Francisco Petros*
O novo acordo com o FMI
Segundo informado pela imprensa ao longo dos últimos dias, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu assinar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Esta informação foi posteriormente negada pelo governo que diz que apenas decidirá sobre o assunto em fevereiro do ano que vem. Caso venha a assiná-lo, este seria o primeiro acordo a ser firmado pelo atual governo de vez que o anterior foi assinado na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, apesar de ter recebido o apoio explícito de Lula.
O governo sinaliza que o FMI aceitaria que uma parcela destes investimentos seja "descontada" do superávit primário acordado com o organismo internacional. Tal "acerto" merece um esclarecimento: o importante, em termos de risco do país, é que a dívida do setor público decresça ao longo dos próximos anos. Se o governo descontar um volume muito significativo de investimentos do cálculo do superávit primário, a relação dívida pública/PIB não cai e pode até subir. Se assim for, os investidores considerarão que o risco-país está mais alto. Com efeito, o custo de capital subirá e as novas emissões soberanas e privadas do país custarão mais caras e os títulos externos e domésticos se desvalorizarão. Ou seja, a exclusão dos investimentos públicos do cálculo do superávit primário é apenas um "jogo de cena" do governo e do FMI. Na realidade, a disciplina fiscal prometida no acordo é a essência da política econômica. O resto é discurso.
Por fim, um possível acordo entre o Brasil e o FMI resume as preocupações do governo com o cenário futuro no mercado internacional. Como pode ser visto na tabela abaixo, o crescimento brasileiro não é exceção ao que ocorre com os outros países emergentes e é resultado do excepcional cenário externo que combina (1) excesso (irresponsável) de liquidez internacional motivada pela (irresponsável) política econômica dos EUA, (2) o enorme crescimento da China e (3) que teve um substancial efeito sobre os preços das commodities que permitiu um ótimo resultado da balança comercial. É possível e até mesmo provável que em 2005 o crescimento seja menor e os riscos que são atualmente sublimados pelos investidores se tornem mais presentes. Neste sentido, um acordo do governo brasileiro com o FMI seria muito saudável, pois pode evitar ajustes bruscos no crescimento e no risco-país (atualmente ao redor de 390-400 pontos-base).
O Ministro Antônio Palocci e o Presidente do Banco Central Henrique Meirelles não devem ter grande alegria ao assinar o novo acordo com o FMI, mas as circunstâncias da realidade brasileira recomendam que isso seja feito.
País Variação do PIB (*)
China +9,1%Índia +7,2%
Coréia do Sul +4,6%
Argentina +7,0%
Chile +6,8%
México +4,4%
Venezuela +15,4%
Turquia +15,8%
Rússia +7,4%
Brasil +6,2%
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(*) Variação do 3º trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano anterior.
Fonte: FMI
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* Economista e pós-graduado em Finanças. Foi Vice-Presidente e Presidente (1999-2002) da APIMEC - Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais (São Paulo).
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