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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 22 de novembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 178

A economia despenca, a política não alenta As eleições parlamentares na Espanha, que elegeram o líder do centro-direita Partido Popular Mariano Rajoy, foram frias e sem importantes divergências de visões e diagnósticos sobre a atual crise espanhola. O ganho de 186 cadeiras do PP no parlamento, contra 110 dos socialistas, uma vitória significativa, não esconde o fato de que os espanhóis continuam sem perspectivas de mudanças concretas no curto e médio prazo. A depressão na Europa não é apenas econômica. Ultrapassa os limites razoáveis dos efeitos sociais de uma crise. Faz surgir no horizonte um futuro obscuro, como ocorreu na primeira metade do século XX. Provavelmente a tragédia não alcance efeitos tão perversos, mas o risco é de as sociedades não acreditarem mais na política e na democracia como meio de sustentação do modo de convivência social no Velho Continente. Apenas para lembrar : a taxa de desemprego na Itália alcança 20%, na Espanha 23% e na Grécia pouco mais de 27%. Entre os jovens, mais de 40% na média destes países. Europa e lições para o Brasil Tem-se atribuído à crise econômica os ventos, com velocidade quase de furacão, que têm varrido diversos governos na Europa. Com a estrondosa vitória do Partido Popular nas eleições gerais espanholas no domingo, já são oito os governos substituídos nos últimos dois anos. E mais alguns estão na mira do eleitor. De fato, a economia foi apenas o estopim. A razão mais profunda é de natureza política : a absoluta incapacidade dos governantes de plantão, nas esferas executiva e legislativa, de propor soluções para os desafios que se apresentaram a eles - os antigos e os novos, trazidos pelo "admirável mundo novo" que estamos vivendo. O que suscita duas perguntas para a seara tupiniquim : 1. Quais transformações reais, institucionais e de infraestrutura, ocorrem de fato no país nos últimos dez anos, a despeito da inclusão de 40 milhões de consumidores, o que traz vantagens, mas também novos desafios e novas exigências ? 2. Quais são as propostas concretas, reais, da oposição, para romper esse quase imobilismo ? Como diz o dito popular, podemos estar caminhando para "um mato sem cachorro". A reunião (de novo) dos europeus No início de dezembro a Comissão Europeia, o órgão que de fato mantém o poder político da Zona do Euro, se reunirá novamente. Em debate, mais uma vez, o papel do BC europeu em meio a esta trágica crise. A decisão é simples (o BC ser ou não ser um 'emprestador de última instância'), a implementação é complexa (como realizar as compras de dívida soberana, determinar limites claros em termos de volumes, definir as taxas de juros, etc.) e a contrapartida dos países é arriscada politicamente (limites de superávit fiscal, privatizações, reformas estruturais, etc.). A Alemanha e a França terão mais razões para agir : a Itália e Espanha são riscos muito maiores que a Grécia e podem afetar todo o sistema financeiro europeu. Todos os três maiores implicados já mudaram seus governos para aqueles que tem feições mais "tecnocráticas" (o que quer dizer, mais alinhado com a ortodoxia de Berlim). Difícil fazer prognósticos de como agirão os principais atores deste trágico teatro (que já não é mais grego). Se o BC agir com força, há boa chance do risco de colapso ruir nos pés da especulação. Caso contrário, hummmm.... Melhor não tentar especular. No Brasil, desaceleração significativa Há pouco tempo, a inflação era o maior risco no curto prazo, motivo inclusive para que o governo adiasse aumento de impostos dos cigarros, não reajustasse os combustíveis e a telefonia em outubro - estes se constituem em "passivos" para o ano que vem. Ademais, a taxa de câmbio esboçou um ajuste, positivo do ponto de vista da indústria, mas relativamente perigoso para a inflação. Neste contexto, os "passivos" da inflação serão carregados sem solenidade para o ano que vem, o que dificultará o cumprimento da meta "central" da inflação em 4,5%. Para este ano, é provável que o BC não tenha de fazer a "cartinha" de justificativas pela não efetivação do limite de 6,5% da meta projetada. De fato, o cenário da atividade econômica mostra-se perigosamente caminhando para um nível de estagnação, em linha com o diagnóstico do próprio BC que justificou as recentes reduções na taxa básica de juros. O que provavelmente está sendo subestimado é o efeito político da desaceleração no que tange ao apoio popular ao governo, ao suporte sindical e o apoio da base aliada. A meta de crescimento de 5% em 2012 parece muito improvável, sobretudo quando se verifica que o PIB do último trimestre indicará um parco crescimento. Juros e juros O "mercado" se debate para saber se o BC cortará mais 0,5% na taxa Selic (o mais provável) ou um pouquinho. O foco da discussão é esse 0,5% prá lá, 0,75% pra cá ou se os juros básicos reais (descontada a inflação), chegarão a 4% e 2% e em quanto tempo. Para o mundo das empresas e das pessoas, no entanto, o que vem ao caso é que elas pagam pelo dinheiro quando vão se financiar ou comprar a crédito, ou seja, o "juro de fato". Este continua, na maior parte das vezes, escorchantes, a não ser para os que têm os caminhos dos cofres do BNDES. Os gastos públicos seriam a alternativa A ausência de uma menor demanda privada justificaria maiores investimentos públicos, sobretudo para melhorar a cambaleante infraestrutura do país. Maior eficiência do setor público sempre é desejável nesta conjuntura, mas no caso brasileiro a evidência mostra que (i) as denúncias de corrupção e irregularidades nas obras e gastos públicos, (ii) a falta de concepção e organização dos projetos por parte da burocracia estatal (em todos os níveis) e (iii) o pouco alinhamento do poder público com o setor privado, prejudicam a implementação de políticas compensatórias capazes de gerar demanda suficiente para evitar uma indesejável desaceleração. Dilma terá neste campo uma difícil tarefa para obter resultados concretos. Lembrando que temos Copa do Mundo e Olimpíadas... O alerta espanhol Um dos segredos do extraordinário crescimento da Espanha na última década, quando se tornou uma das "queridinhas" da União Europeia, foi a construção civil (e o mercado imobiliário), movida a crédito fácil e generoso. Hoje, 700 mil casas e apartamentos em todo o país encontram-se vazios. O nível de desemprego já chegou a mais de 23%, a economia local precisa de resgate internacional e os socialistas de Zapatero foram apeados do poder pelo voto da população. A conjuntura e o mercado Seria fútil e irresponsável tecer muitas previsões em meio a um cenário tão conturbado. Os analistas e economistas estão, mundo afora, muito pródigos nas suas previsões, apesar das imensas incertezas. O que pode se notar é que os relatórios que se lê "envelhecem" muito em poucos dias. De fato, será preciso saber da decisão dos europeus no que tange a intervenção do BC europeu nos mercados para poder verificar o quanto se reduzirá o agudo risco existente nos mercados mundiais. O Brasil é um importante mercado no mundo atual, mas relativamente pequeno para pretender ser uma "ilha" em meio a tanto risco. Alguém poderia perguntar : e a China ? Bem, neste ponto, há muita falação, mas os sinais no país comunista indicam certa e preocupante desaceleração e "bem quietinho" o governo central do país iniciou um programa de saneamento de seu obscuro sistema financeiro. Ora, se a China apresentar uma queda de demanda substancial, aí o cenário pode se agravar e as previsões se tornarão mais velhas diariamente. Nada sabemos de uma "forte desaceleração", mas sabemos que este risco existe e é concreto (e pouco comentado). De toda a forma, por aqui a taxa básica de juros vai continuar caindo, talvez mais acentuadamente no primeiro trimestre de 2012. O mercado acionário nos parece ainda caro frente ao cenário e a taxa de câmbio ainda será o termômetro mais livre e eficiente para sabermos dos efeitos externos sobre o nosso país. Sinal de alerta Sabemos o quão dependente o Brasil é do desempenho dos preços das commodities no mercado internacional. Na semana passada, 17 dos 24 itens que compõem um dos principais índices de commodities, o GSCI da Standard & Poor's, caíram, sendo os principais o gás natural (-7,5%), prata (-6,3%) e algodão (-4,9%). Além disso, as posições compradas foram reduzidas, principalmente pelos especulativos "fundos hedge". Maus sinais para um segmento de mercado que esteve firme ao longo do ano. Dólar forte Apesar de todo ceticismo em relação aos EUA, os europeus conseguiram facilitar a vida dos americanos. Por causa da crise no Velho Continente, os depósitos de bancos estrangeiros nos EUA cresceram de US$ 350 bi, em dezembro de 2010, para US$ 715 bi ao final de novembro de 2011. Obama agradece o financiamento barato concedido pelos europeus. Enquanto os bancos alemães financiam os americanos, Angela Merkel continua com a sua campanha paroquial na Alemanha enterrando os euro em nome de uma presumida credibilidade do BCE. Bancos : conversa continua As conversas para a fusão de um importante banco de varejo brasileiro e um banco de investimento prosseguem. Sem grandes definições, é verdade. As ambições dos yuppies do banco de investimento não batem muito com as dos conservadores banqueiros do varejo. Mas o bate-papo rende fofocas de todos os lados. Radar NA REAL 18/11/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA baixa baixa - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,3459 estável alta - REAL 1,7865 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.731,30 estável estável - S&P 500 1.215,65 estável estável - NASDAQ 2.572,50 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Moral e sistema político em concordata Não importa se o "ex-ministro ainda ministro" Carlos Lupi vai sair da pasta um dia desses qualquer, se recebe o bilhete azul somente na reforma ministerial prevista para janeiro, e até se consegue sobreviver no posto além daquela data. O lastimável episódio que envolveu o "dono do brizolismo atual", com as vacilações da presidente, a omissão envergonhada dos partidos aliados, ao mesmo tempo, torcendo para o lugar de Lupi "sobrar" para estes, mesmo que temerosos da próxima "bola da vez", e o registro definitivo da falência do sistema político brasileiro e do dito do "presidencialismo" de coalizão que o governa. O poder, no caso, está condicionado pelas "perspectivas de direito" dos associados na empreitada e pelas "perspectivas de poder" que se abre à frente. Por "perspectivas de direito" entenda-se a expectativa que cada parceiro de ser compensado, materialmente (ministérios, postos de segundo escalão, divisão "política" do orçamento). Eles precisam ser permanentemente alimentados e realimentados e nunca se consideram suficientemente atendidos. Esses são os laços, obviamente frágeis da aliança. E que podem ser rompidos se as "perspectivas de poder" futuro se esvanecem. Por isso, a necessidade constante de uma "legitimação" do governo por índices de popularidade sempre elevados. O pedestal de Dilma I Eis o dilema da presidente quando chega ao fim o seu primeiro ano de mandato : onde ancorar sua "legitimidade". Ela começou surfando na onda de Lula, da extraordinária popularidade do ex-presidente e dos bons momentos da economia. Deu o seu tom inicial, "parecendo" diferente de Lula, movimento que sofreu um esfriamento para não causar burburinhos no padrinho e no PT. Avançou a imagem própria com a proposta de uma "faxina" nos ministérios suspeitos de "malfeitorias", ideia-força que perdeu tração depois de cinco trocas de ministros sem a troca dos donatários dos ministérios e com as oscilações no caso Lupi. O pedestal de Dilma II A base da "legitimação" pela economia está um pouco minada pela queda da atividade econômica e as incertezas que estão no ar. Então, como encontrar um novo pedestal para sustentar os índices de aceitação popular ? As conversas em Brasília dão conta de uma pequena reforma da estrutura ministerial, diminuindo um pouco o números de 38 ministros locados na capital juntamente com a dança de cadeiras em janeiro. O simples vazamento dessa possível intenção presidencial já preservou amuos e reclamos no capital da República daqueles que querem manter os seus imaginados "direitos adquiridos" na máquina pública. Em quem Dilma pode se escorar para ir em frente ? Bandeira serrista e palaciana Uma das bandeiras políticas do ex-governador José Serra era a redução dos juros básicos para fugir do dilema fiscal-monetário gerado pelos elevados juros reais. Um atento e bem informado observador da cena nacional e internacional sentencia : "a presidente Dilma, com a sua atual estratégia de redução de juros, retirou do PSDB a última bandeira que os governos petistas não estavam adotando dos tucanos... Ela só não faz isso mais rapidamente porque tem medo do cenário externo. Mas ela fará tudo para reduzir os juros básicos". Comissão da Verdade : a ausência de Sarney Fez bem José Sarney, presidente do Senado, na cerimônia de lançamento da "Comissão da Verdade e de Acesso à Informação" que investigará a questão dos desaparecidos políticos durante o regime militar (1964 - 1985). Não ficaria bem para um prócer político que apoiou a ditadura e foi presidente do partido que apoiava o regime militar compor a mesa do lançamento como este. Seria demais associar seu nome com a "verdade". Contradições paulistas Enquanto o governador Geraldo Alckmin protesta e age para evitar a suspensão das obras do metrô paulistano em função de alegadas irregularidades na licitação, o palácio dos bandeirantes faz o mesmo caminho da Justiça no caso da Renovias, um consórcio formado pela CCR (40% do capital) e a Construtora Encalso (60%). Pretende o governo paulista rever o contrato de concessão em função de alegadas irregularidades na licitação. A leitura dos jornais e do Diário Oficial deixa evidente a contradição. Wall Street ocupada - Nação desocupada Não basta ir muito além da leitura dos jornais para verificarmos que o movimento de ocupação das ruas do centro financeiro de Manhattan está capengando em termos de objetivos. Os ocupantes empolgam mais seus "amigos", que mandam inócuos sinais de "curtição" no sistema de Mark Zuckerberg, do que a sociedade norte-americana que vive desocupada nas entranhas da grande democracia. Bobby Kennedy e Martin Luther King, quando pregavam mudanças e protestavam nas ruas, também pressionavam os políticos para mudarem o sistema político em Washington. Os facebookers carecem de objetivos e estratégias e acabam solapados pela polícia do prefeito de NYC Michael Bloomberg. E nada mais. Triste sina destes "navegadores" sob a indiferença da sociedade e a consagração nas redes sociais pouco solidárias. ____________
terça-feira, 8 de novembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 177

Europa : a dualidade ampla, geral e irrestrita Não há analista que não reconheça a gravidade da crise europeia, mas o conteúdo desta tem sido interpretada com enorme amplidão o que dificulta, ao não versado em economia, entender suas variáveis e consequências. A cobertura da mídia dá enorme ênfase à crise da Grécia, país pequeno e muito menos importante na zona do euro. Todavia, a rápida deterioração dos fundamentos deste país gerou consequências que se espalharam por todo o Velho Continente e colocaram a moeda unificada sob risco. Eis o primeiro e simbólico teste do modelo político-econômico-social da Europa : um desastre em termos de coordenação em função da política paroquial de quase todos os países que estão sob o euro, especialmente da França e da Alemanha. É da contradição entre a "união" da ideia de uma Europa e a realidade mesquinha e paroquial de cada país que resulta o maior problema de um continente que pretendia ser a gruta iluminada do processo civilizatório do século XXI. Triste engano. G-20 : uma reunião vergonhosa Pode-se resumir a ausência de soluções da reunião das 20 maiores economias mundiais em Cannes com muitas palavras. De nossa parte preferimos "vergonha". A cidade escolhida para sediar não poderia ser mais apropriada : parecia uma reunião de artistas a praticar o "realismo fantástico" do cinema. Vejamos : Nicolas Sarkozy, o anfitrião francês, queria capitalizar a imagem de grande líder europeu às custas de decisões mal construídas. O abatido Obama cobrava resultados que minimamente não alcança do outro lado do Atlântico. Angela Merkel, com seu rosto marcado, ameaçava a pequena Grécia de uma espécie de excomunhão caso não aceitasse retirar de pauta um referedum de última hora alegado pelo premiê Papandreou da Grécia. Berlusconi desembarcava na Riviera Francesa sem saber se voltava firme no cargo. Já Zapatero, que deve perder as eleições de dezembro, nada tinha para negociar. Irlandeses e portugueses eram questionados a razão de seus títulos soberanos pagarem mais juros que a Grécia. A China olhava tudo isto com água na boca. E o Brasil sem propostas em função da falta de proposta dos próprios europeus. A conclusão é simples, mesmo que desastrosa : o maior problema para a solução da crise é política. Não há lideranças críveis para elaborar planos e soluções. A Grécia e seus "parceiros" O cenário grego é trágico. Todavia, o pequeno país balcânico é a ponta de um iceberg já desvendado : Itália, Espanha, Portugal e Irlanda estão igualmente em maus lençóis e é de cada um deles ou de seu conjunto que virão novas e mais graves turbulências, se nada for feito. Por seu lado, a Grécia tenta reforçar a sua política interna aos trancos e barrancos : a proposta de um referendum não é tão descabida quando se vê um país com ¼ de sua força de trabalho desempregada, o mesmo nível dos EUA quando da depressão pós-29 e, ao mesmo tempo, Alemanha e França pedem mais "ajustes". De toda forma, ou por meio de eleições, ou de um governo de coalizão, os gregos vão buscar a solução política que falta aos outros países. Uma geração de jovens será afetada pela falta de esperança. Não dá para falar em cenário melhor, mas a cessação de pressões "na boca do caixa" já seria um fator positivo. Isto dependerá da solução política interna, mas também dependerá da capacidade de seus "parceiros" em entender a natureza da crise e agir politicamente em conjunto. O "mercadismo" intacto Não foram poucos os anos de avanço dos "tecno-banqueiros" na economia mundial. Trata-se de uma "classe social" que passou a influir decisivamente na condução de todos os assuntos relevantes às economias nacionais e ao mercado internacional. De seus interesses é que nasceram os projetos "liberalizantes", que permitiram ao cabo de poucos anos a propagação de modelos teóricos, que funcionavam e uma prática que engendrava crises de todos os lados : desde os anos 90 até o presente, mais de duas dezenas de crises afetaram a chamada "economia real". E o que se viu foi a passividade dos reguladores, em geral, e dos BCs, em particular. A crise pós-29 resultou numa guerra mundial e, ao final dela, em uma bem elaborada tentativa de coordenação de política econômica a partir de Bretton Woods, reunião que criou o FMI, o BIRD, o BIS e outros organismos de cooperação. A crise atual merece uma revisão substantiva do funcionamento do mercado de capital e financeiro ao redor do mundo. Todavia, ainda não foi construída uma fórmula política de fazê-lo. Mesmo porque banqueiros e financistas estão a controlar a antessala dos principais decision makers mundiais. O exemplo maior é Barack Obama, triste personagem democrata dos EUA que não consegue articular nenhuma política consistente em busca de soluções. É o caso de sentir saudades intensas de Franklin D. Roosevelt. Um calendário político ? De tudo que ocorreu pelos lados do Velho Continente, por ocasião do "meio sucesso" (definição de Dilma) da reunião do G-20 em Cannes, foi um fato paralelo : a inesperada decisão do novo presidente do BC Europeu, o italiano Mario Draghi, de reduzir a taxa de juros por lá. Por isso e por outras coisas, a interpretação de algumas autoridades brasileiras é de que saiu de campo a rigidez dos ajustes fiscais para dar lugar a políticas mais "sóbrias", de olho também no crescimento e no emprego. Igualzinho ao que o Brasil vem fazendo. Mesmo que a Grécia tenha levado uma prensa da dupla Merkel-Sarkozy e a França tenha anunciado ontem uma política de ajuste nas contas públicas, com aumento de tributos e cortes nas aposentadorias. O Brasil quer aprofundar sua estratégia, com o sonho de voltar a crescer até 5% no ano que vem. Há quem aposte no aumento de 14% do salário mínimo, tido como um problema para os críticos, para ativar o consumo. Há também os gastos com a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Sem contar os gastos do ano político-eleitoral. As fichas já estão na mesa e a roleta começa rolar. A dose de otimismo em Brasília está elevada. Ortodoxia ou heterodoxia ? Ainda vai dar muito o que falar a proposta do senador Lindbergh Faria (PT/RJ), aprovada por unanimidade na Comissão de Assuntos Econômicos acrescentando duas outras obrigações à tradicional função do BC de proteger a integridade da moeda : deverá também garantir o crescimento da economia e do emprego com a política monetária. Já é um pouco do que o BC está fazendo com Dilma, embora sem confessar abertamente. É a alegria dos heterodoxos (ou desenvolvimentistas) e o horror dos ortodoxos (ou monetaristas). Alega-se que o Fed já tem tal mandato.O governo ainda não disse se é a favor ou contra. Breve revisão de nosso cenário Como enunciamos na semana passada, estamos num dificílimo período de transição. A reunião do G-20 e as decepções com os caminhos da Europa são retratos fiéis do atual momento. De toda a forma, persistimos na ideia de que não é bom negócio apostar no pior. (Vide a coluna da semana passada na qual elaboramos algumas de nossas razões que justificam esta posição - clique aqui). O ponto mais importante no curto prazo e, tão logo a Grécia se estabilize minimamente, é verificar se a Espanha, Itália, Portugal e Irlanda vão ter crises tão agudas quanto à da Grécia. O melhor sintoma que pode vir neste momento é a substituição das lideranças políticas na Itália e na Espanha. Somente a política pode mudar a economia, agora e sempre. Caso a crise se torne aguda é provável que os vários segmentos dos mercados se tornem novamente tensos, voláteis e deprimidos. Neste caso, revisaremos nossos pontos de vista. O pior ainda estará por vir. Por enquanto, não é nisso que acreditamos. Radar NA REAL 4/11/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3959 estável alta - REAL 1,6942 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.727,08 estável baixa - S&P 500 1.253,23 estável estável - NASDAQ 2.686,15 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Para quebrar o termômetro Informa-se que Lula, mesmo sem poder falar muito por recomendações médicas, ficou irado com os dados do PNUD sobre o IDH brasileiro - que teria perdido 13 posições em relação à medida anterior, quando medido também pela desigualdade social - e teria cobrado uma reação enérgica do governo Dilma. Diz que os números do Brasil adotados pelo organismo da ONU estão defasados. Dados mais recentes passados pelo governo brasileiro não teriam sido considerados. Pode ser até que sim e que uma revisão faça o Brasil subir. Todavia, parece mais uma coisa de quebrar o termômetro para disfarçar a febre. Pode um país, no qual somente 47,5% de todos os seus lares têm acesso a redes de esgoto sanitário, arvorar-se em campeão do desenvolvimento humano ? Briga-se com os números, com os fatos, nunca. Se fosse assim De um leitor assíduo desta coluna, a respeito da nota da semana passada sobre a agonia quase crônica da oposição : "Se com os oposicionistas em doce recesso, o governo já perdeu cinco ministros por suspeitas de 'malfeitorias', imagine-se o que ocorreria se PSDB, DEM e PPS tivessem um décimo da disposição de briga de Lula e do PT quando do outro lado eles infernizavam a vida dos adversários." Será assim ? Não dá para saber, até agora, se o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, seguirá a sina dos seus outros oito indigitados colegas que perderam seus cargos em poucos dias depois de reportagens na imprensa ou se conseguirá passar incólume da fritura que se instala em Brasília. Há a denúncia, apoio formal com cobrança oficial de explicações, novas revelações até a degola. Mas não é importante saber se ele se safa desta. Há algum tempo já é, de fato, como cinco ou seis companheiros de Esplanada : um ex-ministro, um zumbi à espera de uma carta de demissão. E essa turma vai para o estaleiro, em janeiro ou fevereiro, juntamente com alguns candidatos a prefeito, por absoluta falta de aptidão gerencial, não por possíveis desvios funcionais. Mudou a explicação Desde a saída de Wagner Rossi do ministério da Agricultura, governo e partidos dos ministros que perderam os cargos desistiram definitivamente de culpar a imprensa (golpista ?) e a oposição pelas denúncias responsáveis pelas degolas. Já se conformaram com as intrigas internas e os atingidos esperam apenas para dar o troco. Pule de dez Não há (aliás, havia ?) nenhuma dúvida, depois do abalroamento de Marta Suplicy, que o candidato petista à prefeitura de SP será o ministro Fernando Haddad. Sem prévias. O que se pergunta agora é quantos diretórios estaduais e municipais do PT nas grandes cidades pelo país afora resistirão aos apelos de Lula. Se houver algum, será apenas para confirmar o ditado : manda quem pode, obedece quem tem juízo. Resistirá ? Empolgado, o PMDB tem dito que em SP não há essa coisa de aliança incondicional no primeiro turno. Gabriel Chalita é o candidato peemedebista e pronto. Será ? Somente se for para garantir o petista Haddad no segundo turno. Se tirar votos do ministro da Educação... O PMDB tem muito a perder no plano Federal, a começar pelo olho gordo de alguns aliados na vice-presidência em 2014. Tudo pelo social Governo vai pressionar o Senado a aprovar o projeto, já passado na Câmara, autorizando o uso dos recursos do FGTS para financiar obras da Copa do Mundo. É mais patrimônio dos trabalhadores jogados em negócios de retorno duvidoso - e bem duvidoso. Não basta o que se faz com o FAT ? ____________
terça-feira, 1 de novembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 176

Lula : o real e a especulação Tão logo foi divulgada a informação sobre o tumor na laringe do ex-presidente Lula, instalou-se uma histeria de conjecturas sobre o real alcance da doença e sobre seus efeitos políticos. Lastimável, mas é o preço a pagar pelos tempos midiáticos que vivemos. O que temos, na realidade, são apenas duas grandes interrogações. Sem respostas nos próximos meses. No caso da saúde dele, que é o que interessa em primeiro lugar, é torcer (e quem crê em Deus, orar) para que os prognósticos dos médicos que cuidam de Lula se confirmem. As especulações, nesse sentido, são desumanas. Na análise política, objeto desta coluna, são precipitadas tais especulações. A única conclusão concreta que se pode tirar é um truísmo : tudo pode mudar, mas tudo também pode ficar no mesmo. Na política e nos mercados, há gosto em especular. Tenham paciência. Para que não se queime a língua e, principalmente, imagens e reputações. O problema não é o nome Nas circunstâncias, a nomeação do deputado Aldo Rebelo para o ministério dos Esportes, foi o melhor que Dilma poderia ter feito. Mas o episódio envolvendo Orlando Silva (PC do B), numa sequência que começou com Alfredo Nascimento (PR), Wagner Rossi (PMDB) e Pedro Novais (PMDB) e com a roda já balançando para outras freguesias, os labirintos nos quais a presidente está enredada estão expostos : 1. A pressão dos partidos aliados : todos os substitutos têm no DNA partidário dos substituídos, sendo que os "malfeitos" revelados não se restringiram a ações apenas individuais. Foram solidariedades partidárias. 2. A existência de "feudos" nos ministérios, mesmo com todo o cuidado não inteiramente rompido no ministério dos Transportes, menos ainda na Agricultura e Turismo. O vício é do modelo : presidencialismo de coalizão. Não é à toa que a pergunta mais frequente depois que Orlando Silva caiu é : quem será o próximo ? Candidatos não faltam. A chance de Dilma quebrar a corrente é com a prometida reforma ministerial de janeiro ou fevereiro. Terá sustentação ? Como Arquimedes Para os leitores que reclamam a escassez de informações e análise nesta coluna sobre a oposição solicitamos um obséquio : sempre que souberem dela, nos avisem, por favor, que vamos atrás, em busca de novidades. Enem para o Supremo ? Informa-se que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tem dedicado parte de seu tempo a sabatinar candidatas à vaga no STF em função da aposentadoria da ministra Ellen Grace. São "candidatas" porque a presidente Dilma exige uma mulher substituindo a primeira mulher brasileira a chegar ao mais alto cargo da magistratura nacional. Mais de 10 selecionadas já passaram pelo "confessionário" de Cardoso, numa espécie de "Enem para o Supremo", um tanto inusitado. Infere-se que as "sabatinadas" tenham saber jurídico elevado e comprovado e reputação ilibada, sem precisar reafirmá-los na cátedra do professor Cardozo. O que o ministro da Justiça está tentando descobrir nessas juristas ? Há no ar em Brasília um "palavrão" pairando sobre 2012 : Mensalão. Uma rima, não uma solução. Oscar Vilhena e o STF Vale refletir sobre a sugestão do professor Oscar Vilhena, diretor da Escola de Direito da FGV/SP, e da advogada Flavia Annenberg, em artigo no jornal "O Estado de S. Paulo" de sábado : "Temos hoje o privilégio de contar com inúmeras candidatas qualificadas à vaga da ministra Ellen Gracie. Diversos setores da sociedade brasileira têm aproveitado o intervalo para fazer sugestões ao Ministério da Justiça e à presidência da República de candidatos de sua preferência, nem sempre da maneira mais republicana. A reivindicação mais urgente que um grupo de organizações da sociedade civil tem feito, no entanto, é pela criação de um processo de nomeação mais aberto e transparente. Algo central à democracia brasileira hoje e em plena conformidade com o ethos da Constituição de 1988." Garota nota 10 O Enem de 2011 ainda está sub judice. Não se sabe se todas as provas serão anuladas ou se apenas alguns alunos terão de refazer os testes. Os resultados dos concorrentes demorarão um tempo para serem divulgados. Mas uma coisa já é certa : a maior nota do exame deste ano quem tirou foi a ex-prefeita e senadora Marta Suplicy, concorrente à candidatura do PT à prefeitura de SP em 2012. Em segunda época Segundo especialistas em educação de diferentes matizes teóricos, a metodologia adotada nas provas do Enem é de excelente qualidade. Os desarranjos que o exame tem enfrentado não são, portanto, pedagógicos, têm outra natureza : programação, execução, fiscalização. Tudo temperado por uma dose de demagogia político-eleitoral. Como não desconfiar ? O governo continua assegurando - e o BC religiosamente acreditando - que fará um superávit primário (economia para pagar juros) sem fantasias este ano. Os números mostrados pelo BC, até setembro, sugerem que o governo já realizou mais de 80% da meta. Mesmo assim, analistas independentes têm suas dúvidas - sobre o nível e a qualidade dessa poupança. Dúvidas para quais o próprio governo contribui com coisas assim : - até setembro os investimentos estatais foram quase 3% menores que no mesmo período do ano passado. - a arrecadação este ano, em termos reais (ou seja, descontada a inflação) será ao redor de 12% superior à de 2010. - o superávit de setembro foi em boa parte engordado pelo aumento do recolhimento de dividendos pelas estatais. Radar NA REAL 28/10/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3959 estável alta - REAL 1,6942 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.514,09 estável baixa - S&P 500 1.285,09 estável estável - NASDAQ 2.737,15 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O acordo europeu I Nem se precisa comentar a complexidade da Europa quando se olha o resultado da reunião da União Europeia na semana passada, em Bruxelas. De fato, a única constatação objetiva é que a Grécia conseguiu grande parte de seu intento, qual seja, o desconto de sua dívida em 50%. Com isto a relação dívida/PIB do país gravitará ao redor de 85% o que ainda é alta, mas manejável. Cumpriu-se o que era necessário e que demorou pelo menos um ano para Angela Merkel pudesse agir. De outro lado, agora ficará mais evidente que as necessidades financeiras do Velho Continente são generalizadas e não tão localizadas. Não à toa, o pacote de sustentação do crédito bancário e soberano da UE já alcança 1,3 trilhão de euros e pode (deveria) chegar aos 2 trilhões. Portugal e Espanha nos parecem os casos mais urgentes de vez que em outro caso que está na UTI, a Irlanda, a possibilidade de contaminação do crédito imediata é menor. O acordo europeu II Os analistas e, especialmente, os investidores estão a especular e requerer das autoridades europeias os "detalhes" do acordo. Na ausência deles, o tal do "mercado" manda o seu recado por meio da elevação da volatilidade e a queda dos preços dos ativos. Ora, estes "detalhes" não são nada fáceis de serem divulgados por várias razões, sendo a principal o fato de que, não sendo a união monetária europeia uma "união fiscal", ainda não se sabe tudo sobre os "esqueletos" contidos nos armários dos governos dos países necessitados. No caso dos gregos, sua habilidade em esconder vem desde o famoso cavalo que levou à destruição de Tróia. No caso dos portugueses, espanhóis, irlandeses, belgas, franceses e alemães, a arte não parece tão desenvolvida, mas em compensação estes não gostam de enfrentar a verdade dos fatos como os velhos filósofos da Grécia. Assim, os "detalhes" vão demorar e o mercado pode continuar em sua própria arte do estresse. Apesar de tudo, mais otimismo Temos chamado a atenção de nossos leitores, em meio ao turbilhão de más notícias que temos assistido nos EUA e na Europa, que grande parte do ajuste dos preços e das economias europeias está consolidada o que, por sua vez, também indica que os próximos dois ou três anos devem ser duros. Todavia, do ponto de vista, strictu sensu, do mercado financeiro internacional é possível e, até mesmo, provável, que o pior já tenha passado. Como se sabe, os investidores devem se antecipar aos fatos e, neste contexto, não parece muito sábio que se continue a apostar na piora do cenário mundial. Vejamos alguns pontos desta visão na próxima nota. O novo ciclo econômico O emaranhado de números necessários ao diagnóstico econômico muitas vezes esconde quando ocorre o "ponto de mudança" dos ciclos das economias. Estes apenas ficam mais nítidos depois que ocorrem. Sem que cansemos você, leitor, com uma infinidade de números, queremos ressaltar alguns aspectos que sugerem que pode estar começando um novo e positivo ciclo na economia mundial : 1. O desemprego já beira números espetaculares o que indica que o ajuste macro e microeconômico já fez suas vítimas; 2. A situação fiscal está deteriorada, mas o risco para os investidores vai se reduzir, pouco a pouco, de vez que a atuação dos Estados vai dissipar os riscos privados; 3. Não houve nenhum processo contínuo de deflação. Ao contrário, já há evidentes sinais de inflação, o que paradoxalmente é um bom sinal no curto prazo; 4. As principais moedas do mundo, e aquelas que são periféricas, mas importantes como no caso do Yuan chinês, estão comportadas, sem que exista a "guerra cambial" de que tanto falou nosso titular da Fazenda; 5. Os preços dos ativos não indicam a existência de "bolhas especulativas" remanescentes em certos segmentos do mercado, como foi o caso do imobiliário por mais de uma década (ver nota abaixo, "O grande risco"); 6. Os fluxos de comércio estão prejudicados pelo aumento do protecionismo. Todavia, este não é um processo generalizado e não completamente sem cooperação internacional; Os aspectos acima apontados indicam que estamos em plena temporada de "exaustão" da crise. A gravidade inescapável do momento, contudo, não retira a substancial possibilidade de que esta "exaustão" não mais provoque ainda mais pessimismo, digamos, adicional aos agentes. Este é o ponto a ser seguido, sob pena de se olhar o futuro pelo retrovisor. Cenário brasileiro I Já comentamos neste espaço que a política monetária brasileira é o grande erro da estratégia econômica do governo. Não propriamente em função da queda (legítima) da taxa de juros básica, uma disfunção histórica. O que é mais perigoso é o governo apostar suas fichas monetárias na piora do cenário externo, a principal justificativa para a política de juros declinantes. A razão é simples e leva a um raciocínio curioso : se o cenário externo melhorar, a taxa de juros não cai ? Parece esquisito, não ? O governo deveria se ocupar em duas frentes mais complexas, porém mais consistentes : soterrar a alta dos preços domésticos (inflação) e ajustar as contas domésticas em termos de qualidade e resultados objetivos. Estas são as variáveis de risco para a taxa de juros. Cenário Brasileiro II A questão da atividade econômica é mais importante ao governo. De nossa parte achamos mais do que justa esta preocupação, mesmo que alguns observadores da cena econômica desconfiem de que o governo troca inflação por crescimento. Neste aspecto, o que dá para se verificar é que há dois problemas mais gritantes. O primeiro é que as expectativas estão se deteriorando mais acentuadamente que a lógica indicaria. E com a ajuda do governo soprando aos ouvidos do setor privado que a crise externa atinge o país em cheio. Nem tanto ao céu, nem ao mar : a crise é grave, mas o crescimento não deve ficar muito abaixo de 2% - 3% no curto prazo (2012). O segundo aspecto diz respeito aos investimentos públicos : estes estão carecendo de toda uma série de estratégias para incrementá-los, da qualidade da gestão à corrupção, bem como de uma inteligente associação entre o público e o privado. O governo neste item teria de dar um passo à frente. E um passo que seja sentido pela sociedade como decisivo. O grande risco Quando nas notas acima mencionamos que não há "bolhas especulativas" na economia mundial, excetuamos uma propositalmente : a China. Fala-se muito do gigantismo chinês e de seu vigor secular. Alto lá ! Este tipo de análise e percepção carece de elementar lógica por um motivo simples : em economia os recursos são escassos e limitados e os ciclos, mesmo que longos, existem. Ademais, há a própria China : trata-se de um país de capitalismo econômico com ditadura política, contradição esta que nem mesmo o velho Marx aceitaria desconsiderar. Parece muito teórico ? É este modelo que impede que se acredite na transparência dos dados (por exemplo, sobre o sistema financeiro), na estabilidade das regras, no apoio social de longo prazo e assim vai. Estes riscos são reais, mas ainda pouco aparentes no cenário. Podem surgir no horizonte e tornar o dragão econômico num tormento mundial. ____________
terça-feira, 25 de outubro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 175

Cristina Kirchner Argentina : a vitória A vitória espetacular da presidente argentina, com mais de 53% dos votos, e superior à eleição de Raúl Alfonsín (51%), o primeiro presidente após a ditadura militar instalada em 1976, pode ser considerada "esperada", mas incorpora significados que merecem melhor análise. Vejamos : 1) Cristina Kirchner, enfim, se tornou um animal político completo, dotado de legitimidade formal e simbólica. Não é mais a sombra do marido morto. Ele é sua sombra. 2) O plano de conquista do poder foi construído de forma consistente. Embora os "analistas políticos" prefiram avaliar sua vitória à vista de modelos teóricos e republicanos, a verdade é que Cristina foi pragmática e focou seus esforços políticos dentre aqueles que têm votos e necessidade básicas, os 30% da população que vivem abaixo da linha da miséria. 3) A elite rural argentina persiste com o poder econômico, mas seus interesses maiores estão além das fronteiras. E essa elite não foi capaz de ter a decisiva influência que historicamente teve. Ao contrário, viu-se acuada e sem discurso. 4) Distribuição de renda, depois de tantos anos de concentração, é politicamente mais importante que construção de renda. E consumo crescente pesa mais que investimento, quando o assunto é eleição. 5) Oposição que não tem projetos econômico-sociais inclusivos não consegue se estabelecer perante a opinião pública. Não à toa, o Partido Radical foi quase destruído. 6) Imprensa livre é essencial, mas pouco conta num cenário onde prevalece o populismo. Rigorosamente estes aspectos não diferem de outros que podem ser coletados em diferentes sociedades para explicar uma vitória tão significativa. Cristina Kirchner Argentina : os riscos Não devemos, a despeito da constatação da imensa vitória de Kirchner, relutar em reconhecer os igualmente imensos riscos da vitória política. Vejamos : 1) O fato de Cristina ter se tornado mais, digamos, "independente" de seu marido morto, a tornará mais desprotegida em termos simbólicos e ideológicos. É preciso deixar de ser "a esposa" e passar a ter brilho próprio. 2) Eleitores mais pobres são menos politizados e para mantê-los sob o manto peronista será necessário continuar a atendê-los em suas ambições psicossociais e econômicas. Isto demandará recursos públicos, sabidamente gerados no setor privado. Caso contrário, o desequilíbrio orçamentário resulta em inflação e perda de renda, sobretudo para os mais pobres. 3) A Argentina é um país muito mais subdesenvolvido que o Brasil no que tange à industrialização. Com efeito, o surgimento de novas "elites" depende de planos nos quais o populismo é uma restrição, não uma alavanca. 4) O Estado pode apenas "criar" recursos em regimes inflacionários. O processo de acumulação de capital é condição inerente e essencial para a distribuição da renda. Este dilema intertemporal será cada vez mais urgente à Cristina e seu projeto político. 5) Um país sem oposição crível do ponto de vista intrínseco (ideologia e projetos) e extrínseco (apoio popular) é caminho para o perigoso ambiente de "vazio político" o qual já ocorreu de forma acentuada na história latino-americana e argentina. Assim, a alternativa ao populismo acaba por ser o próprio populismo. 6) A tentativa explícita de Cristina Kirchner de "enquadrar" e restringir a atuação da imprensa (mídia) favorece a um perigoso oficialismo sem fiscalização e sem crítica social. Uma tragédia contra a democracia que retira da própria Cristina sua legitimidade recém-conquistada. Como se vê, entre os riscos do governo e a constatação da vitória, o pêndulo da análise cai mais para a preocupação que para a comemoração. Some-se a isto o fato de que tudo isso ocorre num ambiente internacional desfavorável às commodities que a Argentina exporta. Triste sina para a República se algo de grave ocorrer lá no sul. Brasil e Argentina : além da doçura Cristina Kirchner considerou os cumprimentos pela vitória da presidente Dilma como "doces palavras". Cabe bem à retórica diplomática, doces palavras, quando se tem uma parceira tão importante como a Argentina. Todavia, a presidente brasileira deveria se socorrer aos dados colecionados pelo Itamaraty e pela Fazenda e estabelecer alternativas estratégicas em relação a tão importante parceria. Por dever de ofício, diplomatas e técnicos da Fazenda deveriam perguntar o que ocorreria se algo der muito errado por lá e quais os efeitos aqui. Os sintomas não são nada bons. Toda vez que a Argentina tem uma dificuldade externa e interna, a primeira reação é restringir as vantagens competitivas do Brasil no Mercosul e proteger suas fronteiras nacionais da entrada de produtos nacionais. A Argentina está longe de ser um país inimigo e igualmente distante de ser um país confiável do ponto de vista de suas relações externas. Assim, o interesse em relação à Argentina deve ser de Estado. Dilma e seu dilema Se Cristina Kirchner teve um esposo falecido a conformar sua nova estatura política, a presidente Dilma tem um ex-presidente a lhe limitar sua ação, não apenas política, mas administrativa. Infelizmente, no Brasil, ex-presidentes não são apenas "referências políticas". São agentes da ação política. FHC ainda é o maior líder da oposição fruto da ausência de lideranças capazes de arregimentar forças sociais. Lula é um caso ainda mais grave : considera o governo atual como área de manobra para seus óbvios planos políticos. Não precisa a presidente brasileira esgotar os fundamentos da lógica aristotélica para saber disso. Basta atender as ligações telefônicas de Lula. A mudança do ministério do atual governo é o fator político mais simbólico que pode dar à atual ocupante do Planalto a legitimidade que ainda lhe falta e lhe é essencial. Vejamos a continuação da crise nos Esportes. Orlando resiste Do ponto de vista stricto sensu, não há mais razão para que o atual ministro dos Esportes permaneça na cadeira. Mais que credibilidade, falta a Orlando Silva condições para implementar políticas públicas. Todavia, as movimentações políticas enquadraram o ministro numa situação na qual ele acaba por (i) catalisar o desejo da classe política em manter o atual status quo da base aliada, (ii) herdar a gratidão do atual governo à fidelidade dos comunistas ao anterior e (iii) não permitir que o lamaçal esportivo acabe por dragar o governador brasiliense Agnelo Queiroz. Há outras razões importantes (Copa do Mundo, por exemplo) que explicariam o emaranhado de interesses na manutenção de Silva, mas estas são paradoxalmente menos importantes, por ora. O que fará Dilma ? Vejamos a próxima nota. Dilma desiste ? A presidente sabe que sua popularidade e o capital próprio que arregimentou decorrem da chamada "limpeza ética" que tenta promover na Esplanada. Ora, tomado este fato como premissa, a presidente não poderia hesitar em assinar a demissão de Orlando Silva. O problema é que, ao contrário de outros demitidos, o atual ocupante dos Esportes e seu minúsculo PC do B são capazes de mexer com os pilares do PT. Sabe-se que a presidente não é muito querida do partido de Lula, e isso pode se transformar em mais um agravante para a condução do governo e a relação com o petismo. Com este tipo de equação política a vigorar nos arredores do Planalto, Dilma vê-se mais constrangida. Ainda mais quando se liga a TV e vê-se o desfile de discursos dos comunistas cerrando fileiras em torno de Orlando Silva. A despeito de tudo isso, a presidente terá de agir e tentar sair desta com uma feição cada vez mais própria ou ceder à permanência da condição de "herdeira de Lula". Não há ação sem custo para Dilma. Panamericano : fatos à tona, personagens à deriva Por diversas vezes nesta coluna chamamos a atenção de nossos leitores para os estranhos fatos que marcaram a compra do Banco Panamericano pela CEF. Agora, sabe-se que o surpreendente prejuízo de mais de R$ 4,3 bi - muito além dos R$ 2,5 bi inicialmente informados - é um dado do escândalo. Há uma teia de acontecimentos que vão das perigosas relações do ex-banco de Sílvio Santos com os fundos de pensão via líderes e tecnocratas petistas (Luiz Gushiken, sobretudo) até a "vontade de não contrariar Guido Mantega" na nomeação de Demian Fiocca, ex-BNDES para a diretoria do Banco. As revelações são da colunista da Folha de S.Paulo Renata Lo Prete. Não é necessário ter faro de policial para se imaginar as várias e vastas implicações destas revelações. Há apenas uma pequena ponta do iceberg à vista ou será uma "enorme corrente de enriquecimento ilícito". Talvez até Sílvio Santos queira saber o que havia no baú... Radar NA REAL 21/10/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3938 estável alta - REAL 1,7568 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.255,28 estável baixa - S&P 500 1.238,25 estável estável - NASDAQ 2.637,46 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Europa reunida Até o fechamento desta coluna, na noite da segunda-feira, o encontro dos principais líderes europeus em Bruxelas ainda não tinha chegado a nenhuma conclusão definitiva sobre os caminhos que a UE tomará para evitar o colapso financeiro do Continente. A despeito da falta de uma conclusão definitiva, os sintomas são positivos. A começar pelo reconhecimento de que o European Financial Stability Facility (EFSF) precisa ser substancialmente incrementado para algo como 1,5 trilhão de euros. Neste ponto, finalmente a chanceler Angela Merkel aceitou lutar no Parlamento Alemão para que o país participe do esforço europeu. Neste contexto, não apenas a Grécia se beneficiaria do maior apoio financeiro necessário à estabilização do país, mas todos os outros que estão a se esconder atrás do país balcânico. Um passo gigantesco se considerarmos a postura da Alemanha até pouco tempo atrás. Mercado pode melhorar Quase sempre é muito difícil definirmos com mais precisão o momento pelo qual passa o mercado. Nos últimos meses temos expressado nosso pessimismo em relação ao andamento dos mercados globais, em geral, e o brasileiro, em particular. De fato, a conjuntura internacional piorou significativamente e os riscos instalados de forma mais aguda em 2008, acabaram por recrudescer em 2011 de forma novamente aguda. A crise financeira europeia e a letargia da atividade econômica nos EUA são os aspectos mais gritantes da perigosa crise estrutural que vivenciamos. Pois bem : os preços dos ativos, sobremaneira os dos mercados acionários, caíram ao longo dos últimos meses. Como sabemos, os investidores se antecipam aos fatos e precipitam os movimentos de alta e baixa. O pessimismo se consolidou, desta forma. A despeito da conjuntura atual, gostaríamos de recomendar aos nossos leitores que não apostem numa piora significativa do mercado daqui para frente. Há razões para acreditarmos que os mercados estejam passando por um momento de reavaliação. Assim, a volatilidade acentuada pode estar refletindo mais esta reavaliação que o agravamento do pessimismo. Poderemos ter uma conjuntura mais favorável à frente. Nas próximas semanas iremos explorar mais este importante tema. Por enquanto, o recado é : não aposte na piora do mercado. Banco Central : como previsto Não houve surpresas na ação do BC na semana passada em relação à taxa de juros básica. A redução de 0,5% era esperada e os agentes estão mais atentos em relação à inflação dos próximos meses. Uma coisa é certa : a atividade econômica está apresentando fraqueza, possivelmente maior que a esperada pelos agentes. Todavia, não sabemos ainda se esta queda da atividade trará efeitos significativos sobre a inflação. As expectativas serão determinantes no andamento dos preços. Além da taxa de câmbio. Política industrial O governo está cada vez mais protecionista quando o assunto é importações. A maior preocupação é com os chineses e sua máquina de competição (leal e desleal). As medidas restritivas em relação aos veículos importados sofreram um revés momentâneo em função do prazo legal que tem de ser cumprido, mas uma o animus do governo continua o mesmo : a competitividade da indústria é fator político e econômico sensível e a Fazenda cumprirá a agenda de restrições de importações. Há muitos problemas neste tema, mas um é geral : falta ao governo uma estratégia industrial que melhore a percepção dos agentes de que o protecionismo atende a certos interesses paroquiais e não ao interesse coletivo. Alem do mais, é preciso combinar com o Itamaraty o que está sendo feito. Afinal, tudo pode acabar em demandas internacionais na OMC. Justiça : questão de competitividade Os magistrados brasileiros estão a discutir suas questões que envolvem o CNJ, além de outras tantas questões relativamente à transparência do Judiciário. Seria interessante que também fosse avaliado pelos líderes do Judiciário a questão da competitividade brasileira quando o tema é acesso à Justiça. A demora nas decisões, as complicações burocráticas e a falta de eficiência dos juízos e tribunais é questão vital para os agentes econômicos daqui e de lá de fora. Por que não estudar o tema ? ____________
terça-feira, 18 de outubro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 174

Semana importante No próximo final de semana os líderes da União Europeia definirão as principais medidas de política econômica que balizarão o "resgate" do Velho Continente. Não será um "fim de semana da Grécia", como certos analistas vivem a apregoar. De fato, a Grécia não é mais a "ponta de um iceberg". É apenas uma modesta representação da crise de crédito de todos os países da Europa Meridional somada à Irlanda, o primeiro dos países a apresentar sinais de exaustão de credibilidade. Há razões objetivas para certo otimismo. Destacamos duas : (i) finalmente, os países europeus se conformaram com a ideia de que a crise é bem maior que a vocação alemã para tratar assuntos continentais e (ii) o tamanho do pacote de recursos para resgatar a credibilidade soberana e bancária - estima-se em algo como dois trilhões de euros. Reação do mercado Foram as informações sobre o resgate europeu que lideraram a onda de boas notícias nas últimas duas semanas. Como sempre, o mercado reagiu às expectativas. Resta saber o quanto a reação dos preços dos ativos realmente tem consistência com os fatos (presumidamente verdadeiros). De toda a forma, não há razões para se apostar contra e acreditar que não há algo de novo no front. O pacote, desta vez, é consistente. Se a leitura dos agentes for negativa em relação àquilo que for divulgado no próximo final de semana, teremos um cenário muito piorado, pois o esforço fiscal que está sendo feito é gigantesco. Grécia : Eureka ! Há aqueles que jocosamente dizem que a Grécia venderá suas belíssimas ilhas para salvar o país. Piada de gosto duvidoso sobre aquela que sedia a origem da civilização ocidental. Ademais, apenas os que desconhecem a história grega e os gregos são capazes de tão imenso mau gosto. De fato, erros grosseiros foram cometidos pelo governo helênico. Não cabe aqui relatá-los. Todavia, submeter um país a uma taxa de desemprego equivalente à da grande depressão pós-29 nos EUA e fazer com que uma geração inteira perca a esperança, somente policy markers localizados em Berlim ou Frankfurt podem imaginar que vai dar certo. Pois bem : finalmente se descobriu (eureka ?!) que a dívida grega é impagável e é preciso impor perdas não aos tesouros de cada país da Europa, mas também aos investidores irresponsáveis. À Grécia o sofrimento já sobra. Brasil, de novo o Copom Esta coluna sempre apoiou a queda da taxa de juros básica, injustificável lenda construída por décadas. Todavia, já alertamos os nossos leitores sobre o quão mal feita foi a introdução da estratégia governamental para reduzi-la, no exato momento em que se desconfia que a inflação caminha além do devido controle. Além disso, falta ao governo uma estratégia abrangente que envolva não apenas a política monetária, mas especialmente a política fiscal e as reformas do Estado. Pois bem : nesta quarta-feira deve vir mais queda da taxa básica de juros. Não será surpresa quando consultamos o oráculo do mercado. É certo que a atividade econômica se reduz e numa velocidade considerável. Reflexos do que ocorre lá fora, mas também fruto da falta de competência doméstica. Esta queda da atividade justificará a ação do BC. Silente ou evasiva será sua visão sobre a inflação. A taxa de câmbio Cai o real, mas nem tanto. Pode até valorizar no curto prazo. Os investidores, contudo, estão a observar a queda das commodities no mercado internacional e, neste item, não somente o ritmo preocupa, mas também os efeitos colaterais no médio prazo. Ainda mais com a China colecionando riscos que afloraram mais à frente, especialmente a falta de higidez do sistema financeiro e a inflação que campeia o país comunista. Repete-se até exageradamente que "não há almoço grátis". Verdade. O problema é que no Brasil o almoço está mesmo é caro e os seus efeitos políticos virão. Com a correção feita pelos eleitores que nas urnas depositam suas esperanças e decepções. O real é, a nosso ver, o maior risco para a política econômica do Brasil. Assunto pouco comentado, mas quando entrar na pauta vai levantar poeira. Bolsa de Valores : dúvidas Em conversa com um administrador de carteiras norte-americano ouvimos a seguinte pergunta : por que um investidor deveria pagar preços tão mais altos por ações brasileiras ? Esta questão foi feita em função de uma análise do investidor que mostra que o PIB do país não irá crescer tanto a ponto de justificar os preços das ações de empresas brasileiras. Além disso, continuou o raciocínio, "quando visito o Brasil vejo que os controladores do capital das empresas estão sedentos para vender suas posições. Ora, porque um investidor de mercado deveria comprar quando os donos do capital vendem ?". Wall Street ocupada Espalha-se o movimento surgido nas ruas da capital financeira do globo. Vai se espalhando pelos EUA e ao redor do mundo. Nada mais natural verificarmos que sociedades organizadas questionem o caminho do próprio dinheiro, aquele que sai dos cofres públicos na direção de instituições que faliram por força da irresponsabilidade de seus gestores endinheirados. Se esta constatação é factual, de um lado, de outro ainda não sabemos se as ocupações de ruas e praças resultarão na politização necessária para transformar a política. Até agora, a tradução dos fatos para as ações políticas não aconteceu. Na última semana, até o latin lover Berlusconi conseguiu sobreviver ao voto de confiança do parlamento italiano. Na França, Nicolas Sarkozy lidera as pesquisas para a eleição de 2012. Na Espanha, Zapatero finge que a crise não chegou. Na Alemanha, Angela Merkel deita e rola no parlamento e apenas apanhou nas eleições municipais. E assim vai. Ao que parece os efeitos maiores cairão sobre Obama que, além das esperanças iniciais de sua gestão, mostrou que é uma figura pálida e híbrida : mistura discursos de Bush com os de Martin Luther King e acaba gestando políticas de Jimmy Carter, o georgiano que deixou a economia dos EUA de pernas para o ar. Radar NA REAL 14/10/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3760 estável alta - REAL 1,7520 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.030,50 estável baixa - S&P 500 1.224,58 estável baixa - NASDAQ 2.672,96 estável baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Deve-se levar a sério Orlando Silva (I) Orlando Silva, não este patético ministro de Dilma, mas "o cantor das multidões" (1915-1978), cantava na música Tristeza : Esta será a última cançãoQue cantarei ao me despedirDepois verás entãoEm breve eu partirPara não ver em vãoO teu sorrir. Esta música cai com perfeição nos lábios de boa parte da classe política. Sobretudo, para o PT e o PMDB, ávidos não apenas pelo poder nas bordas do governo, mas também de olho nos volumosos recursos que a Copa e as Olimpíadas despejam no ex-micro ministério. Neste ponto, valerá apreciar os passos presidenciais. A presidente Dilma, ansiosa em dar um choque de gestão sobre as obras esportivas, pode cair na tentação de tornar o cargo mais, digamos, tecnocrático. Isso pode significar um reequilíbrio de forças dentro do governo com efeitos bem além deles. Deve-se levar a sério Orlando Silva (II) Um dos efeitos mais prováveis, caso a presidente tome outro rumo que não seja colocar um político do PC do B no lugar de Orlando Silva, será em relação ao jogo de poder que envolve o todo poderoso Ricardo Teixeira e o silencioso presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman. Este dois personagens exercem certas tarefas como se governamentais fossem e contavam com algo mais que simpatia do quase ex-ministro. Portanto, aqueles que acompanham não apenas fatos, mas tendências, devem apreciar com especial carinho os próximos passos da presidente Dilma "Limpeza ética" A presidente Dilma vem fazendo um louvável esforço para colocar certos pingos nos "is" quando o assunto é corrupção. Como herdeira dos votos de seu antecessor, não é tarefa fácil. Ao mesmo tempo em que a "limpeza do governo" lhe dá credibilidade, o que é fator de legitimação política, de outro lado a presidente se descredencia perante Lula e seu (imenso) grupo de acólitos. Ora, se a presidente prosseguir em seu esforço de higiene política, a aliança do governo tremerá de novo e, aí, não apenas Temer, Sarney, Dirceu e cia. terão de ser chamados, mas também os candidatos das próximas eleições, os quais ficam bem sensíveis em relação à obtenção de apoio político de seus parceiros que anseiam o poder municipal. Um risco que a presidente terá de correr se quiser seguir com sua imagem ética. Esquerda brasileira Muitos temeram a esquerda brasileira no governo. Há ainda os que a temem. Convenhamos : nada mais fora de esquadro. Do ponto de vista ideológico, resta-nos poucos comentários de vez que chega a ser risível imaginarmos um governo que possa convocar o marxismo real do século XX como elemento de transformação sócio-político. Do ponto de vista econômico, o que podemos ver é um quadro feliz de convivência dos esquerdistas com os antigos e modernos burgueses (na falta de melhor palavra). À esquerda brasileira no poder falta é caráter na acepção macunaímica do termo. O PC do B de Orlando Silva é daqueles partidos que pregaram o marxismo de Enver Hoxha - para quem não sabe, foi um ditador da Albânia - e acabaram se complicando com acusações de recebimento de dinheiro em garagens. Nada mais esquisito, para dizer o mínimo. Tão esquisito como ver o ex-guerrilheiro José Dirceu como lobista, o ex-trotskista Antonio Palocci como colecionador de milhões com duvidosas consultorias. Sinceramente... Nome do PC do B Aldo Rebelo, ex-candidato ao TCU, um esquerdista de velha cepa, será lembrado para o lugar de Orlando Silva, seu companheiro de lutas comunistas. Se Dilma mantiver o status do partido no governo, é claro. Comportamento de Celso Amorim De um general conhecedor das coisas que acontecem nas casernas : "Celso Amorim é um excelente ministro da Defesa. Sabe brigar silenciosamente pelas verbas para reequipar as forças armadas e não gosta de vestir roupa de general". Nelson Jobim não deixou saudades nas fileiras militares. Política paulista Convenhamos que não parece sério que um deputado estadual, no caso Roque Barbieri, faça denúncias sobre propinas na liberação de verbas do governo paulista, que o PSDB evite uma desconfortável CPI na Assembleia Legislativa, e, ao mesmo tempo, pregue investigações do governo Federal nas Casas Legislativas Federais. Falta mais do que coerência. Falta vergonha. Kassab e os infelizes A pesca do prefeito paulistano continua. Tenta, de um lado, atrair Alckmin para sua banda na eleição municipal e, ao mesmo tempo, flerta com Dilma de olho na provável reforma ministerial no início de 2012. Não bastasse o contorcionismo político, há uma proposta de Assembleia Constituinte para reformar a atual e não muito velha Constituição e, ainda, reserva espaços para o ex-banqueiro Henrique Meirelles nas suas fileiras. Pois bem : com tudo isto não será surpresa que o PSD chegue à eleição de 2014 com grandes chances de ser de fato o fiel da balança de muitos candidatos a cargos majoritários. Não são poucos os infelizes em seus respectivos partidos. Se o governo falhar na política econômica, a coisa pode ficar ainda mais favorável ao PSD de Kassab. Argentina : sob a benção das urnas A mais que provável eleição de Cristina Kirchner no próximo domingo na Argentina é daqueles acontecimentos que não apenas suscitam temores, mas também ressuscitam fantasmas. Estruturalmente, os riscos econômicos do país são consideráveis, sobretudo em relação à inflação, à política cambial - esta, estratégica para o Brasil - e à falta de investimentos privados e públicos. Falta, porém, alternativa popular para o projeto de Kirchner. A oposição patina sem programa e os empresários temem retaliações. Estes são os temores. Já os fantasmas são bem reais : o controle da mídia, marcado por uma espécie de "peleguismo", e o populismo que destruiu o projeto nacional desde Péron. Do lado do Brasil deveríamos nos preocupar com o que o Itamaraty acha de tudo isso, afinal estamos a falar do mais inquieto dentre os grandes parceiros econômicos do Brasil. ____________ A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros. Se você deseja compartilhar gratuitamente estas migalhas, verdadeiras pílulas de sapiência, com algum amigo, alterar seu e-mail, ou cancelar o envio, clique aqui. ____________
terça-feira, 11 de outubro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 173

A guerra da inflação no "dilmismo" É preciso entender o jogo político do governo e da presidente Dilma para compreender o real movimento de ataque à inflação que está em gestação : 1. A presidente não pode ser alijada dos palanques eleitorais por causa da economia, problemas com emprego e renda. 2. Os aliados não podem perder substância, ou seja, a oposição tem de ficar como está ou diminuir para não se assanhar em 2014 e ganhar reforço no Congresso a partir do ano que vem. 3. Os parceiros não podem ficar sozinhos, donos das vitórias governistas. Se essas condições contrárias se realizarem, a força presidencial esmorece e ela passa a dividir - se não perder - o embate político para terceiros. Fica em xeque em 2014. Dilma pode até não pensar em outro mandato, o que seria inacreditável, mas precisa manter-se em condições de disputar para ser dona da decisão. Tem de evitar o envelhecimento precoce de seu governo, agora que está conseguindo livrar-se de alguns fantasmas - reais e imaginários - de tutelas e dependências. Assim, a política econômica está subordinada, salvo desastres, a não provocar turbulências no ano que vem. Em Bruxelas, semana passada, ela deu o recado : "Dificilmente se sai da crise sem aumentar o consumo, o investimento e o nível de crescimento". A inflação é uma questão política neste momento brasileiro.   No fio da navalha O desafio das autoridades econômicas é definir qual o tamanho da inflação cabe no bolso dos eleitores preferenciais de Dilma, do PT e da nova classe média. Um indicador pode ser as greves que começaram a pipocar. A calmaria sindical com Lula começou a se agitar sob Dilma. Ato falho ? O BC, com Alexandre Tombini à frente, em coro com todo o governo, tem assegurado que levará a inflação para o centro da meta, de 4,5% até o fim de 2012. Pois bem ! Em entrevista à "Folha de S.Paulo" de domingo, quando perguntado qual o Brasil espera deixar quando terminar o seu mandato no BC, saiu-se com esta : "Uma inflação estabilizada, na faixa de 4,5% (...)". O mandato dele termina, em tese, em 2014. Nenhum aperto anti-inflacionário maior até lá ? Tombini, em outros tempos, já foi favorável à redução da meta de inflação atual. E a meta de inflação ? Com a divulgação do IPCA na semana passada, a inflação "oficial" (para fins de estabelecimento da meta de inflação) está em 7,31% nos últimos doze meses. Bem acima daquilo que se julga, digamos, razoável. De outro lado, ainda não estão sequer parcialmente incluídos os efeitos da recente alta da taxa de câmbio. Seria uma irresponsabilidade operar "no limite" da inflação numa espécie de torcida para que esta caia. Isto não é autoridade monetária, é loteria. Da entrevista do presidente do BC o que se extrai é quase nada de estratégia para resgatar um nível de variação de preços mais modesto. Ora, esta forma de agir de Tombini e seus companheiros de BC afetará não apenas a economia, mas a própria credibilidade institucional da autoridade monetária. Inflação chinesa Há problemas de inflação por aqui, mas na China a coisa é mais séria e indica claros problemas mais à frente. A inflação por lá ameaça ir para 10% ao ano (como aqui) e a taxa de juros é negativa em termos reais. Há poucos dados confiáveis, mas a crença de que existe uma "bolha imobiliária" no país está crescendo. Além disso, há sinais mais consistentes dando conta de uma desaceleração no setor industrial. Não à toa, a bolsa de Xangai está em queda e os investidores, discretamente como convém ao lidar com um país comunista, estão vendendo posições. Este é um risco que ainda não surgiu no horizonte concreto das análises. Todavia, se a China se tornar um risco, o mundo tremerá. Como previu Napoleão Bonaparte há mais de dois séculos. Europa : a primeira solução A nacionalização do Dexia, o maior banco belga, é uma boa notícia num contexto desastroso na Europa. Pela primeira vez a dupla Merkel-Sarkozy agiu com pragmatismo e, de resto, ainda prometeu mais medidas consistentes até o final do mês para resgatar o euro. Ao que parece, a chanceler alemã entendeu os sinais dos eleitores que a derrotaram recentemente nas eleições regionais e se rendeu ao fato de que a Alemanha está na Europa. Uma lição que Merkel tinha se esquecido. Não dá para prever o grau de profundidade das medidas que virão ao final deste mês. Todavia, não vale a pena "apostar contra". A hora, para os agentes em geral e os investidores em particular, é de observação. Com algum otimismo, diga-se. Não é apenas a Grécia... Ultimamente os analistas tratam a Grécia como "o problema" da Europa. De fato, o país está sufocado pelas dívidas. Todavia, vale a lembrança de que a Bélgica que nacionalizou o Dexia e é uma "queridinha" das agências classificadoras de risco é o terceiro país mais endividado da Europa. Volcker e o essencial Paul Volcker, ex-presidente do Fed, é daqueles homens públicos que sabem exercer sua missão. Muito embora bem conheça e tenha ótimo trânsito no setor privado, ele não se escusa de sua missão pública. A norma que leva seu nome proíbe que os bancos norte-americanos assumam riscos utilizando-se de seu próprio capital, as chamadas operações de tesouraria. Agora os bancos estrangeiros que atuam nos EUA também devem se enquadrar à norma. Volcker toca naquilo que é essencial no controle de riscos sistêmicos : são os conflitos de interesses entre as operações proprietárias dos bancos e suas tradicionais operações de intermediação os maiores propulsores dos colapsos financeiros. O resto é consequência.... Por que não no Brasil ? O BC e o governo brasileiro bem que poderiam apertar as regras das operações de tesouraria dos bancos locais e estrangeiros. Ou será que por aqui jamais pode acontecer o mesmo que ocorreu nos EUA ? CNJ e a economia Reza uma das máximas da teoria de finanças que a eficiência informacional é essencial para o bom funcionamento dos mercados. Esta é uma ótima lição para o Judiciário brasileiro por em prática. Ao ser muito transparente e atuante nas punições ao "mau funcionamento do mercado judicial", o CNJ estaria contribuindo decisivamente para o aumento da segurança jurídica e para a melhoria dos procedimentos judiciais. Isso é parte essencial da modernidade necessária ao país e mais : é razão para o aumento da produtividade de toda a economia que, na área judiciária, pena nas filas imensas dos cartórios dos fóruns e Tribunais. Radar NA REAL 7/10/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3654 estável alta - REAL 1,7489 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 51.243,64 estável baixa - S&P 500 1.155,46 estável baixa - NASDAQ 2.479,35 estável baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Notas do Butantã Federal Anotações, do mesmo teor, de observadores do ofidiário de Brasília : 1. O vice-presidente foi extremamente mais discreto na substituição de Dilma nas recentes viagens dela aos EUA e à Europa do que havia sido em suas interinidades anteriores. 2. Lula, de público, está mais voltado para as coisas do PT e das eleições municipais e bem menos "observador" das questões Federais. 3. O alter ego ex-presidencial, ministro Gilberto de Carvalho, também tomou um chá de boca fechada. Pausas e silêncios Os partidos políticos aliados, de repente, acomodaram-se em suas reivindicações públicas. Ministros, a não ser os que parecem autorizados, falam cada vez menos e quase sempre em questões bem específicas. Instalou-se no poder certo temor reverencial à presidente. Ainda mais que ao que se especula a reforma ministerial deve ser mais ampla do que se imagina. Uma estratégia para Lula ? O ex-presidente está empenhado em montar o máximo de alianças possíveis no ano que vem entre os partidos da coalizão de apoio à Dilma. Cobra sacrifícios duros do PT em nome da unidade da aliança governista para 2014. Nem todos estão felizes com isto dentro do PT. As eleições para prefeito são determinantes para as eleições na Câmara e nas Assembleias Legislativas. O temor de alguns petistas é dar espaço para outros aliados. No RS há clima de quase insurreição. Na ótica de petistas mais críticos, para a eleição presidencial a estratégia parece perfeita. Para o resto, nem tanto : nem tudo que é bom para Lula pode ser bom para o PT. Mas como o partido pode reagir se sabe que sem Lula perde a identidade ? Aécio abre o jogo Ao abandonar a prudência mineira e se apresentar, em duas entrevistas seguidas, como candidato a candidato à presidência da República por seu partido, o PSDB, o senador faz um lance em três direções : 1. Tenta atrair seu principal concorrente, José Serra, para o centro da liça logo agora, no meio do debate das eleições municipais, nas quais, em São Paulo, o ex-governador paulista é parte diretamente interessada, queira ou não. 2. Procura se firmar como principal foco de oposição, ainda que moderada, ao governo Dilma. 3. Obriga o PSDB a sair da modorra em que se encontra e começar a se preparar para os embates de 2012 e 2014. Como partido, o PSDB não tem nenhuma estratégia geral para essas eleições. Cada cidade e cada grupo tem a sua. Não há agenda, não há planos, não há pauta. Kassab atropela. E pode ser atropelado. A conquista da adesão do ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, para o PSD em São Paulo, embora ele pessoalmente não tenha votos, mostra que o prefeito Gilberto Kassab está jogando alto com seu novo partido. Em que direção, ainda não se sabe, pois ele já acenou com possível aliança com Dilma, fez mesuras ao PSDB e tem feitos outros sinais para outros partidos. Sua tática inicial parece ser a de confundir e dividir para tentar reinar. Tanto aparece nas especulações como futuro ministro de Dilma quanto como alguém que pode compor com Geraldo Alckmin. Está atropelando, inclusive o presidente Lula : Meirelles é uma espécie de Haddad de Kassab como Haddad pode ser uma espécie de Meirelles de Lula. Vão correr na mesma faixa. E pode esvaziar o PMDB com Chalita. Falta, no entanto, combinar com o eleitor. O maior problema de Kassab O problema maior de Kassab com o PSD não é conseguir adeptos - ele já demonstrou que sabe agir. O mais urgente é garantir um tempo maior na televisão além de um minuto a que tem direito todos os partidos inscritos legalmente no TSE. Sem esta arma, pode ir mal em 2012 e perder densidade política e eleitoral. Ou então terá de se sujeitar a outros partidos para ter espaço e fazer prefeitos e governadores. Como pensar em ganhar, por exemplo, na capital paulista, mesmo com a figura respeitada de Henrique Meirelles, com cerca de 50 segundos de propaganda no rádio e na televisão para dividir também com os candidatos a governador ? A verdadeira batalha judicial para a existência real do PSD vai ser travada no TSE quando o partido pedir para ele o tempo dos deputados Federais que conquistou. ____________
terça-feira, 4 de outubro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 172

Dilma popular, políticas em xeque Surpreendeu, causou ciúmes e desgosto o resultado da última pesquisa de opinião realizada pelo Ibope por encomenda da CNI na qual a popularidade da presidente Dilma subiu em relação aos números de julho e já é melhor que a de Lula. O próprio Planalto foi surpreendido e, embora tivesse suas pesquisas para consumo interno, não tinha segurança quanto as repercussões das histórias de corrupção na imagem da presidente e do governo. Causou ciúmes em quem se julga monopolista da popularidade no Brasil. Seus adeptos não passarão recibo. Porém, não comemoraram. 2014 é um horizonte que mais divide do que aproxima. Já a oposição... A popularidade da presidente produziu desgosto na oposição. Ela que apostava - e só apostava nisto ! - no desgaste do governo por causa da avalanche de ministros demitidos, descobriu que precisará sair em busca de novos discursos e ações se não quiser se tornar mais irrelevante do que já está hoje. Noves fora esta maravilha para os dilmistas, a pesquisa traz números preocupantes em relação às políticas oficiais. Dois pontos principais : o descontentamento com a política de saúde, sobre a qual o governo "tergiversa" e deixa se envolver numa discussão extemporânea sobre falta de recursos e as preocupações com a volta de inflação, em torno da qual o BC anda passivo. A lição é simples : não há governo popular no longo prazo com políticas que afetam a população e também geram apreensão. A "faxina" dá louros temporários. As políticas públicas cobram votos. Economia e popularidade Já analisamos nas colunas das últimas semanas a influência da crise externa sobre o Brasil. Bem como as preocupações com a inflação crescente. O dado mais incerto de qualquer análise, contudo, diz respeito aos efeitos que uma menor atividade econômica e maior inflação terão sobre a popularidade e se a presidente estará habilitada para trocar "popularidade no curto prazo por popularidade no longo prazo". Explicamos : necessitará de ajustes na política econômica expansionista ora em vigor. O emprego ficará mais raro e o poder de compra mais restrito. A presidente saberá operar este cenário sem olhar a toda hora para as pesquisas de opinião ? Um meio argumento Para justificar a necessidade de mais recursos para a área da saúde (agora, depois de uma "faxina", na expressão da presidente) o governo tem apresentado o gasto de outros países como exemplo de que vamos mal. Primeiro foi o ministro Aloizio Mercadante, e depois a própria Dilma, a dizer que a Argentina investe no setor, per capita, 47% mais que o Brasil e o Chile 18%. Falta completar e dizer que eles fazem isso com uma carga tributária bem mais baixa que a brasileira. De novo : é questão de prioridade e não simplesmente de recursos escassos. Só faltou dizer o nome Em evento promovido em SP pela revista "Exame", a presidente Dilma justificou o que já está sendo considerado uma "nova política econômica" e defendeu algumas medidas já adotadas por seu governo para isolar o Brasil da crise que se desenha no horizonte. Disse que o país não pode repetir erros cometidos na última débâcle econômica mundial em 2008. Deu aval à tese de que na ocasião o BC perdeu uma excelente oportunidade para começar a baixar os juros. Pequena lembrança : o presidente, em 2008, era o padrinho Lula. As últimas manifestações públicas da presidente, como esta, os discursos nos EUA e algumas atitudes em relação a partidos e aliados, indicam que seu governo está se afastando, tanto na política e na economia, do legado de Lula. Não há, nem deverá haver, rompimentos pessoais. Mas os propósitos já não são os mesmos. Intrigas brasilienses De um isento observador brasiliense : "Até pouco tempo Dilma tinha a caneta, mas Lula tinha a popularidade. Agora, pelo menos por um tempo, Dilma tem os dois. E isto vai fazer a diferença." Cenário do mercado I Tudo que sabemos até agora sobre a crise europeia mostra que os governos europeus ainda não se capacitaram, inclusive do ponto de vista político, para enfrentar o desemprego, a crise bancária e de crédito e a falta de investimento público e privado. Obama do outro lado do Atlântico tenta e não consegue. Os europeus, liderados por Angela Merkel e Sarkozy, não conseguem tentar. Neste contexto, a Grécia sofre pressões desumanas e os espanhois, italianos, portugueses, franceses, etc. fingem que têm capacidade de crédito. Triste sina do Velho Continente. Cenário do mercado II Se a coisa continuar do jeito que está, as possibilidades de um colapso financeiro como o de 2008 é elevadíssima. Se os governos europeus agirem com força, decisão e porte, o colapso se torna apenas uma crise, embora profunda. Este é o tamanho da aposta de quem está a correr riscos no mercado financeiro e de capital mundo afora. A volatilidade está elevada, mas os volumes de ativos negociados estão baixos na maioria dos segmentos de mercado. Sinal ruim. A preferência dos investidores ainda será de cautela. Depois pode ser de desespero ou alguma euforia momentânea, até que a crise começar a amainar. Qual o tamanho do "resgate europeu" ? Nouriel Roubini era um economista, até cinco anos atrás, considerado "pária" e "catastrofista" por seus pares e o tal do mercado. Quando veio a crise de 2008 virou uma espécie de "oráculo". Atualmente, afirma que a Europa precisa de US$ 2,7 trilhões para solucionar a crise de crédito por que passa. Não causa surpresa. Estudos internos do FMI e Banco Mundial mostram que a necessidade é essa mesma. A "caixa de surpresas" de Roubini não surpreende mais... Ainda sobre a estratégia econômica de Dilma Reduzir a taxa de juros não é apenas um desejo deste governo. É uma meta nacional. Já comentamos nesta coluna que a crise pode ser uma excelente oportunidade para que esta redução ocorra com maior adesão dos agentes econômicos. Todavia, o que temos agora é inflação para cima e real para baixo (mais inflação). Por que o governo se adiantou aos efeitos da crise ? Difícil compreender. Também é difícil imaginar quais os "dados" que o BC e a Fazenda têm e que o "mercado" desconhece. Ora, a leitura do "relatório de inflação", divulgado na semana passada pelo BC, neste ponto particular, não deixa segurança para ninguém. Pouco explica para que as expectativas dos agentes se alinhem com as do BC. Wall Street sob protestos Não é nada desprezível que os movimentos sociais dos EUA, no passado hiperativos, estejam novamente se mobilizando para protestar contra os bancos e as estruturas financeiras do país. Neste fim de semana passado, mais de 700 foram presos durante a tentativa de ocupação de Wall Street. De fato, a punição dos diretores das instituições financeiras que agiram irresponsavelmente antes da crise de 2008 foi bastante modesta frente aos estragos provocados às famílias de trabalhadores do país. Neste momento prévio à campanha presidencial do ano que vem, o retorno do ativismo antibancos nos EUA é um mau sinal para Obama. É ele, um democrata, que é mais lembrado como "fraco" no combate aos desvios de Wall Street. Os republicanos, quem diria!, hoje defendem a economia real... Radar NA REAL 30/9/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3269 estável alta - REAL 1,8882 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 52.324,44 baixa baixa - S&P 500 1.131,42 baixa baixa - NASDAQ 2.415,40 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Constituinte, uma ideia infeliz Diante das dificuldades que está encontrando para aprovar um remendo de reforma política a seu gosto e a gosto do PT, o ex-presidente Lula sugeriu a criação de uma Constituinte exclusiva, paralela ao Congresso, para discutir e votar o assunto. Nesta esteira, o prefeito Kassab, dono da mais nova legenda partidária brasileira, propôs uma Constituinte ainda mais ampla, para todas as reformas mais urgentes - a política, a previdenciária, a tributária... A proposta implica em ampla discussão jurídica e política, sobre questões como legalidade, legitimidade, oportunidade e mais tais. Mesmo sem esses obstáculos, é o que se pode chamar de uma sugestão inoportuna, ou popularmente, uma "ideia de jerico". "Constituinte" : o que esperar ? Como esperar de uma "Constituinte" (assim entre aspas), eleita sob a legislação eleitoral e partidária viciada como a nossa, possa gerar uma reforma política sem vícios ? A "Constituinte" desse modo só vai servir aos interesses políticos já constituídos, perpetuando nos partidos e no Congresso o que já está provado e não serve aos eleitores e ao país. Basta ver os ensaios de reforma que andam na boca dos políticos. As propostas, de um modo geral, só pioram o que já é ruim. Pobre oposição Depois de fazer uma pesquisa para descobrir o óbvio - que o partido está sem rumo e sem propostas - o PSDB reuniu seus governadores e resolveu cobrar do governo a apresentação de uma agenda para o debate. A boa oposição tem sua própria agenda e procura forçar o governo a debatê-la. O resto, como diz o humorista Millôr Fernandes a respeito da imprensa "chapa branca", é armazém de secos e molhados. Os tucanos estão inventando a oposição "chapa branca" ou "oposição consentida". Dilma agradece. Caminhos para a derrota Sem proposições, sem um discurso para a sociedade e brigando mais que cachorro e gato por conta de suas vaidades, a oposição caminha, com celeridade, para a irrelevância. A última desavença entre serristas e alckimistas em SP é o mais puro sinal da perda de consciência das oposições brasileiras quanto ao seu papel. Tanto no situacionismo quanto no oposicionismo o único valor que realmente conta é o eleitoral. Um partido incômodo Não foi só enfraquecer a oposição o serviço prestado pelo recém-nascido PSD, do prefeito Kassab à presidente Dilma. É também uma grande dádiva para a presidente ter à disposição uma legenda fresquinha e disposta a colaborar para servir de anteparo aos sempre insaciáveis aliados PMDB, PP, PDT, PR e até a um PSB cheio de graça desde que o governo Eduardo Campos deu uma demonstração de prestígio elegendo a mãe, Ana Arraes, para o TCU. Os aliados já estão incomodados com o novo parceiro. Até o PT. Janela de infidelidade - Um Todos os governistas, em maior ou menor grau, ajudaram os formadores do PSD a botar o partido de pé. Mas agora perceberam que a legenda de Kassab está não apenas tirando gente da oposição, mas também deles. E que vai disputar com eles praticamente os mesmos votos em 2012. Os votos da oposição dificilmente vão para a nova legenda. Os arranjos partidários de cúpula são uma coisa, a vontade do eleitor é outra. Janela de infidelidade - Dois Já se começa a falar discretamente nas legendas governistas da abertura de uma janela de infidelidade, um período no qual os políticos poderão trocar de partido sem perder o mandato. Já era uma ideia antiga, mas foi reforçada agora com o surgimento do PSD. Hoje o partido de Kassab tem o monopólio da infidelidade, o que faz os parceiros temerem perder quadros, sem condições de repô-los. Uma vaguinha Já há rumores de que o prefeito Kassab se fará merecedor de um ministério na reforma que Dilma fará no início do ano. Sem mandato, o prefeito paulistano precisará de um espaço para sustentar seus projetos políticos. ____________
terça-feira, 27 de setembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 171

A real política econômica - ou o "plano real" de Dilma I Em doses homeopáticas, sem muito destaque, o governo da presidente Dilma tem dado clara indicação das diretrizes de sua política econômica, do cavalo de pau que está dando na política herdada de Lula. Esta, por sua vez, herdada por Lula de FHC. Da própria Dilma, no discurso na ONU : "O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo. Enquanto muitos governos se recolhem, a face mais amarga da crise - a do desemprego - se amplia". Para quem lê, está enunciado o princípio de que o Estado vai intervir sempre que julgar necessário, cada vez mais. O tripé de política econômica composto pelo câmbio flutuante, política fiscal disciplinada e meta de inflação hoje tem valor relativo. A real política econômica - ou o "plano real" de Dilma II O boletim bimestral "Economia Brasileira em Perspectiva", do ministério da Fazenda, distribuído também na semana passada, informa que "uma política monetária expansionista seria uma resposta à desaceleração da economia". Na mesma linha de outro dito da presidente em NY : que não dá para sair da crise "produzindo recessão". Em Brasília, vozes mais entusiasmadas, já chamam esse arranjo de "o Plano Real" de Dilma. Dando certo, seria o passaporte para ela se livrar da sombra de Lula e projetar uma espécie de "dilmismo", para além de 2014. A economia na real Se, de um lado, é certo que Dilma começa a formular uma política econômica fora dos padrões dos governos anteriores, de outro os problemas econômicos atuais são efetivos. A crise externa começa a interferir diretamente sobre a economia brasileira. A face mais visível são os recentes movimentos altistas do câmbio e sua correspondente influência sobre a inflação. Todavia, não é o único efeito. Linhas de crédito em reais e moeda estrangeira estão substancialmente mais caras e escassas, os investimentos diretos estão sendo paulatinamente revistos, o consumo de bens duráveis mostra sinais de enfraquecimento e, com efeito, a atividade econômica está bem mais frágil, algo além do que podia se esperar. O Brasil vai crescer menos que a média da América Latina e cerca de 1/3 do que Índia e China vão crescer este ano. Tudo isso é muito significativo. Inflação : o problema mais urgente O futuro é, por definição, incerto, muito embora os economistas de plantão estejam sempre prontos a prevê-lo. Ora, quem poderia esperar que inflação superasse tão rapidamente a meta estabelecida pelo BC, a qual baliza a política monetária ? Basta verificarmos o que diziam as fontes no final do ano passado sobre o assunto. Pois bem : alguém pode duvidar que a inflação possa atingir um patamar (anual) acima dos dois dígitos ? A resposta honesta hoje é que a probabilidade de que isto aconteça é significativa e, ao mesmo tempo, crescente. As variações da taxa de câmbio pesarão sobre a inflação e é bom não esquecermos de que há mecanismos de indexação suficientes na economia brasileira (aluguéis, crédito imobiliário, salários, preços públicos, etc.) que tragam de volta o "velho" fator inercial. Não apenas o governo subestima este cenário. O próprio "mercado" também o faz. E a política ? Em nome da "política dos políticos" é que está havendo uma certa condescendência com a inflação. Acredita-se que mais PIB signifique mais votos no baú. Esquece-se de que não há maior buraco negro de votos do que preços altos e renda em queda. Principalmente para uma classe "C "emergente, a dita classe média do Lula. BC : credibilidade em baixa A taxa de juros básica no Brasil já poderia estar mais baixa há algum tempo, coisa de anos. Há uma gama de economistas que dirão o contrário, mas o certo é que não há "provas científicas" que sustentem que temos de ter uma taxa de juros real tão alta assim. Esta premissa, contudo, não afasta a constatação de que o BC escolheu a pior forma e momento para iniciar a queda dos juros. Com a inflação em alta e a taxa de câmbio supervalorizada, o BC tomou para si e, por decorrência, para o país, todos os riscos econômicos. Provavelmente, não faltou "sensibilidade" à autoridade monetária em relação ao tema, tanto é que a última decisão do COPOM foi construída com os votantes do BC divididos. Agora, a coisa ficou mais complicada, pois o esforço do BC para retomar as rédeas da inflação terá de ser muito maior. Neste caso, Tombini e sua turma poderão descobrir que estarão sozinhos nesta tarefa. A questão dos derivativos É direito de qualquer governo cuidar para a higidez de um segmento de mercado. Ainda mais quando se trata de câmbio. Os ingressos de recursos externos já são enormes desde a década de 90. Coisa de longo prazo e cujo destino sempre foi o lucrativo mercado de juros brasileiro. Em julho o governo, leia-se Fazenda, resolveu adotar uma medida de restrição cambial, escolheu o mercado de derivativos com o fito de evitar a tal da "arbitragem" entre juros locais e externos. Está claro que a medida adotada não foi concebida com a devida análise de suas consequências. Por duas razões : (i) os "hedgers" (aqueles que querem proteção cambial) tiveram que comprar posições no mercado à vista, pois não há mais vendedores de câmbio no mercado de derivativos. De outro lado, (ii) os detentores de dólares não vão liberá-los, pois poderão não ter liquidez no futuro. Resultado : apenas o governo pode fornecer dólares com suficiência para o mercado. É o que está a ocorrer. A Fazenda fez algo inesperado : deu um nó no BC. Que, obediente, calou-se. A crise europeia Não dá para ficar pessimista com o anúncio e as notícias que vieram da reunião do FMI neste último fim de semana. Isso não significa que devemos ficar eufóricos. De fato, a leitura do que saiu da autoridade multilateral mostra que, finalmente, os europeus parecem dispostos a agir, criando formas e fontes que aumentem a liquidez do sistema financeiro, bem como limitem os riscos do crédito soberano. Não será somente a pequena Grécia a ser analisada na reunião da UE na primeira semana de outubro. De fato, parece que teremos novidades e estas serão positivas. Isso não quer dizer que os mercados reverterão as expectativas. Quer dizer que talvez poderemos rever as nossas piores expectativas. Não dá para se antecipar às medidas e operar no mercado, mesmo porque caso a "nova estratégia europeia" seja um desastre, os efeitos serão terríveis. Por isto não mudamos o nosso "Radar NA REAL". A pergunta de Canotilho A edição, na última quinta-feira, do "Prêmio Mendes Junior" da GVLaw reuniu Delfim Netto, Ives Grandra e J.J. Canotilho para discutir os efeitos da segurança jurídica sobre o desenvolvimento econômico. Um debate recheado de erudição e vívida reflexão prática. A certa altura do debate, o português J.J. Canotilho, um dos maiores constitucionalistas vivos do mundo, acusou : "as parcerias público-privadas eram vistas até pouco tempo atrás como a 'salvação' da economia portuguesa na sua tarefa de se desenvolver. Hoje, depois da deflagração da crise europeia, estas PPPs são vistas como 'as maiores produtoras de déficit público' de Portugal pela União Europeia. Como isto é possível ?". Segundo o jurista, "a questão fundamental hoje não é como o Estado cumpre a sua função fiscalizadora, mas se o faz de maneira inteligente". Eis uma excelente reflexão nestes tempos de Copa do Mundo e Olimpíadas neste nosso país... Radar NA REAL 23/9/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3448 estável alta - REAL 1,8498 queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 57.210,11 baixa baixa - S&P 500 1.136,43 baixa baixa - NASDAQ 2.483,23 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Queridinho do mercado Roger Agnelli, ex-Vale, acaba de ganhar o prêmio da prestigiada "Revista RI" como "Melhor Desempenho em RI (Relações com Investidores) por um CEO". Das sete edições deste prêmio, Agnelli foi indicado todas as vezes e ganhou quatro prêmios. Um desempenho e tanto. Resta saber se alguma autoridade da Fazenda prestigiará a entrega do prêmio, depois de tirar a coroa de Agnelli na Vale. Reforma política de fachada Até os mais ingênuos parceiros já notaram : as mudanças eleitorais que Lula abraçou são principalmente muito boas para o PT. E para ele, Lula. O voto em lista é uma aberração. Mais dinheiro público em campanha, sem democracia partidária e sem controle rígido e punição rigorosa para "caixa dois", outra. Dinheiro de estatais na campanha, crime. O PMDB não fica atrás, distritão é regressão. Não há reforma para valer. Não interessa a ninguém, nem situacionistas nem oposicionistas. Nada de mudar de fato o que está aí, correr o risco de pôr novos atores na cena política e dar mais voz e poder de escolha ao eleitor. Daí opção por novos velhos com Fernando Haddad, Gabriel Chalita, Bruno Covas, etc. O lema é mudar para permanecer como está. Constrangimentos no judiciário O silêncio da maioria dos membros da Justiça a respeito das resistências do Executivo e do Legislativo em aprovarem o pedido de reajuste salarial para eles não é de ouro. Pode, quase discretamente, fazer muito barulho. É apenas tática Nem o governo nem o Congresso desistiram de ter uma nova fonte para "financiar a saúde", ou seja, ter um novo velho imposto como a CPMF, uma outra jabuticaba tributária ou um ajuste num dos velhos tributos. Eles estão esperando apenas uma ocasião mais propícia para passar o arranjo goela abaixo da sociedade. Veja-se que nunca se fez questão, na área pública, de mostrar tanto as mazelas do setor quanto agora. O que está errado ? Da ministra Eliana Calmon, do STJ, a respeito da anulação das provas contra negócios da família Sarney : "Ou a Polícia Federal está inteiramente errada, jogando fora o dinheiro da Nação, fazendo investigações temerárias, ou a Justiça está errada". O que o ministro da Justiça vai fazer ? A China real e a China imaginária Em fulgorosa viagem à China, em abril, a presidente Dilma teve a oportunidade de, segundo informações brasileiras, patrocinar o acerto de dois grandes negócios de interesse do Brasil; - a reativação da fábrica da Embraer no país, com venda de produtos brasileiros para os chineses. - um investimento de US$ 12 bilhões da chinesa Foxconn no Brasil para fabricação dos tablets da Apple aqui. Cinco meses depois : a Embraer ainda está a "ver aviões" e os US$ 12 bi ainda não voaram, à espera do generoso BNDES. Negociar com os chineses é ciência que exige mais do gogó e deslumbramento. Descobriram a pólvora Os tucanos encomendaram uma pesquisa para descobrir o que até a torcida da Seleção Brasileira já sabia : eles perderam todas suas bandeiras, todas suas marcas para Lula e o PT. Até os louros da estabilidade da moeda e do garrote na inflação hoje são divididos com o ex-presidente. O mais grave é que ela não achou ainda o que botar no lugar, embora temas surjam no ar todos os dias. Os oposicionistas preferem desentender-se uns com os outros. ____________
terça-feira, 20 de setembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 170

Um efeito colateral adocicado para o governo A cada dificuldade que aparece, o governo - com o argumento de que está em defesa da economia nacional - saca do seu arsenal a velha fórmula de aumentar impostos. Assim : 1. Quando a entrada de capital estrangeiro passou a assustar, elevou o IOF. 2. Quando, mesmo com essas medidas, a avalanche não amainou, taxou os derivativos com IOF. 3. Para incentivar alguns setores, reduziu tributos, de um lado, e elevou impostos, como os de cigarros e bebidas, de outro. 4. A isenção das contribuições sociais de alguns setores - têxteis, móveis, calçados - para facilitar a competição do produto nacional com o estrangeiro - foi imediatamente compensada por um adicional do tributo sobre faturamento. As empresas supostamente beneficiadas preferem ficar no regime anterior, pois calculam que, com o novo modelo, pagarão mais. É doce e fácil aumentar imposto, não exige nem criatividade nem sacrifícios do poder cobrador. Agora, de novo, o mesmo expediente Para quem não se lembra - alguns jornais recordaram isto muito bem nos últimos dias - a conversa de dar amparo aos veículos brasileiros, esboçada no "Brasil Maior", falava em redução do IPI para que cumprisse algumas exigências com índice de nacionalização, investimentos em inovação, etc. Na conta final, sobrou um brutal aumento de IPI, numa medida altamente protecionista, mas que não beneficia o consumidor nem garante, como o governo apregoa, a manutenção ou criação de empregos, pois isto não está nas exigências apresentadas quinta-feira passada quando a divulgação do "novo" modelo automotivo. É por essas e outras que, apesar de todo o ceticismo de boa parte dos analistas privados, o governo garante que conseguirá, sem subterfúgios, fazer os 3,1% do PIB de superávit primário em 2012. Haverá sempre no meio do caminho um setor pedindo proteção e um imposto disponível. A ausência de estratégia O termo "política industrial" é um termo a partir do qual é possível se fazer muita coisa. Uma delas é o puro protecionismo à indústria com benefícios sociais duvidosos. Isto ocorre, sobretudo, quando falta ao governo uma estratégia consistente e abrangente para atender aos legítimos anseios de construção de uma indústria nacional que favoreça o desenvolvimento de um país. Políticas industriais que não são pautadas por objetivos claros, discutidos e abrangentes normalmente resultam de lobbies reunidos à sombra dos holofotes e pactos políticos nada transparentes. Foi o que ocorreu no caso dos veículos importados. Sem nenhuma meta de mais longo prazo o governo atendeu às montadoras, aos sindicatos e à indústria de componentes locais. Sem que o distinto consumidor pudesse opinar. Escorregando na "mantega" ? I Desde que foi ungido como o ministro mais "forte" do governo Dilma, o único que, segundo notas da imprensa, fala com a presidente em qualquer circunstância e o único, segundo ele mesmo, que fala em nome dela, Mantega ganhou "asas" que podem conduzi-lo a voos cegos e vacilações de quebrar costelas. Registre-se, por exemplo, seu desempenho no caso do IPI dos carros "não nacionais". Os ministros parceiros dele no "Brasil Maior", programa que pretende ser "a política industrial do país", não foram desta vez sequer coadjuvantes na decisão - foram apenas privilegiados espectadores. O que deveria focar em redução de impostos virou elevação de tributos como dissemos acima. Escorregando na "mantega" ? II O tom do ministro perdeu a suavidade, está mais ameaçador. Mesmo que o presidente da Abeiva (entidade dos importadores) tenha sido, como de fato foi, impertinente, ao tentar pedir explicações a ele numa coletiva de imprensa. Mantega foi mais do que duro ao cortá-lo, principalmente porque adotou uma medida importante, ouvindo apenas um lado. Faltou o que se chama de lhaneza. Há também a informação de que o ministro, em reuniões fechadas, ameaçou retaliar quem entrar contra o Brasil na OMC por prática de protecionismo. Nos mesmos moldes, e ainda de forma mais fechada, foi o método para a adoção da cobrança de IOF nos negócios com derivativos. Verificou-se depois, pelo improviso da medida, que ela não era de fácil aplicação a tal ponto que o ministério da Fazenda, na semana passada, adiou pela segunda vez a data do recolhimento do tributo. E já mudou algumas regras. Pergunta : Dilma sabia ? É claro que a presidente da República sabia das medidas que Mantega iria implementar. Todavia, será que a presidente sabia da magnitude e da forma das medidas restritivas à importação de veículos ? Obama : em busca do tempo perdido Desde quando o presidente Obama foi encurralado pela maioria republicana no Congresso, coisa de dois meses atrás, suas reações tem sido retóricas para não dizer "oratórias". Todavia, seu discurso nesta segunda-feira contrariou positivamente as piores expectativas. Por meio de uma proposta de aumento de US$ 1,5 trilhão em impostos e mais US$ 1,5 trilhão de corte de despesas, Obama conseguiu elaborar uma proposta abrangente para a questão do desemprego e do déficit público. Assim, coloca a oposição numa situação menos confortável. Os republicanos, caso venham enfrentar frontalmente o presidente, terão de defender os mais ricos sobre os quais recairão os impostos e reduzir benefícios sociais para os mais pobres. Nem os mais reacionários farão isso abertamente. Ponto para Obama. Fed nada decidirá Nesta quarta-feira é possível que o BC dos EUA decida alongar o prazo dos títulos que detém. O objetivo é tentar reduzir os juros de longo prazo os quais estão em ascensão em função dos temores de que a inflação volte a cantar pneus e a dívida americana aumente demasiadamente. Qual a importância desta decisão ? Pouca, para não dizer nenhuma. A bola está no campo de Obama. A recessão é crítica, o desemprego galopante e a política opaca. Um modelo de equilíbrio geral dinâmico estocástico Esta não é uma constatação ou uma invenção desta coluna. É como o BC, na última reunião do COPOM, define sua nova política. Há os que entenderam perfeitamente. Os mesmos que explicam a expressão : "a dixteridade dilemática do climatério clavicórdio". Comunicar não é ciência nem arte. E é de bom tom a simplicidade - e obrigação da autoridade. Já ensinava o Velho Guerreiro, nunca assaz lembrado e citado, que quem não se comunica, se trumbica. O BC vem colhendo os frutos do seu "estocastismo" : quanto mais ele fala, mais alguns agentes econômicos ficam em dúvida. Em tempo : segundo o "Aurélio" estocástico significa aleatório. Câmbio para cima A queda recente do real frente às principais moedas era algo há muito esperado, mas que dependia de condições específicas para ocorrer, sobretudo a reversão dos fluxos externos interessados em ganhar os frutos da maior taxa de juros do mundo. As recentes medidas do governo produzirão esta reversão que se soma ao vertiginoso aumento nas remessas de dividendos para o exterior em função da necessidade de caixa de muitas das matrizes das empresas estrangeira aqui instaladas. Todavia, o maior efeito do câmbio está para acontecer : sobre a inflação. Os preços domésticos andaram pouco comportados nos últimos tempos a despeito da valorização do real. Agora terão um impulso a mais para subir, no exato momento em que o BC reduz juros. Os riscos estão aumentando no tema "inflação". Um milagre pela metade O governo está considerando o Regime Diferenciado de Contratações, a ser adotado nas licitações de projetos da Copa com o objetivo de agilizá-los, como uma fórmula mágica, um pó de pirlimpimpim, capaz de reduzir ao limite mínimo os riscos de falcatruas. Técnicos dizem que há pontos positivos. Se for assim, porque não adotá-lo para toda e qualquer licitação ? Radar NA REAL 16/9/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3650 estável alta - REAL 1,7899 queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 57.210,11 baixa baixa - S&P 500 1.216,01 baixa baixa - NASDAQ 2.622,31 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Petrobras : um mico ? A entrevista de José Sérgio Gabrielli à Folha de S. Paulo, nesta última segunda-feira, não esclarece quase nada da estratégia da empresa e, com efeito, do país, no setor de petróleo. Apenas uma certeza é explicitada pelo presidente da estatal : "a indústria de petróleo não trabalha no curto prazo". Assim, as ações da empresa que fez "a maior capitalização da história mundial em 2010" devem se ressentir da falta de perspectivas no curto prazo. José Sarney, um fenômeno Aos 81 anos, Sarney se renova a cada dia e prova que o poder não é assunto para principiantes. Há que se pensar se ele é literalmente um imortal. É herdeiro da cadeira nº 38 da ABL, cujo patrono é Tobias Barreto, e na qual sentou-se Santos Dumont. Ex-prócer do regime militar, apoiador do golpe que exilou, torturou, prendeu, etc., ex-presidente da República num governo que terminou em uma hiperinflação, senador da República jamais aposentado, apoiador de primeira hora de Lula, escritor de livros traduzidos, entre outras línguas, em romeno, chinês e russo, empresário de muito sucesso no paupérrimo estado do Maranhão e muitas outras virtudes que não cabem numa pequena nota como esta. Agora, depois de conseguir censurar um jornal em pleno regime democrático, consegue destruir no STJ qualquer possibilidade de que inquéritos policiais sobre seus negócios (e da família) possam prosseguir. É a glória ! Por que não elevá-lo ao cargo de "Rei do Brasil" ? Um mimo sarneyzista pra os leitores Deixo aos leitores as primeiras linhas do longo e cansativo discurso de Sarney quando tomou posse na ABL, defronte ao General João Figueiredo, último ditador militar pós-64 : "À sombra dos meus deuses o sortilégio dos meus caminhos me fez chegar. Nada mais alto, aqui é o infinito. O deus primeiro, o Deus da minha fé, da minha submissão à sua voz semeadora dos destinos, que me guardou nas dúvidas, encheu de certezas os meus clarões de perplexidades, estendeu-me a mão firme de pai para que eu a apertasse o calor de suas crenças; que me criou José, que me fez Sarney e cobriu a minha cabeça da coroa fria e sem vaidade dos dias que me entregou e eu plantei". Sarney sabe do que fala. Palocci articula Ao que parece Palocci anda em sólidas articulações com grupos políticos. Referimo-nos às articulações da candidatura petista à prefeitura de Ribeirão Preto. Esperam seus correligionários que entre uma e outra consultoria, Palocci tenha tempo para fazer política. Sem perda de seus volumosos fees pagos por seus conhecimentos nobilíssimos - relacionados ao prêmio Nobel. Faxina e dependência No episódio da demissão do peemedebista Pedro Novais e sua substituição pelo peemedebista Gastão Vieira no ministério do Turismo, revela-se toda a incongruência das políticas da presidente Dilma em relação ao Congresso e seus aliados e em relação à boa gestão dos negócios públicos. Ponto positivo para a presidente quando ela demitiu o ministro Novais. Mas ponto negativo quando ela manteve o padrão de loteamento dos ministérios. Foi, aliás, o que ela comprovou com o discurso de exaltação do PMDB, no encontro do partido dia seguinte ao desenlace no Turismo. Resta saber se essas juras de confiança que ela faz de público são correspondidas e, de fato, respeitadas no "escurinho do Congresso". Bolinhas de papel Os dois maiores partidos aliados expeliram documentos de intenção eleitoral nas duas últimas semanas, a partir de concorridos eventos midiáticos em Brasília. Nem PT nem PMDB foram além das generalidades. Em nenhum dos dois papéis encontram-se diretrizes partidárias sobre assuntos de relevância nacional. Na realidade, os dois partidos estão mesmo é interessados nas estratégias para as eleições municipais do ano que vem. Nas quais, um pretende, com todo o respeito, engolir o outro. Amigos, amigos... É amanhã a eleição para a cobiçada vaga existente no TCU. Registre-se inicialmente, a estranheza de um lugar puramente técnico-jurídico, reservar lugares para deputados e senadores pelo simples fato de eles serem parlamentares. Hoje há dois candidatos com chances reais : o paulista Aldo Rabelo (PC do B) e a pernambucana Ana Arraes (PSB), ambos da fileira governista. Entendidos em votações na Câmara acham que Ana, mãe do governador Eduardo Campos, tem mais probabilidade de ser escolhida, até pelo empenho direto e nada discreto do filho em favor dela. Observadores políticos mais maliciosos dizem que talvez esta seja maior fraqueza do filho e o melhor trunfo do deputado paulista. Nem o PT nem o PMDB tem o menor interesse em temperar o espaço político de Campos, um líder em ascensão e que tem elevadas pretensões. Sem direito à reeleição, ele tanto pode tentar ser vice de Dilma (ou Lula) como compor-se com a oposição. ____________
terça-feira, 13 de setembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 169

A política econômica de Dilma Rousseff é de Dilma Se no todo o governo da presidente Rousseff ainda é comumente visto como mera continuidade da administração Lula, o mesmo não pode se dito da política econômica. São muitas as digitais da própria presidente nas recentes alterações na gestão da economia. Vejamos os principais traços da "nova política econômica" : 1) A presidente quer juros primários mais baixos, mesmo que isso implique na quebra de pressupostos relevantes do sistema de metas de inflação como, por exemplo, a administração das expectativas dos agentes; 2) A independência "operacional" do BC é muito mais "relativa". Este deve observar e seguir a orientação da política econômica sancionada pelo Planalto; 3) A presidente não é uma "fiscalista" na essência, mas vê nas restrições de gastos o principal mecanismo de gestão da economia (e da inflação). Todavia, não está disposta e nem tem força para revisar os gastos correntes feitos na gestão de Lula; 4) A taxa de câmbio não é resultado de fatores endógenos (formado pelo próprio mercado) e sim da excessiva liberdade de fluxos financeiros. É preciso administrá-los e, no limite, contê-los; 5) O controle da inflação deve centrar-se na variação constante dos preços e não em fatores ocasionais. Variações sazonais dos preços tendem a ser desprezadas na gestão da política anti-inflação, apesar dos riscos destas variações se proliferarem pelo resto da economia; 6) Política industrial não é adereço da política econômica como um todo (como durante FHC e Lula). Trata-se de uma necessidade do mundo global; 7) Investimentos públicos são os que puxam o setor privado para o jogo do desenvolvimento. Parcerias entre o setor público e privado são exceção e não regra. Os testes da "nova política econômica" Como se pode observar as mudanças de lavra da presidente são profundas. É um erro dos agentes desprezá-las ou não avaliá-las corretamente. De outro lado, toda mudança impõe riscos e estes não são nada pequenos. Vejamos : 1) A inflação é um problema sério. Há, sim, componentes inerciais e de rigidez na dinâmica dos preços, apesar da provável queda da atividade econômica; 2) Retirar do BC autoridade sobre os juros implica em adicionar mais um risco político direto sobre o Planalto. Além de gerar desconfianças no sistema financeiro que, como se sabe, ao reconhecer mudanças tira proveito de qualquer conjuntura; 3) Na área fiscal falta uma estratégia global para o controle dos gastos públicos. As soluções apresentadas para a produção de superávits fiscais são pontuais e sem consistência intertemporal. Não é um problema deste governo, mas torna-se mais vital quando se altera a política monetária na velocidade em que foi alterada; 4) O câmbio é formado endogenamente e pode surpreender. Além disso, foi a principal "âncora" contra a inflação desde o início do governo Lula; 5) Se os agentes não acreditarem mais no sistema de metas de inflação a reindexação é inevitável e somente ajustes maiores na atividade econômica (para baixo) corrigem os preços; 6) Uma maior dinâmica industrial depende de inúmeros fatores de competitividade que incluem desde políticas setoriais até aspectos sistêmicos, tais como menor tributação e redução dos oligopólios e monopólios na economia. Não há planos profundos nestes temas; 7) O setor público é essencial para engendrar mais crescimento. Todavia, a poupança/investimento do setor público é pelo menos 6% inferior (relativamente ao PIB) à média de países como China e Índia. Assim, as PPPs são a alternativa à mão até que substanciais ajustes no setor público sejam implementados. Sinais da confiança abalada É perceptível pela exposição pública a que se submeteram os economistas do governo, ao afirmar e reafirmar que a decisão do BC sobre juros não foi precipitada nem "política", que - na prática - aumentou-se a desconfiança em relação aos reais propósitos da política econômica, conforme nossa análise acima. O esforço governista de convencimento tem sido reforçado por economistas extra-oficiais, alguns até saindo, em seus mais recentes artigos, de seu estilo irônico e bem humorado de tratar os críticos. Estão um tanto quanto raivosos. A realidade - e o Boletim Focus desta semana é mais uma prova disto, por mais que a opinião dos "mercadistas" seja enviesada - é que há uma queda de braço entre o governo e os formadores de opinião (e de preços) de um modo geral. Juros é questão política O pano de fundo sobre a queda dos juros é mais do que econômico, é político. Duvida-se da disposição da maior parte dos governistas e da base aliada de levar adiante um ajuste fiscal real este ano e principalmente no ano da graça eleitoral de 2012. As contas oficiais, pelo menos as apresentadas até agora, não batem. A própria ministra do Planejamento, ao entregar o orçamento do ano que vem, já admitiu que "ele nasce com a necessidade de um contingenciamento (suspensão de pagamentos) de R$ 25 bilhões". Algumas rubricas, como o retorno do ICMS para os Estados, pela Lei Kandir, nem foram contempladas. Uma das apostas do BC para baixar os juros foi a economia que o governo promete fazer em seus gastos. Como se vê, a questão está bem obscura. As contas reais Quem mexe no Congresso e faz campanha política já, como se diz em economês, "precificou" as eleições municipais de 2012 : se os parlamentares governistas não tiverem um bom "incentivo" para as urnas, a bancada aliada na Câmara e no Senado tende a se reduzir. Já se levantam insatisfações nos municípios e mais desejos e ambições não atendidas da classe média de Lula com a qualidade dos serviços públicos. O risco da oposição Desse modo, a oposição, mesmo não querendo (aliás, parece até que está fazendo força para nada acontecer) corre o risco de sair mais fortalecida das urnas do que está hoje. Por inércia. Não vai sair barato O governo, bem no sufoco, vai aprovar até o fim do ano mais uma prorrogação da Desvinculação das Receitas da União. Sem ela é que as contas nacionais não fecham satisfatoriamente no ano que vem. Vai pagar um pouquinho caro, porém. Um tanto por incúria, pois demorou a mandar a proposta , entregando de graça armas para os chantagistas amigos - os aliados confiáveis, segundo a presidente Dilma na entrevista doméstica no Fantástico. Os "patricinhos" de Lula Foi-se o tempo em que os parceiros políticos preferenciais de Lula eram os velhos amigos sindicalistas e os políticos de tradição profissional. Criador da "nova classe média" brasileira, Lula está caminhando também para lançar uma "nova classe política" - a dos "patricinhos", sem tradição de disputas eleitorais e com certo ar de "tucanos arrependidos". O protótipo é Fernando Haddad em SP. Há, porém, indicações de que outros nomes da mesma extração podem surgir no empreendimento municipal de Lula para o ano que vem. Um deles seria o de Marcio Pochmann, do IPEA, para Campinas. Há companheiros com profundas crises de ciúmes e de identidade. Radar NA REAL 9/9/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,3602 estável alta - REAL 1,7014 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 55.778,35 baixa baixa - S&P 500 1.154,23 baixa baixa - NASDAQ 2.467,99 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Imposto novo na Grécia As chances de dar certo o imposto sobre propriedades, a ser implementado na Grécia, são remotas. Pode até produzir mais resultado fiscal no curto prazo, mas não evitará o default grego. Todos os governos responsáveis sabem disso. A dívida do país é impagável sob todas as circunstâncias e o sofrimento social é insustentável politicamente. O resto é análise furada. O novo imposto brasileiro Dilma pode negar a "volta da CPMF", mas o que a presidente quer mesmo é um imposto igual ao da CPMF, mas com maior rigidez na hora de gastar. Ou seja, a "nova CPMF" voltará sob o argumento de que "agora vamos gastar mesmo com a saúde". A questão é saber se o imposto volta este ano ou em 2012. Obama e o Congresso, de novo O pacote de US$ 447 bilhões de "dinheiro novo" para gastos públicos proposto por Obama tem enorme chance de ser mitigado no Congresso, atualmente mais controlado pelos republicanos. Além disso, as desconfianças na agenda política do presidente norte-americano estão tão grandes que nem seu próprio partido acredita que haverá criação substantiva de empregos no curto e, quiçá, no médio prazo. Somente as eleições presidenciais do ano que vem podem "zerar" o jogo político em favor da redução do desemprego. Fusão de bancos Não são poucas as movimentações de um grande banco de investimento brasileiro no mercado local. Recentemente, este banco, conhecido pela sua agressividade, andou rondando os lados de um grande banco de varejo brasileiro. O objetivo era fundir as operações, criando espaços para uma internacionalização mais rápida do "novo banco". Por enquanto, prevaleceu o veto do principal executivo. Quanto ao futuro, bem, quem viver verá... Alckmin e Serra A insistência do governador de SP em lançar a candidatura de Serra à prefeitura deve ter o claro objetivo de alijar o ex-governador e candidato à presidência das negociações em torno de outra candidatura. Afinal, Serra não quer nem ouvir falar em ser prefeito e Alckmin, sabedor disso, ao insistir na candidatura, quer que a retirada de Serra do front seja declarada, mas também completa. Que não fique nenhum preposto dele na liderança das negociações. Alckmin quer reinar sozinho. Veja versus Dirceu José Dirceu espera com certa ansiedade o resultado das investigações sobre o que ele considera "uma invasão de sua privacidade", no caso, a reportagem da semanal Veja sobre suas atividades em Brasília. Com base nas investigações da polícia é que o líder do PT decidirá sobre os caminhos jurídicos a tomar. Será interessante de toda a forma sabermos como se comportará Dirceu enquanto autor, ao mesmo tempo em que é réu. ____________
terça-feira, 6 de setembro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 168

Política monetária : mudança de tendência ? Nossa previsão, idêntica a do mercado, foi errada. Esperávamos que a taxa de juros básica permanecesse em 12,5% ao ano. O BC, por meio do COPOM, reduziu o custo básico do dinheiro para 12%. Uma análise fria concluirá que esta queda foi surpreendente na forma, mas não foi totalmente no conteúdo. Afinal, o governo havia dado evidências, desde o início da gestão da presidente Dilma, de que a taxa de juros será reduzida para "patamares civilizados". Mais que um desejo, esta premissa é uma necessidade. Portanto, não cabe surpresa (de conteúdo), mesmo porque o governo sempre fez gestões públicas e privadas para que o BC agisse neste sentido. Provavelmente, a própria presidente assim agiu. A pergunta que cabe é a seguinte : esta queda da taxa de juros é sustentável ? A sustentação da política monetária Para responder a questão enunciada na nota anterior, há que se reparar em alguns aspectos da mudança da política monetária. Em primeiro lugar, qual seria a razão para uma mudança tão rápida ? Afinal, até a reunião anterior, o BC agiu no sentido do aperto monetário, aumentando a taxa básica. O cenário externo, as perspectivas da inflação, a situação cambial e o nível de atividade econômica não sofreram drásticas mudanças neste período de apenas 40 dias. Apenas a política fiscal, na essência expansionista, sofreu uma pequena retração quando se analisa o cenário dos últimos cinco anos. Sequer um compromisso de superávit fiscal no médio prazo, digamos, de quatro anos, foi estabelecido pelo governo. Nem 2012 está previsto pelo próprio governo. Neste sentido, o BC (e o governo) agiu sem "preparar" as expectativas para a queda de juros introduzida. Um risco e tanto, num sistema de metas que opera sobre - e a partir de - expectativas. Dois riscos do mesmo lado da moeda Excluamos, para fins da análise, o complicado setor externo o qual é exógeno à capacidade de gestão do governo brasileiro e do BC. Mais à frente comentaremos sobre ele. Pois bem : ao mexer abruptamente na taxa de juros, o BC não tem como se furtar às consequências que a inflação, muito alta (ao redor de 7% nos últimos doze meses), pode provocar sobre preços privados e públicos, além da dinâmica da indexação - sim, ela ainda existe em muitos segmentos ! - e os salários reais. Não é nada difícil a inflação passar de um patamar de 5-7% ao ano para algo como 10%. Daí para frente, o ajuste da inflação (para baixo) terá de ser feito com muito mais esforço pesando sobre a atividade econômica. Como ? Por meio de uma taxa de juros mais alta ! Ou será que alguém pode acreditar racionalmente que o governo vai produzir mais resultado fiscal para conter a demanda inflacionária ? Além da inflação, há a taxa de câmbio "fora de lugar" (no que tange à competitividade da economia brasileira). Se o câmbio se desvalorizar mais acentuadamente, veremos seus reflexos sobre a inflação. Assim, o risco de uma dinâmica negativa entre "inflação passada - inflação futura - taxa de câmbio" é considerável. Por tudo isso, o BC operou mal. BCs existem para reduzir riscos e não aumentá-los. Quem dá as cartas em relação aos juros Já se sabe que o BC está cada vez mais "indexado" às vontades do governo. De outro lado, erra quem pensa que a "vontade econômica" é formulada no edifício do ministério da Fazenda. Por lá, muitos cálculos são feitos, mas quem manda mesmo na direção da economia é a presidente Dilma. Não foram poucos os estímulos recebidos por sindicatos, empresários e políticos para que falassem "mal da taxa de juros". A presidente consolidava junto ao público externo a decisão interna (e essencialmente sua) de baixar os juros básicos. Veja nota abaixo. Fato ou cortina de fumaça Ato contínuo à polêmica decisão do COPOM de quarta-feira passada passou a circular em Brasília a informação sobre um "Plano Dilma" para a economia brasileira, com profundas alterações na gestão das finanças públicas. Alterações na política de financiamento da dívida pública e até mudanças na forma de remuneração das cadernetas de poupança (comentamos mais abaixo). Para a sempre bem informada Claudia Safatle, do "Valor Econômico", seria uma espécie de "Novo Plano Real". Para levar os juros a um nível de 2% a 3% reais. Sumiu do mapa Observação de um desses espíritos de porco que habitam a economia, mas têm olhos também para as motivações políticas dos que fazem as decisões públicas : de repente sumiu do discurso do governo a tese de que o Brasil hoje, em 2011, estaria muito mais bem preparado para as turbulências externas do que estava três anos atrás, em 2008. Foi substituída por uma boa dose de catastrofismo externo, em parte percebida, em parte imaginada. Crescer e crescer É conta planaltina e manteguiana : o Brasil tem de se armar para crescer cerca de 5% em 2012. Por isso, o projeto de Orçamento mandado ao Congresso na semana passada, ao contrário do apregoado, é, no linguajar dos economistas, mais expansionista (gastador) do que contracionista (poupador). O ano de 2012 é do "ciclo político" e rito de passagem para 2014. Quem quer jogar no ano da Copa tem de estar bem treinado já no ano que vem... A questão da caderneta de poupança Já há fluxos substantivos de recursos indo para a caderneta de poupança, aplicação que combina juros medianos com indexação garantida. As contingências eleitorais do ano passado impediram o governo de mudar a regra da poupança. Assunto sensível e que toca fundo na alma do pequeno poupador. Se o governo quiser mesmo reduzir os juros para valer, a despeito dos riscos já mencionados acima, deverá incluir na sua agenda a necessidade de mexer na remuneração da caderneta de poupança. Neste tema, a onça vai beber água. Cenário externo sem tréguas Horrível. Eis uma palavra que define, sem emoção, os últimos números da economia norte-americana. O cenário não é desesperador. É cronicamente ruim. Não há incrementos na atividade econômica, a criação de empregos é desprezível do ponto de vista estatístico e trágico do ponto de vista social. Triste sina a de Obama, presidente acanhado para obra tão importante. Na Europa, o cenário é vergonhoso para um continente que se propunha a ser "alternativa" civilizatória no século XXI. O jogo lá é de cinismo absoluto. Nem governos e nem as sociedades estão dispostos a correr riscos e impor mudanças para neutralizar o elevado endividamento. Os governos são fracos para elaborar e gerir políticas e fortes o suficiente para se manterem letárgicos. Por fim, os "emergentes" são o maior "novo risco do cenário". A desaceleração da China é risco considerável e, muito provavelmente, a economia já está desacelerando. Obviamente, veremos a magnitude mais à frente, se o governo comunista do país for minimamente transparente sobre suas mazelas econômicas. Merkel perde as eleições locais Apesar de todo empenho da chanceler Angela Merkel em agradar o público interno, seu desempenho nas eleições locais da Alemanha foi sofrível. Há mudanças à vista no cenário da maior economia europeia. Muito possivelmente os social-democratas reforçarão o discurso nacionalista que dificultará a solução da atual crise das dívidas dos países do bloco europeu. Grécia não concorda com pressões Já dissemos neste espaço que a dívida da Grécia é impagável sobre qualquer critério que não considere um calote de pelo menos 30% de seu valor. Na semana passada, no retorno das férias europeias, soube-se que a Grécia não cumpriu as metas fiscais com as quais se comprometeu. Simples entender : o cenário daquele país é de depressão e os gregos não estão dispostos a incorrer em mais depressão. Nestas próximas semanas, mais confusão à vista. Os europeus se reunirão para discutir sobre o tema. Tem tudo para dar errado. Radar NA REAL 2/9/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA queda estável - Pós-Fixados NA queda estável Câmbio ² - EURO 1,4106 estável alta - REAL 1,6508 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 56.531,62 baixa baixa - S&P 500 1.173,97 baixa baixa - NASDAQ 2.480,33 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O PMDB e seus fantasmas I O partido nunca vai admitir, pois está disposto a não se indispor publicamente com o governo da presidente Dilma, nem com o principal parceiro na coalizão governista aliada. Afinal, o partido, embora tenha a vice-presidência, não tem a caneta nem o "Diário Oficial" e o palácio do Planalto não tem sido, oito meses depois, generoso no uso desses instrumentos para afagar os peemedebistas. A lista de nomeações está parada quase no mesmo tamanho no início do ano e alguns lugares já foram perdidos. O PMDB e seus fantasmas II Vejamos os fantasmas que rondam o PMDB : 1. A desconfiança de que por trás do discurso "aliancista" de Lula e do PT para as eleições municipais o objetivo dos petistas é aumentar, à custa de quem quer que seja, suas prefeituras e seu número de vereadores em 2012. 2. Do mesmo modo, teme-se que tanto o PT, como Dilma e Lula possam tramar a substituição do PMDB como principal parceiro em 2014, trocando o vice do PMDB por um partido de mais "pedigree" (mais tinturas de esquerda, menos imagem fisiológica) como o PSB. A aproximação do partido de Eduardo Campos com o PSD já quase criado do prefeito Kassab, com incentivo paralelo de petistas, acirra esta disputa. 3. O estilo Dilma, de jogar no colo dos parceiros a solução dos problemas no qual eles estão envolvidos, é percebido agora como nada ingênuo, mas destinado a deixar os aliados na defensiva. O próprio PMDB "recuou as arfadas" diante do desenlace das ocorrências no ministério da Agricultura, das confusões no Turismo e dos rearranjos em Furnas. O partido das barbas na política brasileira é o PT, mas que as tem permanentemente de molho é o PMDB. O estilo Dilma Não desceu bem na goela o modo como Dilma tentou solucionar as divergências do governo com o STF no caso das verbas para aumentos do Judiciário. Ao transferir a alocação das verbas para a responsabilidade dos deputados e senadores, mas lembrando os prejuízos que isto poderá gerar nos programas sociais, a presidente teria jogado parte da sociedade contra os magistrados. É um método. Porém (observa um analista isento em Brasília na sexta-feira), como, normalmente, o juiz só costuma falar nos autos, o silêncio dos atingidos não quer dizer nada. Há autos abertos por todos os lados. O estilo Dilma II O PT não estrilou publicamente, porém este modo de Dilma incomoda também o partido. Não foi por omissão que faltou no documento petista expedido este fim de semana uma defesa explícita à "faxina" geral e irrestrita no governo, sempre que couber. O cheiro de papel queimado incomodava porque a tendência, dados os exemplos já ocorridos, era revolver sempre um passado muito recente e nada sobre o governo anterior. Melhor, portanto, ficar em generalidades. Muito barulho por nada Gastou-se muito papel, tinta e ondas de som e imagem para acompanhar o encontro do PT no fim de semana. E mais ainda vai se gastar na exegese do documento com as resoluções da legenda e as moções aprovadas. Esses documentos - e somente quase só o PT os faz periodicamente, os outros partidos nem isso - são para pura orientação interna, acomodação de correntes, para algum marketing e um tanto quanto de propaganda. Seu valor de face é quase nulo, sempre permite diversas interpretações e maiores ainda adaptações. Basta lembrar a resolução em Recife, do próprio PT em 2001, com orientações para as eleições de 2002, no qual a palavra de ordem era acabar com "tudo o que está aí" com referência à política econômica adotada nos oito anos de tucanato que se encerrariam naquele ano. Todas as palavras de ordem petista estavam lá contempladas - até a revisão da dívida externa. Não durou seis meses. Elaborada pelo então coordenador da campanha de Lula e futuro ministro da Fazenda, como a colaboração de alguns luminares, sem consultas formais a nenhuma instância partidária, uma "Carta do Povo Brasileiro" renegou tudo o que havia sido defendido na bela capital republicana. Por isso, o documento petista deve ser lido mais pelo que não escreveu do que pelo que deu a ler. E neste, divulgado no domingo, ficaram duas estranhezas : 1. A ausência de uma moção explícita, por escrito, de defesa da maior liderança partidária depois do ex-presidente Lula, o ex-ministro José Dirceu. 2. A não inclusão entre as resoluções petistas - virou uma moção (ou seja, não é uma obrigação, é uma orientação) - da criação de um "código de comportamento" da imprensa. Nenhum barulho por nada Um mês depois de encerradas as férias parlamentares, a oposição continua com sua obsessão de pegar o governo por meio de algum desvio de conduta. Contestações rasas relativamente a algumas decisões do palácio do Planalto, tão rasas e tão baixas que o Brasil não ouve. As propostas oposicionistas são mais desconhecidas que o processo de transformação de grama em grama de ouro. Eles vão durar ainda Os ex-ministros que ainda perambulam pela Esplanada dos Ministérios - os mais notórios continuam sendo Pedro Novais (Turismo) e Mário Negromonte (Cidades) - ganharam algum tempo de sobrevida. Não havendo graves ocorrências, Dilma quer tocar o barco com o time que está aí para não causar turbulências na aliança partidária mais das que já existem. Há pedras no Congresso a serem descascadas. A aprovação da prorrogação da Desvinculação das Receitas da União é uma delas. Desarmar as armadilhas do fator previdenciário, dos reajustes dos policiais e da percepção dos banqueiros são as outras. O saneamento ficará para o início do ano que vem, quando uma turminha vai receber bilhete de volta para disputar (como desculpa ou de fato) alguma prefeitura. Um retrato real do Brasil real Se quiser fugir um pouco do discurso oficial, de heranças benditas gestadas apenas pelos operadores de marketing, a tão execrada imprensa brasileira tem uma pauta criativa para explorar, muito além dos "eventos" de corrupção. Alguns deles : 1. A situação dos hospitais universitários. 2. A situação dos hospitais filantrópicos, sustentáculos dos SUS e dependentes do sistema para sobreviver. 3. A situação das novas universidades Federais, plantadas como tiririca por todo o país. 4. A situação das escolas técnicas Federais, com greves por todos os poros. 5. Um levantamento dos mini-apagões elétricos que têm ocorrido no país com incrível frequência. Na semana passada foram "agraciados" nove Estados. Parece uma soma de fadiga de materiais com fadiga de gestão e pode ser um péssimo sinal do que pode acontecer quando o país quiser crescer de novo com vontade. __________
terça-feira, 30 de agosto de 2011

Política & Economia NA REAL n° 167

O governo faz a sua escolha I Dilma parece ter se sensibilizado para o fato de que o crescimento econômico sustentável nos próximos anos não é apenas incerto, mas pode ter efeitos muito mais abrangentes sobre os investimentos e o consumo que inicialmente poderia ser imaginado. Age corretamente em se precaver em relação ao cenário internacional que, além de letárgico, tem o perigoso ingrediente do aumento do risco do sistema financeiro. Neste contexto, a presidente tomou a decisão de agregar mais poupança do setor público, via corte de gastos, ao invés de agir na direção da política monetária, pressionando o BC a reduzir os juros básicos. Até mesmo porque o crédito privado está mais escasso e caro por conta dos riscos endógenos do cenário internacional. O governo faz a sua escolha II Se do lado fiscal a presidente diagnosticou bem a natureza da crise, de outro lado há uma série de problemas e riscos que serão agregados na política econômica daqui para frente. Vejamos alguns : (i) cortar gastos correntes é atividade crítica e difícil de fazer, tanto aqui como lá fora. Há limites constitucionais e infralegais que precisam sem respeitados ; (ii) os gastos correntes passíveis de corte referem-se a muitos acordos feitos nesta gestão e na administração Lula (preenchimentos de vagas no setor público, política de recuperação de salários, aumento do salário mínimo, distribuição de verbas para as emendas parlamentares, etc.). Ora, se a premissa principal dos cortes for a manutenção dos investimentos do PAC, a presidente terá de fazer um esforço político considerável para cumprir os (novos) objetivos fiscais. Corte gastos é omelete e não se faz sem quebrar ovos. A desconfiança de sempre O anúncio do novo "arrocho" fiscal do governo, anunciado em R$ 10 bi, mas não explicitado onde ocorrerá, foi novamente recebido com ceticismo por boa parte dos agentes econômicos. Calcula-se que o governo está apenas "esterilizando" parte dos extraordinários ganhos de arrecadação - não está cortando efetivamente gastos. Assim foi também com os R$ 50 bi do início. "Economizou-se, como dizia ontem um economista neutro, promessas". Basta observar que todas as despesas correntes deste ano estão maiores que as do ano passado. A começar pelas de pessoal. Caíram mesmo foram os investimentos, até porque o governo foi obrigado a pisar um tanto pesadamente no freio das estradas e rodovias do ministério dos Transportes. Eles vão deixar ? - I Parte do novo ajuste fiscal de Dilma está nas mãos do Congresso. É evitar que sejam votados e aprovados projetos como a PEC 300 (dos bombeiros e policiais), a regulamentação da emenda 29 (mais recursos para a saúde) e o reajuste do Judiciário (média de 56%). E também a redistribuição dos royalties do petróleo (veto de Lula). Todos projetos "caros" aos parlamentares em vésperas de eleição pelos grupos que atendem. Eles vão deixar - II No "pacote" fiscal de Dilma e Mantega, nos R$ 10 mi anunciados ontem pelo ministro da Fazenda, está incluído o corte das emendas dos parlamentares ? Este, recordemos, é o principal ponto da discórdia do governo com seus aliados. E se as contas prometidas pela ministra Ideli Salvatti não forem anunciadas, a lua de mel governista azeda antes de ter começado. O papel de Guido Mantega Ainda não está claro se a estratégia econômica do governo foi estruturada pelo ministro da Fazenda a partir de seu próprio diagnóstico ou se as premissas desta estratégia brotaram do Planalto. Esta questão é relevante para sabermos se os desgastes que hão de advir dos efeitos dos cortes fiscais serão assumidos pelo governo como um todo, sob a liderança de Dilma, ou se o ministério da Fazenda terá mais responsabilidade neste processo. Afinal de contas, Mantega deu uma guinada e tanto na sua forma de conduzir os assuntos da Fazenda. Antes hesitava em agir como um fiscalista verdadeiro, agora assume a missão com empenho público. Ademais, Mantega não parece estar dividindo muitas responsabilidades com Miriam Belchior, sua colega do Planejamento e responsável funcional pelo controle do orçamento. Rudimentar, meu caro Watson. Não foi apenas o ministro Guido Mantega que deu um "cavalo de pau" em direção a uma política mais "fiscalista". Para os de boa memória ainda está viva a carraspana que a presidente Dilma, então apenas a poderosa ministra chefe da Casa Civil, deu nos ministros Palocci (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento) quando os dois, aconselhados entre outros pelo ex-ministro Delfim Neto, ousaram propor a Lula a "zeragem" do déficit público. "Rudimentar" - fulminou Dilma na ocasião. Fica então a dúvida, e era isto que se falava ontem em terras do mercado : houve uma conversão de fato ou apenas de ocasião. Uma política fiscal dura, mesmo que para valer, demora um tanto a aparecer e tem efeitos difusos. Já os juros baixos batem na veia de quem reclama mais. A interpretação corrente é que o governo está criando argumentos para dar ao BC justificativas plausíveis para reduzir os juros o mais rápido possível, sem parecer que está cedendo a pressões políticas. Quem sabe já até um 0,25 ponto percentual de baixa amanhã. Outros preveem baixa de até 1,5 ponto até dezembro. O limite de Dilma Todo o temor do governo está na desaceleração da economia nacional, que não depende apenas de nós, mas dos europeus, americanos e até chineses. O limite da presidente ainda é buscar os 4,5% de elevação do PIB este ano. Mantega finca o pé, pelo menos publicamente, em 4%. A maior parte dos analistas não pega por mais de 3,5%. Há duas razões para a insistência do governo : (1) medo de insatisfações sociais e sindicais com a queda no consumo e na renda ; (2) temor das reações da base parlamentar, que só tem olhos para as eleições e não quer ir para as urnas com uma economia claudicante. E a política monetária ? Digamos que, em larga medida, o governo tenha sucesso na sua estratégia fiscalista. É difícil acreditar que o BC não será instado pelo governo, em timing próprio, a reduzir os juros. Não resta dúvida que existe uma "armadilha dos juros altos" na economia brasileira. Não é coisa de agora, mas das últimas décadas pós-plano Real. Desarmar esta "armadilha" é uma tarefa histórica, mas carece de cuidado com duas variáveis : (i) o câmbio valorizado que, caso se desvalorize, atrai riscos de inflação e (ii) a política de metas que precisa ser crível no exato momento em que a inflação está alta, mesmo que sob controle. Por tudo isso, podemos afirmar que, mais à frente, a elevada taxa de juros será questionada dentro do próprio governo. Muita atenção será requerida para se evitar os transtornos que a queda benigna e necessária dos juros provocará, caso se efetive. A decisão do COPOM Embora haja grande dispersão entre o analistas sobre como agirá nesta quarta-feira o COPOM sobre a taxa de juros básica, nossa opinião é que a autoridade monetária manterá a taxa inalterada por um bom tempo a partir de agora e considerando as variáveis de redução da atividade econômica e inflação ainda elevada. O BC vai esperar um pouco para ver como andará a economia nos próximos meses. De todo modo, vai ser uma tensão permanente entre o político e o técnico daqui até o fim do ano. Inadimplência e estoque de empréstimos Dado que o Brasil é campeão mundial em termos de juros, o estoque de crédito e financiamentos sobre o PIB de 47% é elevado. O BC e o governo já adotaram políticas e medidas de restrição ao crédito para se evitar problemas futuros nas carteiras bancárias. Todavia, a elevação discreta, mas nada desprezível, da inadimplência, sugere que os agentes econômicos e, sobretudo, o governo aperte a regulação do sistema financeiro e evite problemas futuros. Risco de crédito é mortal para as economias, basta dar uma olhada no complicado mundo que nos rodeia. A mudança (discreta) de Obama A política sempre regula a economia e vice-versa, como num processo de sístoles e diástoles. Obama está cada dia mais condicionado pela trajetória política cujo ápice será a eleição presidencial do ano que vem. Foi pensando nisso que o presidente dos EUA atraiu para as cercanias da Casa Branca o economista Alan Krueger, um policy maker versado em estímulos tributários para as empresas e o emprego. Afinal de contas, a morosidade na reação do setor laboral norte-americano é o principal risco à reeleição. Esta mudança está em sintonia com a estratégia monetária do Fed. O presidente do BC americano Ben Bernanke não deve, por ora, aumentar o estímulo monetário, mas, de outro lado, não deveremos ter restrições à inundação de moeda vigente no sistema financeiro. A calmaria dos mercados Muito embora nada de estrutural tenha se alterado na economia mundial, os diversos segmentos do mercado financeiro e de capital têm estado mais calmos nos últimos dias. Os agentes estão reagindo a menores pressões sobre os bancos, sobretudo os europeus, as medidas de contenção dos déficits fiscais no Velho Continente e aos recentes números de consumo (gastos pessoais) nos EUA. Há que se alertar, porém, que as variáveis de risco permanecem todas presentes no cenário, especialmente o "empoçamento" da liquidez nos bancos centrais e a pressão sobre os metais preciosos, um evidente sinal de que os investidores permanecem inquietos. Não é hora de abaixar a guarda. Ao contrário, crises sempre aumentam a volatilidade ao sabor do humor dos dias. Radar NA REAL 26/8/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta/estável estável - Pós-Fixados NA alta/estável estável Câmbio ² - EURO 1,4494 estável/alta estável/queda - REAL 1,5960 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 53.350,79 baixa baixa - S&P 500 1.176,80 baixa baixa - NASDAQ 2.479,85 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Novo figurino Com um corte ainda meio mal ajambrado, nada que tenha saído das mãos de um grande costureiro, Dilma, seguindo os conselhos de Lula, está vestindo o figurino da política que ela se recusou a usar até agora. A questão é saber como ela vai se sair diante do ofidário que a cerca. Surpresas A presidente tem demonstrado desconhecimento e surpresa diante de alguns fatos desagradáveis que cercam seu governo. Explica um observador de Brasília que é real, não é jogo de cena como os "eu não sabia" de Lula. Lula tinha olhos e espiões para alertá-lo. Dilma é neófita na política e um tanto solitária, só agora está formando de fato seu grupo político. E mais : como tem justificada fama de brava, às vezes de intratável, muita gente tem medo de chegar perto dela e contar coisas. O dono da bola Até prova em contrário - e esta dificilmente ocorrerá - a estratégia, as táticas e tudo o mais das eleições municipais do ano que vem passarão necessariamente por Lula ; será como ele quiser. E Lula e os aliados estão muito mais adiantados nesses arranjos do que parece. A possibilidade de fracasso, mesmo que a estratégia, como no caso de São Paulo, seja arriscada e perigosa, está ligada a algum tipo de desarranjo econômico. Tudo caminha para uma goleada lulista, embora para o ex-presidente e seu ego seja uma derrota perder São Paulo. Sem bola, sem campo e sem camisa Quanto à estratégia da oposição, bem... Antes ela precisa se encontrar. Nem os pênaltis que o governo comete são aproveitados. Lei do silêncio Baixou um mutismo total nos aliados desde a semana passada, as pedradas continuam voando, mas silenciosamente. Ordens superiores. O TCU da discórdia Quatro governistas disputam recente vaga aberta no TCU : Átila Lins (AM) pelo PMDB, Aldo Rebelo (SP) pelo PC do B, Ana Arraes (PE) pelo PSB e pelo filho Eduardo Campos, e Jovair Arantes (GO) pelo PTB. A campanha e as intrigas correm soltas. Até agora não se viu as credenciais dos candidatos para os cargos. O que se discute são os apadrinhamentos e as compensações políticas. Há até a possibilidade de o governo usar a vaga para compensar algum partido que esteja com déficit de lugares no ministério ou no segundo escalão. É a nossa política. As acusações a José Dirceu As denúncias da Revista Veja sobre as atividades do ex-deputado cassado José Dirceu foram reputadas pelo líder petista como um ato criminoso pelo qual "a revista Veja, por meio de um de seus repórteres, também abriu mão da legalidade e, numa prática criminosa, tentou invadir o apartamento no qual costumeiramente me (José Dirceu) hospedo em um hotel de Brasília." Esta coluna não tem a menor condição de apurar fatos e opinar sobre eles, mas acha justo que as coisas se resolvam nas cortes judiciais. A única pergunta que nos cabe em relação às atividades de José Dirceu é : quais são as atividades dele em Brasília ? O ex-deputado se qualifica como "cidadão brasileiro, militante político e dirigente partidário". À luz desta qualificação, a pergunta é legítima, mesmo que o Dirceu não queira respondê-la ? ____________ A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros. Se você deseja compartilhar gratuitamente estas migalhas, verdadeiras pílulas de sapiência, com algum amigo, alterar seu e-mail, ou cancelar o envio, clique aqui. ____________
terça-feira, 23 de agosto de 2011

Política & Economia NA REAL n° 166

Os contrastes da política com a economia I Tudo parecia acertado para o governo iniciar ainda este ano um movimento consistente de queda na taxa de juros e, ao mesmo tempo, um afrouxamento na política de austeridade fiscal que a presidente Dilma e o ministro da Fazenda, secundados pelo BC, apregoam que irão adotar nos quatro (primeiros) anos do "dilmato". É o roteiro natural do Brasil em anos ditos políticos (na realidade, eleitorais) - gastos públicos mais generosos para ampliar o cacife dos parceiros nas urnas. Veja-se o que foi 2010. Um ministro chegou a anunciar a liberalidade fiscal para dois dos mais bem informados repórteres de Brasília - Claudia Safatle e Raimundo Costa, do "Valor Econômico". O governo gostaria de repetir sua receita de 2008-2009 de incentivo ao consumo que renderam frutos até as urnas do ano passado. Os contrastes da política com a economia II A engrenagem emperrou. Os dados preliminares da inflação, prévias do IPCA e do IGP-M, vieram mais salgados que o esperado. Os analistas voltaram a prever preços mais elevados. A azáfama externa para conter o tropeço das economias ricas não funcionou. Os PIBs dos grandes estão indo mais para o buraco do que se previa. O único sinal "positivo" foi o levantado pelo BC (IBC-Br) de que o PIB nacional está desacelerando, correndo hoje numa média anual de 3%. O que desagrada a Dilma : ela não deseja crescimento de menos de 3% para não começar a ter problemas mais sérios de desemprego com suas consequências políticas. Por isso, Mantega apareceu na segunda-feira garantindo que o ajuste fiscal de 2011 e 2012 serão para valer, com o superávit primário "cheio" e não com abatimentos e subterfúgios. O desafio é equilibrar esse desejo com os desejos eleitorais dos aliados, somados ao conjunto de gastos já contratados para o ano que vem. A natureza da crise As armas que o governo nacional está preparando para combater os efeitos da crise internacional sobre o Brasil, quando e se eles começarem a se manifestar, guardam semelhanças totais com a que foi adotada na "marolinha" provocada pelos subprimes americanos. Contudo, esta crise tem natureza diferente (conforme já comentamos em colunas anteriores) e, por isso mesmo, exige ataques distintos. A crise de 2008 era financeira. Agora, é uma crise dos Estados, o que implica em condicionantes políticos, como se viu na queda de braço do presidente Obama com os republicanos e também nas vacilações europeias. Alemanha conspira contra a Europa A chanceler alemã Angela Merkel é a campeã atual da falta de percepção sobre o que está a ocorrer mundo afora. Vê a Alemanha como se fosse uma ilha isolada do mundo e sujeita à necessidade de ajustes supranacionais às condicionantes paroquiais de seus pares políticos. Ao rejeitar a formação de uma "dívida europeia" como contraponto às dívidas nacionais dos países-membros, ela esquece que este é um passo necessário para que se estabeleça uma coordenação efetiva da política fiscal. Comenta a líder alemã que a emissão de títulos europeus "conspira contra a Constituição alemã". Puro argumento que distorce as discussões sobre as mudanças que permitiriam o aprofundamento da União Europeia. Típico argumento que exemplifica as "condicionantes políticas" de que trata a nota anterior. Mais volatilidade à vista I Já comentamos anteriormente que o excesso de volatilidade será a marca principal dos mercados nas próximas semanas. Talvez meses. As economias centrais vão desacelerar mais e farão brotar mais pessimismo, acentuado pela percepção crescente de que a fragilidade financeira demorará a ser solucionada. Mais volatilidade à vista II Para o Brasil, em particular, e os emergentes, em geral, a volatilidade pode ser ainda mais acentuada. O processo de "desalavancagem", fruto da redução de ativos em função de resgates de investidores de fundos está apenas começando e há investidores que vendem posições neste segmento de mercado (recheado de lucro) para "cobrir" prejuízos em outros mercados. Nunca é bom acentuar o pessimismo, mas nunca é bom minimizar os riscos. Portanto, atenção. A reunião dos bancos centrais Ao final desta semana na cidade de Jackson Role (ironicamente um nome apropriado) se reunirão os principais presidentes de bancos centrais do mundo. Será uma típica reunião onde quase todos irão para escutar. Para falar mesmo talvez apenas o presidente do Fed, Ben Bernanke. Há substantiva possibilidade de que o chefão do BC norte-americano anuncie novas medidas de estímulo à demanda da parte do Fed. Algum otimismo pode existir para o mercado. Todavia, depois que o Congresso dos EUA encurralou Obama e os candidatos republicanos lançam fogo contra o Fed, o espaço de manobra de Bernanke está muitíssimo menor. O otimismo, assim, não deve prosperar. Infelizmente. Estranho silêncio Há um mês o governo anunciou medidas na área cambial para conter o que ele classifica como abuso na área de derivativos e segurar um pouco a valorização do real. A medida foi recebida com ceticismo nos setores interessados, quando não com franca hostilidade. Falou-se em rediscutir a questão, pois as medidas, por prudência, haviam sido tomadas sem consultas. Deste então, porém, não se toca mais no assunto. Nem do lado do governo, nem do lado de fora. Radar NA REAL 19/8/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta/estável estável - Pós-Fixados NA alta/estável estável Câmbio ² - EURO 1,4384 estável alta - REAL 1,6019 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 52.447,59 baixa baixa - S&P 500 1.123,30 baixa baixa - NASDAQ 2.341,84 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Partido de quadros Embora tenha desde o princípio atraído intelectuais, militantes e a classe média dos movimentos de combate ao regime militar, o PT nasceu principalmente como um partido de bases, sustentado nos líderes sindicais atraídos por Lula. Ao longo dos anos e a assunção ao poder, foi perdendo esta característica até virar o que é hoje - um partido de quadros. A imposição da candidatura Dilma por Lula e agora, o sucesso que o ex-presidente está conseguindo com a oferta de Fernando Haddad para disputar a prefeitura de São Paulo, são os sinais mais flagrantes desta inflexão petista. O resto se completa com o abandono, na prática, da prática de prévias para escolher os candidatos partidários aos postos eletivos no executivo. Assim se explica a inquietação dos petistas à antiga, de origem sindical. O motivo real O agora já ex-ministro da Agricultura, Wagner Rossi, estava baleado quando pediu demissão. Poderia ter ficado mais um pouco, no entanto, tentando ver se amainava o "fogo amigo" assestado em sua direção. Entendem-se também as razões familiares evocadas para Rossi não aceitar os ditos "apelos" para ele continuar. Mas a saída dele tem outro motivo : preservar gente do PMDB e do governo anterior se a saraivada de denúncias, com investigações da imprensa, continuassem ativas. O fogo já se alastrava perigosamente para a Conab e ameaçava descer a serra em direção ao porto de Santos. Por isso, há corações eternamente gratos a Rossi. A expectativa é valer a "conspiração do silêncio" que cerca certas histórias quando o personagem principal sai de cena. Que se sabe mais do episódio Palocci, da real origem do dinheiro das consultorias e da distribuição desses recursos ? Como andam as investigações sobre as estripulias no ministério dos Transportes, fora o magote de demissões. A dinheirama que saiu pelo ralo será reposta ? A contribuição de Rossi Wagner Rossi "deu importante contribuição ao governo com projetos de qualidade que fortaleceram a agropecuária brasileira". Palavra da presidente Dilma ao anunciar a mudança no ministério. Qual seria mesmo esta contribuição ? Wagner Rossi assumiu o ministério em 1º/4/10. No dia da mentira. Uma ironia apenas. Capina na Agricultura O novo ministro da Agricultura toma posse com a autorização da presidente Dilma de fazer a "faxina" no ministério que teria sido pedida a Rossi antes dele pegar o boné. O alvo maior é a Conab, dita jocosamente "o DNIT do PMDB". Mendes Ribeiro vai mostrar se a vassourada é para valer quando livrar-se da parentalha peemedebista pendurada no órgão : um filho de Renan Calheiros, um neto de Mauro Benevides, a ex-mulher de Henrique Alves. Até agora, apenas Jucazão e Jucazinho pagaram o pato, o que pode caracterizar uma discriminação odiosa, politicamente incorreta. Sem assunto A oposição precisa urgentemente mudar o lado do disco, ninguém aguenta mais o mantra das CPIs, até porque se sabe que nenhuma CPI indesejada pelo governo acontecerá no Congresso. Seria bom, também, que a oposição arranjasse outros temas, com propostas concretas de políticas alternativas às que o governo não quer apresentar : reforma previdenciária, reforma administrativa, reforma tributária. O Planalto só quer mais do mesmo, nada que provoque polêmica ou divida a base aliada. A oposição nem mais do mesmo parece querer. Aécio avançou Depois de um longo período cultivando um enorme vazio de projetos, Aécio Neves conseguiu uma bela vitória ao aprovar o seu projeto na Câmara das mudanças na tramitação das MPs entre o Senado e a Câmara. A vida dos parlamentares deve ficar mais dura, mas o Executivo é aquele que terá de se comportar melhor daqui por diante. Sobretudo, no que se refere ao "contrabando" das MPs (legislar sobre assuntos variados por meio de uma mesma MP). Paz precária A paz que a presidente Dilma celebrou com seus aliados tem rachaduras. Se as contas não forem pagas, voltará a choradeira. Afinal, a eleição municipal já começou. E as amabilidades entre os aliados e dentro dos próprios partidos continuam sendo trocadas à vontade. Além disso, as agruras estão no ar : o ministério do Turismo e, agora, o das Cidades estão na roda que moeu já os Transportes, a Agricultura e a Casa Civil. Os testes Essa paz será mesmo testada quando entrarem na pauta do Congresso algumas pendências por lá : 1. Prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU).2. O aumento do Judiciário.3. A PEC 300, com os reajustes de policiais e bombeiros.4. A regulamentação do aumento das verbas para a Saúde.5. A votação do veto de Lula sobre a nova distribuição dos royalties do petróleo.6. A EC, já aprovada na Câmara, com as mudanças na regras para edição de MPs.7. O veto de Dilma à proibição de cortar as emendas do parlamentares no Orçamento. Ciumeira geral Diz o popular que ciúme de homem é tenebroso. Mais tenebroso ainda é o ciúme de político. Os céus riscaram fogo nos quintais tucanos e petistas com as cenas de civilidade explícita protagonizadoa por Dilma, Alckmin e FHC quinta-feira no Palácio dos Bandeirantes. Preocupou também outros aliados : alguns desconfiam que a presidente está a adular a oposição para mostrar que às vezes pode passar sem eles. Revisionismo Sempre se soube - pelo menos assim foram vendidos ao distinto público - que os bem-sucedidos CEUs, uma das melhores inovações da gestão petista na prefeitura de SP, foi uma criação da prefeita Marta Suplicy. Assim como o bilhete único, os investimentos na periferia e a decisão de ampliar os corredores de ônibus. Agora, começa a aparecer nova paternidade para os CEUs : teriam nascido na cabeça do ministro da Educação Fernando Haddad, quando ele era o principal auxiliar da João Sayad na secretária de Finanças do município de São Paulo. No andar da carruagem, Marta, que já está sendo preterida na disputa municipal do ano que vem, corre o risco de perder o direito autoral de outras criações e virar apenas a "Martaxa" dos paulistanos. Chalita e a educação Se for mesmo a educação um dos temas que mais polêmicas gerarão na disputa pela prefeitura de SP, Gabriel Chalita, hoje no PMDB e ex-Secretário de Educação de SP, terá de defender a sua experiência anterior quando estava no ninho tucano frente a experiência petista de Fernando Haddad, se este vier a se confirmar como candidato petista. Novamente tucanos versus petistas. Resta saber se Chalita atacará a atual gestão estadual de seu amigo Alckmin na área de educação. Em tempo : também Chalita terá de fazer um enorme esforço para ser o candidato à prefeitura de SP e escapar das negociatas políticas que possam existir a partir de Brasília. Ali pelos lados do Jaburu. ____________ A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros. Se você deseja compartilhar gratuitamente estas migalhas, verdadeiras pílulas de sapiência, com algum amigo, alterar seu e-mail, ou cancelar o envio, clique aqui. ____________
terça-feira, 16 de agosto de 2011

Política & Economia NA REAL n° 165

*** Exclusivo *** Lançamento : O QUE SEI DE LULA José Nêumanne Pinto, poeta, escritor, jornalista e chefe dos editorialistas do Jornal da Tarde, articulista de O Estado de S. Paulo e comentarista da Rádio Jovem Pan e do Jornal do SBT lança nesta terça-feira no RJ (Livraria da Travessa - Ipanema, às 19h) e no próximo dia 23 em São Paulo (Livraria da Vila - Vila Madalena, às 19h) o livro "O Que Sei de Lula" (Editora Topbooks, 522p.), uma investigação analítica sobre o ex-presidente. Um livro polêmico sobre o político "metamorfose ambulante", como o próprio Lula se intitulou. Com exclusividade, esta coluna entrevistou o autor do livro. Vale conferir a visão polêmica de Nêumanne a respeito de Lula. Para ver, clique aqui. ____________ A natureza da atual crise I Há na mídia um rol enorme de discussões nas quais os economistas debatem se a crise de agora é "nova" ou "uma continuação" da crise de 2008. Ora, muito embora esta questão seja interessante do ponto de vista acadêmico, o mais importante a se saber é que as três principais características da crise financeira de 2008 não foram superadas : (i) a fragilidade do sistema financeiro das economias centrais, (ii) a impotência do consumo e do investimento em função do elevado endividamento de indivíduos e empresas e (iii) a existência de enormes déficits fiscais dos países, fruto da "salvação" de grandes segmentos de empresas e bancos. Neste sentido, a crise é a mesma de 2008. Tomando por base esta premissa, alguém poderia argumentar que, se as causas da crise são as mesmas, por que não receitar as mesmas políticas, os mesmos "remédios" ? Aí é que a questão se torna extremamente complexa. Vejamos. A natureza da atual crise II A crise de 2008 ocorreu num momento em que os governos das principais economias, em geral, tinham capacidade de gerar déficits fiscais em larga medida, pois o crédito privado não tinha "contaminado" o setor público. Assim, a intervenção estatal funcionou como elemento de resgate da desconfiança generalizada no sistema financeiro e nas empresas. Neste momento, o fator mais crítico é que o setor público (os Estados) encontram-se sob fogo cerrado dos agentes os quais desconfiam que os elevados déficits públicos ou não serão sanados (pagos) no futuro ou/e impedirão a gradual recuperação da capacidade de poupar/investir do setor privado. Portanto, o "remédio" administrado no passado não pode ser repetido no atual momento, seja em termos de volume de recursos que podem ser disponibilizados para o setor privado pelo setor público, seja em termos de adição de credibilidade que torne hígido o sistema financeiro. Desta constatação é que nasce a convicção de que esta crise é mais perigosa e "diferente" da de 2008. Crise crônica, situações agudas A natureza da crise acima descrita faz com que se possa prever que há elevada probabilidade de que a estagnação da atividade econômica das principais economias seja muito longa. Aqui não nos cabe prever mais do que isto, pois não há modelos de previsão disponíveis que permitam uma estimativa razoável para afirmar se a estagnação será de cinco ou dez anos (há que se notar que muitos economistas continuam a prever o que não é possível prever). O risco deste processo pode ser econômico, mas a principal consequência e o meio pelo qual a situação mudará é, essencialmente, política. Até quando os governos e as sociedades dos países aguentarão taxas de desemprego tão elevadas quanto as atuais ? Como os eleitores farão mudar pelo voto as políticas econômicas ? Como serão arbitrados os conflitos entre os interesses das classes trabalhadores e os detentores do capital ? Estas são as questões mais importantes a serem observadas, muito embora devamos nos ocupar do dia a dia com grande atenção. A natureza do debate Daqui para frente o debate mais importante na política e na economia diz respeito ao binômio "política monetária versus política fiscal". Basta reparar que, por enquanto, a única reação organizada da Europa e dos EUA veio da área monetária. O BC Europeu e o Fed estão inundando o mercado financeiro de recursos com o objetivo de retirar das mesas de operação a desconfiança que impera nestes momentos agudos. Os BCs podem (e devem) criar moeda até o limite em que "as coisas se acalmem". É isto que será feito com certeza. Todavia, há o lado fiscal já deteriorado sobre o qual dois diagnósticos básicos provocam (e provocarão) acalorados debates. Economistas verdadeiramente keynesianos dizem que é necessário que os déficits sejam ainda mais elevados para evitar o colapso da demanda agregada (consumo mais investimento). De outro lado, há os fiscalistas que pregam que a expansão monetária tem de ser acompanhada pela contenção fiscal com o fito de escapar da armadilha da falta de credibilidade do crédito público. É cedo para decifrar o que será feito, mesmo porque isto dependerá muito mais da política (vide o caso de Obama) que dos PhDs que cercam os governos e o setor privado. Um número incômodo Para ver que a classe política por aqui e lá fora vai mal não é preciso ler com atenção as notícias dispostas na mídia. Quando 82% dos americanos reprovam o Congresso do país, a coisa é muito preocupante. É o que diz a pesquisa encomendada na semana passada pelo NY Times e pela CBS. Triste sina a dos pais-fundadores da grande democracia do ocidente. Uma lembrança aos "ortodoxos" Se há uma razão para a deteriorada política fiscal das principais economias temos de lembrar que a origem desta crise está sedimentada na irresponsabilidade, imperícia, negligência e imprudência dos sistemas de controles dos Estados sobre as operações do setor privado, sobretudo o setor financeiro. Não é necessário ser doutor em economia ou política para verificar que a falta de políticas verdadeiramente republicanas que deveriam salvaguardar o interesse de todos causou a tragédia atual. Ou seja, os interesses de alguns grupos de poder, sobretudo do segmento financeiro, se instalaram dentro dos Estados e desguarneceram o poderio fiscalizador e regulador destes. Premissas ideológicas (livre-mercado, desregulamentação, etc.) comprovaram-se falsas quando o assunto diz respeito ao interesse público. Mecanismos de criação de crise preservados Os hedge funds, os especuladores instalados em certas instituições financeiras, a contaminação de diferentes riscos de créditos em instituições financeiras singulares, a ausência ou excesso de flexibilidade na concessão de crédito, etc., estão, senão intactos, bastante atuantes na atual rodada da crise. Os governos permanecem débeis e incapazes de promover reformas estruturais que aumentem a segurança das economias. Tudo isto em detrimento do emprego e da produção. No jogo entre a "economia real" e "a economia financista" a vitória esmagadora é desta última. Até agora, pelo menos. O Dilema de Dilma I Declarações formais ou "vazadas" da presidente Dilma demonstram que, para combater a atual crise, ainda não houve uma definição sobre a estratégia que seu governo adotará. Assim como nas principais economias, o "espaço fiscal" no momento é bem mais diminuto para não dizer que é inexistente. Portanto, a escolha por uma política monetária expansionista seria mais natural. Todavia, há dois problemas críticos no caminho da presidente : o primeiro é que inflação está alta e é preciso controlá-la. O segundo é que o governo caiu docemente na armadilha da valorização cambial. Se os juros caírem, o câmbio pode subir e mais inflação virá. Ainda mais com a chance (cada vez mais concreta) de que as commodities caiam, talvez despenquem. Por tudo isso, a saída mais recomendável para o Brasil, país relativamente saudável frente a um mundo complicado, é que a política fiscal seja fortalecida e os juros comecem a cair na direção de um patamar civilizado. Estamos falando de uma política fiscal de superávit fiscal bem acima dos atuais 2% previstos - algo como 4% seria o ideal. A presidente escolherá este caminho ? O Dilema de Dilma II As primeiras (e incompletas) declarações da presidente dão pistas de que a escolha dela será pela via fiscal. Os jornais já noticiam esta escolha. Todavia, a presidente, o Congresso e a sociedade terão de suportar as conseqüências : menor atividade econômica e projetos de investimento adiados. A vantagem desta escolha é que esta pavimenta um crescimento no futuro - o qual pode ser mais longo que o mandato de Dilma - mais seguro e consistente. A desvantagem é que não haverá bons frutos nas próximas eleições. Não é uma "escolha de Sofia". Na verdade é uma escolha de estadista. Avaliando as muitas variáveis que normalmente agem dentro de um governo, a probabilidade maior é que algo "médio" seja feito. Os compromissos imediatos do atual governo com o PT e seus aliados dão pistas de que tarefas de grande envergadura como a da política fiscal ficam mitigadas. A conferir. Qual austeridade ? Está no discurso oficial e oficioso, inaugurado para convencer os brasileiros mais informados de que o governo não "tergiversará" com as ameaças de crise financeira internacional bater nas portas do país, a promessa de manter sob estrito controle o gastos públicos. Dilma tem dito isto sempre que pode, no público e no privado. A ministra Miriam Belchior, do Planejamento, disse até que o governo pode tornar definitivo o contingenciamento de R$ 50 bi no Orçamento anunciado no início do ano. Na realidade, não houve cortes reais. Houve suspensão de promessas. As despesas oficiais continuam crescendo em relação ao ano passado, inclusive a de pessoal, esta puxada ainda por aumentos concedidos nos tempos de Lula, alguns estendendo-se até 2012. Mantega deve anunciar esta semana mais um excelente resultado no superávit primário, a economia feita para pagar juros. O governo já fez quase dois terços do previsto para no ano todo. Porém, a maior contribuição vem da receita - e no mês passado de uma arrecadação especial de cerca de R$ 7 bi, fenômeno que não aparece todo dia no horizonte. E em 2012 ? Com alguns dos 32 vetos que assinou ontem na LDO do ano que vem, aprovada pelo Congresso em julho, Dilma reforça as suspeitas de o discurso da "austeridade fiscal" ser mesmo mais discurso do que realidade, agora e para 2012. Os temores de que ano que o governo não consiga cumprir as metas de superávit primário (3,1% do PIB), sem mágicas, obviamente, são grandes. Por pelo menos três razões : (1) é ano eleitoral ; (2) há um aumento contratado do salário mínimo de 14%, o dobro da inflação prevista para o semestre ; (3) será preciso acelerar os gastos já atrasados com obras da Copa e das Olimpíadas. Sem contar alguns reajustes salariais de difícil negociação como o pretendido pelo Judiciário, de cerca de 55% em média. Pois bem. Apesar de todas essas restrições, a presidente vetou dois itens da LDO, ambos propostos pela oposição, que ajudariam o governo a segurar as pressões gastadoras. Recusou o artigo que estabelecia que o déficit nominal do setor público (os gastos totais incluindo juros) ficasse limitado a 0,87% do PIB ; hoje eles passam dos 2%. E não aceitou também a norma que obrigava incluir no Orçamento os financiamentos feitos pelo Tesouro aos bancos oficiais através da emissão de títulos. Com isso, com os repasses periódicos feitos, por exemplo, para o BNDES, o governo estabelece um "Orçamento paralelo", fora do controle do Congresso, ampliando a dívida pública e dificultando a política monetária do BC. Como diria o "nosso Delúbio", austeridade demais é burrice - eleitoral. PS - Nisso tudo, a presidente merece um aplauso : vetou também a pretensão dos parlamentares de retirar as famosas verbas de qualquer tipo de contingenciamento de início do ano. O pagamento seria automático e obrigatório, farra para ninguém botar defeito. Radar NA REAL 12/8/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta/estável estável - Pós-Fixados NA alta/estável estável Câmbio ² - EURO 1,4443 estável alta - REAL 1,5923 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 53.473,39 baixa baixa - S&P 500 1.178,81 baixa baixa - NASDAQ 2.507.98 baixa baixa(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A China vai desacelerar Além de ser um país pouco transparente frente a sua importância política e econômica na economia global, a China não é uma "ilha" isolada do mundo. Ao contrário, é muito dependente do consumo e investimento das economias mais poderosas do mundo. A provável queda (mais aguda ou mais leve) do PIB dos EUA e da Europa vai afetar o portentoso crescimento chinês. Por via indireta, portanto, isto vai bater em nossas contas externas, já que um terço de nossas exportações é para a China. O risco de o nosso déficit de transações correntes subir de 2% para algo como 4% do PIB não é nada desprezível. O risco do momento Ficar vendido em dólar e comprado em reais já foi uma estratégia muito segura. De agora em diante, talvez seja suficientemente arriscada o que pode evitar a entrada de tanto capital externo. Kassab vai ao Planalto Em meio à montagem de seu PSD, Gilberto Kassab visitou Dilma na semana passada para pedir a renegociação da dívida paulistana de R$ 46,3 bi. Kassab quer juros anuais de 6% contra os atuais 9%. É muita coisa, se levarmos em conta o prazo médio da dívida. Haveria uma redução de quase 30% em termos de valor presente. O apoio futuro do prefeito ao governo não deve valer tanto. A volta de Elena Landau O governo tem muitas mazelas para curar, sobretudo com seus aliados. Todavia, à oposição sobra letargia. A ida de Elena Landau para o Instituto Teotônio Vilela, a convite de seu presidente, Tasso Jereissati, parece oportuna para que o PSDB volte a se articular em termos programáticos para enfrentar o governo. Resta saber se Landau está renovada em termos de ideias. Se for para repetir que o PSDB fez um grande governo no passado, a coisa vai começar mal. Os intelectuais e Haddad Pela mão de Lula, o ministro Haddad está a trilhar o caminho de sua candidatura à prefeitura paulistana. Na última sexta-feira, reuniu-se com os intelectuais ligados ao PT. Pelo que soube esta coluna, o encontro foi muito cortês e não se tocou em nenhum ponto nevrálgico que pudesse retirar os sorrisos do candidato e o bom humor dos intelectuais. Todavia, o favoritismo de Marta Suplicy em relação à candidatura permanece, apesar dos efeitos da prisão de seu antigo assessor no ministério do Turismo. Renovação na política brasileira Os jovens candidatos à prefeitura de SP, Gabriel Chalita e Fernando Haddad estão sendo "apresentados" por velhas raposas da política, no caso, Lula e Michel Temer. Eis uma renovação muito bem comportada do ponto de vista partidário. Serão as raposas tomando conta do galinheiro ? Dilma e a solidão do poder Oito meses depois da posse e com a descarga de três ministros que não eram de sua cozinha no ar, a presidente Dilma está exatamente, em matéria de operação política, na mesma situação em que se encontrava às vésperas de assumir a vaga que Lula carinhosamente preparou para ela : mantém uma invejável base de apoio parlamentar no Congresso, e não sabe qual o grau de fidelidade tem de seus parceiros e em qual limite pode contar com eles. O rearranjo ministerial provocado pela saída de Palocci apenas aparentemente deu mais coesão, e, portanto, melhores condições de ação, à presidente. Na realidade, escancarou os amuos e descontentamentos dos partidos aliados. Sem que Dilma, talvez por falta de condições objetivas, talvez por vontade sincera de mudar a lógica perversa do presidencialismo do toma lá dá cá, tenha se entendido por seus apoiadores. O ar de rebelião na base governista está ficando irrespirável, pode ser despoluído um dia, mas a tensão, como o jogo está sendo jogado, é permanente. Dilma está numa encruzilhada, se cede às pressões cada vez mais escancaradas, mesmo que um tanto disfarçadamente, perde o pé das iniciativas. Se não cede, pode ser garroteada. E não tem muito para onde correr. Não tem diálogo com a oposição - o que de pouco adiantaria, pois o oposicionismo está em recesso, em crise de identidade. E as pessoas com quem poderia se socorrer no mundo político, são fervorosos adeptos da "realpolitik" a moda brasileira - é dando que se recebe. A "solidão do poder" é a síndrome que começa a acometer a presidente da República num momento em que ela precisa paz para pensar a boa política e crise econômica. O mordomo vai pagar As reações oficiais ao trabalho da PF no caso do ministério do Turismo e as imprecações contra a imprensa por causa das denúncias no ministério dos Transportes e no ministério da Agricultura indicam a intenção sibilina de jogar toda a culpa no mordomo. A PF pode até ter exagerado, a divulgação das fotos de suspeitos sem camisa saiu do controle, admita-se, para efeito de argumentação, que a imprensa tem alguma fixação por malfeitos, mas nada do que até agora veio à mira é invenção. E ninguém no mundo oficial ficou indignado com os fatos, só com os seus efeitos sobre os servidores suspeitos. Ainda no episódio das ferrovias e rodovias tivemos reações imediatas, com uma leva de demissões. Mas parece que está ficando por isso mesmo : onde estão as investigações, os processos contra os demitidos ? Ou as demissões foram injustas. Depois dos Transportes, o ânimo "faxineiro" foi arrefecendo. Quem é o protegido ? A determinação do governo de evitar investigações no Congresso sobre os desvios de conduta em vários ministérios, levanta dúvidas sobre quem o Planalto está querendo proteger : se os parceiros dos partidos aliados (depois de dar um susto geral por meio do PR) ou se o governo passado, período no qual as três histórias conhecidas se desenrolaram em sua maior parte ? Um O tratamento recebido pelo PMDB de Temer, Sarney e Renan Calheiros não é o mesmo dispensado ao PR de Alfredo Nascimento, Blairo Maggi e Valdemar da Costa Neto. Uns são mais iguais que os outros. Dois A lenta porém firme adesão que a pretendida candidatura do ministro Haddad vem conseguindo do PT paulista é a mais clara indicação de que no petismo não há ainda quem ouse contraria o ex-presidente. ____________ A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros. Se você deseja compartilhar gratuitamente estas migalhas, verdadeiras pílulas de sapiência, com algum amigo, alterar seu e-mail, ou cancelar o envio, clique aqui. ____________
terça-feira, 9 de agosto de 2011

Política & Economia NA REAL n° 164

Menos preocupação com as três letrinhas O presidente da Pacific Investment Management Company, Mohamed El-Erian, definiu bem os efeitos do rebaixamento do crédito realizado pela Standard & Poor's em relação à dívida dos EUA de "AAA" para "AA" : "A ação da S&P unirá governos em um esforço para erodir o monopólio e a influência operacional [das agências de classificação de risco]". De fato, nesta segunda-feira, já tivemos um evidente sinal desta análise. Os países do G-20 decidiram manter as suas posições em títulos do Tesouro norte-americano. Não há alternativa. O dólar é a mais importante moeda internacional e não há, minimamente, nenhuma moeda que possa ocupar o seu lugar no médio prazo. A S&P, essa sim, demonstrou a olhos vistos sua irrelevância. Suas análises contam a história e não são capazes de contribuir minimamente para a prevenção de crises. A empresa está intimamente ligada aos interesses mais imediatos dos investidores e não com o sistema como um todo. O tempo dirá se isso muda, mas uma coisa é certa : não são as "letrinhas" da S&P que irão alterar as decisões de investimento em relação aos EUA no curto prazo. Muita preocupação com duas letrinhas Se há um ponto central nesta crise, este diz respeito ao impacto dos eventos recentes sobre a economia mundial, especialmente no que tange aos países centrais do capitalismo moderno. A maior probabilidade é que a recessão volte a campear a economia real e o desemprego tende a se tornar um fator de fortíssima turbulência política. Acreditou-se que, após a crise de 2008, a atividade econômica seguiria um perfil de "V", ou seja, a recessão não seria tão longa e o retorno da produção seria mais rápida, algo entre três e cinco anos. Agora, especula-se, com razão, que a trajetória seja em "W", ou seja, uma nova recessão virá, talvez mais profunda, após a de 2008. Há um terceiro cenário, no qual, a produção cai agora e se estabiliza num patamar bem inferior ao do passado recente - mas este cenário não é a essência da "sopinha de letras" dos economistas, muito embora também seja relativamente provável. Os olhos, de novo, voltarão à Europa Os EUA tiveram sua rodada de más notícias completadas, nesta fase, nas últimas duas semanas. Agora, o mundo vai observar como os europeus, desorganizados e desunidos, tratarão suas mazelas. Há considerável possibilidade de que as recentes lições sirvam de exemplo e, assim, Espanha e Itália possam sair da linha de tiro dos investidores internacionais. Ficará claro, a partir de agora, o vergonhoso papel que os europeus exerceram sobre a crise grega, sobretudo a Alemanha, sabedora dos impactos que iria gerar. Será preciso controlar os riscos de crédito para depois, quem sabe, tratar da tragédia que recai sobre o setor produtivo das economias. A chance para a União Européia é aprofundar a integração. O problema é como fazer isto quando eles não falam a mesma língua, literalmente. A China é um grande risco Não nos iludamos. A acusação chinesa de que a América é muito endividada procede. É o "óbvio ululante". Será a democracia a resolver esta realidade, na base do voto e do suor da grande nação do ocidente. Do lado chinês a coisa é bem pior : o país vive do dumping social, da ausência de condições de trabalho de grande parte de sua massa trabalhadora, da falta de liberdade política e social e das práticas comerciais que levam ao barateamento de sua produção. Os chineses nem sequer ajustaram sua taxa de câmbio para evitar o aguçamento da crise estrutural por qual passa o globo. Agora, ficará evidente que a China vive do abuso de consumo dos norte-americanos que se endividam com terceiros para comprar e comprar. Deste modelo, pacificamente participam os chineses. Os efeitos da desaceleração econômica recairão sobre a China e por lá não há democracia para estabilizar o sistema econômico. Vale a política da repressão. Este risco ainda não surgiu no horizonte, mas há de nascer como um poente para os preços inflacionados, incluindo as nossas commodities. Brasil, chance estratégica pode ser perdida O Brasil tem a oportunidade histórica de se sair melhor após esta crise. Sua situação fiscal não é deplorável como os países centrais, e sua posição externa é bem mais estável. É certo que a atividade econômica sofrerá os efeitos da queda de preços no exterior, sobretudo das matérias-primas que vende para que os outros as industrializem. Todavia, o país nos próximos dez anos deveria aumentar o grau de conteúdo tecnológico na produção industrial e reformar sua infraestrutura, além de cumprir a "velha" agenda relacionada com a educação, saúde e previdência. Bem, o que se vê é um Estado ainda despreparado para cumprir esta tarefa estratégica e, do ponto de vista conjuntural, câmbio completamente fora de lugar e, ao seu lado, os maiores juros da face da Terra. A corrupção e os desmandos na área política também compõem este misto de rara oportunidade estratégica e absoluta falta de autoestima com suas próprias possibilidades. Efeitos sobre o mercado ainda incipientes Não podemos ignorar o fato de que a crise externa ainda não contaminou nossa economia. Estamos ainda na fase primeira deste processo. Ou seja, ninguém deveria acreditar que a queda recente da bolsa de valores local e os efeitos já ocorridos no campo dos juros já passaram. Nada disso. O ciclo negativo se iniciou há cerca de três meses, conforme alertamos aqui neste espaço, e deve se propagar mais nos próximos meses. Não nos arriscamos a prever uma espiral negativa profunda, mesmo que esta possa ser provável. Que a trajetória é claramente negativa, não resta dúvida. Portanto, reforçamos nossa mensagem de prudência para os investidores e para o setor real. É preciso não sucumbir ao dia a dia do noticiário, sob pena de se adotar o comportamento esquizofrênico que o "tal do mercado" assume em momentos como o que estamos passando. Sem nos precipitarmos... Podemos dizer neste momento que a recessão que deverá vir pela frente na economia mundial tem tudo para ser mais profunda e mais longa que a de 2008. O sistema financeiro mundial está em frangalhos, as políticas keynesianas já foram implementadas e provocaram enormes crises fiscais e os investidores (da economia real e do mundo financeiro) estão mais céticos. Estas são das poucas (e relevantes) razões para evidenciar o difícil período que virá. O que falta mais ? A política, os políticos e suas estruturas não estão preparados para liderar um New Deal que possa engendrar a solução dos problemas estruturais da crise atual. Infelizmente, Obama não é Roosevelt e o Congresso dos EUA já deu provas que virou suas costas para as novas gerações e mira nas próximas eleições. Na Europa, os alemães, mais uma vez, provam que em matéria de assuntos continentais seu papel é deplorável. Por fim, temos a China e sua ditadura, pronta a dar lições para o mundo, sem que isso seja exemplo crível para ninguém. Dilemas econômicos A turbulência econômica no mundo, que ninguém sabe onde vai parar nem quanto vai durar, parece ter embaralhado de vez a cabeça econômica do governo Dilma. Há pessoas internas que acham que o governo terá de aprofundar o ajuste fiscal e elevar mais os juros para se prevenir da "marolinha" que está no ar. Há outros, que pensam o contrário : terá de reduzir juros, ampliar gastos oficiais, afrouxar o controle de crédito, mesmo receituário adotado com sucesso em 2008. Certo, ao que se sabe, é a ordem da presidente : não se sacrifica o crescimento. Não se pode também deixar a inflação desgarrar, e a renda e o emprego caírem. Como as principais variáveis da crise não estão em águas territoriais brasileiras, o como e quando agir é o grande dilema da turma do ministro Mantega. Mas justiça se faça : a dúvida é do planeta e quem diz que sabe o que vai acontecer, seguramente está muito mal informado. Cuidado com o chamado rally de alta É muito comum os investidores olharem as cotações de hoje e repararem que estas estavam bem mais altas há poucas semanas. A tentação de comprar ativos é grande... Todavia, os movimentos de recuperação, embora muitas vezes vigorosos, são um caminho que muitas vezes obscurece a verdade dos fundamentos. Neste sentido, movimentos de alta no curto prazo devem ser oportunidades de venda e não de compra. Isto exige enorme disciplina. Assim. Radar NA REAL 5/8/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta/estável estável - Pós-Fixados NA alta/estável estável Câmbio ² - EURO 1,4215 estável alta - REAL 1,6118 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 48.876,20 baixa baixa - S&P 500 1.119,74 baixa baixa - NASDAQ 2.357,69 baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável PMDB : geleia real ou mel diluído ? Jactam-se os peemedebistas, pelo menos para o consumo externo, de que agora, com Dilma, o PMDB é um partido no poder, e não apenas um aliado de segunda categoria. Verdade ? Não é o que parece, haja vista : 1. O vice-presidente Michel Temer, o símbolo desse novo "poder", não participa das decisões cruciais, é comunicado a posteriori. 2. O Conselho Político, no qual o partido adquiriu assento, faz reuniões formais. O que importa é definido por Dilma, solitariamente, ou em pequenas audiências nas quais o PMDB não tem presença. 3. Num dos ministérios ditos do partido, o da Defesa, Nelson Jobim entrou e saiu sem consultas partidárias. E agora ainda voou em direção a um neopetista. 4. Outro ministro peemedebista, Pedro Novais, do Turismo, é ex-ministro desde a posse, só o PMDB e ele mesmo não se deram conta disso. 5. Moreira Franco, amigo do peito do vice-presidente Temer, ocupa uma pasta que se desaparecer ninguém notará, nem a presidente Dilma. 6. Wagner Rossi, da Agricultura, entrou na linha de tiro dos aliados. Se sobreviver, será de muletas. Se o PMDB ficar com o Ministério, será sob atenta observação palaciana. 7. Edison Lobão no ministério das Minas e Energia é ministro de meio expediente, não toma nem cafezinho sem ser monitorado pela própria Dilma ou por um dos auxiliares que ela lá pôs. 8. Da lista de mais de 40 nomes que o PMDB apresentou para cargos representativos no segundo escalão, lista que começou nas mãos de Palocci e passou para as "fraquinhas" de Ideli Salvatti, nenhum ainda frequentou o "DOU". O PMDB pensa que é geleia real. Está mais para mel aguado. Coisas de amigos Não há a menor dúvida : a saraivada de denúncias (caso Jobim é negócio separado) que há mais de três meses mantém o governo Dilma em constante ebulição, tem de fato origem nas próprias forças governistas. A maior parte dos dedos aponta para o PT, mesmo no caso Palocci. Por isso, avalia-se no Congresso que a qualquer momento pode surgir um torpedo em direção a um petista, como troco. Quando surgir, vai bater em poucos dias numa CPI no Senado, com folgas de assinaturas. Um peso, duas medidas ? Está o mundo de olho na forma como a presidente Dilma vai se comportar nas denúncias envolvendo o ministério da Agricultura e a Conab, já apelidada de "o DNIT do PMDB". Vai ficar apenas na demissão do Jucazinho e do secretário executivo do ministério, ou vai acionar também sua máquina da faxina, sem olhar a quem ? Se o tratamento for distinto do dado ao PR no ministério dos Transportes, sem justificativas plausíveis, vai ficar explícita a dependência do governo ao PMDB. Militares e diplomatas Em princípio, parece uma temeridade a escolha de Celso Amorim para o mnistério da Defesa. Um não tem nada a ver com o outro. A experiência dos militares com o diplomata José Viegas, extraordinário profissional, foi desastrosa. Mas Amorim tem o espírito maleável e isso pode ajudar. Mas ele terá de ter um trunfo na manga - quem sabe a recomposição das verbas orçamentárias que Nelson Jobim estava renegociando - para começar a conversar. A escolha de Amorim denota outra coisa : a falta de opções no quadro político oficial de quadros para os postos mais delicados. Equívocos do marketing Os marqueteiros palacianos armaram os palanques para fazer do "Programa Brasil sem Miséria" uma plataforma positiva para a presidente Dilma. Gorou por causa do episódio Palocci e também porque o programa é genérico demais. Em seguida, preparam o lançamento do Brasil Maior com o mesmo objetivo. O plano também está gorando, em parte por causa das crises Jobim/Conab, mas também porque o programa foi considerado, no mínimo, fraco pelos analistas e empresários, com raras exceções. Boas embalagens não são suficientes na maioria das vezes. O conteúdo é essencial. Um banco privilegiado O "Brasil Maior" vai jogar mais recursos do Tesouro nos cofres do BNDES, para aplicações subsidiadas, às custas dos contribuintes. Os ministros econômicos haviam avisado que esta fonte para o banco estatal havia se esgotado, mas o pacote de Dilma mudou os conceitos de Mantega e cia. O que reforça um movimento da oposição para criar no Senado uma CPI sobre o assunto. Dizem os oposicionistas que já têm 22 assinaturas para ela, das 27 mínimas necessárias. Pode ser por aí o susto que muitos governistas querem dar no Planalto. Nada de marolas Com tanta confusão, a orientação oficial é evitar a todo custo pôr em votação qualquer projeto mais polêmico na Câmara e no Senado. A tarefa é facilitada pelas MPs que trancam as pautas das duas casas e porque Marco Maia e José Sarney, responsáveis pela agenda de votação, não são de contestações. Sarney não botará em votação, se não houver acerto com o Planalto, nem o projeto de autoria dele mesmo modificando as regras de tramitação das MPs. Mas o boicote não pode durar muito O governo sabe, porém, que não pode segurar o Congresso em "banho-maria" por muito tempo. Até porque tem coisas vitais de seu interesse para votar e que demanda negociação. É o caso da prorrogação da Desvinculação das Receitas da União, a ser extinta no fim do ano. O mecanismo permite o governo gastar como quiser 20% das receitas obrigatoriamente destinadas a áreas como saúde, educação. Sem ela, a administração do Orçamento, extremamente engessado, torna-se complicada. Ela nasceu ainda no governo FHC, com o nome de Fundo Social de Emergência. Tesouro reforçado A propósito de um ajuste conjuntural aqui, um ataque a um problema surgido na economia acolá, o governo vai reforçando discretamente seu caixa. Nos últimos meses, anotem, foram elevadas as alíquota do IPI das bebidas, o imposto dos cigarros, o IOF nos cartões de crédito, nos derivativos cambiais, nos financiamentos habitacionais, no crédito ao consumo, sobre ingressos de capital externo e, por fim, a alíquota da Cofins e do PIS sobre alguns produtos importados. De grão em grão, o Tesouro vai enchendo o papo. ____________
terça-feira, 2 de agosto de 2011

Política & Economia NA REAL n° 163

Obama é negro, mas está pálido A inauguração do mandato de Obama foi saudada como símbolo da hegemonia da democracia sobre o preconceito. Num país no qual a divisão racial não é apenas evidente, mas marcada pela estratificação econômica entre as raças e pela tentativa de afirmação contínua dos direitos das "minorias", Obama era a perfeita representação de tantas aspirações em torno do tema. A crise recente evidencia que a "negritude" presidencial deixou de ser o elemento simbólico essencial do processo político. O que está em jogo são interesses objetivos em torno da continuidade de um programa econômico que alarga gastos públicos para salvar a economia como um todo. Os interesses dominantes da classe média e alta estão a se confrontar com os interesses mais universais de toda a sociedade e, de sobra, dos mais pobres. Roosevelt enfrentou este cenário nos anos 30. Todavia, era um estadista com clara percepção de onde queria chegar. Obama recalcitra, oscila, finge bater na mesa, mas logo em seguida sopra. É um ex-pretenso estadista que soube usar um slogan e ganhar uma eleição. Ficou pálido. Oposição republicana com votos e sem ideias Os republicanos por sua vez fazem um jogo perigoso. Ganham (e ganharam) seus votos por meio de um discurso meramente ideológico e, no dia a dia, estão a postos para retardar, mitigar e barganhar em torno das necessárias reformas que os EUA necessitam para tocar em frente seu Império. Tentam emparedar o presidente para viabilizar seus candidatos anões de ideias (de Sarah Palin a Mitt Romney, passando por Michele Bachmann e Tim Pawlenty). Foram os republicanos que barraram as reformas mais profundas no mercado financeiro e de capital no ano passado e tiveram a sorte de ver que o presidente recuou e se escondeu por de trás de sua palidez. Pouco importa ao GOP a importância de seus debates perante o mundo. Falam para grotões bem atuantes nas entranhas do poder : a indústria financeira, a petrolífera e assim vai. Simples assim, tristemente. A crise é estrutural Seria risível se há pouco mais de três anos, alguém dissesse que os chineses, brasileiros e indianos seriam os "queridinhos" dos investidores, que os maiores bancos do mundo estariam sob risco ou quebrados e que a Europa e os EUA estariam sob ataques especulativos em função do risco de default. Pois bem : que ninguém por aqui se orgulhe muito deste cenário. Trata-se de uma tragédia mais que grega (sem trocadilhos). Não há vencedores neste cenário. Sobretudo, para o Ocidente e sua fragilizada democracia representativa. O mundo estava discutindo no fim de semana se as agências de classificação de riscos iam tirar uma letrinha "A" da dívida dos EUA (classificada como triple "A", AAA). Bancos acostumados à especulação "projetavam" uma queda de 30% nas ações. Tudo parecido, segundo eles, à crise de 29. Vejam a que ponto nós chegamos ! Tudo isto indicaria que os tais "analistas" fossem um pouco mais profundos... Nada disso : há um tratamento "conjuntural" a toda crise. Todavia, há uma crise estrutural, na qual o endividamento das economias centrais é apenas a "ponta do iceberg". O modo e o ritmo "financista" de gerir o mundo estão vencidos, mas ainda não há nada para se colocar no lugar. Assim, a crise vai prosseguir. E talvez por mais tempo que se imaginava há pouco. O "acordo" da dívida nos EUA Vejamos, em termos bem gerais, o tal do "acordo" fechado entre republicanos e democratas para evitar o default da dívida norte-americana : corte de US$ 1 trilhão de despesas governamentais, a promessa de mais US$ 1,5 trilhão em cortes de programas sociais/previdenciários, etc. e aumento de impostos, ambos a serem propostos por uma "comissão bipartidária" do Congresso. Assim, o "teto" da dívida pública sobe para US$ 14,3 trilhões. A interpretação deste acordo (e seus muitos detalhes, disponíveis mundo afora) é que Obama sofreu uma substancial derrota de vez que não se conseguiu obter amplitude na solução do tema. Com efeito : a crise permanece crônica e, muito provavelmente, terá fases agudas como esta última. Tudo muito efêmero, para um mundo muito enfermo. Japão : a próxima "vítima" ? Não vamos nos adiantar no tema nesta coluna. Mas, caros leitores, anotem aí : não será surpresa se em poucos dias ou semanas os "canhões do mercado" forem apontados para o Japão. Sua dívida externa de US$ 10 trilhões é excessiva e isso é pecado mortal no atual momento. A dívida equivale a 200% do seu PIB. Um verdadeiro tsunami. Ainda adormecido. Bancos dos "emergentes", aposta contra Há duas semanas, reportamos aqui neste espaço que havia uma forte especulação sobre o fato de haver uma crise potencial no segmento de "crédito imobiliário" brasileiro. Pois bem : há uma forte movimentação de "fundos especulativos" com poder de fogo considerável operando contra ações de bancos de países emergentes, não apenas bancos brasileiros. Bancos chineses, indianos e brasileiros estão sob ''questionamento" em termos de qualidade de risco de crédito do setor financeiro. Especificamente, no caso do Brasil, isto soa ridículo. A capitalização dos bancos brasileiros, sobretudo os privados, é excepcional quando comparada com a de seus pares. Em termos mundiais, diga-se. Todavia, isto pode não impedir, no curto prazo, que as ações do setor financeiro caiam muito mais que a média de mercado. A especulação financeira é um fenômeno poderoso e marca registrada do capitalismo atual. Ataques de nervos Quem frequentou, nas últimas semanas, redutos de peso do setor empresarial brasileiro, entre eles, o sistema financeiro e a área de telecomunicações, pôde verificar o ambiente "almodovariano", aquele à beira de crises nervosas. No caso do sistema financeiro a explicação pode estar no pacote cambial do ministro Guido Mantega : mais do que um ataque direto ao problema da valorização do real, ele parece ter sido uma ameaça ao setor como um todo. "Dias piores poderão vir", segundo a interpretação de um analista muito bem posicionado e com foco nos humores de Brasília. O ministério da Fazenda tomou a direção, deixando de lado o BC e a CVM. No caso das telecomunicações incomoda - e irrita - a cada vez maior intervenção oficial, via Anatel e o ministério das Comunicações, na área. De ordenador e definidor, o governo está virando um controlador. Chá de maracujá Pelos lados do centro financeiro de SP estranha-se o silêncio da BM&FBovespa, uma das possíveis "vítimas" do pacote de Mantega. Armínio Fraga, presidente do Conselho de Administração da instituição e ex-presidente do BC excepcionalmente bem avaliado pelo mercado, teria muito o quê dizer nesta hora para aclarar o que está um tanto quanto confuso. A lição está sendo feita ? Na entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, uma das muitas que concedeu depois que, enfim, apossou-se do título de czar da economia brasileira, o ministro Guido Mantega procura desfazer a visão mais ou menos corrente de que o câmbio é uma das âncoras, e das mais poderosas, da inflação brasileira. Diz ele que "o câmbio pode ajudar, mas as medidas fundamentais são o crescimento menor do crédito, elevação da taxa de juros, aumento do [superávit] primário, redução do gasto público". Entendem alguns analistas que as falhas estão nesses pontos : o ritmo dos juros é incerto, o crédito continua crescendo bem e o superávit primário está sendo sustentado mais pelo aumento da receita do que pela redução consistente das despesas fiscais. O resultado é que é muito improvável, como adiantamos nesta coluna há mais de um mês, que a inflação fique dentro do centro da meta (4,5%) antes de 2013. Câmbio, ação lenta Para quem tanto criticava a valorização do câmbio nos tempos de FHC e Cia., as ações governamentais do PT em relação ao câmbio não apenas carecem de competência e coragem. A área econômica é lenta como um bicho preguiça. Radar NA REAL 29/7/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4404 estável alta - REAL 1,5493 estável estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 58.823,40 baixa baixa - S&P 500 1.292,28 estável/baixa baixa - NASDAQ 2.756,38 estável/baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Brasil maior Não havendo percalços de última hora, Dilma anuncia hoje o plano de incentivo à indústria brasileira, prometido desde o início do governo. Logo, será possível saber quem ganhou a disputa que se trava entre o ministério da Fazenda, de um lado, e os ministérios do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia, de outro, no que se refere ao conteúdo prático das propostas. A Fazenda de olho na receita, os dois outros preocupados com a perda de poder de competição da produção nacional. O anúncio correu até o risco de ser adiado mais uma vez. Dilma interferiu porque o programa "Brasil Maior" - este era o seu nome fantasia até ontem - faz parte da agenda positiva com a qual ela pretende tirar o governo da defensiva em função da crise política, denúncias de corrupção, etc. Um número dirá quem fez o jogo : R$ 45 bi. É esta a renúncia fiscal pretendida pelo setor empresarial em quatro anos, defendida também pela turma do Desenvolvimento e da Ciência e Tecnologia. Na extensa entrevista ao "Estadão" de domingo, Mantega disse que não tem essa de R$ 45 bi. Mas, ele falou ao jornal paulista na quinta à noite, antes, portanto, da participação de Dilma no debate. É esperar para ver e crer. Aquecimento sindical I Mais até que a insatisfação e os temores dos partidos aliados, o descontentamento dos sindicatos e das centrais sindicais, por incrível que pareça CUT à frente, está pondo em fogo alto o Planalto. Os sindicalistas estão saudosos dos bons tempos de Lula, quando tinham vantagens e carinho. Sentem falta das duas coisas com Dilma. E carregam para este segundo semestre um portentoso contencioso para o governo. No Congresso, querem aprovar a redução da jornada de trabalho no país de 44 horas para 40 horas semanais, sem redução de salário, e o fim do fator previdenciário. Sem contar o aumento dos recursos destinados obrigatoriamente à saúde. Aquecimento sindical II No campo estritamente das relações trabalhistas imediatas, querem botar asas nos aumentos salariais. Pelo menos três categorias de grande peso e influência têm dissídio coletivo neste semestre - bancários, petroleiros e metalúrgicos de São Paulo. Os bancários, reduto da CUT, já deu a partida : está pedindo uma correção de 13%, o dobro da inflação prevista para o período. O BC já botou na sua última ata um alerta para a questão. Argumentam os sindicalistas que os lucros desses setores justificam os reajustes elevados. E comparam o que vão pedir com os 14% que o salário mínimo terá em janeiro. Dilma acaba de tirar um reserva de luxo do banco, o Pelé, para ajudar a lustrar a confusão da Copa do Mundo. Talvez tenha de buscar outro reserva de luxo para tentar acalmar os sindicalistas. Agora, o teste real A partir de hoje, quando de fato os deputados e senadores começam a retornar de suas férias de meio de ano, será possível testar a eficiência e funcionalidade do novo esquema de coordenação política do governo no Congresso, com a ministra Ideli Salvatti na linha de frente, a ministra Gleisi Hoffmann na retaguarda e a presidente Dilma mais ativa no trato com os políticos. Quando a nova montagem estava para ser testada, surgiram os escândalos do ministério dos Transportes, Dilma aproveitou para fazer uma eficiente ação cirúrgica, os parlamentares foram para o recesso e os partidos ficaram um tanto assustados com a "nova eficiência" do governo no combate às denúncias de corrupção. A ação criou medo, mas criou também insatisfação e insegurança entre os aliados. A ponto de, nos últimos dias, o governo ter mandado inúmeros recados aos parceiros aliados de que tal a faxina tem tempo e hora para acabar e deve, surpresas à parte, ater-se ao ministério dos Transportes. Foi o já conhecido "efeito demonstração". Os incomodados, aos poucos, serão discretamente acomodados. Volta-se ao que era antes : à espera de cargos ainda não preenchidos e das verbas não liberadas das emendas parlamentares. Um teste para a paciência do Planalto e dos partidos aliados, pois o ajuste, para não despertar desconfianças e reações, precisará ser feito discretamente. E com reza brava para não surgirem novas denúncias num ambiente em que todo mundo desconfia de todo mundo. A oposição não entra na conta Se alguma coisa tira o sono político no momento é a infelicidade de seus aliados. Ameaças da oposição com CPIs e convocações de ministros e funcionários graduados ele se livra delas com pequenos piparotes. Ou barra a convocação ou controla os depoimentos, ainda mais que os oposicionistas não andam se preparando para as inquirições. Uma entrevista de Waldemar Costa Neto ou um discurso como o que está prometido pelo ex-ministro Alfredo Nascimento para hoje causa mais furor do que a soma total da turma do PSDB, DEM e PPS no Congresso. Um estrilo do PMDB pode ser mais corrosivo que Aécio Neves e José Serra jogando no mesmo time. A oposição, para o governo, é figurante. E ela faz todo o esforço possível para ficar nessa posição. Passaporte para casa O PMDB já tem dois ex-ministros no governo Dilma : Pedro Novais e Nelson Jobim. Salvou o ministro do Turismo da guilhotina agora da confusão do ministério dos Transportes - pegaria mal mais uma demissão. Novais está monitorado na Embratur por um adversário de seu padrinho maranhense José Sarney e ex-deputado Flávio Dino e pode carregar por mais um tempo a insígnia de ministro sem incomodar. Se não incomodar, é claro. Quanto a Jobim, Dilma nunca esteve feliz com ele, uma imposição de Lula, nem Jobim esteve feliz com ela, pelos degraus que seu prestígio desceu no novo governo. A declaração de voto em Serra, que não é fácil entender como um "escorregão" em alguém tão experiente, pode precipitar o desencontro. O problema é que o ministério da Defesa é "área minada" e Jobim, bem ou mal, manteve o ambiente por lá sem borrascas. Tomando conta de horta Quem está definindo os bens que terá de dispor para cumprir as determinações do Cade é a própria BR Foods, a fusão entre a Sadia e a Perdigão, cujo aval pelo órgão de defesa da concorrência causou, como se dizia antigamente, "muita espécie" entre os especialistas. A hora foi franqueada aos bons cabritos, aqueles que berram com a corneta oficial e a regência do BNDES. ____________
terça-feira, 26 de julho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 162

Inflação e crescimento : como acomodar Dilma não poderia ter sido mais explícita nas conversas que teve com um grupo de jornalistas na sexta-feira : não haverá combate à inflação com sacrifício do PIB (ela chamou "crescimento zero"). Com isso, confirma-se o que escrevemos mais de uma vez neste espaço e muitos analistas já punham em suas contas : nem em 2012 o BC chegará à meta de inflação de 4,5%. Ficará para 2013. Isto explica também o comunicado lacônico do Copom. Após o último aumento da Selic, na semana passada, de 0,25%. E pode ser lido na entrevista concedida por Marcio Holland, secretário de Política Econômica ao "Estadão", ao defender que a inflação no Brasil tem ainda forte componente externo. Se tem, o que se pode fazer por aqui é pouco. Entre os especialistas não oficiai,s a dúvida é como acomodar o crescimento que a presidente quer - não menos de 4% - com inflação mais ou menos obediente. É desafio para mágico. Um amparo Por isso, não devem os empresários esperar grande esforço do BC e da Fazenda para melhorar o câmbio. O dólar faz parte do arsenal de combate à elevação de preços. A aposta do governo para ajudar a indústria nacional, cada vez menos competitiva, é o plano de incentivos que Dilma promete anunciar hoje. Sem grandes ilusões : incentivos que signifiquem perdas pesadas de receita ficarão para outra ocasião. A cota da Petrobras A Petrobras, como se noticiou, foi obrigada a manter seu plano de investimentos 2011/15, depois de pesadas discussões com o ministério da Fazenda, praticamente no mesmo nível do programa 2010/14, com um aumento de menos de 0,5%. Esta foi a contribuição que a estatal terá de dar à política anti-inflacionária : para investir mais teria de reajustar os combustíveis, artificialmente controlados há algum tempo. Nesta área, para o governo basta a pressão do etanol, que nem na safra está se comportando. Perda de confiança ? O envolvimento do BC e o da Petrobras (quem sabe, no futuro, de outras instituições) nesse tipo de política (ver nota abaixo) não pode abalar a confiança dos agentes econômicos e dos investidores na autonomia dos dois ? Eles passam a ser órgãos "de governo" e não de "Estado" e isso pode ser perigoso. O mercado, por meio da pesquisa Focus (consulta que o BC faz à 100 especialistas), já deu uma indicação esta semana : apesar do aumento da Selic, eles aumentaram a previsão para a inflação do ano que vem. Brasil, em pauta Na semana passada, a coluna esteve em contato com bem posicionados investidores. Destes que têm seus fundos estacionados em paraísos fiscais e contratam PhDs para formularem suas "teses de investimento". Pois bem : qual não foi a surpresa destes colunistas sobre os comentários destes investidores dando conta de uma crise imobiliária no Brasil. O mais interessante é que o rol de argumentos destes é insustentável, não apenas porque a inadimplência na área imobiliária não é tão elevada como também não há uma queda monumental do preço dos imóveis no país. Há algo de novo no front. É o que pudemos constatar. O Brasil nunca foi o paraíso pregado há pouco tempo por estes mesmos investidores. Todavia, não está na iminência de uma crise. De toda a forma, vale o alerta : o dinheiro não tem pátria. Sua pátria é o lucro. É a política, sempre a política Não custa repetir, para lembranças posteriores : as razões que estão levando a presidente Dilma a aceitar um pouco mais de inflação, por um tanto mais de crescimento, são de ordem meramente política. Ela precisa ainda firmar sua imagem e sua liderança, o que poderia (ou pode) ficar complicado se a economia cair muito e surgirem demissões e a renda do assalariado perder força. Os aliados começariam logo a chiar. Por isso, o salto de equilibrista (sem rede ?) que está sendo exigido do BC e do ministério da Fazenda. E ainda tem o fantasma Escutem três pessoas ligadas ao mundo oficial e vocês terão três informações sobre as relações de Dilma e Lula : (a) estão excelentes; (b) estão mais ou menos; (c) há queixas dos dois lados. A realidade é que, boas ou más, há ciúmes de um lado e apreensão de outro. Queira ou não, Lula é um fantasma que assombra Dilma. A questão da popularidade é uma. Se a economia, por exemplo, perder um pouco de rumo, as atenções vão ser voltar para o "oráculo" de São Bernardo : "com ele era diferente" e coisas assim. E Lula, mesmo querendo ajudar com sua movimentação, mais complica do que tudo. Está sempre lembrando que não se aposentou nem é de ficar no banco de reservas. O efeito demonstração O governo está sorrindo como nunca com as pesquisas reservadas (nem tão assim, na verdade) que indicam que a "faxina" que a presidente está fazendo no ministério dos Transportes está sendo muito bem vista entre os formadores de opinião, principalmente na classe média. Mesmo que seja uma limpeza incompleta, pois o problema lá não é apenas de nomes, dos valdemares, mas também e especialmente de procedimentos, de normas. E de controle e de fiscalização. Por onde andou por todo esse tempo a CGU ? E os fiscais do PAC, com seus pais e mães. Mas mesmo com esse sucesso de público, não se espere, a não ser que novas denúncias surjam, que a faxina vá extrapolar a área de rodovias e ferrovias e avançar em outras direções na Esplanada dos Ministérios. A presidente ainda não sabe o cacife que tem para enfrentar aliados mais fortes e mais sabidos. O PR pagará sozinho - e deverá ter uns afagos discretos. As decisões da presidente de fazer a limpeza, bem em cima das denúncias da imprensa, deixou ressabiados e assustados os parceiros do governo no Congresso. Por isso, arquivem-se informações de que, por incompetência, inapetência, inadaptação e outras razões o rolo da faxina poderia passar logo logo também pelo lados do Turismo e das Cidades. A ordem é deixar a poeira baixar. Quando agosto chegar Somente depois das férias de meio de ano dos parlamentares será possível saber qual o efeito real das ações da "nova Dilma" sobre os aliados, se ela vai se impor e tomar de vez as rédeas do processo político. Qualquer que seja o sentimento dos parceiros presidenciais, a começar pelo "ofendido" PR, não se deve esperar nenhum rompimento espetacular com o governo, de alguém passando a oposição. De PT e PMDB ao menor dos aliados, nenhum tem fôlego para sobreviver ao sol. Se houver ressentimento, a reação será sem gestos tresloucados de atear fogo às vestes. O estilo está mais para aquele romance de Jorge Amado, "Tocaia Grande". Liberou geral ? Um dos temores do mundo político é que a presteza com que agiu Dilma no caso dos Transportes, demitindo à primeira denúncia, incentive daqui para frente uma guerrilha de denúncias, uma guerra de dossiês. Não é por outra razão que Lula está pedindo juízo ao PT e parceiros. Grécia não foi salva, mas a Europa Não houve propriamente um "resgate" da Grécia por parte da União Europeia e, muito menos, uma "vitória" de Angela Merkel na satisfação de seu desejo de impor aos investidores uma parte das perdas que virão a ocorrer na troca dos títulos helênicos pelos novos títulos lastreados pela UE. De fato, não havia saída para a Grécia, endividada acima daquilo que podia pagar. Tardiamente, a UE reconhece este fato. Depois de enormes custos para todos os países. Ademais, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália terão maior tranquilidade para se equilibrarem no curto prazo. Afinal, a solução patrocinada pela Alemanha e França salvam não apenas a Grécia, mas toda a Europa meridional. De toda a forma, a situação continuará instável diante da impossibilidade de alavancar o consumo e o investimento destes países. Além do desemprego que continuará a trazer os conhecidos transtornos políticos. E agora ? Cadê a solução política Um aspecto relevante a ser observado doravante é o quanto esta crise econômica criará novos mecanismos de aprofundamento da União Europeia. Ao escolher uma solução mais construtiva para o Velho Continente, os principais países da UE deveriam abandonar as suas políticas paroquiais e se voltar para uma relação mais completa na gestão econômica, sobremaneira no que tange à dívida pública e ao financiamento dos déficits públicos. A crise é de todos, como se provou, mas a solução dependerá da inteligência política da França e da Alemanha, países que sempre tiveram dificuldades em serem de facto europeus. Agências de risco : para que servem ? Não é preciso ir longe para constatarmos que as agências de risco se tornaram um problema a mais na administração das crises e colapsos financeiros de países e empresas. Seus alertas são tardios e, no momento da crise, seus ratings, inúteis. Tudo muito estranho. Além disso, há muitas indicações de que sua forma de atuar colabora com a especulação. Fosse diferente, seus alertas quanto à crise imobiliária dos EUA teriam ocorrido anos antes da catástrofe de 2008, bem como a classificação dos bancos norte-americanos teria sido revista muito tempo antes de quase todo o sistema quebrar. Agora, depois da solução apresentada pela União Europeia para a dívida dos governos, as agências de classificação de riscos especulam sobre um default. De fato, este default existirá. Não há outra forma de não existir. Todavia, o default das agências de risco já ocorreu há muito tempo. Copa/Olimpíada : quando teremos informações ? Em matéria de falta de transparência, o governo pode levar a taça. A Copa do Mundo é dele. Cadê as informações sobre as obras da Copa e das Olimpíadas ? A razão para esta falta de transparência é a que todos podem estar imaginando : as obras estão atrasadas, os custos são cada vez mais elevados e falta um plano estratégico para sanar os problemas. Não à toda, Henrique Meirelles deixou para trás a ambição de ser o "gerente das olimpíadas". Radar NA REAL 22/7/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável - Pós-Fixados NA estável estável Câmbio ² - EURO 1,4393 estável alta - REAL 1,5560 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 60.270,00 baixa estável - S&P 500 1.345,02 estável/baixa baixa - NASDAQ 2.858,83 estável/baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 19 de julho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 161

Confirmação de tendência Na coluna do dia 9/5 escrevemos que os mercados sinalizavam uma mudança substantiva de tendência. Depois de quase um ano de recuperação do colapso financeiro ocorrido nos países centrais do capitalismo. a partir de agosto de 2008, os mercados refletiram em larga medida o sucesso imediato da adoção de políticas dos governos para evitar que a atividade econômica atingisse patamares de uma crise como a de 1929. Ao final do primeiro trimestre deste ano, quase todos os segmentos do mercado local e mundial apresentaram um desempenho que espelhou este processo inicial de recuperação. Restavam os aspectos estruturais das economias para serem "recuperados" por meio de políticas governamentais. Não foi isto que ocorreu na maioria dos países, incluso o Brasil, que permaneceu letárgico diante de seus problemas. Sistemas emperrados A crise europeia, deflagrada pelo colapso da Grécia, é a representação de que a absorção dos "créditos podres" do sistema privado (e estatal) não está cabendo na dimensão da dívida externa e interna dos países. Os investidores que se beneficiaram do socorro do Estado são aqueles que, sem as perdas gigantescas das quais foram protegidos, agora constatam que as dívidas de países como Portugal, Espanha, Irlanda e, até mesmo, Itália e França, podem não ser solventes na sua plenitude. O mesmo raciocínio vale para a os EUA, muito embora a sua posição estratégica lhe permita melhores condições. O dilema europeu Há um problema estrutural muito maior que uma conjuntura negativa. A crise é estrutural e requererá um encaminhamento político sobre o qual não temos convicção que os sistemas políticos estão preparados para solver. Portanto, trata-se de uma crise de enormes proporções. A Europa está diante de uma "escolha de Sofia". Ou aprofunda a União Europeia, sonhada destes os anos 50 do século passado, ou dissolverá o seu sistema monetário "jogando ao mar" os países menores do Velho Continente. Angela Merkel e sua visão de um germanismo econômico simboliza a restrição à estratégia pró-aprofundamento. De outro lado, a França e a Inglaterra simbolizam a hesitação na defesa da União. A questão não está apenas mal parada. Ela está ainda sob o impacto da análise de ganhos e perdas. Os EUA tem a sua própria miopia O caso norte-americano é ainda mais simbólico do momento decisivo pelo qual passamos. Obama é uma figura política pálida, sem sustentação política no Congresso e incapaz de promover mudanças estruturais no seu próprio sistema econômico. Suas políticas maneiam entre aspectos exclusivamente ideológicos (universalização da saúde e previdência, intervenção do Estado sobre o sistema produtivo, etc.) e aspectos concretos (limites orçamentários e de dívida, apatia dos investimentos privados, desemprego elevado, etc.). Há ainda a constatação que somente as urnas abençoarão a renovação (ou não) da liderança americana e, assim, capacitá-la a mudar o curso do declínio do Império. China não é fiadora, é outro risco Até pouco tempo atrás, as colunas dos principais jornais econômicos do mundo atribuíam à China a extraordinária capacidade de mover para cima e para baixo a economia mundial num momento de fraqueza de demanda. Ao aprofundar-se a crise neste momento, fica evidente o que já se sabia : num sistema aberto como o do comércio mundial, não há vencedores quando todos perdem. A desaceleração chinesa já é fruto da fragilidade das economias capitalistas centrais. E tem mais : a China detém 1/3 dos títulos do Tesouro norte-americano e boa parte (algo como ¼) dos títulos dos países europeus. O questionamento da solvência plena das dívidas antes consideradas "certas" impõe dúvidas sobre a China, que resvalarão no seu próprio desempenho econômico. A China não é, portanto, apenas esperança de demanda, é também um sinal de alerta para o mundo, particularmente o ocidental. Brasil, com os dedos cruzados I No resumo analítico que fizemos acima, cujo objetivo é apenas qualificar nossas visões, vê-se que estamos diante de um processo estruturalmente complexo e que, inevitavelmente, trará consequências para o Brasil. Muito embora sejamos uma economia relativamente fechada, os vasos comunicantes do preço das commodities e das transações entre os mercados financeiros e de capital são suficientes para nos contaminar. Neste sentido, é preciso reconhecer de saída que em 2008 as condições da economia brasileira eram melhores que as atuais para enfrentar uma conjuntura desfavorável. Atualmente, a crise estrutural é mais grave. O Brasil ainda tem números fiscais razoáveis frente a seus pares europeus e os EUA, mas estes são piores que há dois anos. A nossa maior virtude se concentra no excelente nível das reservas, mas estas estão aplicadas em quase 100% em títulos europeus e norte-americanos. Vê-se que a situação não é simples. Brasil, com os dedos cruzados II O maior problema brasileiro é o câmbio. Desde o governo de FHC, passando pelo de Lula e chegando a Dilma, a política cambial carece de cuidados. Não apenas em função da inflação, mas, sobretudo, em função da prometida política de desenvolvimento econômico. A taxa de câmbio é a variável mais sensível para viabilizar (ou não) o desenvolvimento industrial. O que se viu até agora nos últimos dez anos, pelo menos, foi uma total falta de visão estratégica em relação ao tema. Não se discute esta variável para não comprometer o "mercadismo" financeiro e, de outro lado, as forças produtivas internas não se apresentam como viabilizadoras políticas de uma discussão em torno de seus interesses. Afora o fato de que a alta das commodities obscureceu os efeitos estruturais do comércio exterior sobre o processo de desenvolvimento tecnológico e econômico. A conta sempre chega neste campo, estejamos certos disso. Inflação, boas novas (e ruins) A inflação projetada cai. Uma boa notícia quando há dois meses especulava-se que os preços podiam tomar um rumo perigoso. Todavia, dois aspectos têm que ser qualificados para que não sejamos tomados de ânimos que não se sustentam logicamente : a inflação caiu porque a atividade econômica está menor (com o BC puxando os juros) e em razão do câmbio comportado e para baixo (o que força os preços domésticos também para baixo). E tem mais : uma taxa de inflação entre 6% e 7% não é baixa. Ao contrário, agrega mais riscos ao cenário atual. Copom, cheio de opções Escapemos das análises do mercado sobre o tema e vejamos a questão de um ângulo mais estrutural. O BC tem todas as opções a sua disposição em relação à taxa de juros, mas as dúvidas são grandes. Vejamos : (i) a desaceleração da atividade econômica é evidente - e ficará mais evidente à frente - (ii) - os preços podem cair mais, dependendo do comportamento do câmbio (iii) e, o risco externo está aumentando. Seria prudente o BC esperar para agir, pois o cenário é muito incerto e a taxa de juros, convenhamos, um presente dos céus para quem tem recursos aplicados no Brasil... De todo modo, amanhã o Copom deve aplicar mais 0,25% na Selic, para desgosto de certas áreas oficiais. O dito mercado ainda aposta em outro 0,25 até o fim do ano, mas então tudo é incerto. Por tudo isso... Estamos reforçando a nossa visão negativa (desde 9/5/11) em relação ao desempenho econômico mundial e brasileiro, cujos efeitos sobre os mercados são igualmente negativos, muito embora muito difíceis de serem dimensionados. Feliz 2013 Não há muitas dúvidas, a não ser que o BC dê um grito de autonomia, que no momento não está a seu alcance : a meta oficiosa é só levar a inflação para o centro da meta (4,5%) em 2013. 2012 tem eleição municipal, com as consequências já conhecidas, ainda mais que petistas e aliados querem ampliar suas forças com vistas a 2014, e há bombas contratadas como o aumento de cerca de 14%, cerca de 8 pontos reais acima da inflação, para o salário mínimo. E em 2011, além de ainda influenciado pelos ares de otimismo que Lula espalhou antes de sair do governo e está alimentando depois dele, de que o Brasil já entrara na rota do paraíso, há a necessidade de a presidente Dilma de firmar-se sobre suas próprias pernas. Antes disso, ela não pode bater forte na política nem na economia. Política e economia A dúvida de alguns especialistas é simples : a presidente não pode "bater" duro este ano nos fantasmas econômicos - casos do câmbio em que ela precisa se equilibrar entre proteger a indústria brasileira e a ajuda que o dólar desvalorizado dá ao combate à inflação e do próprio juro - por razões de ordem política. Não estaria ela, no entanto, apenas comprando um problema para o ano eleitoral ? Não seria melhor ser dura agora para respirar em 2012 ? Lá como cá Se alguém julga que serve de consolo : parte da queda de braço entre Obama e os adversários republicanos tem, de fato, a ver com princípios ideológicos, com opções de ordem econômica. Parte, porém, como lembrou o economista (democrata) Paulo Krugman, tem a ver com as disputas eleitorais de 2012. Já não se fazem países do lado de cima do equador como antigamente ! Transportes congestionados Destaca-se a oficial e oficiosamente diferença entre as ações da presidente Dilma no caso Palocci, no qual ela demorou 23 dias para livrar-se do bem sucedido consultor de empresas, e o episódio dos ministérios dos Transportes, no qual no mesmo dia da notícia da "farra dos aditivos" ela já mandou para casa três suspeitos e aceitou as "férias" de um terceiro - em dois dias mandou de volta para o senado o próprio ministro Alfredo Nascimento. As razões levantadas pelas vozes que fazem questão de apontar tais diferenças são três : 1. Dilma percebeu que as vacilações na ocorrência Palocci pegou mal para certos setores da sociedade, especialmente a classe média conservadora.2. Aproveitou para livrar-se de um grupo que nunca foi o dela.3. Aaproveitou também a situação para firmar sua própria liderança, à revelia do próprio padrinho e de aliados. Não seria bem assim Os adversários das interpretações acima e aqui não se trata da oposição, pois esta... contestam com outros argumentos : 1. Palocci era do PT, a turma em desgraça nos Transportes era (e é) de outra freguesia. Se fosse um petista no lugar de Nascimento e troupe Costa Neto, haveria a mesma eficiência ? 2. A escolha de Paulo Sérgio Passos para o lugar de Nascimento, também como (ainda que formalmente) como homem do PR, mostra os limites do tal grito de independência política. 3. A demora de fazer uma profilaxia total no ministério dos Transportes, com Luis Antonio Pagot e todo o DNIT, incluindo um petista gaúcho citado por Pagot como um homem muito poderoso no departamento, sinaliza dificuldades e necessidade de muitas negociações. Efeito colateral Quando Dilma age, como está agindo no ministério dos Transportes, para efeito externo (opinião pública) e como efeito demonstração (público interno), afastando ou demitindo à primeira denúncia, ela, ao mesmo tempo, está criando um ambiente de insegurança em muita áreas sob seu comando e incentivando o velho e corrosivo fogo amigo. "Publicou, caiu. Então, vamos soltar as labaredas" pode ser o novo lema das "pacificadas e unidas" forças governistas. Otelo Como escreviam os colunistas de outros tempos, "causou espécie" nas áreas a quem se julga de direito, os elogios que a presidente Dilma fez ao ex-presidente FHC e ao governo dele, em carta pela celebração dos 80 anos do tucano. Não foi por outra razão que a presidente, que andava avara em referências ao patrono, numa semana fez três citações ao ex-presidente Lula. E ainda falou em "herança bendita" em pleno desenvolvimento da crise do ministério dos Transportes, mandada e comandada por gente e acordos recebidos do passado. Não foi à toa ainda que o ex-presidente petista insurgiu-se novamente - seu tema recorrente - contra a imprensa em evento oficioso (tal o patrocínio estatal) da UNE em Goiás, entre outras coisas, por tentar "intrigar" criador de criatura. Quem tem paredes com bons ouvidos em São Paulo e em Brasília sabe o que se passa no mundo real. E sabe, de lado a lado, de onde sopram as "intrigas". Apelidos delicados No meio das ferrovias, havia um Juquinha incômodo, mandado definitivamente pelo desvio em que o PR foi metido (temporariamente ou para sempre ?) No caminho dos armazéns nos quais o governo fez estoques alimentícios, há um Juca (com acento no "a" muito familiar) da cota do maior, e no momento mais estridentemente silencioso, partido da base aliada. O perigoso terreno da galhofa Ridículo é pouco para classificar certos gestos e atos públicos destinados transmitir para o distinto público sinais de que nas hostes políticas oficiais os aliados vivem na maior harmonia. Como, por exemplo, o bolo de noiva (Dilma e Temer nos papéis principais) cortado entre o PMDB e o PT; e os coquetéis e jantares agora oferecidos pela presidente, antes avessa a esse tipo de coisa, aos políticos aliados, nos quais, ao modo dos call centers, ela diz aos neoamigos, "vocês são muito importantes para mim". O risco é descambar para a galhofa. Sherlock Holmes A serviço do país não seria o caso de contratar o personagem de Conan Doyle e outras criaturas como Hercule Poirot, de Agatha Christie, numa convenção dos grandes detetives ficcionais da história, para descobrir os rimos da oposição brasileira ? Antes que ela própria vire apenas uma ficção ? Jornalismo em choque e em xeque Ruppert Murdoch, para o jornalismo de respeito, é e sempre foi uma excrescência. Mas que há uma certa dose de hipocrisia, acolá e aqui, em relação às revelações sobre os métodos do Publisher (se assim se pode chamá-lo). Basta ver o teor (se alguns conteúdos assim merecem a classificação) de certas publicações de sucesso e o lixo eletrônico que toma as tardes nacionais e estrangeiras. Além de cair em cima de Murdoch seria com que cada um, publicações, publicadores e público fizéssemos uma passagem pelo confessionário. A propósito, valeria, para jornalistas (e advogados) a leitura de "O jornalista e o assassino", da jornalista norte-americana Janet Malcolm, edição da Cia. das Letras. Radar NA REAL 15/7/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4053 estável alta - REAL 1,5825 estável estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 59.478,00 baixa baixa - S&P 500 1.316,14   estável/baixa baixa - NASDAQ 2.789,80 estável/baixa baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 12 de julho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 160

Uma transamazônica de problemas Embora parcela dos analistas e, obviamente, os empedernidos governistas tenham entendido que Dilma agiu com eficiência nas suspeitas envolvendo o ministério dos Transportes, a interpretação é bondosa em demasia. É fato que não seguiu o padrão "episódio Palocci", mas as vacilações foram - e ainda são as mesmas - uma demonstração de que o governo, sem tutelas, sem temores e sem titubeios ainda não foi ainda inaugurado pra valer. O simples fato de a presidente ter "prestigiado" inicialmente o ministro Alfredo Nascimento, entregando a ele a investigação das supostas irregularidades, para depois forçá-lo a se demitir e, em seguida, convidar outro condestável do partido (PR) para o cargo e considerar ainda o ministério dos Transportes um feudo dos comandados de Valdemar da Costa Neto já diz sobre o grau de amarras que cercam S. Exa.. Asfalto movediço Tem mais a demonstrar os grilhões do governo : 1. Luiz Antonio Pagot foi dado como demitido, amuou e então foi aceito como estando de férias. 2. O movimento para barrar uma possível CPI do DNIT que uma oposição combalida ameaça, sem nenhuma chance, convocar. 3. A preocupação com a reação do PR. O que ele fez, fazia e agora vai fazer Na estrutura dos ministérios, o secretário executivo é apontado como vice-ministro, o homem que toca o expediente, substitui o titular e coisas assim. No ministério dos Transportes, Paulo Sergio Passos exerce esta função desde a era de Lula. Já foi até ministro interino, quando o agora ex-Alfredo Nascimento saiu para concorrer ao Senado e depois ao governo do Amazonas. Guardou o lugar do titular. No caso levantado pela "Veja" o que viu Passos ? Ou não viu ? Ou fingiu-se de técnico apenas ? Ou contou tudo para alguém e viu o circo explodir ? Quais dessas credenciais fizeram de Passos o novo ministro, como o Palácio do Planalto anunciou ontem à noite. Curvas traiçoeiras Pelas primeiras indicações, a crise foi jogada temporariamente para debaixo do tapete. É uma tentativa de acomodação política. Pelo ambiente do mundo de fora, Dilma precisa dar um murro geral na mesa. O Congresso e os partidos estão abarrotados de escaninhos e curvas traiçoeiras. Esta semana vota-se a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Com armadilhas para pegar onça pintada. E ele, o que é ? Pouca gente, pelo menos quem não é do "ramo", conseguiu entender ainda o papel do secretário geral da presidência da República, Gilberto Carvalho, no governo Dilma. Ele está em todas (ou quase todas) as exposições para a mídia, ao contrário do discreto e eficiente mineiro Luiz Dulci no posto palaciano com Lula. Foi de Carvalho a solução (temporária) das férias de Pagot, depois de o Planalto ter saído com a notícia da demissão imediata do homem do DNIT. Disseram a jornalistas que Dilma teria ficado irritada com o auxiliar direto por isso. Mas ficou irritada apenas neste caso ? O silêncio dos inocentes - O retorno Ativos no episódio Palocci, um muito diretamente, o outro mais nos bastidores, o presidente de honra do PT e ex-presidente da República, Lula da Silva, e o presidente licenciado do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, guardaram obsequiosa e silenciosa distância do asfalto selvagem do ministério dos Transportes. Afinal, o negócio Palocci, embora atingisse indiretamente o governo, era mais uma questão pessoal. Já rodovias, ferrovias e tais... Em tempo : o PMDB, na fase de formação do governo Dilma, teve entre seus ministérios mais cobiçados o dos Transportes. A foice está solta Na esfera oficial o jogo já está feito para 2014 : como na loteria zoológica inventada pelo Barão de Drummond, "na cabeça vai dar", fora imprevistos pouco prováveis, Dilma ou Lula. Não necessariamente nessa ordem de preferência. As caneladas ficam por conta do segundo lugar, já em plena disputa, despontado na frente o atual donatário, o PMDB e, em segundo, o PSB. Por essas e outras é que, tirando o lado da tragédia familiar e pessoal pela qual ele passou recentemente, ninguém nesse mundo está se comovendo com as agruras do governador Sérgio Cabral, do Rio, amigo e cópia carbono mal tirada do ex-presidente Lula. Solidariedade política ele não está tendo nem de seu partido. Vale o oposto também. Uma falsa calmaria Quem olha o PMDB só pela superfície, vê hoje quase "um manso lago azul sem ondas nem espuma". Nada mais falso - o que talvez explique o retraimento de alguns de seus caciques, temporariamente aposentados da mídia. Ou a nova postura de Sarney a cobrar explicações de quem aparece no governo encalacrado, como fez na semana passada com Alfredo Nascimento, o oposto do que havia feito com Palocci semanas atrás. A razão é que ganham corpo e consistência duas dissidências dentro das bancadas do partido na Câmara e no Senado, não apenas contra os pajés que tudo podem e tudo levam, mas em defesa de uma nova imagem para a legenda. No Senado, oito senadores "independentes" já vão longe nas discussões de que posições devem tomar, sem radical oposicionismo ao governo. Na Câmara o movimento é mais incipiente, mas já ocorreram reuniões de debates com a presença de cerca de 20 deputados. É a política O julgamento do "mensalão", que começou a entrar nos "finalmentes", tem aspectos político-institucionais infinitamente mais relevantes que todos os aspectos técnico-jurídicos que engloba : o seu resultado vai definir o país democrático, republicano que queremos ter. O Supremo, com muitos de seus titulares agraciados mais ao gosto político-partidário-emocional do que jurídico, terá de mostrar, coletiva e individualmente, qual sua real dimensão como Corte Suprema. A calmaria é real A oposição está parecendo a seleção do Mano Menezes : não é uma equipe, não tem conjunto, não tem plano de jogo e é incapaz de transformar em fatos e ações (gols) de interesse nacional as oportunidades que os adversários (os governistas) lhes entregam gratuitamente. Dão sempre um drible a mais ou tentam as surradas soluções que não levam a nada. Propaganda enganosa Chega ao limite do deboche, para dizer o "menos pior", a propaganda que algumas ditas (mas não provadas) instituições de ensino fizeram publicar nos últimos dias celebrando o desempenho de seus alunos no último exame da OAB. É caso, isto sim, para luto fechado da sociedade e da comunidade jurídica nacional e para uma ação sumária, cirúrgica das autoridades. Mas o MEC, entenda-se, é uma entidade política... É a economia O governo Dilma está na berlinda, desde o seu começo - já lá se vão mais de seis meses- por razões de política e adjacências. É o acerto partidário nunca concluso, é a cobrança no Congresso, é o caso Palocci, é o caso Mercadante-aloprados, é o caso do ministério dos Transportes, são as idiossincrasias dos aliados, os amuos dos que se acham donatários e ministérios e cargos, e outras historinhas menos votadas. Mas no horizonte real, para cidadãos e agentes econômicos empresariais e particulares, é um crescente incômodo econômico, com ameaça de inflação, juros em alta, crédito limitado, câmbio escorregadio e crescimento da concorrência externa que vão trazendo uma inquietação crescente fora do mundo da política. Por razões que vão do otimismo exacerbado de alguns auxiliares de Dilma às atitudes boquirrotas de outros, passando por desentendimentos conceituais entre os setores oficiais, deixam a impressão da falta de uma política econômica orgânica e de longo prazo e de pesadas doses de improvisação e remendos. Não pode um ministro dizer que está assustado com o câmbio, por exemplo ! A fila anda Os mercados comemoraram na semana passada a "salvação" da Grécia depois da liberação de novos recursos da União Européia em função da aprovação de mais um pacote de austeridade. Não se passaram dois ou três pregões para que os especuladores de mercado mirassem no pequeno Portugal e na Itália. Discute-se em relação a ambos os países a possibilidade de seus créditos serem insuportáveis no que tange à solvência. As agências de ratings, apesar de muito questionadas durante a crise norte-americana de 2008, voltaram a prestar seus serviços e a opinar sobre a dívida alheia em plena erupção do magma especulativo. Soa no mínimo estranho... Sem solução no curto prazo Uma coisa é certa : a Europa ainda vai viver durante um bom tempo sob forte escrutínio do tal do mercado. A Grécia irá, de alguma forma, reescalonar (ou reestruturar) a sua dívida. Poucos cálculos aritméticos são necessários para se verificar que o país não terá condições de honrar seus compromissos, apesar de já ter jogado quase 25% de sua população economicamente ativa no desemprego. Portugal e Espanha dependerão da "boa vontade" do mercado, coisa que não existe na prática. Irlanda está quebrada também. Até mesmo a França tem lá suas imbricações entre o sistema financeiro e seu setor produtivo, uma fonte constante de problemas para a higidez do sistema financeiro. Muitas análises ainda trazem estimativas/avaliações sobre as possibilidades de Grécia, Portugal, Espanha e cia. voltarem a ter paz para obter crédito. Tais avaliações não passam de uma cortina de fumaça sobre a realidade. Tudo com anuência da Alemanha, a sócia rica da UE e eterna fonte de problemas para a efetivação de uma política econômica consolidada no Velho Continente. Os alemães, quando o assunto é economia, se comportam como uma raça superior. Infelizmente. A tensão vai continuar. Obama pede, os republicanos respondem Enquanto Obama pavimenta seu caminho para disputar a reeleição, também pede que os republicanos que aceitem aumentos de impostos para minimizar os efeitos do gigantesco déficit fiscal utilizado para salvar o país do colapso de seu sistema financeiro. A resposta republicana vem em doses pouco homeopáticas : aponta o corte para os programas de universalização da saúde e da previdência. Algo duro para os democratas. A possibilidade mais efetiva é que tudo fique "no meio do caminho", nem muito ao déficit e nem muito aos impostos. O que significa que a dívida pública do país vai continuar gravitando acima de seu PIB, algo como US$ 14 trilhões. Neste ambiente, a coisa mais provável de ocorrer é o pessimismo continuar em alta no país. Mais emissões de ações Três empresas de grande porte brasileiras preparam o lançamento de suas ações nos EUA. Apesar de todo o pessimismo reinante no mercado internacional. A conferir. Radar NA REAL 8/7/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4016 alta alta - REAL 1,5810 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 61.513,26 baixa estável/alta - S&P 500 1.343,80 estável/baixa alta - NASDAQ 2.859,81 estável/baixa alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ________________
terça-feira, 5 de julho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 159

Dilma, confiança em concordata Dilma, antes de subir a rampa do Planalto, cultivou uma imagem de uma gestora dura, inflexível, que sabia que o que queria fazer e fazia - alguém um tanto impaciente e agressiva. Mineiramente, pão de queijo com tempero gaúcho. Os "estrategistas de marketing" que transitam em torno do poder, oficialmente e oferecidamente, fizeram de tudo para lapidar ainda mais esta percepção. Dilma não cedia, não concedia, não nomeava, não soltava verbas. Esse jogo chegou a criar até certa ciumeira no imenso território que gravita em torno do presidente Lula. É fato que nomear para o ministério do Turismo, para ficar apenas nesse exemplo, o obscuro - e bota obscuro nisso - deputado Pedro Novais, contrariava tais efeitos publicitários. Mas versão era versão e assim foi-se indo. Dilma dixit. Credibilidade em queda De repente, depois de alguns meses, com as dificuldades naturais do ato de governo e do modo de ser da política brasileira, as fissuras na pedreira de certezas e decisões cirúrgicas começaram a aparecer. Vacilações e mudanças bruscas de posição vieram a tornar a dama de ferro num poço de contradições. Muda de opinião, recua. Corrigir a rota é uma virtude, desde que sustentada em fatos. A coerência absoluta é uma burrice. Mudar ao sabor dos ventos é insegurança, vacilação. E solapa a confiança, a credibilidade. Dilma vive este delicado momento, na abertura do segundo semestre do governo, em meio a tantas mudanças de opinião e de posições, sem argumentos que justifiquem tais idas e vindas. Contradições e mais contradições Já foi a favor, já foi contra e depois ficou de novo a favor do sigilo eterno dos documentos oficiais classificados como ultrassecretos. Defendeu o sigilo no valor inicial das obras ligadas à Copa do Mundo e à Olimpíada e depois ficou nem tanto assim. Sobre os pontos mais polêmicos do Código Florestal classificou-os como inaceitáveis. Na sua mais grave concessão, a presidente, na semana passada, depois de avisar que não prorrogaria mais a anulação dos restos a pagar do Orçamento de 2009, no que tinha o irrestrito aval do ministro da Fazenda, deu mais um prazo para as verbas serem liberadas. A presidente argumentava que não podia passar para a opinião pública que estava fazendo concessões em suas políticas de austeridade fiscal, cuja base é um corte de R$ 50 bi no orçamento deste ano aprovada pelo Congresso. Falaram mais alto as pressões dos deputados e senadores. Trégua para se recompor A consequência é que a crista dos parlamentares e partidos aliados vai crescer e os agentes econômicos e privados vão ficar com a confiança no governo em concordata. Temos pela frente, depois do dia 15, duas semanas de recesso parlamentar nos quais o Planalto terá certa tranquilidade para tentar recompor suas forças. O risco que Dilma corre é passar por uma "sarneyzação" precoce de seu governo. Ela precisa de um gesto de força real, não apenas peças de marketing. Mas isso só será possível se os parceiros colaborarem. Especialmente os dois principais, PMDB e PT. Mais um caso de desvios Agora, é a vez do ministério dos Transportes trazer suplícios para a presidente. Nada surpreendente numa área tão "delicada" em matéria de verbas, licitações, aquelas coisas que fazem a delícia de certo mundo político-empresarial. Lula teve ali um dos seus calvários, com o ex-ministro Anderson Adauto. Não devemos nos esquecer que a nomeação, ainda por Lula, de Luiz Antônio Pagot, reconduzido ao cargo por Dilma, para o DNIT, foi complicadíssima no Senado. Fazer de ministérios "feudos dos partidos" é sempre comprar um bilhete de loteria que pode dar errado. Há pouco mais de dois meses o governador do Ceará Cid Gomes fez publicamente graves insinuações contra o ministro Alfredo Nascimento. É certo que Cid, como seu irmão Ciro, tem a língua perigosamente solta... A disputa pelo ministério dos Transportes no governo Dilma envolveu dois políticos com poder no Amazonas : o próprio Alfredo e o ex-governador e atual senador Eduardo Braga. Braga ficou no Senado com um tonel de mágoa guardado. São casos de natureza diferente os de Palocci, de Mercadante e agora o do ministério dos Transportes. Mas três confusões pesadas em seis meses de governo, sem contar "coisas menores" - os livros do ministério da Educação, as mumunhas da Copa, as pendências do ministério do Turismo para o Maranhão - desarranjos demais para qualquer governo... Itamar, um político decente Itamar Franco era um político complicado, meio ranzinza. Fazia jus a uma definição dele feita pelo ex-presidente Tancredo Neves, num misto de ironia e maldade : "O Itamar é capaz de guardar ódio no freezer". Tancredo foi um dos muitos políticos que tiveram com o ex-presidente da República, ex-governador de MG, ex-prefeito de Juiz de Fora e ex-senador uma relação conflituosa, mas, ao mesmo tempo, afetiva e respeitosa. E com razão, apesar de suas idiossincrasias, de suas teimosias, foi um político dedicado, digno como poucos e que deixou sua marca na vida legislativa e administrativa brasileira. Era capaz de concessões quando convencido - Dilma deveria aprender com ele. Sem bravatas, sem dizer "não faço" para depois fazer sem honra. Seu melhor momento, o Plano Real, é um exemplo. Até o último momento, Itamar tinha dúvidas sobre o programa elaborado por uma equipe de economistas comandados pelo então ministro da Fazenda, FHC. Tinha algumas ideias próprias, como um novo congelamento de preços, que a turma do Real, com base nos fracassos anteriores desde o Plano Cruzado, considerava desastrosa. Mesmo "contrariado" em alguns pontos, abraçou o Real e foi um dos responsáveis por seu sucesso. Dói no coração ver algumas pessoas aparentemente compungidas presentes às homenagens ao ex-presidente. Se ao menos aprendessem um pouco com o seu exemplo... De bravatas e constrangimentos Três episódios recentes mostraram ao PT e a Lula o custo das das bravatas do passado e do presente : 1. Lula nem o PT puderam fugir do constrangimento de não prestarem uma pequena homenagem que fosse ao ex-presidente FHC por seu seus 80 anos. Os mesmos que se confraternizam com Sarney e Collor foram constrangidos ao silêncio a respeito de um político que, além de seu legado na Presidência, esteve muito próximo de Lula nos delicados tempos das greves do ABC paulista. Livrou-os a nota menos que protocolar da presidente Dilma. 2. O mesmo quadro se repetiu na morte do ex-ministro da Educação, Paulo Renato, introdutor na área pública dos princípios de avaliação e desempenho. Lula e o PT ficaram silenciosos. Amenizou outra nota de Dilma e a presença do ministro Fernando Haddad no velório. 3. Por fim, a morte do ex-presidente Itamar Franco. Na fila lá estava Lula, ao lado de Sarney e Collor nas homenagens ao senador na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Menos mal. Mas poucos esquecem o que o PT e Lula fizeram com Itamar, de puro olho nas eleições e no poder : (a) se recusaram a participar do governo de união nacional proposto por Itamar naquele momento de crise e até expulsaram Erundina do partido porque ela aceitou o ministério da Administração do então novo governo; (b) votaram contra o Plano Real; (c) combateram com tenacidade a mudança da moeda, a ponto de Lula apostar no seu fracasso, sob orientação de Aloizio Mercadante, na campanha eleitoral de 1994. Nada como o dia seguinte para uma boa penitência. BNDES, a serviço de quem ? A criação do BNDES, fundado no segundo governo Vargas em 1952, é símbolo da crença do país nas suas possibilidades de industrialização. Seria propulsor de crédito para criação e desenvolvimento de setores econômicos, sobretudo os nascentes e essenciais para o país. O BNDES atenderia aos interesses verdadeiramente republicanos no que tange ao desenvolvimento econômico brasileiro. Não foram poucas as fases em que o banco virou um "balcão de negócios" a serviço de transações pautadas na ausência de transparência e em interesses mesquinhos de empresários. Todavia, sua filosofia sempre foi a referência para que não se caísse na mesquinhez desprovida de uma visão verdadeiramente nacional. Conforme consta de sua apresentação "(...) o BNDES reforça o compromisso histórico com o desenvolvimento de toda a sociedade brasileira, em alinhamento com os desafios mais urgentes da dinâmica social e econômica contemporânea." (Grifo nosso). BNDES, a serviço de quem ? Diz ainda a apresentação do Banco que "o BNDES investe em empreendimentos de organizações e pessoas físicas segundo critérios que priorizam o desenvolvimento com inclusão social, criação de emprego e renda e geração de divisas". O BNDES não é obviamente uma ilha em meio à administração pública. Obedece aos programas e aos interesses do governo de plantão. É o que ocorre com a atual gestão. Note-se que está inserido num contexto no qual não existe de fato nenhuma política consistente que faça o país superar a sua condição eterna de emergente. A taxa de câmbio se valoriza por força de uma política monetária sem nenhuma evolução relevante nos últimos anos - temos a maior taxa de juros do mundo -, não há agregação de tecnologia suficiente nos produtos industriais, não há nenhuma mudança crucial no campo do desenvolvimento, o déficit externo se acumula numa velocidade impressionante... e assim vai. Uma olhadinha nas políticas da China e da Índia dão a noção exata de que estamos ficando para trás. E daí ? Perguntamos ao governo e ao BNDES. BNDES, a serviço de quem ? O anúncio da possibilidade de o BNDES apoiar a fusão do Pão de Açúcar e o Carrefour chega a ser um atentado ao bom senso, não fosse um bofetão no conceito de interesse público. O governo, por meio de sua instituição mais importante e poderosa no que tange ao desenvolvimento nacional, apóia uma fusão que concentra o mercado varejista nas principais áreas econômicas do país, que agrega valor aos acionistas em detrimento da renda do cidadão, que não agrega nada em termos de competitividade externa, que não favorece as classes mais pobres da nação... e assim vai. Enfim, uma operação que apenas serve aos poderosos acionistas de ambas as empresas. De um lado, um empresário desejoso de "emparedar" o seu atual sócio francês, o Casino, e de outro uma empresa com sérios problemas societários na França e no mundo. É disso que se trata e nada mais. O resto fica por conta de análises tendenciosas e maliciosas que pretendem dar credibilidade a esta operação. Assim sendo... O caso Pão de Açúcar/Carrefour/Casino, resulte no que venha a resultar exige providências com urgência urgentíssima : 1. Reavaliar, reestudar a política do BNDES, que, no fundo, é a nova política de capitalismo estatal brasileiro. O banco de investimento já produz carne, já vende celular, já está nos plásticos. 2. Revisar toda a política brasileira de concorrência e o papel de órgãos com o CADE, a SAE e a SDE. Há um projeto sobre isto tramitando no Congresso que, além de estar andando no "ritmo do Congresso", é considerado insatisfatório em alguns pontos e, até mesmo, perigoso pelos especialistas. 3. Tornar o consumidor, o cidadão, o verdadeiro foco as políticas públicas nacionais. Por fim, não nos esqueçamos que é o dinheiro do distinto trabalhador que está a financiar este capitalismo duvidoso. Grécia : a tragédia continua O governo grego, carente de apoio popular, mas ainda sólido no parlamento, adicionou mais aperto fiscal para sancionar as requisições da União Europeia e receber US$ 12 bi que permitem a solvência no curto prazo. Os mercados reagiram com euforia e os ganhos foram generalizados, não apenas na Europa, mas em todas as áreas geoeconômicas relevantes. Pois bem : a possibilidade do país superar a sua crise de endividamento permanece distante. Não há uma luta a ser travada pelos gregos, quase sempre vitoriosos em sua bela história. O que há é uma impossibilidade lógica, daquelas que os grandes pensadores helênicos logo saberiam. Sem a alternativa de desvalorizar a moeda e com a atividade econômica despencando não há como obter uma taxa de produtividade que permita consistência na solvência externa. A Grécia pagará o preço de seus erros, mas é o escudo que protege os outros países endividados da Europa, sabidamente a Espanha, Portugal, Irlanda e Itália. O custo pode ir além de uma década perdida... Visão de mercado Lá no hemisfério norte a tigrada do mercado está preparando as malas para curtir as suas férias. Mar, sol e, quem sabe, alguma tranquilidade farão parte do itinerário. Todavia, não tenhamos ilusões. Apesar de toda euforia da semana passada, o ambiente externo permanece turvo, os lucros das empresas estão cadentes e o desemprego campeia a maioria dos mercados relevantes. Os riscos cresceram nos últimos meses e os governos parecem paralisados. Os EUA, com seu PIB que equivale a ¼ da economia mundial, estão agindo como anões perdidos na multidão. Há sinais de estagnação e os riscos estruturais, do lado fiscal e monetário permanecem elevados. E o pior, a política não tem saída para nada disso... Permanecemos recomendando aos nossos leitores redução das suas posições de risco, sobretudo no mercado acionário local e externo. Radar NA REAL 1/7/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4502 alta alta - REAL 1,5560 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 63.394,30 baixa estável/alta - S&P 500 1.339,67 estável/baixa alta - NASDAQ 2.816,03 estável/baixa alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 28 de junho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 158

Copa para o povo, banquete para poucos ? O sigilo dos orçamentos das obras e serviços da Copa do Mundo e da Olimpíada no Rio, que o governo diz que "não é bem assim", não é a única janela escancarada à bandalheira contida na MP 527, já aprovada em suas regras gerais na Câmara, mas ainda dependendo da votação de destaques pelos deputados e depois de apreciação pelo Senado. Ele é apenas o mais escancaradamente visível no Regime de Contratação Diferenciado. Diz o governo que o artigo sobre a licitação sem preço-base anunciado previamente é o melhor método e que houve interpretações equivocadas como classificaram as críticas à presidente Dilma. Além dos políticos do PMDB que se renderam ao argumento vindo do Palácio do Planalto, há especialistas, principalmente em obras civis, que endossam a tese. Dizem que reduz a possibilidade de corrupção. Então... Sendo assim, falta responder a algumas questões para convencer os leigos : 1. Por que foi incluído na MP, na última hora, no dia da votação, pelo relator José Nobre (PT/CE) e não constou desde o início do relatório ? 2. Por que a mudança na lei de licitação não foi proposta há mais tempo ? 3. Por que adotar a norma somente para a Copa e a Olimpíada e não estendê-la para tudo a partir de agora ? Bodes mal cheirosos No RDC para a Copa e Olimpíada, na realidade o sigilo pode ser apenas o bode na sala, para deixar, ao largo das críticas, outros itens do projeto multiplicadores de licenças para jogadas nada ludopédicas : 1. Quem faz o projeto pode também tocar a obra. 2. Foram beneficiadas com as facilidades as capitais situadas a até 350 Km de uma cidade-sede o que deixará quase todas as capitais estaduais no perímetro das vantagens. 3. Mesmo obras não diretamente ligadas ao evento esportivo (mobilidade urbana, aeroportos, por exemplo) podem entrar no rateio, desde que a União, os Estados e municípios baixem uma resolução nesse sentido. Pode entrar uma estrada, um hospital e sabe-se lá o que, no limite, até o famoso trem bala. 4. Não há limite para elevação dos custos dos projetos, basta a FIFA ou o Comitê Olímpico mostrarem a necessidade de adaptação do que foi licitado. 5. O Comitê Olímpico e a FIFA estão isentas do pagamento do ISS (imposto municipal) nos serviços que utilizarem no Brasil. Dois exímios pipoqueiros No jargão do futebol, agora não tanto em voga quanto esteve nos tempos de Lula, diz-se que um jogador é pipoqueiro quando ele não faz esforço para chegar numa bola que deve dividir com um zagueiro mais virulento - finge que corre, mas não corre. Nesta questão do jogo inaugural da Copa de 2014, a FIFA de Joseph Blatter e a CBF de Ricardo Teixeira estão se revelando dois grandes pipoqueiros. Fingem que querem a abertura do mundial em São Paulo, porém jogam com má vontade nada discreta porque, para puxar o saco do governo Federal querem mesmo que o jogo vá para Brasília. 2014 é ano de eleição presidencial, tem reeleição ou a luta por um terceiro mandato, que daria para faturar nas urnas, sem ter de dividir a festa inaugural com os tucanos paulistas. Por esse ângulo, entende-se também porque tantas facilidades para evitar um vexame logístico em 2014. Apagão olímpico Nada tão exemplar que os apagões elétricos do "Engenhão". Já somam cinco os jogos de futebol interrompidos pela falta de energia elétrica - o último neste último fim de semana. Ali, no Estádio João Havelange, ex-sogro do eterno presidente da CBF Ricardo Teixeira, projeta-se para todos os olhos a incompetência em relação às obras voltadas para os eventos esportivos : foi ali que se realizaram boa parte dos Jogos Panamericanos em 2007. O outro sigilo Pelo menos um outro sigilo - os dos documentos oficiais secretos - vai cair. O PMDB de José Sarney e o ex-presidente Fernando Collor de Mello não seguram sozinhos a bomba do Senado depois que a presidente Dilma, pressionada pela opinião pública e pelo PT, desdisse o que havia desdito. Encerra-se o trimestre Este trimestre do ano está a fechar-se com evidentes sinais de estagnação na economia dos países centrais. Semana passada os EUA divulgaram os gastos dos consumidores e o resultado foi sofrível, mesmo para os produtos de primeira necessidade. Na Europa, a crise da Grécia, Irlanda e Portugal impõe restrições ao crédito em todo o Velho Mundo. A Espanha está igualmente quebrada e a Itália super endividada. No Japão, os efeitos da tragédia de dois meses atrás ainda impõe ao governo medidas para restabelecer o status quo anterior da produção. Até mesmo na China, os sinais são de queda da atividade econômica que gravita ao redor de 8% neste ano (10% no ano passado). O segundo semestre do ano, depois das férias no hemisfério norte, definirá se estamos entrando num novo ciclo negativo para economia mundial. Até lá, mercados "andando de lado". Como os caranguejos. A Grécia e as velhas "leis de mercado" Sabe-se que os germânicos e seus atuais parceiros europeus (Inglaterra e França, sobretudo) estão interessadíssimos que a pequena Grécia não dê um calote no tal do mercado. Os bancos alemães possuem muitos ativos espanhóis e não querem reconhecer os prováveis prejuízos que virão caso a Grécia busque uma saída para a sua própria tragédia. Ora, se há uma saída legítima, esta seria impor prejuízos aos investidores que investiram mal o seu dinheiro, incluindo os acionistas dos bancos. Como ocorreu nos EUA. Enquanto isso, parcelas substanciais da juventude grega, portuguesa, irlandesa e espanhola "bancam" um desemprego ao redor de 35%. O capitalismo atual do FMI e do Banco Europeu continua com as velhas práticas que fizeram vigorar a "década perdida" dos anos 80 na América Latina. Agora chegou a vez dos europeus. Por que não uma saída verdadeiramente de mercado ? Brasil, sem estratégia Os impactos modestos da crise externa sobre o Brasil escondem os sérios problemas do país em meio à crise externa. A valorização cambial é "compensada" pelos bons preços das commodities, mas o volume global do comércio externo (exportações+importações) indica que há pouca agregação de tecnologia na produção industrial brasileira como ocorre com a China. Ora, este processo torna a economia local estruturalmente pouco competitiva. Não há, do lado político, nenhuma sensibilização em torno do tema. Afinal, o desemprego é baixo. Todavia, a conta virá no médio prazo e, nesta ocasião, virá um maior desemprego e maior inflação, caso o câmbio se desvalorize. A propósito do tema... Vejamos esta declaração de Luciano Coutinho ao jornal Valor Econômico na última sexta-feira : Valor : O que o governo pretende fazer com a nova política (industrial) ? Coutinho : O que estamos fazendo é buscar reforçar a competitividade da indústria através de uma série de medidas. Valor : Que medidas ? Coutinho : Infelizmente, não posso adiantar porque estamos ainda (grifo nosso) numa agenda de discussão. O problema de competitividade do Brasil já perdura por mais de seis anos e a agenda persiste em discussão. Todas as medidas de crédito tomadas há seis meses não produziram essencialmente nenhuma alteração de rota no que tange ao problema externo brasileiro. Parcerias privadas Em conversa com esta coluna, um dirigente de empresa muito interessado em participar de concessões de serviços públicos mostrou-se bem mais otimista que há seis meses com a visão do governo sobre o tema. "Eles (governo) perderam a arrogância e estão começando a conversar mais abertamente sobre novas concessões. Acho que vem mesmo uma onda de novas concessões a partir do segundo semestre. A incompetência estatal ficou às claras...", vaticinou o dirigente. A conferir. Lei das terras Mais uma do capitalismo estatal brasileiro : o governo quer ser sócio dos estrangeiros que compraram terras aqui, por meio de uma golden share. Para um país que não precisa de investimentos... O perigo amarelo Nem contando chinesinhos durante a noite toda, boa parte dos empresários consegue dormir tranquilamente - aliás, esse exercício costuma mesmo é aumentar a insônia crônica dos produtores nacionais. Não é para menos, enquanto pelo menos o Brasil continuar jogando para trás em matéria de (des)incentivo à competição com o mundo afora. Historinha exemplar contada por Eduardo Neger, presidente da Associação das Empresas da Area de Internet, e da Neger Tecnologia e Sistemas : a empresa utiliza no seu equipamento para amplificação dos sinais de celulares uma placa fabricada na China. Ela manda o projeto da placa para o fabricante chinês pela internet e recebe o produto pronto três dias depois, por um serviço de postagem rápida. E pagando todos os impostos, tem uma placa de alta qualidade cerca de 50% menos do que pagaria se fizesse a encomenda aqui no Brasil. Vitória lulista Justiça seja feita : Lula sabe usar a sua imagem internacional com competência. A vitória de José Graziano para a direção da FAO (sigla em inglês para Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) foi espetacular. Graziano disse que "quem tem fome, tem pressa", ao se referir à necessidade de recursos (algo como US$ 50 bi por ano) para alavancar a produção de alimentos no mundo. Soa como lema de campanha, mas funcionou nos ouvidos dos representantes dos países em desenvolvimento e pobres que votaram em massa em Graziano. Agora, resta a Graziano estabelecer o diálogo necessário com os países desenvolvidos para reformar a FAO e fazê-la um organismo efetivo. Até lá nada de muitas taças de vinho nos bons restaurantes de Roma, a Cidade Eterna que sedia a FAO... Uma ameaça a menos Sempre é bom esperar para comemorar, contudo, tudo indica que o acerto para a votação do regulamento da Emenda 29 (aumento da aplicação orçamentário de recursos para a saúde) eliminou o renascimento da CPMF, com o nome fantasia da Contribuição Social para a Saúde (CSS). Se o Ministério da Fazenda deixar. Uma ameaça a mais No entanto, está no forno oficial a criação de um novo imposto sobre a exploração de recursos minerais no país. Incompatibilidade de gênios Se o cabriolé da reforma tributária continuar a ser conduzido do ritmo de Brasília, em pouco tempo não devem ser convidados para o mesmo pé de moleque junino os governadores do Norte e Nordeste e os do Sul e Sudeste e os negociadores do governo. Em entrevista semana passada (leitura obrigatória) ao jornal "Valor Econômico", o governador de Sergipe, Marcelo Déda, deu o tom da insatisfação geral avisando que ele e seus colegas não estão para discutir apenas mudanças no ICMS. Fora do ritmo O mesmo governador Déda indicou que não devem aparecer no mesmo forró alguns grupos de petistas, especialmente os forrozeiros paulistas. Em berço esplêndido Enquanto isso, a oposição dormita. Não sabe da reforma tributária, deixou para Sarney os primeiros (depois abafados) gritos contra o sigilo da Copa... Continua acreditando que explorar escândalos basta. E por falar em escândalos... Por que será que a oposição não prossegue as investigações sobre a fortuna amealhada por Palocci, o episódio de venda do Banco Panamericano, as nomeações governamentais e outros tantos escândalos que levaram à tribuna os próceres oposicionistas ? De olho na reforma do BC Ao que parece o BC está fazendo uma reforma que tem chance de aumentar a sua eficiência por meio da eliminação de funções intermediárias que reduzem a sua agilidade em termos de supervisão e fiscalização. Eis aí um bom princípio para reformar o Estado. Da mesma forma, seria um tema a ser analisado pela classe política que tanto critica o BC quando o assunto é a política monetária. Poderiam os políticos prestar um serviço verdadeiramente republicano e verificar se estas alterações favorecem de fato o cidadão que lá na ponta paga extorsivos juros bancários e custos de serviços que nem banqueiros internacionais acreditam ser praticados. Radar NA REAL 24/6/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4201 alta alta - REAL 1,6003 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 61.016,70 baixa estável/alta - S&P 500 1.268,45 estável/baixa alta - NASDAQ 2.652,89 estável/baixa alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 21 de junho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 157

Condições externas e o Brasil As razoáveis condições econômicas da economia brasileira escondem da opinião pública a percepção sobre o quanto os riscos externos podem afetar o desempenho doméstico. Na semana passada, esta coluna esteve reunida com economistas e analistas de dois bancos internacionais que recentemente realizaram apresentações para investidores no exterior. Resumidamente eis o conteúdo destas conversas nas notas abaixo. Riscos de crédito Os problemas de crédito da Grécia podem ter um efeito dramático sobre toda a Europa. As condições da Espanha são tão deterioradas quanto da Grécia, mas o seu endividamento afeta muito mais os bancos europeus, em especial os alemães, que necessitariam de novas capitalizações para bancar os ativos de seus balanços. O default grego trará consequências, além de suas fronteiras, muito mais sérias que se imaginava há meses. Riscos de investimento De forma geral, os gestores de recursos estão muito mais restritivos à exposição de riscos. Com isso, estão reduzindo posições em ações e títulos de renda fixa de países emergentes, incluindo o Brasil, a África do Sul e a Rússia. Câmbio Os temores de desvalorizações "competitivas" entre os países voltaram com força. A ausência de competitividade de importantes setores econômicos dos EUA e da Europa não tem condições de competir com a China e a Índia e outros países do sudoeste asiático. Com isso, apenas a desvalorização da moeda pode conter este processo no curto prazo. Resultado : as pressões políticas envolvendo a taxa cambial destes países competitivos vão aumentar e as suas consequências são sempre perigosas, sobretudo no que tange à inflação e ao volume do comércio internacional. Brasil O país deixou de ser o "queridinho" dos investidores. A percepção que está prevalecendo atualmente é que o "Brasil está melhor que o resto". Desta forma, os indicadores de riscos brasileiros, expressos nas cotações de títulos de renda fixa privados e soberanos, sinalizam uma "preferência" e não confiança absoluta no desempenho do país. O baixo crescimento endógeno do país comparativamente à Índia e à China, os riscos políticos e a ausência de reformas não favorecem o momentum dentre os emergentes. Pesa como fator essencialmente positivo a confiança na solvência externa, o que não é pouco. Coalizão, colisão e chanchada Nem boi solitário anda dormindo mais com uma simples conversa, precisa de um calmante. O que quer dizer que uma boiada inteira (no sentido figurado, com todo o respeito), como a bancada governista no Congresso, sempre está pronta para um estouro se o ambiente não agrada. E este é exatamente o pé em que estão os governistas da Câmara e do Senado, mais os primeiros, um pouco mais de uma semana depois da presidente Dilma ter começado a rearranjar seu esquema político. Por razões diferentes, ninguém está feliz. Prazo fatal e curto Dilma ganhou esta semana de graça, em virtude do feriado de Corpus Christi de quinta-feira e do São João de sexta-feira, que deixaram Brasília ao sabor dos ventos. É o prazo para dizer como, na prática, vai atender os desejos de seus aliados, nos pantanosos terrenos das verbas e dos empregos. Prazo curto : até o dia 15 de julho para o dinheiro das emendas e diariamente no "Diário Oficial" com uma velocidade de atendimento digna de um Ayrton Senna. Prazo de aliado Para o bem e para o mal, o PMDB faz absoluta questão de lembrar do "prazo fatal" todos os dias, o governo tem aliados que querem partilhar o poder. E suas benesses e, quem sabe até, algumas agruras. É este o desafio da presidente : conciliar parceiros inconciliáveis e famélicos sem passar a imagem de que se rendeu ao fisiologismo e que não tem como impor seus princípios e normas. O dito "presidencialismo de coalizão" no Brasil pode descambar celeremente para um "presidencialismo de colisão" com grandes pitadas de chanchada. Em loja de louças Depoimento de parlamentares de diferentes partidos : a presidente Dilma precisa urgentemente dar um treinamento para a ministra Ideli Salvatti e colocar nas mãos dela algum poder de decisão antes que ela comece a quebrar todo o estabelecimento político. A impressão das raposas é de que Ideli precisa com rapidez de um bambolê igual aquele com o qual o PMDB presenteou Dilma durante a campanha do ano passado. E que a presidente ainda não aprendeu a usar totalmente. A voz dos oráculos Por contas das arestas que ainda ficaram da crise exposta pela revelação das super consultorias de Palocci, a presidente Dilma pediu uma mão aos chefões oficiosos do PT e do PMDB. Lula, em seu estilo mais teatral, já tratou de dar um puxão de orelhas público nos petistas de São Paulo. Meio esfinge, Temer resvala nos bastidores. A expectativa é que falarão esta semana o "oráculo de São Bernardo" e o "oráculo do Jaburu". Quando voltarem de suas festas juninas, os parlamentares chegarão um pouco mais esquentados pelas queixas dos prefeitos. Incúria oficial O Brasil já sabia desde 2007 que seria sede da Copa do Mundo de 2014. Aliás, as autoridades esportivas e os governos - Federal, estadual e municipal - esforçaram-se como poucas vezes fazem para que o evento da FIFA viesse para o país. Não tem desculpa de falta de tempo para preparar as estruturas necessárias. A correria agora, com liberação de licitações e outras escandalosas liberações, é apenas mais um retrato em todas as dimensões de nossa incúria gerencial pública e da tendência tupiniquim de se comprazer a criar facilidades para quem quer ganhar um dinheirinho fácil. E que dinheirinho ! Sob intervenção ? Alguma coisa muito estranha está acontecendo com a Petrobras. Em um mês ela teve seu plano estratégico de investimentos 2011/2015 recusado pelo governo, com voto do ministro da Fazendo, Guido Mantega, presidente do Conselho de Administração da empresa. Ao mesmo tempo, não teve autorizado o aumento pretendido de 10% no preço da gasolina na refinaria, pois implicaria em reajuste também na bomba para o consumidor final ou então redução da CIDE, e o Tesouro Nacional não pode perder arrecadação. Parece evidente que a Petrobras - assim como outras estatais (Eletrobras, os bancos oficiais, a rediviva Telebrás) - deve sujeitar-se à política econômica de Brasília. Assim sendo, não tem autonomia gerencial. Visão externa da Petrobras De um experiente analista de investimento de um banco inglês sobre a Petrobras : "não há mais nenhuma razão para recomendar as ações da Petrobras como opção de compra. Antes, os riscos eram enormes, mas previsíveis. Agora os riscos são imprevisíveis e gigantescos." Deixe-se de sonhar O ministro Guido Mantega pode enfiar no saco a viola da reforma tributária, mesmo fatiada, no curto prazo. Ela já joga os governadores do Norte e do Nordeste contra os do Sul e do Sudeste, oposição que só será vencida se o Tesouro Nacional tiver um baú muito recheado de recursos que todos pedirão para "compensar as perdas" com as mudanças no ICMS. O que, apesar dos acenos fazendários de que é possível, sabem todos que não é. Na Carta de Brasília lançada na semana passada, os governadores nortistas e nordestinos deixaram claro o preço da adesão deles ao imaginado pelo Ministério da Fazenda. Só uma coisa une Além dos discursos da simplificação tributária e do fim da guerra fiscal, está mais para estrangeiro ver, um único ponto une as partes estaduais em oposição : a mudança no índice de correção das dívidas estaduais para reduzir a contas deles de juros. O governo Federal está dizendo que topa, para ganhar em outros pontos. É operação complicada : como compensar o Tesouro com a perda do dinheiro desses pagamentos do serviço da dívida. A própria desoneração da contribuição das empresas para a previdência social, anunciada várias vezes pelo ministro Mantega para "os próximos dias" subiu na cobertura pela mesma razão. O cobertor da arrecadação é grande e bem pesado e, mesmo assim, é curto e não aquece todos os beneficiários dos impostos. Para complicar - I Voltou a guerra pela distribuição dos royalties do petróleo, pondo todos os Estados contra o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, mais de 5 mil prefeitos no Brasil todo contra pouco mais de 100 prefeitos fluminenses e capixabas. Para complicar - II Ainda há o caso isolado do Amazonas e da Zona Franca, já pintados também para um embate com todos. Dizem os manauaras que a mudança no ICMS, como foi proposta pelo Ministério da Fazenda, mata a economia industrial da região. Além disso, já estão em pânico com os incentivos fiscais concedidos à produção dos tablets. Caso não consigam barrar a MP, vão exigir que a lei defina o tamanho das telas de tablets, para evitar que as indústrias do sul possam usar a brecha da lei para produzir aparelhos de TV de 30 polegadas ou mais como se fossem esses novos "brinquedinhos" digitais. Se continuar nessa batida, o governo Dilma vai conseguir tirar de José Serra o "troféu de político brasileiro mais odiado em Manaus e adjacências", posto que o tucano conquistou quando foi ministro do Planejamento e teve a Zona Franca sob suas asas. Apagão digital Anatel, Congresso e o Ministério das Comunicações não se entendem sobre as novas regras para o setor de telecomunicações e informática no Brasil. A nova lei do cabo está parada no Senado. O novo Plano Geral de Metas e Universalização é objeto de disputa entre o setor público e o setor privado. E nada avança na lei geral de telecomunicações. A Telebrás foi ressuscitada para tocar o Plano Nacional de Banda Larga, mas até agora não explicou porque voltou a existir e o projeto, menina dos olhos eleitoral de Lula e Dilma, já sofreu vários adiamentos e redução de metas. Mais da R$ 10 bi do Fust, criado para financiar a universalização dos serviços de telecomunicações, está parado nos cofres do Tesouro Nacional para engordar o superávit primário enquanto o governo gasta em outras coisas muito menos importantes, especialmente com aumentos de salários e despesas de custeio. É o Brasil do século 21 em marcha acelerada para ficar parado no século. Num "apagão tecnológico" que pode retardar em algumas décadas a nossa tão sonhada (e não a atualmente apenas sonhada) entrada no universos das nações verdadeiramente desenvolvidas e com qualidade de vida para seus cidadãos. Como advertiu recentemente o presidente da União Internacional de Telecomunicações, Hamadoun Touré, que estará no Brasil participando da Futurecom, de 12 a 15 de setembro, "se não forem feitas profundas modificações no sistema regulatório do setor de telecomunicações, em cinco anos poderemos ter uma crise pior do que a financeira". Para Touré, as normas existentes estão ultrapassadas, não acompanharam a evolução da tecnologia de telecomunicações e de informática. A do Brasil ainda nem descobriu a convergência digital. Radar NA REAL 17/6/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4310 alta alta - REAL 1,6198 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 61.060,01 baixa estável/alta - S&P 500 1.271,50 estável/baixa alta - NASDAQ 2.616,48 estável/baixa alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 14 de junho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 156

Novos pontos no radar A crise envolvendo Palocci escondeu por algumas semanas algumas importantes alterações no cenário externo, fato este que há de repercutir no cenário econômico local. Dentre as variáveis mais importantes destacamos : (i) a crise de crédito internacional voltou a se alastrar com o rebaixamento da nota de crédito da Grécia e Portugal, bem como a perspectiva negativa para as dívidas espanholas ; (ii) a economia europeia voltou a apresentar sinais de estagnação da atividade econômica ; (iii) os EUA não apresentam nenhum ganho significativo em termos de aumento de consumo e investimentos ; (iv) novas medidas referentes à capitalização dos bancos norte-americanos indicam que o crédito dos bancos continuará restrito ; e, (v) mesmo na Índia e China há sinais de desaquecimento, lembrando que são estes países que estão a impulsionar a demanda externa no mundo. Efeitos Muito embora a economia brasileira seja ainda muito fechada e, portanto, menos dependente da demanda externa, a letargia das principais economias centrais tem efeito depreciativo no médio prazo para os produtos brasileiros, inclusas aí as commodities. Ademais, nunca é demais lembrar que riscos de créditos que contaminam o sistema financeiro nunca são bem vistos pelos agentes. Logo, o cenário externo é hoje fator relevante para a contração da economia nacional. Demanda interna Nos últimos dois meses, já alertamos nossos leitores que a demanda interna cairá nos próximos meses. O aperto no crédito e a alta dos juros básicos estão se somando a um leve aumento da inadimplência e uma menor propensão dos consumidores para gastar. Somente a demanda do governo, via gastos correntes, é fator expansionista (e restritivo ao setor privado) no âmbito interno. Portanto, teremos de conviver com salários reais menores (por conta da inflação), massa salarial com menor crescimento e investimentos ainda insuficientes para alavancar de forma compensatória a queda do consumo. Nada é muito grave, mas longe é a ideia de que o crescimento é fato líquido e certo nos próximos meses. Bolsa, juros e câmbio O mercado acionário persiste negativo. Há três meses já avisamos que a nossa visão relativamente a este segmento é negativa. Os riscos não são recompensados pelos retornos e os preços das ações persistem altos. Quanto aos juros, estes devem subir ainda mais para os empréstimos e financiamentos, mas a campanha de alta dos juros básicos está próxima do fim, mesmo porque a demanda irá enfraquecer. Já o câmbio, está abandonado pelo governo : falta coragem para impor mais restrições às operações financeiras e a taxa de câmbio tornou-se instrumento de contenção da inflação por meio das baratíssimas importações. Um risco que não deveria ter sido tomado. Aliás, a taxa de câmbio sempre foi alvo das críticas do PT na oposição. No governo, os petistas se comportam como ex-petistas. Não apenas neste item, diga-se. Radar NA REAL 10/6/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4414 alta alta - REAL 1,5884 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 62.697,13 baixa estável/alta - S&P 500 1.270,98 estável/baixa alta - NASDAQ 2.643,73 estável/baixa alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Na prática é que são elas É inegável que o clima político ficou menos carregado depois que Dilma, em dois golpes ousados, nomeou Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) por livre e espontânea decisão. De uma só tacada enquadrou o PT, pôs barreiras ao assanhamento político de Lula e, ao contrário do que pode parecer - e eles ardentemente desejavam -, não ficou em dívida com os peemedebistas. Tutores e pretendentes a tal foram, no máximo, cheirados - e por pura deferência. Política da saia justa, copa, emendas e nomeações Os mais maledicentes de Brasília chamam de "política da saia justa" a nova estratégia de Dilma. Dizem que tal política tem de mostrar na prática - e já - que é funcional. Os desafios reais começam amanhã : aprovar a MP 517, um bonde cheio de "penduricalhos" que, entre outros pontos de interesse oficial, flexibiliza as licitações para as obras da Copa. É a terceira tentativa de passar a medida. É o primeiro teste do trio palaciano, com chances de ser ultrapassado se houver um pouco de paciência. A base partidária oficial, ainda lambendo as feridas, talvez se sinta inibida de cobrar a fatura da carraspana que levou da presidente. A oposição promete obstruir a votação, mas, como tem governadores e prefeitos diretamente interessados nos negócios da Copa, deve fazer apenas um barulhinho para a plateia. Por via das dúvidas, porém, a ministra Ideli Salvatti já começou a exibir um pouco de "paciência" : anunciou que a fila das nomeações vai andar mais rapidamente e que R$ 250 milhões de emendas parlamentares vão aparecer. Se o "Diário Oficial" corresponder à promessa, dias de trégua virão. As pedras no caminho É o que vem a seguir que dá enxaquecas no Planalto : 1. No Senado, já está pronta para ser votada no plenário a PPEC (autoria de José Sarney com emendas de Aécio Neves) alterando o rito de tramitação das MPs e restringindo o poder do Executivo para editá-las. Nas comissões, teve o apoio aberto do PMDB e é de total interesse do Senado : um dos propósitos é dar mais tempo aos senadores para analisar e votar MPs. No auge da crise Palocci, Dilma mostrou irritada ao saber da existência da proposta, desconhecimento no mínimo muito esquisito. 2. Na Câmara, cresce a pressão para que sejam postos em votação o PL regulamentando a EC 29 (aumenta os recursos para a saúde) e a PEC 300 (de reajuste dos salários dos bombeiros e policiais civis e militares). Ambas encontram forte resistência da área econômica. Contudo, uma tem a simpatia de governadores e prefeitos e a outra mobiliza as corporações armadas estaduais. Para complicar, são temas transversais, fogem ao binário governo-oposição, são suprapartidários. Assim como o Código Florestal, primeira dor de cabeça real de Dilma. Quanto às novas regras para as florestas, o governo deu-se algum tempo mais para negociá-las no Senado : ao contrário do que ameaçou não fazer, para tentar assustar os ruralistas e defensores da proposta do deputado Aldo Rebelo, na semana passada o Planalto adiou por mais seis meses a cobrança de multas. Ambulante na metamorfose A nova ministra chefe da Casa Civil terá de fazer malabarismos de circo mambembe para passar a pensar como a chefe Dilma a respeito o Código Florestal. Oriunda do Paraná, Estado com forte presença do agronegócio, e no qual tem expostas ambições políticas, Gleisi Hoffmann foi defensora do projeto relatado por Aldo Rebelo. Relatório que Dilma classificou como uma "abominação". Dúvida cruel - I A partir de hoje o Brasil político começará a descobrir se a presença de Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti no cérebro do Planalto vai ajudar a amainar o estilo duro da presidente Dilma ou, ao contrário, o modo meio belicoso das duas ministras ajudará a explodir ainda sua paciência. Dúvida cruel - II Quanto tempo Dilma e suas escudeiras levarão para recompor as relações do Planalto com o PT e o PMDB ? Os dois estão cheios de mágoa. O PT sangra em público, no seu melhor figurino. Mais matreiro, o PMDB rumina em palácio. João odiava Teresa que odiava... Desde que a crise política esquentou com o caso Palocci posto na rua, algumas pessoas voltaram a se lembrar de um episódio da política inglesa muito ilustrativo da situação que perturba Dilma nas suas relações com os parceiros. Tendo voltado ao parlamento, depois de ter perdido a eleição pós-guerra, sir Winston Churchill se viu abordado por um parlamentar mais jovem, também conservador. Apontando para as bancadas dos trabalhistas, o jovem comentou com o experiente e sagaz ex-primeiro-ministro : "Ali estão nossos inimigos". Imediatamente, o bem humorado Churchill corrigiu o colega : "Ali estão os adversários. Nossos inimigos estão aqui." E estendeu os braços para mostrar os companheiros ao redor. Tudo como na seara dilmista : o PMDB briga com o PT, o PT briga com o PT, todos os outros não se entendem entre si e odeiam o PMDB e o PT... Parece aquele poema de Carlos Drummond às avessas : "João que amava Teresa que amava Raimundo (...)". Para graça da presidente, a oposição é apenas um retrato na parede, esmaecido e quase silente. Os ciúmes vão bater Ainda na fase de formação de seu governo, talvez já prevendo a barafunda partidária em que se metera, Dilma chegou a estender algumas pontes em direção à oposição, inclusive no discurso de posse e em outros sinais visíveis. Ficou só nisso, não se sabe ao certo por querer apenas mostrar civilidade e cordialidade ou porque sua turma não gostou. Agora, manda uma carta calorosa, bem além do protocolar, ao ex-presidente FHC cumprimentando-o por seus 80 anos... Divã no ABC O PT, como um todo, e o PT paulista, em particular, vão ter de passar por demoradas sessões de psicanálise política até descobrirem sua identidade no governo Dilma. O divã a ser usado (até ficar surrado) não tem endereço no Planalto Central. Está instalado no ainda coração da indústria automobilística nacional. O atalho do Jaburu Nos tempos gloriosos do MDB, o restaurante Piantella, em Brasília, era o ponto no qual os chefes do partido, como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves faziam suas tramas para combater a ditadura. Nos tempos presentes do PMDB, um tanto quanto menos gloriosos dos que os de seu antecessor, as trilhas do partido desembarcam todas no ancoradouro da vice-presidência. É lá que os "grandes caciques" peemedebistas tramam. A mudança de endereço, como se diz no popular, está "causando espécie". Afasta de mim esse cargo Nunca se viu o sempre faminto PMDB tão "de regime" como na disputa pelo cargo de ministro das Relações Institucionais. O partido fez absoluta questão de nem passar, ainda que por descuido, perto da porta do ministério. O que prenuncia dias de turbulência para Ideli Salvatti. Arrogância É praticamente consenso : foi pessimamente conduzido o processo de fusão da Sadia com a Perdigão. Os donos do negócio e seus operadores perderam o tino ao acreditar que como o negócio era do gosto do governo e tinha o dedo do BNDES estava no papo. __________
terça-feira, 7 de junho de 2011

Política & Economia NA REAL n° 155

O vício está na origem A decisão do procurador-Geral da República de arquivar as quatro representações da oposição contra Palocci deu uma sobrevida, talvez até uma vida longa, ao chefe da Casa Civil. Deu também o argumento que o presidente da Câmara, Marco Maia, necessitava para anular a convocação de Palocci para depor na Comissão de Agricultura sem parecer demasiado parcial. A insistência de Dilma em ficar com Palocci, apesar das pressões até de partidos aliados, tem outra razão que a simples solidariedade e o respeito à presunção de inocência do ministro : as dificuldades para encontrar alguém que o substitua com as características que foram imputadas a ele quando de sua escolha - ao mesmo tempo um eficiente gerente e um hábil articulador político. Assim, sem Palocci o governo ficaria manco, pois Dilma também tem características especiais que não a deixam ocupar os espaços que foram designados para o ministro da Casa Civil. Com Palocci baleado em campo (a confusão não vai amainar tão cedo, mesmo agora com o parecer de Roberto Gurgel) ou sem ele, no entanto, o governo continuará com problemas em seus espaços políticos, pois a confusão não nasceu com a decadência política do ministro. Está na origem do governo. O caso Palocci apenas explicitou o que já estava latente. O governo Dilma é politicamente arrevesado. O grande equívoco O pecado original foi a crença de Lula - depois abraçada de forma obediente pelo PT e seus aliados - de que seria possível botar na presidência da República, cargo eminentemente político, uma pessoa de perfil gerencial, sem gosto e paciência para as negociações que a política exige - as boas e, no Brasil, as más. O arranjo foi terceirizar essa função, deixando-se um pedaço dela para o ministro da Casa Civil, outro tanto para o ministro das Relações Institucionais e, ainda, algumas funções para o ministro Secretário Geral da presidência. Lula teve todo esse aparato, mas todos os seus auxiliares nesta linha eram, por assim dizer, "subintelocutores" dos políticos, dos empresários, dos sindicalistas, das ONGs. Quem fazia a interlocução real era ele mesmo, Lula, o animal político por natureza que tinha a caneta e o poder de decisão. Linha torta Como nem Palocci (o "primeiro ministro"), nem Luiz Sérgio e nem Gilberto Carvalho tinham força para fazer acontecer o que conversavam e acertavam, uma vez que dependiam da palavra final de Dilma, as relações políticas do governo ficaram capengas. Antes de estourar o caso Palocci, a insatisfação com o Planalto no Congresso, nos partidos aliados, já era imensa. Explodiu no episódio do Código Florestal, mas teria explodido também em outra votação na Câmara e no Senado mais tarde. Com ou sem consultorias do ministro, diga-se. É insatisfação que já atingia ministros, dirigentes de estatais e até gente de fora do governo. Assim sendo... Com Palocci totalmente reabilitado ou com ele fora do governo, a crise política que cerca o governo Dilma, fato negado inicialmente e agora classificado como um "problema do ministro", não vai embora. Ela fica, instalada no Planalto. O que terá de ser feito é reformular politicamente o governo, não apenas trocar de nomes. E esta reformulação implica que Dilma assuma as funções presidenciais em sua plenitude, como uma entidade política. Inclusive com paciência para a "micropolítica". Há muito urubu rondando o telhado... Os nomes para a Casa Civil As especulações para a substituição de Palocci, e que ainda estão no ar, gravitam em torno da ministra do Planejamento Miriam Belchior que, por sua vez, seria substituída por Paulo Bernardo no Planejamento e Graça Foster, diretora da Petrobras, um dos primeiros nomes cogitados por Dilma para o lugar, ainda na fase de formação do governo. Depois é que surgiu Palocci, indicado por Lula. O único nome que preenche o requisito político (comentado nas notas acima), no que diz respeito à articulação política do governo, é o de Paulo Bernardo. Experiente burocrata e político, Bernardo pode facilitar as articulações necessárias à retomada da normalidade do governo Dilma. Já Belchior e Foster são nomes que reforçam a visão de que o governo continuará carente na arte da política. Com o agravante de que há reservas sobre a personalidade excessivamente forte de ambas as amigas da presidente. Mas, por enquanto, a vez ainda é de Palocci. Pagando também pelo que não deve Palocci está hoje em desgraça com os políticos, mesmo os que ainda o defendem não querem ser vistos em sua companhia. A razão não é apenas os embaraços causados pelos até agora mal explicados negócios de consultoria empresarial. Ele já estava em desgraça antes no meio político, porque é tido como responsável pelo represamento das nomeações para o segundo escalão e das verbas das emendas do parlamentares. Neste caso, está pagando pelo que não deve. Decisões desse tipo saem de um andar superior ao de Palocci. A não ser que ele fosse poderoso o suficiente para impor essas normas à presidente. A interpretação de que era Palocci quem barrava tudo pode ser até conveniente para Dilma, pois não a indispõe diretamente com os políticos, mas ajuda a desgastar sua imagem de pessoa decidida. Já bastam as intromissões do sucessor. A caneta é dela As decisões de bloqueio são, sim, da presidente, que não quis se render ao jogo tradicional do escambo fisiológico da política. Quis deixar isto para os ministros "políticos". Agora, o desafio da presidente é mergulhar nessa micropolítica sem entrar no jogo bruto. Um homem de peso Gabinetes muito bem postados em Brasília e em SP - e bota bem postados nisso ! - estão anotando ciosamente em suas cadernetas de "deveres e haveres" a agilidade política com que tem se movimentado o vice-presidente da República, Michel Temer. O prócer do PMDB é comparado, em termos de fidelidade, com o companheirão José Alencar nos tempos lulistas. Uma comparação penosa para o atual vice. Joguinho sem erros Pergunta um : quem quer a permanência de Palocci no governo, de preferência fragilizado ? Pergunta dois : quem não quer mais Palocci no governo de modo algum, a não ser que ele seja ungido beato ? Erra quem responder PT, para a primeira indagação, e PMDB, para a segunda. Hoje, quem está com o ministro e não abre é o peemedebismo (e outros aliados). Ninguém quer perder o que Garotinho ironicamente classificou como um "diamante de 20 milhões". Experiência Jornalista político experiente, sentado à mesa tomando chopp num tradicional bar paulistano, analisava o desempenho de Palocci na sua incursão televisiva da última sexta-feira. Depois de minuciosa observação do ministro, o jornalista lançou a conclusão : há sinais inequívocos de que Palocci falava para seus clientes e fazia um seguro para si mesmo, para Dilma e para o PT. Algo parecido com o que já fez José Dirceu. Guido em silêncio e resguardado O ministro da Fazenda era um dos principais membros do governo sujeitos ao monitoramento e, de vez em quando, ao fogo cruzado de Palocci. Desde a conversão do trotskismo juvenil para a ortodoxia de sua gestão na Fazenda, o venerável de Ribeirão Preto era os olhos e ouvidos dos segmentos mais conservadores do meio empresarial. Guido sabia disso e era alvo aberto da tentativa de Palocci em interferir no dia a dia da política econômica. A fragilidade de Mantega se reduziu drasticamente com os percalços de Palocci. Daqui para frente pode ter mais paz dentro do governo, mas será mais cobrado pelos críticos que se escondiam por detrás dos vidros do gabinete do ministro da Casa Civil. BC e os juros. De novo Em meio à crise política do governo, o Copom se reúne a partir de hoje para analisar os dados disponíveis e disparar uma decisão. É quase unânime a expectativa de que os juros básicos subam de 12% para 12,25% ao ano. Pode parecer algo cosmético, mas não devemos esquecer que as pressões em relação à autoridade monetária eram gigantescas em função da alta da inflação. Agora, por debaixo de nuvens cinzentas externas e internas, o BC deve ter mais paz para subir os juros e todos dizerem amém. Afinal, a economia continua aquecida, mesmo com sinais de desaceleração à vista. Portugal na rota conservadora A vitória do PSD português e seus aliados da direita levarão Portugal a caminhar para a ortodoxia econômica com mais docilidade. Para receber os quase 115 bilhões de euros de recursos para fechar as suas contas, Portugal deve se sujeitar a um crescimento de 12% para 15% no desemprego formal. Os credores podem até sorrir, mas a dúvida sobre a capacidade de Portugal em resistir a tanto sofrimento social voltará à tona. Por enquanto, há alguns felizes na terra de Fernando Pessoa. Já os infelizes são incontáveis. Entre a reforma e a conjuntura O BC dos EUA deve aumentar o capital mínimo para que as instituições financeiras alavanquem seus ativos, sobretudo os empréstimos. Esta é uma boa notícia no que tange à reforma do combalido sistema financeiro do país. Todavia, como nada é neutro quando o assunto é economia, esta medida adicionará dificuldades para que os indivíduos e empresas retomem sua disposição em emprestar para consumir e investir. Os últimos números de empregos e de atividade econômica dos EUA mostram que a convalescência depois da crise do final de 2008 ainda é sofrida. A retomada ainda é frágil e o mundo não está nada fácil para os americanos : a Europa está caída e, até mesmo, a China mostra sinais de esfriamento da demanda. Radar NA REAL 3/6/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4601 alta alta - REAL 1,5815 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 64.340,50 baixa estável/alta - S&P 500 1.300,16 estável/alta alta - NASDAQ 2.732,78 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Ainda não se viu tudo Está ainda para ser contada a verdadeira crônica da malfadada ressurreição da Telebrás e da pressa eleitoral do lançamento do Plano Nacional de Banda Larga. A demissão, na semana passada, para "readequação" do Plano, do primeiro presidente da nova Telebrás, Rogério Santana, é apenas o capítulo inicial. O segundo, foi também na semana passada, a decisão da Anatel, sem esperar a votação de um projeto já em tramitação no Congresso, da TV a cabo para as empresas de telecomunicações. A banda larga eleitoral de alta velocidade está com todos os prazos vencidos e os custos elevados. E o TCU já entrou no jogo constatando superfaturamento em licitação da Telebrás. Contradição ambiental Esqueçam-se as questões de fundo, de conteúdo, olhe-se só a questão política. Em matéria ambiental, o governo anda mergulhado em uma contradição só. Para não aceitar a proposta de Código Florestal aprovada pela Câmara, Dilma põe entre seus argumentos os estragos que ele pode causar na imagem internacional do Brasil como um país ambientalmente responsável. Mas, ao mesmo temp,o força o Ibama a apressar as licenças para a construção da Usina de Belo Monte, decisão que no mesmo dia gerou várias bordoadas no Brasil lá fora. Eles estão salivando Usinas hidrelétricas em correria, Copa do Mundo e Olimpíadas com lei de licitações abrandada, trem bala com "papai" BNDES de cofres abertos, pressões para o TCU ser menos exigente... Nunca antes neste país os construtores de obras públicas estiveram tão felizes... E mais felizes ainda estão os que concedem as obras e os consultores de negócios. Neoconvertido. Mas não sabe rezar Acompanhado de prefeitos de 47 cidades, que estiveram na capital paulista para discutir os problemas (e soluções) dos grandes aglomerados urbanos, o prefeito Gilberto Kassab virou um poço de ideias, inclusive para um dos mais graves gargalos de São Paulo - o trânsito. Logo ele, que em sua gestão (somada aos dois anos de Serra) não construiu praticamente um único quilômetro de corredores exclusivos para ônibus, solução já testada para melhorar a circulação dos veículos de transportes de massa. Um de seus grandes projetos é o de um túnel na avenida Sena Madureira, pista para veículos individuais. E a sua mais brilhante ideia agora é criar faixas exclusivas - para carros que se dispuserem a fazer o transporte solidário. Levaram Kassab à missa do transporte público. Mas não lhe ensinaram direito a rezar. ____________
terça-feira, 31 de maio de 2011

Política & Economia NA REAL n° 154

A crise, mitos e consequências A crise de "governabilidade política" de Brasília que galgou os jornais na semana passada, e que está paralisando um bom naco do governo Federal, é antiga, antecede ao caso Palocci e a derrota da presidente Dilma na votação do Código Florestal. Os dois casos só fizeram expor o descontentamento da base partidária e parlamentar do governo, com a condução dada pelo Planalto - tanto do ministro quanto da presidente - das questões partidárias e legislativas. A insatisfação batia na cara de qualquer um que pisasse apenas por algumas horas em Brasília. Descontentamento de A a Z, das legendas mais insignificantes às mais significativas - não apenas o PMDB como também o PT e o PSB. Origens da crise Dilma começou o governo tentando impor seu estilo e sua vontade - não dar bola para a política (dos políticos), não atender às reivindicações fisiológicas por empregos e segurando a enxurrada de verbas. Enfim, tentou segurar-se em sua decantada competência gerencial e no molejo político de Palocci. Viu-se - e este foi o primeiro mito que se desfez, que o molejo político de Palocci era só fantasia. Além disso, "competência gerencial" não faz verão no Congresso quando faltam outros alimentos essenciais no universo político-eleitoral. A crise estava no ar, só não tinha data marcada para acontecer. A volta do criador Por isso, foi preciso sacar, antes da hora e ao que transparece dos ventos palacianos, de forma não desejada, o maior trunfo da presidente : seu padrinho e antecessor. As consequências da intervenção de Lula no processo político ainda serão medidas. Mas não serão boas para Dilma. Lula passa a ser o desaguadouro das insatisfações. Assim, não é de estranhar que, após a apoteótica passagem de 48 horas do ex-presidente por Brasília, na qual, como disse um parlamentar governista, ele parecia "mais feliz que pinto no lixo", o Palácio do Planalto tenha espalhado por seus porta-vozes informais que Dilma não ficou satisfeita com a história toda. Não ficou ? Não foi o que se viu nesses dois dias em que Lula foi mais "o cara" do que nunca e ela manteve-se em obsequioso retiro. Para apagar esta impressão, Dilma terá de virar uma "política", desvestindo o avental de gerente e reformulando por inteiro seu esquema de coordenação parlamentar e partidário. Outros mitos decaídos Não bate com os fatos a interpretação do presidente Lula de que Palocci não teve tempo de dar mais atenção aos deputados e senadores porque estava muito atarefado com o trabalho para dentro do governo na Casa Civil. Pelo contrário, o ministro teve suas tarefas aliviadas - perdeu, por exemplo, o controle do PAC e do programa "Minha Casa, Minha Vida", para poder dar tempo integral às tarefas da coordenação política. É para quem acredita em Papai Noel a tese, também de Lula, de que está na oposição a responsabilidade pela crise. Eles, que não se seguram de pé, não estão na origem do problema nem em seus desdobramentos. Faltaram foram alicerces à casa que foi construída para sustentar quatro anos de Dilma. Um probleminha e tanto De todos os pepinos que Lula deixou para Dilma administrar, o mais grave foi a impressão de que, sem barganhas fisiológicas, o governo não sobrevive à algaravia de sua base política no Congresso e a disputa por espaços, com vistas especialmente a 2014, entre PT, PSB e PMDB e, ainda, à fogueira de vaidades e desejos petistas. No vácuo Quem cresceu politicamente nesta história toda foi o secretário-geral da Presidência, Gilberto de Carvalho, homem de estrita confiança de Lula. É o coordenador político extraoficial. Casamento quase indissolúvel Não se aposte, por mais que a crise esteja no ar ainda e as mágoas que ficaram (vide os arrufos Palocci-Michel Temer e as queixas de Dilma em relação ao PMDB), em um rompimento da aliança governista, o PMDB e o PT estão condenados a andar coladinhos ainda por um bom tempo, por mais que um desconfie do outro e do ódio mútuo. Portanto, o ambiente de crise vai estar ainda por bons meses no ar, ainda mais depois que o PMDB viu que tem de fato "a força" e o PT mostrou-se, no episódio, dividido e com certa tibieza. Tucanos de bico afiado Celebrou-se um casamento de ocasião na convenção nacional do PSDB. Não foi desta vez que o partido definiu seus rumos para 2012 e 2014. Segue com três presidenciáveis no ar - Aécio, Serra e Alckmin - três diletos "inimigos cordiais", nenhum disposto a ceder espaço para o outro, mas condenados a frequentar os mesmos banquetes. O PSDB segue totalmente unido em sua desunião, uma dádiva para o politicamente desorganizado governo Dilma no momento. De olho gordo As agruras políticas da presidente Dilma abriram os olhos do PMDB para as possibilidades de o partido deixar de ser apenas o segundo na aliança presidencial e em futuros embates eleitorais. Até um "nome" o partido já acalenta para qualquer eventualidade. É isto, mais do que o comportamento na votação do Código Florestal, que explica o elevado grau de agastamento de Dilma com seu parceiro de coalizão. Período graça A crise política não está deixando o Planalto aproveitar o período da graça que está tendo na economia, com o arrefecimento da inflação mensal e das expectativas negativas do mercado, para avançar com alguma agenda "positiva". Segundo alguns analistas, no segundo semestre, com uma série de dissídios coletivos e porte e pressões por gastos públicos, o ambiente pode se inverter. No front positivo, há a moderação no curto prazo das expectativas para a inflação. Referimo-nos não apenas à pesquisa do BC com os agentes de mercado (pesquisa Focus), mas aos menores efeitos dos preços dos alimentos sobre os indicadores de preços. O problema persiste o mesmo : o governo joga para cima a demanda em função de seus elevados gastos e o setor privado vê demanda para baixo. Isto é fruto da ineficácia da política de controle de gastos da fazenda/planejamento, apesar dos números a serem divulgados (vide nota a seguir). As contas oficiais em observação Esta semana o BC deve anunciar o resultado das contas públicas de todo o setor público até abril, com um superávit próximo dos R$ 60 bi, mais de 50% de toda a economia de recursos prevista para todo o ano para amortizar a conta de juros. Há tanta euforia com esse desempenho que o secretário do Tesouro Nacional, Arno Agustin, anunciou que o governo, a partir deste mês, poderá afrouxar o torniquete aplicado no orçamento. Até para aplacar a ira aliada no Congresso. Especialistas (não-oficiais) em contabilidade nacional, no entanto, aconselham alguma cautela. Lembram que boa parte do superávit se deve ao excepcional aumento da receita tributária, mais de 11% até agora em termos reais, ao represamento dos investimentos e o adiamento de outras despesas. No caso dos investimentos - dinheiro novo para o PAC quase ainda não saiu - os recursos para a Copa e Olimpíadas só estão até agora no papel e não podem ser mais adiados. Quanto às despesas adiadas, somente uma correção nas aposentadorias, já transitada no STF, portanto impostergável por muito tempo, pode consumir um bom pedaço do aumento das receitas - e como uma despesa continuada, permanente. Câmbio em desalinho Com a confusão política, passaram despercebidas duas declarações oficiais que jogam mais dúvidas na política cambial do governo. Sabe-se que o real valorizado está sendo administrado de modo a auxiliar no combate à inflação, o que deixa a indústria local em profunda agonia. Pois bem : segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o sistema de câmbio flutuante no momento é ineficaz para lidar com a situação. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, disse que não vê solução a curto prazo para a valorização do real. O que fazer : tocar um tango argentino, como no poema de Manuel Bandeira, se até o governo se confessa impotente ? Outra dor de cabeça à vista Em plena crise política o governo verá nascer, esta semana ainda, uma frente em defesa da PEC que reajusta os salários dos policiais civis e militares e do corpo de bombeiros de todo o país, equiparando-os aos de seus similares do Distrito Federal. É assunto explosivo, pela categoria que beneficia. No ano passado causou sérios problemas para o então presidente da Câmara, Michel Temer. Por pouco não houve uma invasão da Casa Legislativa. Essas forças estão mobilizadas, cobrando compromissos assumidos anteriormente pelos partidos e mostrando holerites de fato irrisórios num serviço mais que essencial. Os donos dos cofres estaduais, que pagam diretamente a conta, e os dos cofres Federais, que terão de dividir a nova despesa, não querem nem ouvir falar desse assunto agora. Calcula-se que pode chegar a R$ 60 bi mensais o ajuste. Com o governo fraco politicamente como está, é bomba de alto teor explosivo para ser desmontada. Autismo palaciano ? É inacreditável que o Planalto não saiba que está pronta para votação no Senado a PEC, cujo autor é o senador José Sarney, com emenda do senador Aécio Neves, que restringe o poder do Executivo na edição de Medidas Provisórias. Compromisso com a derrota Se o PT pretende mesmo perder mais uma vez a disputa pela prefeitura de SP está certo em seguir a sugestão do presidente Lula de apostar no "novo" : a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad. Haddad terá de passar a campanha explicando pelo menos três desastres : 1. As confusões do Enem. 2. Os livros que ensina que as crianças podem pescar. 3. E os desacertos da cartilha anti-homofobia. E olha que até a eleição o MEC ainda tem muito tempo para "aprontar" outras. A política externa do Brasil Dilma começou sua gestão fazendo gestões contra o Irã no que refere aos direitos humanos e fez a sua mais importante visita internacional à China, país no qual o termo "direitos humanos" soa como uma ficção não científica. No âmbito do Mercosul, os problemas são enormes e as contradições econômicas evidenciam que não há ação coordenada entre os seus membros, sobretudo em relação à Argentina. A visita de Obama ao país trouxe poucos e "cinematográficos" resultados. Estas são apenas algumas evidências de que a política externa brasileira carece de objetivos estratégicos. Ainda mais agora quando se descobre que a China trabalha contra as ambições brasileiras de ter um assento no Conselho de Segurança da ONU. Lula, uma figura emblemática, obscurecia a ausência de uma política externa de longo prazo. Dilma, figura acanhada e "gerencial" pôs à tona as contradições no campo diplomático. México em ascensão O México já foi o queridinho dos investidores nos mercados emergentes na década de 90. Depois, foi superado pela Índia, China e Brasil. O país era uma enorme promessa nas análises exageradas de Wall Street e da City londrina. Os pobres de lá continuam pobres e os ricos no mesmo lugar de antes. Agora, começam a surgir novos relatórios a elogiar a política anti-inflacionária do BC mexicano. O dono da bola é o seu presidente Agustin Carstens que controlou as expectativas de inflação e, ao dominar a fera, tornou real suas ambições de ser o nº 1 do FMI. A onça vai beber água em Atenas Nesta semana, o FMI e oficiais da União Européia desembarcarão em Atenas propugnando novas medidas de austeridade para que o país possa retificar sua condição de solvente. Uma tarefa e tanto. Afinal, se estas medidas forem seguidas o país permanecerá estagnado e com uma taxa de desemprego que pode alcançar 30% de sua mão de obra ativa. Pois bem : o que muda a economia é a política e os gregos parecem pouco inclinados a dar suporte para o Partido Socialista realizar os planos dos investidores. A coisa toda deve acabar em algum tipo de reestruturação da dívida, seja ela consentida ou unilateral. Candidato Obama A julgar pelo conjunto de dados econômicos de atividade e emprego divulgados nas últimas semanas, o senhor Barack Obama há de ser um candidato que terá poucos resultados a mostrar a seu eleitorado no que tange à economia. A demanda persiste fraca, o crédito débil e a turma das finanças especulando doidamente com a expectativa de que a inflação subirá diante de tanto déficit público. As bolsas dos EUA estão patinando por conta disso. Todavia, o verão no hemisfério norte, período de férias, vai dar um refresco para o presidente nascido no Havaí. Obama e o terrorismo Esqueçam o Obama candidato do passado, viva o Obama candidato de agora ! A aprovação ao final da semana passada da continuidade das medidas antiterror denominadas de Patriot Act pelo Congresso dos EUA e docemente assinada por Obama é mais um sinal de que o democrata não veio para mudar muito. Apenas faz mudanças cosméticas na política antiterror implementada por George W. Bush. O governo dos EUA vai continuar podendo bisbilhotar nas contas de cartões de crédito dos cidadãos e revistando de forma constrangedora os viajantes nos aeroportos do país. Radar NA REAL  27/5/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4277 alta alta - REAL 1,6022 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 64.294,91 baixa estável/alta - S&P 500 1.325,69 estável/alta alta - NASDAQ 2.782,92 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 24 de maio de 2011

Política & Economia NA REAL n° 153

  Palocci, lucros e perdas O caso da multiplicação patrimonial do ministro Palocci dificilmente atingirá o governo da presidente Dilma, a não ser que as investigações - se estas vierem a ocorrer - encontrem um "cruzamento" dos recursos contabilizados pela empresa do chefe da Casa Civil com a campanha da então candidata de Lula. É improvável - se não impossível - também que a oposição, frágil, desunida, desnorteada, consiga arrastar Palocci e governo para um confronto no Congresso. Com um pouco do uso da caneta e o amparo de Lula, Dilma não terá dificuldades para acalmar os aliados mais assanhados e desejosos de cometer pequenas traições. Não está nem mesmo em jogo, a não ser por uma incerta "nova bomba", a permanência de Palocci, ao lado da presidente no palácio do Planalto. Todavia, não significa que, na contabilidade política, o episódio tenha sido neutro. No balanço de lucros e perdas, os prejuízos políticos foram elevados. Alguns, irrecuperáveis. O esgarçamento político Palocci ficou com o flanco exposto, perdeu a condição de coordenador "crível" das relações políticas do governo com o Congresso, com os partidos e com alguns setores da sociedade, à parte os empresários, que sempre souberam com quem estão tratando e não se importam com alguns "detalhes" no modus operandi de seus interlocutores. Na sociedade, voltaram os questionamentos éticos. Guardadas as devidas proporções, o episódio Palocci se assemelha ao mensalão do Lula, quando o ex-presidente passou por seu piores momentos políticos, chegando mesmo na ocasião a pensar em desistir da reeleição para evitar o pior. Salvou-se pela condescendência da oposição, pela boa conjuntura econômica e pelo seu extraordinário instinto político. Não fosse isso, Lula teria ficado refém dos partidos e do Congresso. De certo modo, ficou, tendo de ceder muito aos aliados, entregando-se ao PMDB o que recusara no início do mandato. Dilma não é Lula Dilma, pessoalmente, não tem os mesmos trunfos, e terá então de se desdobrar para não cair nas malhas dos ávidos aliados. A votação do Código Florestal, prevista para hoje, e o que anteceder e suceder à votação, dará os primeiros sinais do tamanho do estrago político causado pelos negócios de Palocci. O anteparo pode ser Lula, calado de público, porém ativo nos bastidores para blindar Palocci e o governo. Aí surge o fantasma da dependência da criatura face ao criador, tão comentado durante a campanha eleitoral e nunca totalmente exorcizado. Regras três O PMDB está encantado com a possibilidade de o vice-presidente da República, Michel Temer, vir a substituir o combalido Palocci como articulador político do governo no Congresso, com os partidos e até com a sociedade. Palocci, frágil, ficaria apenas com as tarefas internas, burocráticas do governo. Na realidade, esta missão para o vice é mais um desejo dos peemedebistas do que uma possibilidade de fato. Ela causa urticárias em todo o corpo do PT e em diversos outros aliados. O lobo tem pele de cordeiro e uma bocarra imensa. Eles vão bem, brigados Está tudo certo para a convenção do PSDB no fim de semana : ou seja, nada está acertado. O senador Aécio Neves, com o sorriso de quem é sempre muito cordato, fechou as portas nacionais para o grupo de José Serra, ao menos para disputar um cargo de maior relevância no partido. A presidência, que Serra um dia cogitou para ele próprio ou para alguém de seu grupo, vai continuar com Sérgio Guerra, de quem o ex-governador paulista tem queixas desde a campanha presidencial do ano passado. Aécio não abre mão de manter o mineiro Rodrigo de Castro, de seu grupo, na estratégica secretaria-geral, lugar em que Serra pensou instalar seu vice no Palácio dos Bandeirantes, Alberto Goldman. O mineiro, por interpostos terceiros, patrocina o ex-senador na direção do Instituto Teotônio Vilela, vaga que, por gratidão, Geraldo Alckmin sugeriu que fosse entregue a Serra. Alckmin e Serra O próprio Alckmin, embora tenha lançado Serra para o ITV, não dá murros na mesa para emplacar seu sucessor, faz apenas um gesto de boa vontade. O governador paulista tem seu próprio jogo, que não bate necessariamente nem com o de Serra nem com o de Aécio. O senador das Alterosas bate suas asas também em direção a outras siglas, com o PSB e o PDT. Ninguém tem dúvidas sobre as digitais de Serra no PSD de Gilberto Kassab. E Alckmin firma fidelidades abrindo o governo paulista para outras legendas, até o PP de Paulo Maluf. E FHC ? Fernando Henrique Cardoso, cuja liderança no partido é incontestável e que poderia celebrar uma pax tucana mesmo que um pouco precária, prefere agir institucionalmente, sem meter a mão na cumbuca do varejo partidário. Não será ainda desta vez que o PSDB conseguirá um mínimo de unidade para liderar a oposição no Congresso e para se preparar para as eleições municipais de 2012. No tucanato, vão todos muito bem, brigados. Radar NA REAL   20/5/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4045 alta alta - REAL 1,6358 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 62.596,56 baixa estável/alta - S&P 500 1.333,27 estável/alta alta - NASDAQ 2.803,32 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável No dos outros é refresco O governo Federal quer concentrar a primeira etapa de sua reforma tributária no ICMS, um imposto que não é dele, mas dos governadores. Para reduzir o tributo e torná-lo mais racional, aceita até criar um fundo de compensação para os Estados que vierem a perder receitas. Os governadores aceitam, mas se a compensação for real, como, por exemplo, com a redução dos encargos da dívida estadual rolada por Brasília. Somente nos três primeiros meses do ano eles pagaram mais 30% de juros sobre ela em relação ao ano anterior. Não aceitam promessas, escaldados nas dificuldades para o ressarcimento da isenção do ICMS da Lei Kandir. Resumo da ópera : enterrem a reforma antes mesmo de ser proposta. Dinheiro é que é bom... Clésio Andrade, senador governista mas também ligado a Aécio Neves, apresentou proposta de reforma constitucional aumentando de 22,5% para 26% o repasse do governo Federal para o Fundo de Participação dos Municípios. É este o tom da reforma tributária que governadores e prefeitos querem. E o único que o governo Federal não quer. Eles só chegarão a um acordo se ninguém perder nada e, se possível, todos ganharem um pouquinho que seja. Assim, só o contribuinte é quem perde... Nos olhos dos outros A Fiesp apresentou há dias sua receita de reforma tributária, com foco na desoneração das atividades industriais. Muito justo, uma vez que a carga de impostos é mesmo pesada e não incentiva a produção. Porém, transfere o ônus para os bancos, comércio, serviços, etc. Assim, não cola. Nem o PT deixa Nas propostas de mudanças que o governo apresentou para convencer a sociedade de que vai fazer para valer um ajuste permanente nas contas públicas está a sugestão de limitar os aumentos dos gastos com pessoal anualmente à variação de inflação mais 2,5%. Uma sugestão idêntica foi apresentada no Senado, quando da discussão da derrotada prorrogação da CPMF, limitada à alíquota de 1,5%, que não chegou nem a ser analisada dada a reação dos aliados, PMDB à frente. Agora, outra PEC idêntica recebeu parecer contrário do deputado petista do RS, Pepe Vargas. O PT, que de tolo não tem nada, não vai querer brigar com uma das suas melhores e mais atuantes clientelas eleitorais. Coisas do Brasil - 1 Somente para lembrar : os medicamentos de consumo humano no país têm uma incidência tributária superior, em média, à dos insumos agrícolas, rações e medicamentos e uso animal. Coisas do Brasil - 2 A "churrascaria" BNDES vai de vento em popa : o banco estatal já se tornou o maior acionista individual da JBS Friboi. Desaceleração da atividade é evidente Há quem acredite que a economia brasileira ainda não entrou em processo de desaceleração o que justificaria mais freios via taxa de juros. Os dados do comércio em particular, do crédito e do consumo, em geral, dão evidências de que a desaceleração está em curso e é significativa. Apenas não chegou à indústria em alguns casos e a setores que comercializam commodities. O problema é outro A questão da desaceleração da atividade é que esta vem sem que o setor público tenha reduzido a sua demanda. Leia-se : as medidas de contenção dos gastos públicos não saíram do papel. Portanto, em alguns meses, ficará claro que a economia perderá sua dinâmica de crescimento na medida em que a produtividade caíra. Lembrando que : produtividade é igual a potencial de crescimento futuro. Assédio no FMI As ansiedades em relação à substituição de Dominique Strauss-Kahn, no FMI, são gigantescas e passam pelo jogo interno da política francesa. Não à toa, Christine Lagarde está sendo indicada e é a candidata mais forte : é parte da aliança governista conservadora liderada por Nicolas Sarkozy. Todavia, há uma importante questão : Lagarde é dura crítica da especulação financeira mundial. Talvez a vida dos especuladores fique mais arriscada, pois sob a batuta do "socialista" Strauss-Kahn a coisa continuava frouxa. Efeitos sobre a Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda, Itália, etc. e tal A pequena, endividada e belíssima Grécia não está com muita sorte ultimamente. Entre as especulações em relação à reestruturação de sua dívida, o diretor-gerente do FMI foi pego no exercício de seus arroubos libidinosos. Todavia, caso Christine Lagarde seja guindada ao posto máximo do FMI, a Grécia poderá analisar concretamente as condições de reestruturação de sua dívida. Lagarde é mais favorável a "uma saída de mercado" para a situação dos países endividados da Europa. Isso deve ser lido como algo favorável à reestruturação. Assim, quem poderia perder seriam os especuladores que teriam de engolir prejuízos pelas irresponsabilidades que cometeram somadas as dos governos destes países. Espanha, um alerta ? É equivocada demais, simplista em excesso, a interpretação de que a esquerda perdeu as eleições regionais de domingo, na Espanha. Perdeu "o governo de plantão", por acaso comandado pelo Partido Socialista. Se fosse o inverso teria perdido a direita. O eleitor espanhol deste domingo se chama "crise econômica", desemprego de mais de 20%. Nova bolha Experientes analistas de mercado estão comparando indicadores das crises anteriores com dados sobre as variações de preços no mercado de commodities. Não são poucas as semelhanças com as bolhas do mercado de ações "tecnológicas" (1999) e imobiliária (toda a década dos anos 2000). A fluidez dos recursos, somada à frouxidão monetária nos países centrais, está produzindo uma bolha cujo diâmetro é desconhecido. Não resta dúvida de que se trata de uma "bolha". Resta saber se explode logo. ____________
terça-feira, 17 de maio de 2011

Política & Economia NA REAL n° 152

Brasília, temor e insatisfação O estilo público da presidente Dilma tem sido muito elogiado, já quase em prosa e verso. O estilo privado, de "gestão de pessoas" e de abordagem política, nem tanto. Comenta-se na capital, em tom de queixa e revolta, a aspereza no trato com auxiliares, um certo fastio com a operação da política dos políticos e a demora no atendimento dos pleitos partidários. Diz-se que há uma certa soberba e arrogância pairando no Planalto, disfarçada nos eventos públicos. Foi por conta desse caldo de cultura que o governo esteve a minutos de sofrer sua primeira fervorosa derrota no Congresso, mais especificamente na Câmara, na votação do novo Código Florestal. Do PMDB ao PT, passando pelos aliados menos votados, havia uma disposição na noite de quarta-feira, quase madrugada de quinta-feira, de se votar contra as posições defendidas pelo governo. Bons contabilistas das coisas do Legislativo asseguram que a proposição mais ao agrado dos ruralistas do que dos ambientalistas teria cerca de 400 votos num total de 513. Velhas raposas dizem que, se o governo não ficar mais "simpático" a mesa pode começar a mudar. (Entenda-se por simpatia : nomear mais rapidamente os segundo e terceiros escalões, soltar mais verbas das emendas dos parlamentares e para os prefeitos e afagar deputados e senadores com gestos de carinho, recebendo mais, conversando mais com eles). O temor das broncas, para completar, geram, naturalmente, o temor de avançar decisões, de tomar a iniciativa sem consultar os oráculos nas mínimas coisas. Só blábláblá, não De uma experiente alma política, da base aliada : "O governo pensa que é espertinho demais e que leva a gente aqui somente no lero-lero. Ele está arriscado a sentir logo que aliado insatisfeito é muito pior do esta oposição mambembe que está aí". Estratégia de risco Os operadores políticos do governo acreditam ter descoberto a forma para pressionar os ruralistas a apressar a votação do Código Florestal, aceitando as mudanças que os ambientalistas ainda querem fazer no relatório do deputado Aldo Rebelo, tido como excessivamente antiambiental - é que em 11 de junho termina a moratória para desmatadores concedida pelo presidente Lula. Daí em diante, quem está fora da lei fica sujeita a multas diárias, cuja repetição pode tornar os ônus para os proprietários. É fato. Mas é preciso saber se o governo terá força (ou determinação, ou coragem) para valer para punir quase 4 milhões de propriedades nessas condições, boa parte das quais trabalhadas por pequenos e microprodutores É ameaça para não cumprir porque poderia criar um problema social e político de alta combustão. O governo está condenado a buscar um acordo rapidamente por um texto de algum consenso no Código Florestal ou então a prorrogar por mais um tempo a anistia a quem desmatou fora das regras. Em ritmo de valsa As divergências entre os partidos políticos na luta pela distribuição dos cargos Federais em Brasília e nos Estados, somada à disposição da própria presidente Dilma de tratar a questão com parcimônia e em câmera lenta, além de gerar insatisfações entre os parceiros, até no obediente PT, está provocando paralisações e até uma certa anomia em vários ministérios e órgãos oficiais. Há ministros que não conseguiram nomear até agora seus preferidos para áreas vitais de suas pastas, órgãos com interinos, órgãos comandados por pessoas que não sabem se vão continuar. Há casos de escolhidos para postos chaves que começaram a trabalhar sem a nomeação oficial, com mesa e cadeira na Esplanada dos Ministérios, e, depois de um bom período de atividade tiveram que sair porque o governo precisava do posto para outra composição política. Ainda há gente nesta situação desde janeiro. E Brasília assiste ainda, como na semana passada, a duas ou três posses importantes, com o governo às vésperas de entrar em seu sexto mês. A situação só é mais tranquila nas áreas em que houve uma continuidade e naquelas nas quais o novo ministro optou por manter a equipe passada. E não se trata apenas de ministérios de peso secundário. De fato, o fenômeno se dá em áreas ditas prioritárias. Na Saúde, por exemplo, somente nos últimos dez dias definiu-se os titulares da Anvisa e da Funasa. O que gera uma certa lentidão, quando não paralisa nas decisões desses organismos. Quem se sabe interino ou não tem certeza de que vai ficar por mais tempo, decide o menos possível, apenas toca o barco. Tudo bem aqui fora Em compensação, ao contrário do mundo político, que começou o governo com entusiasmo elevado e agora já está de crista baixa, no mundo real da economia e da sociedade, depois dos meses iniciais de desconfiança, o governo começa a ultrapassar o ceticismo vigente. Aumenta o número de agentes econômicos e formadores de preço que passaram a acreditar que a estratégia traçada para a política econômica, de combate gradual à inflação para não comprometer excessivamente o crescimento econômico, tem possibilidades de ser bem sucedida. Os dois próximos meses podem ser decisivos nesta retomada da confiança, a partir dos números da inflação, do desempenho real das contas públicas, da capacidade que o governo demonstrar de que vai continuar toureando as pressões políticas, e do desempenho da economia externa; esta última variável a grande incógnita do momento. Hora imprópria Por falar em economia mundial, tudo que não se queria agora é uma complicação no FMI, como a gerada por essa história do seu diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn. Os mercados ontem já refletiram negativamente a confusão, num momento em que a Europa volta a pisar em ovos e esperava do Fundo um anteparo para valer. Pode ficar tudo paralisado e incerto, ainda mais que já se abriu uma disputa perigosa pela vaga de Kahn. "Conosco ninguém podemos" No idos aos anos 1960, o escritor Sérgio Porto, na pele do seu alter ego Stanislaw Ponte Preta, o criador do Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o país), dando vazas a sua veia musical, compôs uma música que intitulou "O samba do crioulo doido". (Nome hoje politicamente incorreto. Deveria se chamar : "Samba do afro descendente com deficiência mental"). Stanislaw contava a história de uma sambista que, depois de anos chamado a compor sambas de enredo para sua escola de samba, com temas e personagens da história do Brasil, posto diante do desafio de falar da "atual conjuntura" delirou de vez, e entre outras sandices cantou o casamento de Tiradentes com a Princesa Leopoldina, lembrou a "proclamação de escravidão" e por aí afora. Um sucesso de bom humor, sem consequências. Pois foi este espírito do sambista inventado pelo criador do Febeapá (nada mais significativo aliás) que baixou nos autores de um livro, aprovado oficialmente, sobre Língua Portuguesa, que está sendo distribuído nas escolas públicas nacionais. O livro, em resumo, considera que falar (e escrever) sofra dos padrões da norma culta (não a norma complicada, a mais simples, mas gramaticalmente perfeita) não é errado, pode ser apenas inadequado. Assim, valem, por exemplo : "Nós pega o peixe" - "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado" E outras sandices. Ou seriam asnices? A obra faz parte do Programa Nacional do Livro Didático. Com tais conceitos, dá aval ao lema de um bloco carnavalesco no interior de Minas : "Conosco ninguém podemos". E torna norma culta um velho linguajar de alguns futebolistas menos letrados : "A gente faremos tudo para vencer nossos adversário". O Ministério da Educação andou um tanto fora do ar após seguidas trapalhadas no Enem. Mas voltou com tudo, no melhor estilo do Lalau Ponte Preta do Febeapá. Ao contrário do que diz certo jargão, nem toda ignorância é santa, nem inocente, pois manter as pessoas ignorantes e mal informadas é mantê-las atreladas à pobreza e fáceis presas do clientelismo político. Crer para ver Tucanos têm espalhado que chegaram a um acordo entre suas diversas correntes não só em São Paulo, entre os grupos de Alckmin e Serra. Como também nacionalmente, entre Aécio e Serra. São Tomé está a postos para conferir. Ver para crer A cúpula do PMDB, de público, garante que o partido está satisfeito com o desenrolar do governo. Parece que faltou combinar com as bases. ____________
terça-feira, 10 de maio de 2011

Política & Economia NA REAL n° 151

Mudança de tendência Não são poucos os sinais de que o Brasil pode deixar de ser um mercado predileto dos investidores internacionais. Estamos nos referindo especificamente ao mercado de renda fixa e ao de ações. No caso de renda fixa, as recentes medidas governamentais, com vistas a reduzir a entrada de dólares, estão surtindo efeito. Além disso, há certos temores em relação à inflação, o que pode conter certas operações pré-fixadas (ou seja, com a taxa de juros fixa até o vencimento da operação). Do lado da renda variável, começa a se formar um consenso de que o Brasil "bateu no teto de crescimento". Este segundo segmento de mercado reflete com maior ênfase o sentimento doméstico de que os investimentos permanecem baixos frente às necessidades do país e, sem eles, o que resta é ver o consumo privado reduzido. Afinal, o consumo do governo permanece alto e pouco produtivo. Assim sendo... Estamos mudando as nossas recomendações (médio e curto prazo) em relação à bolsa de valores local. Mesmo com um ambiente externo relativamente tranquilo, nos EUA e na Europa (apesar da precária situação de crédito de Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália), o mercado acionário brasileiro deverá experimentar um período relativamente longo de baixa. Note-se que também há um bom volume de operações de colocações de ações (emissões primárias ou IPOs e secundárias) que podem pressionar os preços para baixo. O câmbio Não estamos mudando a nossa recomendação no tocante à relação entre o dólar/euro e o real. Todavia, alertamos nossos leitores : não é ocasião de ficar vendido no câmbio. É hora de zerar posições. O real pode se desvalorizar nos próximos meses e, com isso, trará ainda mais riscos para a estabilidade da inflação. O atual governo, como o anterior, imitam a estratégia de FHC e estão utilizando o dólar baixo como estratégia de contenção da alta de preços doméstica via competição dos importados. Uma estratégia que conspira contra a industrialização no longo prazo do país. Portanto, para o câmbio vale um sinal de atenção, redobrado. Pedido cândido demais Alexandre Tombini parece exercer o papel de "bonzinho" na equipe econômica. Suas intervenções verbais têm carecido de determinação e firmeza o que faz ficar muito mais perceptível a ausência de independência operacional do BC. Seu pedido para que os distintos consumidores adiem compras soa desconexo com qualquer preceito de teoria econômica que leve em consideração a racionalidade dos agentes econômicos. Por que alguém, com capacidade de consumo, atenderia às palavras do presidente do BC ? Realmente... PAC, esquecido ? Muito se comenta sobre o viés "gerencial" da presidente Rousseff. Todavia, sabemos que, num governo, as variáveis que recaem sobre a qualidade da gestão são inúmeras. Licitações, fiscalização, liberação de verbas, disponibilidade de recursos humanos e financeiros são apenas alguns dos fatores a influenciar a viabilização de uma boa gestão dos investimentos públicos. O que se vê, porém, é que há pouca sensibilidade dos agentes econômicos às palavras do governo. Muitos empresários interessados em investir no país permanecem cochichando sobre a inoperância do governo e a falta de credibilidade dos planos governamentais. Estão incluídos no rol dos descrentes os investidores estrangeiros dos setores de bens de capital e equipamentos. Suas perguntas iniciais a seus assessores locais dizem respeito à credibilidade dos planos dos governos (de todos os níveis, não apenas o Federal) e sobre a existência de corrupção. Não é um bom início de conversa. Dilma e a reforma ministerial A presidente Dilma, ao ver tanta passividade em relação aos investimentos, deve estar pensando diuturnamente sobre quando poderá trocar alguns membros de sua equipe ministerial. Sabe-se que o tema atrai a atenção das forças políticas que suportam sua administração, mas as conveniências políticas estão dando lugar às preocupações gerenciais. Afinal, daqui a quatro anos os eleitores sancionarão nas urnas suas opiniões sobre o andamento do governo. Até lá, atenção redobrada nas pesquisas de opinião sobre o governo. Na próxima, a avaliação do governo já deve piorar. Radar NA REAL 6/5/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4336 estável alta - REAL 1,6168 estável estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 64.417,30 baixa baixa - S&P 500 1.340,20 estável/alta alta - NASDAQ 2.826,59 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Os minuetos de Aécio O senador Aécio Neves trombou feio com um bafômetro há alguns dias no RJ, colisão que ainda vai lhe trazer aborrecimentos na trajetória que traçou para chegar ao Planalto, se possível logo em 2014. Tropeções juvenis à parte, o ex-governador mineiro, bem ao estilo herdado do avô e obediente ao modo de fazer política de sua gente, tem dado alguns passos que estão deixando desnorteados seus companheiros de oposição e seus adversários governistas. Dá sinais de que se aproxima, por exemplo, do PSD e ao mesmo tempo critica a iniciativa de Gilberto Kassab. Acende velas ao governo Dilma e, em seguida, critica a condução do combate à inflação e mais pesadamente lança torpedos para a presidente no Congresso (ver nota abaixo). Admite se entender com Serra e Alckmin e trabalha para minar a liderança dos dois nomes no PSDB. Ou o neto de Tancredo se revela um exímio bailarino ou pode tropeçar nas próprias pernas. Pedras no caminho Não são poucas nem simples as bombas legislativas que Aécio está montando para a presidente da República e os partidos aliados, algumas para explodir em plena campanha das eleições municipais de 2012, nas quais será jogada uma das preliminares de 2014 : 1. Como relator da PEC do presidente do Senado, José Sarney, para dar ao Senado mais poder para apreciar e votar as MPs, o senador mineiro apresentou um substitutivo mais amplo, cerceando e dificultando as edições de MPs pelo Executivo. Entre outras coisas, elas só passarão a valer depois de analisadas por uma Comissão Especial da Câmara sobre sua viabilidade, urgência e relevância. A Comissão teria três dias para se pronunciar. É tema caro ao Congresso de um modo geral, agastado com o abuso do governo na utilização de MPs. Até a base aliada reclama. 2. Esta semana Aécio deve entregar no Senado um pacote de propostas com vistas a ampliar a autonomia dos municípios, aproveitando-se da marcha dos prefeitos a Brasília a partir de hoje. Entre elas : - compensação aos municípios pelas isenções fiscais (no IR e no IPI) concedidas pelo governo Federal. - transferência da administração das estradas Federais para os Estados, acompanhada da entrega imediata aos governadores dos recursos arrecadados pela Cide. - revisão do pacto Federativo, com os municípios voltando a ter 27,2% da receita tributária, como em 2002, contra os atuais 19,4%. - isenção tributária para as empresas do setor de saneamento básico. - acabar com o contingenciamento das verbas do Fundo Penitenciário e repasse de 70% desses recursos, mensalmente, para os Estados. É agenda que causa urticárias no Planalto e no ministério da Fazenda, mas assanha deputados, senadores, governadores e prefeitos. O vai da valsa do PT Não há comprovação - nem muito fundamento - nas informações de que o deputado Estadual paulista Rui Falcão foi eleito presidente nacional do PT contra a vontade do ex-presidente Lula e da presidente Dilma. Ainda está para nascer quem ouse tanto no atual quadrante. Porém, as informações saídas na imprensa não são de livre e espontânea geração. Também não saíram da desarvorada oposição que, de tão desarranjada, nem condições tem de plantar intrigas políticas. As fontes são internas, o que denota que a insatisfação no PT com o governo não é pequena como se quer fazer crer. Há também ranger de dentes, este mais aberto, contra a volta da "hegemonia" paulista no partido. Os passos doble do PMDB O senador Valdir Raupp, presidente interino do PMDB e líder do partido no Senado, não é de contrariar os donos de seu partido : é ativo e ao mesmo tempo disciplinado. Assim, quando ele disse que o PMDB pode ter candidato a presidente da República em 2014 e citou os nomes de Michel Temer e Sérgio Cabral estava mais do que simplesmente dando uma declaração vazia. Mesmo que depois contraditado por Michel Temer, Raupp deu o recado de seu grupo. O mesmo recado que o PMDB dá ao armar-se, com Gabriel Chalita ou Paulo Skaf para disputar a prefeitura de SP, e ao dizer que terá candidato próprio no ano que vem em quase todos os municípios brasileiros. O PMDB quer apenas dizer ao PT que deve respeitá-lo e não tentar, como alguns peemedebistas farejam, deixá-lo em plano secundário em muitos municípios. Ou até trocá-lo em 2014 na vice-presidência. Já se percebeu que o discurso de Lula de manter acesa a aliança no ano que vem não soa bem para muitos petistas. O silêncio dos não inocentes Está intrigando o silêncio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB, que começou o governo Dilma com a voz toda, articulando para ocupar o espaço do PMDB como o aliado mais fiel da presidente e para ser o preferido numa corrida pela vice em provável recandidatura de Dilma. Algumas decepções com nomeações Federais que não saem a contento e desconfianças com as manobras envolvendo a criação do PSD e com o que estaria sendo armado com os irmãos Gomes emudeceram o neto de Miguel Arraes. Não nos bastidores, porém. Já se vislumbrou que ele, "mineiramente", arma seu bote. ____________
terça-feira, 3 de maio de 2011

Política & Economia NA REAL n° 150

"Cresce a convicção de que a mudança é a nossa única permanência. E a incerteza, a nossa única certeza." Zigmunt Bauman Nossas 150 colunas - Editorial Menos de cinco anos depois de inaugurarmos, no site "Migalhas", esta coluna semanal, cujo objetivo é tentar ajudar seus leitores entenderem o que se passa na política e na economia no Brasil, na "Real", sem o ruído das especulações e dos boatos, com fatos e interpretações buscadas nas fontes e testadas com outras fontes, chegamos à nossa edição número 150. Usando um velho jargão : é um marco ! Não somente porque estamos ainda explorando um novo meio de comunicação onde praticamente todos, aqui e lá fora estão ainda tateando, mas também e principalmente, pela audiência que conquistamos, com mais de 130 mil visitas únicas de cada escrito. E tudo se deve a persistência da direção do "Migalhas" que acreditou que um tema, ou temas, infelizmente ainda de interesse restrito no Brasil, que são a política e a economia, pudesse atrair leitores realmente interessados. Sobretudo, temos a adesão dos leitores. Continuamos acreditando que, sem uma boa política e sem uma boa economia não se fará uma grande nação, democrática e desenvolvida. É o esforço de continuar contribuindo, ainda que modestamente, para o debate pela busca de um país mais justo e mais saudável que nos anima a ir sempre em frente, renovando nossa presença neste espaço a cada manhã de terça-feira e sempre que se justificar uma intervenção extra. É a busca de informação no seu sentido mais amplo, sem subterfúgios e com o ceticismo sadio que nos faz desacreditar de tudo para constatar o que é "Real". Sem "ideologismos" e "partidarismos". Falta uma explicação. Falta ? Aparentemente, está ainda carente de explicações a ausência do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, na reunião do diretório nacional do PT, no fim de semana em Brasília e que elegeu o novo presidente da agremiação e lançou uma resolução com forte cheiro de manifesto político. Mas é só aparência. O ambiente no PT, inclusive entre antigas estrelas do partido, é de insatisfação com o governo. O PT, como disse José Dirceu numa palestra durante a campanha eleitoral do ano passado na Bahia, pensava chegar finalmente ao poder, coisa que os petistas não sentiram plenamente com Lula. Pela continuidade das políticas econômicas nada "petistas" de FHC o "lulismo" foi mais forte que o petismo. Mas Lula atendia o petismo, ainda que perifericamente. E com Dilma ? Com Dilma, está sendo diferente. Ela afaga os companheiros. E embora esteja agradando em parte, pelo quase "cavalo de pau" que está dando na política anti-inflacionária, deixa dúvidas em vários aspectos, como, por exemplo, na guinada da política externa. O PT é governo, diz-se, mas ainda não está no governo. Sinal inequívoco da insatisfação foi dado no documento do diretório onde faltou uma enfática defesa da condução da economia. Ficou-se numa referência genérica : o petismo em ebulição "considera correta a orientação geral" da política econômica. Parece até a "simpatia" que Barack Obama demonstrou pelo desejo do Brasil de ter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Os nós políticos da presidente Dilma ainda estão todos do seu lado. O pêndulo do poder O discurso do ministro Palocci no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, indica sem muita suavidade para onde pender o pêndulo do poder quando a presidente Dilma solta, espontaneamente e deliberadamente, as rédeas do governo. A maior desenvoltura do discreto ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel também. O resto é "coadjuvância", mesmo como bem falante. A oposição engasga O ex-presidente Fernando Henrique (em artigo nos jornais "O Globo" e "O Estado de S. Paulo") e o senador Aécio Neves (em discurso na festa do Dia do Trabalho da Força Sindical) fizeram um ensaio para a oposição "pegar no tranco", atracando o que o ex-governador mineiro considera condescendência com a inflação. Ainda pregam no deserto, embora o tema já assuste até aliados do governo. DEM, PPS e PSDB ainda vão arder muito na fogueira de suas vaidades e ambições antes de virem à tona. Falta um líder ao grupo. Quem tem muitos líderes não tem nenhum. É por isso que o PT, mesmo com algumas mágoas, está se apegando mais e mais a Lula. Sem ele, pode também arder. Por essas e outras, mesmo não querendo de fato, o ex-presidente FHC talvez seja forçado a aceitar o desafio de presidir o PSDB, para juntar o partido e amalgamar a oposição. A opção é a extinção ou a irrelevância via urnas. Clima apenas amenizado A meia volta dada pelo STF em decisões anteriores sobre a posse de deputados suplentes, privilegiando o suplente da coligação, em detrimento do substituto do partido, amenizou temporariamente o ambiente de beligerância existente entre Judiciário e Legislativo. Deputados e senadores ainda não desistiram de botar freios no que no Congresso se classifica de "ativismo" político e eleitoral dos tribunais. A Câmara dos Deputados, por exemplo, prepara projetos para diminuir a intervenção do Judiciário nas atividades do Legislativo : um impede o STF de alterar a interpretação de emendas constitucionais. Uma reforma sem reforma ? Não custa anotar : se tivermos reforma política, por mínima que seja, será marcada simplesmente pelo interesse direto dos políticos e dos partidos. Fim das coligações partidárias em eleições proporcionais ? Não. Voto facultativo ? Não. Regras e punições mais rígidas para "caixa 2" e "financiamentos irregulares" ? Não. Fim das contribuições eleitorais reservadas ? Não. Mas sim ao financiamento público de campanha, a uma fidelidade partidária menos fiel. O ex-secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, que sabe das coisas, pois já foi homem dos cofres públicos, escrevendo sobre a tal reforma, foi no alvo : "Ainda que possa parecer utópico, a reforma política deveria reservar atenção para o processo orçamentário, a profissionalização da administração pública e a limitação do foro privilegiado e das medidas provisórias". O mais, como diria Millôr Fernandes, é armazém de secos e molhados. Radar NA REAL 29/4/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4845 alta alta - REAL 1,5788 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 66.132,89 baixa estável/alta - S&P 500 1.363,61 estável/alta alta - NASDAQ 2.873,54 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A voz do mercado Não temos especial predileção pelos dados e informações da pesquisa Focus do BC com os agentes do mercado. Trata-se de uma pesquisa que tem uma autocorrelação substantiva. Ao mesmo tempo que forma expectativas, as reproduz. Todavia, os resultados mostram que as incongruências no médio e longo prazo da política econômica governamental estão em larga medidas naquela pesquisa : o Brasil está se mostrando negligente em relação à inflação (projeção próxima de 6,5% para 2011), com crescente déficit externo (conta corrente negativa em US$ 60 bi), com crescimento muito inferior à China e Índia (menos de 50% do crescimento destes, 4%) e com uma taxa de investimento em relação ao PIB que mostra a fragilidade governamental neste item. O mercado nem sempre está certo - há muitas projeções descabidas. Todavia, devemos reconhecer que a política econômica carece de coerência para que o país seja realmente um emergente de porte. A economia e o Planalto Notaram os nossos leitores que o ministro Mantega saiu do noticiário ? Nada é ocasional. Sabe o ministro que ali na Praça dos Três Poderes, mais exatamente no Palácio do Planalto, há raposas que estão sempre prontas para ler o clipping diário fornecido pela área de comunicação governamental e assinalar as falhas do ministro em relação a sua gestão. Será que o ex-presidente Lula andou aconselhando o ministro a colocar "as barbas de molho" ? O problema é que o ministro não tem barba. Já no Planalto, há barbudinhos prontos para agir. Ben Bernanke , política econômica e eleições As últimas declarações do presidente do FED tentam dar uma visão estratégica em relação à saída da política econômica "emergencial" (desde 2008) para a "normal". O problema é que quando se confronta o que diz o chefão da política monetária com os dados o que se vê não é nada consistente : (i) como reduzir o déficit se a economia ainda patina ? A economia está ainda recebendo estímulos na veia e, se isso se reduzir muito a atividade econômica volta a patinar; (ii) Obama e as autoridades americanas mantiveram intactas as estruturas que levaram à crise atual. Assim sendo, o ambiente altamente especulativo persiste e, assim, mina as bases para a sustentação sadia da economia. Enquanto isso, tanto Obama como seus oponentes estão ficando embebedados com a chegada prematura da corrida presidencial à cena política. Tudo muito vazio. E cedo. Barack Bush Quem assistiu so discurso do presidente Obama na noite deste domingo para anunciar oficialmente a morte de Bin Laden pensou estar ouvindo George W. Bush pós-2001. Esta retórica de que "a segurança dos EUA está acima de qualquer interesse" parece muito distante de "Yes we can". Eleições criam mais caricaturas que histórias em quadrinhos... Google e J&J lideram ranking de imagem Pesquisa conduzida pela consultoria Harris Interactive com 30 mil pessoas (de diversos segmentos) que podiam votar em 60 companhias durante os dias 30 de dezembro do ano passado e 22 de fevereiro deste ano, confirmou a liderança em termos de imagem do Google. A Johnson & Johnson foi a segunda colocada, seguida de 3M, Berkshire (empresa liderada por Warren Buffett) e Apple. O interessante desta pesquisa é que há significativa conexão entre a imagem das marcas e o desempenho financeiro e operacional das empresas. Os bancos, por exemplo, altamente afetados pela crise estão mal posicionados na pesquisa (últimos lugares) a despeito de se tratarem de marcas muito conhecidas. IPOs no Brasil Há uma coleção enorme de empresas cujo capital está parcialmente nas mãos de fundos de private equity e que ambicionam ter as cotações de suas ações nas bolsas, um movimento de "reciclagem" de capital entre os investidores em geral e os "especializados", no caso os fundos private equity. O que se tem verificado é que os preços propostos pelos bancos intermediários estão aquém daquilo que os fundos imaginavam obter. Este é um sinal de que, por enquanto, a demanda adicional por ações está contida. Neste sentido, as notícias de baixo crescimento da economia brasileira é uma péssima notícia para o setor. ____________
terça-feira, 26 de abril de 2011

Política & Economia NA REAL n° 149

Os desafios reais da presidente Dilma No campo da política, o Palácio do Planalto não tem de se preocupar com a atribulada e complicada oposição (v. nota abaixo). Sua luta é com seus próprios partidários, muitos ainda insatisfeitos com a divisão do bolo dos cargos (nesta lista entram até algumas alas do petismo) e todos, praticamente sem exceções, desacorçoados com os cortes nas emendas parlamentares. Esta semana a presidente Dilma terá de dizer como vai ficar o decreto do presidente Lula, suspendendo os restos a pagar de 2007, 2008 e 2009 que não tiverem sido executados. Prefeitos, deputados e senadores estão unidos na luta pelo cancelamento do cancelamento. Se não fizer um agrado a esse grupo, a paz política de Dilma vai começar a esmaecer. E sem a contribuição do PSDB, do DEM e do PPS. É a economia Já no terreno econômico há pântanos a serem enxugados : os agentes formadores de preço ainda não estão totalmente convencidos de que o gradualismo adotado na política anti-inflacionária é o melhor remédio para a luta contra a ameaça de carestia. Não se confia na política fiscal (corte efetivo de despesas em vez de sustentar o superávit primário no aumento da receita). Nem se tem tanta certeza de que as medidas "macroprudenciais" adotadas até agora terão os efeitos e o alcance imaginado pelo BC. A própria independência do novo BC tem sido posta em dúvida aqui e acolá. Por fim, há a confusão do câmbio, pesadelo das indústrias nacionais. O novo aumento dos juros Escrevemos na semana passada em relação à decisão do COPOM : "subir 0,25% ou 0,5% será o indicador do esforço que o governo está disposto a incorrer". Pois bem : a elevação de 0,25% indica que o governo (e não mais apenas o BC) está apostando no gradualismo da política monetária. De fato, um governo não precisa fazer o que o "mercado" está a projetar, ou sugerir, ou pressionar. Todavia, a questão aqui é outra : o fato é que a inflação está efetivamente se "espalhando" na economia brasileira e não há nenhuma barreira relevante, fiscal e/ou monetária, para evitar que a inflação futura seja menor que a atual. Ademais, há mecanismos de indexação desde as tarifas de serviços públicos até a caderneta de poupança. Este é o maior risco, não necessariamente a aposta "contra o mercado". O governo errou o momento e a forma de "peitar" os agentes do mercado financeiro. A aposta do mercado Apenas para registrar : a pesquisa Focus do BC, que coleta nas instituições financeiras dados projetados sobre contas públicas, atividade e inflação, continua registrando que a atividade cai, o déficit público não sofrerá e a inflação sobe - esta já bate em 6,34% para este ano. É a infraestrutura O poço mais fundo que Dilma deve saltar, no entanto, está na área de obras e de oferta de bens e serviços de infraestrutura. A lista é longa e exige início imediato de ações : 1. O problema do preço e da garantia de abastecimento de álcool e gasolina, cujo consumo está subindo exponencialmente e, em pouco tempo e no mesmo ritmo, poderá não ser totalmente atendido pela produção local. A Petrobras e os produtores de álcool já tiveram de fazer algumas importações. 2. A questão de energia elétrica, com atrasos em projetos que podem levar a apagões temporários mais constantes em algumas regiões. A Aneel considerou a situação preocupante principalmente no Norte e está cobrando providências das companhias. E a Petrobras vai entrar com mais força no campo das termoelétricas. 3. Há um abarrotamento visível de portos e aeroportos. Com ou sem Copa, com ou sem Olimpíadas, esses últimos já chegaram ao limite, sem que se tenha uma solução desenhada, seja com recursos públicos, seja com concessões privadas. 4. O Plano Nacional de Banda Larga, de adiamento em adiamento, não saiu ainda do papel. A reativação de Telebrás só trouxe até agora despesas e empregos. O remédio vai ser apelar para as operadoras de telefonia privada, antes consideradas dispensáveis no PNBL. Mas os entendimentos estão complicados. A meta de atender mais de mil cidades este ano com internet de alta velocidade a R$ 35 já está fora de propósito. Reduzir esse preço para R$ 29 (ainda alto para um país com a renda do Brasil), como quer a presidente, depende dos governadores aceitarem abrir mão do ICMS. E nem todos querem perder receita, ainda mais que eles sabem que a banda larga tira tráfego da telefonia comum. Radar NA REAL 22/4/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4575 estável alta - REAL 1,5720 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 67.795,90 estável/baixa estável/alta - S&P 500 1.337,38 estável/alta alta - NASDAQ 67.058,04 estável/alta alta(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Em nome de quem ? Dúvida assola o mundo político : quem será o patrono do PSD - Serra ou Palocci ? Serra por causa do silêncio obsequioso com que tem acompanhado o esvaziamento do DEM e até do PSDB paulistano e porque seus aliados no DEM paulista estão migrando para o partido de Gilberto Kassab. E Palocci pela contribuição desinteressada dada ao nascimento do novo partido. A voz do dono O presidente oficial do PT, cargo atualmente ocupado por José Eduardo Dutra, é função para cerimônias e os trabalhos burocráticos. Dão as cartas mesmo no partido, de fato, Lula e José Dirceu. Sem eles o PT não acontece, sem o aval deles nada acontece. Realidade ou farsa O vice-presidente Michel Temer anunciou a ida do deputado Gabriel Chalita para o PMDB e sua provável escalação como candidato peemedebista à prefeitura paulistana. Como existe uma coisa (incômoda para os partidos e para os políticos) chamada fidelidade partidária, ou Temer, que é jurista de respeito, achou uma brecha para livrar o filósofo, escritor e professor Chalita desta camisa de força ou então espera que a mini (e olhe que mini!) reforma política em gestação em Brasília vai dar uma fórmula para abrir as porteiras partidárias. Como cegos em tiroteio A oposição não sabe como se defender dos ataques do PSD de Kassab. Ainda não descobriu como se opor ao governo Dilma. Não sabe se dá forças a Aécio Neves ou insiste mais uma vez com José Serra. A pouco mais de um mês de sua convenção, o PSDB não sabe como formar seu novo diretório nacional. O DEM desmilingue-se em plena praça pública. O PPS é o único que procura preservar sua unidade, punindo como pode os infiéis - já expulsou militantes em vários Estados. Mas tem pouca força, e quase nenhuma voz. Sem mudanças profundas Se entendermos por reformas estruturais mudanças amplas nos sistemas e modelos vigentes, podemos dar adeus definitivo à reforma política, à reforma tributária, à reforma previdenciária ou qualquer outra. Poderemos ter, no máximo, algumas alterações pontuais. Não é do interesse do governo mexer nesses vespeiros. Nem dos partidos. A política... Deve ficar restrita ao financiamento público de campanha, a uma liberalização da fidelidade partidária e a alguns penduricalhos, tipo data da posse nos executivos, de nenhuma importância. Até a proibição das coligações partidárias nas eleições proporcionais, dada em algum momento como certa, perdeu força e foi para o limbo : o PT não quer e os partidos pequenos também não. A tributária... O grande nó que o governo Federal e os empresários gostariam de desatar é a complicação do ICMS, o imposto mais confuso do país. Mas os governadores não aceitam as propostas postas na mesa e sem eles não se sai do lugar. A desoneração da folha de pagamento, a redução da contribuição previdenciária, prometida por Dilma durante a campanha e reiterada no início da gestão, esbarra nos cofres do Tesouro. Terá de ser compensada por outra receita, e aí é trocar seis por meia dúzia - o custo tributário para as empresas continuará o mesmo. Além do mais, com a arrecadação Federal crescendo como cresceu nos três primeiros meses do ano - 12% em termos reais - não é de bom tom tocar no que está dando certo. A previdenciária Esta morre nas resistências dos sindicalistas e dos servidores públicos. Ouro, commodities, vídeo tapes Quanto mais lemos e pesquisamos sobre as razões para a alta dos metais preciosos e das commodities, maiores são as chances de acreditarmos que existe uma "bolha" neste segmento. São muitas as alegações para a alta das cotações, a maioria justificada, mas o nível de preços atual projeta um cenário que teria que combinar hiperinflação (para justificar os preços dos metais) com atividade em alta (para justificar os preços das commodities). Sinceramente... ____________