Emprego e previsões
Francisco Petros
terça-feira, 10 de agosto de 2004
Atualizado em 9 de agosto de 2004 10:46
Francisco Petros*
Emprego e previsões
O cenário externo persiste extremamente difícil de ser previsto. Conseqüentemente, prevalece uma significativa instabilidade das expectativas e elevada volatilidade dos diversos segmentos do mercado financeiro e de capital.
Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve, em seu depoimento perante o Congresso dos EUA em 20 de julho passado, disse que estava otimista em relação aos indicadores de emprego de julho. Neste depoimento ele foi explicitamente questionado sobre a situação do mercado de trabalho e tentava explicar os fracos números de emprego dos meses de maio e junho. Aparentemente, também o Federal Reserve foi surpreendido pelos números fracos de julho.
E o que importa este indicador para o Brasil? É preciso entender que os indicadores de emprego são, juntamente com os de capacidade ociosa, produtividade e inflação, os mais importantes para a definição da política de juros básicos pelo Federal Reserve. Os juros básicos dos EUA estão para o mundo como a taxa Selic está para o Brasil. Quaisquer alterações nas expectativas em relação à taxa básica de juros dos EUA provocam enormes movimentos nas taxas de câmbio, juros e no mercado de ativos ao redor do mundo. Foi exatamente isso que ocorreu na última sexta-feira, depois da divulgação dos dados de emprego nos EUA: o dólar se desvalorizou perante quase todas as moedas internacionais (inclusive em relação ao real), as taxas de juros dos títulos do Tesouro norte-americano caíram fortemente, assim como as ações se desvalorizaram. Apesar dos indicadores de emprego de julho terem sido muito fracos é provável que o Fed aumente hoje a taxa de juros básica de 1,25% para 1,50% ao ano. Entretanto, está muito difícil prever quais serão os próximos movimentos do Fed nas próximas reuniões de seu comitê responsável pela gestão da política monetária. Com efeito: o mercado financeiro mundial deve continuar muito volátil a cada divulgação de indicadores econômicos dos EUA. No curto prazo, o Brasil pode ser beneficiado pelo menor custo de capital vigente no mercado internacional. Para um país que tem amortizações de empréstimos externos de US$ 35-40 bilhões por ano, o nível mais baixo das taxas de juros internacionais é fator vital para definir o curso do risco-país e, por conseguinte, as expectativas de crescimento, câmbio e juros domésticos.
Por fim, uma pequena nota sobre a capacidade de se elaborar previsões. Há um notável arsenal de instrumentos e programas de análise e previsões econômicas no mercado financeiro ao redor do globo. Entretanto, o que verificamos é que os erros destas previsões são grosseiros quando confrontadas com a realidade factual. Tenta-se adivinhar o futuro quando se deveria mostrar para os agentes econômicos e a sociedade em geral as variáveis de risco presentes no cenário. Isto seria mais útil às decisões de investimento e consumo. Os indicadores de emprego dos EUA são apenas um pequeno exemplo da incapacidade de se fazer previsões, apesar da sofisticação dos estudos e ferramentas disponíveis para tal tarefa.
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