Do Padre Antonio Vieira no "Sermão da terceira dominga do Advento" : "... em todo o reino bem governado não devem os homens pretender os ofícios, senão os ofícios pretender os homens". Na sua reforma Dilma quase só se depara com multidões de oferecidos. Pergunta econômica Permitirá o governo que a taxa de câmbio se valorize novamente com o objetivo de controlar a inflação alta ? É difícil responder a esta pergunta, mesmo porque a formação da taxa cambial é endógena (feita pelo mercado), e muito dependente dos preços externos das commodities e da taxa de juros interna comparada a externa (que é negativa em termos reais, descontando-se a inflação internacional). Há que se notar que, independente de como o governo agirá no curto prazo, a taxa de câmbio atual é estruturalmente insuficiente para viabilizar a competitividade industrial do país. A taxa de câmbio é desindustrializante. Não há produtividade possível que possa generalizadamente ser praticada na economia brasileira, que nos torne um player industrial competitivo frente aos nossos pares, ditos "emergentes", e os países industrializados. A discussão é grande sobre o tema, mas quem está ganhando o jogo é quem mantém a taxa de câmbio desvalorizada. São os casos da China e da Índia. Radar NA REAL 9/12/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3241 estável alta - REAL 1,8205 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.236,46 estável/alta estável - S&P 500 1.255,19 estável/alta alta - NASDAQ 2.646,85 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 180

Ufa ! Enfim, o Banco Central Europeu Em matéria econômica não existe pior crise que a cambial. A dúvida sobre a credibilidade, a estabilidade e a solvência da taxa de câmbio e seus correspondentes ativos financeiros não pode persistir por longos períodos sob pena de instalar ou aumentar a dinâmica dos colapsos financeiros. Se a moeda "sob contestação dos agentes" for uma das mais transacionadas do mundo, a crise é muito maior. Embora esta assertiva seja amplamente conhecida pelos economistas e não-economistas, não deixa de ser surpreendente a irresponsabilidade dos líderes europeus em relação ao tema, sobretudo no caso da chanceler alemã Angela Merkel que quer impor modelos fiscais em meio a um turbilhão cambial. É como se os bombeiros ficassem discutindo sobre as origens de um incêndio em meio a sua propagação. Nesta hora, o que começa a aparecer no horizonte é a perspectiva de que o Banco Central Europeu (BCE) irá fazer uma intervenção da ordem de US$ 1 trilhão para aumentar a solvência de países e bancos. Talvez esta seja, de fato, a única medida cabível em meio às especulações de que o euro irá entrar em colapso. Consequências da intervenção No caso da Europa, é sempre bom ter certeza sobre o contexto e a magnitude da intervenção do BCE nos mercados antes de avançarmos em prognósticos. No próximo dia 9, a cúpula da União Européia irá se reunir para (mais uma vez) discutir a crise no Velho Continente. Até lá é possível que o BCE já esteja em plena ação. Este pacote, se for mesmo de US$ 1 trilhão, parece ser capaz de provocar a estabilização financeira em todo o continente, especialmente na Itália e Espanha. Esta estabilização é condição sine qua non para que o longo rescaldo relativo à recessão, desemprego e melhoria das contas fiscais possa andar para frente. Ainda sobrará muita dor social e econômica aos países, mas a superação da corrente especulação deve favorecer a valorização dos ativos (ações e títulos de renda fixa), bem como tornar menos neurótica as operações usuais dos agentes. O mundo agradece e torce para que dê certo. Os EUA devem ser os mais beneficiados A economia norte-americana representa cerca de 1/4 do PIB mundial e, por ser muito aberta, é muito dependente do consumo mundial e de seu próprio consumo (que, por sua, vez representa 2/3 do PIB norte-americano), deve ser a maior beneficiária da estabilização europeia. Além disso, já existem sinais iniciais de que o consumo das famílias americanas está começando a crescer. Ainda não dá para estarmos certos de que se trata de um novo ciclo econômico que se inicia, mas, como já afirmamos há um mês, as chances de reversão são concretas. Note-se que não estamos dizendo que devemos sair por aí soltando fogos. O que estamos dizendo é que o pior parece estar passando. É hora de não nos conformarmos com o pessimismo reinante, mas o de olharmos para o futuro e tentarmos extrair oportunidades (hoje) dele. Ainda a China Já repisamos muitas vezes nesta coluna que os riscos da China são múltiplos e não há transparência suficiente para se chegar a um diagnóstico da saúde da economia chinesa e, muito menos, sobre a concreta possibilidade da existência de "bolhas especulativas" naquela economia. De toda a forma, devemos reconhecer que é quase impossível uma economia sustentar uma taxa de investimento acima de 40% do PIB - no Brasil esta taxa é a metade - sem que existam desequilíbrios no sistema de crédito e de preços. É preciso estar atento para aquele lado do mundo, sobretudo o Brasil que é altamente dependente das exportações de commodities. Brasil, devagar no estrutural e tranquilo no conjuntural Se colecionarmos as reformas pelas quais o Brasil passou nos últimos 15 anos, verificaremos que estas são, no mínimo, modestas frente aos desafios que necessitam ser ultrapassados para que caminhemos para o desenvolvimento pleno de nosso país. Há uma leniência em relação aos investimentos em infraestrutura, tecnologia, educação, logística, etc. Não dá para nos enganarmos e cairmos no "conto da carochinha" de que somos o melhor país do mundo, conforme alguns daqui e de lá de fora imaginam. Falta-nos um plano estratégico de longo prazo para conquistarmos pontos na direção de um país mais equilibrado do ponto de vista social e econômico. De outro lado, é preciso reconhecer que os riscos de curto prazo são perfeitamente manobráveis, inclusive do ponto de vista fiscal (contas públicas), monetário (especialmente, no caso da inflação) e cambial (cujas reservas externas são significativos). Os juros básicos caminham para a queda - talvez estrutural -, mas os juros bancários ainda estão em patamares mundialmente recordes. Se a Europa se acalmar, o Natal pode ser mais generoso que o esperado. Poderemos comemorar. Sem entusiasmo, no entanto. Pacote anticrise Sinceramente, pouco temos a comentar sobre o "pacote anticrise" anunciado pelo ministro da Fazenda Guido Mantega, na semana passada. Criar expectativas ou desfazê-las é parte da tarefa de governar. Lançar mão de medidas pouco claras em relação aos objetivos e menos claras ainda, em relação aos meios, é algo indesejável de se ver emanado do governo. Pois foi exatamente isso que se viu em relação ao referido pacote : inepto para evitar crises e insuficiente para criar expectativas. A única observação que podemos fazer é que o governo parece adotar um ritmo bem gradualista para se colocar contra a crise. Esta prudência é positiva, mas é preciso não errar na dose e produzir "um nada" em termos de expectativas. Radar NA REAL Acreditamos que o cenário de curto prazo pode sofrer uma sensível alteração neste final de ano com um maior otimismo face às expectativas anteriores. É preciso perceber se, de fato, os europeus vão conseguir introduzir medidas monetárias e cambiais suficientes para estabilizar as expectativas dos agentes. É cedo para dizer, mas acreditamos que os diversos segmentos do mercado financeiro hão de apresentar um desempenho menos estável e mais construtivo. Relativamente ao médio prazo ainda não somos capazes de recomendar com clareza uma estratégia. Haveremos de fazê-lo em futuro breve. 2/12/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3472 estável alta - REAL 1,7821 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.885,84 estável/alta estável - S&P 500 1.244,28 estável/alta estável - NASDAQ 2.623,93 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Dilma, uma autora à procura de um estilo A publicação recente de dois livros com histórias da presidente da República, uma feliz conveniência tanto do mercado editorial quanto do mercado político, coincidentemente ou não, faz parte de um esforço de criar uma identidade própria de primeira mulher a chegar ao comando supremo da nação brasileira. Contribui para reforçar as qualidades atribuídas a ela de boa gerente, durona (pero sin perder la ternura jamas), intransigente quando necessário, da faxineira intolerante com os "malfeitos". Esta fixação de estilo é um necessidade também do mercado do poder, para retirá-la das sombras, reais e/ou imaginárias, que pairam ainda sobre ela : do mentor Lula, do PT, dos partidos aliados. Realidade ou não, o certo é que, por todas essas vicissitudes, ela parece ainda não ter nas mãos todas as rédeas do poder. Vacilações As vacilações que a presidente demonstrou para demitir alguns ministros encalacrados em "malfeitorias" é um exemplo de que as rédeas do poder ainda estão frouxas. As dificuldades que ela enfrenta com os aliados, outra. Lula, por exemplo, nem mesmo no auge do mensalão, viu tantas pedras em seu caminho no Legislativo. Dilma é uma personagem em busca de um ator. Sua grande oportunidade é a reforma ministerial. Em tempo Os livros referidos na abertura desta nota são : 1. "O cofre do dr. Ruy", de Tom Cardoso, editora Civilização Brasileira. 2. "A vida quer é coragem", de Ricardo Amaral, editora Primeiro Plano. Expectativa demais Pelo que os porta-vozes "ocultos" da presidente estão prometendo para a reforma ministerial de janeiro, Dilma só reforçará sua imagem se atender a quatro requisitos : 1. Trocar ministros para além dos que precisam ser trocados por algum tipo de suspeita de "malfeitos" e insuficiência de desempenho. 2. Fazer uma dança de cadeiras no ministério entre os partidos e ainda incorporando atores não partidários à equipe. 3. Acabar com os feudos ministeriais e as entregas de porteira fechada. 4. Reduzir de forma significativa o número de ministérios. Todas essas mudanças, apregoadas como em andamento nos bastidores de Brasília, atingem diretamente o "negócio da política". Se não se realizarem, vão frustrar expectativas. Tal qual o pacote "anticrise" do governo na semana passada. Um é um, o outro é o outro Análise de um experiente político de Brasília da chamada base governista : "Lula conquistava pela simpatia, pela lábia, pela capacidade de conversar e negociar. Na hora que quis impor, tropeçou na CPMF. A linguagem da Dilma é só da vontade dela. Lula dava liga. Dá para ver que falta um mínimo de coesão na base aliada e no próprio ministério. Lá está cada um por si. Tem de tropeçar". Quem quiser que acredite É certo que estamos na época do Natal, mas mesmo os que acreditam no bom velhinho estão com dificuldades de acreditar que o senador José Sarney, com mais de 50 anos na praia da política, cometeu um cochilo na semana passada, ao contribuir com a oposição para retardar no Senado a votação do projeto que prorroga até 2015 a vigência da DRU (Desvinculação das Receitas da União). O PMDB, insatisfeito sempre com verbas e ministérios, às vésperas de mudanças na equipe de Dilma, exercita seu melhor estilo assopra (com Michel Temer, a apaziguador da República) e morde (com Sarney, Renan Calheiros, Henrique Alves, pero sin perder la ternura jamás). Se colar... Na esteira desse peemedebismo de resultados, os senadores mineiros Clésio Andrade (PR, em transição para o PMDB) e Zezé Perrela (PDT) assinaram a proposta da oposição com emendas ao projeto da DRU e avisaram, em nota oficial, que poderão retirar o apoio se Dilma não der prioridade máxima a alguns projetos do interesse de Minas. As municipais - I Não se sabe se é sonho ou fantasia apenas, mas os PSDBs paulista e paulistano começaram a ficar animadinhos com a possibilidade de José Serra negar o que vem jurando até agora e aceitar concorrer à prefeitura de São Paulo. O fantasma de uma derrota na capital paulista, menos pela força de Fernando Haddad e mais por suas fraquezas e idiossincrasias internas passou a ronda para valer o sono do tucanato. As municipais - II Com Lula articulando no momento em ritmo mais "piano" e à distância, o PT já começou a perceber que terá dificuldades de atrair todos ou a maior parte dos parceiros Federais para cidades-chaves nas eleições municipais. Sem Lula, que diz e faz o PT acontecer, os aliados estão desconfiados de que o partido de Dilma vai querer sempre comandar as melhores fatias. Ninguém é de ninguém Aliás, a aliança governista sofre desse mal : ninguém confia inteiramente em ninguém. Basta conversar com um peemedebista em relação aos petistas com a garantia de anonimato da informação ou auscultar um petista a respeito agora, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e seu PSB. E assim por diante. Ademais, a oposição somente não padece do mesmo mal nas dimensões do governismo porque está em "estado de necessidade" o que a faz ir mais ou menos unida para as eleições de 2012 (onde der) e 2014.  Ronaldo "Fenômeno", CBF e governo Comenta-se na imprensa que o presidente da CBF, em vista de possíveis denúncias de corrupção vindas do exterior, mais exatamente da sede da FIFA na Suíça, estaria se "blindando" por meio de "nomes populares" sabiamente colocados ao redor de seu trono. Ora, não sabemos se uma estratégia dessas dá certo. Mesmo com inserções televisivas de comerciais dando conta da eficiência da CBF na gestão desta "coisa nossa" chamada futebol, a pergunta que fica é : e o governo ? Como vai se comportar o governo sabendo que o presidente da CBF, organizadora local da Copa, está envolvo por vastos mantos que obscurecem suas atividades ? Mais ainda : Ronaldo "Fenômeno" e seus conflitos de interesse afetam em alguma medida o interesse público ? Vejamos as próximas trocas de passe na cartolagem do futebol... Aeroportos : medidas desmedidas As autoridades que regulam aeroportos e o setor aéreo brasileiro (ANAC, Infraero, etc.) anunciaram há duas semanas um plano para evitar o "caos aéreo" no Brasil. Tudo funcionaria melhor em março do ano que vem quando o Carnaval e as férias já passaram. Acredite se quiser. ____________
terça-feira, 29 de novembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 179

Europa : BCE vai entrar no jogo A generalização da crise no Velho Continente já é evidente e, assim sendo, os policy makers tem motivação extra para agir, coisa que não é muito do feitio dos europeus. O melancólico encontro do final da semana passada entre a chanceler Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy mais uma vez levou à dúvidas, mas houve avanço : a despeito da resistência da alemã parece que finalmente o Banco Central Europeu vai pôr as mangas de fora. Com efeito : poderá exercer o seu decisivo papel de "emprestador de última instância" e, desta forma, injetar nas combalidas economias meridionais a liquidez que lhes falta neste período de turbulência. Há dois anos o debate acerca do tema se esvai pela incompetência política dos principais países europeus em lidar com os problemas de sua própria moeda. Agora, parece que a gestão do BCE se encaminhará para o seu natural processo em tempos de crise. Europa : união fiscal Tanto os franceses quanto os alemães tem soltado informações incompletas que a União Europeia estuda a consolidação fiscal dos países membros. Trata-se de informação relevante e positiva : "uma moeda e uma só dívida" faz todo o sentido e evitaria muito da contaminação que ora se verifica. Obviamente, em se tratando de Europa e de assunto tão complexo o prazo de implementação é de anos e não meses. Até porque isso resultará numa perda substantiva de soberania de cada país. Os políticos estão dispostos a fazê-lo ? Por tudo isso, é bom não apostar neste assunto como pressuposto para melhorar o conturbado momento pelo qual passa a economia continental. A solução no curto prazo é monetária : injetar liquidez e esperar que a inflação suba um pouco. O resto é conversa para diplomatas e políticos nos próximos anos. Ação de Graças, graças a Deus ! As vendas do mais importante feriado dos EUA, o dia de Ação de Graças, na semana passada foram da ordem de US$ 52,4 bi, algo como 16% superiores ao ano passado. Trata-se de um resultado espetacular e que nenhum economista neurologicamente equilibrado poderia prever. Obviamente, quando um fato destes ocorre, os analistas se socorrem das mais variadas explicações as quais, na maioria das vezes, servem a justificar os próprios erros de avaliação. De toda a forma, vamos ao que interessa : estas vendas podem ser um sinal de reversão das expectativas negativas para o consumo. Não se pode desprezar o fato de ser apenas UM indicador. Da mesma forma, não se pode esquecer que se trata de um dado importantíssimo nos EUA, pois revela o animus da sociedade em relação ao ano que vem, num país no qual o desemprego gravita em torno de 9% da sua mão de obra ativa. Abram os olhos para a China Já comentamos aqui neste espaço alguns aspectos sobre a China. Na semana passada, o governo comunista de Pequim lançou uma série de medidas de estímulo econômico, especialmente para o setor de construção civil. Este é responsável pelo menos por 3% do crescimento anual do país (entre 8% e 9%). Dificilmente, a China nos próximos anos manterá uma taxa de investimento da ordem de 40% de seu PIB. A improbabilidade não é apenas estatística de vez que pode estar se formando uma imensa "bolha de investimento" no país. Num país onde a transparência depende de um governo forte, comunista e central, estes riscos tendem a ser exacerbados. Os agentes econômicos sabem disso e, como já vimos nas dezenas de crises dos últimos dez anos, o mercado está longe de ser perfeito. No Brasil, pouca informação e algumas "desconfianças" Rigorosamente, nada de muito importante ocorreu nas últimas semanas que dê elementos novos relativamente às tendências consolidadas (inflação alta, desaceleração econômica relevante, pleno emprego e confiança alta e estável, etc.). Na imprensa tem saído, vez por outra, informações dando conta de um "pacote contra a crise" que estaria em gestão na Fazenda por estímulo do Palácio do Planalto. É preciso que se diga que faz todo o sentido que o governo se prepare para um cenário mais turbulento, mesmo que este não venha a ocorrer. De outro lado, é preciso que não se gere mais desequilíbrio em meio a um mundo de desequilíbrios. Pois bem : a maior e mais importante atuação que o governo pode protagonizar no curto prazo está no campo monetário. Trata-se de uma redução mais brusca da taxa de juros básica, ainda neste final do ano ou logo na virada de 2012. Ademais, a expansão do crédito também pode ser contemplada de forma mais imediata. Em ambos os casos os riscos existem : (i) do lado dos juros, trata-se da inflação, ainda num patamar desconfortável e (ii) do lado do crédito, o risco de tornar menos hígido o sistema financeiro num momento em que todos no mundo estão de olho neste item.Radar NA REAL 25/11/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3343 estável alta - REAL 1,8540 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.894,51 estável estável - S&P 500 1.158,67 estável estável - NASDAQ 2.441,51 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Dilma e o ministério : o desejo e o possível As reações dos aliados, nada públicas por motivos óbvios, não foram nada simpáticas. Mesmo assim, porta-vozes não oficiais da presidente Dilma continuam assegurando, "à boca pequena" como se dizia antigamente, que ela não vai se contentar apenas em trocar alguns ministros em janeiro, uns por inadequação gerencial, outros por isso e também por "malfeitorias". Dilma fará também um ajuste mais fino da máquina ministerial. Vertentes da mudança ministerial A mudança do ministério da presidente, segundo esses "bochichos", teria três vertentes : 1. Livrar o governo de ministros problemáticos, segundo os critérios de eficiência e/ou temeridade na condução da pasta. 2. Eliminar o sistema de "capitanias hereditárias", instalada nos últimos tempos, em que cada ministério é feudo de um partido e nele planta suas raízes, a tal porteira fechada. Haveria rodízio de ministérios entre os partidos aliados e nem toda a equipe dos escalões superiores de uma pasta será do mesmo time do ministro. A ocasião seria aproveitada também para rever o peso de cada aliado no governo. 3. O mais importante : cairia o número de ministros e de secretarias com tal status. É voz (sem cara) corrente que o ministério da Pesca vai virar secretaria ou coisa parecida no ministério da Agricultura, o dos Portos seria incorporado pelo Transportes e as Secretarias de Direitos Humanos, da Mulher e da Igualdade Racial virariam uma só. Alguns mais audaciosos falam também num ministério da Infraestrutura (com Transportes e Comunicações) e até na fusão de Cultura, Turismo e Esportes num guarda-chuva único. Uma revolução que está deixando o mundo político literalmente de cabelos em pé. Imagine-se o PT perder de uma só vez três ou quatro postos. Ou o PMDB ver sua cota encolher... A impressão é que Dilma lança balões de ensaio de seus desejos (bons) para testar o possível. Apoio e obstáculos As intenções reformadoras da presidente ganharam um reforço de peso semana passada quando o empresário Jorge Gerdau, escolhido por Dilma para comandar a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do Governo Federal, tirou a caixa de ferramentas para atingir a ineficiência de Brasília e adjacências. Gerdau resumiu a ópera bufa, ao dizer, sucintamente, que é impossível administrar com 40 ministérios (na realidade são 38) e com mais de 23 mil cargos de confiança, de livre nomeação. Diz-se também que o vice presidente da República, Michel Temer, contrariando o DNA do partido do qual é presidente licenciado e hoje maior expressão política, o PMDB também defende essa dieta de emagrecimento Federal. Na outra ponta, há uma montanha rochosa com escarpas traiçoeiras - os partidos da base aliada, que não engolirão com facilidade ter seus cartórios eleitorais reduzidos, mormente em um ano de urnas eletrônicas. E uma incógnita : o que pensa o presidente Lula de tudo isso, ele que é o pai, a mãe e o avô desse esquema que sustenta politicamente o governo Dilma. All the world Em um texto luminoso na edição de domingo do "Estadão" a respeito da ex-primeira dama da França, Danielle Mitterrand, falecida na semana passada, o jornalista Gilles Lapouge, correspondente do jornal em Paris, deu a mais completa e sucinta definição do mundo de hoje em todos os quadrantes do universo : "...hipócrita, embusteiro, covarde, conformista". Algo a acrescentar no mundo dos trópicos tupiniquins, com suas mesquinhas disputas por cargos e benesses, tão bem caracterizadas nos episódios envolvendo o ministério do Trabalho e o ministério das Cidades ? Em nível superior É de solução muito mais delicada do que todos os outros casos de "malfeitorias" anteriores, tanto os que geraram as demissões de cinco ministros, o episódio envolvendo o ministério das Cidades e a troca do projeto de BRT (ônibus em corredores exclusivo) por um de VLT (Veículo Leve sobre Trilho) no plano de mobilidade para a Copa de 2014 de Cuiabá/MT. As demissões anteriores, ou foram casos individuais (Palocci) ou de uso indevido dos ministérios (casos dos Transportes, Agricultura, Turismo e Esportes). Agora não, as mudanças no parecer técnico do ministério das Cidades, para justificar a troca de um projeto de R$ 500 mi por um outro que no final das contas vai custar o triplo, foram engendradas para compromissos políticos acertados em nível superior. Pode sobrar para algum bagrinho, mas o próprio ministro Mário Negromonte, por mais trapalhadas que possa ter cometido na gestão de seu ministério, nesse episódio foi apenas uma correia de transmissão de ordens. Noites de terror Se há outra coisa que abala o sono de pessoas em Brasília e de algumas que pelo menos formalmente e de corpo presente já não habitam o Planalto Central são os fios da intrincada meada da compra do Banco Panamericano pela CEF ainda no governo Lula e que a PF está desvendando, peça por peça. O script traçado para que tudo não passasse de uma operação normal, que teve seu momento mais delicado quando dona Maria Fernanda deixou a presidência da CEF, já com Dilma e sem uma explicação convincente, está ameaçando desandar pela eficiência dos agentes Federais. Não se combinou com os russos. Anomia, anemia E a oposição hein ? Continua sem saber o que quer, se é que quer alguma coisa a não ser algumas das migalhas do Poder Público. Em um determinado momento mais duro do regime militar, quando o espaço do oposicionismo esteve perigosamente fechado, chegou-se a discutir entre eles a extinção do antigo MDB, hoje convertido no PMDB, sem nenhuma das virtudes do partido de Ulysses, Tancredo, Franco Montoro, etc. Felizmente a tese não foi para a frente e a persistência ajudou a abreviar o fim de uma ditadura que se pretendia eterna. Sem os mesmos problemas, a atual oposição parece ter optado pela inanição e, pelo andar do cabriolé e seus penachos de vaidade, para uma lenta extinção eleitoral, por absoluta irrelevância. ____________