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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 19 de abril de 2011

Política & Economia NA REAL n° 148

A inflação não vale a missa do crescimento A presidente Dilma tem repetido continuadamente, apenas com palavras diferentes, que não "tergiversará" com a inflação. Porém, há tantos limites para esta não "tergiversação" : 1. Os juros não podem subir com fervor 2. A economia não pode afundar abaixo dos 4,5%, 5% 3. Os cortes nos gastos públicos não devem atingir investimentos, PACs e programas sociais Se assim for a decisão da presidente, o governo terá de sacar com frequência medidas "macroprudenciais" cada vez mais criativas para segurar o assanhamento dos preços. Estamos de fato diante de uma nova (velha) economia. O economista Pérsio Arida, um dos idealizadores do Real, diz que pode dar certo. Mas e se não der... O curto circuito do BC O atual presidente do BC, Alexandre Tombini, não colabora para que se possa entender com um mínimo de segurança a estratégia do BC. Antes, se trabalhava com um ajuste na taxa de juros de 0,25%. Depois do que Tombini disse em Washington, passou-se a pensar em 0,5%. E alguém poderia até pensar que a taxa ficará no atual patamar. Autonomia relativa De fato, nem o BC nem o ministério da Fazenda contam com a autonomia que tinham com Lula para elaborar as linhas de política monetária e fiscal. Afinal, Dilma fez economia e estudou pós-graduação com Luciano Coutinho na Unicamp. Na Casa Civil, com contatos diários com a presidente, está Palocci, ex-Fazenda. Há um rol de opiniões em torno de Mantega. Gustavo Franco de novo ? Poucas pessoas têm dúvida : o governo está sustentando boa parte do combate à inflação na crença de que os preços das commodities vão cair e o Real valorizado ajuda a segurar os preços domésticos. A âncora é o câmbio. Igual a FHC em 1999. Nossa opinião No que se refere ao Copom de quarta-feira, o importante é saber qual será a mensagem do BC diante de uma inflação perigosamente alta. Subir 0,25% ou 0,5% será o indicador do esforço que o governo está disposto a incorrer. Daqui para frente, a queda do dólar será menos importante para segurar a inflação. O sistema de preços já contempla o dólar fraco como hipótese básica da formação de custos. Se subir, será um agravante relevante a se somar ao quadro inflacionário. A sensação de que o governo está meio perdido no que se refere à política econômica se espalha entre os agentes e os custos para o futuro estão se elevando. O guru Quem quiser entender um pouco mais a política econômica de Dilma, aplicada pela dupla Mantega-Tombini, não pode deixar de ler os artigos que o ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, há tempo oráculo do Planalto, publica semanalmente nos jornais "Valor Econômico", "Folha de S.Paulo" e 'Diário do Comércio" de São Paulo. Os argumentos parecem saídos da boca de Dilma, Mantega, Tombini. Ou vice-versa, o que soa mais provável. Cenário externo A Europa ainda está a sofrer com a crise de crédito dos países meridionais do Velho Continente. Portugal ingressou no clube dos países que perderam acesso ao mercado de capitais e a Espanha e Itália estão captando recursos externos cada vez mais caros. Um cenário sofrível, principalmente quando se vê a taxa de desemprego em níveis estratosféricos. Nos EUA, o cenário é de recuperação, mas de forma absolutamente condicionada pela debilidade do consumo e investimento, ambos carentes de emprego e crédito. Por tudo isso, as bolsas de valores não saem do lugar há dois meses e os bancos centrais persistem com políticas que oscilam entre preocupações com a inflação e expansão fiscal, de um lado, e fragilidade econômica e de crédito, de outro. O risco deve subir nas próximas semanas. Grécia vai reestruturar a dívida   Há uma imensa discussão sobre se a Grécia irá reestruturar a sua dívida externa. Como sempre uma discussão inútil. Basta um pouquinho de pesquisa para saber que o país, com mais de 20% de desemprego, especialmente entre os jovens, não tem a menor condição de manter o regime de pagamentos ao qual está sujeito. Além disso, a União Europeia parece ter virado as costas para o belo país mediterrâneo. A solução virá a partir da afirmação da antiga soberania helênica : realinhar os pagamentos externos ao interesse nacional. A irresponsabilidade do governo local foi imensa, mas ligeiramente menor que a dos investidores. Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, etc. terão de tomar suas decisões. Radar Na Real  15/4/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4422 alta alta - REAL 1,5935 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 66.684,17 baixa estável/alta - S&P 500 1.319,68 estável/alta alta - NASDAQ 2.764,65 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Feriado glorioso É tudo que o governo precisava, embora este não tenha nenhum controle sobre o feriadão de Tiradentes e Páscoa desta semana. Brasília política está gelada e Dilma vai ter alguma folga para tentar ajustar contas que estão sendo cobradas. Mais especificamente, a liberação das emendas parlamentares, com a anulação do decreto pelo qual Lula cancelou os "restos a pagar" de 2007, 2008 e 2009, e mais velocidade na nomeação do segundo escalão. Como quem não quer nada, o PMDB já expediu o bilhete de sua insatisfação. Na votação das regras para o trem bala, pouco menos de 70% dos senadores do partido não ficaram com o governo : ou votaram contra, ou se abstiveram, ou se ausentaram. A mágoa está para transbordar. Copa em festa Há mais ou menos 20 dias o presidente da FIFA disse que o Brasil estava atrasado com as obras da Copa do Mundo. Só faltou ser considerado persona non grata no país pelo ministro dos Esportes, Orlando Silva, e por "autoridades esportivas". O ministro torceu o nariz também para uma declaração de Pelé, na mesma ocasião, no qual afirmou que o Brasil corre o risco de dar um vexame mundial. Semana passada, para surpresa geral, divulga-se "direto dos fornos" do IPEA, organismo ligado à presidência da República e duramente controlado por seu presidente, Marcio Pochmann, ex-secretário de Marta Suplicy em SP, um estudo dando conta de que mais de um terço dos aeroportos das cidades-sede da Copa não ficarão totalmente reformados para 2014 e alguns nem para 2016, nas Olimpíadas. Soou estranho. Nada estranho No dia seguinte à divulgação do documento do IPEA, o ministério da Fazenda divulgou a lei de Diretrizes Orçamentárias de 2012 com uma norma que limita o poder do TCU de suspender execução de obras sob suspeita de irregularidades. Ainda no mesmo dia, anunciou-se o envio ao Congresso de um projeto de lei tornando mais leves as exigências nas licitações para projetos da Copa e dos Jogos Olímpicos. Mera coincidência ? Para quem acredita em duendes, sim. Capitalismo à brasileira Depois de ver resolvido o "problema" Roger Agnelli na Vale, o governo prepara-se para "escolher" o novo presidente da Oi, outra "privatal" (empresa privada com controle estatal) escolhida pelo governo para cumprir os planos do Planalto em áreas estratégicas. A Oi vai ser levada a conduzir o Plano Nacional de Banda Larga de acordo com o programa oficial, uma vez que as outras teles estão resistindo a entrar no negócio como Dilma quer e a Telebrás não dá conta do recado - só dá emprego. Desmatamento Se o novo Código Florestal Brasileiro não sair a contento dos ambientalistas privados e de uma boa parte do PT e de assessores de Dilma, não se pode jogar a culpa no deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP), relator da proposta. O governo tem maioria suficiente no Congresso para atropelar quem se puser no seu caminho. Mas ele não quer - nem deve - se indispor com a galinha de ouro do agronegócio. Um bode para a oposição e o governo O ex-presidente FHC claramente se expressou mal no trecho do artigo publicado na revista "Interesse Nacional" quando exorta seus companheiros oposicionistas a procurarem conquistar o que se convencionou chamar de a "nova classe média" no Brasil (para alguns a classe média do Lula). Principalmente quando usou, fora de esquadro, a expressão "povão" numa concessão bestamente popular não condizente com o teor de todo o artigo. Por isso apanhou muito (como se diz em Minas, "apanhou para aprender") e deu vezes a muita ironia, a começar pelas de Lula, que como amante do futebol, não desprezou o passe limpo na marca do pênalti. A discussão de FHC Tiradas essas questões periféricas, no entanto, Fernando Henrique botou um bode muito, mas muito mesmo, mal-cheiroso na sala eleitoral, não só da oposição, como também do governo. O fato real é que quem não falar para esse público, com 51% da população nacional, corre o risco de perder os próximos passos eleitorais. Aliás, o PT sabe tanto disso que não pensa em outra coisa senão conquistar as classes médias da cidade e do Estado de São Paulo, para poder pegar o governo da capital e, principalmente, o governo Estadual (há mais de 16 anos com o PSDB). Com Lula foi igual Outra também não foi a estratégia petista, traçada por José Dirceu, de "amansamento" do discurso e da imagem petista e de Lula no início dos anos 2000, estratégia responsável pela eleição de Lula em 2002, depois de três tentativas presidenciais frustradas. Se tivesse ficado apenas com o "povão" e alguns setores mais intelectualizados da classe média de então, Lula não teria sido emplacado no Planalto, mesmo com todo o desgaste de FHC no seu segundo mandato. O verdadeiro desafio O desafio para todos é que essa classe média, agora engordada pela classe média do Lula, tem aspirações concretas e é um tanto quanto mais exigente do que o "povão" do programa Bolsa Família e de outras bolsas. Ele é mais sensível aos suspiros da inflação, pois não tem as proteções das classes mais baixas, já não suporta o SUS, teme pela má educação, sente a baixa qualidade de vida, sabe que os impostos corroem sua renda para lhe dar o retorno devido. Ou seja, exigem outros discursos e outras políticas que não o velho apelo do "tudo pelo social". Dilma e o povão Dilma, por exemplo, vem aí com um programa de erradicação da miséria, já aumentou o Bolsa Família, fez uma política generosa para o salário mínimo. E para esta nova classe ? Até agora, mais imposto, pois o IOF no crédito atinge apenas esses novos consumidores. Sem contar que a inflação está batendo na porta. E a oposição, o que tem a dizer ? FHC, querendo ou não, tirou a paz do mundo político, acomodado na dicotomia PT-PSDB, povão versus elite. ____________
terça-feira, 12 de abril de 2011

Política & Economia NA REAL n° 147

Câmbio, juros, inflação... Podem anotar. O Brasil caminha para uma composição cruel de fatores de risco. A taxa de juros no patamar atual é incompatível com o crescimento sustentável no longo prazo. Para reduzi-la, queiram os políticos e agentes, ou não queiram, será necessário criar um ambiente fiscal sustentável e competitivo (no que tange à taxação). Do lado do câmbio, a variável mais sensível de uma política econômica, a inviabilidade é clara : não há produtividade industrial no Brasil que seja suficiente para combater a concorrência externa. O Brasil vai virar o quintal da China em muitos setores. Do lado da inflação a discussão já ultrapassou os limites do razoável : não é possível ter uma moeda crível com um BC que aceita (implícita ou explicitamente) uma meta de inflação fora de prumo. Crescimento em queda Os "indicadores antecedentes", título pomposo para os indicadores econômicos mais recentes projetados para o futuro, já indicam que os agentes econômicos, seja do lado do consumo, seja do lado do investimento, estão tirando o pé do acelerador. Quem tem orçamento (privado) a cumprir pode cravar o crescimento deste ano em 3%, que as chances de acertar são gigantescas. Ou seja, Dilma pode inaugurar seu primeiro ano com uma composição perigosa : inflação para cima, real para cima, juros oscilantes e crescimento (emprego) em baixa. Muito diferente do blábláblá eleitoral do ano passado. Torcida estranha Ouviu-se na semana passada da boca de um dos formuladores da política econômica do governo a seguinte frase, cheia de cinismo : "- ainda bem que o câmbio cai para ajudar na inflação". A coisa parece pior que aparenta, não é mesmo ? Guido, atenção ! Não há propriamente uma conspiração a perturbar a calma do ministro Mantega. A coisa é mesmo às claras. Os agentes econômicos, aqueles que têm poder, falam abertamente sobre conversas com gente do próprio governo que anunciam a decadência de Mantega na geografia do poder brasiliense. Por enquanto, Lula segura a barra, mas tudo na vida tem limite. Recordar é viver : Carta aos Brasileiros. Lula em 2002 "Como todos os brasileiros, quero a verdade completa. Acredito que o atual governo colocou o país novamente em um impasse. Lembrem-se todos : em 1998, o governo, para não admitir o fracasso do seu populismo cambial, escondeu uma informação decisiva. A de que o real estava artificialmente valorizado e de que o país estava sujeito a um ataque especulativo de proporções inéditas. Estamos de novo atravessando um cenário semelhante. Substituímos o populismo cambial pela vulnerabilidade da âncora fiscal. O caminho para superar a fragilidade das finanças públicas é aumentar e melhorar a qualidade das exportações e promover uma substituição competitiva de importações no curto prazo." Quem manda ? O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, é um dirigente afeito a ter vida própria no que tange ao governo. Sempre teve liberdade e ocasião de manifestar suas opiniões sobre a maior estatal brasileira e ao segmento de petróleo como um todo. Aqui e lá fora sempre foi enfático, algumas vezes resvalando para certo autoritarismo quando posto à prova. Suas declarações na semana passada sobre futuros aumentos dos combustíveis nada seriam de exageradas não fosse a Petrobras um quase-monopólio com larga influência na política econômica do país. Foi desautorizado por Mantega e por Dilma. Resta saber, como o governo vai coordenar as divulgações sobre temas econômicos tão sensíveis. Risco-país O risco do Brasil, embutido nos spreads dos títulos externos do país negociados no mercado internacional, está gravitando ao redor dos 180 pontos, ou 1,80% acima das cotações dos títulos do Tesouro do Tio Sam. Diante da somatória de riscos, este patamar parece o melhor que poderíamos atingir no curto prazo. É verdade que não há nada de assustador que possa acontecer no curto prazo. Todavia, devemos reconhecer que o Brasil já esteve mais atraente. Há pouco tempo, diga-se. Radar NA Real 8/4/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4450 alta alta - REAL 1,5801 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 68.718,00 baixa estável/alta - S&P 500 1.328,17 estável/alta alta - NASDAQ 2.780,42 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicávell Alckmin e o sindicalismo Faz todo o sentido a oposição buscar ampliar seu espaço político abarcando segmentos sociais que não fazem parte de sua base tradicional. Todavia, é preciso analisar certas implicações ideológicas e pragmáticas para delimitar o campo de atuação. Note-se, por exemplo, a tentativa do governador Alckmin de pactuar com sindicalistas e patrões. Dois aspectos saltam aos olhos : o primeiro diz respeito à questão da representatividade. Será que as organizações sociais (sindicais e patronais) de fato representam tais segmentos ? O segundo diz respeito à organicidade dos pactos : buscar acordos "pragmáticos" pode fazer sentido no curto prazo, mas podem significar incompatibilidades grandiosas quando observadas à luz de "programas de governo". Talvez seja o caso de travar batalhas ideológicas em torno de grandes temas e não pequenos projetos. O discurso de Aécio É saudável não apenas para a oposição, mas também para o governo que os partidos apresentem suas propostas para serem democraticamente debatidas. Sobretudo, quando se vê um empobrecimento do debate político no Brasil. Neste estrito sentido, o discurso do senador Aécio Neves deve ser saudado como oportuno. Todavia, quando analisado no que tange às propostas que realmente fazem a diferença, há um longo caminho a ser preenchido pelo mineiro, em particular, e pela oposição, em geral. É preciso encontrar um campo ideológico que distinga os tucanos e democratas do atual governo. Afinal, o espectro social-democrata foi preenchido, quem diria, pelo PT. Corte incômodo O corte do depoimento do sobrinho de Tancredo Neves, Francisco Dornelles, no documentário de Silvio Tendler sobre o político mineiro merece ser melhor esclarecido. Tal depoimento revelaria uma doação de Paulo Maluf à campanha de Tancredo nas eleições para governadores em 1982. Aécio teria pressionado para que o corte desta informação fosse feito. Se for verdade, eis uma péssima contribuição para a história política. Obama e seu factoide Ninguém pode duvidar da capacidade de comunicação do atual presidente norte-americano. Aliás, algo que foi exaustivamente demonstrado nas aparições dele aqui no Brasil. Todavia, temos de reconhecer que Obama é a representação precisa do "vazio" político do mundo moderno. Sua condução das principais reformas nos EUA é sofrível e seu combate aos "falcões" de Wall Street um fiasco. Sua aparição como "candidato" à presidência dos EUA tem algo de pomposo e melancólico. Ele, frente a uma confusa e débil oposição, parece um grande líder. Não passa de um imperador com muitos problemas. Se vacilar os bárbaros atacam o Império e aí.... Marina sumiu ? Afora as informações dando conta das dificuldades partidárias de Marina Silva no PV nada mais sabemos sobre a ex-senadora petista e candidata à presidência da República. Seria ela daquelas candidatas que vêm pra não ficar ? Vergonha nacional Verificar que as obras do PAC estão sendo tocadas à margem de políticas sociais que minimizem os impactos sobre os trabalhadores é coisa do século XIX. A situação é crítica e as denúncias estão apenas começando. Muito mais será divulgado. Vale A conferir. As mudanças na diretoria da Vale serão mais profundas. A recente adesão dos diretores ao desejo de "ficar" de Roger Agnelli não vai passar em branco. Muito menos as alterações nas políticas, digamos, "públicas", da empresa. A posição do Zé Dirceu Vejam o que disse o ex-todo-poderoso José Dirceu em seu blog e que está diretamente ligado ao que dissemos na nota acima (os grifos são nossos) : "Discordo, e muito, porém, das análises que fazem sobre as mudanças na presidência da Vale, e da Caixa Econômica Federal. Precisavam ser feitas, e expressam exatamente duas questões destacadas nas avaliações dos jornais, uma reforma da gestão pública, tão necessária em nosso país, e a redefinição do papel do Estado e do governo na governança e na gestão de empresas onde é sócio controlador ou principal acionista." Posição estratégica Não perguntem muito sobre as posições brasileiras em relação aos países árabes e ao Oriente Médio. A política externa no país passa por uma revisão na qual sobram análises e faltam conclusões (o que é natural face às extraordinárias mudanças por que passam os países da região). O debate é quente. Ainda mais porque há muitos diplomatas policy makers ligados ao ex-chanceler Celso Amorim que resistem às mudanças muito bruscas. Dilma ainda não se interessou muito pelo tema, mas chegará o tempo em que as respostas terão de ser dadas. Muito além dos (corretos) posicionamentos dos país em relação aos direitos humanos. Prefeitura paulistana e algo mais A julgar pelo ânimo de Gabriel Chalita, sua candidatura à prefeitura de SP é irreversível. Há duas vontades que movem o deputado paulista : (i) derrotar Kassab, que andou namorando com o PSB de Chalita e (ii) derrotar José Serra, seja este candidato ou não. Os sonhos de Chalita vão muito além da grande metrópole brasileira. Realengo e o Congresso Se alguém acha que a tendência do Congresso vai mudar em relação às armas, pode tirar o cavalinho da chuva. Por lá prevalece a idéia da "vingança privada", daquelas que podemos ver nos velhos westerns de Hollywood. Infelizmente, a credibilidade na Justiça estatal é baixa no Brasil. As pessoas desejam exercer sua indignação por meio de um fumegante cano de arma. Infelizmente. É preciso parar de cinismo e convencer a opinião pública de que as armas não valem o risco e não fazem a pretendida vingança. Quem tomará a frente ? Difícil imaginar. ____________
terça-feira, 5 de abril de 2011

Política & Economia NA REAL n° 146

Estaria o BC certo ? (I) Muito se comenta sobre a possibilidade de um aumento da inflação sem que haja, do lado do governo, reação efetiva para conter este processo. Um governo nunca deve ceder aos interesses do tal do "mercado" quando estes não atendem aos interesses públicos. Veja-se, a título de ilustração, a negligência generalizada dos BCs ao redor do mundo relativamente à especulação com títulos oriundos do setor imobiliário durante mais de 15 anos até a eclosão da crise de 2008. Com boa fé, alguém poderia perguntar, no caso atual do Brasil, se o BC não estaria certo em não aumentar os juros apenas para atender ao tal do mercado ? Afinal, os juros básicos no Brasil são muito elevados. Para que mais ? Estaria o BC certo ? (II) Para responder a nota acima, é preciso analisar todo o contexto, o qual pode ser resumido em algumas perguntas capitais : (i) temos um regime fiscal sustentável a longo prazo ?; (ii) as medidas "macroprudenciais" em relação ao crédito (contenção) e ao ingresso de capitais externos (taxação e controles) estão funcionando para conter o avanço dos preços ? ; (iii) há de fato uma inflação de demanda que facilita o "espalhamento" dos preços pela economia como um todo ? ; (iv) o BC é considerado confiável pelos agentes ? Nas questões anteriores, não há nenhuma premissa de hierarquia. Vamos às nossas sucintas respostas : (i) não há um regime fiscal sustentável no Brasil a longo prazo por duas razões básicas : a primeira é que a expansão das despesas do setor público tem sido elevada e rápida e o ritmo dos investimentos (poupança) é capenga ; (ii) ainda é cedo para se afirmar se a contenção do crédito vai ser suficiente para afetar a demanda, mas a queda do dólar evidencia que, apesar das medidas implementadas para conter a entrada de moeda estrangeira, somente mais medidas de controle de capitais evitará a expansão do crédito doméstico ; (iii) a demanda persiste forte o que facilita a expansão da inflação por toda a economia. Se o real cair (dólar para cima), este processo será ainda mais acentuado ; (iv) não se trata de afirmar "que falta credibilidade ao BC". A questão vai além : foi o próprio governo que estimulou os agentes a pensarem que a política monetária passou a ser decidida na Fazenda e não mais no BC. A imagem de Alexandre Tombini foi "construída" como sendo mais "palatável" à área econômica do governo. Logo, o mercado resolve "testar" a independência operacional do BC. Concluindo (III) Se o governo quiser recuperar credibilidade, terá de ser mais enérgico : seja para aumentar os juros básicos e não deixar dúvidas de que não permitirá o aumento da inflação e/ou terá de apertar bem mais o crédito, inclusive com medidas de controle da entrada de dólares. Há quem já tenha perdido os cabelos ao analisar esta questão... Apenas para lembrar... A aplicação da austeridade fiscal continua em xeque : nos três primeiros meses do ano, os gastos do governo Federal com custeio e juros foi R$ 13 bi maiores do que o mesmo período do ano passado enquanto os investimentos foram menores em R$ 300 mi, segundo o portal Contas Abertas ; as pressões políticas, do Congresso, dos prefeitos e até dos governadores para afrouxar a "conciliação" está num nível tal que já levou até a própria presidente Dilma a prometer rever a anulação dos restos a pagar de 2007, 2008 e 2009. O consolo é que a arrecadação de impostos está em alta. Radar NA REAL 1/4/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4222 alta alta - REAL 1,6100 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 69.268,29 baixa estável/alta - S&P 500 1.332,41 estável/alta alta - NASDAQ 2.789,60 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicávell Uma reforma sem consenso O Congresso continua prometendo que agora fará a sempre encantada reforma tributária, embora até agora não tenha dado nenhum passo em direção nenhuma. Dilma Rousseff, bem consciente das dificuldades de mexer em tal ninho de abelhas, fala em reforma fatiada - ou pontual. Coisas como redução da contribuição social das empresas, providência para acabar com a guerra fiscal entre os Estados nos portos... A Fiesp acaba de apresentar um sugestão de correções na cobrança do ICMS que pode facilitar muito a vida das empresas. É um conjunto de ideias positivas. Mas segundo lembra o professor da EAESP da FGV em São Paulo e advogado especialista em tributos, Fernando Zilveti, antes será necessário aparar arestas políticas e os interesses legítimos que tarefa de tal magnitude envolvem. Um exemplo das dificuldades está na recente decisão de 18 Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste de passarem a dividir a cobrança do ICMS nas compras feitas pela internet. A cobrança atualmente é feita toda ela pelos governos estaduais onde se localizam as empresas vendedoras. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerias não assinaram o convênio. E podem recorrer à Justiça. No ritmo de Maria Fumaça A licitação do trem bala descarrilou mais uma vez. Como está não está "atraente" para os interessados, mesmo com as concessões via BNDES, entrada de estatais e dos onipresentes fundos de pensão. O governo parou para pensar em novas atrações para os possíveis concorrentes, novas concessões. Devia se mirar no caso Bertin. O grupo foi "incentivado" a entrar no setor hidrelétrico. Não teve até agora de Brasília socorro para substituir o "socorrido". Mensalão : a fantasia e o real A divulgação pela revista "Época" do inquérito da PF sobre o mensalão Federal (ou do PT), confirmando a existência do grande negócio político-eleitoral do primeiro mandato do presidente Lula, derruba algumas fantasias em circulação - a de que o tal não existiu, a de que foram apenas recursos "não contabilizados" de campanha - e a tentativa de reabilitação de alguns dos réus do processo. A defesa dos acusados ficou mais difícil e mais e mais valerão as manobras protelatórias. Em um caso elas podem ser bem sucedidas : em agosto, a acusação de formação de quadrilha prescreve, se o STF não apressar o julgamento das ações. Será um duro golpe para a imagem do Supremo se de fato ocorrer a prescrição. Pode-se até entender que os mensaleiros fiquem livre das acusações, porque os ministros os consideraram inocentes, etc. Mas se eles ficarem livres porque a Justiça foi lenta é inimaginável, inadmissível. Em tempo : a atuação no processo do mensalão será o grande teste de "qualidade" dos dois mais recentes ministros da Corte Suprema : José Antonio Tofolli e Luiz Fux. Relações estremecidas Não convidem para a mesma mesa de conciliação alguns setores do Judiciário e o Legislativo. Há queixas quase insanáveis. O Judiciário considera insuportável a demora do Congresso de definir os aumentos salariais do setor. Os juízes Federais prometem até uma greve no fim do mês. Deputados e senadores consideram insuportável a "interferência" da Justiça, principalmente a eleitoral, em assuntos que eles consideram de sua exclusiva competência. Há até movimentos, muito bem apadrinhados, para conter a ação do Judiciário. A questão da fidelidade partidária ainda não foi ruminada totalmente. Relações delicadas É maior do que se admite a insatisfação do PMDB com o tratamento recebido pelo partido da presidente Dilma. Diz-se : é tudo para o PT. O vice-presidente Michel Temer recebe atenção, pompa e circunstância, mas sua influência, a não ser em questões jurídicas, é relativa. As "adoradas" e esperadas nomeações só saem a fórceps. Vê-se em manobras como o nascimento do PSD uma tentativa de enfraquecer o partido de Sarney e cia. na aliança governista. Até a turma peemedebista do Senado, sempre mais atendida, está infeliz. Contabiliza-se até a falta de atenção aos ministros da legenda. Segundo levantamento de "O Globo", dos seis ministros que ainda não foram recebidos uma única vez pela presidente, quatro são do PMDB. Entre eles o ministro de uma pasta estratégica - Wagner Rossi, da Agricultura. Relações delicadíssimas Os tucanos armaram seu primeiro divã sábado em Minas Gerais para buscar seus novos rumos, numa reunião que contou com seus oito vistosos governadores. E decidiu não decidir nada : estuda a formação de um conselho superior, provavelmente a ser comandado pelo ex-presidente FHC, para encontrar um rumo para a legenda. No vai da valsa que o PSDB costuma dançar é de se perguntar se terão algum sentido até as eleições de 2012 - ou até de 2014. Enquanto a "comunidade" não se decide, as figuras mais emplumadas vão se definindo. Aécio Neves surpreendeu com um contundente discurso de crítica do governo Dilma, depois de ter passado toda a campanha eleitoral e os primeiros 100 dias da presidente bem ao seu estilo "mineiro". E José Serra, como não quer nada, vai criando possíveis rotas de fuga. O PSD de seu fiel parceiro Gilberto Kassab vai nascendo para a irritação tucana, menos a dele. Seu vice na disputa com Dilma já foi para a nova legenda. Até Dilma, segundo indiscretas revelações de uma conversa reservada dela com o presidente de Portugal Cavaco Silva, sente falta de uma oposição, para deixá-la menos vulnerável ao apetite de insaciáveis parceiros. Só a oposição, parece, não sentir falta de uma oposição no país. ____________
terça-feira, 29 de março de 2011

Política & Economia NA REAL n° 145

Portugal, mais um pedindo água A irresponsabilidade na concessão de crédito durante os últimos dez anos foi gigantesca e generalizada. Quase todas as economias desenvolvidas caíram na cilada do crédito que ceifou pelo menos 35 milhões de empregos ao redor do globo. Pois bem : a evidência de que Portugal poderia entrar em colapso de crédito agita os mercados e a moeda europeia. O país terá de ser socorrido. A Espanha possivelmente também. A Itália, quem sabe ? Assim como a América Latina dos anos 80, as peças caem uma a uma. O pior é que as perspectivas de médio prazo para o Velho Continente persistem temerosas : a demografia, a imigração, a falta de produtividade e o desinteresse político dão evidências de que o que se imaginava ser o ápice da civilização está meio esclerosado. Apostar no euro e nas empresas europeias é uma aposta e tanto : cheia de riscos e retorno muito incerto. Brasil e os riscos externos O governo tem analisado os riscos das empresas europeias instaladas no país ? Afinal, importantes setores são liderados por empresas europeias. Isto é considerado nas análises "macroprudenciais" do governo ? Japão : aposta na alta A crise japonesa estimula as mentes analíticas do mundo financeiro : acredita-se que o terremoto e o tsunami vão estimular a demanda do país e contribuir para a alta da moeda e das bolsas. Em tempos de bolsas "andando de lado" e "moedas" com oscilações erráticas, nada como especular sobre temas da natureza. A conferir. Limite da austeridade Continua carente de explicações convincentes a política de austeridade anunciada há mais de um mês pela dupla Mantega/Miriam Belchior. As contas às vezes não batem - pela métrica oficial faltam detalhes essenciais. Na semana passada, sobre pressão dos parlamentares do governo, Dilma avisou que não cancelará R$ 18 bi de "restos a pagar" de 2007, 2008 e 2009 até 30 de abril, conforme decreto do ex-presidente Lula. Por coincidência, quando se anunciou a "conciliação" fiscal avisou-se que R$ 18 bi das emendas parlamentares foram cortadas do Orçamento de 2011. Não parece a mesma coisa. Ou será ? Certo mesmo é que os aumentos de impostos estão chegando... Queda de braço Por mais que se mostre o contrário, o BC e o dito mercado financeiro estão naquela situação popular em que "vaca não reconhece bezerro". Alexandre Tombini está agindo para acalmar os recalcitrantes. Mas não é uma questão de confiança na instituição monetária. Casos como o da Vale multiplicam as pulgas atrás das orelhas. Falta comunicação É claro que existe um problema econômico concreto na economia brasileira relacionado com a frouxidão fiscal, a inflação e o câmbio que destrói empregos. Todavia, a comunicação do governo se soma a tudo isso e complica ainda mais. O desencontro de dados e opiniões dentro da área econômica do governo é fator grave que deteriora expectativas. Há evidente falta de liderança na área econômica. Tombini, neste particular, parece ser mais um fator de inquietação. Parece constrangido ao ofertar opiniões. Em margarina Toda vez que Dilma faz um gesto para mostrar que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está "prestigiado", como os técnicos de futebol, mais cresce a convicção fora do governo (e nas intrigas "intramuros") de que está se acentuando o processo de fritura do homem dos cofres Federais. Ele estaria sendo torrado em margarina da região mais rica do interior de São Paulo (a "Califórnia Brasileira"), a seco, sem ao menos o direito a um molho de tomates com ervilhas. Dilma : boa comunicação O pessoal de dentro do governo reclama da forma de comunicação da presidente Dilma. Todavia, para fora do governo a presidente tem conseguido passar credibilidade e sobriedade. Especialmente, quando coleta e dá afagos na "inteligência" brasileira. Foi o caso da reunião com as artistas na última sexta-feira. Marcou um gol de placa. Feminista, no caso. O Sílvio Santos foi aí Operou-se com o máximo de discrição para que a demissão - o "a pedido" do anúncio oficial é uma licença poética - da presidente da CEF, Maria Fernanda Coelho, não trouxesse lembrança do mau negócio para a instituição que foi comprar quase metade do Banco PanAmericano do dono do Baú da Felicidade. Esta história não foi terminada ainda e não está nada bem contada. O balanço da CEF a ser divulgado nos próximos dias deve mostrar o quanto a aventura custou até agora. Há outro detalhe para se explicar, que o emprego que se arrumou para Maria Fernanda no exterior não deve anuviar : num negócio de tal natureza, ela não agiu sozinha. Se agiu deveria ter sido posta no olho da rua, sem direito a compensações, no mesmo dia em que se revelou a cratera do PanAmericano. PT, a salvação Consolidada a entrada da Portugal Telecom (PT, para os íntimos) na BrOi (oficialmente Oi) pode estar indo para o arquivo das histórias mal contadas um outro episódio muito similar ao do PanAmericano-Maria Fernando, estrelado pelos personagens BNDES-Oi-Brasil Telecom. Alguma semelhança não é tão mera coincidência. É da política que pode ser chamada de "de capitalismo de Estado brasileiro à moda chinesa" e que tratou muito também alguns frigoríficos. Radar NA REAL 25/3/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4093 estável alta - REAL 1,6593 estável/alta estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 67.795,90 estável/baixa estável/alta - S&P 500 1.313,80 estável/alta alta - NASDAQ 2.746,06 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável As consequências aparecem depois A questão no caso Vale não é saber se Roger Agnelli fica ou não, embora nenhuma empresa séria se desfaça de um executivo com os resultados que ele apresentou. Não é também saber se o substituto do presidente da companhia será mais técnico ou menos técnico. Um técnico com menos peso pode até sofrer mais influência política do que qualquer um que não seja "técnico". O fato real é que desde a sexta-feira em que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi informar ao Bradesco que o governo não queria mais Agnelli na direção da mais bem sucedida multinacional brasileira, a Vale está sob intervenção Federal branca. Ela deixou de ser uma simples empresa privada, é agora uma paraestatal ou, uma "privatal", rótulo que cabe a uma série de "privadas" nas quais o BNDES e os fundos de pensão têm grande influência e dão as cartas. O que saber ? A primeira coisa a se saber é o que o governo pretende com esta intervenção, uma vez que a gestão de Agnelli, do ponto de vista empresarial, era irretocável. O valor de mercado da Vale multiplicou-se por mais de seis vezes no seu mandato. Há outras questões : quais as outras empresas a sofrerem a mesma intervenção ? Como reagirão os investidores ? Como reagirão as empresas que estão pensando em participar em negócios de concessão em serviços públicos ? Na área oficial os dirigentes às vezes se esquecem de uma lição "óbvio ululante" do conselheiro Acácio, impagável personagem de Eça de Queiroz, em "O Primo Basílio" : "O problema é que as consequências vêm sempre depois". Um governo de técnicos Especialista disputado por várias instituições financeiras no Brasil e no exterior, o peemedebista baiano Geddel Vieira Lima, apesar de todo o assédio, rendeu-se ao sacrifício de homem público e vai aceitar ocupar uma das vice-presidências da CEF. O PMDB, sempre com quadros da mais elevada categoria técnica, está pondo à disposição do governo também os especialistas ex-governadores Iris Rezende (Goiás), José Maranhão (Paraíba) e Orlando Pessutti (Paraná). Decisão sobre o Irã Foi aplaudido o voto brasileiro na ONU na semana passada apoiando a inspeção nuclear no Irã. Mas ferveu internamente nos blocos mais à esquerda do governo e do partido oficial. Oposição ainda sem caminhos Gilberto Kassab não conseguiu ainda esvaziar a oposição como pretendia. Talvez até não consiga, pois há muitas dúvidas legais e políticas sobre a viabilidade do PSD para chegar competitivo em 2012. Mas plantou uma semente da desagregação no mundo do oposicionismo, cada vez uma nau sem rumo, sem discurso e sem projetos. Só com um projeto de poder - ou vários projetos individuais de poder - sem consequências maiores para o país. Kafka no Supremo Até que a chamada lei da Ficha Limpa se consolide e seja aplicada em 2012, muita ponte ainda terá de passar sobre os rios que correm para o STF. Pelo menos dois pontos ainda serão muito polemizados : o da retroatividade das punições e da punição antes da sentença definitiva. De todo modo, uma situação kafkiana já está no ar. Vamos ao raciocínio em tese, mas muito provável de vir a ocorrer. A lei passa a valer a partir de 2012, com o que já está. Vemos também que Jader Barbalho, agora senador com a anulação da validade da Ficha Limpa para 2010. Fica senador até 2018. Em 2014 ele pode se candidatar ao governo do Pará, o que está entre seus planos. Ele foi barrado em 2010 porque renunciou ao mandato para não ser cassado. Com a lei valendo, ele ficará inelegível em 2014. Mas continuará no Senado. Ou seja : não serve para ser governador de Estado, mas serve para ser senador da República. Como explicar ? Mal explicado Obama veio ao Brasil comprar etanol de cana ou vender álcool de milho ? ____________
terça-feira, 22 de março de 2011

Política & Economia NA REAL n° 144

Economia : está difícil convencer Em entrevista exclusiva à repórter Claudia Safatle, do jornal "Valor Econômico" de quinta-feira, tema depois repetido no mesmo dia em MG, Dilma Rousseff fez questão de enfatizar, mais de uma vez, que não tergiversará com a inflação. O objetivo era quebrar a desconfiança entre os "formadores de preços na economia", de que a política antiinflacionária com um crescimento razoável é exequível. Quem não é da economia oficial duvida que seja possível segurar o aumento geral de preços perto dos 4,5% do centro da meta este ano e ao mesmo tempo fazer o PIB subir próximo de 5%. Os dois objetivos seriam incompatíveis, no momento, segundo os analistas. A maioria diz que ou se derruba a economia, ou a inflação vai ficar inquietantemente alta. E pelo que desenha a pesquisa Focus do BC, divulgada ontem, Dilma não foi bem sucedida inicialmente em seu propósito. Os analistas financeiros reduziram a projeção de crescimento do PIB em 2011, de 4,10% para 4,03%, e elevaram a projeção da inflação (IPCA) de 5,82% para 5,88%. O pior dos mundos possíveis : preços mais altos e crescimento menor. E é na economia que Dilma joga as fichas de seu governo, bem avaliado pelos brasileiros até agora. Terá de matar alguns tigres para inverter os sentimentos econômicos da maioria. Não será fácil ganhar simpatias somente na conversa. Purgatório Além das nuvens econômicas de pouco peso ainda, o céu de brigadeiro da presidente começa a ser levemente tisnado no Congresso. É maior do que transparece a insatisfação dos parlamentares com o corte de R$ 18 bi de emendas. O próprio ministro das Relações Institucionais, Luis Sérgio, em entrevista ao "Valor Econômico", está alertando para um problema que ele classifica de muito sério - Sérgio é a favor do pagamento das emendas. E tem mais : o projeto do presidente do Congresso, José Sarney, mudando as regras das MPs, proposta que não agrada nem ao governo nem à Câmara. Céu No momento, para enfrentar essas turbulências, Dilma tem um trunfo de valor : a aceitação de seu governo nos seus primeiros três meses. Segundo o Datafolha, igual à de Lula e melhor do que as de Collor, Itamar e FHC no mesmo período. Poucos parlamentares e partidos abrirão divergências públicas com o governo nessas circunstâncias. Dilma terá paz até para continuar tratando as nomeações do segundo escalão à conta-gotas. Pergunta incômoda Em breve teremos mais medidas governamentais de restrições à oferta de crédito com o objetivo de reduzir a demanda e conter a inflação. Há uma pergunta que merece reflexão e sobre a qual não se sabe a resposta : há uma "bolha" se formando no mercado imobiliário brasileiro ? Depois de tanta valorização dos imóveis e da corrida dos bancos para financiar projetos, melhor investigação o assunto merece. Sobretudo quando vemos o exemplo dos EUA, onde o setor imobiliário passou anos como a vedete do impulso econômico e depois foi o carrasco da quebra do sistema financeiro. O BC em suas pesquisas econômicas analisa o setor ? O que pensa a respeito ? Japão : possível impacto Economistas do mundo inteiro parecem ter chegado ao consenso de que o impacto direto dos desastres ambientais do Japão gravitam entre 0,2% e 0,3% do PIB. Se se considerar o impacto indireto resultante da deterioração das expectativas, o PIB poderia cair até 1%. Esta última expectativa, contudo, é uma espécie de "bola de cristal científica". De toda a forma, o Japão deixa de ser relevante para a recuperação mundial este ano, do ponto de vista positivo. Contará do lado negativo. O maior perdedor deste processo são os EUA no campo internacional. Petróleo, Líbia e mercados Está se consolidando no mercado internacional a idéia de que os preços do barril do petróleo vão ficar ao redor de US$ 100. Atrás desta cotação virá uma tsunami de reavaliações de expectativas acerca da recuperação da maior economia mundial, os EUA, bem como as principais economias. Isto vai coincidir com a temporada de publicações dos resultados corporativos nos principais mercados mundiais. A volatilidade é para cima. Quase sem nenhuma dúvida. Panamericano O tempo passa e as informações sobre a operação de aquisição do Banco Panamericano pelo BTG permanecem obscuras. Ninguém parece lembrar mais do assunto. Terá sido esta a estratégia dos envolvidos na operação ? Até mesmo vale a pena perguntar : quem são os envolvidos ? Radar NA REAL 18/3/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,4214 alta alta - REAL 1,6637 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 66.879,93 baixa estável/alta - S&P 500 1.279,20 estável/alta alta - NASDAQ 2.643,67 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Brasil - EUA : o real e o simbólico Do ponto de vista político e diplomático, a visita do presidente Barack Obama ao Brasil foi um sucesso para os dois países e para os dois presidentes. Obama deu seus recados ao mundo, foi simpático, conquistou. Dilma e a sua diplomacia passaram no primeiro teste de valor, com louvor, mesmo não se tendo arrancado do presidente dos EUA uma declaração enfática a respeito da vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança na ONU. O "apreço" foi pouco. Mas o Brasil pode comemorar o reconhecimento de sua importância política e econômica no mundo. Do ponto de vista comercial, para o Brasil, se resultados houver serão "apreciados" apenas no longo prazo. Além de protocolares referências à cooperação, nada de concreto nas relações comerciais, na abertura maior do mercado americano para os brasileiros. Mesmo com a cobrança efetiva de Dilma, no discurso no Palácio do Planalto e, depois, na conversa reservada entre os dois, segundo relato de autoridades brasileiras. Pelo contrário Muito diretamente, o secretário de Comércio de Obama, Gary Locke, em entrevista exclusiva ao jornal "O Estado de S. Paulo", em resposta às queixas brasileiras, disse que "há poucas barreiras para exportar para os EUA" e aconselhou o Brasil a "focar no comércio com o mundo, e não país a país". Sob esse aspecto a viagem foi útil também para Obama. Ele apareceu para seu público interno, em entrevista antes da viagem e no encontro com empresários como defensor das empresas norte-americanas e seus negócios no Exterior e dos 250 mil empregos que as exportações para o Brasil geram por lá. Obama veio ser simpático e vender. E cumpriu seu papel. Neste campo, o Brasil vai ter de ir à luta, não deve esperar "apreço" pelas pretensões de tornar o comércio entre os dois países mais igual. Em tempo : a viagem de Obama foi recebida sem nenhum entusiasmo pela imprensa americana. Dilma e Patriota mostram novo estilo Antonio Patriota conseguiu grandes vitórias na visita de Obama, mesmo que sob o silêncio diplomático. O velho estilo pragmático e estratégico do Itamaraty está de volta. Muito em razão do novo chanceler, mas também devido à discrição e sobriedade de Dilma, algo distante do estilo "star" de Lula. Lula ausente Lula não faltou somente ao almoço com Obama. Faltou também com a gentileza necessária à diplomacia. A estocada de Obama veio com elegância : citou o antigo presidente sem dizer seu nome no discurso do Teatro Municipal do RJ. Lula parece não dividir palco com ninguém. Quer ser astro solitário. Lula e política doméstica O primeiro papel que Lula se atribui na política foi preparar o PT para as eleições municipais. A intenção é levar o partido ao país inteiro, lançar o máximo possível de candidatos. Sem, contudo, desprezar as alianças com os aliados, tida como bem sucedida por ele, nas eleições de outubro passado. Nem todo o PT concorda com isso - que o diga o de MG - mas a influência de Lula e seu prestígio externo devem quebrar qualquer resistência. Especificamente para SP, Lula estaria procurando uma novidade, capaz de abalar a força dos tucanos na capital. A ser posta em prática esta opção, os eternos candidatos Marta Suplicy e Aloizio Mercadante estariam fora do jogo. O PMDB está em outra O PMDB não comunga da tese de Lula de preservar no máximo nas eleições municipais o esquema das coligações nacionais e estaduais de 2010. O objetivo do partido é lançar o máximo de candidatos competitivos às prefeituras em 2012. Entende-se : é da força de uma miríade de prefeitos e vereadores em todo o Brasil que o partido pretende manter seus espaços em 2014. O PMDB precisa disso para enfrentar os aliados PT e PSB na repetição da coligação Federal de 2010. Afinal, o PT agora é mais forte na Câmara e o PSB tem mais governadores, além da chance de crescer mais com a incorporação da costela que Kassab está tirando da oposição. A nova social democracia de Kassab Lançado o partido, o prefeito Gilberto Kassab começa a enfrentar de fato os primeiros obstáculos para botar de pé um partido com força suficiente como ele pretende para disputar as eleições municipais de 2012 sem dar vexame. Terá de enfrentar contestações nos tribunais, garantir bom tempo na televisão, e naturalmente, reunir quase 500 mil assinaturas de eleitores em pelo menos nove Estados (entre eles, o Distrito Federal). Isso tudo ate o início de outubro. Só assim quebrará a desconfiança de muitos políticos que até gostariam de trocar de partido, mas não querem correr riscos de impedimento eleitoral. Kassab não deve contar com grandes incentivos, mesmo do governo que quer esvaziar mais ainda da oposição. A participação do PT baiano na festa de domingo em Salvador não vai se repetir. Há desconfianças de todos os lados em relação aos propósitos futuros do prefeito, do PSDB e do DEM ao PT, do PMDB até ao possível futuro aliado, o PSB. Inferno Kassab saiu a campo num momento particularmente indigesto, quando a rejeição a seu governo no município de SP sobe 12 pontos em apenas quatro meses - de 31% para 43% (Datafolha). E a administração paulistana é o maior dote que Kassab pode levar para a nova legenda. A oposição no purgatório DEM, PSDB e mesmo o PPS conseguiram em princípio estancar a sangria que o partido de Kassab poderia abrir em suas bases. Mas eles não estão tranquilos, um segundo round pode ocorrer se Kassab avançar. E o governo de Brasília emite bons sinais para um grupo nem tão pequeno de insatisfeitos e de alguns com comichões governistas. O contra-ataque pode ser a tentativa de fundir as três siglas em torno de um partido único. Desde o meio da semana passada se fala nessa possibilidade. Antes, porém, DEM e PSDB precisarão fazer fogo morto de suas fogueiras de vaidade internas. Tudo para vencer o boicote natural dos governistas do PT e do PMDB. Ele ainda tem muito que aprender Deu na coluna da Mônica Bergamo na Folha. Dispensa comentários : "O deputado Tiririca (PR/SP) tem sido um dos mais econômicos. Gastou só R$ 42,03 em março, com 'serviços postais'. Em janeiro pediu reembolso de R$ 519 por duas passagens aéreas - sendo que uma custou R$ 80. O deputado Valdemar Costa Neto (PR/SP), que introduziu Tiririca na política, gastou R$ 17,6 mil em janeiro, com escritório, seguranças e telefonia". E eles não aprenderam A um mês da licitação do discutível trem bala, o governo aumenta as pressões para que as empresas privadas engrossem os consórcios concorrentes ou formem novos. As estatais e os fundos de pensão já foram enquadrados. É um movimento parecido com o realizado no leilão da Usina de Belo Monte. Que já está dando confusão. O Grupo Bertin, incentivado a entrar no negócio, nem mesmo com a ajuda do BNDES, conseguiu bancar a sua parte e já saiu do consórcio. Agora corre-se para arranjar um novo sócio, com pressões a grandes grupos, entre eles a Vale. ____________
terça-feira, 15 de março de 2011

Política & Economia NA REAL n° 143

 Japão : o novo fator de risco As imagens da TV já dizem tudo. Estamos diante de uma catástrofe natural e humana de dimensões significativas mesmo que ainda não totalmente conhecida. Do ponto de vista econômico, o Japão agora incorpora mais uma dúvida no frágil cenário internacional. Ninguém ainda apurou tais efeitos em meio aos terremotos contínuos, tsunamis ferozes e vazamentos nucleares. Todavia, o que se vê não reduz riscos, aumenta-os numa região geoeconômica que não tem sido gestora de problemas. Para o Brasil, sobressai o fato de que estamos diante de um comprador de matérias-primas e, neste quesito, a questão é estratégica. A regra é olhar as informações disponíveis, avaliá-las com calma e saber que o que está aparente é apenas aparência, não é necessariamente essencial. Todavia, saibamos que o risco aumentou. BC está no controle da inflação ? Convenhamos, o cenário está complicado e as decisões são complexas. A inflação doméstica tem vários fatores que a jogam para cima e há um receituário relativamente estreito para controlá-la. Juros para o alto e/ou contenção fiscal são as soluções. No que se refere ao corte das despesas fiscais, a credibilidade do governo se iguala à de Pinóquio. Pura e simplesmente, o fato é que somente com fatos concretos o governo voltará a ser crível. O resto é papo furado. Do lado dos juros, a questão é outra : o BC parece hesitar entre o que realmente tem de ser feito e o que o pessoal do governo espera que façam. A última ata do Copom foi uma miscelânea de análises que funcionaram como um biquíni, aquela vestimenta que mostra tudo, mas esconde o essencial. A expectativa de "medidas macroprudenciais" (que dependem do governo e não do BC exclusivamente), tais como restrições ao crédito, para que o controle da inflação seja feito indica que o BC vai "deixar como está para ver como é que fica". Bem, o que o tal do "mercado" espera é apenas um dado do problema. Todavia, a solução depende essencialmente da credibilidade que o BC tem de ter para mostrar que fará o que precisa ser feito. Uma meta A realidade é que há uma ala do governo que não está gostando nada de saber que a carruagem da economia brasileira pode estar caminhando para um crescimento de apenas cerca de 3,5% este ano. Ela quer pelo menos 4,5%. Esta é a meta - e meta de PIB, não de inflação. Por isso a "macroprudência" do BC em relação ao juros, espelhada na ata divulgada na semana passada. A taxa de câmbio O governo não vai mais implementar nada de muito forte para tentar evitar que o dólar se desvalorize perante o real. O "real forte" virou instrumento de combate à inflação, coisa que já aconteceu muitas vezes nos últimos anos. E tem mais : se o governo quiser mesmo tratar da questão, a solução teria de caminhar para mecanismos de controle de capitais e, assim, controlar os fluxos generosos que aqui aportam para se aproveitar da maior taxa de juros do mundo. Dilma e seu governo não desejam muita confusão em relação ao tema. Caderneta de poupança Segundo muitos especialistas, se quiser trazer os juros básicos reais no Brasil para um nível razoavelmente civilizado, o governo Dilma terá de enfrentar antes um violento enxame de marimbondos : a remuneração das cadernetas de poupança. Ela é de 6%, mais a inflação. E este é o piso dos juros no Brasil. Outro vespeiro Não haverá controle efetivo das contas públicas (sem aumento de impostos no Brasil) com sobra de recursos para investimentos e melhoria dos serviços públicos oficiais, enquanto o governo não resolver o déficit da previdência. No ano passado, o déficit do sistema oficial passou dos R$ 50 bi para pagar a aposentadoria e pensão de menos de um milhão de beneficiários. O déficit da previdência privada ficou em menos de R$ 48 bi pagando mais de 25 milhões de aposentados e pensionistas. Dilma vai pôr a mão para valer nesta caixa de marimbondos ? Dois Brasis Não dá para comemorar e considerar um feito o fato de o Brasil ter 13 milionários na lista das pessoas mais ricas do mundo da revista "Forbes" e, ao mesmo tempo, não ter uma única universidade no rol das 100 melhores. Radar NA REAL 11/3/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3941 alta alta - REAL 1,6649 estável/queda estável/queda Mercado Acionário - Ibovespa 66.684,60 baixa estável/alta - S&P 500 1.304,28 estável/alta alta - NASDAQ 2.715,61 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Ministros sem pasta A presidente Dilma tem mesmo, em muitos casos, um estilo diferente de Lula. Lula não dava bronca, afagava mesmo os auxiliares indigestos. As vozes da sombra do Planalto informam que em menos de três vezes já viram no ar a régua de castigo da presidente. Lula deixava os indigestos fritando em fogo brando até que ficassem esturricados. Aí então demitia, dizendo-se a contragosto. Dilma desidrata o poder dos auxiliares indesejados, aqueles que ela acabou tendo de engolir por razões de Lula, por razões políticas. É difícil, por exemplo, descobrir que Moreira Franco é ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, a antiga "Sealopra" de Mangabeira Unger. Nada do que foi prometido ao PMDB para engordar a Secretaria até agora ocorreu. E não deve ocorrer no tamanho esperado pelo partido de Michel Temer. O comando do Conselhão dificilmente será deslocado para lá. O IPEA continua na Secretaria, mas sob completo domínio do PT. A saída de Marcio Pochmann da direção do instituto, dada como certa pelo grupo de Moreira Franco, gorou. Desidratação Na mesma linha de Moreira Franco está o homem de José Sarney no ministério do Turismo, Pedro Novais (PMDB/MA). Sua pasta parece não ter sido ainda informada oficialmente que o Brasil nos próximos anos sediará uma Olimpíada e uma Copa do Mundo, dois eventos, além de esportivos, de grande apelo turístico. E seu Ministério teve um corte tão brutal em seu orçamento que, se Novais não for comedido, ficará logo sem dinheiro até para passagens em ônibus convencionais de Brasília ao Maranhão quando quiser visitar suas bases eleitorais. Por enquanto, não estão tirando nota dez também duas outras heranças de Lula : o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tem a sombra de Antonio Palocci e até de seu secretário executivo, Nelson Barbosa, e o ministro da Educação, Fernando Haddad. Pedra no mocassim de Kassab A mais recente - talvez não a última estratégia do prefeito de SP, para botar de pé sua candidatura ao palácio dos Bandeirantes em 2014, passa pela (i) criação de um novo partido - o tal PDB -, (ii) levar a legenda a disputar as eleições municipais de 2012 por conta própria para evitar que se veja no PDB apenas uma manobra para burlar o princípio da fidelidade partidária e, somente depois, (iii) fundi-lo ao PSB. O possível empecilho Pode surgir, porém, um empecilho ao movimento. Para disputar com alguma chance de eleger prefeitos e vereadores em quantidade que lhe garanta certa robustez, o PDB precisará de uns bons minutos no horário eleitoral obrigatório. Esse tempo é medido pelo número de parlamentares eleitos pela legenda. Daí o empenho de Kassab em levar deputados para sua legenda. Kassab e seus seguidores acreditam que o Judiciário aplicará ao PDB a mesma norma que aplicou quando a costela do PSDB desgarrou-se do PMDB. O tempo dos deputados transferidos foi também para a nova legenda. Pode ser que o prefeito de SP e seus seguidores consigam tal interpretação. Mas não é certo. A decisão em relação ao PSDB se deu em outras circunstâncias. Na ocasião, o TSE e o STF ainda não haviam estabelecido a atual fidelidade partidária - então, o mandato era tido como do parlamentar. Agora, o mandato é do partido. E se o mandato é do partido, o tempo de televisão também, dentro da lógica, pertence ao partido pelo qual o parlamentar foi eleito. Só com a ajuda de Alckmin Kassab só conseguirá montar um PDB forte em SP, com bom número de deputados estaduais, de prefeitos e vereadores se o governador Geraldo Alckmin deixar. Quem desses se arriscará a deixar as generosas asas governistas, com riscos de viver a pão e água, tendo pela frente uma eleição municipal no ano que vem ? A reação de Alckmin à possível dissidência de aliados do DEM será uma indicação dos projetos futuros do governador. Afinal, fortalecendo Kassab ele pode estar fortalecendo um possível adversário em SP em 2014. Será isto que Alckmin quer ? Ou ele quer mais e Kassab vem a ser uma peça desse jogo ? Ciúmes masculino Está em transe na área jurídica do governo uma dose elevada de ciumeira. No governo Lula, os ministros da Justiça Márcio Thomaz Bastos e, depois, Tarso Genro, exerciam a plenitude do aconselhamento do presidente na área do Direito. Sem sombras. José Eduardo Cardozo não executa as mesmas funções, tem uma sombra a ofuscá-lo. Sombra As atuações do vice-presidente da República, Michel Temer, na área jurídica, são significativas, muito embora não sejam muito transparentes quando lemos jornais e colunas. Vejamos um fato que ilustra bem o tema : dizem que o constitucionalista, aconselhado por processualistas de escol, prepara uma investida contra o projeto de reforma do CPC, cujo principal articulador foi o ministro Luiz Fux. Se for fato, vejamos no que vai dar... Ressurgimento de Lula Há grande expectativa para a próxima rentrée de Lula no mercado da política, prometida para ele para depois do Carnaval, quarentena que ele mesmo se concedeu. Mudanças de rumo ensaiadas na política externa e na linha econômica não estão ao gosto do ex-presidente. Mas ele tem sido um fiel silencioso, em público. Por via de todas as dúvidas, a presidente Dilma, entre uma e outra revisão de políticas, faz públicos afagos a Lula. Na semana passada, na reunião com os sindicalistas, lamentou que Lula não estivesse presente ao encontro no Planalto. Segundo seus porta-vozes, na sombra ela pode também convidar Lula para acompanhá-la em uma próxima viagem ao Exterior. Lulismo : o que realmente sabemos de Lula ? Fala-se muito sobre o lulismo, este fenômeno político desconhecido que teria sido implementado no governo do ex-presidente Lula. Mas realmente sabemos muito sobre Lula a ponto de analisarmos o lulismo ? Há quem esteja pensando a respeito.
terça-feira, 1 de março de 2011

Política & Economia NA REAL n° 142

Vendaval em Brasília Se o objetivo do governo com os cortes orçamentários anunciados é o de "reverter as expectativas" dos agentes econômicos formadores de preços (empresas e mercado financeiro) em relação as suas reais intenções de agir com dureza para não deixar a inflação fugir do controle, dificilmente será bem sucedido. A poda orçamentária proposta, de responsabilidade dos ministros Guido Mantega e Miriam Belchior, foi recebida com desconfiança e ceticismo de um modo geral. Dos cerca de R$ 53 bi registrados pelos dois como sendo a economia que o governo fará este ano, os especialistas calculam que apenas pouco mais de R$ 13 bi de despesas previstas serão efetivamente cortadas. O resto, como se diz popularmente, é corte de vento: de intenções de despesas. Muito barulho por quase nada. Por exemplo : o governo não fará mais concursos este ano. Nem pagará a maior parte das emendas dos parlamentares. Credibilidade em risco Em diversas ocasiões, Dilma e seus ministros disseram que os programas sociais do PAC não seriam atingidos pela foice que vai se passar no Orçamento. Pois bem, o Programa "Minha Casa, Minha Vida", incluído no PAC e voltado essencialmente para as casas populares, perderá R$ 5,1 bil dos pouco mais de R$ 12 bi que teria este ano. São essas "pequenas coisas" que costuma abalar o crédito dos governantes. Sem explicações Entre as economias previstas por Mantega e Belchior, estão R$ 3 bi em diminuição com despesas de abono e seguro desemprego e outros R$ 2 bi de gastos menores com a Previdência. Acredita o governo que conseguirá tal feito com um pente fino para reduzir fraudes nessas duas áreas. Mas se havia suspeitas de fraude, por que tais providências não foram tomadas antes ? É impossível imaginar que com a economia crescendo menos o desemprego cairá ainda mais. E que as pessoas vão se aposentar menos... Também faltou explicar quais subsídios serão afetados pelo corte de R$ 8 bi e quais os efeitos desses cortes sobre os setores atingidos e sobre os preços de seus produtos e serviços. Mais despesas A confiança fica ainda mais perdida quando, ao mesmo tempo em que fala num plano de cortes, o governo programa medidas que trarão, na outra ponta, aumento de despesas. Tais como : no aporte de recursos para o BNDES, aumento do bolsa família, recriação da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), criação do ministério da Pequena e Média Empresa. As metas oficiais. E as oficiosas Para o público externo, o governo tentará trazer a inflação deste ano para o mais próximo possível do centro da meta, estabelecido pelo CMN, de 4,5%, nem que seja necessário o crescimento do PIB menor que o crescimento previsto hoje pelo ministério da Fazenda, entre 5% e 5,5%. No privado dos gabinetes oficiais, porém, a meta é não deixar a inflação bater no teto dos 6,5%. Nem deixar a economia despencar abaixo dos 4,5%. O BC tem sido lembrado a calibrar os juros nesta direção. Inflação e petróleo Não são poucos os técnicos do governo (inclusive do BC) envolvidos em cálculos fiscais, cambiais e de preços no que se refere aos derivados de petróleo. A alta do barril do petróleo pode não ser episódica - relacionada com a queda dos governos no oriente médio. Ela deve ter um caráter mais permanente. Os riscos, portanto, podem ser muito mais significativos do que vem sendo comentado na imprensa. Brasil menos procurado Se do lado do governo as discussões sobre o crescimento estão intensas, do lado dos investidores em ações o Brasil está sendo considerado um dos menos atraentes dentre os chamados emergentes. A China ainda desponta como o país mais interessante, enquanto o México, a Índia e a África do Sul despontam como os mais interessantes dentre os países em desenvolvimento. Isto é fruto direto da piora das expectativas de inflação e de menor crescimento. Enquanto isso, na renda fixa Já no quesito taxa de juros, os investidores acreditam que os investimentos em papéis do governo vão ser o grande negócio neste ano. Afinal, o BC deve mesmo aumentar a taxa de juros básica para um patamar próximo de 13% ano até dezembro para conter a inflação e, deste modo, o Brasil vai continuar sendo um dos portos seguros dos investimentos em renda fixa do mundo. Baixo risco de crédito e juros lá em cima. Câmbio, sem esperança Nenhuma conversa interna do governo está sendo levada a sério no que tange a melhorar o patamar da taxa de câmbio do Brasil para proteger a indústria local e aumentar as exportações. Os produtos chineses devem continuar invadindo o país comprometendo o processo industrializante nos próximos anos. Com uma taxa de juros real acima de 6% ao ano é impossível acreditar que, em condições normais, o dólar suba. Obama e Dilma O ex-embaixador brasileiro em Washington e nosso atual Chanceler do Itamaraty, Antonio de Aguiar Patriota, está conseguindo com enorme discrição tornar a pauta do encontro de Dilma com Obama bem mais atraente do que poderia ser imaginado. As questões de médio prazo das relações comerciais Brasil-EUA serão discutidas tais como a Rodada Doha, a política com a China e as questões de comércio bilateral, incluindo o etanol e a compra dos caças da FAB. Não haverá divulgação ampla dos resultados das conversas, mas o Brasil está propondo uma parceria bem mais próxima com os EUA. Uma surpresa e tanto para o Departamento de Estado Americano. No Itamaraty, a barba continua a mesma, mas a política externa...quanta diferença... Otimismo nos EUA Pesquisas recentes feitas por jornais norte-americanos confirmam a expectativa de que os EUA devem crescer 4% este ano. Será que crescerá mais que o Brasil ? Paradoxo na economia Joseph Heller, escritor norte-americano, autor, entre outros, de "Ardil 22", é mestre no uso do paradoxo e da ironia mais fina para criticar as instituições de seu país. Em "Gold vale ouro" (Good as gold, Nova Fronteira, 1979) o alvo de sua sátira é a Casa Branca e seu mundo da política, da corrupção, do nosso conhecidíssimo tráfico de influência. Uma de suas passagens nos faz lembrar as erráticas declarações de nossas autoridades sobre o que se vai fazer em matéria de política econômica. Diz um personagem : "Esta administração resolveu combater a inflação aumentando os preços, a fim de diminuir a necessidade de reduzir os preços para aumentar a procura e trazer de volta os preços inflacionários que desejamos baixar, reduzindo a necessidade de aumentar a procura e subir os preços. Não é mais ou menos isso que a nossa política econômica está pretendendo ?" Compare-se com o que disse o ministro Guido Mantega ontem : "O que nós estamos fazendo não é, prioritariamente, visando a inflação, mas um ajuste anticíclico da economia. Queremos desacelerar sem derrubar a economia. É mais um ajuste para retornar a um superávit fiscal maior". Leviandade Nem ainda foi dicionarizado pelos responsáveis pelo Aurélio ou Aulette e o vocábulo lulismo já está abandonado no linguajar político. Quando o carnaval passar Quando o presidente Geisel, em 1977, lançou o Pacote de Abril, édito imperial responsável pelo surgimento dos senadores sem voto (chamados biônicos, hoje relembrados nos suplentes sem voto) e pela total distorção do sistema representativo no Brasil, a irreverência criou um bloco carnavalesco, de sátira política, "O Pacotão" que até hoje faz sucesso nas ruas da capital da República. Passado o carnaval deste ano, "O Pacotão" vai enfrentar um novo e poderoso bloco, um tal de "Distritão" a ser inaugurado breve na passarela do Congresso Nacional. Esdrúxulo, esse "Distritão" vem para distorcer ainda nosso já insano sistema eleitoral. E para transformar os partidos ainda mais em meros veículos eleitorais, aos quais os candidatos se filiam apenas para ter uma legenda para disputar a eleição, os recursos do fundo partidário para a campanha e o horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão. Todo bloco carnavalesco que se preze tem um "general da banda". Na Banda de Ipanema a figura era representada pelo musicólogo e homem da cultura popular Albino Pinheiro. Quem se habilita a ser o "general da banda" do "Distritão" ? Comentários sinceros Dois próceres políticos, um do PSB e outro do DEM, conversavam tranquilamente no campus de uma universidade paulistana. Tratavam dos passos políticos de Gilberto Kassab envolto nas "negociações" para formação de um novo partido. Dois comentários chamaram a atenção desta coluna : (i) o prefeito está super capitalizado e que ele (ii) estaria oferecendo um rompimento com José Serra como "moeda de troca" nas barganhas políticas para as próximas eleições municipais. O segundo item da conversa é auto-explicativo. O primeiro, no entanto, é curioso. O que quer dizer "supercapitalizado" ? Banda meio larga É licença poética chamar a velocidade de 512 kbps, previsto no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), por este nome. É licença poética vender a ideia de que a banda larga popular vai custar R$ 35 por mês sem antes acertar com os governadores a retirada do ICMS dessa conta. É licença poética dizer que um serviço de Internet, num país de salário mínimo a R$ 545, é um serviço "popular". Está na hora dos bois receberem os seus nomes reais. Sem trocadilho. Banda meio estreita Quando o PNBL foi lançado, com a ressurreição da Telebrás e a pompa e circunstância que somente Lula sabia prover, o Brasil seria inundado de acesso veloz (sic) à Internet e sem a necessidade de participação das teles privadas. Devidamente implantada a Telebrás, verbas garantidas e empregos assegurados, o discurso foi sendo adaptado à realidade. De algumas milhares de cidades voando na Internet até o fim de 2010, marcou-se a festa para apenas 300 municípios experimentais em dezembro. Depois, a data passou para abril, na semana passada postergada para maio, mas como o ano tem mais meses, pode ser que outros surjam nesse calendário. Agora, as empresas privadas estão sendo imploradas a entrar no jogo. A Telebrás continua uma incógnita, não conseguiu até agora nem mesmo fechar acordo com duas outras estatais, a Eletrobrás e a Petrobrás, para usar a infraestrutura de telecomunicações que elas têm. Vem bomba nas teles Estão a caminho mudanças importantes no comando das empresas de telecomunicações no país. E não devem passar de junho, com fogo suficiente para pegar gente que se sente muito bem na fita. Radar NA REAL 25/2/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3796 alta alta - REAL 1,6605 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 66.902,54 baixa estável/baixa - S&P 500 1.319,88 alta alta - NASDAQ 2.781,05 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 141

A cobrança apenas começou Foi mais fácil até do que o próprio governo imaginava aprovar o salário mínimo de R$ 545 na Câmara na semana passada. Mais tranquilo ainda o será no Senado. A oposição está aparvalhada (ver nota abaixo) e os sindicalistas sem brios depois de tudo que receberam do ex-presidente Lula. O gosto por cargos comprou fidelidades surpreendentes na amorfa base aliada. O desejo de preservar as emendas dos cortes do facão de Mantega fez o resto. Além disso, a questão do equilíbrio das contas públicas e suas conexões diretamente na veia com o ajuste do salário mínimo : a defesa de um ajuste muito alto pode cheirar a demagogia e tem eco contrário nos formadores de opinião e no chamado mercado. A presidente Dilma e os seus jogaram habilmente com isto. Outros embates Há outros embates armados para o governo nos quais uma grande parte desses fatores não se repetirá. É o caso do reajuste de mais de 50% para todo o Judiciário (ao custo calculado de R$ 6 bilhões anuais) e o da equiparação dos salários dos policiais civis e militares e dos bombeiros de todo o país aos de seus colegas de Brasília (mais R$ 40 bilhões ao ano). As emendas parlamentares já terão sido podadas, os cargos distribuídos - para cada parlamentar satisfeito haverá pelo menos dois ou três lamuriosos. Mas, além e acima de tudo, as corporações com interesses nesses projetos têm um poder de pressão direta infinitamente superior ao dos acomodados dirigentes das acoelhadas centrais sindicais. Agora, é para valer O ministro Guido Mantega terá de dizer esta semana de onde vai tirar os R$ 50 bilhões que prometeu economizar para bater com força na inflação. Ainda mais depois que se soube que o governo capitalizou mais ainda o BNDES e a CEF. Ampliando a capacidade dos dois bancos de conceder empréstimos numa conjuntura em que a ordem é a de moderar o consumo. Há contradições insanáveis entre medidas anunciadas e outras adotadas. E elas já começam a criar ruídos entre o Ministério da Fazenda e o BC. Quem precisa inspirar confiança deve comprá-la todos os dias. Para não furar o teto Os primeiros movimentos do governo, no momento, não são para trazer a inflação, hoje correndo nos 6% anuais, para mais próximo do centro da meta estabelecida, de 4,5%. A luta é para não deixar que nos próximos meses a corrida dos preços bata no teto dos 6,5%. De aí em diante o risco é, pela perda de credibilidade, a corrida se acentuar. Cortando vento As vozes oficiais escondidas de sempre estão apresentando o provável adiamento para o ano que vem da compra dos novos caças para a Aeronáutica como uma demonstração de que o governo vai mesmo fazer uma decisiva "conciliação" fiscal. Tão decidido que não se importa até em desagradar os militares - a Marinha também deixaria de ganhar novos barcos. É tudo conversa para bois, vacas, bezerros e outros mamíferos caírem no sono. Mesmo que o governo decida comprar novos equipamentos para aviadores e marinheiros, nenhum tostão seria gasto este ano, os pagamentos começariam apenas a partir de 2012, quando, nas previsões do ministro Mantega, as contas públicas conciliadas estarão navegando em mar de almirante e voando em céu de brigadeiro. Falta de credibilidade fiscal O governo está subestimando a ausência de credibilidade em relação aos cortes no orçamento propostos. Semana passada os autores desta coluna estiveram reunidos com importantes formadores de opinião do mercado financeiro. Quase sem exceção os investidores não levam a sério os propósitos governamentais. No fundo a grande maioria aposta numa inflação mais alta e num crescimento mais baixo. Não à toa, há toda uma gama de operações para reduzir a participação das operações de risco nas carteiras de bancos e fundos. Este é um fenômeno generalizado que obviamente não é comentado nos jornais. Ex-ministros Por mais que se diga o contrário, o ministro Carlos Lupi, do Trabalho, entrou irremediavelmente na lista dos futuros ex-ministros, já habitada, entre outros por Fernando Haddad, da Educação, e Pedro Novais, que muitos dizem, mas não comprovam, dirige o Turismo. Nela pode entrar em futuro próximo Orlando Silva, dos Esportes. Tudo sob a observação do ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, auxiliar de Antonio Palocci e Michel Temer na articulação política. Reforma política Se os brasileiros não ficarem atentos - e muito atentos - vão ser agredidos pela reforma política que está sendo industriada por José Sarney e Michel Temer no Congresso e por Lula com os partidos aliados, como ele promete fazer depois que voltar à ativa, após o Carnaval. Neste campo, o que é bom para o poder político não é bom para a sociedade. E adivinhem quem vai ganhar, de goleada, esse jogo ? Timing das reformas Aparentemente os políticos brasileiros esticarão a corda até que as pressões populares por reformas se tornem acesas nas ruas para que de fato estes ajam. O ex-presidente Sarney parece gostar de comentar a crises nos países árabes, mas esquece de mencionar que estas crises são fruto da letargia em executar reformas e no apego desmedido com o poder. Leilão reverso O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, está leiloando seu cacife eleitoral, cujo tamanho real somente será conhecido quando ele não tiver mais a prefeitura e o apoio do governo estadual ao alcance, entre o PMDB e o PSDB e, em menor escala, até com o próprio DEM. Kassab está tão convicto de que tem o controle do processo que ainda nem desconfiou que os acenos recebidos dos socialistas do governador Eduardo Campos têm o dedo de Brasília e do PT. Não é do agrado dos líderes da aliança federal que o PMDB ganhe mais alguns deputados em Brasília e fique maior que os petistas na Câmara. O leilão tem tudo para virar-se contra o leiloeiro. Ilusão à toa Depois de quarta-feira, o ego do PMDB e de sua direção não cabe em nenhuma galáxia. Vai desinflar antes que o galo cante três vezes, assim que o ministro Palocci, por delegação da presidente Dilma Rousseff, começar a alimentar o Diário Oficial com as nomeações do segundo escalão. É punir ou punir Se os petistas dissidentes no salário mínimo não forem exemplar e sumariamente "executados", vai ser duro segurar a fidelidade dos outros parceiros aliados em futuras votações no Congresso. Ser ou não ser A oposição continua paralisada entre a mineira moderação de Aécio Neves e o neoradicalismo de José Serra. O rolo compressor que Dilma está acionando - ela está se mostrando mais eficiente até do que Lula neste quesito - não justifica a apatia que PSDB, DEM e PPS vêm mostrando nesses dias. Falta direção e sobram fogueiras de vaidades e ambições entre os ditos - mas não provados - oposicionistas. É certo que o embate do salário mínimo era delicado. O salário piso dos brasileiros é de fato baixo, ridículo, humilhante. Porém, havia e há questões muito sérias em torno dele - a repercussão do reajuste nas contas oficiais por conta de distorções existentes na economia. Brigar por um mínimo elevado sem mostrar como corrigir estas distorções é mesmo demagogia. Dizer que dá para dar mais simplesmente cortando a conta dos juros é repetir o discurso do PT no passado e até de alguns petistas no presente - demagogia também. Mesmo enredada nessa armadilha sobra espaço para a oposição aparecer, crescer e acontecer : o desarranjo fiscal, a inflação, o câmbio, os juros, as contas externas, o peso dos impostos, o rombo da previdência, só para ficarmos nos mais urgentes. A oposição ganha se levá-los para o Congresso, com propostas concretas para solucioná-los. Não basta "twitalos" ou exibi-los em discursos vazios. Deste modo a oposição caminha para se tornar mais irrelevante do que já está. Sindicalismo e representação política Por mais que seja pouco comentado, o setor sindical brasileiro é um dos mais atrasados segmentos sociais e políticos brasileiros. As centrais sindicais ligadas ao governo estão paralisadas e procurando posições no governo para os seus apaniguados. As outras centrais buscam espaço em discussões pontuais como no caso da votação do salário mínimo e, até mesmo, chegaram a defender pela voz de Paulinho da Força a volta dos bingos. Os sindicatos não representam de fato os trabalhadores e são financiados concretamente pela existência de um imposto sindical obsoleto e útil às lideranças sindicais. Triste sina do movimento dos trabalhadores, tão importante na redemocratização dos anos 80. Aécio e os sindicatos Está certo o senador e ex-governador Aécio Neves quando trata da ampliação da base de apoio oposicionista. Não faz sentido que a conquista de espaços com vista à reconquista do poder central seja feita a partir de um eleitorado já conquistado. É preciso ir buscar apoio em outros segmentos sociais. Todavia, não deixa de ser irônico que o mineiro busque apoio nos sindicatos carentes de representatividade e com mazelas e práticas políticas que chegam a assustar. A modernidade que Aécio quer trazer à tona não combina com esta percepção tão arcaica. O Panamericano e os "balanços apócrifos" A CVM aprovou a publicação das informações financeiras pela nova diretoria do Panamericano sem que os dados passados sejam passíveis de responsabilização por parte da atual diretoria. Esta decisão aparentemente se deve a constatação de que os controles internos do banco eram deploráveis. A pergunta que não quer calar é : quem então assumirá a responsabilidade pelo passado ? E o BC ? Nada sabia disso tudo ? Finalmente, se as contas não são confiáveis, como foram calculadas as provisões e o preço de venda do banco ? Tudo muito obscuro... Variáveis dos mercados O otimismo com o mercado acionário norte-americano está se generalizando. Todavia, este tem de sair dos operadores e "contaminar" a economia real. Uma trajetória e tanto. De toda a forma, a liquidez crescente das bolsas americanas e os resultados corporativos positivos projetam uma recuperação consistente, mesmo que ainda insuficiente para espalhar otimismo generalizado. O mesmo ocorre na Alemanha e, em menor medida, na França. O maior risco mesmo vem do Oriente Médio. O petróleo está num nível acima dos estimado pelos especialistas, o mais alto dos últimos dois anos. Isto pode conter a recuperação mundial (especialmente a dos EUA) e aumentar a inflação. Assim sendo, a nossa melhor estimativa indica que vamos vivenciar um período mais turbulento nos próximos dois meses. O aumento da volatilidade é evidente em que pese o fato de que a tendência favorável às ações americanas está intacta. Nos mercados emergentes, especialmente no Brasil, a tendência é negativa. Nada muito acentuado, mas a melhor fase passou. É preciso esperar um pouco mais para apostar no otimismo. México, depois de muito tempo Não são poucos os investidores que estão apostando que o México será o destaque dos emergentes neste ano. A inflação cai, o PIB deve crescer no ritmo mais forte na América Latina e a alta do petróleo pode ser favorável. A verificar. Radar NA REAL 18/2/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta alta - Pós-Fixados NA alta alta Câmbio ² - EURO 1,3677 alta alta - REAL 1,6675 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 65.755,62 baixa baixa - S&P 500 1.343,01 alta alta - NASDAQ 2.833,95 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 140

Classe C desce do paraíso ? Um dos fenômenos mais entoados em prosa e verso da era Lula, justificativa até para teses sobre a efervescência do lulismo, foi a ascensão de milhões de brasileiros à classe média e ao mundo do consumo, sustentado em parte pelo aumento da renda média e em parte por crédito fácil, ainda que não muito barato. Este paraíso agora pode estar ameaçado, ou menos róseo, devido à conjugação da conjuntura externa com o "fiscalismo eleitoral" interno do ano passado. As fontes que estão ameaçando estender nuvens sobre o éden do consumismo popular : 1. Ameaça oficial de conter viagens e gastos dos brasileiros no exterior. 2. A contenção dos reajustes do salário mínimo e também dos aumentos do funcionalismo público. 3. E a danada da inflação, que anualizada já bateu nos 5,99% em janeiro e para as classes de baixa renda (2,5 salários mínimos) estourou acima dos 7%. Como ensina a vã filosofia os órgãos mais sensíveis do ser humano são o estômago e o bolso. Lua de mel política dura enquanto os dois estão felizes, satisfeitos. Ventos do Nilo Nenhuma insatisfação política com o excesso de ditadura e nenhum twitter ou rede social, dizem os especialistas em coisas árabes, teria sido capaz de derrubar um ditador do porte de Hosni Mubarak se a insatisfação dos egípcios não tivesse sido alimentada por uma séria crise econômica. Nos regimes duros, cai o ditador. Nos regimes abertos, o governo perde popularidade e perde o controle do processo político. A prova de São Tomé A tantas falou o ministro Guido Mantega sobre uma inflação apenas sazonal no Brasil (recuaria em dado momento sem muito esforço). A presidente Dilma sabe que a herança deixada por Lula não foi tão benéfica assim como dito. Agora, o governo está submetido à prova de São Tomé : fazer antes para que se acredite depois. O corte de R$ 50 bi no Orçamento deste ano, anunciado por Mantega de um modo meio envergonhado, como se estivesse se desculpando, está à espera desta comprovação. Mantega terá de mostrar esta semana onde e como vai passar o facão, num orçamento já engessado por natureza. Contas bem feitas por economistas não oficiais mostram que para chegar a este número não há como não avançar sobre os investimentos, inclusive o PAC, "menino dos olhos" da presidente. É este o perigo Nas sucintas contas que os ministros Mantega e Miriam Belchior apresentaram do "novo" Orçamento, desperta dúvida o substancial aumento previsto nas receitas, de 19,2% do PIB em 2010 para 19,8% do PIB em 2011. Isto num ano em que a atividade econômica, até por conta da tesourada de Mantega, vai andar em ritmo mais lento. Pode ser apenas um fantasma. Mas, na semana passada, a bancada do PT na Câmara listou entre suas prioridades neste primeiro semestre parlamentar acabar a votação do projeto que regulamenta a emenda 29 da Constituição. Calcula-se que em prática ela levará mais R$ 10 bi anuais para o setor de saúde, somados os investimentos das três esferas de governo. Dentro dela está implantado retorno do imposto do cheque, o insepulto CPMF, alcunhado, para efeitos mercadológicos de Contribuição Social para a Saúde. É a obsessão do ministro Alexandre Padilha. Provinha de São Tomé Uma boa demonstração de "responsabilidade fiscal" seria o governo esquecer, por pelo menos meia década, a história do Trem de Alva Velocidade, ligação entre Campinas, SP e RJ. Aquele que as autoridades dizem que custará cerca de R$ 33 bi, mas que o pessoal do ramo não compra por menos de R$ 50 bi. O mesmo que se diz que não terá dinheiro público, mas que terá R$ 20 bi financiados pelo BNDES a juros de avô para neto, mais R$ 5 bi de garantia para os investidores se os cálculos de receita não se confirmarem e ainda mais R$ 3 bi do Tesouro Nacional para a empresa estatal a ser criada para administrar o negócio. O trem bala, porém, avança. A concorrência está mantida para abril, depois de adiada de dezembro. E mais governo vai entrar no negócio antes dito exclusivamente privado : Correios e Eletrobrás foram "orientados" a entrar como sócios, com dinheiro, no consórcio vencedor. Mais uma garantia de que para o investido não há risco. Já para o contribuinte... Deve ser isto que se está chamando de "consolidação fiscal". Balão furado Já desinflou um dos principais balões de ensaio lançados no início do governo Dilma por seus porta-vozes ocultos : o início, ainda este ano, da redução de 20% para 14% na contribuição das empresas para o INSS, em etapas. Guido Mantega, o desenvolvimentista de Lula, travestido de "mãos de tesoura" por Dilma, já avisou que desonerações fiscais no momento só com recursos novos para compensar. Obama também terá problemas Reduzir déficits não é tarefa trivial. Requer esforço político e a convicção de não tentar ser popular. O presidente norte-americano manda esta semana para o Congresso um projeto de US$ 3,7 trilhões de orçamento e promete reduzir o déficit em US$ 1,1 trilhão em dez anos. Do jeito que está o orçamento, a oposição republicana vai brigar para aumentar a redução do déficit reduzindo o orçamento. Será um teste para a recuperação econômica dos EUA baseada na expansão dos gastos públicos. Com os mercados subindo e o otimismo financeiro crescendo o teste de Obama é bem sério. Já os desempregados (10% da força de trabalho) continuam desacreditando nos democratas e desconfiando dos republicanos. Sindicato de maldades Só pode ter partido de um inimigo jurado do deputado Vicente Paulo da Silva (PT/SP), o Vicentinho, a idéia de entregar ao ex-presidente da CUT o cargo de relator do projeto de aumento do salário mínimo, para defender o valor de R$ 545. Dilma aposta pesado para ter o salário mínimo de seu gosto. Um número assusta os "conciliadores fiscais" : cada um real a mais no salário mínimo eleva em R$ 286 milhões os gastos do setor público de um modo geral. O calmante na Casa Civil A inquietação dos ditos agentes econômicos só não é maior porque todos já perceberam que o ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, é uma espécie de primeiro ministro (discreto) do governo Dilma. Porque, se dependesse de Guido Mantega... Inflação à solta Está claro que o BC, ainda sob a gestão de Meirelles, resolveu atuar nas eleições mantendo os juros básicos estacionados à espera da decisão das urnas. Ora, o resultado está aí : a inflação se generaliza e o custo da alta dos juros pode ser muito maior se tivesse agido a autoridade monetária antes. A pesquisa Focus do BC continua mostrando que os agentes estão a desconfiar da capacidade de o BC em controlar a inflação. Reservadamente, os analistas do mercado financeiro estão dizendo o seguinte : a inflação não fugiu ao controle, mas muita tensão ainda vai provocar. Quem pode está aumentando preço e o controle da inflação vai custar mais juros e empregos. O resto é discurso. Lula e a inflação Será curioso saber como se comportará o ex-presidente Lula caso a inflação mostre os dentes e rebaixe a popularidade do governo que ajudou a eleger. Haverá fidelidade marital ? Ou o ex-sindicalista se comportará como nas assembleias sindicais onde perguntava aos trabalhadores se deviam ou não aceitar o acordo com os patrões ? Esta pergunta foi feita por um bem situado analista político, ouvido no Planalto. A China e a inflação As falas do Secretário Timothy Geithner soltas no Brasil na semana passada indicam que estava "feliz" com a inflação chinesa a qual ajusta para cima o câmbio daquele país. Se os chineses ajustarem a atividade econômica para baixo, a conta vai bater nas portas dos EUA, mas também nas nossas. Esta escolha ainda não foi consolidada, mas geram mais alertas para a nossa política econômica. Radar NA REAL 11/2/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3486 alta alta - REAL 1,6668 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 65.755,62 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.329,15 alta alta - NASDAQ 2.809,44 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Um prefeito sem rumo Depois de cortejar o PMDB, a mais recente invenção do prefeito de SP, Gilberto Kassab, é a criação de uma espécie de partido "fake", cognominado PDB, a ser fundido posteriormente ao PSB. Se estivesse menos preocupado em cuidar de sua carreira política e mais concentrado em cuidar de questões municipais, Kassab poderia fazer algumas operações simples, como um "tapa-buracos", outra "caça-mosquitos" e uma terceira para tentar destravar o insuportável trânsito paulistano, e ser muito mais útil à sociedade. Até porque, para ter partido forte é preciso ter votos. E pelos "elogios" que ele tem recebido em várias camadas sociais da cidade, o PDB tem tudo para ser um natimorto. Anúncio classificado A não ser pela exibição de suas picuinhas, alguém tem notícia da que deveria ser a oposição programática e responsável no Brasil. Informações podem ser dadas para os mais de 44 milhões de brasileiros que votaram nela em outubro passado. Novo profissional Prestem a atenção : dentro em breve será conhecido o novo advogado do governo em geral e da presidente da República em especial, cargo até há pouco tempo ocupado pelo jurista Márcio Thomaz Bastos. Não confundir com o advogado-geral da União, que tem funções de Estado. O novo profissional já mostrou suas credenciais nos procedimentos legais para a votação de salário mínimo. Pode ser que venha a ter mais trabalho até que o ex-ministro da Justiça, pois o "nosso" (de Lula) Delúbio Soares ameaça novamente a adentrar no campo partidário e o julgamento do mensalão deve ser este ano ainda.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 139

Timothy Geithner : sem novidades Na "conversa" de ontem do Secretário do Tesouro dos EUA na FGV/SP, na atual viagem pelo Brasil, as informações foram, digamos, "burocráticas" da parte do principal artífice da política econômica de Obama. Vejamos alguns pontos : 1- A agenda interna dos EUA é a prioridade do governo Obama neste momento. Portanto, as questões internacionais não diretamente relacionadas com a política econômica do governo americano estão "congeladas"; 2- A proposta francesa de "estabilização dos preços das commodities" é difícil de ser executada. O governo americano persiste "interessado" em saber mais sobre tais propostas. Leia-se : a proposta não deverá ser incorporada pelos EUA apesar de o Secretário não ter falado, em momento algum, sobre um tipo de alinhamento com a posição brasileira em relação ao assunto. 3- A política de Obama é ter um equilíbrio entre o "mercado" e o papel do Estado no controle dos agentes. Ou seja, acabou-se o tempo em que a regulação do mercado era matéria demoníaca para o governo dos EUA. 4- A relação entre as taxas de câmbio no mundo é importante para a recuperação da economia norte-americana. Por sua vez, interessa ao mundo que os EUA cresçam. De toda a forma, as falas de Geithner deixaram transparecer um certo cuidado na preparação da viagem de Barack Obama ao Brasil daqui a cerca de dois meses. Ponto positivo para o país e uma região que sempre foi desprezada pela diplomacia americana. Geithner incomoda apenas Meirelles O ex-BC Henrique Meirelles foi o mediador da "conversa" na FGV/SP de Geithner com a comunidade acadêmica. Inicialmente, Meirelles murmurou um "not yet" para negar que exercia o cargo de "Autoridade Pública Olímpica (APO)". Parece ter gostado, contudo, que sua apresentação perante à plateia incluísse este cargo (não assumido). Ao final da "conversa", Timothy Geithner afirmou que a valorização do Real perante às principais moedas se "devia a uma taxa de juros que parece excessivamente elevada". Nesse momento, Meirelles saiu de seu papel de mediador e argumentou que "a taxa de juros só pode cair se a política fiscal for mais apertada". Claramente saiu em defesa própria. Não houve nenhum comentário adicional de Geithner sobre o assunto. Segurança americana em baixa Até que foi bastante discreta a presença dos seguranças norte-americanos que protegiam o Secretário do Tesouro dos EUA na FGV/SP. Será que isto se deve à melhoria da segurança pública na maior cidade do Brasil ? Rússia aperta o crédito Com o objetivo de não aumentar a taxa de juros básica para controlar a inflação e, desta forma, atrair mais capital especulativo, a Rússia resolveu reduzir a liquidez monetária aumentando as reservas bancárias obrigatórias. Todos os países emergentes que são relevantes (denominados de BRICs) estão com uma trajetória de aperto monetário com o objetivo de controlar a inflação. Apenas o Brasil está aumentando a taxa de juros com mais vigor. Inflação projetada pelo mercado A propósito da inflação no Brasil, as expectativas continuam piorando em relação à inflação : o relatório Focus do BC que coleta dados do mercado projeta uma inflação de 5,66% para este ano, 1,16% acima do centro da meta para o IPCA, índice que a autoridade monetária usa como meta de inflação. A julgar pelas expectativas do mercado a taxa Selic deve fechar 2011 em 12,5% ao ano. Nada bom para o crescimento. Política fiscal na geladeira Até agora não se sabe onde e quanto o governo vai cortar no orçamento para cumprir a meta fiscal proposta pelo próprio governo. Não há direções que sejam respeitadas pelo governo, mesmo quando quem emite as ordens seja a presidente da República. Anotem aí : o assunto está muito mal conduzido na esplanada ministerial de Brasília. O Baú de "seu" Sílvio é o PanAmericano ? Aparentemente o grande beneficiário da venda de 37,6% do Banco PanAmericano para o BTG de André Esteves foi o apresentador e empresário Sílvio Santos. Segundo consta na imprensa, em notícias soltas e descoladas uma das outras, Sílvio deixa os "pepinos" para os compradores e salva o seu grupo empresarial. Uma operação genial para um banqueiro desastrado, não é mesmo ? Tudo muito curioso. Afinal, o PanAmericano é de capital aberto e, portanto, tem acionistas que não são os controladores. Ora, como se chegou ao valor de R$ 450 milhões ? Haverá oferta para os acionistas de mercado que quiserem vender as suas participações ? Qual o papel e o poder que a CEF terá no banco ? Há ligações da transação com a política, especialmente o PT que aceitou dinheiro do "trabalhador-banqueiro" André Esteves ? Sílvio Santos parece ter aberto "as portas da esperança" e recebido belas mercancias. Do outro lado, pouco se sabe, mas muito se fala. Silêncio na Fazenda Quase nada se ouve no ministério da Fazenda sobre o caso PanAmericano. Por que será ? Risco sistêmico Há membros do governo que defendem o resgate/venda do Banco PanAmericano em função do risco sistêmico que poderia gerar. Se esta lógica vale para o PanAmericano, vale para qualquer outro banco. Radar NA REAL 4/2/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3597 alta alta - REAL 1,6733 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 65.269,13 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.310,87 alta alta - NASDAQ 2.769,30 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Os donos do poder Depois de Dilma, escrevam estes nomes : Antonio Palocci, Michel Temer, José Sarney. São as maçanetas que contam em Brasília. Rumo ao Supremo Há mais razões que o simples e inegável talento para explicar a escolha do novo ministro do STF, Luiz Fux. Tem um tanto a ver com o politicamente mais momentoso caso que o STF terá de julgar nos próximos meses. Estilo Dilma Orlando Silva não era o preferido de Dilma para continuar no ministério dos Esportes. O nome escolhido por ela era o da ex-prefeita de Recife, Luciana Santos, também do PC do B, como o repetido Orlando. O PC do B, no entanto, não concordou com a troca e Luciana ficou no ar. Queria o PC do B encaixar tudo da Copa do Mundo e das Olimpíadas do Rio na sua pasta, inclusive a tal Autoridade Pública Olímpica (APO) cobiçadíssima com seus mais de R$ 30 bi de verbas. Dilma, sem ligar para as reivindicações do aliado, agora escolheu o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, para o cargo. E pode dar a ele também a "autoridade" da Copa. A escolha foi aplaudida fora do mundo político. Já nesse mundinho, nem tanto. A presidente ao mesmo tempo pagou uma dívida de campanha dela e de Lula, e passou um "carraspana" no PC do B. Com recados para outros aliados. A arte de dividir No meio ambiente político da Câmara e do Senado já é voz corrente que a tática adotada por Dilma é a de dividir para governar. Dividir os aliados, diga-se, não a oposição. É enfraquecer a todos, até o PT, para não ser engolfada. Já provaram do veneno, o PMDB, em pé de estourar uma guerrilha entre os que são de Sarney e de Temer e os que não são ; o PSB já com as tropas dos irmãos Cid e Ciro Gomes e as do governador Eduardo Campos em uniforme de campanha : e o PT dos dilmistas e daqueles que na ferina capital já estão sendo classificados de "viúvas de Lula". A dúvida é saber qual o cacife de Dilma para bancar tal tática no longo prazo. No primeiro embate está goleando e os descontentes apenas amuam pelos cantos. Contencioso Por essas e tantas outras como a do PC do B, nas contas do Congresso a presidente está fechando um temível contencioso com os aliados : um pedaço do PT, o PMDB que não é de Temer nem de Sarney, o PSB está já na "contabilidade" e tende a aumentar mais sua participação à medida em que forem definidos os cargos mais amados do segundo escalão. Não há como escapar da lei natural da fisiologia de que cada nomeação gera uma alegria e dezenas de tristezas. O silêncio dos inocentes No novo governo, não é privilégio da presidente a arte de cultivar o mutismo. Não se sabe se por mimetismo, por ordens expressas, por medo ou, agora, por falta do que dizer, que governistas outrora falastrões de repente ficaram se voz. O distinto público anda intrigado, por exemplo, com o desaparecimento da mídia de figuras como o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, do presidente do Banco do Brasil, Ademir Benedini. Até Palocci está mais silencioso que nos seus tempos de ministro da Fazenda e de deputado Federal. Nunca se viu tanta gente fugindo de jornalistas em Brasília como nesses tempos de presidência feminina. A arte de se dividir Nos tempos ditos de antigamente, com certas ironias e maldades, mas com boa dose de acerto, se dizia que as esquerdas no Brasil, batidas por conflitos ideológicos e vaidades, só se uniam na cadeia. Pois bem, como não há possibilidade nem remota de se retomarem as prisões políticas no Brasil, o que se pode dizer das oposições brasileiras, mantido o andar do cabriolé, é que elas só deverão se unir como as paralelas que se encontram no infinito. A bola está na área, na marca do pênalti : briga por cargos, história de Furnas, negócio do PanAmericano... Coisas para os oposicionistas mostrarem pelo menos um pouco de sua cara, e lá estão eles se matando, sem nenhum gesto de altivez. Para alegria de Dilma e de seus parceiros. Em Brasília, assegura-se que as divergências Serra/Aécio no PSBD e Bornhausen/Maia no DEM não chegarão ao fim sem mortos e feridos. Pelo que se tem dito e escrito o ex-presidente FHC já está perdendo a paciência. Em Santos, uma capitania abandonada Concais é o nome da estação de passageiros do Porto de Santos. O nome mais apropriado seria Concaos, tal a precária infraestrutura para lidar com milhares de passageiros que embarcam e outros milhares que desembarcam, quase ao mesmo tempo. Misturam-se aqueles caminhões caindo aos pedaços carregando containers, enormes trens de carga cruzando o caminho de passageiros com malas, dezenas de ônibus trazendo e buscando os viajantes e mais os ônibus que trazem os passageiros dos navios até o terminal de bagagem. Acrescente-se a este pavoroso cenário, um absurdo congestionamento de táxis também trazendo e levando os infelizes usuários. Reclamar para quem ? Daqui a pouco vai ser mais apropriado embarcar do Rio de Janeiro, sem trem, sem container, sem caos. Bem isto se dá na área restrita do serviço para passageiros. Descrições mais cruas ainda se podem fazer das operações de carga e descarga de mercadorias, importações e exportações. É mais que o caos bíblico. E o porto de Santos tem donatários, muito bem situados na República. Não seria o caso de confiscar a "capitania" e entregá-la a pessoas mais dispostas ao trabalho e menos à politicagem e outros tais.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 138

EUA : o ponto central é o emprego Muito embora a popularidade do presidente Obama esteja baixa, a economia norte-americana vem dando sinais consistentes de recuperação. A produção industrial tem crescido, o consumo mostra sinais de elevação sistemática mesmo que pequena, a confiança dos investidores cresce e as contas externas apresentam déficits menores. Os efeitos no longo prazo da estratégia de "inundação monetária" persistem sob ferrenho escrutínio, mas, até agora, os efeitos sobre a demanda foram positivos sem grandes alterações na inflação. O problema é que o desemprego continua cravado nos 10% da mão de obra e os efeitos políticos da recuperação são negligenciáveis. Neste contexto, é difícil de acreditar que propostas "de estadista" de Obama podem vingar. Não à toa, o seu discurso sobre "o Estado da União" na semana passada foi escutado com ceticismo pela classe política e pelo povo. O presidente quis aguçar a confiança dos americanos na América. Acabou no vazio. Na mesma semana em que o presidente chinês desfilava pelas avenidas de Washington paparicado por empresários e pelos próprios diplomatas nativos. Sinal dos tempos. EUA : mercado de ações em alta A despeito da constatação de que a recuperação dos EUA é lenta, o mercado de ações do país vem apresentando excelente desempenho. A tendência é de alta, os fluxos de capital para o mercado são consistentes e os resultados das empresas satisfatórios. Com a taxa de juros negativa em termos reais (descontada a inflação), muitos investidores sentem-se seguros de investir em ativos reais com liquidez. As ações ocupam lugar privilegiado nesta estratégia. As ações norte-americanas podem se destacar entre os mercados mundiais neste ano. PanAmericano : mais "novidades" Difícil acreditar que tantos erros possam ter passado incólumes sob os olhos de auditores e do próprio BC no caso do Banco PanAmericano. Seria até o caso para uma investigação congressual sobre como agem o BC e as empresas de auditoria nas suas fiscalizações. Espera-se que o Ministério Público faça a sua parte. Mais de R$ 6 bilhões de rombo nas contas da instituição parece um número incrível. Pergunta que merece resposta Se a aquisição do PanAmericano pode ser interessante para o competente e agressivo Banco BTG de André Esteves, então por que não seria bom para a Caixa Econômica Federal ? A pergunta vem de um bem situado executivo da instituição estatal. Daqueles que viram os números do banco de Silvio Santos. Câmbio : primeiros sinais A julgar pelo valor do dólar frente ao real depois das medidas adotadas pelo governo, estamos diante do primeiro fiasco da política econômica de Dilma. Muito barulho por nada. Como se sabe, a taxa de câmbio é a mais complexa das variáveis da política econômica de qualquer país, mas uma coisa é certa : com a taxa de juros para cima e sem fortes ajustes fiscais, é quase impossível imaginar um real mais adequado aos interesses estratégicos do país. Hora de agir Lula administrava com a "lábia" e, de uma forma ou de outra, controlava ansiedades e expectativas dos agentes econômicos, até mesmo os inquietos homens do mercado financeiro. Dilma começou a governar acreditando que poderia amainar as tensões naturais com demonstrações explícitas de possíveis virtudes gerenciais e com promessas de que colocará em ordem as contas públicas. Sem dizer quando, quanto, como e onde. E com direito a divergências internas num governo que apregoa não aceitar divergências. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, uma das portadoras da foice do corte, disse em alto e bom som, que as obras do PAC serão atingidas. Dilma, em alto e bom som mais alto ainda, negou três vezes que isto possa ocorrer. Ao mesmo tempo, em tom de sussurro, o BC alertou que, sem a ajuda do resto do governo, terá de ser mais duro com os juros. E o tal do "mercado" ? O mercado ainda não se convenceu com a nova "lábia" governamental. Pela oitava vez consecutiva os executivos do setor financeiro elevaram a sua previsão para a inflação deste ano, agora estimada em 5,64% contra 5,53% da semana anterior. A de 2012 subiu de 4,54% a 4,70%. Há uma desconfiança de que o governo, por seus compromissos políticos, vai trabalhar a longo prazo no combate aos males da inflação. O centro da meta, de 4,5% só seria mesmo alcançado em 2013. Obstáculos políticos Não há justificativa técnica para a demora do governo em definir o tamanho e a linha de cortes no Orçamento para chegar aos 3,1% do PIB de superávit primário este ano - sem mágicas. Afinal, a equipe responsável pelo desbaste estava toda no governo passado e acompanhou toda a tramitação da peça orçamentária. Sabe, portanto, onde os parlamentares cometeram atrocidades, inflando receitas para acomodar despesas. Tanto que o ministro das Comunicações, então no Planejamento, pediu aos deputados e senadores, antes da votação do Orçamento, que eles cortassem R$ 10 bilhões da proposta original. Eles não só não cortaram como ainda puseram outras despesas na conta. O problema é outro, é político. O extraordinário volume da poda - entre R$ 50 bilhões e R$ 64 bilhões - exige sacrifícios que vão fazer explodir insatisfações no Congresso e nos partidos aliados. Os próprios ministros, convidados a entregar suas sugestões de corte até sexta-feira, 4/2, estão ressabiados. Sem contar que há um extenso pacote de despesas rondando o governo na Câmara e no Senado : aumento do salário mínimo, aumento das aposentadorias, aumento do Judiciário, aumento dos policiais civis e militares e do corpo de bombeiros... Assim, será impossível Dilma realizar, simultaneamente, três de seus propósitos : ajuste fiscal, corte de impostos, ainda que pontuais e manutenção de todos os gastos previstos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). E ainda por cima pagar todos os restos a pagar deixados por Lula. Poder de convencimento O governo já tem um poderoso argumento para tentar convencer os deputados e senadores a não pesarem a mão no aumento do salário mínimo (aceitando os R$ 545 ou R$ 550 de Dilma) e no reajuste das aposentadorias acima do mínimo. Mostrará a eles que quanto maiores forem esses aumentos, maior será a necessidade de cortar outras verbas do Orçamento. E a tesourada pegaria as emendas dos parlamentares e das bancadas, poderoso instrumento de caça aos votos. Omissão da Academia de Hollywood De um maldoso de plantão em Brasília : "Vai faltar um Oscar na festa do cinema este ano : o de efeitos especiais em economia para o ministro Guido Mantega, para o superávit primário que ele está exibindo com um sorriso beatífico, em Brasília." Mercado de ações brasileiro Como temos informado há quase um ano nesta coluna, a tendência do mercado acionário brasileiro não é de alta. Também não é de baixa. A estabilidade do nível geral das cotações (variação do IBOVESPA) tem sido a marca registrada do mercado acionário e, por enquanto, assim deve continuar do nosso ponto de vista. Três fatores contribuíram e contribuem para este cenário : (i) incerteza para a sustentação do crescimento dos lucros das empresas no longo prazo consistente com aquele que está projetado pelos investidores e analistas; (ii) alta da inflação e a frouxidão fiscal do governo os quais forçam os juros para cima; (iii) excesso de ofertas primárias e secundárias de ações frente a uma demanda menos intensa. Somente neste início de ano há 14 operações de emissão/colocação de ações junto aos investidores em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A estimativa do mercado é que entre R$ 40 e 50 bilhões de ações sejam ofertadas este ano. Um sinal de que os preços estão bons para quem vende e menos atraentes para quem compra... Radar NA REAL 28/1/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3279 alta alta - REAL 1,6834 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 66.697,60 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.276,34 alta alta - NASDAQ 2.686,89 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Diplomacia de Dilma Não deixa de ser interessante verificar como a presidente Dilma analisará os acontecimentos no mundo árabe e os seus efeitos sobre a política externa brasileira. O caso exige uma reavaliação de muitas variáveis da política brasileira para o Oriente Médio, incluindo as recentes investidas no vasto contencioso do Irã para com as autoridades fiscalizadoras do setor atômico. Um divã para a oposição... ... ou a arte de não fazer política. Definitivamente, a oposição, juntada no PSDB, no DEM e no PPS, desaprendeu a fazer oposição. Uma das grandes façanhas de Lula, a merecer análises mais acuradas dos cultores da tese do lulismo, foi a de praticamente eliminar a política no Brasil. Conciliador por natureza, o ex-presidente foi aos poucos eliminando ou cooptando todas as forças que pudessem fazer-lhe frente : o Congresso foi acoelhado, os partidos governistas domesticados e as centrais sindicais e as organizações não governamentais alimentadas com muitos recursos. Restou a oposição partidária institucionalizada. Mas esses partidos foram perdendo o rumo, depois da crise do mensalão quando o próprio Lula pensou em negociar uma paz com os adversários, incluindo sua não recandidatura em 2006. Depois, acovardada com a crescente popularidade de Lula, absteve-se de suas funções de vigilantes do poder de plantão. Foi apenas periférica nas suas contestações. E os votos recebidos ? Saindo de sua terceira derrota seguida, a oposição nega os 44 milhões de votos recebidos no segundo turno da sucessão presidencial se autodestruindo e deixando na orfandade a sociedade. As disputas entre Serra e Aécio, no PSDB, e entre os clãs Bornhausen e Maia no DEM, são o que há de mais mesquinho na política brasileira no momento. Mais mesquinho até que a troca de amabilidades entre o PT e o PMDB pelas "furnas" (no dicionário, cavernas, antros, subterrâneos) dos empregos públicos. Socialistas em choque Já não é das mais saudáveis as relações do governador Eduardo Campos (PE) e o governador Cid Gomes (CE) e seu irmão Ciro Gomes. Guerra por espaços no governo Dilma e pelo controle do partido. Campos tem pretensões elevadas para 2014 - no mínimo uma vice de Dilma (ou de Lula) desbancando o PMDB. E Ciro, acolitado pelo irmão, é um eterno candidato a qualquer coisa. As divergências são tantas que em Brasília já se especula sobre uma possível saída dos irmãos Gomes do PSB, em direção ao PV. Ciro inauguraria no seu currículo então o sexto partido em sua não tão longa assim carreira política - Arena (de onde saiu o DEM), PMDB, PSDB, PPS e PSB. Legitimidade e legitimidade Em entrevista ao site Estadão.com, o vice-presidente da República, Michel Temer, assim como a presidente Dilma Rousseff descartou a possibilidade de o Congresso aprovar a reforma política exigida pelo país. Para Temer, há dificuldades porque ela atinge "interesses eleitorais legítimos (grifo nosso)" e, portanto, não teria o apoio da maioria dos parlamentares, a não ser em alguns pontos específicos. Escorregou conceitualmente o político do PMDB, também um homem de letras jurídicas. Numa democracia, o único interesse eleitoral legítimo é o do eleitor. E o eleitor clama por uma alteração nos modos e procedimentos do fazer político no Brasil.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 137

Dilma e os sindicatos em busca da pazA presidente escalou o ministro Gilberto Carvalho para acertar com as centrais sindicais pendências a respeito das reivindicações deles em relação ao novo salário mínimo e ao reajuste da tabela do IR. Essas pretensões, porém, são apenas a espuma no rol de insatisfações dos sindicalistas. Além de alguma concessão, para exibir como conquistas, o pessoal da CUT, da Força Sindical e outras quatro entidades querem : 1. Manter o mesmo canal presidencial aberto e o mesmo prestígio que tiveram com Lula.2. Não perder posições no governo em áreas estratégicas.3. Não avançar em nenhum ponto da reforma trabalhista, como a anunciada proposta de redução da contribuição patronal para o INSS, sem que os sindicatos opinem e concordem.4. Apoio e empenho para aprovar no Congresso a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.5. Deixar de lado, como aliás a presidente já disse que deixará, intenções de avançar em uma reforma da Previdência. Ao contrário, apoiar o fim do fator previdenciário. A presidente e as pendengas com o PMDB Em quarentena, o PMDB anota os passivos que tem a receber de Dilma : 1. Perda de substâncias no ministério e no segundo escalão.2. Crescimento de sua imagem de fisiológico.3. Divisão de suas forças e os movimentos para enfraquecer alguns de seus líderes no Congresso, caso dos deputados Eduardo Cunha e Henrique Alves. Fogo amigo em alta combustão O PMDB assanhou-se a ponto de chamar o PT para "a briga" a fim de não perder a presidência da Funasa, hoje nas mãos de afilhado de Henrique Alves. No auge da controvérsia, desabou na imprensa matéria dando conta que a CGU, em investigação, levantou suspeita sobre no mínimo R$ 500 mi dos gastos efetuados pela fundação nos últimos anos, quando esteve debaixo das asas peemedebistas. O deputado Eduardo Cunha, do PMDB/RJ, tão glutão quanto audacioso, faz ameaças públicas de retaliação ao governo no Congresso, se perder o controle de Furnas, conquistado por ele depois de ajudar a derrotar a prorrogação da CPMF, em 2007. Por coincidência, esta semana, uma misteriosa e providencial mão, fez saber ao distinto público que a companhia, cuja sede fica no RJ, enfrenta denúncias de prejuízos financeiros causados pelo aparelhamento político da atual gestão. A oposição, ainda lambendo suas feridas eleitorais, não tem fontes para esse tipo de informação. Ou seja. Distúrbios na oposição Quem faz a leitura, mesmo que esporádica, do twitter que José Serra mantém na rede já percebeu o rumo que ele está tomando para tentar manter-se com a cabeça acima da enxurrada : vai fazer uma oposição dura ao governo Dilma, como não fez com Lula em seus tempos de governador nem mesmo durante a campanha eleitoral. Com isso, pretende atrair parte dos tucanos e criar constrangimentos para Aécio Neves, de estilo mais conciliador e que pretende levar os tucanos a fazer uma oposição mais "propositiva". Serra não desistiu nem de liderar o PSDB, nem de tentar ser novamente o candidato do partido à presidência em 2014. E Aécio arma-se para confirmar que é a bola da vez. Vão precisar de um conselho de arbitragem, papel que os assistentes da disputa esperam que FHC venha a exercer. Outro árbitro O mesmo papel de conciliação entre os Bornhausen e os Maia, os do DEM esperam que Marco Maciel se disponha a assumir. Pax oposicionista Enquanto não chegam os conciliadores, Dilma terá mesmo de se preocupar é com os seus "aloprados", que não são poucos nem facilmente deglutíveis. Há um PT muito inquieto na Câmara. Prazo de vencimento A tal reforma ministerial que Brasília discutia ser necessária antes mesmo da posse dos novos ministros de Dilma já tem três candidatos potenciais a encabeçar a lista dos substituídos, daqueles que deverão ser convidados a não mais fazer "sacrifícios" em Brasília : Fernando Haddad, da Educação; Luiz Sérgio das Relações Institucionais e Pedro Novais, do Turismo. A primeira vítima A saída do jovem Pedro Abramovay do Ministério da Justiça mostra, por um lado, que Dilma não se esquece do passado e, na hora certa, dá o troco. Desde a edição da revista "Veja" que revelou a queixa dele quanto aos pedidos de Dilma e Gilberto Carvalho, que a relação estava azedada. Mas a demissão revela outro lado da história. De fato, demonstra aquilo que já é voz corrente em Brasília, que José Eduardo Cardozo pretende tirar todo mundo do ministério que tem em seu DNA a indicação de Márcio Thomaz Bastos. A julgar pelas últimas movimentações, tem obtido êxito. E mostra, ainda, que Dilma quer marcar mais uma diferença entre ela e Lula, que sempre foi de tergiversar muito antes de afastar companheiros que o desagradavam ou eram surpreendidos em estripulias. Abramovay foi o "efeito demonstração" : nem passou pelas frigideiras comuns em Brasília, foi direto para o fogo. Estilos vice-presidenciais No consulado de FHC, Marco Maciel foi discreto e silencioso como pressupõe sua esguia figura. No reinado de Lula, o volumoso José Alencar só troava contra os juros altos, ecoando os silêncios que o presidente era forçado a manter sobre o tema. Nem como ministro da Defesa, Alencar inovou - foi o mineiro das anedotas, quieto e desligado. Na primeira presidência feminina, Michel Temer, um político de sorriso dietético, é um vice em busca de um estilo e de um espaço para ancorar suas expectativas políticas. Na mídia, sua atividade política intensa, mesmo que de bastidores, é alardeada quase aos berros. Estilo presidencial Do mesmo modo, causa estranheza a insistência das vozes oficiosas em soprar para os jornalistas as diferenças de postura entre Dilma e Lula e de contar que a presidente se comunica com frequência com seu antecessor. O que é natural não se apregoa, ele é visível. Critérios técnicos ? O ex-deputado (não reeleito) Rocha Loures (PMDB/PR) vai para a vice-presidência de Loterias da CEF. O ex-governador Orlando Pessutti (PMDB/PR) vai para a diretoria de Crédito Agrícola do BB. G-2 em ação Não há nenhum erro na sigla, não falta um zero à direita do mundo. Os destinos da economia mundial estão nas mãos de EUA e China. Importa é o eles fizerem ou deixarem de fazer. Todos os outros, inclusive os restantes 18 do G-20, serão simples coadjuvantes ou meros expectadores. Alta ansiedade O BC fez a média que o mercado financeiro esperava dele. No entanto, o mundo econômico ainda não se acalmou, pois falta o resto do governo dizer qual será a sua parte no processo de reorganização da economia nacional. A bola está com Dilma, Mantega e sua tesoura mágica. Pressa e perfeição Em seu artigo quinzenal no Estadão de domingo, 23/1, o excelente economista e analista José Roberto Mendonça de Barros chama a atenção para um fenômeno em ocorrência ainda na economia brasileira em função do aquecimento das atividades no ano passado, não freada no tempo devido pelo governo Lula por razões de cunho eleitoral : "todos os esforços [das empresas] foram direcionados para resolver esse gargalo [na produção], mesmo que isso implicasse em custos maiores, algum atraso, qualidade eventualmente menor e margens mais estreitas". E nada ilustra mais esta desenfreada corrida para a produção do que está ocorrendo com a indústria automotiva no país. Fabricando e vendendo como nunca, as montadoras estão batendo recordes de recall. Semana passada, foi a vez da Ford chamar mais de 300 mil carros para reparos. No ano de 2010, o setor fechou com recall de 1,4 milhão de automóveis, um aumento de quase 100% em relação a 2009.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 136

  Otimismo de Mantega Foi para levantar a moral da tropa governista, acabrunhada com o poderoso facão, que Guido Mantega prometeu um crescimento médio do PIB nos próximos quatro anos de 5,9% (com Lula foi cerca de 4% e com FHC pouco mais de 2%) e aumento contínuo da taxa de investimentos. Foi também uma tentativa de abaixar um pouco o grau de ansiedade dos agentes econômicos privados, inseguros quanto aos rumos reais que a economia tomará. Doutor Pangloss não faria melhor. Como dizia Garrincha, resta saber se o ministro combinou com os russos. E no exterior ? O crescimento das principais economias mundiais continua sendo muito incerto no que se refere à sustentação nos próximos anos. Aparentemente, os europeus, sobretudo os alemães, estão mais ciosos da necessidade de manter a União Europeia dentro dos mesmos parâmetros estabelecidos nos anos 90. A política de socorro às economias mais endividadas é mais consensual e a rigidez fiscal será o fator determinante para a retomada do crescimento econômico. Nos EUA, o mercado está mais sólido e crente na política de expansão monetária promovida pelo Fed. Tanto é que o mercado acionário andou registrando altas consecutivas e sólidas em termos de volume. A China é o grande mistério da equação internacional. Um menor crescimento da economia chinesa é o fator crucial para que a Europa e, sobretudo, os EUA possam crescer mais. Para o Brasil, é a China o maior risco em função das commodities cujos preços subiram nos últimos anos movidos pela grande demanda chinesa. Como se vê, as perspectivas estão mais positivas na economia mundial, mas tudo isto é ainda muito frágil para que se possa afirmar que o front externo será azul como no passado, antes da crise de 2008. O teste do FMI Não deixa de ser incrível que o FMI, um organismo multilateral desprovido de necessárias reformas, esteja tão ativo no velho continente, impondo as suas clássicas e duras medidas aos países endividados que enfrentam desemprego da ordem de 20%. A reforma do sistema financeiro internacional não aconteceu e, provavelmente, não acontecerá. Assim sendo, o "velho FMI", tão associado à banca internacional, continua protagonizando histórias de recessão e desespero. É o caso da Irlanda e da Grécia. E talvez Portugal. Eis o FMI, o organismo silente quando a especulação corre solta nas economias... Realismo do BC Sem exibicionismo, o Copom aumentará os juros amanhã, segundo previsões dos analistas financeiros, em 0,5 ponto percentual. Outros ajustes virão e o tamanho deles vai depender de quanto o ministro Mantega conseguirá cortar, de fato, no orçamento deste ano. Se a poda for pra valer, entre os R$ 40 e os R$ 50 bi tidos como necessários para dar os 3% de superávit primário em 2011, nem os investimentos do PAC estarão livres. Por isso, está todo mundo de olho mesmo é no BC. BC está atrasado A demanda aquecida e o firme andamento dos preços nos últimos meses são evidências cristalinas de que o BC está atrasado em relação à alta dos juros básicos. O BC, ainda sob a batuta de Meirelles, operou com um olho no mercado e outro nas eleições. Por isto mesmo, poderá ser mais firme do que seria necessário para voltar a fazer política monetária com a requerida credibilidade. Contingenciamento ou corte definitivo ? Para mostrar que desta vez é para valer, o governo está dizendo que não fará um contingenciamento das verbas orçamentárias (suspensão temporária dos gastos, liberáveis quando as receitas entram no caixa), mas um corte sem volta. Vai ser a mesma coisa, pois o orçamento, na prática legislativa e administrativa brasileira, pode ser recomposto a qualquer momento, por uma simples MP. E a presidente vai precisar desse expediente quando tiver embates no Congresso e os parlamentares começarem a dar falta de suas emendas. Comendo o próprio rabo A maior dificuldade, no momento, para o ministério da Fazenda aplicar medidas corretivas na economia brasileira, para colocá-la no rumo do crescimento sustentável sem pressões inflacionárias, são os efeitos colaterais que elas provocam, tal a necessidade de ataque em várias frentes : 1. Com os juros - encarece a produção, pressionando os preços e torna mais atraente a vinda do capital estrangeiro, que por sua vez força a valorização do Real.2. Com o câmbio - uma valorização realista do Real encarecerá os produtos importados e tocará na inflação.3. Cortes nos gastos - como deverá também pegar os investimentos, servirá para retardar a eliminação de gargalos de infraestrutura, mantendo baixa a capacidade de competir da maior parte de nossa produção de manufaturas e mercadorias de alta tecnologia. Sem contar os "colateralíssimos" efeitos na política, verdadeiramente avessa a questões como verbas oficiais menores, aumentos modestos para os salários... A questão cambial Dilma escolheu bem a questão do câmbio como a mais importante a ser enfrentada no médio prazo. É do imbróglio cambial que nasce a dependência externa e o processo de desindustrialização, fontes do atraso tecnológico e do desemprego estrutural. Há dois pontos vitais que se colocam como barreiras à solução da valorização do Real : (i) as regras do comércio internacional que impedem muitas manobras da política industrial e (ii) a relação com a China, que precisa ser definida como parceira ou competidora. Todavia, no curto prazo o que está sendo analisado pelo Planalto e nos corredores das salas da equipe econômica é o controle de capitais. O mercado financeiro deve ver muitas medidas ainda em relação à matéria. Radar NA REAL 14/1/11 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3279 alta alta - REAL 1,6852 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 70.940,20 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.293,24 alta alta - NASDAQ 2.755,30 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A imagem de Dilma ou desconstruindo Lula Dilma Rousseff, por gestos, circunstâncias e muita informação vazada para a imprensa, tem feito esforço absoluto para demarcar as diferenças de estilo entre ela e Lula. Um dos mais visíveis desses sinais é a insistência divulgada incessantemente que sentencia que ela aceitará indicações políticas, mas com "critérios técnicos", numa alusão bem explícita de que este não teria sido o comportamento usual de Lula. Enquanto isto, surpreendendo a todo mundo, o ex-presidente guarda um obsequioso silêncio. Quanto tempo ? Na capital da política, da intriga e da fofoca avalia-se que não falta muito para os ouvidos das paredes do Palácio do Planalto e de alguns ministérios começarem a escutar imprecações contra o mais ilustre morador de São Bernardo do Campo. Os anões de Disney O PMDB, que deu sinais de quase unidade na campanha presidencial, está de novo dividido em Brasília entre os "felizes" e os "zangados". No grupo dos primeiros, bem menor, estão os senadores e as pessoas ligadas ao vice-presidente Michel Temer. Eles levaram de Dilma, até agora, praticamente tudo o que queriam. Na segunda categoria, está a maioria dos deputados, que até o momento levou mais promessas do que tudo e mais um lustre na imagem de fisiologia que a legenda, com enorme merecimento, carrega. Iludido Kassab, que passa mais tempo cuidando de seu futuro político do que cuidando da cidade, acertou sua entrada e do grupo que o segue no PMDB. O plano é disputar o governo estadual pelo partido, para tentar romper a polarização, na capital no Estado, entre o PSDB e o PT. O propósito kasssabiano tem tudo para ser mais um sonho de noite de verão da política brasileira, o mesmo que fez Ciro Gomes acreditar que o PT abriria para ele o espaço de candidato a governador de SP. Velho, cansado de guerra, o PMDB vai cozinhar Kassab até a hora de ver quem tem mais chances de vencer a eleição de 2014, para a ele se aliar. O PSDB ou o PT. O PMDB é o partido do pássaro na mão e nenhum voando. Vitória Esta semana deve aparecer o responsável pela façanha de praticamente garantir a condução tranquila de Marco Maia à presidência da Câmara, com as desistências já anunciadas de dois dos principais concorrentes - Aldo Rebelo e Júlio Delgado. Sozinho, Sandro Mabel não faz enchente. Maia é sabidamente um candidato que não empolga nem os "grandes caciques" de seu próprio partido. Deve a quem ? Michel Temer ? Antonio Palocci ? Ou à própria Dilma ? O ministro da Articulação Institucional, Luiz Sérgio, é que não foi. Gols a favor têm sempre autores, os contra nem sempre. Guerra é guerra Começaram a aparecer na imprensa informações sobre desvios de conduta na gestão da FUNASA nos últimos quatro anos, período no qual ela esteve sob o comando do PMDB. A FUNASA é alvo da fratricida disputa entre o PMDB e o PT do ministro Alexandre Padilha. Nos bastidores brasilienses também se têm como muito provável, nos próximos dias, notícias não muito boas sobre a CONAB, do ministério da Agricultura. O homem certo O peemedebista Edison Lobão é de fato a escolha perfeita para o ministério das Minas Energia. Para Dilma, Lobão, jornalista desviado para a política, não tem nenhuma pretensão de comandar de fato o setor elétrico. A prova vem logo aí : a retirada do logotipo da escuderia Sarney da Eletrobrás, um dos feudos maranhenses na eletricidade.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Política & Economia NA REAL n° 135

Editorial O ano novo A posse da presidente Dilma é fato significativo do ponto de vista histórico, mas é muito mais do ponto de vista do atual quadro político brasileiro. A ascensão de uma mulher à posição de primeira mandatária do país atesta per se o papel social, político e econômico das mulheres neste século. Ademais, temos "a presidente de todos os brasileiros", como ela própria acabou por definir-se em seu discurso inaugural no Congresso. Que assim seja, em nome da democracia. Não podemos, contudo, deixar de colocar em perspectiva este novo momento. Neste sentido, é preciso aguçar o nosso espírito crítico para não cairmos na crença de que estamos diante de um quadro de continuidade. Não estamos. A história nos prova que a percepção de que "as coisas continuam iguais" é equivocada - eis a única continuidade verdadeira do ponto de vista histórico. A cada medida de tempo temos mudanças, muitas delas significativas. Os desafios brasileiros persistem imensos a despeito das mudanças das duas últimas décadas. Há oportunidades e riscos para o país que carecem de liderança. A nova presidente está necessariamente comprometida com o aproveitamento das oportunidades e a minimização dos riscos. Preocupa-nos, dentre os muitos aspectos que poderiam ser relacionados, a inexistência de verdadeiras inovações nas políticas governamentais que possam retirar tais riscos e aproveitar as oportunidades históricas que se apresentam perante o país. A inflação elevada, os elevados e ineficientes gastos estatais, a duvidosa qualidade do ministério do novo governo, a presença incômoda do ex-presidente Lula por detrás das cortinas da nova administração, a valorização cambial, a falta de competitividade tecnológica do setor industrial, a ausência de propostas dos partidos de oposição, a ausência de reformas estruturais (previdenciária, sindical, tributária, etc.), a corrupção, a insegurança pública, apenas para citar alguns, mostram a necessidade de uma ação vigorosa e inventiva da nova presidente. Dilma Rousseff tem toda a legitimidade para liderar o país. Parece-nos importante que possa estabelecer uma agenda coerente, temperada por prudência de um lado, e audácia de outro. O Brasil merece muito mais que a propalada continuidade que se espalha por aí. Feliz ano novo. Do ensaio ao bloco na rua Os primeiros dez dias do novo governo, empanados pela briga meramente fisiológica entre o PMDB por nacos de verbas, foi marcada por uma (estudada ?) diferença de estilo entre a presidente e seu antecessor - saiu a exuberância marqueteira e "palanqueira" de Lula e subiu a discrição tecnocrática de Dilma. Os porta-vozes da presidente, os oficiais, os oficiosos e os simplesmente oferecidos, fazem questão de marcar esta diferença espalhando a tese de que voou do Palácio a intuição lulista e pousou a racionalidade dilmista. Acentua-se também que Dilma é de decidir rápido em contrastes com os modos protelatórios de Lula. Mesmo assim, a primeira semana marcou uma rendição do novo ao velho modelo : o anúncio, com pompa, de um programa de erradicação da miséria absoluta no país, sem metas, sem verbas alocadas e até sem a definição do universo dos futuros beneficiados. Em princípio, um perfeito factóide. A reunião ministerial de sexta-feira, quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fará uma exposição sobre a situação econômica, e poderá anunciar o tamanho da dieta que seus colegas deverão cumprir, servirá para marcar a entrada do bloco de Dilma efetivamente na rua. Até agora foi apenas concentração e ensaio. Os três desafios de Dilma Para começar a pôr sua marca no governo e acertar o passo, a presidente terá ainda que enfrentar três provações, ou, como se diz em linguagem rebuscada e imprópria : equacionar três desafios : 1. A sua relação com Lula - embora recolhido a um silêncio respeitoso no Guarujá, o ex-presidente, até telepaticamente na voz do amigo e ministro Gilberto Carvalho, emite sinais claros de que não sairá de cena nem pretende ser um protagonista de terceira categoria, desses que entram mudos e saem calados do set de filmagem, na política brasileira. Carvalho (ou Gilbertinho como os íntimos o chamam) já avisou que "temos o Pelé no banco". 2. A relação com a base política governista - montada na base do fisiologismo, do qual ninguém escapa, ela terá se ser alimentada constantemente, sob pena de virar a dor de cabeça para Dilma que a oposição promete não ser. 3. Fazer o ajuste fiscal - o corte de gastos terá de ser volumoso, para não assanhar as forças econômicas. Bons observadores do mercado já perceberam que há mais nervosismo agora, com o governo instalado, do que nas fases mais agudas da campanha eleitoral. Na outra ponta, é preciso não provocar com a poda de despesas clientelas como os sindicalistas, os funcionários públicos, os parlamentares. O governo Dilma começará de fato depois que essas contas tiverem sido acertadas. Senão, ela perderá um bom tempo administrando crises artificiais. A voz do "mercado" Esta entidade obscura, mas presente, chamada "mercado" está fazendo as contas e as análises em relação ao governo Dilma. Os indicadores internos contam muito : a inflação preocupa e a ausência de poupança pública preocupa muito mais. Não veremos no curto prazo nenhum economista do setor financeiro propagando notícias e análises negativas. Simplesmente porque não interessa fazê-lo. Por ora. Mas o Brasil não é o mundo. Há um incômodo cenário internacional, recheado de desafios, que condicionará o andamento da economia brasileira. A relação entre as principais moedas do mundo, especialmente o contencioso entre a China e os EUA, a letargia econômica nas principais economias e o desemprego que desestabiliza governos são pontos altos da agenda. O Brasil é destaque no mundo. Todavia, é ilusório pensar que sem avanços o país persistirá protagonista em termos de crescimento e investimento. BC : primeiros sinais são somente os primeiros Anotem aí : os primeiros sinais que sairão do BC em relação à política monetária serão em linha com a política anti-inflação "tradicional" de qualquer autoridade monetária séria. Não é aí que residem os riscos, digamos, institucionais para o BC. O maior risco virá com o tempo. Existe a crença em vastos setores do governo de que o BC no Brasil não pode funcionar como nos países desenvolvidos. O "modelo" mais estudado é o chinês. Esse mesmo da China comunista. Guru no Planalto Um destes gurus que não falam somente para os seus pupilos soltou esta para o ministro Mantega e a presidente Dilma : "se quiserem controlar o câmbio, não tenham ilusões = controle cambial se faz adotando controles sobre fluxos de capital. Não tem jeito". Esqueçam o que eu disse Por falar em corte de despesas, veja-se a frase da então candidata à presidência da República no dia 30 de agosto, quando da campanha eleitoral : "Eu não vou fazer ajuste fiscal em hipótese alguma por um motivo : o Brasil não precisa mais de ajuste fiscal". Nada como um dia depois das urnas. O homem e o mito É discretíssimo, porém não imperceptível, o processo em andamento em corredores de Brasília para desidratar a imagem de Lula. Simplesmente opor o mito ao homem. Teoria conspiratória ? De um atento leitor das coisas de Brasília : "A oposição não dispõe de nenhuma polícia secreta, nem mesmo de um mero Inspetor Clouseau, para levantar leviandades oficiais como, por exemplo, a concessão de passaportes diplomáticos a dois filhos e a um neto de Lula. Portanto..." Deitou na cama ? Pague e não chore ! O PMDB escarrapachou-se na cama, agora assuma a fama, pois ele bem a merece. Mas não sozinho. Quando o PMDB pede um cargo é fisiologismo - e no mais das vezes é mesmo. Quando o PT avança sobre os cargos dos outros, é uma opção técnica, para melhorar a gestão pública. Caso - sem risos, por favor - do petroleiro sindical de Campinas, Wagner Pinheiro, que de repente ganhou foros de especialista em coisas postais e surrupiou os cobiçados e encalacrados Correios das garras peemedebistas. Quando o PT e o PSB fazem acordo para barrar os avanços do PMDB no nordeste e dividir entre eles o melhor butim oficial na região trata-se de espírito desinteressado de colaboração. Já o PMDB é um faminto guloso. Se o PMDB fosse possuído de algum senso de humor, uma gota sequer, poderia dizer para o PT e adjacências da base aliada : "Eu sou vocês amanhã." Sinal aberto Primeiro Guido Mantega, depois Dilma. Abriram as porteiras para um reajuste do salário mínimo, "os imexíveis" R$ 540 decretados por Lula. O ministro da Fazenda, quando disse que o governo vetará qualquer valor diferente, deu aval para qualquer parlamentar dar um voto para agradar a plateia, pois o governo avisa que zelará pelos cofres públicos. E a presidente quando repreendeu Mantega por ter anunciado o veto, no fundo disse aos congressistas que podem ousar mais que o governo garante. Novo aparelho ? No ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge trabalhou principalmente com servidores de carreira e técnicos nos postos-chave da pasta. O novo ministro, Fernando Pimentel, tem outro critério : primeiro, os nossos companheiros. Sumiço Encerramos o ano 2010 sem ter o que falar da oposição, em recesso desde a derrota eleitoral. Começamos 2011 também sem ter o que dizer dela, pois, ao que parece, continua em férias. Desses, Dilma não precisará se defender. O inimigo mora ao lado - PMDB, PT, PDT... Radar NA REAL São discretos os movimentos do mercado financeiro e de capital neste início de ano. Todavia, as dúvidas sobre o desempenho da bolsa de valores estão crescendo. Os fluxos de capital externo estão em ritmo lento e a capacidade de geração crescente de lucros das empresas está sendo colocada em dúvida. Todos sabem que no mercado não há continuidade. No Brasil, as ações são a maior dúvida do mercado. No que diz respeito ao câmbio, o mercado continua a esperar por nova medidas que contenham a valorização do Real. A reunião entre Obama e o governo chinês, no próximo dia 18, será fundamental para definir o desempenho do dólar norte-americano no cenário internacional. A taxa de juros vai para cima com o objetivo de conter a alta de preços. O problema maior da política de juros será o de coordenar a alta de juros com a desejada desvalorização cambial. Até o mundo mineral sabe que uma das razões que não proporcionaram mais inflação foi a valorização do câmbio, que aumentou a concorrência doméstica via importações, bem como conteve as variações dos preços das commodities no mercado internacional. E se o dólar subir perante o Real ? Não haverá mais inflação ? 7/1/11   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,2896 alta alta - REAL 1,6840 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 70.057,20 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.271,50 alta alta - NASDAQ 2.703,17 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Centena Esta coluna atingiu ao final de 2010 a marca de 100 mil assinantes. Algo significativo para os seus autores e para a direção do prestigiado Migalhas. Isto nos gratifica e, ao mesmo tempo, impõe a continuidade da responsabilidade jornalística e ética pela tarefa a qual nos propomos. Obrigado aos nossos leitores. Continuaremos juntos neste 2011.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 134

Um concerto inusitado Dois fatos significativos, mesmo que discretamente avaliados, despontaram no final da semana passada e são fundamentais para avaliar o futuro da economia mundial e do desempenho do mercado financeiro e de capital. O primeiro fato foi a firme reiteração do chairman do Fed, Bem Bernanke, de que a injeção de US$ 600 bi no mercado, via compra de títulos do Tesouro dos EUA, vai mesmo ocorrer a despeito dos protestos mundiais. O segundo fato diz respeito à moderação da linguagem de Pequim sobre a política econômica que irá seguir em 2011. Haverá mais preocupação com a inflação e o crédito pelos lados do dragão chinês. Pouco se disse, via porta-voz do governo comunista, sobre câmbio, o calcanhar de Aquiles da relação com os EUA. É possível e até provável que os chineses valorizem um pouco sua moeda, sem reagir a provável queda do dólar dos EUA. Uma guerra cambial neste momento é o que menos interessa à China. E ao mundo. Uma estrela cai É provável que os mercados emergentes não sejam destaque dentre os principais segmentos do mercado financeiro mundial. A moderação do crescimento chinês e o ajuste da política econômica brasileira revelam que há certa exaustão em relação à valorização dos ativos de renda fixa e variável destes países. Há, inclusive, quem veja uma "bolha" localizada no eixo Brasil - Índia - China. Mercado de ações nos EUA As expectativas de bons resultados corporativos em 2011, a taxa de juros negativa, a desvalorização provável do dólar estão deslocando vultosas quantias da renda fixa para as ações no mercado norte-americano. Não à toa o Índice S&P 500 está no maior patamar em 27 meses. O mesmo vale para a maioria dos índices de ações norte-americanas. Nossa aposta Está se formando um cenário mais desfavorável para o mercado acionário dos países emergentes. No caso do Brasil, a maioria dos setores é de commodities e os preços destas devem se reduzir com a redução da atividade chinesa. A correlação entre tais preços e as cotações das ações é muito forte. Além disso, a elevação da taxa de juros básica para conter a inflação, tornará o mercado mais hostil aos ativos de risco. Neste contexto, é bem provável que as ações norte-americanas se valorizem mais que as chinesas e brasileiras. Não há razões para acreditarmos em ajustes bruscos. Tudo deve ser mais suave, mesmo que surpresas sempre apareçam pelos lados do mercado financeiro... Radar NA REAL 10/12/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3277 alta alta - REAL 1,7060 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 68.341,80 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.240,40 alta alta - NASDAQ 2.637,54 alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável A penúltima de Lula para Dilma Com toda a pompa e circunstância que é capaz promover, Lula vai registrar amanhã em um cartório de Brasília - não se sabe, ainda, se apenas num notário terreno ou também, como na música de Vinicius de Moraes e Baden Powel, "no cartório do céu e assinado em baixo por Deus" - os feitos de seu governo. Ministros e até ex-ministros estão sendo convidados para o séquito presidencial. Convite irrecusável. É uma providência inédita, nunca antes vista neste país ou mesmo no planeta Terra ou em outros do sistema solar. Não há inocência Não é, porém, um gesto inocente. Aliás, do grande ator e do extraordinário político no qual Lula se transformou, nada nele tem mais a espontaneidade dos velhos tempos do sindicalismo e dos primeiros tempos do PT. Lula quer perpetuar o que ele (vide coluna passada) assume como sua "herança bendita". Perpetuar para que não venha a ser apropriada por outros, assim como se faz com o direito autoral, mas também para deixar bem claro que é o responsável pelo sucesso brasileiro dos próximos anos ou quais poderão ser os responsáveis por inesperados insucessos futuros. Depois da cadeira presidencial, é o mais importante presente de Natal de Lula para Dilma. Mas pode não parar nisso. Dilmismo e lulismo Aumenta rapidamente o número de "dilmistas", não só no PT como também em outras legendas aliadas. O movimento ainda é discreto, para não contrariar o dono da voz. Porém, já é considerável o contingente de amigos de infância da ex-presidente, mesmo muitos deles só tendo vindo a conhecê-la durante a campanha ou após a eleição. Pode ser um movimento natural, do "rei morto, rei posto" admitido até por Lula. Mas está ganhando também, como sentimos em algumas conversas com gente graduada, um início do "revisionismo" em relação à dita era lulista. A palavra populismo já é frequente nas considerações. Ministério descartável ? A cada vez que Dilma desvenda o ocupante de um dos ministérios negociáveis na sua equipe, aumenta a sensação (ou torcida) no mundo político e em setores mais antenados da sociedade de que a equipe com que ela vai inaugurar o governo é um ministério de transição. Quando tiver os pés mais firmes no chão e alguns fantasmas mais ectoplasmáticos no horizonte, a presidente eleita fará uma renovação de quadros. A tese é confortável para Dilma. Porém, uma operação de troca de ministros com pouco meses de governo, sem razões muito concretas, pode ter um custo político elevado. Basta ver as enxaquecas já provocadas pela montagem desta equipe. Fora Lula e Sarney e os escolhidos, ao que se saiba não há quem não esteja tendo uma dorzinha de cabeça ao menos. A outra tese é a de que Dilma, que já deu um "nó PMDB" e armou uma delicada situação para o PSB de Eduardo Campos, vá ser o que se diz dela : concentradora e autoritária, menos flexível do que Lula. Se será bom ou ruim é outra coisa. PS - A grande novidade no ministério é a entrada na liça de Ciro Gomes. Ministérios e subministérios, ministros e subministros Algumas pessoas andaram consultando a coluna para entender a classificação acima usada para definir postos no governo. Perguntam também se não é a mesma coisa "ministério" e "ministro", "subministério" e "subministro". Não é a mesma coisa : um subministério pode ter um ministro e um ministério pode estar ocupado por um subministro. Tudo é uma questão de poder político, de influência e de decisão, verbas, obras. Os "subs", tanto ministro quanto ministério, não tem nada disso ou têm muito pouco de alguma coisa. Exemplos práticos ajudarão a entender. Caso 1, Ministério das Minas e Energia - é um ministério, pois tem orçamento alto, toca um setor sumamente importante. Porém, o seu titular indicado, Edison Lobão, foi no passado e será novamente depois de primeiro de janeiro, um subministro. Não escolherá o secretário-geral, os presidentes da Petrobras, da Eletrobrás, de Furnas, da Chesf, de Itaipu e por aí adiante. Do que lhe sobrar, terá de pedir benção a José Sarney e ao PMDB. Terá as circunstâncias. Caso 2, o atual ministério de Assuntos Estratégicos - não tem nem orçamento próprio, abriga um punhadinho de auxiliares apenas faz "futurologia". É, portanto, um subministério. Porém, seu titular no momento, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, embora discreto, é um ministro. Tem voz, inspira respeito, foi um dos formuladores da política externa brasileira ao lado do amigo Celso Amorim. A prova do pudim Até o dia 21, para não atrapalhar as férias dos parlamentares e não deixar Dilma, com as mãos atadas logo no início de seu governo, as forças governistas prometem um esforço concentrado para aprovar o orçamento do ano que vem. Um orçamento, uma façanha brasileira, teve três relatores em uma semana. Com a discrição que é possível, o esquema de Dilma tenta que o Congresso faça em parte os cortes nos gastos do ano que vem que já são por todos da equipe da presidente eleita considerados necessários. Ela seria poupada de se indispor com alguns setores do seu público logo de cara. O problema é que há uma distância de mais de R$ 20 bilhões entre o que os deputados e senadores querem que o governo gaste em 2011 e o que a turma econômica de Dilma acha que pode gastar. Fala quem sabe Quem quiser conhecer bem a história da petroquímica brasileira, um setor em constante transformação, não pode deixar de ler o livro de Otto Vicente Perrone, "A indústria petroquímica no Brasil". Mineiro de Guarani, Otto Perrone foi diretor da Petrobras, diretor e vice presidente da Petroquisa, presidente da Copene e da Norquisa, é um dos fundadores da petroquímica brasileira, figura de primeira linha no setor. Pena que o livro, editado pelo IBP - Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis seja tão difícil de encontrar. Ministeriômetro - Notas técnicas 5 Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos : - Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.- Acrescentamos mais duas torres ao edifício dos cargos, o BB e os Correios, ambos arduamente disputados pelo PT e o PMDB.- Há estatais novas no ar : a do petrosal, uma para o São Francisco transposto, a do tem bala (quando ele sair), até uma nova diretoria na Petrobras. Sem contar que há gente querendo reviver uma para o setor de seguros. E uma nova agência reguladora, a Agência Nacional de Comunicações (Anacom), paralela à Anatel.- Caiu a ideia de um Ministério dos Portos e Aeroportos, ficará a Secretaria Especial dos Portos e nascerá uma Secretaria Especial de Aviação Civil. São mais lugares a distribuir.- Voltou a ideia do Ministério dos Portos e Aeroportos- Há ministros quase confirmados, até já sondados, mas que podem mudar de galho. Ministeriômetro - Capítulo XII Possivelmente a última lista. Se mantiver o cronograma que se impôs, Dilma fecha a equipe principal até amanhã. Mas parece difícil. Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorAssessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio GarciaBanco Central - Alexandre TombiniJustiça - José Eduardo CardozoCasa Civil - Antonio PalocciSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de CarvalhoPesca - Ideli SalvattiComunicações - Paulo BernardoTurismo - Pedro NovaisAgricultura - Wagner RossiPrevidência Social - Garibaldi AlvesAssuntos Estratégicos - Moreira FrancoMinas e Energia - Edison LobãoTransportes - Alfredo NascimentoDireitos Humanos - Maria do RosárioComunicação Social - Helena Chagas (há dúvida se permanecerá com status de ministério) Quase confirmados Relações Exteriores - Antonio PatriotaRelações Institucionais - Alexandre PadilhaDefesa - Nelson JobimBNDES - Luciano CoutinhoEducação - Fernando HadadPetrobras - José Sergio GabrielliCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteIntegração Nacional - Fernando Bezerra Coelho (Ciro Gomes atropela por fora)Desenvolvimento - Fernando Pimentel Candidatos, indicados Integração Nacional - Ciro GomesRelações Institucionais - Wellington Dias, Luis Sergio, Marco MaiaPortos Aeroportos - Fernando Bezerra CoelhoAssessoria Especial da Presidência - Nelson BarbosaMulheres - Iriny LopesEsportes - Manuela D'AvilaIgualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis Alberto, Luisa Bairros, uma mulher afro-descendenteCidades - Marta Suplicy, PP, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Mario NegromonteCultura - José Abreu, Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando Morais, Ana de Holanda (Dilma chegou a consultar oficialmente a mineira Ângela Gutierrez, que não se comoveu)Portos - PSB, Fernando Schimidt, Marcio FrançaPorto de Santos - PSBVale - Rossano MaranhãoPequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo OkamotoDesenvolvimento Agrário - Joaquim Soriano. Wellington Dias, Zezeu Ribeiro, Nelson Pelegrino, Geraldo SimõesSecretaria Especial de Aviaçao Civil - Antonio Henrique da Silveira e Solange Vieira.Desenvolvimento Social - Patrus Ananias, Moema Passos Gramacho, Teresa Campelo, Maria Lucia Falcon, Ana FonsecaMeio Ambiente - Carlos MincFunasa - PMDBSTF - PMDB, PTBanco do Brasil - PT, PMDBCorreios - PT, PMDBSaúde - Fausto Pereira dos Santos, Alexandre Padilha, Jorge Solla, Gonçalo VecinaBNB - Ciro GomesEmbratur - Geddel Vieira LimaInfraero - Geddel Vieira LimaAnvisa - PT, PMDB Avulsos Abrir vaga para José Genoino na CâmaraAbrir vaga para José Eduardo Dutra no SenadoEva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Jorge Gerdau Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa) Patrus AnaniasOsmar Dias
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 133

As asinhas de Dilma Com o cuidado que as vaidades presidenciais aconselham, a presidente eleita vai marcando algumas diferenças entre ela e Lula : 1. A crítica à posição brasileira na ONU, na questão do apedrejamento da mulher acusada de trair o marido. 2. A influência direta no adiamento da decisão sobre a compra dos caças para a Força Aérea, que pode levar à perda da vantagem dos franceses, os favoritos de Lula e Jobim. 3. Não abraça, pelo menos publicamente, as teses petistas e lulistas e o controle do conteúdo da imprensa. 4. A liberação da informação de que ela vai fazer o ajuste fiscal negado pela candidata durante a campanha. Com a indiscrição de Mantega de que o PAC pode ser atingido. Mas não vai mais longe... Dilma só não vai mais longe, diz uma pessoa que sabe das coisas, para não desagradar o criador. A reação de Lula à notícia do PAC deu o tom do clima que pode se instalar. Solto no mundo, falando de política, Lula pode virar um ancoradouro de insatisfações com certas medidas que Dilma terá de tomar. Há temores. E não é na oposição. Isto explica, em boa parte, porque Dilma está tão silenciosa em público, tão retraída. Tem gente já vendo fantasma de dois PTs no ar a partir de 2011 : o PT do governo e o PT lulista. A herança de Lula Prestem a atenção para as sutilezas políticas nas quais Lula está cada vez mais versado. Quando entrou no governo, Lula fez questão de dizer que estava pegando uma "herança maldita", ou seja, o que desse errado era responsabilidade das desídias do governo anterior. Agora, não cansa de repetir que está deixando para sua pupila uma herança bendita, ou seja, se algo der errado não deve ser cobrado dele. O castigo de Mantega Observação de uma língua venenosa : Mantega não ganhou um prêmio com a confirmação de sua permanência no ministério da Fazenda. Foi uma punição : vai corrigir o que aprontou na gestão das contas públicas nos últimos anos. Divã - I Nunca antes na história deste país psicanalistas e psiquiatras, com especialidade nos males da política e dos políticos, tiveram tanto trabalho quanto agora. Inspiram cuidados : PMDB - O partido de Temer levou um susto ao perceber que Dilma descobriu que o tamanho dos peemedebistas é bem menor do que apregoam. Apesar de ter saído das negociações com os cinco ministérios que dizia querer, o PMDB está bem menor do que entrou na campanha presidencial. Perdeu ministérios de votos e verbas, como Integração Nacional e Comunicações, não levou Cidades e Transportes e ganhou um abacaxi (Previdência), uma ficção (Assuntos Estratégicos) e uma promessa de dias melhores (Turismo). Manteve a Agricultura, que divide atenções na área com o Desenvolvimento Agrário e os programas de agricultura familiar ; e as Minas e Energia, com uma espécie de "subministro", uma vez que esta área Dilma administrou como ministra, manteve o controle na Casa Civil e dela não abrirá mão jamais. Coisas como Petrobras, Itaipu, Eletrobrás não passam pelo bico de Lobão. Livre do sofá, apenas Sarney : o Maranhão terá dois ministérios, os dois da lavra dele, mais, provavelmente, do que terão Minas, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul. Diversos PT - O PT do governador baiano luta ao desespero para encaixar alguém do Estado no primeiro escalão, serve até um ministério da esquina - não pode ficar muito atrás de Eduardo Campos, de Pernambuco. O PT de Minas é caso gravíssimo, é coisa de menor abandonado, sente falta de atenção, depois de ter sido forçado a ceder tudo e um pouco mais para o PMDB. O PT do Maranhão, na mesma situação do mineiro, com o agravante de ver seu principal adversário, José Sarney, com a crista erguida. Todos os PTs estaduais, com ciúmes de SP. A bancada do PT na Câmara, que ainda não se viu representada na lista de Dilma, pois não se vê espelhada nem em Palocci nem em José Eduardo Cardozo. Sergio Cabral - Vai ganhar o veto aos royalties, mas pode ver também o Rio e o seu PMDB sem vaga de peso em Brasília. Divã - III Casos especialíssimos são os do PSDB e do DEM. Talvez não seja nem mais para especialistas com peso científico, mas para mães de santo e babalorixás. Ainda não conseguiram encontrar nem o prumo nem o rumo. Tombini no Senado É incrível o desinteresse do Senado pelos assuntos, digamos, republicanos. Ministros indicados para o STF são questionados de forma superficial, indagações aos presidentes de autarquias são fúteis e por aí vai. O questionamento ao futuro presidente do BC, Alexandre Tombini, foi simplesmente inexistente. Assim, Tombini desfilou frases dúbias e escondeu suas verdadeiras convicções sobre política monetária. Para quem leu nas entrelinhas, é bom ficar de olho. Pode ser falta de personalidade política. A "guerra cambial" Sabe-se que os EUA estão tentando derrubar o dólar para estimular as exportações, conter as importações e estimular a produção doméstica. O que não se sabe ainda são os efeitos que esta estratégia terá no campo comercial. Especialistas em comércio exterior brasileiros se reuniram recentemente com pares norte-americanos e concluíram que as barreiras não-alfandegárias serão utilizadas como estratégia de "política industrial" nos EUA. Ter 27 milhões de desempregados e sub-empregados é cenário de guerra para o governo Obama. Bolsas dos EUA e ao redor do mundo A maioria dos mercados acionários do mundo está perdendo volume nestes dias de dezembro. Trata-se de um período no qual muitos investidores fazem esforço tremendo para que as cotações dos ativos se elevem com o objetivo de que o desempenho de suas gestões seja recompensado por bônus fartos. Período arriscado para investidores mais desprevenidos. Radar NA REAL 7/12/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3227 alta alta - REAL 1,6915 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 69.337,68 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.223,53 estável/alta alta - NASDAQ 2.598,49 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Ministeriômetro - Notas técnicas 4 Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos : - Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.- Acrescentamos mais duas torres ao edifício dos cargos, o BB e os Correios, ambos arduamente disputados pelo PT e o PMDB.- Há estatais novas no ar : a do petrosal, uma para o São Francisco transposto, a do tem bala (quando ele sair), até uma nova diretoria na Petrobras. Sem contar que há gente querendo reviver uma para o setor de seguros. E uma nova agência reguladora, a Agência Nacional de Comunicações (Anacom), paralela à Anatel.- Caiu a ideia de um Ministério dos Portos e Aeroportos, ficará a Secretaria Especial dos Portos e nascerá uma Secretaria Especial de Aviação Civil. São mais lugares a distribuir. Ministeriômetro - Capítulo XI A lista desta quinta-feira : Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorAssessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio GarciaBanco Central - Alexandre TombiniJustiça - José Eduardo CardozoCasa Civil - Antonio PalocciSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de CarvalhoPesca - Ideli SalvattiComunicações - Paulo BernardoTurismo - Pedro NovaisAgricultura - Wagner RossiPrevidência Social - Garibaldi AlvesAssuntos Estratégicos - Moreira FrancoMinas e Energia - Edison LobãoTransportes - Alfredo NascimentoDireitos Humanos - Maria do RosárioComunicação Social - Helena Chagas (há dúvida se permanecerá com status de ministério) Quase confirmados Relações Exteriores - Antonio PatriotaRelações Institucionais - Alexandre PadilhaDefesa - Nelson JobimBNDES - Luciano CoutinhoEducação - Fernando HadadPetrobras - José Sergio GabrielliCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteIntegração Nacional - Fernando Bezerra Coelho Genéricos Fernando Pimentel Candidatos, indicados Assessoria Especial da Presidência - Nelson BarbosaMulheres - Iriny LopesEsportes - Manuela D'AvilaIgualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis Alberto, uma mulher afro-descendenteCidades - Marta Suplicy, PP, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario NegromonteTransportes - Henrique Meirelles, PT, PR, Alfredo Nascimento, Blairo MagiCultura - José Abreu, Ideli Salvatti, Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando MoraisPortos - PSB, Fernando Schimidt, Marcio FrançaPorto de Santos - PSBVale - Rossano MaranhãoPequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo OkamotoDesenvolvimento Agrário - Joaquim Soriano. Wellington DiasSecretaria Especial de Aviaçao Civil - Antonio Henrique da Silveira e Solange Vieira.Desenvolvimento Social - Patrus Ananias, Moema PassosMeio Ambiente - Carlos MincDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Fernando PimentelFunasa - PMDBSTF - PMDBBanco do Brasil - PT, PMDBCorreios - PT, PMDBSaúde - Fausto Pereira dos Santos, Alexandre Padilha, Jorge Solla, Gonçalo VecinaBNB - Ciro GomesEmbratur - Geddel Vieira LimaInfraero - Geddel Vieira LimaAnvisa - PT, PMDB Avulsos Abrir vaga para José Genoino na CâmaraAbrir vaga para José Eduardo Dutra no SenadoEva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Jorge Gerdau Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa) Patrus AnaniasOsmar Dias
terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 132

Política econômica em mudança Há a máxima - muito desgastada, diga-se - de que "não existe almoço grátis". Pois bem : Dilma terá de escolher entre o combate à inflação e o nível de atividade. Tão simples assim : a manutenção da atividade no atual patamar gerará inflação maior e incompatível com as metas estabelecidas pelo próprio governo. E vice-versa. Deve-se notar que a inflação já é um fenômeno consistente e perigoso. Além disso, se o governo resolver operar em favor de uma taxa de câmbio mais depreciada, haverá mais combustão para a inflação. As medidas de contenção de crédito anunciadas pelo BC na última sexta-feira não são suficientes para conter o galopante consumo. São, ademais, uma alerta relevante de que o crédito excessivo dá sinais de deterioração em termos de adimplência e comprometimento da renda disponível da classe média (incluindo a "nova classe média") e da classe de baixa renda. Investimento sob risco Quando se restringe o crédito, a demanda agregada como um todo é afetada. Por mais que as autoridades tentem segmentar o crédito de curto e longo prazo (o que é correto), evitando efeitos nefastos sobre o investimento, as restrições de crédito tendem a se generalizar e atingem os investimentos de médio e longo prazo. O que significa que projetos de expansão acabam por ser prejudicados e o papel dos bancos oficiais permanece muito relevante. O problema é que a capacidade do governo emprestar para financiar os investimentos não é infinita. Ao contrário : está bastante limitada pelos riscos fiscais que causam a transferência de recursos do Tesouro. Portanto, devemos esperar menor nível de investimento, muito embora com efeitos menores que no caso do consumo. COPOM, Selic, etc. Não deve vir aumento da Selic na próxima e última reunião de 2010. Se virá na primeira de 2011, ficará por conta do "novo BC" : se este estiver comprometido de fato com a política de metas, terá de haver aumento. Caso contrário, a leitura do tal de mercado será negativa, relativamente à política monetária do governo de Dilma. O caso aqui não é fazer uma aposta. É o de verificar a ação governamental e agir depois dos fatos. Há dentro do governo correntes de opinião sobre a condução da política monetária. A presidente terá de optar. Desta opção nascerão as expectativas em relação à inflação, em particular, e à política econômica, em geral. O resto é ruído nos jornais. É a política, estúpido Em complemento às análises econômicas, algumas considerações de teor menos, digamos assim, técnico : 1. É curioso, para dizer o menos, que se tenham tomado medidas, um mês depois da eleição, para combater problemas da economia brasileira que, durante a campanha, a presidente eleita e o ministro da Fazenda diziam não existir, embora apontados por especialistas e não apenas identificados com a oposição - ameaça inflacionária, excesso de consumo, crédito mais ou menos frouxo.2. É curioso que as medidas entrem em vigor às vésperas da última reunião do Copom no governo Lula, quando mais e mais entendidos acham que o BC já deveria ter começado a elevar os juros. Lula, como está visível, não aceita nem um mínimo grão de areia no salto alto que alimenta sua popularidade. Nem Dilma parece querer começar o governo com uma pedra dessas.3. Para muitos é um sinal das dificuldades - das resistências - de realizar um ajuste fiscal necessário ao corte do consumo via governo.4. Seria também sinal de que o governo ainda não encontrou uma saída para o Real valorizado. A Irlanda é vítima Ao contrário daquilo que muitos analistas brasileiros e estrangeiros opinaram, o caso da Irlanda não é de irresponsabilidade na condução da política de crédito bancário. O país quebrou por causa da crise bancária generalizada na Europa (e nos EUA, obviamente). O socorro aos bancos do país é que gerou um endividamento excessivo do tesouro irlandês. A falta de sensibilidade da Alemanha e do BCE contribuiu para que o país ficasse à deriva da fortíssima especulação contra o seu financiamento externo. Com consequências ainda incertas sobre Portugal e, perigosamente, sobre a Espanha. Mais uma vez, o governo de Angela Merkel prova que a Alemanha continua mostrando que não está apta a liderar a Europa do ponto de vista político e econômico devido ao seu comportamento jurássico que espalha crises pelos países-membros da UE. É bem provável que a crise persista crescendo, se o governo alemão continuar com suas propostas ortodoxas para um cenário muito heterodoxo. Com crise bancária não se brinca. Radar NA REAL 3/12/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3304 alta alta - REAL 1,6870 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 69.766,10 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.224,71 estável/alta alta - NASDAQ 2.591,46 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Confronto adiado ? Reza um antigo truísmo botocudo, cheio da sabedoria, que "o jogo só termina quando acaba". Para as relações do governo com os partidos e o Congresso, o jogo não se encerra com a posse dos ministros e nomes de escalões superiores escalados pela presidente para acompanhá-la na jornada presidencial - é apenas o início. Mas para um início, a iniciante nas coisas das "mumunhas" políticas Dilma lavrou um gol a se confirmarem as informações disponíveis até o momento desta manhã de terça-feira em que a coluna está indo para o ar : ela está dando um nó, uma chave de cadeia, nos decantados profissionais do PMDB. A cota peemedebista, oferecida por Dilma, perdeu substância - o PMDB não levará os Transportes, as Comunicações, as Cidades, a Integração Nacional, alguns dos seus sonhos de consumo. Ficará com os já usados Minas e Energia e Agricultura, talvez o problemático (se for para ser bem administrado) ministério da Previdência e o desconhecido Turismo (por causa da divisão do dinheiro da Copa e da Olimpíada com os Esportes). E como prêmio de consolação, se quiser, terá o Assuntos Estratégicos, ou seja, cinco ministérios para chamar de seus. Vai ter troco ? O panorama traçado na nota acima é o que se desenha até esta coluna ser publicada. Nunca se sabe, porém, se a política brasileira gira como o mundo. De toda forma, o sorriso peemedebista, depois de escancarado, está um tanto amarelado. A questão é saber em que curva do Congresso o partido de Temer vai esperar Dilma. O PMDB não é de levar desaforos pra casa. Lula tentou resistir e cedeu. No início, desprezou um acordo com o PMDB negociado por José Dirceu. Depois do mensalão, deu quase o céu ao PMDB, enciumando até o PT. E nunca teve a fidelidade total. Que o diga a derrota da CPMF. O PMDB ajudou a oposição a acabar com o imposto. Amigos, amigos... Em nome do nordeste, os petistas Jaques Wagner (Bahia) e Marcelo Deda (Sergipe) acertaram a paz com Eduardo Campos (PSB/PE). O medo da hegemonia ministerial do sul e do sudeste os uniu. Foi, porém, união circunstancial. Há petistas enciumados com a desenvoltura e o prestígio em Brasília do governador pernambucano. Campos, que quando mais jovem carregava o apelido de Dudu Beleza, desperta ciúmes também no seu partido. Que o digam os irmãos Gomes, Ciro e Cid. Mineirice Não é propriamente de felicidade o sentimento nutrido pelo PMDB de MG em relação ao futuro governo Dilma. Pelo menos por enquanto. Os petistas das Gerais, que na gestão Lula chegaram a deter nada menos do que cinco ministérios, farejam que com a futura presidente podem ficar com uma mísera pasta, para Fernando Pimentel. Consideram-se abandonados, depois de terem feito o sacrifício de apoiar Hélio Costa para o governo estadual e injustiçados depois de terem dado a Dilma uma estrondosa votação no Estado. Mineirice II Não é propriamente de paz o sentimento nutrido pelo PSDB de MG em relação ao grupo tucano que segue a liderança de Serra. Embora a sua vocação tancrediana esteja na base do "paz e amor", é com impropérios que tucanos das Gerais se referem ao ex-candidato. Entendem os mineiros que, como Serra disse que em 2010 era a sua vez de conquistar a candidatura, agora ela já passou. Pedras no mocassim A oposição continua, ao mesmo tempo, apática e conturbada. De um lado, desde as eleições, não marcou nenhuma posição, não disse o que pretende - se pretende algo mais substancial. De outro, administra problemas. O PSDB tem Serra, um inconformado. O DEM, tem Kassab, um político em busca de espaço. A continuar assim, destina-se à irrelevância. Vírus da discórdia Se duas novidades que Dilma pode adotar em seu governo vingarem, a presidente eleita pode estar criando fontes de intermináveis enxaquecas para si mesma. A primeira, dada como certa desde a campanha, é a criação de uma assessoria especial no Planalto, como uma existente na Casa Branca, com um grupo de especialistas em diversas áreas para ajudá-la na análise das políticas propostas pelos ministérios e conferir sua execução. Muitos ministros não vão ficar satisfeitos com isto. Nem todos têm a passividade de Celso Amorim, que aceitou a dividir o espaço com Marco Aurélio Garcia e, em um tempo, até com José Dirceu. A segunda, especulada esta semana, é a divisão entre os ministérios da Comunicação e da Ciência e Tecnologia na condução do Plano Nacional de Banda Larga, entre o pacato Paulo Bernardo e o atropelador Aloizio Mercadante. Não é receita de paz. O valente Juca Ferreira O ministro da Cultura, Juca Ferreira, faz tão desbragada campanha para continuar no cargo no futuro Dilma que, além de reunir artistas e intelectuais chapas-brancas para eventos em defesa de sua permanência, convocou um espaço obrigatório no rádio e na televisão para dizer que a cultura brasileira vai indo bem, obrigado. Graças a ele, naturalmente. Ferreira é um "verde" que se negou a apoiar a candidata de seu partido, Marina Silva, para sacrificar-se no ministério da Cultura de Lula no apoio à candidata oficial. Se a moda pega e todos os 37 atuais ministros passarem a convocar horários no rádio e na TV... Ministeriômetro - Notas técnicas 3 Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos : - Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.- Acrescentamos mais duas torres ao edifício dos cargos, o BB e os Correios, ambos arduamente disputados pelo PT e o PMDB.- Há estatais novas no ar : a do petrosal, uma para o São Francisco transposto, a do tem bala (quando ele sair), até uma nova diretoria na Petrobras. Sem contar que há gente querendo reviver uma para o setor de seguros. E uma nova agência reguladora, a Agência Nacional de Comunicações (Anacom), paralela à Anatel. Ministeriômetro - Capítulo X O rol do início da semana : Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorAssessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio GarciaBanco Central - Alexandre TombiniJustiça - José Eduardo CardozoCasa Civil - Antonio PalocciSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho Quase confirmados Minas e Energia - Edison LobãoAgricultura - Wagner RossiRelações Exteriores - Antonio PatriotaRelações Institucionais - Alexandre PadilhaDefesa - Nelson JobimBNDES - Luciano CoutinhoSaúde - Sergio CortesEducação - Fernando HadadPetrobras - José Sergio GabrielliCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteComunicações - Paulo Bernardo Genéricos Fernando Pimentel Candidatos, indicados Assessoria Especial da Presidência - Nelson BarbosaPesca - Ideli SalvattiMulheres - Iriny LopesPortos e Aeroportos - PMDB, PT e PSB, Henrique MeirellesDireitos Humanos - Gabriel ChalitaSecretaria de Política das Mulheres - Maria do Rosário, Ideli SalvatiEsportes - Manuela D'AvilaIgualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis Alberto, uma mulher afro-descendenteIntegração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Fernando Bezerra CoelhoCidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario NegromonteTransportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo Nascimento, Blairo MagiCultura - José Abreu, Ideli Salvatti, Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando MoraisPortos - PSB, Fernando SchimidtPorto de Santos - PSBCaixa Econômica Federal - Moreira FrancoAgricultura - Blairo Magi, Osmar Dias, Mendes RibeiroVale - Rossano MaranhãoPrevidência - Luis Sérgio, Fernando Pimentel, PMDBTurismo - Luis Sérgio, Marta Suplicy, Antonio Carlos Valadares, Marcio França. Mendes Ribeiro, Pedro NovaisAssuntos estratégicos - Moreira FrancoPequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo OkamotoDesenvolvimento Agrário - Joaquim Soriano. Wellington DiasDesenvolvimento Social - Patrus Ananias, Moema PassosMeio Ambiente - Carlos MincDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Fernando PimentelFunasa - PMDBSTF - PMDBBanco do Brasil - PT, PMDBCorreios - PT, PMDBSaúde - Fausto Pereira dos Santos, Alexandre Padilha. Jorge Solla Avulsos Abrir vaga para José Genoino na CâmaraAbrir vaga para José Eduardo Dutra no SenadoEva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Alexandre Teixeira (Apex)Jorge Gerdau Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa) Patrus AnaniasIdeli SalvattiOsmar Dias
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 131

Dilma e suas desculpas Porta-vozes da sombra da presidente eleita já tratam de espalhar que o ministério que ela está anunciando, visivelmente marcado pelos dedos de Lula, é uma espécie de ministério tampão ou provisório. Com o tempo ela moldaria a equipe a sua imagem e perfeição. Por enquanto, paga a dívida que tem com Lula. A semelhança com a obra do criador é tanta que já se diz com certa ironia que Dilma está fazendo apenas uma "reforma ministerial" para o terceiro mandato de Lula. Maldade à parte, e nisso há a mais pura maledicência, não é bom para quem já carrega a imagem de uma espécie de Lula de saias, iniciar o governo com uma equipe com cara de uma noite mal dormida e mais - com prazo de validade vencido a se crer no que os amigos dela espalham. Dilma precisa dar logo um toque político-pessoal ao seu governo. As perguntas mais frequentes que se ouve fora dos meios políticos continuam sendo : o que será ? como será ? O feliz e os zangados Quem está mesmo com todas as velas ao vento nestas primeiras escaramuças da formação do time de Dilma, é o presidente Lula. Até agora, o que não é dele não entrou sem aos menos rubricazinha presidencial. O PT está pacificado só em parte, pois até agora abocanhou quase tudo. Mas teme, pelo andar do tilburi, ficar mais com abacaxis, honrarias e periferias do que aquilo que conta eleitoralmente, partidariamente. Os petistas do nordeste, por exemplo, estão começando a entrar em ebulição com o prestígio do governador Eduardo Campos e seu PSB. Há uma sensação de que Dilma, ao contrário do que esperavam, e José Dirceu disse durante a campanha, será menos petista no governo do que chegou a ser Lula. Já o PMDB fareja certo desprestígio de seu comando. E uma tentativa - que não será difícil - de dispersar suas forças, dividindo-o pelas ambições. O episódio da quase certa escolha do secretário da Saúde do Rio, Sérgio Cortes, para o Ministério da Saúde, acertado diretamente com o governador Sergio Cabral à margem do comando partidário, não foi deglutido. E os pequenos, ansiosos, esperam para ver as migalhas que vão sobrar depois de satisfeito o apetite dos grandes, PT, PMDB e agora PSB. Estrela ascendente O secretário de política econômica do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, que deu grande ajuda à presidente eleita durante a campanha aparece na imprensa explicando - ou seria corrigindo ? - declarações do ministro Guido Mantega sobre a possibilidade de o governo expurgar do índice oficial de inflação os aumentos dos alimentos e dos combustíveis, por sua sazonalidade. Com isso, a necessidade de subir os juros, defendida por um bom número de especialistas, seria diluída. Barbosa garante que a política de metas não mudará e que Mantega foi mal interpretado. Ou seja, a inflação para base dos juros será a cheia, sem mágicas. Em tempo : é bom prestar atenção. O secretário de política econômica é cotado para uma assessoria especial de Dilma, diretamente no Palácio do Planalto. Um caso de amor De um conhecedor de cabeças coroadas : "Dilma e Mantega não farão um rigoroso ajuste fiscal por convicção, por livre e espontânea vontade. Só o farão em estado de suprema necessidade, atropelados pela realidade". Lula sobe o morro ? O presidente da República vai estar hoje, quinta feira, no Rio de Janeiro. A expectativa é saber se ele vai dar um subidinha no Complexo do Alemão ou outro morro carioca, onde, em épocas menos conturbadas, participou de memoráveis inaugurações. Lula vai subir os juros ? Há a expectativa entre os agentes do mercado, uns poucos ainda, de que o BC de Lula e Meirelles possa aumentar a taxa Selic na reunião do Copom semana que vem. Seria uma contribuição dos dois a um início de governo sem marolinhas no BC de Dilma e Tombini. Do Aerolula ao AeroDilma Nada como viver num país rico, sem desajustes sociais, para se poder comprar um jato presidencial bem novinho a cada oito anos. Notícia antiga Na muda os tucanos estavam e na muda vão permanecer por um bom tempo. Segundo especialista em ornitologia política, eles correm o risco de não recuperarem a vistosa plumagem se não voltarem à cena rapidamente. E, de preferência, com garra, um novo canto e sem rusgas no ninho, principalmente aquelas provocadas por vaidades infladas. Ministeriômetro - Notas técnicas 2 Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos : - Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.- Note-se que há um bom número de polivalentes, como Paulo Bernardo e Aloizio Mercadante, candidatos a vários postos.- Acrescentamos mais duas torres ao edifício dos cargos, o BB e os Correios, ambos arduamente disputados pelo PT e o PMDB. Ministeriômetro - Capítulo IX A lista mais recente : Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorAssessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio GarciaBanco Central - Alexandre Tombini Quase confirmados Casa Civil - Antonio PalocciSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de CarvalhoRelações Institucionais - Alexandre PadilhaDefesa - Nelson JobimJustiça - José Eduardo CardozoBNDES - Luciano CoutinhoSaúde - Sergio CortesEducação - Fernando HadadPetrobras - José Sergio GabrielliComunicações - Paulo Bernardo Genéricos Paulo BernardoFernando Pimentel Candidatos, indicados Assessoria Especial da Presidência - Nelson BarbosaPesca - Ideli SalvattiMulheres - Iriny LopesMinistério dos Portos e Aeroportos - PMDB, PT e PSB, Henrique MeirellesDireitos Humanos - Gabriel ChalitaSecretaria de Política das Mulheres - Maria do Rosário, Ideli SalvatiCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteEsportes - Manuela D'AvilaSecretaria da Igualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis Alberto, uma mulher afro-descendenteIntegração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Fernando Bezerra CoelhoMinas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison LobãoCidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario NegromonteItamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger, uma mulherTransportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo NascimentoCultura - José Abreu, Ideli Salvatti, Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando MoraisPortos - PSB, Fernando SchimidtPorto de Santos - PSBCaixa Econômica Federal - Moreira FrancoAgricultura - Blairo Magi, Osmar Dias, Mendes RibeiroVale - Rossano MaranhãoPrevidência - Luis Sérgio, Fernando Pimentel, PMDBTurismo - Luis Sérgio, Marta Suplicy, Antonio Carlos ValadaresPequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo OkamotoDesenvolvimento Agrário - Joaquim SorianoDesenvolvimento Social - Patrus AnaniasMeio Ambiente - Carlos MincDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Aloizio Mercadante, Fernando PimentelFunasa - PMDBSTF - PMDBBanco do Brasil - PT, PMDBCorreios - PT, PMDB Avulsos Abrir vaga para José Genoino na CâmaraAbrir vaga para José Eduardo Dutra no SenadoEva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Alexandre Teixeira (Apex)Jorge Gerdau Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa) Aloizio MercadantePatrus AnaniasIdeli SalvattiFernando PimentelOsmar Dias Lulômetro - Capítulo Dois Apenas um acréscimo às missões de Lula pós-Palácio do Planalto : - Provar que o mensalão não existiu e anistiar José Dirceu e Cia. Quando abril chegar As pompas e circunstancias murcharam também no ambicioso plano nacional de banda larga, uma das vitrines eleitorais lançada pelo presidente Lula para turbinar Dilma. Deu até numa nova Telebrás retirada das tumbas. Previa, nos primórdios, plantar torres de internet de alta velocidade em todo o Brasil num prazo curtíssimo. Depois, contentou-se com levar a banda larga a preços módicos para 300 cidades até dezembro. Na lista das 300, municípios na maioria já com bons serviços particulares, uma facilidade a mais para sua implantação. Mesmo assim, a banda larga universal limitada não tocou. Acaba de ser adiada para abril. Para abril também foi adiada a licitação do trem bala. O poeta Ezra Pound, em poema famoso, diz que "abril é o mais cruel dos meses".
terça-feira, 30 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 130

A batalha de Brasília No RJ, a guerra contra o tráfico já deixou, em menos de 10 dias, um saldo de cerca de 30 mortos e um número incerto de feridos, sem contar a principal vítima, a pacata e alegre população. A batalha que se iniciou ontem, em Brasília, com a presidente eleita Dilma negociando diretamente com os presidentes dos partidos aliados a partilha dos ministérios e de cargos mais vistosos no governo promete deixar muito mais mortos e feridos no caminho. Pelo nosso "ministeriômetro", somados os atuais ministros, todos re-candidatos, vê-se que há mais de cem candidatos, declarados e auto-declarados a pouco mais de 40 lugares de peso. O grande desafio de Dilma vai ser conciliar os interesses pelos ministérios e cargos eleitoralmente atraentes como os ministérios da Comunicação, dos Transportes, das Cidades, da Integração Nacional, do Turismo, dos Esportes e órgãos como a CEF, a Funasa e o BB. Vamos ver como funciona o estômago político da futura presidente. Azeda Outro desafio da presidente será ajustar os interesses do PMDB e do PT pelo comando da Câmara e do Senado. Debaixo de boas aparências, o ambiente está azedando. De olho no velho Brasil Pelas caras já anunciadas e muitas prometidas, a face mais poderosa do governo Dilma terá muito das barbas de Lula. Tensão para Marta O grupo de Marta Suplicy em SP está certo de que a futura senadora será bem aquinhoada no ministério de Dilma. O nome dela é soprado para diversas áreas, do Turismo à Educação e ao das Cidades, este último o preferido. Porém, os espaços para a ex-prefeita parecem se estreitar. Dos nomes confirmados, ou quase confirmados, a maioria quase absoluta é de paulistas petistas : Palocci, Padilha, Gilberto, Mantega, Miriam, Cardozo, Garcia. Há a dívida com Mercadante e a intenção de dar lugar na Câmara para Genoíno, o que levaria um deputado do PT para um Ministério. Seria gente demais do PT paulista para o gosto dos PTs de outros Estados. Sem contar que são de SP os candidatos à presidência da Câmara e à liderança do governo na casa dos deputados. Aumento dos juros Crescem, no mercado, as apostas no aumento dos juros mais cedo do se esperava. Já há analistas pensando que pode vir até na reunião do Copom na próxima semana. Seria um "favor" de Lula e Meirelles a Dilma. Mas há quem aposte que ficará para janeiro, para dar a oportunidade de Tombini mostrar serviço. Inflação Há duas semanas já escrevemos nesta coluna que a inflação voltou e não é um fenômeno de choque de oferta, no caso do setor de alimentos. O que está a ocorrer é que a demanda aquecida tem sancionado aumentos generalizados de preços o que é chamado de inflação. Para controlar a inflação, portanto, será necessário diminuir o ritmo de crescimento via aumento dos juros. A maior probabilidade é que a queda da demanda no setor privado seja maior que no setor público de vez que dificilmente haverá contenção dos gastos correntes do governo. Os setores que mais pagarão a conta serão os relacionados com a renda líquida dos trabalhadores, tais como os de bens de consumo duráveis e de produtos com maior valor agregado do setor de não-duráveis. Empréstimos Também teremos a contenção do aumento de crédito no sistema financeiro, além do aumento da inadimplência. Ademais, não podemos esquecer que no primeiro trimestre do ano, os gastos com educação e impostos (IRPF, IPTU, IPVA, por exemplo) reduzem a capacidade de consumo das classes média e baixa. Tudo isto causa efeito sobre a popularidade presidencial. Conclusão O cenário econômico estará piorado, não necessariamente negativo. Uma pausa relevante na trajetória positiva dos últimos anos. Brigas na oposição A oposição está como sempre esteve : com Minas e São Paulo em contraposição, apenas com Serra se expondo diretamente e Aécio na muda, falando por parceiros. Figuras do tucanato começam a acalentar a ideia de oferecer a presidência do partido a FHC, o único tido como capaz de apaziguar o azedume. No DEM, dois movimentos : o do prefeito Kassab para aderir ao governo e, por consequência, ao governismo ; e o das lideranças mais tradicionais para retomar o comando da legenda, hoje com Rodrigo Maia. Neste caso, o nome preferido é o de Marco Maciel, não reeleito ao Senado. Desta oposição, por enquanto, Dilma não precisará se defender. Falta programa Não foi somente a derrota que deixou um gosto ruim no ar oposicionista. De fato, não existe dentre os partidos derrotados um programa ou uma ideologia que reúna os ingredientes necessários para que possa ser praticada a saudável atividade de fiscalizar e criticar o governo. Nem Serra, nem Aécio e muito menos FHC tem algo a oferecer neste sentido, que seja aceitável pela maioria da oposição. Lula na história Ainda com Lula na presidência, teremos em breve o lançamento de um livro sobre a trajetória do presidente que deve colocá-lo numa perspectiva menos mitológica. O livro descarta a imagem criada nas telas como "o filho do Brasil". A relação do presidente com seus companheiros e o seu papel na construção do PT mostrará uma alma demasiadamente humana, com qualidades e defeitos que alguns preferem esconder diante de sua popularidade. Descarrilou ? Pelo menos por enquanto os brasileiros ficaram livres de serem brindados pelo governo com uma nova "Ferrovia do Aço" - o trem bala. A Ferrovia do Aço, para quem não se lembra, foi um projeto imaginado pelos governos militares ligando a região produtora de Minas a São Paulo e Volta Redonda. Foi iniciada sem que os projetos estivessem elaborados e hoje é um dos monumentos à incúria oficial. Infraestrutura Basta pegar um avião SP/RJ para verificar que o caos aéreo já está nos ares brasileiros. O aeroportos brasileiros evidenciam que, até a próxima Copa do Mundo e Olimpíadas, os riscos em relação à infraestrutura brasileira são gigantescos. Radar NA REAL 28/11/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3159 alta alta - REAL 1,7284 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 68.226,06 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.189,40 estável/alta alta - NASDAQ 2.534,56 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Ministeriômetro - Notas técnicas Para entender a lista na nota seguinte, alguns esclarecimentos : - Os atuais ministros não confirmados, continuam na luta. Mesmo Celso Amorim, que fora do Itamaraty, pensa ser aproveitado em outro local.- Dilma deve criar pelo menos dois outros ministérios (ou secretarias como tal) e descartar um - o da Comunicação Social.- Criamos duas outras categorias : "quase confirmados", sobre os quais falta apenas a palavra oficial, e "genéricos", para convidados sem designação da pasta.- Na lista estão não só estatais, mas também órgãos cobiçados por seu valor financeiro e eleitoral. É o caso da Funasa, por exemplo, do Ministério da Saúde, e do Porto de Santos, hoje na Secretaria dos Portos.- Note-se que há um bom número de polivalentes, como Paulo Bernardo e Aloizio Mercadante, candidatos a vários postos. Ministeriômetro - Capítulo VIII A lista mais recente : Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorAssessoria Especial da Presidência - Marco Aurélio GarciaBanco Central - Alexandre Tombini Quase confirmados Casa Civil - Antonio PalocciSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de CarvalhoRelações Institucionais - Alexandre PadilhaDefesa - Nelson JobimJustiça - José Eduardo CardozoBNDES - Luciano Coutinho Genéricos Paulo BernardoFernando Pimentel Candidatos, indicados Assessoria Especial da Presidência - Nelson BarbosaMinistério dos Portos e Aeroportos - PMDB, PT e PSB, Henrique MeirellesDireitos Humanos - Gabriel ChalitaSecretaria de Política das Mulheres - Maria do Rosário, Ideli SalvatiCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteEducação - Gabriel Chalita, Aloizio Mercadante, Newton Lima, Pedro Wilson, Marta SuplicyEsportes - Manuela D'AvilaSecretaria da Igualdade Racial - Vicentinho (abre vaga para José Genoíno na Câmara), Luis AlbertoPetrobras - Maria das Graças FosterSaúde - Jorge Sola, Aloizio Mercadante, Sergio Cortes, Paulo Bernardo, Drauzio VarelaIntegração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Eunicio Oliveira, José Sergio Gabrielli, Fernando Bezerra CoelhoMinas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison LobãoCidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario NegromonteItamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger, uma mulherTransportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo NascimentoCultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti, o sociólogo Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo, Ângelo Vanhoni, Fernando MoraisPortos - PSB, Fernando SchimidtPorto de Santos - PSBCaixa Econômica Federal - Moreira FrancoAgricultura - Blairo Magi, Osmar Dias, Mendes RibeiroVale - Luciano Coutinho, José Sergio GabrielliComunicações - Hélio Costa, Moreira Franco, Paulo BernardoPrevidência - Luis Sérgio, Fernando Pimentel, Paulo BernardoTurismo - Luis Sérgio, Marta Suplicy, Antonio Carlos ValadaresPequena e média empresa - Alexandre Teixeira, Antonio Carlos Valadares, Paulo OkamotoDesenvolvimento Agrário - Joaquim SorianoDesenvolvimento Social - Patrus AnaniasMeio Ambiente - Carlos MincDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Aloizio Mercadante, Fernando PimentelFunasa - PMDBSTF - PMDB Avulsos Abrir vaga para José Genoino na CâmaraAbrir vaga para José Eduardo Dutra no SenadoEva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Alexandre Teixeira (Apex) Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa) Aloizio MercadantePatrus AnaniasIdeli SalvattiFernando PimentelOsmar Dias No Rio, só o começo O processo de limpeza do Rio de Janeiro, aplaudido pela população está apenas no início. Para se ter uma ideia das forças que estão sendo enfrentadas, vejam alguns dados de um estudo de dois funcionários da Secretaria Estadual da Fazenda, Sergio Guimarães Ferreira e Luciana, em abril de 2009, citado pelo ex-prefeito César Maia em seu ex-blog. É a economia da droga, com dados certamente subavaliados pelas dificuldades em compilá-los. Mesmo assim é impressionante : 1. Estimativa de consumo anual : Maconha - 90 toneladas. Cocaína - 8,8 toneladas. Crack - 4,3 toneladas.2. Faturamento anual do tráfico (ajustando a subestimativa das pesquisas diretas) : Maconha - R$ 108,1 milhões. Cocaína - R$ 423,2 milhões. Crack - R$ 102,1 milhões. Total : R$ 633,4 milhões.3. Custo anual estimado : Pessoal - R$ 158,7 milhões. Compra das drogas - R$ 193,9 milhões. Armas - R$ 24,8 milhões. Perdas por apreensões - R$ 19,4 milhões. Total : R$ 396,8 milhões. Lucro operacional : R$ 236,6 milhões.4. Quantidade de delinquentes envolvidos no tráfico : 16.387 pessoas (estimativa da Polícia Civil).
quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 129

A equipe econômica é a presidente Por mais que se tente pintar com cores bem vivas os três expoentes econômicos da equipe da futura presidente Dilma, as escolhas por ela feitas e, principalmente, a recusa de manter, como sugerido por Lula, Henrique Meirelles na presidência do BC, são claros indícios de que a política econômica vai ser comandada, com rédea curta diretamente do Planalto. Nenhum dos três terá a autonomia que tiveram Meirelles e, enquanto durou, Palocci. A dúvida, portanto, continua : quais serão as linhas de política econômica que a presidente seguirá de fato. As contradições entre os discurso e atos endossados por ela, permanecem. E Dilma tem diploma de economia e reputação de entender de diversos assuntos. Assessoria especial Durante a campanha chegou-se a falar que Dilma montaria uma equipe de especialistas de alto nível no Planalto, ao estilo da existente na Casa Branca, para ajudá-la a acompanhar o trabalho dos ministérios. Lula teve algo parecido, mas somente nas questões externas, com Marco Aurélio Garcia. Agora, como não sobrou nem o ministério do Planejamento, nem o BC, nem deverá sobrar o BNDES para encaixar, com upgrade, o secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, retoma-se a conversa de que ele poderá ir habitar o Planalto nesta categoria especial. Barbosa tornou-se muito próximo de Dilma e até tirou férias no auge do período eleitoral para assessorar a candidata petista. A política econômica sob riscos Com o núcleo da equipe econômica devidamente divulgada pela nova presidente as especulações sobre o futuro da política econômica e financeira do governo hão de crescer. Não apenas pelas razões que são apontadas nas notas acima. Como sempre afirmamos nesta coluna, em política os fatos geram as expectativas. Neste item, os fatos nos levam a crer numa política econômica controlada essencialmente por Dilma. Já na economia são as expectativas que criam os fatos. Pois bem : o contexto da economia mundial e a percepção sobre o Brasil estão mudando. A atividade econômica lá fora deve ficar letárgica por longo período. Por aqui a alta da inflação e seus efeitos combinados com juros e atividade econômica podem não garantir a sustentação de um crescimento forte como o deste ano. Já se discute as consequências deste cenário para o futuro da percepção do risco-país. Assim, erra quem acredita que o cenário daqui para frente será tão generoso quanto foi para Lula. Bolha emergente Ainda não está nos relatórios divulgados pelas instituições internacionais. Todavia, já se discute nas mesas de operações financeiras a possibilidade de existência de uma bolha nos preços dos ativos dos países emergentes, sobretudo a China. O Brasil não passa incólume nestas análises. Ainda não se sabe se este tipo de "bate-papo" informal vai resultar em vendas de posições de ativos dos emergentes. Todavia, o ritmo de investimento externo deve cair nestes países. No exato momento em que medidas de proteção cambial são especuladas abertamente pelos governos dos emergentes. Desindustrialização à vista Chega a ser tolo quem acredita que um déficit de US$ 60 bilhões na balança comercial de produtos industrializados não é sinal inequívoco de desindustrialização. Reside aí o maior problema estrutural da economia brasileira no momento. O Brasil continua a ser um país exportador de commodities sem conteúdo tecnológico e muito dependente das variações de preços no mercado externo. Falta ao país mão-de-obra, pesquisa, formação universitária de nível, etc., etc. Dilma fala em atacar estas deficiências. Não é pouca tarefa. Estilo Dilma - I A imprensa deu a indicação de Alexandre Tombini para o BC antes da decisão ser comunicada a Meirelles. Celso Amorim descobriu que não ganharia mais um período no Itamaraty quando saiu da delegação brasileira, de Lula e Dilma, na recente reunião do G-20 em Seul. Estilo Dilma - II Miriam Belchior há cerca de seis meses não serviu como substituta de Dilma na Casa Civil, quando ela saiu para candidatar-se à Presidência,. Preferida de Lula, ela foi preterida pela favorita da presidente eleita, a enrolada Erenice Guerra. Agora, reúne todas as condições para comandar o ministério do Planejamento. A história se repete ? O governo Lula está empenhado em ajudar a montar consórcios para disputar o leilão do trem bala Campinas/São Paulo/Rio, orçado em mais de R$ 33 bi e que os bons especialistas do ramo avisam que não sairá por menos de uns R$ 50 bi, com muito dinheiro público disfarçado na roda. Um dos maiores tropeções do governo FHC foi quando ele se meteu também a incentivar o nascimento de um consórcio para competir na privatização da Telebrás. Pelas rodas que a sorte dá, o consórcio incentivado, que era só para competir, ganhou o que viria ser a Telemar. No desdobramento, saíram do Governo um ministro e o presidente do BNDES. E a Telemar está aí até hoje, agora rebatizada Oi, dando dores de cabeça. Doença do sono Não estivesse a oposição curtindo ainda a ressaca da derrota eleitoral, tentando fechar suas fraturas e ainda tomada de uma macunaímica preguiça, estaria com os pulmões bem inflados para cumprir seu papel de vigiar o governo para o bem da sociedade, cobrando transparência e que tais. Temas não faltam : 1. O citado trem bala.2. As mais novas escaramuças do Enem3. O leilão da banda H de telefonia celular Ministeriômetro - Capítulo VII As cotações do dia : Confirmados Ministério da Fazenda - Guido MantegaMinistério do Planejamento - Miriam BelchiorBanco Central - Alexandre Tombini Candidatos, indicados Casa Civil - Antonio Palocci, Maria das Graças Foster, Fernando Pimentel, Paulo BernardoSecretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho, Antonio PalocciDireitos Humanos - Gabriel ChalitaCiência e Tecnologia - Aloizio MercadanteEducação - Gabriel Chalita, Aloizio Mercadante, Newton Lima, Pedro Wilson, Marta SuplicyEsportes - Manuela D'AvilaPetrobras - Maria das Graças Foster, Antonio PalocciSaúde - Jorge Sola, Aloizio Mercadante, Sergio Cortes, Alexandre PadilhaIntegração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Eunicio Oliveira, José Sergio GabrielliMinas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison LobãoCidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario NegromonteItamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger, Nelson Jobim, uma mulherTransportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo NascimentoIgualdade Racial - Luiz AlbertoCultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti, o sociólogo Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo OsvaldoPortos - PSB, Fernando SchimidtBNDES - Ciro Gomes, Nelson Barbosa, Paulo HartungPorto de Santos - PSBCaixa Econômica Federal - Moreira FrancoJustiça - José Eduardo CardozoAgricultura - Blairo Magi, Osmar Dias, Mendes RibeiroVale - Luciano Coutinho, José Sergio GabrielliComunicações - Hélio Costa, Antonio Palocci, Moreira FrancoPrevidência - Luis SérgioTurismo - Luis Sérgio, Marta SuplicyPequena e média empresa - Alexandre Padilha, Alexandre TeixeiraDesenvolvimento Agrário - Joaquim SorianoDesenvolvimento Social - Gilberto de Carvalho, Patrus AnaniasMeio Ambiente - Carlos MincDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Aloizio MercanteSTF - PMDB Avulsos Eva ChiavonBeto AlbuquerqueMarcelo CrivellaPaulo OkamotoOlívio DutraEmpresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula)SindicalistaClara Ant (no Palácio do Planalto)Alexandre Teixeira (Apex)José Eduardo Dutra Credores Virgilio GuimarãesCiro GomesHenrique Meirelles (em baixa)Aloizio MercadantePatrus AnaniasIdeli SalvattiFernando PimentelOsmar Dias
terça-feira, 23 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 128

O novo velho governo. A escolha de Guido Mantega para continuar na Fazenda não desfaz a maior dúvida que cerca o governo Dilma : qual será a política econômica do novo governo ? É certo que Mantega é classificado e se classifica como "desenvolvimentista" - entre nós quase sempre sinônimo de "gastador" - e, portanto, muitos estão lendo na indicação do atual ministro como um sinal de que a política adotada nos últimos anos do governo Lula, de certa lassidão com os gastos, permanecerá. Não foi à toa que Mantega passou boa parte de sua gestão às turras com Meirelles. Condições de Dilma É certo que Mantega, também, tem certa "elasticidade" e se enquadraria nos desejos de Dilma, seja por uma política A + ou A -. Dilma tem dito que a política econômica será a dela, numa singela alusão de que a de Lula não foi tanto assim. Das vozes portadas da futura presidente sai a informação de que os objetivos de sua condição na economia serão : - diminuir a dívida pública a 30% do PIB até 2014.- reduzir a taxa de juros real (menos a inflação) para um patamar entre 2% e 3%.- zerar o déficit público nominal, com equilíbrio entre receita e despesa, incluindo a despesa com juros. Contradições de Dilma Esses planos, porém, não batem com outras medidas e propostas erráticas saídas do governo Lula, da fala de Dilma e assessores e das cobranças do Congresso e de aliados. Não combinam, por exemplo, com a redução da meta de superávit primário este ano e no próximo de 3,3% do PIB para 3%. Não combinam com a pressa do trem-bala, obra de utilidade duvidosa nos próximos anos e de um custo ainda inimaginável para os cofres públicos. E não batem principalmente com o apetite dos parceiros políticos, pouco dispostos a colaborar com qualquer medida que tenha o mais ligeiro cheiro de austeridade. Concluindo... Plano é plano, política é política. O cenário internacional está sob riscos substantivos, sobretudo no que tange à relação cambial entre as principais moedas globais e às imensas dúvidas sobre a recuperação da atividade econômica. A equipe econômica de Dilma não enunciou nenhum plano estratégico para combater estes problemas. Parece espectador de um cenário que ainda não lhe bateu à porta. De outro lado, o desenvolvimentismo tem lá seus limites operacionais. O PAC é uma necessidade, mas sua execução é altamente duvidosa. Basta verificarmos as notícias dando conta do risco do "caos aéreo" neste fim de ano. As intenções do governo são boas do ponto de vista fiscal, mas os limites políticos que apontamos acima são evidentes. A presidente, logo no início de seu governo, terá de fazer opções. Duras opções. Um sinal mais claro Poderemos ter melhor indicação dos caminhos do governo Dilma com a escolha, prevista para esta semana, do presidente do BC e do nível de autonomia que a futura presidente concederá à autoridade monetária. Para César o que é de César Dilma já está dividindo com Lula medidas e decisões do atual governo que podem afetar a administração dela. Mas Lula também está dividindo com Dilma, aliás, com grau de influência, digamos "superior", decisões que são, em tese, exclusivamente da candidata. Dilma precisou do socorro decisivo do presidente para abortar o "blocão", com cheiro de chantagem, que o PMDB quis montar na Câmara. E tem das duas mãos de Lula a confirmação de Mantega na Fazenda. Uma questão que se "alevanta mais alto" é como será esta parceria no ano que vem ? Para qual lado penderá o pêndulo ? Estas são as duas grandes dúvidas demandadas por nacionais e estrangeiros de assessorias e consultorias especializadas. Nacos garantidos Foi graças ao refluxo do PP e do PR que Lula conseguiu, em um pedaço da 1h da madrugada, soterrar o "blocão" peemedebista na Câmara. Com isso, os dois partidos parecem ter garantido a manutenção de seus espaços no ministérios da Cidades (PP) e dos Transportes (PR), avidamente cobiçados por PT, PMDB e PSB. Conselho Não por outra razão, com alguma sutileza "elefantina", a presidente eleita viu por bem aconselhar publicamente o PT a demonstrar maturidade e aprender a dividir espaços. Ministeriômetro - Capítulo 6 Como se aproximam as definições da partilha do bolo - e os chiliques e amuos que cada decisão vai gerar, algumas públicas outras de bastidores - vamos atualizar nossa lista, completa. Não entram nela os atuais ministros, secretários com status equivalentes a de ministros e nem os dirigentes de estatais no cargo. Todos, sem exceção, repetimos, são candidatos a um "repeteco" ou a uma promoção. Confirmados Ministério da Fazenda - Guido Mantega Candidatos, indicados Casa Civil - Antonio Palocci, Maria das Graças Foster, Fernando Pimentel, Paulo Bernardo Planejamento - Nelson Barbosa, Fernando Pimentel, Aloizio Mercadante, Miriam Belchior Secretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho, Antonio Palocci Direitos Humanos - Gabriel Chalita Ciência e Tecnologia - Aloizio Mercadante Educação - Gabriel Chalita, Aloizio Mercadante, Newton Lima, Pedro Wilson, Marta Suplicy Petrobras - Maria das Graças Foster, Antonio Palocci, Maria das Graças Foster Saúde - Antonio Palocci, Jorge Sola, Aloizio Mercadante, Sergio Cortes, Alexandre Padilha Integração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT, Eunicio Oliveira, José Sergio Gabrielli Minas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison Lobão Cidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel, Jose Filippi Junior, Luiz Fernando Pezão, Antonio Carlos Valadares, Mario Negromonte Itamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger, Nelson Jobim, uma mulher Transportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR, Alfredo Nascimento Igualdade Racial - Luiz Alberto Cultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti, o sociólogo Emir Sader, Celso Amorim, Antonio Grassi, Ângelo Osvaldo Portos - PSB, Fernando Schimidt BNDES - Ciro Gomes, Nelson Barbosa, Paulo Hartung Porto de Santos - PSB Caixa Econômica Federal - Moreira Franco Banco Central - Alexandre Tombini, Luciano Coutinho, Nelson Barbosa, Octavio de Barros, Fábio Barbosa Justiça - José Eduardo Cardozo Agricultura - Blairo Maggi, Osmar Dias Vale - Luciano Coutinho, José Sergio Gabrielli Comunicações - Hélio Costa, Antonio Palocci, Moreira Franco Previdência - Luis Sérgio Turismo - Luis Sérgio, Marta Suplicy Pequena e média empresa - Alexandre Padilha Desenvolvimento Agrário - Joaquim Soriano Desenvolvimento Social - Gilberto de Carvalho, Patrus Ananias Meio Ambiente - Carlos Minc Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - Abílio Diniz, Aloizio Mercadante Avulsos Eva Chiavon Beto Albuquerque Marcelo Crivella Paulo Okamoto Olívio Dutra Empresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula) Sindicalista Clara Ant (no Palácio do Planalto) Alexandre Teixeira (Apex) José Eduardo Dutra Credores Virgílio Guimarães Ciro Gomes Henrique Meirelles Aloizio Mercadante Patrus Ananias Ideli Salvatti Fernando Pimentel Osmar Dias Contribuição para a saúde Diante da barreira que começa a se armar na sociedade contra a ressurreição CPMF, os imaginativos políticos nacionais propõem (a portas fechadas, desmascarados por indiscreto microfone aberto) a legalização dos bingos com a cobrança de uma taxa para o setor de saúde. Boa ideia ! Eles poderiam, inclusive, buscar mais recursos em outras atividades não só para melhorar o atendimento médico hospitalar público como também para suprir os cofres da educação, da segurança pública. Eis alguns deles : CSD - Contribuição Social sobre Drogas com alíquotas diferenciadas para cada tipo de droga, dependendo de seu alcanceIMCO - Imposto Provisório sobre Crime OrganizadoTA - Taxa sobre AssassinatosIJB - Imposto do Jogo do Bicho (poderia também ser chamado de ILZ - Imposto de Loteria Zoológica)IUC - Imposto Único da Corrupção (somente este renderia bilhões)IEPI - Imposto de Exploração da Prostituição InfantilTSP - Taxa sobre pedofilia. A ideia é velha Para lembrar : na primeira mensagem presidencial de Lula enviada ao Congresso, em 2003, pelas mãos do então ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, contava a proposta de regularizar os bingos e sucedâneos como as maquininhas. A ideia acabou abatida pelas revelações das peripécias do principal assessor parlamentar de Dirceu, Waldomiro Diniz, junto a conhecido "corretor" zoológico do Rio de Janeiro, Carlinhos Maracanã. História, aliás, que a operosa Polícia Federal até hoje ainda não desvendou totalmente. Diógenes Não recebemos indicações mínimas dos piedosos cidadãos brasileiros do paradeiro das oposições. A busca continua. Contribuam, por favor. Se continuar nesta toada, Dilma vai ter de se contentar apenas com as contestações dos próprios aliados. O que não é pouco, mas não tem importância para o desenrolar da economia brasileira. IFRS e os balanços das empresas Esta sigla, IFRS - International Financial Reporting Standards, diz respeito às novas normas contábeis internacionais, emanadas do IASC - International Accounting Standards Committee e relacionadas à divulgação de demonstrações financeiras de empresas, sobretudo as de capital aberto. Os princípios contábeis contidos nestas normas podem alterar substancialmente os resultados e os balanços das empresas com repercussões substantivas para as cotações das ações. Foi o que aconteceu na Europa e na maioria dos países asiáticos. No Brasil, as demonstrações financeiras deste ano (e retrospectivamente as de 2009) terão de ser publicadas logo no primeiro quadrimestre do ano que vem sob estes novos critérios. Ao que parece os investidores ainda não se deram conta da relevância deste tema, inclusive do ponto de vista dos dividendos. Além disso, poderemos ter muitas surpresas no segmento de estatais da bolsa brasileira... Radar NA REAL 19/11/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3741 alta alta - REAL 1,7157 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 70.897,70 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1,199,73 estável/alta alta - NASDAQ 2.518,12 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 127

Para constar o currículo ministerial Pelo menos ao que saiba, não há um manual, uma cartilha, com as "qualificações" que Dilma exigirá dos candidatos a cargos de alto escalão em seu governo de modo a escalá-los. Conhecem-se algumas indicações, no entanto, vazadas aqui e ali : - Conhecimento técnico- Ficha limpa- Adequação do nome ao cargo indicado ou reivindicado- Trânsito partidário- Influência no Congresso- Bom diálogo com os setores da sociedade que transitam em sua área Se tudo isso prevalecer, de fato, ou pelo menos alguns dos pontos, a lista de candidatos que estamos relacionando nas últimas cinco colunas vai, enfim, emagrecer. A ponto de sobrar vagas. PS : Sabe-se, também, que o critério Erenice Guerra, ungida ministra-chefe da Casa Civil por obra, graça e risco de Dilma, pois a candidata de Lula para o lugar era outra, está descartado. Para prestar a atenção 1. Inflação2. Câmbio3. Contas externas4. Contas públicas5. Reajuste do Judiciário6. Reajuste dos parlamentares, de ministros e do presidente7. Emenda constitucional do reajuste dos policiais civis, militares e do corpo de bombeiros8. Reajuste do salário-mínimo e das aposentadorias9. Reajuste do bolsa-família10. Nova CPMF Parafrasendo Mário Henrique Simonsen : a política aleija, mas a economia mata. O PT acordou O PT teve ministérios vistosos no governo Lula, como Fazenda e Planejamento, pastas grifes como Direitos Humanos e Integração Racial, chegou a ter debaixo de suas asas em um momento 17 pastas, quase metade de todos os ministérios, mas não tinha as chaves dos gastos que rendem fidelidades e votos. Com exceção do de Minas e Energia, primeiro como ministra de direito e depois como ministra de fato. Agora, os petistas despertaram. Honraria é bom, porém não enche nem urnas nem outras burras. O PT afiou as unhas e está na briga também pelos ministérios dos Transportes, da Integração Nacional, das Cidades, das Comunicações e até pelos do Turismo e dos Esportes, com status orçamentário elevado pela Copa de 14 e a Olimpíada de 16. E o PMDB nem dorme Não deu certo o golpe de capoeira que o PMDB tentou passar no PT - e indiretamente em Dilma - com a criação de um "blocão" na Câmara, com 202 e dois deputados, reunindo, além dele o PP, o PR, o PTB e o PSC. Inicialmente o PP pulou fora. Porém, o arsenal peemedebista não é para desprezar. E ficou o recado a quem deve : não se brinca com profissionais com anos de praia. O PP fez o jogo. E levou Ameaçado de ser rebaixado na composição governista, por não ter formalmente apoiado a aliança que elegeu Dilma, o PP aproveitou o interesse do PMDB para ganhar sua vaga. Foi para os braços dos peemedebistas por uns instantes e, com forte apelo, fugiu do blocão que irritou o PT, Dilma e o Planalto. Carimbou seu passaporte para continuar no cobiçadíssimo ministério das Cidades. A nova esquerda brasileira "A esquerda da América Latina na verdade se divide em duas. Uma populista, declaratória, assistencialista, a de Chaves (sic). Outra de Lula, responsável, segura, cumpridora de seus compromissos externos e internos." O elogio vem de José Sarney, o novo esquerdista do Brasil, no jornal Brasil Econômico. Ainda o Banco Panamericano Não será ninguém ao redor da presidente eleita ou a própria futura primeira mandatária a fazer qualquer questionamento interno ou externo sobre o caso Panamericano, o mico que foi parar na CEF. Além disto, acomodar os interesses do PMDB incluirá Meirelles, e falar em Panamericano poderia levar a desagradável pergunta sobre onde estava o BC em tudo isto... logo, melhor calar. A "queridinha" do mercado Este negócio de escutar muito os elogios dos experts do mercado financeiro é verdadeiramente um perigo. Veja o caso da Espanha e da Irlanda, para falar de dois países do Velho Continente. Nos relatórios de três anos atrás sobravam elogios ao desempenho econômico de ambos. Agora, o temor é de que eles quebrem... O Brasil está sendo muito paparicado pelos experts. Esta é uma razão para o país tomar cuidado. Sem ilusões Preparem seus corações e bolsos. Há algum tempo a inflação estava ganhando força e se generalizando. Agora é para valer. A inflação voltou. O BC muito possivelmente vai ter de subir juros logo no início da administração Dilma. Alckmin e a dívida Se viesse do PT pré-Lula os tucanos e democratas iam acusar de "caloteiro". Mas, em Geraldo Alckmin, a pecha não pega. O governador de SP vai bater forte para melhorar o nível de endividamento do Estado. Como ? Ninguém sabe, mas a quebra de contrato se dará. Para o bem, ou para o mal. Ministeriômetro - capítulo V A lista só engorda : Desenvolvimento Social - Patrus AnaniasDefesa - Michel TemerCidades - José Fillipi Junior, Antonio Carlos ValadaresCredores - Ciro Gomes, Osmar Dias, Vírgilio Guimarães Farra cambial Alguma coisa está totalmente fora do lugar quando : num país grande produtor de minério de ferro, os produtos siderúrgicos importados (com custo de frete e impostos já computados), chegam a ser 40% mais baratos do que os nacionais. Em comparação com o chinês, o aço tupiniquim pode chegar ao dobro. Como escreveu recentemente o ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, "parece que com a taxa de câmbio de R$ 1,60 já podemos importar o etanol de milho dos EUA..." Silêncio dos inocentes Nunca antes neste país se viu uma passagem do presidente Lula (desta vez com Dilma a bordo, na condição de futura presidente) e um retorno ao Brasil tão amuados quanto os do encontro do G-20 em Seul. Qual fantasma os dois e mais o ministro Guido Mantega viram por lá ? Não erra quem apostar na situação da economia mundial e no destino do dólar. Notícias da oposição Para não passar em branco, noticia-se que gorou a fusão DEM/PMDB, passaporte para o Democratas voltar ao governo. E que Gilberto Kassab não levará para o PMDB, se para lá se dirigir, o séquito de políticos que imaginava, a não ser que a fidelidade partidária caia. Mesmo assim... E não levará os votos que pensa deter para uma disputa para o governo estadual. Talvez nem leve a candidatura ao Palácio dos Bandeirantes pelo partido de Temer e Quércia. Tanto na prefeitura da capital quanto no Estado, em 2012 e 2014, o tira-teima ainda será entre PT e PSDB, sem vagas para intrusos.
terça-feira, 16 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 126

G-20 e a realpolitik Esqueçam a linguagem diplomática dos sorridentes líderes dos 20 países mais ricos do mundo depois da reunião. Tudo um jogo de cena. De fato, a reunião foi um retumbante fracasso. Não pode haver diálogo quando os interesses ao redor da mesa de negociação são muito distantes um do outro e os pontos comuns insuficiente para engendrar aproximações múltiplas e contínuas. O que vai valer é o poder de cada um. A velha realpolitik. Os EUA vão tentar se ajustar realizando um ajuste cambial via injeção de liquidez e o resto do mundo vai ter de implementar, digamos, "políticas compensatórias". O resto é balela. Quem viveu, viu Nos tempos do "Consenso de Washington", o corolário de recomendações neo-liberais dos anos 90 e início desta década, pronunciar algo que estivesse relacionado com controles de capitais era levado à inquisição perante os políticos, os formadores de opinião, a mídia e assim por diante. Pois bem : em última instância será o controle de capitais o instrumento para minimizar qualquer variação maior na relação entre as taxas de câmbio das principais moedas. Não há outro instrumento disponível para tanto. Estamos no século XXI. Crédito e Capitais Há uma certeza diante da perspectiva de que sejam adotados controles à entrada de recursos externos no país : a disponibilidade de crédito será menor. Com isto as taxas de juros dos financiamentos subirá e haverá contração do tamanho das carteiras de crédito dos bancos. Dois riscos relevantes deste processo, além da queda da atividade econômica : (i) aumento da inadimplência com efeitos negativos sobre os balanços das instituições financeiras e (ii) refinanciamento de dívidas sendo feitas com instrumentos mais caros, tais como o cartão de crédito no caso das pessoas físicas. Se no meio do caminho o BC continuar a subir os juros básicos... Lula e a elegância Não surpreende o fato de o chanceler Celso Amorim ter sido desconvidado para a reunião do G-20 pelo presidente Lula. Se Dilma queria mandar um recado para o chanceler, Lula não deveria ter aceitado esta forma. Todavia, o presidente sempre agiu assim com seus companheiros indesejados. É o que registra um livro sobre Lula, de autoria de ilustre jornalista e que será lançado agora em dezembro, quando o ex-sindicalista ainda estará reinando no Planalto. O que os governadores querem ? O primeiro a reclamar foi Geraldo Alckmin, propondo a revisão dos juros que os Estados pagam ao governo Federal por conta da renegociação de suas dívidas. Ficou no limbo, pois faz parte de uma oposição sem força no Congresso - não fez nem barulho perto da assessoria da presidente eleita. Agora, o barulho ficou ensurdecedor, depois que um aliado de Dilma, e lulista de carteirinha, o governador Sérgio Cabral, entrou na justiça cobrando da União R$ 25 bi, referentes a royalties que os fluminenses teriam direito. Isto seria devido em função dos 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal cedidos à Petrobras e transformados em dinheiro (e/ou papel) na recente capitalização da estatal. A realidade é que oposicionistas ou lulistas, com exceção de alguns apegados petistas, os governadores da safra 2011 não estão dispostos a viver, em boa parte, dependentes de recursos Federais para tocar seus projetos. Querem reais próprios, sem ter de ficar como pedintes no Palácio do Planalto e nos ministérios. Querem caixa para fazer urnas. Alguns estão já pensando carimbar passaportes para voos mais altos. A maioria já percebeu que não dará este salto se boa parte das glórias ficarem com os de Brasília. Dilma e os governadores Dilma terá contas a ajustar pela frente, com os governadores acenando com suas bancadas estaduais no Congresso como trunfo. E não é luta de governo contra oposição. É um luta suprapartidária, como do tucano Alckmin, o peemedebista Cabral e o socialista Eduardo Campos. Pode-se incluir nesta lista até o petista Genro, do RS, Estado com as contas mais complicadas. A primeira batalha já está acesa : a reserva de recursos no orçamento de 2011 para ressarcir os Estados da desoneração da Lei Kandir. Não há um mísero real previsto até agora. História mal contada Esta quase tudo ainda por se revelar no episódio da quebra do Banco Panamericano - explicações convincentes da CEF, dos auditores e do BC ainda são mercadorias em falta. Não se constrói um rombo de R$ 2,5 bi de uma manhã para tarde. Ninguém soube ? Ninguém viu ? E mais : por que esperaram passar as eleições para anunciar a intervenção quando o BC - cego dos olhos - viu a fraude ainda em agosto ? Tudo é motivo Os defensores da permanência de Meirelles no BC já estão espalhando a tese de que o caso Panamericano, uma vez resolvido, segundo eles, sem traumas maiores para o sistema, pela ação do presidente do BC, reforça a posição dele e mostra a necessidade de mantê-lo lá. Não seria exatamente o contrário, a partir das "bolas nas costas" que a instituição levou neste caso, demorando meses, até alguns anos, para perceber as fraudes ? A força do Enem No país das coisas invertidas, como no caso de Meirelles, começa-se a espalhar que a solução do caso do Enem teria reforçado a posição do ministro Fernando Haddad para um bis no ministério de Dilma. Não deveria ser exatamente o contrário ? Bancos de não-banqueiros Chega a ser cômica a entrevista do empresário Sílvio Santos na Veja, quando afirma que não entende muito do negócio bancário. Um banqueiro que não entende de banco ? Pode ? Múltiplos exemplos mostram que bancos controlados por instituições não-financeiras não são bons do ponto de vista estratégicos. Bancos alavancam seus ativos em velocidade muito maior que outras empresas e quando mal administrados podem levar enormes grupos à bancarrota. Ministeriômetro - Capítulo IV Hoje, também, somente inclusões na lista dos ministeriáveis. Ninguém desiste desse "sacrifício". Itamaraty - Nelson Jobim (causaria furor na Casa de Rio Branco)Defesa - Michel TemerSecretaria-geral da Presidência - Paulo BernardoComunicações - Antonio PalocciPlanejamento - Aloizio MercadanteEducação - Marta SuplicyCidades - Mario NegromonteTransportes - Alfredo NascimentoBNDES - Paulo HartungAvulsos - Marcelo Crivella, Paulo Okamoto Tiririca e os zeros A Justiça continua incomodada com o ator Tiririca e a eleição dele para a Câmara. É um tanto de preconceito. Tiririca, no Congresso, será um zero à esquerda, não fará diferença. De um modo mais específico e justo a preocupação deveria ser para com aqueles dos muitos zeros à direita. Estes continuam impávidos e colossos. Dando as cartas e recebendo retribuições. E mais : se cassarem o Tiririca, dever-se-ia anular também os votos que ele recebeu. Porque os "muito vivos" é que vão se beneficiar com isto. O primeiro teste Desta semana não passa a definição do novo salário-mínimo e do índice que será aplicado à correção da aposentadoria das pessoas que recebem mais de um mínimo. O porta-voz econômico Paulo Bernardo diz que acima de R$ 540 não dá. Os sindicatos querem o mínimo em R$ 540. Pelas regras estabelecidas pelo próprio governo e aceitas no passado pelos sindicalistas, ele não chegaria nem aos R$ 540. Espalhava-se no fim de semana que Lula e Dilma vão oferecer R$ 550. Desta decisão vai se aferir o tamanho da disposição da presidente eleita de enfrentar desafios políticos para cumprir a promessa do discurso de campanha (e pós-campanha) de seguir uma linha de austeridade nos gastos públicos. Cálculos oficiais mostram que para cada R$ 1 de aumento do salário mínimo a conta da previdência engorda, anualmente, em cerca de R$ 285 milhões. Se alguém souber... ... do destino da oposição, por favor, informe aos 45 milhões de brasileiros que votaram em José Serra. Prefeito assanhado Gilberto Kassab, alcaide paulistano, tido como uma estrela ascendente no DEM, movimenta-se, nos bastidores e à luz de holofotes, para unir seu partido ao PMDB. Se não der, diz que ele e seu grupo poderão filiar-se ao partido de Michel Temer, na dependência de uma brecha que o Congresso espera abrir nas normas de fidelidade partidária. Kassab procura seu espaço. A questão é saber se o cacife que ele tem é próprio ou resulta da aliança com os tucanos paulistas, ao fato de ter sido o vice de Serra na prefeitura, na época sem muito gosto do tucanato. Não é para levar a sério Pelo menos por agora não é para valer essa história de fusão de partidos, a mais visível em discussão : do DEM com o PMDB. São jogadas para aumentar o poder de negociação dos negociadores, apenas. Radar NA REAL 12/11/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3619 alta estável - REAL 1,7095 estável/alta estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.195,11 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.199,21 estável/alta estável - NASDAQ 2.518,21 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 125

Não é para escrever ainda I Não é apenas de escaramuças ministeriais que estão vivendo os partidos aliados em Brasília. Além da formação do novo governo, há também as disputas por influência sobre o governo e ocupação de postos no Legislativo. Como no caso do ministério onde quase tudo é pura especulação, as intrigas e o diversionismo correm soltos, nem tudo o que é dito deve ser escrito e/ou deve ser tomado pelo valor de face. Um exercício para entender o futuro governo e, como se diz em Brasília, a nova "correlação de forças" do governismo, é tentar separar os diamantes dos falsos brilhantes. Não é para escrever ainda II Com exemplo, veja-se o caso da mais recente amizade política em Brasília - a do PT com o PMDB. Depois da primeira escaramuça, quando o PMDB protestou - e levou - por estar alijado do comando do grupo de transição, há uma lua de mel entre as siglas. José Eduardo Dutra e Michel Temer já são os mais novos devotados "amiguinhos de infância" e se entendem até por música. O que um diz, o outro assina. Dizem que vão se entender até pelos cargos na mesa da Câmara e do Senado. Nem tudo é bem assim. Os dois estão fazendo um pacto de conveniência contra as investidas de outros aliados. Partidos como o PSB, o PP e até o PC do B reivindicam mais espaços (leia-se, mais cargos), no governo Dilma. Como a presidente não tem mais o que inventar, exceto as estatais que vão surgir - a do pré-sal, a do trem bala -, "ceder mais" significa tirar de quem já tem muito - o PT e o PMDB. Do mesmo modo, não se deve assumir : (i) que estão todos interessados na verdade em colaborar com o novo governo, (ii) que a questão de cargos é uma consequência, (iii) que o PMDB só quer manter o que já tem, (iv) que não foram Lula e Dilma que induziram a discussão sobre a CPMF, (v) que vem por aí uma política de austeridade, (vi) que o principal critério para escolha da equipe será o do mérito e não as acomodações políticas, (vii) que Lula não está indicando ninguém a Dilma... e por aí vai... Voz autorizada ? O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tido como nota certa também do ministério da Dilma, no mesmo cargo ou em outro posto nobre, tem se revelado o porta-voz das linhas econômicas do futuro governo. Já anunciou que o governo não aceita valor maior para o salário mínimo do que R$ 540, que um ajuste fiscal está em andamento, que a meta de inflação para 2013 será reduzida a 4% (até 2012 seria de 4,5%), que o superávit primário de 2011 será de no mínimo 3,3% do PIB, que até o fim de 2014 o juro brasileiro será de 2% e o déficit nominal será zerado e muito mais. Tudo bem. Acontece que muitas desses propósitos não combinam, por exemplo, com a aventura do trem bala, com as generosidades do BNDES (a última na MP 511), com as farras que pintam no horizonte para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Casos clínicos (e geriátricos) O PSDB e o DEM, talvez até o PPS, estão necessitando urgentemente de boas sessões de psicanálise política. Estão sem rumo. Estão órfãos, sem propostas consistentes e sem projetos objetivos. Se o grupo de Marina Silva não se dispersar - fala-se menos do PV e mais de atores sociais e econômicos que a ela se juntaram - e ampliar seu leque de preocupações, tem chance de ocupar um bom espaço político no futuro. A oposição está envelhecida e o novo governo, pelas primeiras amostras, também já vai "nascer velho" - nos nomes e na direção das políticas. Ministeriômetro - Capítulo III Foram poucas as alterações na relação da coluna de terça-feira. Tivemos apenas acréscimos. Todos os citados ou auto-citados resistem bravamente ao processo de fritura geral. Educação - Newton Lima, Pedro WilsonCultura - Antonio Grassi, Ângelo OsvaldoComunicações - Moreira FrancoIntegração Nacional - Eunicio Oliveira, José Sergio GabrielliCidades - Jose Filippi Junior, Luiz Fernando PezãoSaúde - Sergio CortesAvulsos - Beto Albuquerque, Olívio Dutra Lulômetro Também um acréscimo : - A vaga deixada por Nestor Kirchner na Unasul. Brigas no éter Após um período de relativo com entendimento, voltaram a ficar tensas as relações entre o governo e a Anatel, hoje apenas um braço do Executivo, e o setor de telecomunicações. As empresas se queixam basicamente da preponderância quase absoluta da ressuscitada Telebrás no Plano Nacional de Banda Larga. Elas não consideram um plano de fato, mas um enunciado de intenções e das regras para o leilão da Banda H para celular, no qual as quatro grandes de hoje - Oi, Vivo, Tim e Claro - não podem concorrer na primeira rodada e já entraram até na Justiça. Vem mais queixa por aí. Dezembro quente Véspera das festas de fim de ano, o Congresso quase desacelerando e o governo em fim de mandato. Época, portanto, de mais prudência em grandes e polêmicas questões públicas. Não é, porém, o que a turma do presidente Lula quer : dia 14/12, se a Justiça deixar, correrá o leilão da Banda H. Dois dias depois, 16, a concorrência de R$ 34 bilhões do trem bala. Recursos panamericanos A injeção de R$ 2,5 bilhões de recursos no Banco Panamericano em função das possíveis fraudes contábeis ocorridas antes do processo de aquisição da instituição pela CEF demonstra, mais uma vez, que o controle acionário de empresas financeiras por parte de grupos não-financeiros é altamente problemático. Grandes grupos podem ser "engolidos" por subsidiárias financeiras aparentemente menos importantes do ponto de vista patrimonial. Radar NA REAL 9/11/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3737 queda estável - REAL 1,7095 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.679,47 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.213,40 estável/alta estável - NASDAQ 2.562,98 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Inflação em alta Muito embora a elevação dos índices de inflação reflita aumentos significativos de preços agrícolas e de energia (etanol, sobretudo), aumenta a percepção de que a inflação está se espalhando pelos outros setores econômicos. O BC sabe disto, mas nenhuma alteração na taxa básica de juros é esperada para este ano. O custo ficará para o próximo mandato do presidente do BC o qual poderá ou não ser exercido por Henrique Meirelles. Todavia, já se comenta a voz pequena no tal do "mercado" que em 2011 poderemos ter um cenário desagradável do ponto de vista político : inflação e juros em alta e redução da atividade econômica. Um teste inicial para a nova presidente. Fed sob ceticismo Há aqueles que acreditam que a reunião do G-20 hoje e amanhã será um marco importante para as decisões tomadas pelos EUA (e não somente pelo Fed) em relação à recompra de títulos de longo prazo do Tesouro norte-americano. A nosso ver, a decisão americana é unilateral e deve passar incólume pelas pressões externas por duas razões : (i) trata-se de uma "decisão heroica" do atual governo para se salvar de uma letargia da atividade econômica que pode durar anos e (ii) os países que compõe o grupo nada tem a oferecer em troca. O maior risco para o governo americano, porém, está no campo doméstico. Há enorme ceticismo em relação à estratégia de redução a taxa de longo prazo injetando mais liquidez. Segundo estes, incluindo os republicanos que tomaram conta do Congresso nas últimas eleições legislativas, a injeção de liquidez não derruba as taxas porque as expectativas de alta da inflação também se elevam. Isto não é uma queda de braço, mas no final a complexa e confusa discussão pode deixar o Fed pouco efetivo e crível para executar a política por ele proposta. A coisa está muito mal parada. O "mercado" espera. Lula e os anistiados A visão de Lula sobre os exilados políticos no final da década de 70, durante o regime militar, não era tão generosa quanto os recursos dispendidos pelo tesouro para indenizá-los durante o seu mandato presidencial. É o que poderá ser conhecido num novo livro sobre o presidente que sairá neste final de ano.
terça-feira, 9 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 124

Lula e Dilma: diferenças vitais Para entender o que pode mudar no governo Dilma em relação ao governo Lula, em políticas e estilo, é preciso observar algumas diferenças entre o presidente e sua sucessora. Lula é pragmático, Dilma ideológica. Lula, não é dado a grandes elucubrações, seu projeto sempre foi, no fundo, acabar com a pobreza, fazer todos os brasileiros comerem três vezes por dia. Dilma tem projetos de transformações estruturais. Formado no sindicalismo, Lula é conciliador. Dilma é catequizada na luta política - tem lado escolhido, além do sentimento de classe e do companheirismo que move Lula. Lula não tem ideias pré-concebidas, Dilma tem posições sobre tudo. Lula age, trabalha e administra na base de, digamos, uma dialética muito peculiar. Deixa haver conflitos internos no seu entorno, ausculta as reações e decida pelo que entende ser o de maior aprovação. Foi assim na vida sindical. Nas assembleias, tinha um aliado para defender cada posição - a favor da greve, contra a greve, a favor da aceitação da proposta, contra a proposta. Olhava a reação da plateia e depois optava pela que tinha tido maior aceitação. Lula e Dilma no governo No governo não foi diferente. Veja-se na economia. Enquanto teve dois nomes afinados no comando da economia - Palocci e Meirelles - tinha no Planalto, principalmente na Casa Civil, primeiro com José Dirceu e depois com Dilma, a antítese. Para lembrar : foi Dilma, com a classificação de "rudimentar", que fulminou uma proposta de Palocci de zerar o déficit nominal do setor público. Curiosamente, a mesma ideia que, dizem, ela namora agora. Depois Lula deixou o contraponto ao BC para Mantega e Luciano Coutinho. E administrou a política pendularmente entre um e outros até a crise de 2008, quando passou a prevalecer a posição Fazenda - BNDES. Dilma, anuncia-se, não aplicará a mesma dialética lulista. A equipe econômica estará submetida inteiramente a ela e não terá contrapontos - seguirá a linha nacional-desenvolvimentista que ela adota. Por isso, não deve haver mais espaço para Meirelles no BC. E Palocci corre o risco de ter de pousar no ministério da Saúde. Para o bem e para o mal, é uma mudança e tanto. Lula em evidência Lula convocou uma entrevista conjunta dele e da presidente eleita, atrasando a viagem de férias de Dilma, somente para dizer que quem vai mandar no governo Dilma será ela mesma. Inusitado se dissesse o contrário. Depois, Lula convocou rede obrigatória de televisão e rádio para saudar a saudável eleição nacional, dizer bem do futuro com Dilma e propor um desarmamento dos espíritos. Inusitado se dissesse o contrário. Como as duas aparições não trouxeram novidades, eram totalmente dispensáveis, parecem inexplicáveis. Não são, não. Basta ver os noticiários de televisão, com a presidente entrante ocupando cada vez mais espaço e o presidente que sai desaparecendo do noticiário para se compreender tudo. Lula desmistificado em livro Vem aí um livro de um jornalista com todas as credenciais para analisar o poder e suas intimidades. Trata-se de uma obra que joga elevadas taxas de realismo sobre a mitificação de Lula. Esta coluna teve acesso ao conteúdo da obra. É explosivo. G-20 sob risco Muitas análises dão conta que o G-20 está sob o risco de deixar de ser um fórum funcional para tratar das grandes questões econômicas internacionais. Não é apenas uma possibilidade, caso os EUA mantenham sua posição em relação à desvalorização do dólar no mercado internacional. É quase certeza. Por duas razões agudas : (i) não há da parte dos países emergentes, sobretudo a China comunista, nenhuma estratégia alternativa que seja implementável e que seja satisfatória para os homens de Washington ; (ii) diante da ausência de uma estratégia alternativa é muito provável que os países emergentes e os países ricos se dividam para criar as suas próprias estratégias nacionais na defesa em relação à queda do dólar norte-americano. Neste item, a China mostrará seus dentes de dragão sem se preocupar muito com os outros "companheiros" emergentes (dentre os quais o Brasil). O FMI original O governo brasileiro se orgulhou muito de, juntamente com a China, ter aumentado sua participação no órgão multilateral. Pois bem : o FMI é algo decadente e disfuncional como vai provar, mais uma vez, a adoção da recompra de títulos do tesouro norte-americano por parte do Fed, e que resultará numa desvalorização do dólar. A guerra cambial que deve vir por aí foi a razão pela qual Lord Keynes sugeriu a criação do FMI na conferência de Betton Woods, em 1944. O FMI seria uma espécie de "caixa de compensação cambial" na qual os países superavitários depositariam suas reservas e financiariam os países deficitários nas contas externas. Assim, se evitaria a guerra cambial entre eles. Pois bem : o FMI nunca foi isto porque os EUA ao constatarem que iam ganhar não somente a guerra contra os nazistas e japoneses, mas que o dólar ia ser a moeda internacional em substituição à libra. A guerra cambial está aí e o FMI não serve para nada. O Leviatã Econômico Todos os caminhos de Dilma na economia levam a um aumento da presença do Estado na economia. A CPMF é a mais visível. Mas há muito mais. As obras da Copa do Mundo devem ganhar grande estímulo nas próximas semanas e meses com a participação de governos locais e o Federal ; o BNDES se prepara para ser uma espécie de seguradora para títulos privados de longo prazo (o balcão de negócios nesta área se agrega a um volume de crédito enorme para o setor privado) ; as obras do PAC ganharão reforço estatal significativo logo no início da nova administração. Não há no Brasil nenhuma força política relevante a impedir este processo. Ao contrário : a provável volta da CPMF mostrará que a docilidade do Congresso e dos governadores - de todas as cepas políticas - com o governo Federal deve ser maior que com Lula neste início da nova administração petista. Choremos a Argentina, de novo A morte de Kirchner foi apenas mais um capítulo na atual cena trágica do país rival do Brasil no futebol. A inflação de 30% - ou mais - e os efeitos da guerra cambial lá fora são fatores suficientes para jogar a Argentina numa nova, e enorme, crise econômica. Os investimentos brasileiros naquele país aumentaram demasiadamente nos últimos anos, com a Petrobras liderando este processo. Se somarmos à crise argentina os riscos estratégicos da Venezuela chegaremos à conclusão que há aí um ponto nevrálgico para os riscos externos do Brasil, além do problema cambial no mundo. Quem se dispõe a discutir isto no Congresso Nacional ? Radar NA REAL 5/11/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3943 queda estável - REAL 1,6964 estável/queda estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 72.606,53 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.221,06 estável/alta estável - NASDAQ 2.577,34 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Começo delicado Do ponto de vista do apoio da sociedade, não dá um bom pontapé um governo que, sem discutir as questões na campanha, esquecendo-se deliberadamente delas, pode se inaugurar com a recriação da CPMF e mudanças nas regras das cadernetas de poupança. Lula e Dilma puseram para circular as notícias sobre a CPMF, usando como laranjas um grupo de governadores. Assim, o tema já frequenta os debates do grupo de transição. Uma paraestatal ? Depois de uma trégua no segundo turno, voltou às mesas decisórias em Brasília o processo de caça  - ou cassa ? - ao presidente da Vale, Roger Agnelli. O novo governo quer indicar o novo executivo da empresa, para torná-la mais cordata. Agnelli caiu em desonra depois que demitiu funcionários no auge da crise e resistiu às sugestões oficiais de investir também fortemente em siderúrgicas. Pode ser uma "reestatização" branca. Em busca de piso e teto Vai demorar algum tempo para que todas as feridas da derrota oposicionista cicatrizem. Isso se as do tucanato vierem a cicatrizar de fato. Há mágoas profundas e vaidades ainda em profusão. A disputa pela liderança no PSDB pode ser fatal. As eleições municipais já estão na rua. Para além das questões pessoais - quem será quem no novo oposicionismo - há também o desafio de saber como será esse novo oposicionismo. A oposição só sobreviverá forte e unida se for capaz de formular um projeto para o Brasil diferente do que aquilo que sendo aplicado e será continuado. Terá de mostrar porque o que ela propõe é melhor, não basta apenas criticar e dizer que pode gerir melhor. Tem de apresentar alternativa, com detalhamento e profundidade. Ingenuidade Só quem acredita em mula sem cabeça acreditou, durante a campanha presidencial, nas promessas de desoneração de impostos. Só quem convive com sacis acredita que a proposta de volta da CPMF, com codinome CSS, é uma iniciativa autônoma de governadores estaduais e não tem nenhum dedo nem de Lula nem de Dilma. Incompatibilidade Continuam sem se dar bem o ministério da Educação e o Enem, eles não se entendem embora habitem o mesmo espaço oficial. Neste fim de semana, foi a entrega de um caderno de questões incompleto e com falhas e a distribuição da folha de gabaritos com erros que alertaram sobre a falta de credibilidade do exame. Certamente, a culpa será atribuída à gráfica e não a quem deveria conferir se estava tudo certo. Em 2006, o Enem foi cancelado depois que o Estadão revelou o vazamento da prova. Em 2009, houve erro no gabarito do INEP. No início de 2010, o mesmo INEP divulgou o gabarito errado de quase mil estudantes. Em agosto de 201,0 vazaram dados sigilosos de alunos. E, no entanto, o ministro Fernando Hadad é cotado para permanecer no posto no futuro governo ou ganhar uma nova missão. É um dos queridinhos de Lula e do PT para futuras missões eleitorais em SP. Deve ser a tal de "meritocracia" a que tanto tem aludido a presidente eleita quando fala na formação de sua equipe. Dois filões Para entender a razão de muitos partidos e muitos políticos desprezarem cargos ministeriais e propugnarem vagas mais modestas em estatais ou em fundos de pensão das empresas oficiais : - Para 2011 as estatais têm uma previsão de investimentos de R$ 107 bi. E mais de 600 cargos executivos de nível, com salários superiores de R$ 20 mil, preenchíveis sem concurso. - Os fundos de pensão dos empregados das estatais, em tese privados, mas que o governo controla com fervor, têm hoje um patrimônio de mais de R$ 500 bi para investir. Cotações do ministeriômetro - capítulo II Repetimos a lista da semana passada. Os novos nomes em relação a lista anterior estão em destaque em itálico. Ainda não tivemos exclusões. Acrescentamos uma nova categoria - "credores". São aqueles que fizeram algum tipo de sacrifício em nome da eleição de Dilma e agora esperam recompensas. Algumas foram solenemente prometidas. A partir da próxima coluna vamos registrar apenas as inclusões e exclusões. Dilma vai aproveitar a companhia do presidente Lula na viagem ao G-20 em Seul para discutir com ele os convites que pretende fazer. Nenhum nome surgirá esta semana. Já depois dos feriados a angústia dos candidatos deve crescer. Ainda mais para a gente do PMDB que, segundo Michel Temer, não reivindica cargos, mas está à mercê do que Dilma e Lula determinarem. Casa Civil - Antonio Palocci, Maria das Graças Foster, Fernando Pimentel, Paulo Bernardo Planejamento - Nelson Barbosa, Fernando Pimentel, Luciano Coutinho, Aloizio Mercadante Secretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho, Antonio Palocci Direitos Humanos - Gabriel Chalita Ciência e Tecnologia - Aloizio Mercadante Educação - Gabriel Chalita, Aloizio Mercadante Petrobras - Maria das Graças Foster, Guido Mantega, Antonio Palocci Saúde - Antonio Palocci Integração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes, PT Minas Energia - Graça Foster (assim ela gosta de ser chamada), Edison Lobão Cidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB, PMDB, Fernando Pimentel Itamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger Fazenda - Luciano Coutinho Transportes - Henrique Meirelles, PMDB, PT, PR Cultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti, o sociólogo Emir Sader, Celso Amorim BNDES - Ciro Gomes, Nelson Barbosa Porto de Santos - PSB Caixa Econômica Federal - Moreira Franco Banco Central - Alexandre Trombini, Luciano Coutinho, Nelson Barbosa Justiça - José Eduardo CardozoAgricultura - Blairo MagiVale do Rio Doce - Mantega, Gabrielli (ver nota acima)Comunicações - Hélio CostaPrevidência - Luis SérgioTurismo - Luis SérgioDesenvolvimento Agrário - Joaquim SorianoDesenvolvimento Social - Gilberto de Carvalho, Patrus Ananias Avulsos Fabio Barbosa (Santander)Abílio Diniz Empresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula) SindicalistaAntonio Carlos Valadares Miriam Belchior (no Palácio do Planalto) Clara Ant (no Palácio do Planalto) Alexandre Teixeira (Apex) José Eduardo DutraCredoresHenrique MeirellesAloizio MercadantePatrus AnaniasIdeli Salvatti Lulômetro   Vamos inaugurar esta semana também os postos que são cogitados para o futuro ex-presidente Lula. A especulação também corre solta nesse campo : - Fazer churrasco no sítio em São Bernardo (anunciada por ele há tempos, mas aparentemente descartada). - ONU - FAO - Banco Mundial - Dirigir um projeto específico para erradicação da fome na África - Conselheiro de Dilma - Palpiteiro no governo Dilma - Tutor da futura presidente - Caixeiro viajante das reformas, especialmente a reforma política.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 123

Um país mais dividido Ao comentar a conclusão do primeiro turno das eleições deste ano, esta coluna chamou a atenção para a divisão produzida no país pelos candidatos. A candidatura do PT tomou conta das regiões mais pobres do país, não apenas do ponto de vista da geografia política (o Nordeste, por exemplo), mas também nas regiões e micro-regiões dos Estados mais ricos. Ou seja, as classes menos favorecidas, do ponto de vista social, votaram no PT. O reverso ocorreu com a base de apoio a Serra. O Congresso haverá de refletir esta realidade, não tenhamos dúvidas. Há duas perguntas que decorrem desta realidade eleitoral : (i) há espaço fiscal para satisfazer as crescentes (e justas) demandas das classes menos favorecidas ? (ii) a presidente eleita levará em conta esta realidade em que medida ? Governará de fato para todos e observando os melhores interesses da Nação ? Há muitas tentações políticas envoltas nesta constatação. O populismo é uma delas. Sobretudo quando se observa que a melhoria da qualidade de vida dos mais pobres foi absoluta. Do ponto de vista da distribuição da renda, a mudança durante os oito anos de Lula foi mínima. Prestem atenção nas mudanças externas Não é apenas o governo brasileiro que mudará. Lá fora há uma mudança estrutural em curso e altamente relevante. Os EUA mudaram de estratégia econômica e estão forçando um ajuste cambial por meio de uma política monetária frouxa por dois lados : a taxa de juros negativa e a injeção de recursos por meio da aquisição no mercado de títulos do Tesouro norte-americano. As apostas sobre os efeitos destas medidas são muitas e variadas, mas uma coisa é certa : o capitalismo é um sistema não-cooperativo e qualquer alteração substantiva nas variáveis econômicas dos EUA será refletida nas políticas dos outros países, sobretudo a China. Nesse contexto, estamos sob riscos novos : se antes a continuação de uma atividade letárgica nas economias centrais era o aspecto mais relevante, agora o risco é maior ainda : duma inflação alta no médio prazo ou, até mesmo, uma guerra cambial. Quem contava com o mesmo perfil da economia mundial pode tirar o cavalinho da chuva. Há algo de novo no ar. Para o bem e para o mal. Os limites do poder No discurso da apoteose, a futura presidente Dilma, parafraseando Obama, soltou o slogan "nós podemos" para definir a nova situação política da mulher no Brasil, segundo ela interpreta, adquirida após sua eleição. O PT, que já estava tomado de uma grande euforia, já anterior à vitória de domingo, acreditou que ele também podia. Assumiu, pelo menos publicamente, as rédeas do novo governo e assanhou-se até a disputar internamente quem seria o presidente da Câmara - se Cândido Vaccarezza, se Arlindo Chinaglia, se Marco Maia. A festa durou segundos. O PMDB estrilou e Dilma, com o juízo no lugar, botou Michel Temer para coordenar a equipe de transição, pelo menos no papel em posição hierárquica superior aos petistas antes anunciados como comandantes do grupo - Antonio Palocci e José Eduardo Dutra. Como disse o experiente peemedebista Eduardo Cunha, "eles não vão governar sozinhos". O PMDB deu a primeira amostra de como será a vida da aliança governista no Congresso. Não deu, não levou. Com "nós podemos" e tudo mais, Obama acaba de sofrer uma derrota quase humilhante nas eleições legislativas de meio de mandato nos EUA. Recado direto O PMDB fez saber a quem de direito que não aceita perder um milímetro do que já tem, pela voz de seu candidato à presidência da Câmara, Henrique Eduardo Alves, no mesmo momento em que o partido ganhava uma vaga para Temer na equipe de transição. Ou seja, seis ministérios, o BC (Meirelles agora é da cota peemedebista, assim entendem eles), e direção e cargos em estatais de peso. Conversas podem haver se o ministério vier de "porteira fechada", ou seja, o partido nomear todo mundo de sua área, não dividir a área com ninguém. Aliás, "porteira fechada" é uma expressão da política nacional que voltou a freqüentar as conversas em Brasília. Lula e Dilma não deram esta prerrogativa ao PMDB no passado. Quando a futura presidente deixou o Ministério das Minas e Energia, ele foi alocado na cota do PMDB. Mas o partido de Temer não levou a presidência de todas as estatais de área - Petrobrás e Eletrobrás, por exemplo, ficaram de fora. Pelas escaramuças desses dois primeiros dias de conversas sobre o futuro governo, um experiente observador das coisas de Brasília diz que a equipe formada por Dilma para conversar sobre a nova administração está mais para transação do que para transição. Mais para cargos do que para políticas. Por duas razões : é um governo de continuidade, não há mistérios do atual para Dilma a parceiros - dele eles sabem tudo; o programa de governo, pelo menos assim se disse, já ficou pronto. O que falta mesmo é nomear. Cotações do ministeriômetro A corrida aos cargos já começou. Aliás, já havia começado muito antes, apenas ficou guardada discretamente para não prejudicar a campanha. Basta ler os jornais para se perceber as disputas e o vale tudo. As informações "privilegiadas" estão na ordem do dia. Há as fontes e os amigos prontos para avisar que determinado cidadão foi convidado ou está indicado para algum cargo de ministério ou de expressão nas estatais. Um dia se diz que Lula quer a continuação de fulano em tal lugar, de beltrano em tal outro e que não deseja certo amigo e determinada área. Fica-se de repente sabendo que um concorrente foi vetado por uma corrente adversária do seu próprio partido. Há os candidatos reais e os autocandidatos. Há especulação, plantações e até informações de boa confiabilidade. Difícil é separar cada uma delas. Por essas e outras esta coluna vai manter, em cada edição, um "ministeriômetro", uma lista dos nomes citados como prováveis ministros, até que a escolha oficial se dê. Não incluímos os atuais ministros, secretários especiais com status ministerial e presidentes de estatais. Até agora, sem exceções confessas, todos, absolutamente todos, são candidatos a continuar. Há nomes repetidos, cogitados para diversos lugares. São os polivalentes. Há indicações apenas do partido em muitos casos. E há uma lista de avulsos, pessoas listadas sem designação do destino. Não estranhem a designação apenas de "empresário" na relação dos avulsos. Dilma não vai abrir mão de um nome desta grife em seu ministério. Assim também como o de um sindicalista. E a cotas das mulheres deve crescer. Casa Civil - Palocci, Maria das Graças Foster, Fernando Pimentel, Paulo Bernardo Planejamento - Nelson Barbosa, Fernando Pimentel Secretaria Geral da Presidência - Gilberto de Carvalho, Palocci Direitos Humanos - Gabriel Chalita Ciência e Tecnologia - Aloizio Mercadante Educação - Chalita, Mercadante Petrobrás - Maria das Graças Foster, Mantega, Palocci Saúde - Palocci Integração Nacional - PMDB, PSB, Ciro Gomes Minas Energia - Maria Graça Foster, Edison Lobão Cidades - Moreira Franco, Marta Suplicy, PP, PSB Itamaraty - Antonio Patriota, José Maurício Bustami, José Viegas, Mangabeira Unger Fazenda - Luciano Coutinho Transportes - Henrique Meirelles Cultura - rol abre-se com mais de 20 nomes, entre eles o ator José Abreu, a senadora Ideli Salvatti e sociólogo Emir Sader. BNDES - Ciro Gomes, Nelson Barbosa Porto de Santos - PSB Caixa Econômica Federal - Moreira Franco Banco Central - Alexandre Trombini, Luciano Coutinho, Nelson Barbosa Justiça - José Eduardo Cardozo Avulsos Fabio Barbosa (Santander) Empresário (grife, como Roberto Rodrigues e Luis Furlan no primeiro ministério de Lula) Sindicalista Miriam Belchior (no Palácio do Planalto) Clara Ant (no Palácio do Planalto) Alexandre Teixeira (Apex) José Eduardo Dutra Uma lição Às voltas com tantos abnegados a um sacrifício federal e sem vagas de nível suficientes para atender a todo mundo, a futura presidente poderia se mirar numa história do avô de Aécio. Eleito governador do Estado, numa vitória apertada sobre o hoje senador Elizeu Rezende, Tancredo foi procurado certa tarde por um amigo e correligionário. O parceiro, inquieto com a falta de notícias oficiais ou oficiosas a respeito da formação da equipe do futuro governo, quis checar diretamente qual era a sua cotação, candidato que era a uma secretaria ou à direção de algum organismo estatal. Expôs logo sua angústia : - "Doutor Tancredo, os amigos e minha família, conhecedores das nossas relações, têm me procurado para saber qual a secretaria que vou ocupar na sua gestão. E eu não sei o que dizer para eles, já estou até meio constrangido." Com seu estilo sereno, meio irônico, meio paternal, o futuro governador deu a solução para o amigo : - "Sem problemas, você pode dizer para eles que eu convidei você para minha equipe, numa poderosa secretaria. E que você não aceitou." Dois vices, dois DNAs políticos De um ilustrado das coisas brasilienses, antes mesmo do episódio de terça-feira que guindou o presidente do PMDB ao comando da equipe de transição de Dilma : "Fiquem de olho no vice". De fato, há diferenças nada sutis entre ele e que podem marcar um novo tipo de relação entre o substituto eventual da presidente da República e a presidente. E também marcar o jogo de seu partido. José Alencar é estridente, porém bonachão e inofensivo politicamente. Além de cumprir missões com boa vontade, como a de falar mal dos juros e do BC, coisa que Lula não podia fazer publicamente. Temer é formal, assim como, digamos, o olhar de Capitu. Tem seus próprios missionários. Sem alarde, já passou por cima de petistas ilustres no segundo dia da eleição. As tarefas de Dilma Com a ajuda de Lula em alguns casos, em outros, sozinha, Dilma tem, até o fim do ano e os primeiros dias de seu governo, uma série de decisões cruciais a tomar e/ou participar, nem todas muito agradáveis, dependendo do que ele decidir. 1. A questão cambial.2. Se vai ou não fazer um ajuste fiscal - como e de que tamanho.3. O aumento do salário-mínimo.4. O reajuste das aposentadorias para quem recebe mais de um salário-mínimo.5. O projeto de partilha para a exploração do pré-sal, com a nova regra de divisão dos royalties com os Estados, coisa que causou já grande dor de cabeça a Lula.6. Reajuste salarial do poder judiciário.7. A emenda constitucional que cria um piso salarial nacional para as polícias militares e os corpos de bombeiros.8. A expulsão de Cesare Batisti.9. A nomeação de um Ministro do STF Ao vencedor, a glória Lula, e somente Lula, fez esta eleição. A grande contribuição dos parceiros foi não atrapalhar muito. E esta dívida será paga de alguma maneira. Por isso, a grande incógnita : qual será o papel de Lula e da própria Dilma no futuro governo Dilma ? É uma equação complexa, que ainda não está decifrada. O teorema talvez até nem tenha sido ainda formulado corretamente. Ao perdedor, as batatas Pelas circunstâncias - o prestígio avassalador de Lula, o bom momento da economia, seus próprios erros, vacilações e idiossincrasias - a oposição até que não fez feio nas eleições. Basta ver o mapa de votos no país. Mas está se comportando como se nada tivesse aprendido com esta derrota, como não aprendeu com as de 2002 e 2006. As mesmas vacilações posteriores, as mesmas vaidades, as mesmas disputas. Do jeito, vai amargar mais 20 anos na planície. Será que o Brasil vai passar outro mandato presidencial sem uma oposição digna, como é bom e necessário em qualquer regime democrático ? Radar NA REAL 2/11/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA Estável Alta - Pós-Fixados NA Estável Alta Câmbio ² - EURO 1,4011 Queda Estável - REAL 1,7002 Estável/Queda Estável/Baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.560,95 Estável/Alta Estável/Baixa - S&P 500 1.193,57 Estável/Alta Estável - NASDAQ 2.533,52 Estável/Alta Estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 26 de outubro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 122

Eles só falaram de flores O eleitor brasileiro chega aos dias finais da eleição presidencial sem a mais vaga noção do que os dois concorrentes a seus votos pensam - e pretendem fazer - diante de cruciais decisões que precisam ser adotadas para botar um pouco de rumo na economia nacional e evitar que o bom momento vivido agora comece a degringolar perigosamente. O primeiro é o câmbio, o preço da moeda nacional, responsável pela deterioração da qualidade de nossas contas externas e pondo em risco a capacidade de competição da indústria nacional. O segundo, o equilíbrio das contas públicas e o compromisso de manter um bom superávit primário, suficiente para que a dívida pública não cresça demais. Há gastos em excesso e o superávit está sendo sustentado por contabilidade artificial e manobras como os cerca de R$ 30 bi que "sobraram" da capitalização da Petrobras e serão devolvidos ao tesouro nacional em forma de receita. Em nome da elegibilidade o governo tem evitado agir com presteza e a dureza necessária. Em nome da caça aos votos, os candidatos têm contornado o tema. O depois pode ser amargo... Elegibilidade Ninguém menos loquaz nesses dias do que o sempre loquaz ministro Guido Mantega, só visível para anunciar duas medidas pontuais para o câmbio, cuja eficácia ainda precisará ser comprovada, mas que a maioria dos especialistas considera limitada. Nem a reunião preparatória do G-20, na qual o Brasil ganhou mais poder no FMI, o ministro compareceu. O que não quer dizer que Mantega esteja em fase de desaceleração, esperando o substituto. Há nele um desejo genuíno de ficar onde está, se o favoritismo de Dilma continuar. Mas as ações preferenciais da presidenciável petista estão, no momento, no BNDES de Luciano Coutinho. Saldos externos, câmbio e expansão monetária Definitivamente os EUA estão decididos a superar a crise que se instalou no país em meados de 2008 debitando boa parte do ajuste ao resto do mundo. O Fed deve comprar títulos do tesouro, expandir a moeda e forçar o consumo e o investimento. O dólar norte-americano deve cair ainda mais frente às moedas de outros países ricos e dos emergentes. Assim, o saldo das operações externas destes países frente aos EUA deve cair e alavancar a atividade interna americana. Trata-se de um jogo perigoso de vez que o capitalismo é um sistema não-cooperativo de transferência de renda : se todos agirem da mesma forma estará instalada uma guerra cambial. Por mais coordenado que seja este processo entre os países, qual deles está disposto a abrir mão de um emprego para dá-lo a um norte-americano ? Há muito em jogo e há poucas indicações de como isto tudo pode caminhar. O Brasil neste contexto está mal posicionado : a elevada taxa de juros, a expansão fiscal e os saldos externos negativos são variáveis muito sensíveis às alterações engendradas por Washington. Este enorme ponto de interrogação está sendo subestimado internamente. A persistente especulação As reformas das estruturas do mercado financeiro mundial, bem como das instituições multilaterais depois da crise de 2008, arranharam os interesses de certos segmentos do mercado, mas não alteraram a dinâmica financista que domina as estruturas capitalistas. Alterações bruscas no cenário econômico serão, portanto, impactados por esta realidade. Se hoje as operações dos bancos com seu próprio capital estão mais limitadas, de outro lado os fundos de investimento especulativos estão assumindo formas cada vez mais sofisticadas. Lord Keynes, o grande formulador da criação do FMI, Banco Mundial e BIS, disse em certa ocasião que "o capitalismo é muito importante para ser cuidado apenas pelos capitalistas". Uma lição ainda por ser aprendida. FMI : reforma e obsolescência O diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn anunciou com pompa neste último fim de semana "a maior reforma da história do FMI". Referia-se a redistribuição de quotas entre os sócios do fundo que resultará em um alargamento do poder da China e outros emergentes, dentre os quais o Brasil. O governo comunista de Pequim será o terceiro maior sócio do organismo que foi criado na Conferência de Bretton Woods (1944) para salvar o capitalismo. Dura ironia. O que o senhor Strauss-Kahn não contou é que as funções do FMI neste século XXI estão obsoletas frente aos novos desafios econômicos e políticos. Por exemplo, como se comportaria o FMI diante da desorganização cambial que pode se originar da nova estratégia monetária dos EUA ? Outra pergunta incômoda : o FMI tem recomendações sobre a política cambial chinesa que desvaloriza artificialmente a sua taxa de câmbio ? Mercosul sem rumo A formação de um mercado comum é tarefa de longuíssimo prazo. Sabe-se disso. Todavia, a cada ano é preciso estabelecer metas macroeconômicas conjuntas entre os países-membros e de progresso institucional com o objetivo de liberar mercados. O que se vê no Mercosul é uma absoluta letargia em todos os campos. E o pior é que os riscos estão aumentando velozmente. A Argentina, comandada pelos populistas Kirchners, está com inflação ao redor de 20%, déficit público crescente, investimentos irrisórios e uma política monetária pouco crível. Estas variáveis tem implicações diretas sobre o Mercosul, mas parece que tudo isto é pouco para movimentar os sócios deste pacto. Política externa esquecida Não é somente o Mercosul que não interessa ser discutido na atual campanha eleitoral. Toda política externa brasileira ficou de lado. Pouco se sabe o que os candidatos pensam em relação ao posicionamento do Brasil no mundo global. Radar NA REAL 22/10/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3982 queda estável - REAL 1,7071 estável/queda estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 69.529,71 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.183,11 estável/alta estável - NASDAQ 2.479,39 estável/alta estável  (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável Acabou a trégua O aumento da vantagem de Dilma nas pesquisas contra José Serra pôs fim ao armistício celebrado entre grupos divergentes do PT a respeito das políticas que Dilma, se eleita, deverá adotar, e sobre os cargos que distribuirá. As entrelinhas dos jornais registram caneladas por debaixo das mesas cada vez mais grosseiras. E o ambiente ficará ainda mais pesado depois de domingo. Se Dilma vencer, porque terá passado todo o risco e será a hora de extinguir os concorrentes internos ou pelo menos neutralizá-los com honrarias sem poder. Se ela perder, pela distribuição de responsabilidades. Uma trégua precária A duras penas, o PMDB mantém obediente silêncio. Mas está com todas as armas revisadas e prontas para não ser passado para trás na partilha dos bens do novo governo. A cota de cinco ministérios está sendo considerada muito pequena. Nas reivindicações, estão também estatais de peso, além das do setor elétrico, feudo sarneysta nos últimos anos. Bom faro Maria Graça Foster, diretora da Petrobras pelas mãos de Dilma, já entrou no foco dos gigantes da petroquímica. É aposta certa para o primeiro escalão de um provável governo da favorita de Lula. O que explica, em parte, o "pitibulismo" político dos últimos dias do atual presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli. Luta pela continuidade Como Gabrielli, auto-incluído numa lista de promoções ou pelo menos de permanência com Dilma no Planalto, o crescimento do favoritismo da candidata petista nas pesquisas tem sido proporcional ao crescimento dos auxiliares de Lula que fazem tudo para mostrar serviços, para aparecer. Uma esfinge O problema, de todos, é que a ex-ministra é uma incógnita. Ninguém diz ao certo o que ela é. Há quem diga que ela cederá às influências e até já fez várias concessões. E há os que dizem que ninguém perde por esperar. Para uns, será teleguiada de Lula, do PT e do PMDB. Para outros, vai surpreender. Credores Por isso, o esforço dos parceiros, Lula, PT, PMDB para se mostrarem credores da vitória da ex-ministra. Crédito ilimitado Lula está fazendo tudo e muito mais por Dilma, o fato de quase ter abandonado a presidência para cair na campanha comprova sua disposição de ter da provável futura presidente uma nota promissória em branco. Mas Lula está fazendo muito mais por ele mesmo. O adversário real Nem Serra, nem Fernando Henrique, nem outro tucano oposicionista qualquer. A mira de Lula esta apontada mesmo é para a cabeça do mineiro Aécio Neves, que um dia ele até pensou levar para seu rebanho. A desenvoltura que o senador eleito mineiro tem demonstrado no seu oposicionismo do segundo turno, o prestígio que vem amealhando, parecem a sombra mais perigosa para os planos futuros de Lula. O mineiro e algum arroubo de independência que Dilma pode exibir depois que não precisar mais de votos populares. A esperança tucana O PSDB não vai jogar a toalha. Os tucanos estão convictos de que, digamos assim, "falhas metodológicas" nas pesquisas que na semana passada apontaram o aumento da diferença, favoravelmente à adversária, entre ele e Dilma. O tom da campanha está subindo e o ápice deve ser o debate da Globo. A verificar : desde o início da campanha fala-se em uma virada depois do debate. Só para lembrar Está na agenda do PMDB : o projeto que troca o modelo de exploração de petróleo no Brasil de concessão para partilha ainda não foi aprovado pelo Congresso. Como nunca antes O país que sairá das urnas de domingo será um país dividido e com rastros de ódio como nunca se viu antes, nem depois da eleição de Fernando Collor.
terça-feira, 19 de outubro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 121

A nova estratégia americana I Muito embora a eleição brasileira seja fundamental para a análise da política e a economia no médio prazo, temos de considerar um novo e importante fator externo na avaliação das perspectivas para 2011. Trata-se da decisão do Fed de recomprar títulos de longo prazo - 10 e 30 anos - do tesouro norte-americano. Com isto o Fed pretende aumentar ainda mais a liquidez do mercado, derrubando a taxa de juros destes títulos e produzindo um movimento adicional de desvalorização do dólar frente às demais moedas, inclusive dos países emergentes, sobretudo a China. Há algum tempo as autoridades dos EUA cogitavam esta estratégia, sobretudo diante da resistência da China em valorizar espontaneamente sua moeda. A nova estratégia americana II Como qualquer estratégia econômica, nada pode ser considerado "certo" nesse processo. Ao contrário : uma eventual desvalorização do dólar americano pode ser compensada por desvalorizações equivalentes das moedas dos outros países. Afinal, o que os EUA tentam é minimizar sua fraqueza econômica por meio de exportações mais competitivas. Nenhum país aceita receber a recessão de outro de forma passiva. Especialmente no caso da Europa, onde o crescimento econômico ainda é frágil. Dessa forma, pode ocorrer uma série de "desvalorizações competitivas" para evitar os efeitos negativos do dólar fraco. O aumento da volatilidade das moedas é talvez o maior e mais indesejado risco neste momento. Por que então os EUA tentam este caminho ? A nova estratégia americana III Claramente o governo de Obama tenta reativar a economia e evitar o doloroso desgaste que vem sofrendo e que pode minar suas pretensões na reeleição de dois anos à frente. Esta nova estratégia, apesar de ser engendrada pelo Fed, tem o apoio da Casa Branca e do tesouro. De outro lado, claramente o governo Obama está priorizando os benefícios internos em detrimento de seus aliados. Estes últimos terão de pagar a conta, mas antes terão de aceitá-la. Logo, o que pode iniciar-se é um processo cheio de senões e riscos e, dependendo do vigor, os riscos podem aumentar muito no mercado. Os efeitos sobre o Brasil Não está claro ainda o que Brasília pensa da nova estratégia americana. O governo brasileiro está de olho mesmo é na eleição presidencial. Todavia, para um país cuja moeda foi a que mais se valorizou nos últimos anos, este assunto é vital. O movimento clássico de reação em termos de política econômica seria o BC reduzir a taxa de juros. O limite desta reação é a política anti-inflação. Assim, dificilmente veremos este movimento do BC nos próximos meses. O que resta ? Mais impostos sobre operações financeiras que se apropriam dos elevados ganhos financeiros no Brasil e a compra - custosa - de dólares no mercado. Ou seja, a possibilidade de uma nova onda de valorização do real é concreta. O risco é a menor competitividade das exportações e os investimentos industriais no país. O novo presidente terá árdua tarefa para executar, tão logo a foto oficial for colocada nas paredes da administração pública Federal. Radar NA REAL 15/10/10   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3968 queda estável - REAL 1,6611 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 71.830,18 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.176,19 estável/alta estável - NASDAQ 2.468,77 estável/alta estável  (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável O espírito de Minas I No início da campanha, quando as candidaturas não estavam nem oficializadas, o senso comum dizia que a sucessão presidencial poderia ser decidida em Minas, segundo colégio eleitoral do país, com seus mais de 14 milhões de eleitores. O raciocínio era simples : igualdade no centro-oeste, grande vantagem de Dilma no norte e no nordeste e no Rio, compensados pela vantagem de Serra em SP e no sul. Os mineiros alterariam a balança. Marina Silva, a inesperada, alterou o equilíbrio. Em Minas, Dilma fez 1,7 milhão de votos a mais do que Serra e não levou no primeiro turno. O espírito de Minas falhou. No segundo turno, porém, ele voltou a levitar e a assombrar tucanos e petistas. O espírito de Minas - II Para quem está estranhando o empenho de Aécio por Serra no segundo turno e para quem acha também que tudo não passa de um jogo de cena do senador eleito : Aécio não tem outra saída, para seu futuro político, do que se agarrar ao PSDB. Não dá para fundar outro partido nem há espaço para ele nas legendas de maior peso como o PT, o PMDB, o PSB. Terá, então, de mostrar serviço aos tucanos e não deixar que Alckmin, totalmente empenhado na campanha de Serra, fixe uma imagem nacional superior à dele. Os dois disputam a futura liderança nacional do partido, mesmo com Serra presidente. Espírito de Minas - III A grande pergunta para a oposição é : qual foi o acordo que fizeram Serra e Aécio em relação a um futuro governo Serra e principalmente em relação a 2014 (ou 2015) ? Lá atrás se dizia que Serra havia oferecido a Aécio, para ser vice, o comando da área social do governo e a desistência da reeleição, com um mandato de cinco anos. (Lula é quem não vai gostar nada de um acordo desses, se vier - e se Serra vencer.) Espírito de Minas - IV Qualquer que seja o resultado da eleição, mesmo com a vitória de Dilma (o que ainda parece o mais provável, segundo as cada vez mais discutidas pesquisas), Lula terá cometido seu mais brutal erro político em Minas Gerais. Erro que no limite pode custar caro a Dilma. Ao impor ao PT mineiro a candidatura de Hélio Costa, do PMDB, para ajudar Dilma, não conseguiu seu intento no primeiro turno (não teve os 2,5 milhões, 3 milhões de vantagem), não derrotou Aécio, destroçou o PT e humilhou os principais líderes locais do partido. E agora, quando Minas voltou a ser o provável centro de decisões, há muitas indefinições, divisões e mágoas na aliança governista local. O espírito do PMDB É maldade dizer que o PMDB está se preparando para botar um pé mais firme no barco serrista, só porque o diretório estadual do RS, governista no primeiro turno, recomendou aos filiados apoio ao candidato tucano no segundo turno. Os líderes peemedebistas, entre uma cobrança e outra ao PT - com certo regozijo, é claro, por terem sido escanteados da campanha de Dilma no primeiro turno e ter dado o que deu - têm reafirmado seu compromisso com a candidata de Lula. Porém, o PMDB está muito low profile nesta fase, estranhamente para quem se diz empenhado em ganhar a eleição presidencial. O PMDB se assanhou porque o PT mostrou que sozinho não sabe ganhar eleições. O partido aumentou seu poder de barganha. E aumenta ainda mais quando flerta, às escondidas, mas não muito discretamente, com os tucanos. A contribuição de Alckmin Alckmin teve para governador neste primeiro turno 2,5 milhões de votos a mais do que Serra para presidente. A contribuição de Lula Durou menos do que uma partida de futebol o arroubo de alguns conselheiros de Dilma em tentar separar a imagem da candidata da de seu mentor. A ideia era mostrar que ela tem autonomia não é apenas uma espécie de "sublula". O cálculo era que ela estava perdendo pontos entre formadores de opinião por parecer que não tem vontade nem ideias próprias. Porém, falou mais alto o cacife de Lula com seus 80% de popularidade e sua perfeita identificação com as camadas populares, o maior contingente de eleitores no Brasil. Falou também, mais alto ainda, a vontade de Lula. A dívida de Dilma e do PT com Lula vai dobrar. À venda As boas casas do ramo ainda têm em seu estoque sandálias da humildade, em modelos masculinos e femininos. Mas só em tese Quanto aos números de oposição e apoios na Câmara e no Senado que cada um se eleito supostamente terá, são números que valem apenas como estatística, só no atacado. Cada projeto importante terá de ser exaustivamente negociado, com toda a carga que esta palavra carrega. Negociação parlamentar legítima e negociação no varejão. Notáveis contabilistas Sincero - ou indiscreto - o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que Dilma (seria o caso de José Serra também) terá de fazer um ajuste fiscal no ano que vem. Pequeno, segundo ele. Não é o que se pensa no ministério da Fazenda nem na campanha da candidata, pelo menos de público. O "fiscalista" José Serra também arquivou estrategicamente o tema em suas falas. Para boa parte dos especialistas independentes, no entanto, o ajuste é um imperativo. E provavelmente nem tão pequeno quanto diz o ministro Bernardo. Com ironia, diz-se até que o futuro presidente terá inicialmente de montar um grupo de trabalho com os notáveis contabilistas da área pública e privada para desvendar os artifícios contábeis adotados para mascarar o superávit primário das contas públicas. Anotem Correios, BNDES, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica... Ainda a Petrobras Não são poucos os investidores que estão se debruçando sobre os números da Petrobras para entender o que está acontecendo de fato na empresa. Alguns advogados, inclusive no exterior, examinam se a empresa cumpriu todas as normas de divulgação requeridas na recente operação de capitalização da empresa. Ademais, há muita curiosidade para saber as razões para tantos analistas terem mudado tão rapidamente de opinião sobre as suas recomendações de investimento em relação às ações da petroleira brasileira. Novidades sobre o tema podem pipocar inclusive antes da conclusão do processo eleitoral.
terça-feira, 5 de outubro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 120

Um país dividido Qualquer eleição permite que se faça uma gama enorme de análises dos resultados. Nesta eleição, não foi diferente. Uma das mais notáveis diz respeito à divisão de votos entre Estados ricos e pobres. Do lado de Dilma, sua vitória foi nos nove Estados nordestinos - ganhou em 18 Estados. Enquanto isto, os eleitores de Serra se concentram nas classes mais elevadas e nos Estados mais ricos. Tal divisão terá efeito relevante nos próximos anos no Congresso e nas pressões políticas de regiões mais pobres e demandantes de projetos de desenvolvimento. Assim, a despeito de quem seja o presidente, os projetos presidenciais estarão pressionados por agendas crescentemente inclusivas do ponto de vista social e fiscal. A composição do Congresso - 72% dos parlamentares são governistas - ampliará o poder do PMDB como "fiel da balança", seja quem for o eleito. Exatamente o partido sobre o qual pouco se conhece em relação as suas proposições políticas, sociais e econômicas. Está aberto o caminho para o fisiologismo. Pouco a acrescentar Do ponto de vista programático, o segundo turno não deve trazer nenhuma mudança. Tudo deve ficar na superfície. Os dois candidatos deverão fixar suas críticas em aspectos mais aparentes da personalidade de cada um, bem como nas "bandeiras" partidárias. Tudo sem detalhamento e sem maiores explicações de como governarão. Conversas de bastidores na campanha tucana dão conta que "agora é tirar a máscara de Lula do rosto de Dilma". Isto significa que a luta será mais pessoal que política do ponto de vista tucano. Já os petistas tentarão grudar a imagem de Serra à de FHC, uma estratégia que retira votos, segundo os petistas. As estrelas da propaganda eleitoral continuarão a ser os marqueteiros. O resto é detalhe. Quem é a direita no país ? O DEM, sucessor direto do PDS que deu sustentação à fase final do regime militar é o grande derrotado do momento. Seja do ponto de vista desta eleição, quando o partido perdeu 14 de suas 56 cadeiras, seja na última década, quando o partido perdeu 63 de sua 105 cadeiras, num total de 513. Enfim, o partido não é mais a representação da histórica direita brasileira. Há notória dificuldade dos partidos brasileiros se identificarem como "de direita" ou "liberais" (no sentido clássico da palavra). O que ocorre é que a antiga direita está espalhada em diversos partidos, com maior concentração no PMDB e no PSDB. Mesmo para aqueles que não acreditam mais na terminologia direita/esquerda, temas como a presença do Estado na economia, privatizações e reformas trabalhista e tributária ainda carregam fortes componentes ideológicos. Todavia, a defesa das ideias liberais hoje está a cargo de "facções" ou parcelas dos partidos, já que do ponto de vista orgânico os programas políticos não são nada consistentes. Resta saber se algum partido ocupará formalmente o espaço deixado pelo DEM. A grande razão Há pequenas e grandes explicações para o fato de Dilma, favorita absoluta (mesmo descontando-se as vacilações dos institutos de pesquisa) ter escorregado para o segundo turno, quando tinha tudo para levar no primeiro. Entre elas, o caso do sigilo fiscal, as estripulias da família Erenice e até as vacilações da candidata oficial na questão do aborto. Cada uma dessas coisas, no último mês, tirou pontos da candidata. Mas a questão crucial foi outra, definida em dois vocábulos - arrogância e humilhação. A prepotência exibida pelo presidente Lula quando sua predileta ganhou fôlego, o ar superior de quem sabe tudo, o sorriso superior dos vitoriosos, somados à agressividade com que passou a tratar concorrentes e imprensa, assustaram. Completou este quadro a ameaça de extirpar os adversários, humilhá-los. O brasileiro é cordato, cordial (num estilo, aqui, diferente do definido por Sérgio Buarque) e costuma optar ou simpatizar com a vítima. Certo que se Dilma tivesse aparecido mais como ela mesma e menos como um apêndice de Lula, nada disso teria tido influência decisiva. Porém, como criatura não se desgrudou do criador, foi engolfada pelos sustos que ele causou. Um exemplo Caso mais típico da reação do eleitor com as ameaças de Lula deu-se em SC. Foi lá que Lula ameaçou extirpar o DEM da vida política nacional. Pois bem, naquela ocasião Raimundo Colombo, o candidato do partido, liderava a pesquisa local, mas não levava no primeiro turno. Pós-ameaça foi crescendo e ganhou no primeiro turno. Chá de sumiço Desde domingo pela manhã, quando passou a admitir que poderia haver segundo turno, o sempre eleitoralmente loquaz e onipresente Lula, recolheu-se. Passou a manifestar-se apenas por meio de porta-vozes oficiais e oficiosos. Para estes, traça estratégias e retempera as forças para o segundo turno. Para quem conhece Lula, ele curte frustrações e mágoas. Um grande equívoco Na contabilidade negativa do governo nesta eleição está também o fato de não ter levado a sério, ter subestimado a candidatura Marina Silva, ter até tentado em alguns momentos humilhá-la. Marina, como alguns previram, inclusive esta coluna, num texto lá atrás sobre o fator Marina, virou um pequeno fenômeno, com possibilidades de crescer se for bem gerido. Hoje, Dilma, uma das principais responsáveis pela saída de Marina do ministério do Meio Ambiente de Lula, tece loas à ex-companheira. No privado, porém, o que se diz dela, do PV e dos grupos sociais que a apoiaram não é nada publicável. Mágoas Lula não deveria estar insatisfeito. Afinal, fora o segundo turno, teve umas vitória em regra. Eliminou até alguns dos adversários mais jurados por ele, como os senadores Tasso Jereissatti, Arthur Virgílio e Marco Maciel. Mas como ele se pôs como principal missão este ano no governo eleger Dilma, deu um frio na barriga. Embora Dilma saia como franca favorita (independente do que digam os institutos de pesquisa). Reinvenção Por falar em institutos de pesquisas, eles erraram mais do que acertaram este ano, alguns mais que os outros. Vão ter de rever metodologias, métodos e motivações. Não dá para institutos trabalharem para governos, candidatos, partidos e ao mesmo tempo se pretenderem neutros. Não dá também para entender como entidades sustentadas por dinheiro público - CNT, CNI, com imposto sindical - patrocinem pesquisas eleitorais. Não é do escopo de suas atividades. O dilema da oposição : o que fazer ? Se quiser ter alguma chance no segundo turno, a oposição terá de descobrir primeiro onde e como Lula, Dilma e parceiros falharam. Afinal, o governo foi para o segundo turno mais por sua obra e graça do que pelas virtudes da oposição. Depois, terá de ser mais incisiva, mais agressiva, mais propositiva, com linguagem menos empolada. Sem perder a ternura, porém. E agora, Serra ? Aloysio Nunes provou, na sua campanha, que Fernando Henrique não tira votos, pode até acrescentá-los. E agora, Aécio ? O ex-governador de Minas, eleito apoteoticamente senador, não tem mais a desculpa de que precisava ficar restrito regionalmente para garantir seu poder no Estado. Está livre para voar com Serra. Alckmin, seu principal concorrente na futura liderança nacional tucana, vai voar. Injunções eleitorais A decisão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, uma dia após o primeiro turno, de anunciar a duplicação do IOF na entrada de capital estrangeiro no país é a maior prova de quanto o cálculo das urnas conta nas considerações de ordem econômica no momento. Cabe perguntar : o que poderá vir depois de 31 de outubro. Para temer O governo fez maioria na Câmara e no Senado suficiente para aprovar, sem sufoco, qualquer projeto de seu interesse, até reformas constitucionais, ignorando a oposição. Para não temer Se a oposição, o que hoje se afigura quase impossível, vencer a eleição presidencial, não há o que temer : em 15 dias ele terá maioria no Congresso. Explicação Por que a cara de total constrangimento de Michel Temer e Guido Mantega no palanque em Brasília na noite de domingo quando Dilma apareceu para falar do segundo turno ? Aliás o que fazia lá o ministro da Fazenda se não fosse para a festa da vitória ?
terça-feira, 28 de setembro de 2010

Política & Economia NA REAL n° 119

Dilma, o novo governo e a quadratura do círculo - I As pesquisas continuam dando vantagem suficiente para Dilma Rousseff para vencer no primeiro turno. Tirar cinco ou seis milhões de votos da candidata oficial nos cinco dias que faltam para eleição é algo muito próximo do milagre. Isso embora a perda de cinco pontos na vantagem da escolhida de Lula sobre os adversários tenha criados esperanças na oposição e certo temor no governo. Assim, é provável, bem provável, que o Brasil amanheça segunda-feira com sua primeira mulher eleita presidente da República. Parte da sociedade, especialmente aqueles que têm a ganhar ou a perder mais diretamente com a forma que são conduzidos, direcionados os negócios do Estado, já se dão ao esporte de especular a respeito de quem será quem no futuro governo Dilma e que rumos ele tomará. Não há indicações precisas, pois a par de Dilma passar boa parte do tempo enevoada pelo marketing e pela presença avassaladora do presidente Lula, quando falou mais abertamente, deu sinais contraditórios. Dilma, o novo governo e a quadratura do círculo - II Um discurso para cada público foi a tônica oficial. Empresários acreditam que a reforma trabalhista virá, destravando as regras de contratação e dispensas de empregados e reduzindo os custos fiscais da mão-de-obra. As centrais sindicais estão convictas de que estas questões serão exacerbadas, do ponto de vista deles. E não houve programa de governo para ser cobrado oficialmente, apenas rascunhos e promessas. O governo terá de se formar no dia a dia. Sob fortes pressões do que a sociedade acreditou que Dilma faria e as ambições políticas e de outro teor dos parceiros de jornada - Lula, PT, PMDB, aliados menores, centrais sindicais... A tendência de Dilma, até para não começar com atritos, é tentar contentar a todos. Será como encontrar a quadratura do círculo. O grande perdedor Lula - ele e quase mais nada - confirmada Dilma presidente, terá ganho a eleição presidencial. E a oposição perdeu para ela mesma, desde que passou oito anos sem saber se opor e perdida em sua fogueira de vaidades. Para se recompor, terá primeiro de tomar um banho de humildade. Contabilidade Não é preciso esperar os últimos dias de campanha, que prometem ainda bom aquecimento, para algumas constatações : 1. Foi, de um modo geral, a campanha mais rica do país em todos os tempos. Não devemos descartar futuras histórias de caixa dois pipocando. 2. Foi a campanha mais pobre em ideias, discussões consistentes e debates de programas de nossa vida política. 3. Foi a campanha mais agressiva, mas radicalizada que já tivemos, embora não tenha alcançado algumas baixarias como a de 1989. 4. Foi a campanha em que os plantonistas de poder - no âmbito Federal e no âmbito dos Estados - mais envolveram as máquinas públicas em favor de seus candidatos. 5. Foi a eleição que menos atraiu a atenção dos eleitores. Realidade ou estratégia ? Depois de semanas de ataque cerrado à "mídia golpista", Lula baixou o tom. Essas idas e vindas dele em relação à imprensa são periódicas. Um dia Lula chegou até a dizer que não lia jornais para não ter azia. O que teria levado o presidente a conter sua escalada ? Há dúvidas, mas a melhor aposta é a de que o confronto chegara a um ponto que não estava favorecendo a candidatura de Dilma. A dúvida é se é uma retomada do bom senso ou apenas um recuso estratégico. Nem Lula, nem o partido dele, escondem que seus conceitos de liberdade de imprensa e liberdade de expressão são os mesmos vigentes no Brasil e nas mais avançadas democracias do mundo. De outras fontes Não somente dos sonhos autoritários de parcelas do universo político-burocrático se alimenta a ameaça à liberdade de imprensa. Também do poder responsável pela preservação da Constituição e das leis, o monstro também solta labaredas tenebrosas. Por obra e graça do Judiciário em Brasília o jornal O Estado de S. Paulo está sob censura há 424 dias, completados hoje, por conta de estranhas histórias da conexão oficial Maranhão - Capital da República. Por diligência da Justiça de Tocantins, 84 órgãos de imprensa estão proibidos desde ontem de publicar notícias sobre as extravagâncias do governo estadual. Nos dois casos, protege-se uma gama de suspeitos de corrupção. O medo dos dois documentos Na última hora - a lei foi aprovada há dois anos e regulamentada há tempos pelo TSE - o PT entrou no STF com uma ADIn contra a obrigação de o eleitor apresentar dois documentos - o título de eleitor e outro com foto - na hora de votar, sob pena de exercer esse direito. Há temor de que muitos eleitores se esqueçam dessa exigência e não possam botar seu voto na urna. O que poderia aumentar significativamente o índice de não votantes no país. Tradicionalmente, ele já é alto, em torno de 20%. No eleitorado de hoje, cerca de 27 milhões de votos. O PT parece desconfiar que o eleitor que mais se dispõe a votar em Dilma (seus índices entre as classes D e E e de baixa escolaridade são estratosféricos) é o que mais estaria a não votar por esquecimento ou falta de um dos dois documentos. Pode ser. Porém, não seria uma demonstração de preconceito de quem se diz tão ligado ao popular ? Em tempo : a exigência é dessas coisas que somente nossa tradição burocrática, cartorial, explica. Estelionatos eleitorais Embora o ministro Guido Mantega anuncie - e de vez em quando até adote - medidas para conter a excessiva valorização do Real, a verdade é que o dólar continua patinando frente à moeda brasileira. O governo parece não querer fazer onda em período eleitoral. Faz lembrar FHC em 1998. Na ocasião muitos especialistas e empresários alertavam para o Real valorizado e para os problemas que isto trazia para a economia, as contas externas e a competitividade das indústrias nacionais. Em busca da reeleição, FHC ignorou as advertências. Depois das eleições, para evitar uma crise, teve de soltar a moeda. Começou neste momento a perda da confiança da sociedade. Havia sido reeleito em primeiro turno. Saiu do governo com popularidade regrada. Foi, de acordo com seus adversários, o segundo "estelionato eleitoral" da história da política brasileira pós-ditadura militar. O primeiro foi de José Sarney escondendo o fracasso de Cruzado em 1986. Deu no governo mais impopular de nossa Nova República. Sem subterfúgios O STF se apequenou na questão dos "fichas sujas". E ainda terá de assistir ao escárnio de Joaquim Roriz talvez chegar ao governo do DF por uma interposta laranja - a própria mulher. Como o processo de Roriz se extingue, os ministros não terão como julgar antes das eleições se a lei vale agora ou somente a partir de 2011. Depois das eleições, como cassar eleitos pela vontade popular ? Há no ar um impasse político sério. No Congresso, já há propostas para mudar as regras de fidelidade partidária impostas pelo STF. Não será surpresa - já se fala nos partidos - que venha também uma proposta para invalidar cassações pós-eleição. Afinal, a lei "ficha limpa" foi aprovada com má vontade e para não valer este ano por deputados e senadores. E, afinal, cinco ministros do STF disseram que em certas circunstâncias a lei pode retroagir. Fazendo escola Na esteira de Roriz, outros complicados na Justiça, como Cássio Cunha Lima, Jader Barbalho e Paulo Rocha, pode também indicar laranjas para seus lugares. E os votos ? Que será feito dos votos dos "fichas sujas" das eleições proporcionais se eles forem cassados ? Se forem anulados, poderão alterar as bancadas dos partidos na Câmara e nas Assembleias, alterando o que o eleitor expressou nas urnas, votando no candidato de tal ou qual legenda. Se não forem anulados, teremos parlamentares beneficiados pelos "fichas sujas", maculando o espírito da lei. Não será pouca coisa. Pela última contagem oficial, são 228 candidatos de 25 partidos com candidaturas impugnadas. Coisas de outro mundo Sindicato de Jornalistas (o de SP) dando guarida a manifestações contra a imprensa. OAB/SP defendendo a censura a uma obra de arte. O Brasil é mesmo um país surrealista. Ações da Petrobras e desenvolvimento humano De fato, foi um sucesso. De público e de palanque. Porém, há questões a observar : 1. Muitos princípios da boa governança corporativa foram simplesmente para a lata de lixo, sob o olhar complacente de muita gente boa, como a CVM e BMF/BOVESPA. 2. Vendeu-se o futuro para consumir no presente. 3. O governo vai pegar algo entre R$ 20 e 30 bilhões do dinheiro da capitalização para pagar despesas correntes e fingir que faz um superávit primário de qualidade quando é pura lambança contábil. 4. O acionista minoritário foi desrespeitado ao extremo, como nunca antes... Há muita coisa a ser esclarecida, a começar pela engenharia financeira entre Tesouro, BNDES, fundo de pensão das estatais. Guimarães Rosa ensina que o diabo mora nos detalhes. Apesar de tais e outros senões, tudo oficialmente cheira a mil maravilhas. Foi o maior lançamento da história do capitalismo, a BOVESPA já é a segunda maior bolsa do mundo, a Petrobras está prestes a se tornar a quarta maior empresa do planeta. Num país, cujo IDH - Índice de Desenvolvimento Humano é o 75º do mundo. E ainda há gente rindo à toa. Sustentação do crescimento é vital A sustentação do crescimento econômico ainda é o ponto-chave para economia brasileira. Muito embora o país tenha superado o pessimismo que imperava em relação ao tema, a taxa de investimento público e privado continua relativamente baixa para que tenhamos convicções sobre o nível de crescimento que pode ser tolerado sem que existam processos de elevação da inflação. O mercado estima um crescimento para o ano que vem ao redor de 4,5% o que representará uma desaceleração significativa em relação a este ano quando o PIB deve crescer acima dos 7%. O PAC é importante neste sentido e, enquanto plano de investimento em infra-estrutura, necessário ao país. O problema é que este carece da prometida velocidade, fruto de problemas gerenciais, e de um maior estímulo à parceria com o setor privado. O próximo governo terá que administrar este processo com muito cuidado. O risco em relação ao tema é muito maior que a sua aparência. A "herança maldita" de Lula Não são poucos os vazamentos da cúpula da campanha da petista dando conta de um "ajuste fiscal" logo no início da gestão de Dilma. Bem, este assunto está muito longe de ser consenso entre os ideólogos da candidata e, até mesmo, da própria, conforme já reportamos nesta coluna nas últimas semanas. Porém, é possível que este ajuste não seja apenas necessário. Talvez seja "exigido" pelo mercado para que o Brasil permaneça como queridinho dos investidores internacionais. Obviamente, o país é soberano e pode navegar em águas mais turbulentas, mas o que parece é que os investidores estão menos condescendentes com os indicadores brasileiros. Testarão a política econômica de Dilma logo no início de sua gestão. Se ela ganhar, é claro. O Brasil vive uma "bolha" ? - I Os principais centros financeiros mundiais estão vivendo um período de revisão de projeções para o próximo ano. Os analistas estão quase que repetindo os mesmos diagnósticos em relação aquilo que prognosticaram para 2010. Os mercados emergentes persistirão como os mais promissores enquanto as economias centrais persistirão em ritmo lento. Esta coluna conversou com alguns analistas de importantes instituições internacionais. Há preocupações crescentes com o Brasil, apesar de pouca coisa acabar sendo escrita - os grandes negócios que têm sido feito com as empresas brasileiras moderam opiniões mais contundentes. A deterioração das contas públicas, a baixa taxa de investimento, o déficit externo (crescente e baixa competitividade das exportações de manufaturados), a corrupção e a fragmentação política, são alguns dos aspectos que ocupam as mentes dos analistas. O Brasil vive uma "bolha" ? - II Quando se olha o preço dos ativos brasileiros em reais a valorização foi estupenda ao longo dos últimos anos e, principalmente, depois da recessão mundial do período 2008/09. Apesar desta valorização, em termos relativos tais ativos não parecem caros. No caso do mercado de ações o índice preço da ação/lucro por ação (P/L), um dos mais utilizados no mercado, gravita ao redor de 12x, o mesmo patamar dos EUA. Teoricamente o crescimento dos lucros por aqui será maior que no caso dos EUA. Por esta lógica, vale a pena recomendar ações brasileiras, apesar destas não serem a "barganha" de há alguns anos. O problema, dizem estes analistas, é que grande parte das empresas brasileiras é de produtoras de commodities que tem pouco conteúdo tecnológico e são dependentes do desempenho da economia mundial. Assim, o baixo risco aparente do mercado não é tão baixo assim. Quando se coloca este aspecto "micro" sob os holofotes dos "macros" (conforme consta na nota anterior) é que o medo de que o Brasil esteja numa "bolha" aparece. Radar NA REAL 24/9/10 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta - Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3478 queda estável - REAL 1,7084 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 68.196,47 estável/alta estável/baixa - S&P 500 1.145,95 estável/alta estável - NASDAQ 2.380,40 estável/alta estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável