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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Porandubas nº 424

Em cinco anos, tudo pode ocorrer Abro a coluna com uma historinha de sabedoria : Um poderoso sultão, sábio entre os sábios, possuía um camelo muito inteligente. Obedecia a todas as ordens que nem precisavam ser emitidas de viva voz. Faltava-lhe apenas o dom da palavra. Esse detalhe entristecia, sobremaneira, o sultão. Um dia, decidiu convocar o grande conselho e chamou o Grão-Vizir. - Quero que ensine meu camelo a falar ! - Mas isso é impossível. - Cortem-lhe a cabeça ! Tragam-me o adjunto ! Mesma afirmação do desejo sultanesco, mesma resposta, mesma sentença. A cena repetiu-se diversas vezes e cabeças rolaram. Exasperado, o sultão declarou. - Aquele que ensinar meu camelo a falar será meu Grão-Vizir. Silêncio ! O sultão repetiu a exortação. Eis que surgiu um humilde ajudante de cozinheiro. Disse : -Dá-me, ó incomparável senhor, um prazo de cinco anos, e farei falar teu camelo. Estupefação geral. Seguida do cumprimento da promessa. -Doravante, és meu Grão-Vizir ! Com direito a palácios, mordomias e riquezas. Mas se falhares, sabes o que te espera ! - Bem sei ! Encantado, o jovem fez profunda reverência e saiu correndo para dar a boa notícia à esposa. - Infeliz, acabas de assinar tua condenação. - Não é bem assim, meu bem. Pedi cinco anos. Você sabe que muitas coisas poderão acontecer em cinco anos : morre o camelo, morre o filho do camelo, morre o sultão. (Fábula enviada pelo atento Alexandru Solomon, que arremata : "nada a ver com a AP 470, o Petrolão, etc.") Segunda fase do petrolão Vem por aí a segunda fase do petrolão. Vejamos os próximos passos : o ministro relator, Teori Zavascki, chama para si os processos envolvendo nomes de parlamentares. Começa a colher depoimentos e provas. A seguir, faz seu relatório, que é julgado em plenário. Tempo para essa operação : de três a cinco meses. Ou seja, teremos um primeiro trimestre de 2015 sob a fumaça do óleo da Petrobras encobrindo os céus de Brasília. Alternativas O cenário do que poderia ocorrer ainda não está claro. Vejamos algumas hipóteses : a. condenação de alguns réus pelo STF e/ou absolvição de outros ; b. encaminhamento dos processos às Casas Congressuais ; c. análise dos casos pelas mesas diretoras do Senado e da Câmara ; d. envio da situação às Comissões de Ética ; e. decisão de cassação de mandatos pela própria mesa dirigente da Casa congressual ; f. condenação ou absolvição dos casos pelos plenários. Repercussão O balão da opinião pública será inflado, nos próximos meses, pela operação política abrigando os nomeados pelo petrolão. Será mais uma onda desfavorável à representação política. A onda se espraiará pelo território sob o signo de um tempo cheio de apertos : cortes de gorduras, escassez, política econômica rígida, inflação no teto da meta. Portanto, não esperemos otimismo ou qualquer folga no bolso. O Produto Nacional Bruto da Felicidade entrará em queda. Ruim para o país. Tempos de controle Podemos enxergar uma luz no fim do túnel : maiores e melhores controles sobre a vida institucional. Ou seja, as estruturas do poder público ganharão lupas mais potentes. Nesse sentido, ainda é possível divisar um país sendo passado a limpo, com seus tumores extirpados pela lâmina da lei. A conferir. Políticos na corda bamba Os políticos não poderão ultrapassar a linha do bom senso. Pretenderão aumentar suas fatias no bolo do poder, mas deverão lutar por esta meta sem muito estardalhaço. Quer dizer, deverão conter seu ímpeto sob pena de sofrerem puxões de orelha dos movimentos organizados e de setores que afiarão seus aríetes. O Brasil continuará assistindo as manifestações de rua e o clamor por mudanças. Dilma mutante Pode ser que a presidente não altere seu comportamento na frente da política. Caso continue imune aos apelos e pressões que partem das representações na Câmara e no Senado, abrirá rombos nos costados do governo. Mais provável que tenhamos, no segundo mandato, uma presidente Dilma mais flexível, menos rígida no trato com os políticos, mais aberta ao diálogo e mais intensa na articulação. PT, mais à esquerda Já o PT deverá promover uma guinada à esquerda. No primeiro mandato, viu-se obrigado a entrar forte nos espaços centrais, deixando de lado antigas bandeiras. Agora, sob sugestões de Lula e de alas do partido, o PT quer resgatar a chama dos seus primeiros anos de vida. Não será uma tarefa fácil, eis que as fogueiras do mensalão e do petrolão ainda dispõem de muito combustível para queimar sua imagem. Mas o partido, mesmo assim, tentará passar um esmalte em seu escopo, na tentativa de se fazer diferenciado. O PT ficou pasteurizado. Tucanos e caciques Os tucanos, por sua vez, terão muita dificuldade de trocar a exuberante roupagem de caciques por modestas vestes de índios. O partido é uma plêiade de celebridades. Não aprendeu, ainda, a comer o pão requentado das massas. Prefere os brioches dos palácios. Por isso, é pouco provável que o PSDB vista a embotada camiseta oposicionista. Vai sempre preferir a última camisa da moda, a calça de grife. Ferraz no comando dos navios Marco Ferraz é o novo presidente executivo da CLIA/Abremar. Um dos mais qualificados perfis do TRADE, Marco deixa a Braztoa com uma das mais densas folhas de serviços prestadas ao turismo nacional. Junta experiência, profundo conhecimento dos problemas e situações dos setores que compõem o conglomerado do Turismo (nacional e internacional), alta performance na frente da articulação política, a par de muita simpatia pessoal. Os cruzeiros marítimos no Brasil terão no novo presidente executivo uma ajustada bússola para navegar em águas menos borrascosas. Fusões partidárias Teremos entre quatro a cinco blocos partidários na Câmara Federal, durante a próxima legislatura, maneira inteligente para abrir espaços de poder e uniformizar as linguagens. Lula à espreita Quem conversou com Lula nos últimos tempos, cochicha : o guru do PT está treinando todos os dias para voltar a frequentar palanques. Será o comandante das ruas do governo Dilma. A cara do governo perante as massas. Fiquei de orelha em pé com essa observação. Temo que Lula antecipe muito o pleito de 2018. Padilha no turismo ? O ex-deputado Eliseu Padilha, pessoa que está ao lado direito do vice-presidente Michel Temer, poderá vir a ser ministro do Turismo. Trata-se de um exímio organizador. É o Brasil O TRE/RR cassou o mandato do governador Chico Rodrigues (PSB). Chico era vice-governador e assumiu por ocasião da renúncia do governador Anchieta Filho. O TRE empossou no lugar de Chico Rodrigues o presidente da Assembleia, o deputado Chico Guerra. Que deixou de ter os votos computados, obtidos no pleito de outubro passado, por ter caído na ficha suja. Ou seja, assume hoje um governador de ficha suja. Só mesmo por essas plagas isso acontece. Feldman na CBF O ex-deputado Walter Feldman, que foi tucano e ultimamente era porta-voz da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, está dando um giro de 180 graus em sua vida profissional. Vai para a CBF com o objetivo de colaborar com o esforço de modernização da entidade, segundo se depreende de sua explicação. Trata-se de um esforçado quadro da política. Sabe fazer articulação. Jango envenenado ? As circunstâncias que cercaram a morte de Jango Goulart (um infarto agudo do miocárdio) até justificam uma análise toxicológica no corpo do ex-presidente. Mas encontrar alguma substância venenosa após 37 anos da morte é tão difícil quanto encontrar uma agulha no palheiro. P. S. O material colhido foi submetido a cerca de 700 mil substâncias. Ufa ! Fator previdenciário O PT defende o fim do fator previdenciário, mecanismo que desestimula aposentadorias precoces - e quer, ainda, adotar a jornada de trabalho de 40 horas semanais. Com essa defesa o partido tem como objetivo reaproximar-se dos movimentos sociais. Aliás, o PT também quer desbancar o PDT da cadeira no Ministério do Trabalho. Quer emplacar um dos seus como ministro da Pasta. Balança comercial O saldo da balança comercial, segundo Boletim do Bradesco, ficou negativo em US$ 2,350 bilhões em novembro, de acordo com dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. As exportações somaram US$ 15,646 bilhões no mês passado, recuando 25%, quando consideramos a comparação entre as médias diárias de 2014 com novembro do ano passado. Todas as categorias atuaram nesse sentido : foram registradas quedas de 31,7% em manufaturados (devido a óleos combustíveis, materiais de transporte e açúcar refinado) ; de 25% em básicos (devido aos grupos soja e minérios, com quedas de 45% em ambos) ; e de 6,2% em semimanufaturados (devido a ferro fundido, açúcar em bruto e ouro em forma semimanufaturada). Por sua vez, as importações chegaram a US$ 18 bilhões, mostrando retração de 6% ante novembro de 2013. Ambições ! Fecho a coluna com uma pitoresca historinha enviada pelo amigo Luis Costa : Eduardo, promissor jovem advogado, descobriu que herdaria uma fortuna quando seu pai morresse devido a uma doença terminal. Decidiu, então, que era momento para encontrar uma mulher que fosse sua companheira para a vida fácil que se avizinhava. Assim, numa determinada noite, foi até ao bar onde se encontrava com amigas e amigos advogados, e lá conheceu uma bela mulher, a mais linda que já tinha visto em toda a sua vida. Sua extraordinária beleza, o porte elegante, o corpo curvilíneo, a inteligência, a maneira de falar, deixaram-no sem respiração. - Eu posso parecer um advogado comum - disse-lhe, enquanto iniciava o diálogo para a conquista da musa - mas, dentro de dois ou três meses, o meu pai vai morrer, e eu herdarei 20 milhões de euros. Impressionada, a bela jovem foi para casa com ele naquela noite. Três dias depois, tornou-se sua madrasta !
quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Porandubas nº 423

Lei da Gravidade Abro a coluna com uma historinha do impagável José Flávio Abelha, em "Mineirice". A Lei da Gravidade, de quando em vez, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação : a água lá em baixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução a curto prazo, conforme desejavam. - Mas, doutor - pergunta o líder do prefeito - qual é o problema mesmo ? - O problema mesmo - responde o engenheiro - está ligado à Lei da Gravidade. - Isso não é problema - diz o líder - nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD. O líder da oposição, em aparte, contesta o líder do prefeito e informa à edilidade, em tom de deboche : - O governador Israel nada pode fazer pois a Lei da Gravidade é de âmbito Federal. ... E assim, encerrou-se a sessão. Um pacto moral O futuro do obreirismo no país começa a ser redesenhado. As empreiteiras que comandam o processo, na esteira do escândalo nos costados da Petrobras, serão obrigadas a desenvolver um "pacto moral", implicando cortes de monta nas gorduras dos orçamentos, suspensão (mesmo que temporária) da cultura da partilha da propinagem, maior transparência das planilhas financeiras e dos cronogramas de obras. Os controles a cargo do Estado - estruturas do MP, PF, TCU, etc. - acenderão faróis mais potentes. Uma ou outra empreiteira poderá desistir de obras públicas. Campanhas menos exuberantes Outro cenário que se projeta é das campanhas eleitorais. Serão mais enxutas, menos extravagantes e dispendiosas. Haverá enorme pressão social para que o financiamento público de campanha entre no lugar do financiamento privado. Aliás, é bom lembrar que financiamento público já existe, na esteira das isenções concedidas aos grupos de comunicação que usam seus sistemas - TV e emissoras de rádio - para veiculação de programas partidários. O que está em discussão é a proibição de doações privadas aos candidatos e partidos. Modelo misto O PMDB será um dos partidos a defender o sistema misto, parte dos recursos de origem privada e parte de origem pública. Dos grandes partidos, o maior defensor do financiamento público é o PT, que, por cobrar um dízimo de seus filiados, é a sigla que dispõe de maiores recursos, a par das verbas partidárias a que tem direito. Não teria o PT grandes dificuldades caso for proibida a doação privada às campanhas. Ao lado do PMDB, outros partidos continuam favoráveis ao financiamento privado. O debate ganhará força com as pressões e contrapressões das organizações sociais. Morrendo O advogado, no leito da morte, pede uma Bíblia e começa a lê-la avidamente. Todos se surpreendem com a conversão daquele homem ateu, e uma pessoa pergunta o motivo. O advogado doente responde : - Estou procurando alguma brecha na lei. A farra dos cartórios Os concursos para cartório são uma exigência da Constituição de 1988. Hoje é necessário passar num concurso público - antes eles eram doados, apadrinhados ou vitalícios. Por isso, os Estados precisam selecionar os candidatos mais preparados, pois terão fé pública na emissão de documentos, registros, e cuidarão de arquivos com informações pessoais da população. Deveria ser um procedimento da maior seriedade, portanto. Mas está virando malandragem, com os mais preparados atropelados pelos mais espertos. A farsa da pós-graduação A farsa do certame para cartórios se monta dessa forma : a regra permite a cumulação indiscriminada de pós-graduação, diferente dos demais títulos, como experiência profissional na área. Para cada certificado de pós-graduação há um aumento de meio ponto na classificação final, o que ocasiona a chamada "dança das cadeiras" na reta final. Aí reside a esperteza : os candidatos mais preparados e com maiores notas são preteridos pelos que acumulam mais pós-graduação. A festa da malandragem Como acumular mais pós-graduação ? Simples : alguns candidatos apresentam 10, 15 ou 20 diplomas cursados simultaneamente entre seis meses e um ano. Impossível o cumprimento da carga horária exigida pelo MEC. Ora, de onde nascem tantos títulos simultâneos ? Essa é a "farra da pós-graduação" que se discute hoje no CNJ. Em vários Estados essa farra ou farsa é aceita, o que torna difícil botar um freio na malandragem. Uma discussão quilométrica se estende pelos Tribunais Estaduais, CNJ, Ministério da Educação, PF e o procurador-Geral da República. Nos próximos dias, a situação dos cartórios de PE será decidida pelo CNJ. A Comissão do concurso já decidira não acumular pós-graduações fajutas (aquelas sem possibilidade técnica de terem cumprido carga horária). Uma única conclusão, por enquanto : a malandragem no país é endêmica. Trio ortodoxo Os tempos são outros. Expansão do consumo, acesso geral do crédito, gastança desordenada darão lugar a uma política rigorosa na frente das contas públicas. A ortodoxia na área econômica acaba de adensar seu escopo com a escolha de Joaquim Levy para comandar a Fazenda, Nelson Barbosa, o Planejamento, e a continuidade de Alexandre Tombini no BC. Superávit fiscal, inflação na meta de 4,5% e câmbio flutuante guiarão as mentes desses três eixos de rigor macroeconômico. O que espera por estes três personagens do segundo mandato da presidente Dilma ? Como tirar a economia do país do buraco e rearrumar o orçamento de 2015, ainda por cima dando-lhe credibilidade e transparência ? Tarefa para super-homens. A missão - 1 As contas públicas estão ao rés do chão e a confiança dos empresários nunca foi tão baixa. A dos consumidores, então, nem se fala, resultado de uma inflação que saiu do controle e estourou o teto da meta. A economia no governo Dilma, ao final de seu primeiro mandato, se traduz por estagnação. Indústria na marcha-ré, comércio às moscas, serviços andando de lado. Crescimento quase zero - o PIB deverá ser o mais baixo da história recente do país. A missão - 2 A nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda significa o fim do que se chamou de "nova matriz econômica" dos governos petistas, representada por expansão fiscal, redução dos juros e câmbio desvalorizado de forma artificial. Está claro que não deu certo, mas, pelo menos, a presidente se convenceu disso e resolveu mudar, mesmo contrariando setores importantes do PT. A missão - 3 A primeira tarefa, sem dúvida, será a de tornar viável a política fiscal para 2015. Cortar gastos é sempre coisa impopular. Mas o governo não tem saída se quiser controlar suas contas. Algumas medidas na alça de mira : aumento do número de meses trabalhados para pagamento do abono salarial ; a realização do curso de qualificação logo no primeiro pedido de seguro-desemprego e aumento de contribuição para ter acesso à pensão por morte. A missão - 4 Joaquim Levy é do ramo. Foi secretário do Tesouro do governo Lula e controlava o cofre do governo com mão de ferro. Mas não servia aos interesses de outro grupo da equipe do ex-presidente, que queria desengavetar projetos, ampliar investimentos e programas sociais. Ou seja, queria gastar. Líder desse grupo : Dilma Rousseff, nomeada ministra da Casa Civil. Resultado : Guido Mantega substituiu Antônio Palocci, que desembarcou do governo junto com seu secretário do Tesouro Joaquim Levy em 2006. A missão - 5 Grande ironia : durante a campanha a candidata Dilma acusava o oponente Aécio Neves de querer entregar o comando do país aos banqueiros por ter convidado Armínio Fraga para ministro. Os convidados de Dilma agora - Levy, ex-Bradesco, e Barbosa, PhD em Economia e com bom trânsito no meio acadêmico e no mercado financeiro - rezam pela cartilha de Armínio. A missão - 6 Nélson Barbosa é PhD em Economia pela New School for Social Research de Nova York e alongou seu perfil nos governos do PT. Começou aí em 2003, como chefe-adjunto da assessoria econômica do Planejamento na gestão Guido Mantega. Foi apeado do governo como secretário-executivo do Ministério da Fazenda em maio de 2013 na gestão Guido Mantega. Barbosa defendia transparência nas contas públicas, mesmo sem bater de frente com os defensores da contabilidade criativa. Para ele, tudo bem com o superávit primário mais enxuto, desde que feito de forma gradual e às claras. Caiu, e agora sobe para mais alto. A missão - 7 Tombini deverá fazer agora o que não conseguiu desde que assumiu a presidência do BC há quatro anos : domar a inflação, que ultrapassou o teto da meta de 6,5% e continua em sua trajetória para o alto. Funcionário de carreira, ele tem uma sólida formação econômica. Agora, com dois nomes de peso na condução da política econômica, as possibilidades de sucesso são maiores. Não em curto prazo. A missão - 8 Gastar à vontade rendeu a reeleição da presidente Dilma, mas parou a economia do país. Outra ironia : se os novos rumos derem certo e a roda da fortuna voltar a funcionar, com o receituário da direita, o PT pode asfaltar seu caminho rumo ao projeto de se manter no poder. Balançando do socialismo ao liberalismo. Apenas para confirmar o velho ditado : dinheiro não tem ideologia. Ou, como diziam os franceses no primeiro governo de François Mitterrand na década de 80 : socialismo é como violino. Toma-se com a esquerda e toca-se com a direita. Diferença Vocês sabem qual a diferença entre juízes da primeira instância e os da segunda ? - Os primeiros pensam que são Deus. Os outros têm certeza. Falsa delação ? A hipótese parece acertada : os delatores não deverão falsear os relatos. Sob pena de ver sobre seus ombros o falso testemunho. Se negociaram delações para reduzir suas penas, é evidente que mostrarão provas. Se não o fizerem e se for comprovado o blefe, a delação será um bumerangue. Dizem que Youssef já foi punido, uma vez, por ter feito uma delação falsa. Daí a conclusão : se fez isso, fará novamente. Este analista não acredita nessa hipótese. Seria muita burrice. Políticos de olho aceso Diz-se que o juiz Sérgio Moro não permite que os delatores, nesse momento, declinem os nomes de políticos. Porque se esforça para manter o affaire Petrobras em sua alçada, ou seja, no território de sua instância jurídica, PR. Se algum político for nomeado, o relator Teori Zavascki avoca o processo para o STF. Mas e os primeiros nomes já relatados no depoimento de Paulo Roberto Costa ? Ou aquela lista é pura especulação ? Tem boi na linha. Fraude Na faculdade, o aluno de Direito ao fazer prova oral : Professor - O que é uma fraude ? Aluno - É o que o senhor, professor, está fazendo. Indignado, o professor vocifera : - Explique-se, aluno. Aluno - Segundo o Código Penal, "comete fraude todo aquele que se aproveita da ignorância do outro para prejudicá-lo".
quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Porandubas nº 422

O velho padre Anacleto Abro a coluna com uma deliciosa historinha de padre Anacleto, o velho pároco de Uiraúna, cujas histórias são relatadas com a lábia do primo Zé Nêumanne, que teve o privilégio de ter convivido com ele. Padre Anacleto era conhecido por sua maneira engraçada de falar trocando situações e interpretando de maneira singular o ensinamento bíblico. (Nêumanne guarda uma boa coleção). Era temido pelos políticos porque não tinha papas na língua. Muita gente ainda hoje o imita. Uma vez, porém, caiu na armadilha engenhosamente preparada por Neco Pistola, figura muito popular da cidade. Para irritar o padre, Neco perguntou-lhe : "padre Anacleto, o que é artrite" ? O velho cônego respondeu : "artrite é a doença dos infiéis, das pessoas que não assistem missa aos domingos, é a doença dos vagabundos, dos cafajestes, viu seu Neco" ? Neco, todo compenetrado, passou a ler o jornal que levava na mão : "ah, agora entendo. Aqui tá dizendo que o Papa está com artrite". O affaire Petrobras O caso Petrobras vai deixar sequelas em muitas frentes. Não se trata apenas de focar as operações levadas a cabo pela PF, sob monitoramento do MP e autorização da Justiça. Trata-se de projetar seus efeitos sobre a esfera institucional e avaliar as consequências sobre o caminhar do governo e o cotidiano das instituições políticas. Daí o cenário que se esboça : o Natal e o réveillon serão comemorados sob o signo da instabilidade ; 2015 será aberto sob um abecedário de interrogações ; o governo padecerá de inércia administrativa, eis que passará boa parte do tempo dando respostas às indagações que tendem a se multiplicar ; a esfera representativa viverá no compasso da expectativa, esperando os nomes de políticos que entraram nas delações premiadas. O ambiente geral O escândalo no entorno da Petrobras será explorado pelas oposições de forma estrepitosa, ainda mais quando o clima ambiental deverá estar tomado por nuvens pesadas. A economia, no início do ano, causará preocupação caso a inflação ultrapasse o teto da meta, resvalando nas margens de 7% a 8%. A empregabilidade, passada a fase de contratação de temporários do fim de ano, tende também a refluir, trazendo em seu bojo insegurança, intranquilidade e preocupação. Os grupos organizados serão convocados a colocar suas tropas nas ruas e começarão a formar suas agendas e mobilizações por demandas. O caldo será tomado muito quente. As ruas cheias As ruas estarão cheias não apenas em função do corre-corre de fim de ano, quando as famílias entopem os shoppings centers fazendo compras de Natal, mas em atendimento à convocação que o PT já começa a fazer em defesa da presidente Dilma. A Esplanada dos Ministérios será um mar de gente, que acorrerá a Brasília para assistir a posse da presidente Dilma. O momento é histórico. Primeiro, porque a posse ocorrerá na esteira do maior escândalo que a contemporaneidade registra. A convocação petista assume, portanto, dimensão maior que a de simples comemoração. Embutiria a defesa do governo, significando o desfraldar de bandeiras petistas. As oposições O clima de guerra não amainou após as eleições. As redes sociais se infestam de tiros recíprocos entre os exércitos da situação e da oposição. O verbo soa alto sob os volumes inusitados de verbas bilionárias que teriam sido desviadas para pessoas e grupos. A animosidade impregna os ânimos sociais, com possibilidade de interferir nas ações governativas e nas atividades congressuais. Teremos eleições em 1º de fevereiro para composição das mesas do Senado e da Câmara, mas tais decisões dependerão dos nomes de políticos incriminados nas listas da delação premiada. Mais pressa O affaire Petrobras sinaliza um contencioso a correr mais depressa que o da AP 470. As coisas correm com muita velocidade. A impressão é a de que a sociedade não aguenta mais conviver com escândalos diários, sob intenso bombardeio da mídia. Daí a fabulosa teia de pressão que se forma em torno das Cortes Judiciárias para que se acelerem os processos. É claro que os advogados usarão todos os recursos que a Justiça lhes concede para a defesa de seus clientes, o que demandará um bom tempo. Mas as pressões serão insuportáveis para que julgamentos ocorram com rapidez. A frente política Na área política, a grande dúvida é sobre a extensão da crise. Será grande a relação de parlamentares envolvidos ? Como tenderão a agir os corpos parlamentares ? De maneira corporativa, em defesa dos pares, ou, sob pressão da sociedade, tomando decisões ágeis para que os processos passem pelas instâncias cabíveis nas casas congressuais ? Sejam quais forem as respostas, o fato é que o caso Petrobras acabará dando o tom à área política nos primeiros meses de 2015. Dilma com a palavra A presidente continuará a martelar que "doa a quem doer", o caso Petrobras vai mostrar corruptores e corruptos. As oposições continuarão a reagir : o MP e a PF são órgãos do Estado e não precisam de autorização para investigar. A lengalenga vai longe. O fato é que a mandatária precisará impor sua identidade no segundo mandato. No primeiro quadriênio, a imagem de excelente gestora deixou a desejar. Na área política, já se sabe, não cultiva a arte da articulação, tarefa que poderá transferir ao hábil articulador, que é Michel Temer, o vice-presidente. Lula na retaguarda Já a retaguarda do lulopetismo terá como comandante ele mesmo, Luiz Inácio. Que defende para o PT uma volta às origens. Significando maior aproximação aos trabalhadores. Ocorre que o partido, ao se inclinar pela volta às origens, deverá aceitar velhas bandeiras, algumas polêmicas, outras consideradas ultrapassadas. O PT atravessará um ciclo de profunda inflexão interna. Lula será o regente do exercício. Oposições mais fortes Esboça-se um discurso oposicionista contundente. Ora, nos anos do lulismo-petismo, as oposições não souberam se comportar como tal. Ficaram restritas ao discurso parlamentar, abandonando a articulação com a sociedade organizada. Com o incentivo adquirido por meio de 53 milhões de votos, Aécio Neves ganhará densidade, podendo vir a ser o que nunca foi : um comandante na arena de guerra. Tem idade e estofo para continuar a luta. Dilema de Dilma Como satisfazer o apetite de partidos famintos ? Como atender a uma base política mais larga e fragmentada ? Como imprimir ética e moral aos costumes políticos, como clama a sociedade, em um ciclo de grandes pressões partidárias ? Como satisfazer a sociedade, particularmente aos contingentes mais assistidos pelo Estado, no momento em que a economia exigirá ajustes, controles e arrochos ? Dilma mudará ? A questão mais recorrente é : Dilma mudará a índole ? Dará mais autonomia aos principais ministros ? Descentralizará a gestão ? São questões complexas, ainda mais quando o axioma criado pelo conde de Buffon em 1753 na Academia Francesa- le style est de l'homme même - continua na ordem do dia. Em se tratando da presidente, pelo que se ouve e o que se sabe, emerge um perfil de forte personalidade, ciosa de seu mando, centralizadora, atenta aos detalhes, de reações ágeis, em quem os psicólogos, pela clássica classificação de Hipócrates, poderiam enxergar traços temperamentais mais próximos aos tipos coléricos e sanguíneos (em que a força de excitação é maior ou iguala a da inibição) e mais distantes dos melancólicos e fleumáticos. Apostar na mudança ? Mesmo assim, há de se apostar na hipótese de mudanças ("novas ideias"), conceito que ela própria expressou na campanha. E isso pressupõe alteração na forma de pensar e agir. Significa intuir que ela vestirá o manto reformista. Ora, para cumprir essa missão, o reformador, como lembra Samuel Huntington, carece de habilidade política mais alta que a habilidade do "revolucionário", porquanto este precisa ser um político magistral para obter sucesso ; já "o reformador de sucesso sempre o é", diz o professor. E a reforma política ? E a reforma política, da qual todos proclamam, mas têm dúvidas por onde começar ? Por que não começar a desembrulhar o pacote pela régua do equilíbrio entre os Poderes ? Nesse caso, trata-se de administrar a índole avassaladora do presidencialismo, tornando-o menos voluntarista no plano das ações governamentais e ajustando-o ao molde concebido por Montesquieu na tripartição dos Poderes. A tese que se pretende esboçar é a de que a correção de rumos de nossa democracia representativa, antes de nova configuração dos organismos que a definem e a compõem - organização e funcionamento de partidos, escolha de candidatos, sistemas de voto, processo eleitoral, condutas dos agentes públicos em campanhas, etc. -, há de considerar um alinhamento no plano funcional dos Poderes. Se a relação entre eles tem rompido o fio constitucional da harmonia, independência e autonomia, por conta da apropriação de funções legislativas por parte do Executivo, qualquer projeto de reforma política será capenga se não considerar este fato. O que e como fazer ? O que e como fazer para amainar a fome pantagruélica do nosso presidencialismo ? Resposta simples : ajustar os buracos do cinturão econômico dos entes Federativos, tornando-os mais compatíveis às suas demandas. O fator econômico, como se sabe, ordena a disposição no tabuleiro da política. Vamos ao dado fundamental : a União fica com 60% dos impostos arrecadados e apenas 16% vão para os municípios, enquanto os Estados embolsam 24%. A inferência é óbvia : se não houver repartição da gigantesca fatia do bolo tributário, o Executivo continuará a encurtar e alongar (de acordo com suas conveniências) o cabresto dos "animais políticos" que procuram sua roça. A reforma fiscal, pois, se apresenta como a primeira barreira para deter a força descomunal do presidencialismo. Se municípios e Estados forem menos dependentes do poder central, seus representantes - governadores, senadores e deputados - terão melhores condições de se livrar do grilhão do fisiologismo. Só assim, o Poder Legislativo não seria tão refém do Executivo, e este, por sua vez, atenuaria suas funções legislativas. Relembrando "Seu Lunga" Banho em minhoca Zé Mané : - Seu Lunga tá pescando ? Seu Lunga : - Não... Dando banho na minhoca ! Quando faltar... O cara vai até a loja do seu Lunga e pergunta : - Seu Lunga tem carrinho de mão ? - Num tá vendo que tem ! - responde ele. - Quanto é  ? - Pergunta o cliente. - R$ 90,00. O cliente querendo comprar o carro mais barato argumenta : - Seu Lunga, "homi", ali na loja do lado é R$ 60,00, mas tá faltando o carrinho... Seu Lunga responde : - Pois quando aqui estiver faltando eu lhe vendo de graça.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Porandubas nº 421

As galochas, padre, as galochas ! Abro a coluna com uma historinha das Minas Gerais. Cuidado. Usem galochas. Um padre da paróquia de Caratinga procurou, um dia, o renomado médico, dr. Edmundo Lima. Queixava-se de um prosaico, mas renitente resfriado. O médico constatou, de pronto, não se tratar de resfriado. A coriza não era nasal. O padre insistiu alegando haver pisado no chão do banheiro com os pés descalços. O doutor Edmundo, experiente, já havia feito o diagnóstico : uma baita blenorragia. O médico sentiu o drama do sacerdote. Receitou os remédios da época para curar blenorragia, com um conselho : - Olha, padre, quando o senhor for tomar banho não se esqueça de usar galochas. Elas são de borracha, garantidas, e não deixam passar a friagem que provoca essa coriza que lhe está atormentando. Padre, as galochas, viu ? - Ah ! Já ia me esquecendo : é bom que o senhor bispo não fique sabendo desse resfriado. Padre, todo cuidado é pouco ! (Historinha do mineiro Zé Abelha). Governo Dilma A presidente Dilma estará entre a cruz e a caldeirinha nos próximos tempos. De um lado, será instigada a fazer reformas e a formar um Ministério asséptico e imune aos ataques sociais contra a velha política. De outro, será pressionada a oferecer comida ao apetite dos partidos, abrindo espaços. O ano de 2015 será duro. Cheio de ajustes. A tendência é que sua imagem caia com a desaprovação às medidas governamentais para melhorar os cofres do governo. A conferir. Os solavancos da imagem Tem sido assim. O mandatário eleito ou reeleito vive uma lua de mel até a posse. Quando a onça aparece para beber água, as coisas começam a se complicar. Aumentos de preços, reajustes, especulações, partidos insatisfeitos, líderes contrariados formam as nuvens do céu governamental. Vai explodir raio por todos os lados. A imagem da presidente entrará em descenso. O PT será colocado no poço do descrédito. E tentará voltar às origens, atendendo ao discurso de Lula. Vamos ver até onde isso vai dar. Ministro da Fazenda Cresce a ansiedade no mercado à espera da indicação do novo ministro da Fazenda para a vaga de Guido Mantega. Três nomes sobressaem : Henrique Meirelles, ex-presidente do BC no governo Lula ; Alexandre Tombini, atual presidente do banco e alinhado com a presidente Dilma. E Nélson Barbosa, ex-secretário executivo do ministério da Fazenda, que saiu após divergência com a equipe econômica. O empresariado torce por um economista ortodoxo para acalmar o mercado e promover a volta dos investimentos, encerrando este ciclo de desconfiança. Mais lenha Uma observação que tem condições de se realizar : os depoimentos dos delatores premiados (??) deverão adicionar mais lenha à fogueira. Por isso, é pouco provável que o quadro político de hoje se mantenha harmônico amanhã. Por exemplo, a eleição para presidentes do Senado e da Câmara hoje apresenta a cor azul, amanhã a cor pode ser vermelha para os atuais nomes - de um lado, o senador Renan Calheiros ; de outro, o deputado Eduardo Cunha. E se seus nomes aparecerem com ênfase na boca dos delatores ? Mesmo se apresentarem argumentos sólidos de defesa, permanecerá a dúvida levantada por eventual delação. Os fundos Garboso e exuberante, o candidato a prefeito de Jaguaribe/CE não economizou nas promessas. Prometeu construir maternidade, abrir poços artesianos, melhorar as estradas do interior do município, construir mais escolas. Mas não podia deixar de fazer o brinde final à demagogia. Tinha de prometer algo mais : - Pois é, minhas conterrâneas e conterrâneos, se vocês tiverem em suas casas redes rasgadas, guardem os punhos. Pois quando eu for eleito, darei os fundos. Pressão do Planalto Pelo que se enxerga, o Palácio do Planalto não tem objeção ao nome do senador Renan Calheiros para presidir o Senado. Renan tem sido hábil na condução da Câmara Alta. Trata-se de um articulador que sabe agradar as correntes do Senado. Só mesmo uma bomba de alto teor explosivo poderia tirá-lo da jogada presidencial. Quanto ao deputado Eduardo Cunha, tudo vai depender do rolo compressor do Palácio. Quem é dono da flauta, dá o tom. Os palacianos estão com a régua e o compasso. Mas Cunha está conta com a insatisfação de grande parcela dos deputados. Vai ser uma dura queda de braço. Alckmin pede água O governador Geraldo Alckmin não é tonto. SP com sede pede água. E se a conta para ter água é gigantesca, que se procure quem tem cofre para bancar. Geraldo foi ao Planalto. Quer 3,5 bilhões para viabilizar a água nas torneiras. Dilma ouviu e quer razões técnicas. Se o governo Federal aprovar o recurso, poderá dizer : sem nossa ajuda, os paulistas ficariam com a boca seca. Um belo argumento para a campanha de 2016. Serra, Anastasia, Aloysio, Aécio e Jereissatti Aécio vai ser o chefe. Antônio Anastasia, o chefe da Casa Civil de Aécio. Aloysio Nunes será o ministro da Política. Tasso Jereissatti deverá ser o comandante da arena de guerra. E José Serra será o quê ? O primeiro ministro do sistema parlamentarista que os tucanos querem criar com esse tal de governo paralelo ? Pode ser. Serra não tem vocação para ser comandado. Quer comandar. E lutará para ocupar a posição de primeiro ministro, que dá as cartas no sistema. Vai ser uma luta engraçada na floresta dos tucanos plantada no Senado. Reforma política Este consultor tem apostado na hipótese de uma reforma política. Uma reforma que contemple questões pontuais. Não uma reforma por inteiro. Se não ocorrer, o Congresso, já desmoralizado, não terá condições de dialogar com a sociedade, que está quilômetros adiante. Mudou de nome ? Mariana, em MG, já foi chamada de Roma brasileira. Terra de fé e de velhas igrejas. E cheia de placas com nomes engraçados nas ruas : - Cônego Amando - Armando Pinto Cônego Amando era conhecido pela verve. Um dia, viajando pelo interior do município, uma de suas acompanhantes caiu do cavalo. Rapidamente ficou em pé. Meio sem graça, perguntou ao Cônego : - O senhor viu a minha agilidade ? - Minha filha, respondeu, eu até que vi. O que eu não sabia é que tinha mudado de nome. (Mais uma de Zé Abelha) A renovação A renovação de quase 50% dos representantes na Câmara não significa inovação política. Os novos conservam forte parentesco com os velhos políticos. Eduardo Paes O PMDB começa a mapear os seus nomes para abrir os horizontes presidenciais de 2018. O mais afoito pré-candidato desse empreendimento se chama Eduardo Paes, prefeito do RJ. Ele quer pegar carona nas Olimpíadas de 2016 no RJ. O problema : não tem a alma tão peemedebista. Lula tem dúvidas Se meio mundo tem dúvidas sobre a possibilidade de mudança de comportamento por parte da presidente Dilma, seu tutor, Lula da Silva, também tem. Dilma precisa dialogar mais, ser mais flexível, ouvir a área política, contemporizar, coisas comuns no dicionário lulista. E se ela se mantiver irredutível ? Esse é imbróglio que aflige o PT. Cabral, onde está ? Pezão, o governador do Rio, sorri de um canto a outro da boca. E Sérgio Cabral, o ex-governador, está por onde ? Alguém o viu ? Regulamentação econômica Este consultor não tem dúvidas. Virá projeto de regulamentação econômica da mídia. Para evitar monopólios e oligopólios, conforme reza nossa Constituição. O que significa evitar a propriedade cruzada dos meios : jornais, revistas, rádio e TV em um mesmo mercado. Urge incentivar a competitividade. Este consultor é contra os monopólios. Chinaglia Arlindo Chinaglia é o candidato mais forte do PT à presidência da Câmara. Conhece o riscado. Vital O senador Vital do Rego é um nome de peso. Um senador preparado, articulador, dialoga com todos os lados. E pode ser o nome do PMDB para o TCU. Reúne todas as condições. Russomano Celso Russomano, o deputado mais votado de SP, já anuncia sua candidatura à prefeito da capital em 2016. Mas deverá enfrentar problemas sérios de imagem. Vem chumbo grosso por aí. Reforma tributária Este consultor também enxerga formidáveis pressões dos exércitos estaduais e municipais sobre o Executivo e o Legislativo. O pires na mão sugere inevitável reforma tributária já em 2015. Os Gomes Diz-se que Cid Gomes, um político que tem costados quebrados na frente da imagem pública, não quer ser ministro e sim um representante do Brasil no BID. Para aprimorar seu inglês. E Ciro, o irmão, assumiria um Ministério. Ciro, a metralhadora ambulante, pode ser útil ao governo Dilma ? Ela que o diga. Marta, a candidata do PT Marta Suplicy lutará para se candidatar a prefeita de SP. Não conseguiu a empreitada em 2012, quando Lula impôs Haddad, puxando o tapete dela. Agora, saindo do Ministério de Dilma, já atirando contra o governo que a abrigava, habilita-se a fazer política municipal. Aloysio, o melhor nome Já se abrem os espaços de especulação de candidaturas a prefeito de SP em 2016. O PSDB abre o leque com Andrea Matarazzo, vereador, e Bruno Covas, eleito deputado Federal. Este consultor enxerga o senador Aloysio Nunes Ferreira como o melhor candidato. Hoje. Tem peso. Skaf e Chalita O PMDB também apresentará seu candidato a prefeito em 2016. Paulo Skaf poderia ser o nome. Tem garra e vontade. Mas o partido o vê com certa suspeição : a de ser autossuficiente, não vestindo a camisa da sigla. Se quiser ser candidato, carece refazer a relação com o partido. E há também Gabriel Chalita, que se afastou do partido para continuar a fazer incursões intelectuais. Este tem bom trânsito no partido, mas, segundo se sabe, quer dar um basta na política. O comando da solução se chama Michel Temer. Sem ele, não existe possibilidade. Para um ou outro. Cruzeiros marítimos sob novo comando Diante da necessidade de profissionalizar a gestão e contar com um presidente full time, a CLIA Abremar Brasil (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos) terá novo comando a partir de 1º/12. Marco Ferraz, que desde a década de 80 atua no setor de Turismo, foi escolhido para ocupar o cargo. Roberto Fusaro, atual presidente da CLIA Abremar Brasil, passa a presidir o Conselho da Associação. O executivo foi escolhido, segundo Fusaro, por sua grande experiência tanto no setor corporativo quanto no relacionamento com autoridades. Mais uma de "mineirim" Grande churrasco abrindo a campanha de Magalhães Pinto, no pátio do Centro Gaúcho, Pampulha, BH. Gabriel Procópio Loures, o Gabi, gerente da Caixa Econômica Estadual em Santos Dumont, pega o microfone para saudar o candidato : - Minhas senhoras e meus senhores ! Como disse o grande filósofo francês, "Madame, Monsieur"... Muitas palmas. E comentários gerais : "que homem culto, o homem sabe tudo".
quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Porandubas nº 420

A gorjeta de Bill Gates Abro com uma historinha de fazer pensar. Certo dia, Bill Gates foi ao restaurante junto com sua esposa e filhos, duas meninas e um garoto. Eles sentaram-se em mesas diferentes, mas foram atendidos pelo mesmo garçom. Durante o jantar tudo ocorreu normalmente. Depois de pedir a conta, Bill a pagou na mesa, deixando para o garçom uma gorjeta de cinco dólares. O que deixou o homem com uma cara estranha, chamando a atenção de Bill, que perguntou : - O que houve ? O garçom respondeu : - O senhor vai me desculpar, mas acho um pouco estranho, pois seus filhos me deram 500 dólares de gorjeta e você, sendo o homem mais rico do mundo, me deu apenas cinco. Bill sorriu e respondeu : - Eles são filhos do homem mais rico do mundo, eu sou filho de um lenhador. Moral : Jamais devemos nos esquecer de onde viemos. Feridas abertas As feridas da guerra eleitoral ainda estão abertas. Precisarão de remédio ainda por muito tempo. Os ânimos não se acalmarão tão cedo por causa da animosidade que teima em dar suas pauladas nas redes sociais. A cargo dos exércitos dos dois lados. Nesse momento, urge recuperar o bom senso. Não é o caso de duvidar dos resultados eleitorais, coisa que pode parecer virada de mesa à base do tapetão. Os tucanos podem até exigir investigação do processo eleitoral, mas esse pedido cai como inconformismo. A mídia nunca foi tão combativa e atenta quanto nesses tempos de voto dividido. E não estamos vendo a mídia trabalhar com o conceito de roubo nas urnas, conchavos, etc. Papel dos tucanos Ora, os tucanos não se saíram mal do processo eleitoral. Ao contrário, foram muito bem votados, a partir de SP, cujo maior colégio de eleitores elegeu Geraldo Alckmin no primeiro turno. Espera-se, agora, que façam uma oposição aguerrida, mas decente, séria, sem apelos populistas ou revanchismo. Essa trombeta de grupos radicais que pregam um golpe e a volta dos militares deixa o PSDB em maus lençóis. Por mais que o partido diga que não é esse o discurso, acaba caindo em seu colo esse queixume de derrotados. Bola pra frente. Aécio, a liderança tucana Aécio Neves vai consolidar sua posição de principal líder tucano. Teve uma grande votação. Aprimorou seu discurso. Poderá se firmar como liderança respeitável, admirada, aplaudida, caso consiga ser um oposicionista equilibrado. Como sói ocorrer, Dilma entrará num círculo de fogo, enfrentando ajustes, controles, represamento de preços, brigas de partidos por cargos. Será submetida a um imenso corredor polonês. E Aécio se sentará de maneira confortável no Senado, olhando a cena, perorando, cobrando, criticando. Dilma e as pressões A presidente reeleita entrará numa fase de pressões insuportáveis. Precisa agradar aos políticos, aos partidos, às organizações sociais, à miríade de setores produtivos. Precisa compor um ministério que agrade a todos, que seja representativo da composição política que a elegeu ; precisa mudar a índole no que diz respeito ao tratamento de políticos e partidos ; mas precisa formar um grupo mais homogêneo, forte no domínio da matéria econômica, compromissado com a meta do resgate do crescimento. Será um deus nos acuda. De um lado, as pressões puxando para a velha política ; de outro, a necessidade de botar o carro da nova política na trilha das mudanças. Lula quer mais força Lula, por sua vez, quer ter maior influência no governo. Não apenas para demonstrar força, mas para tentar fazer uma revolução no partido e ajudar o governo a encontrar o rumo. Lula sabe ouvir e agradar aos partidos. É o que dizem as lideranças partidárias. Sabe articular. E sabe pôr ordem na casa, a partir da mansão partidária. Nesse espaço, Lula pretende resgatar o ideário petista, fazendo renascer a chama dos trabalhadores e o escopo da esquerda por uma nova ordem social. A virada à esquerda se faz necessária porque o partido chegou ao centro, deslocando outros entes políticos, como o próprio PSDB, mais para a direita. Ele sabe que se o PT não redesenhar a imagem corroída, chegará ao fim de linha com o segundo mandato de Dilma. PMDB, o coringa O PMDB é o partido mais capilar do Brasil, aquele que consegue se infiltrar nas veias municipais, estaduais e no coração do poder. É um partido que divide para somar. Perdeu apenas quatro deputados em relação à bancada anterior, enquanto o PT perdeu 18 parlamentares. Terá o comando do Senado e vai brigar pelo comando da Câmara. Apesar de se mostrar, hoje, um partido dividido, é razoável pensar em sua unidade, principalmente tendo em vista o futuro pleito presidencial. O presidente do PMDB, vice-presidente da República Michel Temer, terá sob sua responsabilidade a integração de propósitos dos peemedebistas. Como hábil articulador, deve-se apostar na hipótese. Renovação A derrota de figuras importantes no partido abrirá portas para novas lideranças no PMDB. José Sarney está dando um adeus ao mandato de senador e perdeu no MA ; Lobão, o ministro das Minas e Energia, amarga a derrota de seu filho, no MA. Eunício Oliveira, o senador, perdeu a eleição no CE para governador ; o senador Eduardo Braga perdeu no AM ; o senador Romero Jucá perdeu em RR, com seu filho Rodrigo como candidato na chapa de Chico Rodrigues ; Jader Barbalho perdeu no PA com a derrota de seu filho Elder para o governo. Renan conseguiu se salvar com a vitória de seu filho, Renan, no primeiro turno, para o governo de AL. Requião, o senador de expressão contundente, perdeu o governo do PR. Geddel Vieira, ex-líder do partido e ex-ministro, perdeu a eleição para o Senado na BA. Henrique, presidente da Câmara, perdeu a eleição para o governo do RN. Mais força Não se pense, porém, que isso tenha reflexos em sua fortaleza política. Ora, o PMDB elegeu sete governadores, mostrando que continua a ser o ente com mais força na frente das composições políticas. E ante esse quadro, o presidente do PMDB, Michel Temer, sai fortalecido com sua vitória como vice-presidente da República. A pressão sobre ele, inclusive dos derrotados, será intensa. Este consultor acredita que a força do PMDB no segundo mandato de Dilma será maior. Tucanos nas prefeituras Os tucanos começam a planejar o futuro. A estratégia é a de eleger o maior número de prefeitos de capitais, de cidades grandes e médias, em 2016. Para tanto, poderá até convocar suas grandes lideranças. Este consultor ouviu de um prócer tucano a ideia do partido de escolher o senador eleito, Antonio Anastasia, como candidato a prefeito de BH. Já em SP, o senador mais votado do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, poderia ser o candidato a prefeito pelo partido dos tucanos. Pedrinhas no tabuleiro A derrota de hoje poderá ser a vitória de amanhã. A hipótese começa a ser considerada por muitos derrotados no último pleito, que já pensam em aproveitar o recall obtido e expandido na última campanha para utilizá-lo no próximo embate, em 2016. A campanha será mais barata, se nomes conhecidos forem os candidatos. Em SP, além de Aloysio Nunes, os tucanos pensam também no vereador Andrea Matarazzo. No PMDB, começa a circular a ideia de resgatar o nome de Gabriel Chalita, que hoje se dedica à vida cultural. Seria um nome de peso para a prefeitura. E também se volta a falar no nome de Paulo Skaf, um perfil sempre arrojado e determinado, possivelmente por outro partido que não o PMDB, onde ele ainda se encontra. Como se sabe, a última campanha deixou arestas entre ele e figuras do partido. Empresariado quer participar Seja quem for o escolhido para comandar o Ministério da Fazenda, o empresariado quer participar da formulação da nova política econômica. Há empresários do porte de Jorge Gerdau que não perdem a esperança de ver o país voltando a trilhar pelo caminho do crescimento econômico. Em meia de hora de conversa, Gerdau diz as coisas essenciais para a economia retomar o fio da meada em matéria de crescimento. Retrato do país Dia 7, sexta-feira, ao lado dos jornalistas José Nêumanne Pinto e Audálio Dantas, estarei fazendo uma pequena radiografia do Brasil após as eleições. No Espaço Sociocultural - Teatro CIEE-SP, rua Tabapuã, 445. Participação aberta. Meu último livro - Novo Manual de Marketing Político - será distribuído aos presentes. Quarta democracia O Brasil que sai das urnas mostra ser um dos maiores laboratórios da democracia contemporânea. Os nossos 142 milhões de votantes posicionam o país no quarto degrau do ranking eleitoral, cujos três primeiros lugares são ocupados pela Índia, com 815 milhões de eleitores, os Estados Unidos, com cerca de 215 milhões, e a Indonésia, com 187 milhões. Imperfeita A prestigiada revista The Economist fez uma pesquisa em 167 países, levando em conta uma planilha com as seguintes categorias : processo eleitoral e pluralismo, liberdades civis, funcionamento do governo, participação popular e a cultura política. Nela, ocupamos a 45ª posição, ao lado de países de democracia imperfeita, dentre os quais, pasmem, estão democracias de forte tradição como a francesa (29ª), a italiana (31ª) e a grega (32ª). A Índia, por exemplo, está na mesma faixa do Brasil, ocupando o 39º lugar. Ora, há 50 anos nosso país entrava na escuridão de um golpe militar que durou 21 anos, tendo fixado as linhas mestras de sua democracia apenas a partir de 1988, com a chamada Constituição cidadã, que veio atender as demandas da sociedade organizada. Sob uma pletora de liberdades, direitos e deveres, garantidos pela CF, realizou-se o pleito mais competitivo das últimas décadas. Índia A animação da vida cívica que se viu no último pleito constitui expressiva amostra da efervescência inerente às democracias incipientes. Não há motivo para assombro. Se formos projetar os tipos de voto dados aos candidatos da situação e da oposição, domingo passado, encontraremos pontos em comum com as competições de outros países. Em maio deste ano, por exemplo, o partido nacionalista da Índia obteve vitória esmagadora sobre o partido do Congresso, acabando com 10 anos de poder da dinastia Ghandi-Nehru, deteriorada (sabem por quê ?) pelo precário crescimento do país e por uma batelada de escândalos de corrupção. EUA Já nos Estados Unidos, a votação dos democratas é geralmente associada a grupos e setores avançados, progressistas, simpáticos às causas sociais ; os votos republicanos são oriundos de polos conservadores nas áreas dos costumes (contra o aborto, contra o casamento gay e a legalização de drogas), dos valores morais e da economia (defesa do Estado-mínimo, redução de impostos, privatizações, fim de programas sociais, etc.). Lá, a linguagem da "lama" (mudslinging) é frequente e intensa, sendo usada de forma intensa na mídia eletrônica. Aqui, dois tipos de voto Por aqui, essa estratégia acabou sendo usada pesadamente e com efeitos deletérios. Cada exército lutou por sua meta : de um lado, a continuidade do ciclo petista, de outro, a abertura de uma nova era. Por aqui, mais que uma luta esganiçada entre regiões, como incautos chegaram a enxergar, o que se viu foi uma batalha entre duas forças : uma, abrigando o voto material ; outra, o voto valorativo. A primeira reúne os contingentes atentos às coisas materiais, concretas, como os pacotes assistencialistas do governo - bolsa família, luz para todos, minha casa, minha vida, etc. O sufrágio ligado ao bolso e à barriga foi despejado nas urnas, sobretudo, pelas massas que dependem do Estado. A segunda força votou na carta de valores : a ética, a dignidade, a seriedade, a moral, tendo como pano de fundo, o repúdio aos escândalos e às denúncias. O voto material suplantou o voto valorativo.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Porandubas nº 419

O Brasil dividido ? O Brasil saiu das urnas rachado ao meio. O racha, ao contrário do que muitos pensam, não mostra um país separado por regiões - Nordeste contra o Sudeste - mas por votos. É só olhar a aritmética eleitoral. Dilma conseguiu uma montanha de votos no Nordeste - mais de 12 milhões de votos de maioria, ou seja, 71% dos votos. Apenas 29% foram para Aécio. Minas, o ponto nevrálgico No país, Aécio perdeu por três pontos. O que aponta para seu Estado, MG, onde Dilma venceu por quase cinco pontos (4,82%), cerca de 550 mil votos. Se Aécio tivesse lá metade dos pontos de vantagem que obteve em SP, venceria. No maior colégio eleitoral (SP), Aécio ganhou de 64,31% a 35,62%, uma diferença de 28,62%. Como se recorda, os tucanos prometiam uma vitória em Minas com uma vantagem de mais de três milhões de votos. Divisão mal feita Se o país fosse dividido em dois, por regiões, como alguns radicais chegaram a propor nas redes sociais, não seria o Nordeste contra o resto. Ao Nordeste, seriam somados os Estados de Minas e RJ, onde a presidente obteve 58% dos votos válidos contra 42% da votação dada a Aécio. Dilma, pior em 15 Estados Em comparação com o 2º turno da eleição presidencial de 2010, quando venceu pela primeira vez, a presidente Dilma Rousseff piorou seu desempenho em 15 Estados e no DF. Nos demais 11 Estados, ela teve votação porcentual superior à registrada há quatro anos. Os maiores avanços ocorreram em SE e no AC, onde a votação da presidenta aumentou 25%. Logo a seguir aparecem RR (24%) e RN (18%). Todos nas regiões Norte e Nordeste. No outro extremo, as maiores quedas proporcionais ocorreram em DF (-28%), SP (-22%), AM (-20%) e SC (-18%). Melhor desempenho Na região Nordeste, maior reduto de Dilma, ela conseguiu melhorar seu desempenho em seis dos nove Estados da região. Além de SE e RN, houve aumento expressivo de sua parcela de votação em AL (16%) e no PI (12%). Onde houve piora, a queda foi pequena : 1% ou menos na BA, no CE e no MA, e 7% em PE, onde ganhou a campanha, para surpresa de muita gente que esperava vitória de Aécio, depois de receber o apoio da família de Eduardo Campos. Voto material x voto valorativo O que este consultor enxerga é uma grande divisão na tipologia eleitoral. Enxergo duas grandes modalidades de voto : o voto material, que abriga as coisas concretas - as bolsas, as casas, a luz, as escolas, hospitais - e o voto valorativo, que explica a influencia dos valores - ética, moral, honestidade, dignidade, respeito, combate à corrupção em todas as áreas, etc. Pois bem, o voto material é o voto mais identificado com Dilma e o voto valorativo foi dado em maior profusão a Aécio. Não significa dizer que Dilma não recebeu votos valorativos. Ela os recebeu, mas em menor quantidade que Aécio. A recíproca é verdadeira. Regiões dependentes do Estado Daí a explicação que mostra as regiões mais dependentes do Estado votando maçicamente em Dilma. Em MG, por exemplo, a região Norte do Estado se assemelha ao Nordeste. Já o sul desenvolvido encheu mais as urnas de Aécio. Levantei esta hipótese do voto valorativo x voto material no sábado, meia noite, no Painel da Globo News. Instigado por William Waack que tipo de voto seria majoritário, respondi na lata : o voto material. Foi o que deu. Diálogo, palavra chave Ainda bem que a presidente Dilma cravou a palavra correta, em seu primeiro discurso depois de eleita, para definir sua missão nos tempos tensos que virão : diálogo. O Brasil que saiu das urnas, após assistir a mais virulenta campanha desde os idos de 1989, está rachado ao meio. A profunda divisão que se formou no seio de grupos, setores e regiões, poderia, até, ser considerada sinal de avanço político, pelo entendimento de que o escopo democrático se inspira na disputa entre contrários, se chegássemos ao final do pleito com o peito estufado de animação cívica e não com arsenais cheios de ódio e desejo de vingança. Juntar os cacos À presidente caberá a missão de juntar os pedaços partidos do corpo político nacional. Vai comandar um país conflagrado, fracionado em duas grandes bandas, separado por gigantesco apartheid, que lhe vai exigir extraordinário esforço para recompor a união da comunidade política, destemperada ao correr da campanha eleitoral pelo molho da discórdia. A agressividade da linguagem usada pelos candidatos deixará feridas abertas por um bom tempo, eis que os eixos centrais da política foram entortados : adversários passaram a ser inimigos ; o combate às ideias cedeu lugar ao embate pessoal ; a carga expressiva da competição eleitoral saiu da régua do respeito para descambar no tiroteio chulo. Não será fácil reconstruir a mesa da comunhão nacional, unir os sonhos da coletividade. Apagar o 'nós e eles' A cisão social vem sendo, há tempos, alimentada por recorrente discurso com foco na luta de classes, fenômeno que abandonou as ruas e foi apagado do discurso político desde a queda do Muro de Berlim. Por essas bandas, no entanto, a insistência de um partido e suas principais lideranças em manter vivo o alfabeto da separação - "nós e eles", "elite branca contra os miseráveis", "ricos e pobres", "Nordeste contra Sudeste" - contribuiu sobremaneira para expandir os atritos na esfera social, formando bolsões de animosidade entre grupos partidários, exércitos militantes e entidades com feição política, como centrais sindicais. Forte classe média O abecedário separatista não vingou por algumas razões, entre as quais pelo fato de estar defasado no tempo e no espaço - principalmente neste nosso espaço habitado por forte classe média - e ainda porque as fontes primárias da pregação foram envolvidas, de forma direta ou indireta, pela intensa fumaça de escândalos, desde os antigos, como o mensalão, e mais recentes, como o affaire da Petrobras. O discurso acabou perdendo credibilidade ao bater em ouvidos descrentes, fazendo eco apenas em grupos limitados. Pontes de equilíbrio Ante esse quadro, emerge uma tarefa monumental a ser desempenhada pela presidente reeleita : apaziguar a Nação repartida em raiva e mágoa. O caminho a seguir é longo, exigindo complexa engenharia na construção de pontes - perfis respeitados, críveis, sérios, preparados. Sua missão : aplainar o terreno esburacado e abrir canais de acesso nas áreas política, social e institucional. Urge levantar o pressuposto de que os programas de governo em qualquer esfera temática, para serem bem recebidos pela sociedade, hão de exigir uma comunidade pacificada, harmônica, identificada com grandes causas. Barreiras Na frente política, a engenharia de pontes, liderada por renomados articuladores, deverá ter uma dificuldade a mais : enfrentar os obstáculos gerados por um arco partidário mais amplo. Na Câmara, tomarão assento 28 partidos, a maior parcela constituída de siglas médias e pequenas, que certamente desejarão participar da administração. Maior fragmentação partidária vai requerer maior atenção na composição de interesses. O dilema se escancara. No momento em que se clama por instrumentos para tirar a política do poço da decadência moral - esforço que exigirá um mutirão pela reforma política - o novo governo terá de compor com mais partidos sedentos de poder. Um desafio e tanto. Junto aos grandes partidos a tarefa de harmonização também não será fácil. Sociedade organizada Papel importante terão também as entidades de intermediação social, pois o poder político encontrará nelas o contraponto para exigir mudanças. Em suma, aos vitoriosos caberá o exercício de tomar o pulso da comunidade política e evitar verbos palanqueiros que instiguem a animosidade e a formação de ilhas de discriminação no arquipélago social. Aos derrotados, impõe-se o dever democrático de aceitar os resultados e, da mesma forma que os vitoriosos, fechar o dicionário separatista. Pátria amada Nunca foi tão necessário um pacto pela harmonia social, conduzido com bom senso e emoldurado pelo ideário que ampara o conceito de Pátria, assim expresso pelo magistral escritor argentino, José Ingenieros : "os países são expressões geográficas e os Estados são formas de equilíbrio político. Uma Pátria é muito mais que isso : é o sincronismo de espíritos e corações, comunhão de esperanças, homogênea disposição para o sacrifício, aspiração à grandeza". Se o próximo governante estiver imbuído desse sentimento, veremos cenários menos turbulentos. Desse modo, o Brasil poderá virar uma página muito dolorida e substituir o espelho retrovisor pelas luzes do amanhã. Temer, o articulador O vice-presidente Michel Temer terá papel preponderante na engenharia da articulação política. Presidiu a Câmara Federal por três vezes, líder do PMDB por duas vezes, conhece bem as casas congressuais. Já teve uma primeira conversa com a presidente sobre a articulação política. Será um dos vértices dessa engenharia de pontes com o Congresso e a sociedade. Ademais, o PMDB se fortalece por ter feito o maior número de governadores, sete. A bem da verdade Pinço de minha agenda, a mensagem :" P.S. Às 13h25 do dia 23 de maio de 2014, aqui em meu escritório, o candidato a deputado, Galeno, garantiu a este incrédulo consultor que o próximo governador do RN será Robinson Faria, vencendo o candidato Henrique Alves". Pois bem, hoje, 28 de outubro, às 13h25, o deputado estadual eleito Galeno Torquato, o segundo mais votado do Estado, lembrou-me o episódio. Foi a eleição mais retumbante na esfera dos Estados, eis que Henrique Alves, presidente da Câmara dos Deputados, tinha o apoio da maior fortaleza política já construída no RN : uma coligação de 18 partidos, 130 dos 167 prefeitos, 21 dos 24 deputados estaduais, seis dos oito deputados Federais, três atuais senadores e sete ex-governadores vivos. Moral da história : o candidato precisa combinar o jogo com o povo. Relato o caso por sua relevância para a história eleitoral brasileira.
quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Porandubas nº 418

Tudo verdim Abro a coluna com deliciosa historinha do Seridó/RN. Os cientistas envolvidos com o estudo da agropecuária garantem que o gado bovino somente visualiza uma cor, a escura. Mas o Honorim Medeiros (que Deus o guarde), da Fazenda Pedra do Sino, em Caicó, não foi na conversa e, com a ajuda do seu próprio rebanho, jogou por terra a tese dos doutores em zootecnia. Foi na seca dos anos 50. Exauridos todos os recursos de pastagem, o gado rejeitava os restos do capim seco, duro, esturricado, preferindo apenas a torta de algodão, verdinha, fresquinha, ótimo sabor. Honorim vivia preocupadíssimo, aperreado, sem mais saber o que fazer : - Tô lascado, desse jeito vou alisar ! Matutou, matutou, e, criativo, bolou a ideia genial. Foi até a Paribana, casa comercial do amigo Antonio da Viola e fez uma inflacionada compra, deixando o comerciante boquiaberto : - Tem óculos de carnaval ? Pois então me dá todo o estoque, todos da cor verde (antigamente, eram comuns os óculos de plástico, com alças de elásticos, usados exclusivamente no período momesco). O fazendeiro levou-os para a Pedra do Sino e fantasiou o rebanho. Na volta à cidade, o amigo quer saber dos resultados : - Como é Honorim, deu certo ? O fazendeiro abriu um sorriso de orelha a orelha e deu a boa nova : - Mas, home, é um milagre. O gado tá comendo até as cercas e os mourões das porteiras ! (Quem conta em Segura Essa é Orlando Rodrigues) Quem ganha ? Em todos os lugares, a recorrente pergunta : e agora, quem ganha a campanha ? Mais uma vez, a bola de cristal está turva. E desta feita, não há esperança que as águas se acalmem e deixem a figura que está na frente. Tudo está mais embolado. Mas se as perguntas adiante forem respondidas, teremos chance de acertar as previsões : Aécio conseguirá retumbante vitória em seu Estado, MG, onde um governador do PT, Fernando Pimentel, eleito no primeiro turno, se transforma em cabo eleitoral de primeira linha de Dilma ? Dilma conseguirá expandir sua vitoria no Nordeste, onde teve 12,5 milhões de votos de maioria ? Aécio conseguirá expandir seus votos no Nordeste, a partir de PE, e sair dos 15% de votos que teve na região ? Ambos conseguirão aumentar seu cacife em SP e no RJ, grandes colégios eleitorais ? Hipóteses Todas as hipóteses acima são razoáveis para um e para outro, mas outra questão de colocar : a maioria de votos de Aécio no Sudeste conseguirá ultrapassar o latifúndio de votos de Dilma no Nordeste ? Se PE vai dar uma boa votação para Aécio, em função do apoio da família Campos a sua candidatura, a BA, que é o quarto maior colégio eleitoral do país, elegeu um governador do PT no primeiro turno. Jaques Wagner está, portanto, com a bola no pênalti para fazer mais um gol. A PB está dividida entre o tucano Cassio Cunha Lima e o socialista do PSB, Ricardo Coutinho, que apóia Dilma. O RN deu mais de 60% dos votos a Dilma. O CE, idem. PI e MA são redutos dilmistas. Já no Sul, Aécio tende a levar a melhor, inclusive no RS, onde terá o apoio do candidato Ivo Sartori, do PMDB. SP, a guerra maior Em SP, será travada uma guerra como nunca se viu. Os tucanos contam no Estado a maior rejeição ao PT - mais de 40% - entre todos os entes federativos. Mas o PT tem Lula. Será que o mosqueteiro-mor do partido está cansado ? Ou não tem mais munição ? Será que os artilheiros de pouco fogo - Fernando Haddad e Alexandre Padilha - terão pólvora para gastar ? E Aloizio Mercadante, que já foi candidato ao governo ? E Marta Suplicy, a maior herdeira dos votos periféricos do PT em SP ? Onde estas pessoas se encontram ? PMDB unido Já o PMDB, sob o comando de Michel Temer, deu inequívoca demonstração de força e unidade, na segunda-feira passada, quando os prefeitos do partido, vice-prefeitos, vereadores e lideranças regionais compareceram a um encontro-almoço numa churrascaria do bairro do Ipiranga. O único ausente da grande festa foi o candidato do PMDB ao governo, Paulo Skaf, que não recebeu menção ou lembrança na festa. As bases saíram motivadas para a batalha final. Marina e Aécio Marina, ufa, acabou dando seu apoio a Aécio Neves. Mas parcela de seus eleitores já havia decidido apoiar o candidato. Outra parcela, principalmente os eleitores de Marina no Nordeste, migram em direção à candidata Dilma. Afinal, os eleitores de Marina e Dilma são muito próximos. No Sudeste, a distância é maior, eis que parcela de ambos habita os andares do meio da pirâmide. Marina teve uma grande votação no Rio. Irá toda para o tucano ? Debates Ontem, na TV Bandeirantes, foram reiniciados os debates. Apenas corroborarão as decisões já tomadas por grupos e camadas de eleitores. Serão poucos aqueles que deixarão um candidato por outro em função de debate eleitoral. O que pode ocorrer é a migração de eleitores das bases que tendem a aderir a candidatos com melhores chances de vitória. Nesse sentido, esses eleitores querem se sentir vitoriosos. E sair das eleições de cabeça alegre. Teremos debates, ainda no SBT, TV Record e TV Globo. Os juízes I Os juízes, ensinava Francis Bacon, devem ser mais instruídos que sutis, mais reverendos do que aclamados, mais circunspectos do que audaciosos... e completava o velho filósofo : "o juiz deve preparar o caminho para uma justa sentença, como Deus costuma abrir o seu caminho elevando os vales e abaixando as montanhas, deve guardar-se de conclusões duras e inferências desmedidas, porque não há pior tortura do que a tortura das leis". Os juízes II Esta semana, este consultor ficou pasmo. Ao tomar conhecimento da decisão de uma juíza (até imaginava que as mulheres juízas tivessem mais humanidade que os homens juízes) no caso de um pleito de senhora de 97 anos, por meio de uma liminar apresentada por um advogado. Tendo uma síncope, foi internada em regime de urgência na UTI de um hospital. Precisava urgentemente ser atendida. A juíza negou provimento à liminar. Por erro procedimental. Faltava um documento, alegou. Que foi imediatamente providenciado. Mesmo assim, decidiu encerrar o recurso. Deixando no ar o alerta : não quero entrar no mérito. Em outras palavras, queria dizer : pouco me importa se a senhora vai morrer, agora, daqui a cinco minutos ou amanhã. Meu olho é para o procedimento. Meu Deus do céu : onde está o bom senso ? O que é ser justo ? O que é fazer Justiça ? Como garantir acesso do povo à Justiça quando, no meio do caminho, há um naipe de juízes com essa índole ? Integridade Acima de todas as coisas, a integridade é a virtude que na função caracteriza os juízes, ensina Bacon. Será que podemos atribuir a Sua Excelência, a tal juíza insensível, a virtude da integridade ? Mais uma lição - Nas causas de vida ou morte, devem os juízes não esquecer que com a Justiça está a misericórdia, para castigarem com olhos severos o exemplo, mas com olhos misericordiosos a pessoa. (Francis Bacon, em Ensaios, Capítulo sobre A Judicatura). (P.S. Seria muito útil que a Excelentíssima juíza pudesse ler essa modesta lição do grande filósofo inglês). Grandes juízes Este consultor não tem dificuldades em identificar grandes juízes. Magistrados que encarnam valores e virtudes do humanismo. Querem um exemplo ? O presidente da mais alta Corte do Judiciário paulista, o desembargador, José Renato Nalini, que luta por uma Justiça mais próxima ao cidadão. Ecos da eleição I A disputa produziu uma modelagem formada por três tipos de votos : o do bolso, com efeito na barriga ; o do coração e o da cabeça. O primeiro saiu da imensa população - cerca de 60 milhões de pessoas - que recebe o adjutório do governo, por meio dos programas Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos e outros. A equação é : bolso cheio enche a geladeira, que enche a barriga, gerando um voto de reconhecimento e de agradecimento. É o que explica os cerca de 60% da votação que a presidente Dilma obteve no Nordeste. O voto do coração foi dado, sobretudo, à ex-senadora Marina Silva, sob o empuxo da onda emotiva que se formou a partir do acidente que matou o ex-governador de PE, Eduardo Campos. Já o terceiro tipo, o voto racional, mesmo em expansão no país, sai da cabeça dos habitantes do meio da pirâmide, eleitores de maior renda, principalmente das regiões Sul e Sudeste, onde estão os maiores colégios eleitorais do senador Aécio. Ecos da eleição II A tal "nova política" assentará praça na próxima legislatura ? Infelizmente, não. Os resultados mostram, de um lado, grande renovação de quadros (46% de novos deputados na Câmara), e de outro, uma representação que espelha a continuidade de grupos familiares, ao lado de fortes bancadas de setores conservadores. Parece um paradoxo. O clamor das ruas por mudança não furou o bloqueio de bastiões tradicionais. A bancada de empresários subirá de 220 para 280 deputados ; a dos ruralistas vai crescer de 130 para 160, aumento de 23% ; e a dos sindicalistas diminui de 83 para 46, ou seja, 44% ; já a bancada da "bala", conhecida por agregar perfis de ex-militares e de posições radicais, ganhou votação expressiva ao lado da ala de 20 pastores e bispos, irmanados no evangelismo. Por último, ressalte-se a maciça votação de atores midiáticos, como Celso Russomano (que amealhou mais de 1,5 milhão de votos) e o palhaço Tiririca (mais de um milhão), que puxam seis candidatos de suas legendas, mais uma contrafação da velha política.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Porandubas nº 417

Coronel, eis as urnas... O coronel Lucas Pinto, que comandava a UDN no Vale do Apodi/RN, não dormia em serviço. Quando o Tribunal Eleitoral exigiu que os títulos eleitorais fossem documentados com a foto do eleitor, mandou um fotógrafo "tirar a chapa" do seu rebanho, aliás, do seu eleitorado. Numa fazenda, um eleitor tirava o leite da vaca quando foi orientado a posar para a foto. Não teve dúvida : escolheu a vaca como companheira do flagrante. Mas o fotógrafo, por descuido, deixou-o fora. O coronel Lucas Pinto não teve dúvida. Ao entregar as fotos aos eleitores, deparando-se com a vaca, não perdeu tempo e ordenou ao eleitor : "prega a foto aí, vote assim mesmo, na próxima eleição, nós arrumamos a situação". Noutra feita, o coronel levou as urnas de Apodi para o juiz, em Mossoró, quase 15 dias após as eleições. Tomou uma bronca. - Coronel, isso não se faz. As eleições ocorreram há 15 dias. - Pode deixar, "seu" juiz. Na próxima, vou trazer bem cedo. Não deu outra. Na eleição seguinte, três dias antes do pleito, o velho Lucas Pinto chegava com um comboio de burros carregando as urnas. Chegando ao cartório, surpreendeu o juiz : - Taqui, seu juiz, as urnas de Apodi. - Mas coronel, as eleições serão daqui a três dias. - Ah, seu juiz, não quero levar mais bronca. Tá tudo direitinho. Todos os eleitores votaram. Trouxe antes para não ter problema. Idos das décadas de 50/60. Não havia grandes empreiteiras financiando campanhas. A empreitada ficava mesmo a cargo dos coronéis. A voz de SP Primeiro, vale ressaltar a onda da razão. Ela veio e empurrou Aécio para o segundo turno. E veio de onde este escriba previa há bastante tempo : de SP, onde reside o eleitorado mais racional do país. Há um mês, no meu artigo dominical no Estadão, eu dizia que SP, com seus maiores agrupamentos especializados, deveria sinalizar o segundo turno, eis que no Estado se concentra a maior oposição ao PT. SP é um território à parte. A voz crítica se faz ver até nos municípios que são berço do PT, como São Bernardo do Campo e em outros do ABC paulista, onde Aécio teve mais votos que Dilma. A batalha de SP O artigo sobre SP abria assim : Non ducor, duco. "Não sou conduzido, conduzo". O lema do brasão da cidade de SP, criado em 1916 pelo prefeito Washington Luiz, que veio a assumir, depois, a presidência da República, expressa de modo adequado a importância do Estado mais poderoso da Federação no pleito eleitoral deste ano. Ancorando a hipótese, há uma densa lista de superlativos : cerca de 32 milhões de eleitores ; as mais populosas classes sociais, com destaque para três contingentes de classe média (A, B e C) e super-povoadas margens sociais ; os maiores conglomerados de categorias setoriais, abarcando trabalhadores e profissionais liberais ; centrais sindicais e entidades de áreas produtivas ; movimentos organizados, que promovem intensa mobilização e abrem a locução das ruas ; núcleos em defesa de direitos humanos, minorias e igualdade de gêneros ; e, para dar vazão às demandas dessa gigantesca teia de representação, SãP dispõe de vigorosa tuba de ressonância, cujo eco se faz ouvir em todo o território nacional. O meio da lagoa Mais adiante, arrematei : "costuma-se dizer que o pleito será decidido pela passagem do transatlântico eleitoral pelo Triângulo das Bermudas, constituído por SP, MG e RJ, os três maiores colégios. Ou ainda que Minas é quem decide, sob o argumento de que o Estado do Sudeste é uma encruzilhada que representa a síntese do país. Ora, quando há na disputa dois candidatos mineiros (Aécio e Dilma), a tese parece fraquejar. O fato é que SP possui os maiores exércitos da guerra eleitoral. As ondas de seu mar costumam empurrar para longe os eventos que geram : protestos, denúncias, discursos positivos/negativos, avaliações de candidatos, percepções sobre o cotidiano. Na simbologia da pedra jogada no meio da lagoa (associada à classe media), o Estado é a força centrípeta que faz as marolas chegarem às margens... a batalha de SP será decisiva". Marina desconstruída Marina sofreu os efeitos do bombardeio. Não resistiu, conforme também apontávamos em entrevista no programa Entre Aspas, da Globo News, há um mês e meio. Não tinha estrutura, seu discurso passou a mudar, o programa de governo ganhou uma bateria de críticas. E até foi flagrada em contradição forte ante a questão do voto que deu contra a CPMF. Magoada com o tiroteio mais retumbante da candidata Dilma, apoiará Aécio Neves, no que será seguida pela família de Eduardo Campos. É claro que exigirá colagem de programas e ajustes principiológicos, particularmente no que diz respeito à sustentabilidade e ao mandato de cinco anos, sem reeleição, nos cargos ao Executivo. Triângulo das Bermudas Este consultor volta a dizer : a decisão do segundo turno passará pelas fortes correntezas que se desenvolvem no Triângulo das Bermudas : SP, MG e RJ. Em SP, Aécio poderá aumentar a margem de mais de quatro milhões de votos de maioria que obteve sobre a presidente Dilma, caso consiga a participação e o empenho dos tucanos, a partir do governador eleito, Alckmin. Como se sabe, este já está sendo apontado como o candidato tucano em 2018. Como Aécio defende um mandato de cinco anos, sem reeleição, a receita cai bem no colo de Alckmin. Em Minas, Aécio precisa trabalhar com a mineiridade e vencer de ponta a ponta, não apenas no sul do Estado. Mas terá contra ele o governador eleito, Fernando Pimentel. Briga de foice no escuro Em Minas, veremos uma briga de foice no escuro. Aécio e Anastasia, de um lado, com seus sabres ensarilhados, e de outro, Dilma e Pimentel, guerreando para evitar que os mineiros se reúnam em torno do tucano. Dilma até poderá cantar : quem conhece Aécio não vota nele, toada que Pimentel já anuncia não ser boa. Em SP, Lula fará o que Maquiavel soprar no seu ouvido para aumentar a votação de sua pupila. Ele se mostra surpreso com a grande votação de Aécio, mas ele próprio é, em parte, responsável por esta situação, quando dá força ao slogan "nós contra eles", sem perceber que esse mote não bate bem na cabeça da poderosa classe média do Estado. O Nordeste Já na região nordestina, a candidata Dilma continuará a ter sua principal fortaleza, que abriga os milhões de famílias sob o teto da Minha Casa, Minha Vida, e diante do pão sobre a mesa, garantido pelo gigantesco programa Bolsa Família. Dilma quer ter mais de 60% dos votos na região para compensar eventual perda de votos no Sudeste do país. Em PE, por exemplo, deverá intensificar a mobilização, eis que Marina ganhou no Estado e a família Campos deverá fazer campanha para Aécio. Ela conta com um forte reduto na BA, onde o governador Jaques Wagner, mais uma vez, vira a campanha e coloca o PT na dianteira. O RJ No RJ, Dilma terá dois grandes palanques : o de Pezão e o de Crivella. Mas Aécio, que tem uma banda carioca no perfil, poderá aumentar a sua fatia, surfando na "onda da razão", que pega principalmente eleitores do meio da pirâmide. Rolo compressor O rolo compressor das máquinas tende a favorecer os candidatos situacionistas. É o que se viu, aliás, na última semana do primeiro turno, quando os candidatos governistas encostaram e alguns ultrapassaram os oposicionistas. Neste caso, urge sinalizar a força da candidata Dilma no segundo turno, apesar de se constatar a forte máquina tucana, que poderá beneficiar Aécio, a partir de SP e PR, onde dois tucanos erguem a bandeira da vitória. Debates e desconstrução É previsível um cenário de defesa forte de programas e ideias, mas não se descarta a probabilidade da continuação da campanha negativa. De um lado, o pano de fundo serão os escândalos e a corrupção, de outro, "os fantasmas" do passado, como crava a presidente Dilma, mostrando os traumas na economia no segundo ciclo FHC. Aécio deve retrucar, resgatando o Plano Real e mostrando os "monstros" de hoje. Será uma luta sangrenta. Ou tudo ou nada para os dois lados. Congresso fragmentado Teremos um Congresso mais fragmentado : as 22 siglas na Câmara passarão para 28 e das 16 no Senado, teremos 18. O rolo compressor governista será até maior, eis que os partidos da base elegeram 304 deputados Federais, mais que o dobro dos 138 deputados eleitos pelas 10 siglas que apoiaram o oposicionista Aécio Neves. Mas isso não significa alinhamento automático. Muitos poderão sair de seu lado e aderir a outro. Congresso conservador O Congresso será mais conservador, bastando ver os números : de 220, o número de empresários passará para 280 ; os sindicalistas diminuem de 83 para 46, ou seja, 44%; e os ruralistas sobem de 130 para 160, e, aumento de 23%. 46% - esse é o índice de renovação na Câmara, mas não significa compromisso com a "nova política", eis que muitos pertencem aos quadros tradicionais da política regional. A religiosidade também se expande : pastores e bispos aumentam para 20. Pesquisas erram ? Em nove Estados, as pesquisas apresentaram índices diferentes dos resultados : CE, PE, BA, RS, MG, DF, RJ, SP e PR. Alguns furos : Garotinho não vai ao segundo turno, conforme os Institutos de Pesquisa anunciavam ; Camilo Santana, do PT do CE, teve quatro pontos a mais que os índices de pesquisas ; Padilha, em SP, também teve cinco pontos a mais ; Rui Costa, na BA, idem, com cinco pontos a mais. Os Institutos precisam aumentar suas amostras e fazer controles mais rígidos. Posições radicais Posições radicais deram alta visibilidade a seus porta-vozes, que ganharam uma montanha de votos. Jair Bolsonaro teve 465 mil votos ; o delegado Eder Mauro teve 266 mil votos no PR ; no RS, Luiz Carlos Heinze teve 162 mil votos ; em GO, o delegado Waldir foi o mais votado, com 275 mil votos ; o coronel da reserva, Alberto Fraga, no DF, ganhou 155 mil votos. Midiáticos e religiosos Celso Russomano, do PRB, liderou com 1.524.361 votos ; Tiririca, do PR, abocanhou 1.016.796 ; pastor Eurico, do PSB, 233.762 ; pastor Marco Feliciano, 398.087 ; Paulinho da Força, do SD, 227.186. Maior perda A maior perda absoluta na Câmara é do PT : 18 deputados. PT fica com 70 (tinha 88) e o PMDB terá 66 (tinha 71). A terceira bancada será a do PSDB, com 54 deputados (tinha 44) ; a quarta bancada será a do PSD, com 37 (tinha 45) e a quinta será a do PP, com 36 (tinha 40). Um voto Alguns candidatos não tiveram um voto sequer, como acabo de ver na lista de deputados estaduais do RN. Mas Selma Silva, do PHS, teve um voto. Um. Donde se conclui que deve ter sido o dela. Merece destaque. Os outros podem até ter desistido. Selma, não. Marina, na quinta Marina anunciará seu apoio na quinta-feira. Tudo indica que acompanhará Aécio Neves.
quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Porandubas nº 416

Abro a coluna com uma historinha de advogado. Pequena doação Uma instituição de caridade nunca tinha recebido uma doação de um dos advogados mais ricos da cidade. O diretor da instituição decidiu ele mesmo falar com o advogado : - Nossos registros mostram que o senhor ganha mais de R$ 300.000,00 por ano e, assim mesmo, o senhor nunca fez uma pequena doação para nossa caridade. - O senhor gostaria de contribuir agora ? O advogado respondeu : - A sua pesquisa apurou que minha mãe está muito doente e que as contas médicas são muito superiores a renda anual dela ? - Ah, não ! - murmurou o diretor. - Ou que meu irmão é cego e desempregado ? - continuou o advogado. O diretor nem se atreveu a abrir a boca. - E ainda, que o marido da minha irmã morreu num acidente e deixou ela sem um tostão e com cinco filhos menores para criar ? - resmungou o advogado com ar de indignação. O diretor, sentindo-se humilhado, retrucou : - Desculpe, eu não tinha a menor ideia de tudo isso... - Então, se eu não dou um tostão para eles, por que iria dar para vocês ? E assim, o advogado fechou a conversa. (Enviado pelo amigo Luis Costa) Ufa, chegando ao final A corrida eleitoral chega ao seu final. Com registro de alguns fenômenos e situações inusitadas : 1. A campanha mais imprevisível dos últimos tempos ; 2. A campanha mais feroz e com linguagem mais agressiva ; 3. Possibilidade de um candidato ultrapassar uma adversária nos últimos dias ; 4. A possibilidade da candidata à reeleição Dilma Rousseff ganhar no primeiro turno ; 5. A indicação de que, mesmo ganhando a presidência da República, o PT sairá deste pleito menor do que entrou ; 6. A visão de que os tucanos, mesmo ganhando no maior colégio eleitoral do país - SP - também sairão menores do pleito ; 7. A surpresa de ver o PT registrando um teto de voto em SP muito inferior ao seu patamar histórico. São sinais de que as coisas estão mudando. Linguagem ferina A agressividade da campanha chama a atenção. A chamada campanha negativa, com foco na desconstrução da imagem de Marina Silva, deu resultados. Marina aparecia como um perfil sagrado, intocável em sua ética e moral, crível, encarnando a nova política. Um perfil exótico, com seu timbre agudo de voz, vestes suaves, cabelo em coque, Marina parecia uma fortaleza imbatível. Ou, como diria La Fontaine, um caniço, no deserto, que se dobra ao vento mas não se quebra, "um roseau pensant". O tiroteio sobre sua imagem, que chega aos finais da campanha com a trombeta de que ela votou contra a CPMF, acabou esfarelando suas possibilidades. No debate do domingo passado, viu-se seu abatimento. Aécio correndo Sob esse bombardeio incessante, o tucano Aécio Neves corre para ultrapassar Marina nesses últimos dias. Mas essa final de reta, digamos assim, tem alguns obstáculos. Aécio carece mostrar força em seu Estado, MG, onde seu candidato, Pimenta da Veiga, ameaça perder em primeiro turno para o petista Fernando Pimentel. E ele mesmo, Aécio, precisa chegar perto de Dilma e ultrapassar Marina no segundo maior colégio eleitoral do país. Em SP, subiu seis pontos nas últimas semanas. Se conseguir segurar esta tendência, é possível que no domingo, 5/10, adentre os portões do segundo turno. E Dilma, hein ? Pois é, Dilma está na faixa dos 40%. Se subir mais quatro pontinhos até domingo, tirando de Marina e deixando Aécio onde está, Dilma chegará aos 45%, com Marina descendo para 21% e Aécio se mantendo em 20%/21%, ou seja, deixando a candidata petista com pequena margem na frente de todos os candidatos. Seria uma vitória no primeiro turno. Possibilidade ? 30%. E 70% de ocorrência do segundo turno. Impressionante : a esta altura, nem os melhores adivinhos conseguem ver as coisas claras em suas brilhantes bolas de cristal. A raposa e o leão Atenção : "Um príncipe precisa usar bem a natureza do animal ; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos". Conselho do velho Maquiavel. Que arremata : "Não é necessário ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las". PT e PSDB menores O PT fará um numero menor de governadores do que o alcançado em 2010. Deverá fazer quatro governadores (PI, MG, MS e AC). Pode, até, chegar a cinco, com Tasso Genro ganhando no RS para a senadora Ana Amélia, do PP. Mas não fará as bancadas na Câmara e no Senado com os números que pregava. E sairá chamuscado no maior colégio eleitoral do país, SP, onde a rejeição ao PT ultrapassa o índice de 30%. O PSDB, mesmo ganhando SP, mas perdendo a eleição Federal, deverá diminuir sua cota no Senado e na Câmara. Passará mais uma temporada Federal na oposição e poderá assistir a uma debandada de tucanos rumo a outras florestas. Seca e Alckmin ? Perguntam-me a razão pela qual Geraldo Alckmin navega tão bem pela seca que atinge SP ? Ou seja, porque a falta d'água nas torneiras não seca os votos do candidato Alckmin ? Esboço uma resposta : os eleitores tendem a considerar São Pedro como o culpado ; o argumento de falta de investimentos em obras de captação e represamento é coisa abstrata para as margens sociais ; a polarização entre PT e PSDB tem seu maior índice em SP, o que insere o PT na maior taxa de rejeição (ultrapassando 30%) ; os votos de classe média, por aqui, são racionais e inclinam-se para Alckmin ; o voto emotivo decresce ; o prefeito Haddad não tem sido bem avaliado, funcionando como um anti-cabo eleitoral do PT. Barbosa sem carteira ? Joaquim Barbosa, até meses atrás poderoso chefe da mais alta Corte do Judiciário brasileiro, acaba de ver negado seu pedido para ter de volta sua carteira de advogado. Quem deu parecer contrário foi Ibaneis Rocha, presidente da OAB/DF. Mas o parecer será submetido à Comissão de Seleção da subsecional da Ordem. Que coisa, hein ? Quem ganha ? O PMDB deverá ser o partido com os maiores ganhos do pleito. Fará a maior bancada de governadores, a maior bancada de senadores, a de deputados estaduais e a segunda maior bancada de deputados Federais. Pulverização As Casas Congressuais terão uma nova Legislatura com bancadas mais pulverizadas. Na Câmara, 28 siglas deverão se fazer representar. O numero era de 22. PT em SP Se Alexandre Padilha não ultrapassar os dois dígitos de votos em SP será protagonista da maior derrota do PT em SP em todos os tempos. Candidatos na dianteira : Senado Hoje, a posição na dianteira é esta : região Sudeste - José Serra, PSDB/SP ; Antônio Anastasia, PSDB/MG ; Romário, PSB/RJ ; Rose de Freitas, PMDB/ES. Região Sul - Álvaro Dias, PSDB/PR ; Dario Berger, PMDB/SC ; e Olívio Dutra, PT/RS. Região Centro-Oeste - Reguffe, PDT/DF ; Ronaldo Caiado, DEM/GO ; Simone Tebet, PMDB/MS ; e Wellington Fagundes, PR/MT ; Região Norte - Omar Aziz, PSD/AM ; Paulo Rocha, PT/PA ; Kátia Abreu, PMDB/TO ; José de Anchieta, PSDB/RR ; Acir Gurgacz, PDT/RO ; Gilvan Borges, PMDB/AP ; Gladson Cameli, PR/AC. Região Nordeste - João Paulo, PT/PE ; Tasso Jereissatti, PSDB/CE ; Geddel Vieira, PMDB/BA ; Fernando Collor, PTB/AL ; Roberto Rocha, PSB/MA ; Wilson Martins, PSB/PI ; Maria do Carmo, DEM/SE ; Fátima Bezerra, PT/RN e José Maranhão, PMDB/PB. Encerrando um ciclo Esta campanha fecha um ciclo de vida política no país. É pouco provável que tenhamos, em 2018, uma eleição nos moldes eleitorais desta. A previsão é a de que os políticos mudarão as regras. Para evitar o suicídio. Há muito tempo para a conferição deste cenário. Nascimento premiado Fundador da Nascimento Turismo e presidente do Sindetur-SP, Eduardo Vampré Nascimento receberá no dia 5/11, durante a WTM 2014, em Londres, o prêmio WTM Global Awards pela contribuição ao desenvolvimento e crescimento do Turismo no país. A homenagem faz parte de uma iniciativa do M&E, veículo media partner oficial da WTM no Brasil : "A notícia veio como uma surpresa muito agradável. É extremamente emocionante ser homenageado por uma entidade como a WTM. Espero que este prêmio sirva para encorajar outras pessoas do setor turístico a buscar e se dedicar, cada vez mais, ao desenvolvimento da atividade dentro e fora do país", diz Nascimento. Simples complicado A partir de 2015, mais de 140 atividades econômicas, equivalente a 500 mil empresas, poderão aderir ao novo Simples Nacional, sancionado recentemente pela presidente Dilma Rousseff, e que aperfeiçoa a Lei Geral da Micro e da Pequena Empresa. O objetivo é unificar impostos Federais, estaduais e municipais. Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sescon-SP, acredita que os avanços do novo Simples representam uma vitória, no entanto, os limites de enquadramento continuam baixos e a existência de uma nova tabela, com alíquota variando de 16,93% a 22,45%, impedem que o regime tenha amplitude maior. "Se não houver uma revisão destes números, aderir ao Simples pode não ser um bom negócio". Micro e pequenas empresas representam 20% do PIB brasileiro, respondem por 60% dos 94 milhões de empregos no país e constituem 99% dos seis milhões de estabelecimentos formais do país. A viabilidade de um político Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios : a)Avaliar a situação ; b) Adequar a relação recurso/objetivo ; c) Concentrar-se no foco ; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário ; e) Economizar recursos ; f) Escolher a trajetória de menor expectativa ; g) Multiplicar os efeitos das decisões ; h) Relacionar estratégias ; i) Escolher diversas possibilidades ; j) Evitar o pior ; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando ; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada ; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza" ; n) Não se distrair com detalhes insignificantes ; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário. A classe média, Colbert ! A política é um eterno retorno. Vejam este diálogo entre Colbert e o Cardeal Mazzarino, durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault : Colbert : Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, senhor superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço. Mazzarino : Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar na prisão. Mas o Estado é diferente ! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se. Todos os Estados o fazem ! Colbert : Ah, sim ? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis ? Mazzarino : Criando outros. Colbert : Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Mazzarino : Sim, é impossível. Colbert : E sobre os ricos ? Mazzarino : Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres. Colbert : Então como faremos ? Mazzarino : Amigo Colbert ! Tu pensas como um queijo, um penico de doente ! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres : as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos. Cada vez mais, sempre mais ! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média !
quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Porandubas nº 415

Lembram-se de Seu Lunga ? Faz tempo que ele desapareceu desta coluna. Vez ou outra, vem a pergunta : cadê Seu Lunga ? Respondo : está aposentado. Mas, com tanta insistência, abro uma janelinha para os leitores matarem a saudade. Apenas para lembrar a ficha do nosso protagonista : Seu Lunga, pai de 13 filhos, ourives em Juazeiro do Norte, vendedor de sucata. Tá com defeito ? Seu Lunga leva o aparelho eletrônico para a manutenção. O técnico pergunta : - Tá com defeito ? - Não, é que ele estava cansado de ficar em casa e eu o trouxe para passear. Vai sair nessa chuva ? Está caindo um toró em Juazeiro do Norte. Seu Lunga não se incomoda e se prepara para sair de casa. A mulher pergunta : - Vai sair nessa chuva ? - Não, vou sair na próxima. Acordou ? Seu Lunga acaba de levantar. O filho vem com a pergunta idiota : - Acordou ? - Não. Sou sonâmbulo ! Onde você está ? O amigo liga para sua casa e pergunta a Seu Lunga : - Onde você está ? E ele : No Pólo Norte ! Um furacão levou a minha casa pra lá ! Tomou banho ? Seu Lunga acaba de tomar banho e a mulher pergunta : - Você tomou banho ? - Não, mergulhei no vaso sanitário ! Quem sobe e quem desce ? Faltando 10 dias para as eleições, a pergunta mais ouvida em todos os ambientes é esta : quem subirá e quem cairá ? Tentarei dar uma resposta. Mantidas as condições de hoje, a situação deverá permanecer estável até o dia 5 ; mantida a tendência de queda lenta de Marina e recuperação de Aécio para as margens de um mês e meio atrás, ele poderá subir ao patamar de 22% e a ex-senadora descer para o 25º andar do prédio, o que resultaria em um empate técnico com o senador mineiro. Na reta final, a máquina tucana faria um esforço extraordinário para fazer com que o "vento da razão" sopre com mais força do que o "vento da emoção". Quanto à candidata Dilma, é mais provável que mantenha seu índice (entre 35% a 38%). Haverá tempo ? No território de Aécio, os assessores lidam com o dilema : haverá tempo para uma recuperação a ponto de fazê-lo desbancar Marina e entrar no segundo turno ? Este consultor acredita que o tempo é muito curto para fazer o cavalo tucano de Aécio disparar na pista. Tivesse a campanha mais duas ou três semanas, as chances de Aécio seriam bem maiores. A propósito, Guilherme Afif teria ganho de Eduardo Suplicy o mandato de senador, em 2006, caso a campanha se estendesse por mais duas ou três semanas. Encostou no Suplicy. Portanto, Aécio enfrenta a questão do tempo. O imponderável pode abrir a porta dele, dando chance ao segundo turno. Esse Imponderável da Silveira teima em fazer das suas.... Marina, a desconstrução O fato é que as estratégias do PT e do PSDB para desconstruir a imagem de Marina Silva têm dado certo. Passada a fase emotiva, o turbilhão de emoções provocado pela morte trágica de Eduardo Campos, as placas tectônicas do terremoto eleitoral começam a assentar e a colocar cada candidato em seu devido tamanho. Marina até que tentou se vitimizar, enxugando lágrimas e dando a "outra face" para os adversários baterem. Ora, o eleitor quer ver um perfil forte, resistente, capaz de reagir à altura ao embate político. Não quer se identificar com uma pessoa que seja incapaz de lhe defender. Nesse sentido, a estratégia de vitimização não deu certo. Marina deveria ter sido mais dura no ataque. Mutante ao extremo Outro fato que tem provocado polêmica, principalmente junto aos estratos mais racionais, é a mudança de posição. Nos últimos tempos, a Marina ambientalista, conservadora ao extremo, vai aliviando suas abordagens, mostrando intensa flexibilidade. Ela percebeu que a real politik - a nossa política e seus agregados - é um espaço de negociação, cooptação, regrado por velhos costumes. Ao mudar, a cada momento, sua imagem é burilada de acordo com as conveniências, passando a impressão de que não é firme, é leniente, cheia de dúvidas. Essa é outra nuance anotada pelos eleitores de classe média. Sudeste, maré enchente O Sudeste é a maré enchente de votos para Dilma e Marina. Esta tem maioria em SP, no ES e está em segundo no Rio. Aécio, por sua vez, precisa ganhar em Minas, seu Estado. Em SP, está bem atrás. Já Dilma lidera no Rio, tem uma grande votação no Nordeste e está em segundo lugar em SP. Portanto, a luta maior nessa reta final é aqui no Triângulo das Bermudas. Deu-se o vice-versa Dr. Dantinhas, ex-deputado da BA, chefe de poderoso clã político do Estado, neto do barão de Jeremoabo, foi convidado para ser padrinho de casamento da filha de um coronel do interior. No dia de viajar, recebeu um telegrama urgente : - Compadre, não precisa comparecer. Deu-se o vice-versa. A menina morreu. Polarização esvaziada Mesmo que a candidata Dilma seja a vitoriosa no plano Federal e os tucanos ganhem importantes Estados, como SP, PR e GO, o PT e o PSDB sairão menores da eleição. A velha polarização entre petistas e tucanos está desgastada. Essa corrosão, fruto do tempo, pode ser comprovada pela tênue disputa entre os dois partidos nos 27 entes Federativos. Ambos estão em disputa direta somente no MS, com o senador Delcídio Amaral, pelo PT, e Reinaldo Azambuja, do PSDB, o segundo colocado. De oito governadores eleitos em 2010, o PSDB deverá baixar para cinco ou seis. O PT, que elegeu cinco, pode cair para quatro. Dilma viaja A situação deve ser boa para as bandas de Dilma. Ela viaja hoje no final da tarde para a abertura da 69ª Assembleia das Nações Unidas. Amanhã, faz palestra na Conferência do Clima. Só deve voltar quinta-feira. Ou seja, perderá três dias de campanha. Deve estar tranquila. Marina, convidada para a Conferência do Clima, decidiu ficar aqui, para tentar segurar seu índice. O custo do blá blá blá A propaganda eleitoral gratuita custará, este ano, R$ 839,5 milhões em impostos com as inserções veiculadas entre 19/8 e 24/10. A quantia será descontada do total de tributos pagos pelas empresas de rádio e TV de sinal aberto, obrigadas a veicular a publicidade obrigatória. Prevista no PL Orçamentária Anual, a renúncia fiscal é tratada como gasto tributário. Cálculos de César Maia Em seu ex-Blog "Comparando as pesquisas do Datafolha de 8-9/9 e de 17-18/9 há alguns sinais que devem ser levados em conta. 1. Dilma manteve-se igual no Sudeste 28% e 28%. Manteve-se igual no Sul : 35% e 35%. Cresceu na margem no Nordeste : 47% e 49%. Da mesma forma no Centro-Oeste e no Norte : 30% e 32%, e 48% e 49% 2. Marina caiu no Sudeste : 36% e 32%. Caiu no Sul 28% e 25%. Caiu no Centro Oeste 35% e 31% e no Norte 32% e 28%. No Nordeste manteve-se quase igual : 31% e 32%. 3. Aécio cresceu no Sudeste e no Sul : 18% e 20%, e 20% e 22%. Cresceu de forma mais acentuada no Centro-Oeste : 16% e 23%. No Nordeste ficou igual : 8% e 8% e no Norte caiu um pouco : 10% e 8%. Aécio, com seus 8%, mantém-se muito longe das primeiras no Nordeste e Norte : Marina com média de 30% e Dilma 49%. No Sudeste, Sul e Centro-Oeste Aécio está num patamar de 21% em média. 4. São sinais que nas regiões do agronegócio e finanças (Sul/Sudeste/Centro-Oeste), Aécio tem crescido e trocado com Marina. 5. Reforçando esses sinais, estão as famílias com renda superior a 10 SM, onde Marina tem 32% e Aécio 31%, e com nível superior onde Marina tem 37% e Aécio 27%. No Nível Superior, Aécio cresceu de 22% para 27% e Marina caiu de 42% para 37%, numa troca nítida. Dentro da ideia de que o fator espacial é determinante, diremos que são dois cortes cruzados a favor de Aécio : Sudeste, Sul, Centro-Oeste com Nível Superior". A conferir essa tendência ! Três estreantes De 90 candidatos a deputado Federal que despontam no ranking dos bons de voto, apenas três são estreantes. Os 87 restantes são experientes ou têm um sobrenome de família tradicional na política. Redes sociais na campanha - I Três em cinco eleitores brasileiros estão nas redes sociais, algo em torno de 84 milhões de votantes. A campanha eleitoral entrou bem nos corredores eletrônicos. De julho até dias atrás, o Facebook registrou 58 milhões de mensagens relacionadas às eleições, propiciando curtidas, compartilhamentos, comentários a favor e contra. O monitoramento tem sido acompanhado pela cientista política norte-americana Katie Harbath, estudiosa do uso das redes em campanhas políticas, em passagem pelo país. Redes sociais na campanha - II Ocorreram cerca de nove milhões de interações com conteúdo relativo aos últimos dois debates entre presidenciáveis. Como explica Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA e mentor de planos da CIA, no livro "A Era Tecnotrônica", estamos abrindo as portas de um futuro, onde se enxergam coisas como : a escalada das classes médias, a expansão do setor terciário, o gigantismo dos núcleos universitários, as indústrias de ponta, o incentivo às modernas tecnologias e os trabalhadores bem formados e informados, entre outras. A importância da absorção do ferramental tecnológico pela política, em estágio avançado por aqui - eis que o Brasil está entre os cinco principais consumidores mundiais das redes - reside no fato de que este aparato eletrônico funciona como extensão da liberdade de expressão, um pulmão a oxigenar os fluxos institucionais, ampliando os circuitos da participação social, propiciando o deslocamento do discurso eleitoral para a esfera dos participantes. Lições de marketing 10 linguagens de campanha 1. A linguagem da afirmação. 2. A linguagem da factibilidade/credibilidade. 3. A linguagem das pequenas coisas. 4. A linguagem da participação - o nós versus o eu. 5. A linguagem da verificação/exemplificação - como fazer. 6. A linguagem da coerência. 7. A linguagem da transparência. 8. A linguagem da simplificação. 9. A linguagem das causas sociais - os mapas cognitivos do eleitorado. 10. A linguagem da tempestividade - proximidade (adaptado do meu livro Tratado de comunicação organizacional e política).
quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Porandubas nº 414

O candidato 'Pato' "Em setembro de 2009, fui a Campo Grande/MS fazer palestra sobre marketing político no 7º Encontro da União das Câmaras de Vereadores de Mato Grosso do Sul. Num grande auditório, havia mais de 500 assistentes. Eu sempre digo que posso falar sobre marketing político durante vários dias sem parar, pois acumulei 33 anos de prática em mais de 100 campanhas. Então, dou os fundamentos que norteiam o trabalho e abro perguntas para que temas específicos, de interesse daquela comunidade, sejam abordados. Um dos vereadores presentes fez uma pergunta que, mesmo localizada, tem muita abrangência e me permitiu criar nova definição. Ele contou que, na sua cidade, o candidato a prefeito do partido era do tipo "sabe-tudo". Sabia fazer a comunicação, sabia fazer os acordos políticos, sabia o melhor lugar para o comício, sabia escolher a música, sabia o ponto fraco do adversário, sabia o que dizer na entrevista, sabia. Veio a pergunta : 'Como agir com um candidato assim?'. Criei a definição na hora : 'Esse é o candidato-pato'. Age exatamente como essa ave. Sabe andar, mas anda mal, todo desajeitado, balançando o corpo grande. Sabe voar, mas voa mal, tem voo curto e raso, não voa alto, nem a longas distâncias. Sabe nadar, mas nada mal, não mergulha e não é rápido. Bota ovo, mas bota mal, pois o ovo é grande demais e muito pouco frequente. Foi uma gargalhada geral, pois o "candidato-pato" também é muito frequente, como o pato, que está nos quintais, mas também nos jardins e praças públicas. Como agir com ele ? Ah, eu levo na gozação e vou tocando, devagar e sempre, assim como se toca um bando de. patos ! Com a ave de verdade, pelo menos, há possibilidade de se fazer um confit de canard - delicioso prato francês no qual a ave é cozida em fogo brando. Meu marketing político é assim : sempre com alegria, sempre aprendendo, sempre inventando novidades". Grande Chico ! Mutantes em cena O cenário político-eleitoral tende a mudar. Nas próximas duas semanas, teremos de analisar para onde irão migrar os votos de Aécio Neves. Os tucanos ainda apostam na "virada da razão", pela qual o senador mineiro resgataria sua pontuação de dois meses atrás. Quase impossível. O tempo é curto. Ademais, Dilma e Marina, em duelo aberto, praticamente ocuparam o tabuleiro de xadrez, garantindo, assim, a jogada final do segundo turno. Muitos apostam na migração de votos de Aécio para Marina. Este consultor acredita que eles se repartirão entre as duas candidatas. Margens com Dilma Os grupamentos e famílias que estão laçados pelo programa Bolsa Família, particularmente na região Nordeste, tendem a fechar com Dilma. São os beneficiários da equação BO+BA+CO+CA (Bolso, Barriga, Coração, Cabeça). No NE, Dilma tem cerca de 50% dos votos, margem que lhe dará força para suportar as urnas mais vazias no Sudeste. Assim, Dilma tende a ganhar um "voto de coração" mais denso que o voto para Marina. Centro com Marina Já os setores que habitam o meio da pirâmide tendem a se direcionar para Marina, principalmente no Sudeste. Em SP, a rejeição ao PT e, consequentemente, a Dilma chega a ultrapassar 35%. Nunca se viu índice tão alto. Mas Dilma também terá muitos votos das faixas centrais, principalmente junto aos bolsões do petismo, que adentrou forte nas estruturas governativas, a par da classe média emergente, tendente a dar também um voto de reconhecimento. Por que a rejeição ? Por que a rejeição ao PT chegou a índices tão altos no pleito deste ano ? Porque o PT foi arrastado para a lama pelos escândalos que têm corroído a imagem de políticos e partidos. O PT está no centro das denúncias. Colhe os resultados dos eventos negativos que têm manchado a imagem do governismo. Para piorar, o prefeito Fernando Haddad, em pleno ano eleitoral, toma medidas antipáticas, a partir das decisões sobre avenidas e ruas, complicando o já congestionado trânsito de SP. É um cabo eleitoral do contra. O rolo compressor Este consultor sempre lembra a força do rolo compressor das máquinas governativas em final de campanha. Nesse caso, no segundo turno, Dilma ganhará um empuxo da máquina. São milhares de funcionários públicos que querem preservar seus empregos. São milhares de ativistas partidários nas bases. São militantes de outros partidos que, na reta final, costumam dar sangue para que seus candidatos (governistas) ganhem. Diante dessa hipótese, é possível dizer : Dilma conta com essa força a mais no frigir dos ovos. Pendendo para Dilma É até possível que parcela dos votos do tucano Aécio migre para Marina no segundo turno. Mas há de ser considerada a hipótese de integração dos partidos aliados de Dilma. No primeiro turno, por conveniências locais, muitos saíram da frente de apoio situacionista. No segundo turno, face ao pensamento restritivo de Marina sobre partidos, é evidente que alguns, desconfiados, tendem a se reunir sob o abrigo de Dilma. Ademais, a presidente tem boa vantagem em municípios de até 50 mil habitantes, reduto da velha política. Onde os partidos têm sua maior base. Mais um ponto de vantagem para a petista. Bancada no Senado A se confirmarem as tendências apontadas pelas últimas pesquisas, assim será o próximo Senado : PMDB, continuará com 19 senadores ; PT, de 13 passará para 14 ; o PSDB continuará com 12 ; o PSB sairá de 4 para 7 ; o PDT diminuirá de 6 para 3 ; o PR e o DEM poderão continuar com 4 ; o PTB sofrerá a maior queda, de 6 para 2 ; o PSC deverá ter 2 ; o PP poderá continuar com 5 ; o PSD tende a elevar de 1 para 2 ; o PSOL, o PC do B, o PPS, o PRB, o PV, o PROS, o SDD deverão, cada, ter 1 senador. Já o PMN e o PRTB não deverão ganhar representantes. Governo e oposição Se Dilma ganhar, deverá contar com uma bancada de cerca de 50 senadores ; Marina e Aécio contariam, juntos, com cerca de 30. Na Câmara Já a próxima legislatura deverá continuar com o PT e o PMDB liderando as duas maiores bancadas. O PT sonha em chegar a 100 deputados. Pode ter entre 85 a 90 ; e o PMDB deverá contar com cerca de 80 a 85. Mas o candidato com melhores condições (eleitorais) para presidir a Câmara será Eduardo Cunha, do PMDB do RJ, atual líder do partido na Casa. Paulo Roberto na CPI O que vai acontecer nesta quarta ? Paulo Roberto Costa irá à CPI mista que investiga a Petrobras. Mas não deverá dizer muita coisa. Sob pena de quebrar o sigilo da delação premiada. Confirmará os nomes de políticos por eles citados ? É mais provável que fique calado. A conferir. Maluf sai ou fica ? O procurador-Geral eleitoral, Rodrigo Janot, encaminhou ao TSE parecer desfavorável à candidatura do deputado Federal Paulo Maluf (PP) nas eleições de outubro. Com base na Lei da Ficha Limpa, Maluf seria inelegível em face da condenação por ato doloso de improbidade administrativa que gerou enriquecimento ilícito e lesão ao patrimônio público. Façam seus cálculos O eleitorado brasileiro é de 142.783.995 eleitores. O Sudeste abriga 62.066.251, ou 43,47% do eleitorado ; o Nordeste tem 38.218.398 eleitores, ou 26,76% dos votantes ; o Sul tem 21.127.282 eleitores, ou 14,79% dos votantes ; o Norte abriga 10.794.131 eleitores, ou 7,56% dos eleitores e o Centro-Oeste tem 10.240.481, ou 7,17% dos votos. Teremos uma abstenção, votos nulos e brancos em torno de 20%. Façam suas contas, usando os números das últimas pesquisas. Na última, do Datafolha, Dilma avançou para 36%, enquanto Marina ficou nos 33%, empate técnico. No segundo turno, a candidata do PSB teria sete pontos de vantagem : 47% contra 43%. Mas Dilma conta com o rolo compressor da máquina. 24º EESCON "Em busca de novos caminhos" é o tema central do 24º EESCON - Encontro das Empresas de Serviços Contábeis do Estado de São Paulo, considerado o maior evento do segmento empreendedor contábil de SP e o segundo maior do Brasil. Realizado a cada dois anos pelo Sescon/SP, sindicato da categoria, a abertura ocorre, hoje, quarta, no Campos do Jordão Convention Center, em Campos do Jordão/SP. Até 19/9 são esperados cinco mil visitantes, entre empresários, gestores e profissionais da área contábil. Haverá ainda feira de negócios, demonstrações e comercialização de produtos e serviços. Agências : temporada de inverno ruim Para 63% das agências de viagens e operadoras turísticas do Brasil, as vendas caíram durante a temporada de inverno deste ano, na comparação com o mesmo período de 2013, segundo pesquisa feita pelo Ipeturis - Instituto de Pesquisas, Estudos e Capacitação em Turismo, por encomenda do Sindicato das empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur/SP). "Apontada por 46,4% dos entrevistados, a Copa do Mundo no Brasil foi o principal motivo para a queda nas vendas durante a temporada", destaca Marciano Freire, presidente do Ipeturis. Outros motivos que contribuíram para os baixos resultados foram : ano de eleições (8,5%), cenário econômico negativo no país (8,5%), preços altos das tarifas aéreas (7,5%) e a alta do dólar (5,2%). CONETT 2014 Nos dias 25 e 26/9, a cidade de SP recebe empresários internacionais para o debate da terceirização e do trabalho temporário na América Latina. O CONETT 2014 é uma realização do Sindicato das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário de São Paulo (Sindeprestem). Local : Grand Mercure São Paulo Ibirapuera (rua Sena Madureira, 1355). Até D. Orani ? Meu Deus. Quanta violência. O cardeal arcebispo do RJ, D. Orani Tempesta, foi assaltado no bairro de Santa Teresa, na zona sul, na noite de segunda-feira, 15, por três homens armados. D. Orani estava acompanhado do motorista, de um fotógrafo e de um seminarista. Todos foram roubados. O arcebispo, embora não esboçasse reação, chegou a ter uma pistola apontada para a cabeça. Ele entregou aos assaltantes o anel cardinalício e o colar com o crucifixo peitoral. Ladrões levaram celulares, carteiras, relógios, uma câmara fotográfica, o paletó do motorista e até a batina do seminarista. Lições de marketing Discurso Costumo bater nessa tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. O discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só : das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê, tem mais importância. Portanto, senhoras e senhores assessores dos programas eleitorais, anotem a informação. Consolidação telefonia celular Fora do cenário eleitoral, a ação ON da Oi dispara 13,25%, liderando as maiores altas da Bolsa. Segundo o jornal italiano Il Sore 24 Ore, a Telecom Itália, dona da TIM Brasil, está analisando uma parceira com a Oi. O objetivo da aproximação é evitar que a TIM Brasil se torne apenas um alvo de compra e negociação. Ao invés disso, os esforços visam a fazer com que a empresa seja um fator importante no processo de consolidação do setor de telefonia no país.
quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Porandubas nº 413

Abro a coluna com duas historinhas, uma de PE, outra, do CE. Nunca vi nada "Eleição de 1958. O comício era então a grande festa cívica onde se sucediam inflamados oradores, longe das castradoras técnicas do marketing e da televisão. Em Caruaru, José Fagundes, cego de nascença, louvava seu candidato João Cleofas, com a força das boas intenções e de alguns trocados. - Eu queria que Deus me desse a luz dos meus olhos para eu ver o que o doutor Cleofas já fez por PE ! Do povaréu que se comprimia em frente ao palanque, crítico feroz de tudo o que cheirasse a governo, Biu Moscouzinho levantou o braço, esticou o pescoço e mandou o verbo : - Queira não, ceguinho ! Eu tenho dois olhos e nunca vi nada !" (Aldo Paes Barreto, cronista pernambucano, em seu livro Casos, causos e repentes) Meu jumento zurrando O padre da Igreja de São Mateus, no Vale do Jaguaribe, não tinha uma voz privilegiada. Todas as vezes que cantava, via-se uma mulher chorando copiosamente. O padre, intrigado com a situação, perguntou-lhe o motivo do choro. A mulher respondeu : - Ah, senhor, não consigo parar de chorar. Eu tinha um burro que era toda a minha riqueza... infelizmente, morreu. Quando ouço o sinhô padre cantar, parece o meu jumento zurrando ! O padre que esperava algum louvor, retirou-se irritado e confuso. (Causos Cearenses) Até onde a vista enxerga Confessando de cara : a vista deste consultor é turva. Há muita fumaça no ar. Que deixa apenas o que é muito próximo. Paulo Roberto, o delator, teve seu depoimento vazado. Começamos, por aqui, nossa análise. Por que vazou ? Porque há interesses políticos nesse vazamento. O caso está sob segredo de Justiça. Logo, tudo deveria ser secreto. Com o vazamento, emergem as inferências : há um grupo que quer colocar muita lenha na fogueira e causar danos de monta a alguns candidatos. Quem poderia se beneficiar do vazamento ? E mais : quem poderá ganhar com a torrente de denúncias que certamente continuará nos próximos dias ? Vêm mais coisas por aí... Paulo Roberto já dissera tempos atrás : se eu falar, não vai haver eleição. Forma rompante de dizer que seu depoimento provocaria impactos. E provoca mesmo. Por enquanto, ele forneceu uma primeira lista de nomes. Especula-se que vem mais por aí. Mas a delação premiada exige provas, sob pena de o denunciante não ver homologada a negociação para se livrar ou atenuar a pena. Provas. Que tipo de provas ? Corrupção. Entrega de dinheiro, por exemplo. Comprovação de que as empreiteiras tinham de depositar 3% de seus contratos para formar um fundo, cujos recursos seriam repassados a partidos. Não é fácil comprovar essa acusação. A lista A lista mostra atores de alguns partidos. Não se viu, por enquanto, nomeação de partidos ou seus pleitos. Eles aparecem em função de parlamentares neles abrigados. A lista nomeia parlamentares de partidos governistas. Sob esse prisma, os danos caem sobre o governismo, arrastando, de roldão, a candidata Dilma Rousseff. Mas Eduardo Campos, morto tragicamente, era o candidato do PSB, hoje substituído pela ex-senadora Marina Silva. E o ex-governador de PE aparece também na lista. Acordo em PE No caso do ex-governador de PE, Eduardo Campos, o que se diz é o seguinte : o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, teria concedido vantagens financeiras, dilatando prazos e suprimindo compromissos assumidos por PE em acordo firmado diretamente com o então governador Campos. Que teria assinado com Costa um termo de adiantamento de tarifas da Petrobras ao porto de Suape por conta do futuro uso do porto no transporte de produtos da refinaria Abreu e Lima. Repasses da estatal seriam da ordem de R$783 mi. Portanto... Portanto, ao dizer que querem "a segunda morte do Eduardo Campos", a candidata Marina procura dar ao fato um tom emotivo, eis que o "morto" não pode se defender das acusações. E uma onda de vitimização cairia bem nesse momento em que começa a ser apontada como favorita. O denunciante teria inserido em vão o nome do ex-governador na lista de beneficiados com o esquema de negócios montado no entorno da Petrobras ? Se a verdade libertará, como lembra Marina citando a Bíblia, que ela apareça. Diluição Por este prisma, a bateria de acusações - até o momento agrupadas na categoria de indícios - tende a se diluir, eis que se repare por todos da situação e da oposição, neste caso, da frente marineira. Aécio Neves seria o maior beneficiário do tsunami que já está sendo chamado de "petrolão". Mas Aécio teria tempo de se recuperar do estrago que Marina fez sobre seu mapa eleitoral ? Difícil. A banalização do mal, ou, em outros termos, a banalização da corrupção tem o efeito de horizontalizar as denúncias, repartindo-as de um lado para outro do espectro partidário. É quase impossível para um ator político ser considerado um santo, honesto, ético, nesses tempos de desmoralização da política. Marina, um logotipo Interessante é a figura de Marina. Poucos sabem dizer o que defende, o que prega, quais são suas propostas. Mas ela cativa pela estética. Uma evangélica, de origem negra, que se veste de maneira tradicional, um tom agudo de voz, expressão de quem está no púlpito de um templo. Nela se cristaliza a lição de Marshall McLuhan, o filósofo da comunicação da década de 60 : o meio é a mensagem. Ela, como meio, é a mensagem. Junte-se a isso a rejeição que se expande nos terrenos do PT. Ouve-se por muitos lados : chega de PT. Mas o partido tem ainda um bom lastro nas margens sociais. Projeções Sob essa moldura, pode-se fazer um conjunto de inferências : 1. Aécio só se recupera caso consiga acender o pavio da racionalidade no Sudeste do país. Ora, ele está em terceiro lugar em seu próprio Estado, MG, o segundo maior colégio eleitoral do país. 2. Os tucanos paulistas não se envolveram com Aécio de forma tão estreita, como seria de esperar entre correligionários. 3. O Nordeste será repartido entre Dilma e Marina. 4. Ambas têm, hoje, praticamente assegurados seus passaportes para o segundo turno. 5. As bases petistas, para aumentar o cacife eleitoral da presidente Dilma, precisam resgatar o ardor com que vestiam seu ânimo em campanhas passadas. Parece que até Lula está sem entusiasmo. 6. Marina, ao que parece, bateu em seu teto. Mas o emocionalismo que imanta sua imagem pode lhe render mais alguns pontinhos. Religião e política Política e religião não devem se misturar. É preocupante ver a imbricação de religião e política. O pastor Lélis Marinho, coordenador do Conselho Político das Assembleias de Deus está coletando assinaturas para formar o partido da igreja de Marina, usando, para tanto, um exército formado por 40 mil pastores e 100 mil locais de culto no país. Um perigo um partido político evangélico. A César o que é de César, a Deus o que é de Deus. E a lei ficha Limpa ? Pois é, e a lei ficha limpa, hein, vale ou não vale ? A LC 135, sancionada em 4 de junho de 2010, que contou com o apoio de 1,3 milhão de assinaturas para sua aprovação pelo Congresso, prevê 14 hipóteses de inelegibilidade, impedindo candidaturas de políticos que tiveram mandato cassado, condenados em processos criminais ou quem renunciou ao mandato para evitar processo de cassação. A punição é de oito anos de afastamento das urnas. Levantamento da PGR aponta que existem no Brasil, atualmente, 346.742 processos de potenciais inelegíveis devido à lei ficha limpa. O MPF já impugnou 4.115 candidatos por irregularidades nos registros das eleições de 2014. Desses, 497 ações foram em decorrência da lei ficha limpa. Dados foram contabilizados até 19 de agosto. Correção O STF tomou uma decisão histórica ao reconhecer a existência da união estável entre companheiros do mesmo sexo. Por unanimidade, os ministros definiram que as uniões homossexuais configuram uma entidade familiar. Assim, os casais gays passarão a ter direitos previdenciários e poderão partilhar bens e herança, assim como fazer declaração conjunta de IR e adotar filhos. Semana passada, Porandubas afirmara que Marina defende a "união civil" nos termos definidos pela CF. Correção : não existe a união civil de pessoas do mesmo sexo, mas união estável. Obrigado ao leitor André Bocuzzi pela oportuna correção. Atenção, MP e Poder Judiciário 1. Senhores promotores, senhores juízes. Atentem para a aplicação rigorosa da ficha limpa. Não deixem passar em brancas nuvens a sujeira feita por políticos de ficha suja. 2. Se candidatos ficha suja habilitam suas candidaturas, estão maculando o império da ética, da moral e da Justiça. 3. Vejam quais os excessos cometidos e estendam seus braços para evitar que a sujeira contamine os espaços éticos do nosso território.
quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Porandubas nº 412

Matreirice 31 de março de 1964. Benedito Valadares, raposa mineira, se encontra no aeroporto de BH com outra raposa, José Maria Alkmin, sob o olhar atento de Olavo Drummond, também mineiro e amigo de meio mundo. - Alkmin, para onde você vai ? - Para Brasília. - Para Brasília, ah, sim, muito bem, para Brasília. Os três saem andando para o cafezinho, enquanto Benedito cochicha no ouvido de Drummond : - O Alkmin está dizendo que vai para Brasília para eu pensar que ele vai para o Rio. Mas ele vai mesmo é para Brasília. Gargalhada. Artimanha maquinada para um pegar o outro. Esta modalidade é chamada de engano de segundo grau. Quer dizer : engano meu interlocutor, dizendo-lhe a verdade para tirar proveito da sua desconfiança. A historinha é de origem judia e expressa com humor o refinamento a que leva a tática de ocultar informações. No original, conta-se que dois judeus russos encontraram-se em um aeroporto. Resposta de um para o outro : "Que burla, você está me dizendo que vai a Minsk para que pense que vai para Moscou. Acontece que você vai mesmo para Minsk". O espírito das ruas O Brasil ingressou, apressado, no ciclo das mobilizações. Parece desejar recuperar o tempo perdido com a inércia. O espírito das ruas saiu da toca e passou a animar os ânimos de pessoas de todas as classes sociais. As manifestações de junho de 2013, que chegaram a juntar, de uma vez só, cerca de 1,5 milhão de pessoas, precisavam ancorar em algum porto. Em outros termos, alguém deveria canalizar os sentimentos dos becos, vielas, escritórios e esquinas do país. Até a morte trágica de Eduardo Campos, não se sabia quem seria essa pessoa. Ele teria condições de ser o ponto de confluência das manifestações sociais ? Não. Para onde iria o espírito das ruas ? Claro, para a vice de Eduardo, Marina Silva. Não se trata apenas de um ponto de convergência, aberto por comoção social. O perfil da ex-seringueira se adapta ao molde da contemporaneidade. Por isso, ela já tem ingresso para entrar no segundo turno. "O estadista deve trazer o coração na cabeça". (John Kennedy) Votos estão cristalizados ? Estão em processo de cristalização. Forte parcela já aderiu a Marina pelo que ela representa. Expressa o conceito do "diferente do que se vê". Estética que chama a atenção : negra, magra, alfabetizada aos 16 anos, timbre agudo de voz, pequena, coque no cabelo, vestes que lembram uma evangélica entrando em um templo religioso. Uma semântica que abriga um discurso com palavras de difícil alcance - como transversalidade - conceitos conservadores em áreas polêmicas (casamento entre gays, aborto, fé religiosa, etc.) e linguagem que toca os píncaros da abstração. Fala muito e diz pouco, procurando abrigo em platitudes e plataformas genéricas. Mas transmite impressão de sinceridade, honestidade, moralidade. É o vento da vez. "Os políticos terão de ser, um dia, animais de circo". (Richard Nixon em 1968, referindo-se aos debates na TV americana) O vento da vez Meu saudoso pai, falecido aos 86 anos, vivia olhando o nascente e o poente para distinguir sinais de chuva. Antes, porém, sentia o vento correndo em uma direção. Dependendo da direção, ele garantia : vem chuva desse lado de cá, está chovendo nas bandas do CE. Essa onda vem do Norte, do MA. Nossa cidade, Luis Gomes, encravada na fronteira entre RN, PB e CE, servia de biruta para ele nos proporcionar seus cenários de chuva forte ou chuvinha fina. Nunca errava : "quando o vento vem do nascente, ninguém é capaz de mudar sua rota ; é chuva na certa". Pois bem, toda campanha eleitoral tem seu vento correndo numa direção. O vento deste ano se chama Marina Silva. "Deves parecer clemente, fiel, humano, íntegro, religioso e sê-lo, mas com a condição de estares com o ânimo disposto a tornar-te o contrário". (Maquiavel) Marina e Lula Há quem a compare ao ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Nascida nas margens sociais, pobre, trabalhadora de seringal no AC, vítima de doenças causadas pelas intempéries da região (mercúrio nos rios, onde se buscava ouro), Marina subiu a montanha da política na locomotiva do discurso da ecologia e sustentabilidade. Criou uma identidade como Lula assim também o fez. Foi, como Lula, fundadora do PT, amiga de Chico Mendes, o ambientalista, assassinado, ícone da defesa ambiental no país. Lula de saias ? A comparação dá a ela mais vigor por encarnar valores que Lula não empunhava, particularmente na frente dos costumes e da moral. É uma pessoa mais contrita, religiosa, uma crente que se vale da Bíblia a todo o momento. Lula, digamos assim, está mais próximo ao dia a dia da vida urbana, incluindo os lazeres e o prazer de um bom prato. Até nisso Marina é diferente. Faz uma dieta rigorosa exigida por um corpo fragilizado pela carga de doenças do passado. "Não é por culpa do espelho que as pessoas têm uma cara errada". (Gogol) Ganhará ? Essa pergunta não passa, ainda, pela bola de cristal de nenhum adivinho, quanto mais pela lupa de um analista político. No final da segunda semana deste mês de setembro, será possível ver onde estará a régua da cristalização de votos. Nesse caso, veremos o que será de Aécio Neves e sua votação. Se os votos em Marina estiverem consolidados e tendência de estabilidade confirmada, a equação ficará mais perto da solução : os votos de Aécio migrarão para Marina e outra parte para Dilma. Aqueles que dizem que o maior contingente cairá nas urnas de Marina podem acertar. Porque a velha polarização PT x PSDB afastará tucanos das urnas do partido de Lula. Dilma, porém, conta com alguns trunfos. A capacidade de recuperação de suas margens históricas no Nordeste, hoje em queda. "O tom do mundo consiste muito em falar de bagatelas como se fossem coisas sérias e de coisas sérias como se fossem bagatelas". (Montesquieu) Recuo marineiro Outro fator em condição de criar um borrão na imagem de Marina é a gangorra que a leva para cima e para baixo. Começa a mostrar uma disposição para se adaptar às regras do jogo político, aceitando posições e abordagens que, anteriormente, não aceitava. O caso do combate à homofobia, por exemplo. Depois de admitir o casamento de gays, ela retrocede, falando de "erro processual", e passa a aceitar apenas a defesa da união entre pessoas do mesmo gênero nos termos já definidos pelo STF. Ou seja, Marina recuou por conta das críticas feitas por grupos evangélicos, como o do pastor Silas Malafaia. Os evangélicos podem decidir a tendência de um segundo turno. O pragmatismo marineiro ficou escancarado. "Não há nem pode haver aliança entre a política e os meus interesses privados ; a política é e sempre será a inimiga da minha prosperidade profissional". (Rui Barbosa) Mercado já aceita A independência do BC agrada ao mercado. Os bancos começam a gostar do programa de Marina na área econômica, que prevê menor intervenção do mercado na economia. Nesse ponto, o programa do PSB é mais próximo ao programa tucano de Aécio Neves que ao escopo do PT. As bolsas sobem no embalo de uma visão menos intervencionista no mercado, que é a visão de Marina. O ministro Mantega, sob esse prisma, é uma carta que começa a ser descartada pelo sistema produtivo. O país está em recessão técnica. E o ministro da Fazenda acha que, mesmo com o pibinho, o Brasil está indo muito bem. "Tenho um programa com soluções rápidas para o trânsito do Rio : carro novo vai pelo túnel novo ; carro velho só entra no túnel velho". (Antônio Luvizaro, candidato ao governo do Estado da Guanabara, nos idos de 60) Nomes em alta Nomes em alta do staff marineiro : Walter Feldman, ex-deputado Federal, ex-tucano e um perfil preparado ; a educadora Neca Setúbal, que nunca esteve na esfera de trabalho do Grupo Itaú, sendo conhecida por sua inserção nas áreas social e educacional ; Maurício Rands, ex-deputado petista, de PE, ex-líder do PT na Câmara dos Deputados. "As leis são como teias de aranha, os pequenos insetos prendem-se nelas e os grandes as rasgam sem custo". (Anacaris, um dos sete sábios da Grécia) PMDB mais forte Ao contrário de alguns prognósticos, o PMDB será muito forte no próximo governo. Deverá fazer a maior bancada de governadores. A conferir. Deverá manter a maior bancada no Senado. E, na Câmara Federal, deverá continuar como a segunda bancada. No jogo de composições, o partido é ator fundamental. Difícil governar sem o apoio do PMDB. Eduardo Cunha, o atual líder do partido na Câmara, é forte candidato à presidência da Casa. "O voto é secreto, imbecil". (Coronel na década de 30, ao entregar o voto fechado em um envelope para o súdito depositar na urna, assim respondeu à pergunta sobre o nome em quem estava votando) Debates Os debates continuam engessados e burocráticos. Este último, promovido pelo SBT, FSP, Uol e Jovem Pan, foi uma chatice. Dilma e Marina entraram num corpo a corpo e, por isso mesmo, lideraram a visibilidade. Aécio foi relegado ao grupo dos nanicos. Quase três horas de debates, dentro de um modelo fechado, agregam muito pouco ao debate político. O debate sobre economia - juros, metas de inflação, políticas fiscal e tributária - não chega às margens. Bate no centro racional e esclarecido. Que já tem posições firmadas sobre o assunto. Logo, o debate apenas reforça pontos de vista já assumidos por grupos de eleitores. "Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós". (Ex-vice presidente dos EUA, Al Gore) Pesquisas Vem mais pesquisa neste final de semana. Datafolha deve divulgar dados sobre a situação para governos de SP, MG, PE, CE, RS e DF. Em SP, deve confirmar liderança de Alckmin (PSDB), mas é bem provável uma subida de Paulo Skaf (PMDB), que está confrontando o governo tucano. Em PE, Paulo Câmara (PSB), o candidato lançado por Eduardo Campos, deverá crescer ; no CE, Eunício Oliveira (PMDB continuará na liderança ; em Minas, Pimentel, do PT, está dando um banho no candidato de Aécio, Pimenta da Veiga ; no RS, a senadora Ana Amélia (PP) lidera ; tende a subir ou a cair ? No DF, como fica a situação ante a impugnação de Arruda e o baixo índice do governador Agnello Queiroz (PT) ? O senador Rollemberg (PSB), pode ser o beneficiário da situação. Skaf cresce A pesquisa de ontem do Ibope mostra Paulo Skaf em crescimento. Está chamando Geraldo Alckmin para a luta no ringue. Alckmin desceu de 50% para 47%. Skaf chega aos 23%. Padilha tem 7%. A continuar a tendência de queda de três pontos de um lado e subida de pontos, de outro, poderemos enxergar um desenho de 40% a 30% em meados de setembro. Se Padilha, com a ajuda de Lula, chegar aos 15%, teremos um segundo turno em SP. Esta é a esperança de Skaf e o pavor de Alckmin. O busílis se chama Padilha. Que patina. Dilma bate A presidente Dilma compara Marina a Collor e Jânio. A ex-senadora dissera, há dias, que vai governar com os melhores de todos os partidos. Uma forma indireta de dizer que passará ao largo das duas Câmaras Congressuais ? Pessoas são importantes, mas governar sem as instituições é um risco. Programas de TV Essa campanha derruba alguns mitos, entre eles o de que um grande espaço na mídia eleitoral é fundamental para o sucesso de uma candidatura. Veja-se o caso de Marina, que não chega aos dois minutos na programação eleitoral. Está nos píncaros da visibilidade. Os programas, ademais, perderam parte de sua essencialidade. Tornaram-se press releases eletrônicos de feitos e eventos. Entraram no poço da descrença. São molduras gráficas e eletrônicas bem feitas, mas sem poder de internalização na cachola dos telespectadores. As mensagens entram por um ouvido e saem por outro. Cuidado ! Ambição desmesurada No meu livro "Marketing Político e Governamental", cito um pensamento do cientista político Robert Lane, em Political Life, que explica como a ambição desmesurada pelo poder funciona como um bumerangue. Seria o caso de alguns políticos brasileiros ? Eis o pensamento de Lane: "A fim de ser bem-sucedida em política, uma pessoa deve ter habilidades interpessoais para estabelecer relações efetivas com outras e não deve deixar-se consumir por impulsos de poder, a ponto de perder o contato com a realidade. A pessoa possuída por um ardente e incontrolável desejo de poder afastará constantemente os que a apoiam, tornando, assim, impossível a conquista do poder".
quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Porandubas nº 411

Não está inscrito na OABAbro com uma historinha dos confins da PB.Em Antenor Navarro, por ocasião de um júri, o juiz da comarca, Nelson Negreiros, viu o réu chegar sem advogado de defesa :- O senhor não tem advogado ?- Tenho, doutor juiz. Meu advogado é Deus.- Meu caro, esse não serve. Não está inscrito na Ordem.E complemento com o grande EinsteinCerta vez, Einstein recebeu uma carta da Miss New Orleans, que confessava : "Prof. Einstein, gostaria de ter um filho com o senhor. A minha justificativa se baseia no fato de que eu, como modelo da beleza, teria um filho com o senhor e, certamente, o garoto teria a minha beleza e a sua inteligência". Einstein respondeu na lata : "Querida Miss New Orleans, o meu receio é que o nosso filho tenha a sua inteligência e a minha beleza".Sinal de derrota"O maior sinal de derrota é quando já não se crê na vitória". (Montecuccoli)Nuvens fixas e móveisE as interrogações explodem por todas as partes. Marina vencerá o pleito ? Já passou Aécio Neves ? No segundo turno, ganha da presidente Dilma ? O que vai acontecer se vier a ganhar ? Tem condições de governar o país ? Bem, nem a mais fantástica bola de cristal será capaz de prever o futuro. A massa de previsibilidade no campo da política é limitada por uma batelada de fatores : perfil dos atores políticos ; recursos e meios para se alcançar o poder ; condições do país no momento eleitoral ; situação social ; movimentação nas ruas ; saturação das velhas regras ; incorporação de novos modelos pela sociedade ; condições das campanhas, etc. Marina está brilhando nos céus em função de movimentação das nuvens móveis, que vão e vêm. Mas as nuvens fixas flagrarão sua boa performance em finais de setembro ?Primeiro reflexoO primeiro reflexo já apareceu : Marina encosta em Dilma segundo a pesquisa Ibope de ontem. Bate na trave com 29%; Dilma caiu para 34%. Aécio ficou em 19%. Significa que resgata seu potencial de 2010 e ainda avança sobre votos da presidente Dilma e até do Aécio. A maior perda é no território da candidata governista. Mas o primeiro reflexo aguenta o tranco de dois contendores com máquinas mais amplas e vigorosas ? A conferir.Marina e significadosMarina Silva carrega consigo uma densa planilha de significados : é o tostão contra o milhão ; a encarnação do novo contra o velho ; assepsia, moralidade, ética, sinceridade, honestidade, rebeldia da juventude, o sol nascente no horizonte poluído da política. Dito isto, a hipótese parece adequada : é o perfil em condições de levar a melhor no pleito deste ano. Certo ? Em termos. Há que analisar outros fatores. Marina tem potencial, mas tem poder ? Poder é soma de meios, recursos, condições, vetores de força. Na política, agrega, ainda, partidos, cabos eleitorais, estruturas estaduais e municipais da administração pública, políticas sociais em curso, a economia e seus derivados: inflação, emprego, conforto. Marina frágilA fragilidade de Marina Silva não se apresenta apenas na estética esquelética ou na fisionomia de uma ex-seringueira atacada por doenças quando jovem. Marina não conta com as estruturas que ainda movimentam o trem da velha política. O Bolsa Família, que agrega cerca de 13 milhões de famílias e mais de 50 milhões de brasileiros, é identificado com os governos Lula/Dilma. O bolso supre o estômago e este é o órgão vital a comandar o processo decisório em eleições. Marina poderá dizer que o Bolsa Família terá continuidade, mas a candidata Dilma ainda leva o troféu de patrocinadora do programa. Marina abomina a velha política. Ora, é sob a bandeira rota da velha política que a campanha se desenvolve.A onda marineiraMarina Silva certamente é a bola da vez. Ela forma a onda marineira que se espraia em todo o território. Mas este consultor tem dúvida se a ex-senadora será capaz de fazer marolas nessa onda até final de setembro. Não terá os volumes de comunicação de Dilma e Aécio, apesar de contar com o clima das ruas, que lhe será inteiramente favorável nesse primeiro momento. Uma campanha é contenda dura, sangrenta, que carece de muita bala. Marina tem arsenal suficiente ? O cenário de declínio de Marina, mais adiante, também deve ser considerado.Emoção dá votos, mas...Emoção produz intenção de voto ? Sem dúvida. Mas a emoção com a morte de Eduardo Campos e a entrada intensamente espetacularizada de Marina no palco eleitoral devem se esvair nas próximas semanas, dando lugar a uma rearrumação das "camadas tectônicas" decorrentes do terremoto político. Este consultor tende a acreditar que a presidente Dilma ainda é a favorita do pleito de outubro, principalmente se não houver traumas na economia. Estamos a um pequeno passo do ponto de quebra da sustentabilidade e confiança da população no governo. A estrela do PT em queda ?Se Dilma ainda é a favorita, o mesmo não se pode dizer do PT. A estrela petista mostra certo declínio. Não despenca acelerada no cosmos da política, porque a estrutura formada ainda a sustenta bem, mas o fato é que a estética do partido e a semântica, que o fazia diferente de outras siglas, anos atrás, começam a mostrar esgarçamento. O PT é o partido com maior identificação com a carga negativa da corrupção. E a voz de Lula, nos finais de programas, cedendo seu apoio e conclamando os eleitores a votarem nos candidatos petistas, não tem mais a conotação forte dos velhos tempos.Em SPA campanha de SP ainda não entrou na velocidade de cruzeiro. Os candidatos ainda estão vivenciando a decolagem, cada qual procurando seu tom, arrumando sua identidade, costurando sua estética. A pletora de candidatos gera dispersão das linguagens, sobrando, ao final dos debates, a sensação de que os atores patinam no entorno de uma Torre de Babel. A pequena audiência dos debates é também responsável pelo jogo empatado entre as performances individuais. Os três principais candidatos expressam abordagens diferenciadas no marketing televisivo.Alckmin, jornalismo na TVGeraldo Alckmin, o candidato tucano, mexe com as pedras no tabuleiro jornalístico. O programa de segurança é cheio de dados de pesquisa, mostra cenários de Nova York, com seus mecanismos tecnológicos de segurança, em clara abordagem jornalística. Alckmin, o narrador, tenta fazer um link entre o que de mais moderno existe em matéria de segurança nas ruas e SP. Mostra dados a seu favor, apesar de se saber que a segurança pública em SP atinge índices altíssimos. Skaf, publicidade na TVJá a abordagem de Paulo Skaf é claramente publicitária. O programa sobre estupro foi um exemplo. Cria emoção, impacta. É perceptível a tentativa de chamar a atenção, envolver o telespectador com dobras emotivas. A sequência de "nãos" de pessoas nas ruas, alguns produzidos apenas com acenos de cabeça, expressa uma dose de teatralização, a demonstrar que os depoimentos acabaram sendo embalados por produção e edição publicitária. Skaf é um perfil diferenciado, encarna, sim, inovação, mas aparece ultrapassando a linha argumentativa do bom senso. É o mais teatral dos candidatos. Mas conseguiu sair dos 16% para 20%.Padilha, emoção e friezaO candidato Alexandre Padilha trabalha com os signos do velho PT : emoção, mudança, esperança, renovação. Lula, ao final, pedindo votos. O fato é que esse discurso já está batido. Desgastado. Não é mais avançado. É, sim, estancado. Por isso, vê-se um Padilha falando quase automaticamente. De maneira distante, fria. A falta d'água em SPAté agora, o pote de Alckmin ainda não mostra sinais de esvaziamento de votos com a falta d'água em SP. Mas, com a água ameaçando faltar nas torneiras, será possível distinguir fontes mais secas de votos no entorno do governador tucano. Mais adiante.Debate na Band IDebate na TV Bandeirantes. Marina, saindo de sua postura humilde, foi dura e firme. Atacou e defendeu-se como uma onça amazônica. Não se acanhou. Bateu forte. Aécio teve uma boa expressão, sempre com um ligeiro sorriso. Dilma enfrentou uma bateria de perguntas críticas e respondeu bem, afora a impressão de que, às vezes, faltava expressão ao final das frases. O debate II O debate de ontem à noite, na TV Bandeirante, certamente foi o primeiro ensaio comparativo entre os perfis dos candidatos. Foi o melhor dos últimos anos. Principalmente os blocos iniciais, incisivos, diretos, sem firulas. Visto por um grupo mais selecionado de telespectadores, particularmente os habitantes do andar do meio da pirâmide, cuja intenção de voto já está praticamente tomada. As margens é que tendem a mudar o voto, correndo em direção aos perfis emotivos. A pesquisa de hoje, que mostra Marina em situação confortável, é o fogo de artifício que faz brilhar seu nome nos céus do território. Mas brilharão até o final da campanha ?Os eleitores se interessam ?O horário, bem tarde, afasta eleitores da telinha. A bateria de lenga-lenga tem funcionado mais como estratégia de alavancagem de marketing das empresas do que efetivo instrumento de avaliação e comparação de propostas de candidatos. Os debates têm oscilado entre índices de 4% a 5%. Pouca audiência . Até mesmo debates como os promovidos pela Rede Globo, de maior audiência, nas proximidades do final de campanha, não geram muito impacto. A saturação do verbo motiva os telespectadores a desligar os aparelhos de TV ou mudar de canal.Leiam de cima para baixo e de baixo para cimaA desmoralização da classe política propicia uma expressão debochada nos mais diferentes segmentos sociais. Vejam a peça a seguir. Trata-se do discurso da campanha e do pós-campanha. A verve traduz, de certa forma, o pensamento social sobre a política e os candidatos. Leiam do começo ao fim e, na sequência, comecem pelo final.Na campanhaNosso partido cumpre o que promete.Só os tolos podem crer queNão lutaremos contra a corrupção.Porque, se há algo certo para nós, é quea honestidade e a transparência são fundamentaispara alcançar nossos ideaisMostraremos que é grande estupidez crer queas máfias continuarão no governo, como sempre.Asseguramos sem dúvida quea justiça social será o alvo de nossa ação.Apesar disso, há idiotas que imaginam quese possa governar com as manchas da velha política.Quando assumirmos o poder, faremos tudo para quese termine com os marajás e os negociatas.Não permitiremos de nenhum modo quenossas crianças morram de fome.Cumpriremos nossos propósitos mesmo queos recursos econômicos do país se esgotemExerceremos o poder até queCompreendam queSomos a nova política.
quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Porandubas nº 410

Abro a coluna de hoje com uma historinha da PB. Dois matutos de Monteiro no Cariri paraibano, cansados da seca e das promessas dos políticos, decidiram tentar a vida em uma cidade grande. Venderam o burro, o jumento e o cavalo e, na esperança de um dia voltar, rumaram para o RJ. Chegando lá, por sorte, arranjaram empregos de servente em uma pequena construção, o salário pequeno mal dava para sobreviver e raramente sobravam trocados para enviar aos familiares na PB. Durante o período do carnaval dois árabes, fazendo turismo no Rio, passaram em frente à obra e viram os paraibanos de enxadas nas mãos, mexendo areia e cimento. O sol estava escaldante e os nordestinos suavam até pela ponta do nariz. Os turistas se aproximaram e, admirados de tanta bravura, perguntaram qual o salário dos dois. - Ganhamos o salário mínimo, uma mixaria. Os árabes perguntaram se não aceitavam morar na Arábia Saudita e trabalhar por lá recebendo salários polpudos. Os paraibanos esclareceram que não seria possível viajar para um lugar tão longe, pois faltava o dinheiro das passagens. Os árabes afirmaram que isto não seria um problema, já que os mesmos estavam de avião particular e daria para levar ambos. Depois do carnaval e após uma prece ao Padim Ciço, os paraibanos embarcaram. Quando o avião estava sobrevoando o deserto do Saara, apresentou uma pane, sendo necessário um pouso não programado. Um dos paraibanos, na porta do avião, olhou em frente e só viu areia : do lado direito, do lado esquerdo e na parte de trás, só areia. Um mundão de areia. Com ar de preocupação, virou-se para o companheiro e gritou : - Ô Severino, nóis tamo lascado. Quando chegar o cimento, oi nóis (e fez aquele gesto famoso). (Enviado por Severino Nunes de Melo) As chances de cada candidata (o) Este consultor aproveita a coluna de hoje para tentar explicar quais as chances e possibilidades de cada candidata (o) à presidência da República, levando em consideração seus pontos fortes e seus pontos fracos. Faço este exercício procurando uma dose de equilíbrio, sem torcer para A ou B. Vamos adiante. Como o eleitor escolhe Mostremos, primeiramente, qual o processo que baliza as escolhas dos eleitores. É comum se dizer que o eleitor escolhe por instinto. A palavra é essa mesma. Mas poucos se dão conta da extensão de seu poder. Expliquemos. O ser humano age por meio de quatro instintos, dois ligados à preservação do indivíduo e dois ancorados na conservação da espécie. Os dois primeiros são : o instinto combativo e o instinto nutritivo. O combativo refere-se à luta do homem para sobreviver, enfrentando a natureza, os dissabores, as adversidades que se apresentam nos múltiplos espaços da vida cotidiana. O impulso nutritivo o joga na procura do alimento, que supre seu corpo. Sem alimento, o homem definha. BO+BA+CO+CA Por isso mesmo, criei a equação que está por trás da decisão do eleitor : BOlso cheio, geladeira cheia, BArriga satisfeita, COração agradecido, CAbeça decidindo votar em quem viabilizou o suprimento de alimentos. Dito isto, poderemos abrir o cenário das candidaturas. Começando com a pergunta : qual o perfil mais próximo à geladeira ? Marina, Dilma ou Aécio ? Dilma, a favorita Se a resposta levar em consideração este pano de fundo, não há dúvida : Dilma Rousseff ainda é a favorita. E onde reside a explicação ? Bolsa Família e outras bolsas. O eleitorado, principalmente o das margens - Nordeste, Norte, Centro Oeste - tende a decidir na direção de quem lhe proporciona esse pacote de benefícios. O que é mais vantajoso ? Apostar no certo ou no incerto ? O eleitor tende a apostar no que lhe parece mais seguro. O que pode ameaçar Dilma ? O bolso mais vazio em outubro. E isso se dará se a inflação de alimentos esvaziar a cesta básica. Inflação e desemprego são as duas maiores ameaças à reeleição da presidente. Aécio sinaliza esperança ? Carrega o senador mineiro uma bagagem de jovialidade, animação, disposição, determinação. Sai de um Estado, MG, que é o segundo maior colégio eleitoral do país : 16 milhões de votos. Fez ali uma boa gestão. Tanto ele como seu sucessor, Antonio Anastasia. Conta com o apoio dos tucanos paulistas, a partir do governador Geraldo Alckmin, que continua exibindo confortáveis índices de intenção de voto : 55%. Conta com o apoio de José Serra, candidato a senador, e de Aloysio Nunes Ferreira, senador, candidato a vice em sua chapa. E com o apoio de Fernando Henrique, prestigiado ex-presidente da República. Aécio terá um voto forte no Sudeste (*SP, MG, RJ). Mas se a economia não cair no despenhadeiro, não conseguirá ultrapassar Dilma. Marina, a emoção completa O eleitor tende a se identificar com a alma sofrida. Dá um voto farto em quem padece, sofre. A morte trágica de Eduardo Campos comoveu e comoverá, por um bom tempo, os corações brasileiros. Marina já tinha um capital eleitoral próprio. Chegou a ter, em abril deste ano, 27% de intenção de voto. Eduardo Campos tinha cerca de 12%. Marina, agora, chega aos 21%. Mas não tirou voto de Aécio e de Dilma, que continuam, segundo a última pesquisa Datafolha, a ter, respectivamente, 20% e 38%. Portanto, Marina puxou votos do cordão dos indecisos, nulos e brancos. Seu eleitorado maior é composto por jovens de classe média e bem escolarizados. As ondas emotivas As ondas emotivas deverão, isso sim, abrir a visibilidade de Marina, que terá dois minutos apenas de TV e rádio na programação eleitoral. Dilma terá mais de 10 minutos e Aécio, 4. Nos spots publicitários - aqueles foguetinhos que se ouvem ao longo do dia - Dilma pipocará. Será uma dose e tanto de comunicação. É razoável supor que, lá para os meados de setembro, as ondas emotivas refluam e o perfil mais denso de Dilma e Aécio aumentem seus cacifes. A não ser que, até lá, novas ondas emotivas sejam criadas para empurrar o voto de coração em Marina, sob o sorriso aberto e os olhos azuis do Eduardo, escancarados em grandes cartazes. As novas ondas ? Sim, ondas formadas pela participação comovida de dona Renata e seus cinco guerreiros, os cinco filhos vestidos com camisa amarela. E a rejeição a Dilma ? Dilma enfrenta quase 40% de rejeição no maior colégio eleitoral do país, SP. Essa é sua grande ameaça. Eliminará a rejeição ? Parcela, sim. A intensa propaganda eleitoral acabará modulando sua imagem, tirando excessos aqui e ali e formando uma composição menos negativa. Se conseguir chegar aos 18% de rejeição, alcançará índice razoável. É o que deve acontecer. E Marina no nordeste ? Pois é, Eduardo Campos registraria um bom crescimento na região nordestina, na esteira da colagem de seu perfil às demandas regionais. Será difícil para Marina garantir a adesão maciça do eleitorado nordestino. Este consultor aposta mais na hipótese de que Dilma acabará consolidando sua imagem na região. E o Triângulo das Bermudas ? SP poderá dar uma boa maioria a Aécio Neves. Urge lembrar que Dilma ainda está na frente neste Estado. Mas a tendência é que Aécio Neves saia de Minas e de SP com uma boa maioria, capaz de diminuir a folgada maioria que Dilma terá no Nordeste. O RJ dividirá bem os votos, eis que os partidos, a partir do PMDB, fazem campanha para Dilma e Aécio. Os marineiros do Rio também formam um bom contingente. PMDB e os Estados Contas da cúpula do PMDB mostram que o partido poderá eleger os governadores dos seguintes Estados : AM, PA, CE, RN, AL, SE, ES, RJ, MS, TO. Com possibilidades, ainda, no PR e em GO. Declaração de Fortaleza Indicados aos cargos de conselheiros e ministros devem antes ser enquadrados na Lei da Ficha Limpa. É o que pedem os presidentes de 34 Tribunais de Contas, que também defendem a criação do Conselho Nacional dos Tribunais de Contas para fiscalizar a atuação de cada Corte no país. A Declaração de Fortaleza, na qual constam 19 diretrizes, é tida como o mais contundente manifesto dos TCUs, sob a égide da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), presidida pelo dinâmico conselheiro Valdecir Pascoal (TCE/PE). Temístocles, o ateniense Temístocles, o altivo ateniense, não era de cacarejar. Convidado para tocar cítara numa festa, o general declinou : "Não sei música, o que sei é fazer de uma pequena vila uma grande cidade". Regra geral, nossos governantes das três esferas Federativas, afinando o tom com o maior dos tocadores, não hesitam em aceitar convites para manejar cítara, clarineta ou trombone. Abandonam o foco. Grande parte prefere trombetear no marketing a fazer de suas cidades e Estados territórios desenvolvidos e civilizados. Muitos se inebriam nas fontes do poder. Esquecem-se do ensinamento de Gogol : "Não é por culpa do espelho que as pessoas têm uma cara errada". É a ruína que o modelo pirotécnico de administrar oferece ao Brasil. Pequenas lições de marketing político Alavancas do discurso I Nesta campanha, esta coluna faz seu fechamento com pequenas lições de marketing. Existem alguns símbolos detonadores e indutores do entusiasmo das massas em, pelo menos, quatro categorias. Eis as quatro alavancas psíquicas : 1. Alavancas de adesão - Discurso voltado para fazer com que a população aceite os programas, associando-se a valores considerados bons. Nesse caso, o candidato precisa demonstrar a relação custo-benefício da proposta ou da promessa. 2. Alavancas de rejeição - Discurso voltado para o combate às coisas ruins (administrações passadas, por exemplo). Aqui, o candidato passa a combater as mazelas de seus adversários, os pontos fracos das administrações, utilizando, para tanto, as denúncias dos meios de comunicação que funcionam como elemento de comprovação do discurso. Alavancas do discurso II 3. Alavancas de autoridade - Abordagem em que o candidato usa a voz da experiência, do conhecimento, da autoridade, para procurar convencer. Sob essa abordagem, entram em questão os valores inerentes à personalidade do ator, suas qualidades pessoais. Quando se trata de figura de alta respeitabilidade, o discurso consegue muita eficácia. 4. Alavancas de conformização - Abordagem orientada para ganhar as massas e que usa, basicamente, os símbolos da unidade, do ideal coletivo, do apelo à solidariedade. É quando o político apela para o sentimento de integração das massas, a solidariedade grupal, o companheirismo, as demandas sociais homogêneas. Verborragia desafinada Os estilos da galinha e da pata servem para comparar os partidos e os políticos. A primeira põe um ovo pequenino, mas cacareja e todo mundo vê, enquanto a segunda põe um ovo maior e ninguém nota. O ovo da pata, segundo os nutricionistas, é mais completo que o da galinha, mas este é o que gera atenção, intenção, desejo e ação - a fórmula AIDA - para estimular seu consumo. E o êxito se deve porque a fêmea do galo sabe alardear seu produto, cumprindo rigorosamente o preceito maquiavélico : "o vulgo só julga aquilo que vê".
quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Porandubas nº 409

Abro a coluna com uma deliciosa historinha contada ontem a este analista político pelo governador Geraldo Alckmin, por ocasião da 25ª edição do Congresso Brasileiro do Aço, que termina hoje no WTC. Alckmin era candidato à prefeitura de Pindamonhangaba, sua cidade. Moço, 24 anos, bem disposto, chegando ao final do curso de Medicina, o candidato gastou muita sola de sapato para distribuir os seus santinhos. Já na reta final da campanha, chegou numa casinha de família pobre, identificou-se, enfrentou a zoeira de um papagaio falador e de galinhas no corredor e foi bater na cozinha, onde uma senhora, rodeada de filhos, aprontava o almoço. Distribuiu seu santinho e gastou muita lábia para convencer a eleitora a votar nele. Agradeceu e, já na porta, a senhora fez o tradicional pedido : - Doutor, e o dinheirinho para as passagens ? O candidato, com um sorriso aberto, pediu para a senhora chegar à calçada e apontou para a seção eleitoral, que ficava logo ali adiante, a um quarteirão da casa. - Dona fulana, a senhora vai votar ali, bem pertinho, naquele grupo escolar. O arremate pegou Geraldo Alckmin de surpresa : - Mas, doutor, nós votemo em Itajubá. Geraldo elegeu-se prefeito de Pindamonhangaba, em 1976, por uma diferença de 67 votos. Poderia ter mais uns votinhos se Itajubá fosse um sítio de Pinda e não a cidade mineira, que faz divisa com SP, onde morreu o ex-presidente da República Wenceslau Braz, aos 98 anos. Ganha Dilma, ganha Aécio Os cenários de vitória e derrota começam a ganhar corpo. A Consultoria Rosenberg Associados faz a previsão : "Só muita torcida contra pode impedir uma pessoa racional de perceber como Dilma é favorita". E bate forte : "Visto de hoje, o cenário mais provável é a continuidade da mediocridade, do descompromisso com a lógica, do mau humor prepotente do poste que se transformou em porrete contra o senso comum". Que linguagem desbocada para uma empresa que faz projeções políticas, hein ? E outra Consultoria, a Macrométrica, usando um método de análise organizado por Nate Silver, editor chefe do site "FiveThirtyEight", chega a outra conclusão. Usando os dados da última pesquisa do Ibope, a Consultoria diz que Aécio Neves conta com uma vantagem de 2 a 3,6 pontos percentuais sobre a presidente Dilma. E agora ? Agora é conferir a economia Este consultor não arreda pé de suas hipóteses. Se a inflação se mantiver sob controle, não afetando o bolso dos consumidores/eleitores, a geladeira continuará cheia, o coração agradecerá e a cabeça acabará decidindo a favor de quem proporciona o bolso cheio. A recíproca é verdadeira. Não acredito que a fumaça, mesmo forte, que sai dos fornos da Petrobras - CPIs, escândalos em série, malas cheias de dinheiro - seja capaz de afetar o quadro eleitoral. Claro, reforça os pontos de vista do eleitor que já tem decisão de votar contra a presidente Dilma. Mas não bate nas margens sociais, afeitas à equação BO+BA+CO+CA (bolso, barriga, coração, cabeça). E a economia ? Os indicadores mostram que a situação é de perigo. O varejo se queixa de grande retração. Mais de 60 mil trabalhadores do comércio varejista foram demitidos nos últimos meses. O setor do aço registra uma retração de mais de 30%. O setor automobilístico, apesar dos incentivos Federais e estaduais, também apresenta forte queda de vendas. A construção civil é um poço de queixas. E assim por diante. Mas o que mais toca de perto o eleitor das margens é a feirinha, o armazém da esquina, as gôndolas de alimentos nos supermercados das periferias. Aumentou o tomate, a cenoura, a alface ? Pumba, a cesta básica acusa o aumento. E lá vem xingamento. Mercado em ebulição A siderurgia brasileira está passando maus momentos. De janeiro a junho deste ano a produção mundial de aço bruto cresceu 2,5% na comparação com igual período do ano passado. Até o final de 2014 a previsão é de que 600 milhões de toneladas excedam a demanda, ainda lenta e distante dos níveis pré-crise mundial. Com siderúrgicas chinesas e europeias a todo vapor, o mercado brasileiro enfrenta dificuldades. Exportar deixa de ser uma opção. Sem solução no curto prazo Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, diz que a siderurgia brasileira está sendo corroída. "O mercado interno não cresce como esperado e ainda é bombardeado por importações". Não há solução para o aço excedente e, especialmente no Brasil, a alta carga tributária e custos elevados de energia elétrica, gás natural, mão de obra e câmbio desfavorável deterioram ainda mais a competitividade. Padilha subirá ? Uma questão recorrente em SP : por que Alexandre Padilha, o candidato do PT, não sobe nas pesquisas ? Porque a campanha de TV e rádio só vai começar no próximo dia 19. É o que dizem os petistas. O argumento é apenas razoável. O fato é que os setores médios paulistas expandem sua contrariedade em relação ao PT. Por isso, a rejeição à presidente Dilma ultrapassa os 35%. Esse é um dado da questão. Outro argumento é o de que as margens ainda não entraram no clima de campanha. Ou seja, mais adiante, empurrado por Lula, Padilha subirá, não a ponto de alcançar o nível histórico do PT, mas, ao menos, uns 20%. É a hipótese defendida por este consultor. Alckmin satisfeito Ao ver este consultor se aproximar, o governador Geraldo Alckmin brada alto a palavra-chave que usa em todos os nossos encontros : Po-ran-du-bas. O papo, muito agradável, reunia, ao lado do governador, o presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), Benjamim Mário Baptista Filho ; o megaempresário Jorge Gerdau ; o ex-presidente da FIESP, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, entre outros. Alckmin, feliz com os seus 54% de intenção de votos, contou causos engraçados da sua vida política, como o que abre esta coluna. Aécio no JN - 1 O senador Aécio Neves (PSDB/MG), primeiro presidenciável entrevistado pelo Jornal Nacional da Rede Globo, respondeu com segurança às perguntas de William Bonner e Patrícia Poeta, mesmo as mais delicadas, como a construção do aeroporto em terras que pertenciam à sua família em Cláudio, interior de Minas. Mas deixou no ar o futuro da economia. Sobre medidas impopulares, como corte de gastos e realinhamento de preços de combustíveis e de energia, garantiu apenas que tomará "medidas necessárias para retomar o crescimento". Quais ? Não detalhou. A menos que isto queira dizer um "tarifaço", palavra que não convém pronunciar antes de eleições. Aécio no JN - 2 Uma boa frase do candidato sobre corrupção : "Condenado não será tratado como herói, como foi no caso do PT, porque deseduca". Para os programas sociais, prometeu manter todos, "transformando-os para melhor". Funciona como um antídoto para beneficiados do Bolsa Família. E encerrou com a promessa de "um novo ciclo de desenvolvimento, com ética e eficiência". No fim, mandou recados para eleitores dos rincões do país, especialmente para o Nordeste, em que tem menos votos. Saldo : poderia ter aproveitado melhor a exposição do Jornal Nacional, caso fosse mais direto sobre seu programa de governo, especialmente na economia. Mas o formato da entrevista não permite voos longos. Campos subirá ? Esta é outra recorrente indagação. Resposta : sem dúvida. Mas alcançará o percentual que Marina Silva, sua candidata a vice-presidente da República, obteve em 2010 ? Eis o dilema. Marina foi o elemento novo que agitou a galera, particularmente os segmentos jovens. Este consultor acredita que ele poderá se situar em um patamar entre 15% a 20% dos votos, ajudando a campanha a entrar no segundo turno. Para tanto, precisa empolgar as galeras jovens, a partir do empurrão de Marina. E aumentar sua cota de votos no Nordeste, onde ainda não se tornou o chamariz da estação. Nessa região, Dilma ganha de galope. "Burrocracia" do bilhete único Você sabia que houve alteração para retirar o primeiro bilhete único e ainda procedimentos para sua renovação ? Pois é, a SPTRANS exige que cada usuário faça seu cadastramento, bastando que conte com essa batelada : computador, disponibilidade de internet, e-mail próprio, impressora e noções medianas de como usar tudo isso. A rota da burocracia abrange cadastro, importação da foto para montagem do formulário impresso, envio ao órgão competente, um posto "próximo" da residência do usuário para recebimento do bilhete único. Imagine-se um trabalhador que jamais teve intimidade com computador e periféricos. O que vai acontecer ? As empresas, que antes dispunham de um setor para providenciar essa batelada, passaram a recusar candidatos que não possuam o bilhete único. Sabem que terão problemas à frente, ou seja, um colaborador que dificilmente terá condições de conseguir atender às normas da SPTRANS. O empecilho provocará embaraços ao próprio pagamento do Vale Transporte. A Classe C irá ao paraíso ? Desse jeito, irá, sim, mas ao inferno. As pernas dos papéis E por falar em "burrocracia", vejam esta historinha (real) dos papéis que andam entre as instantes dos prédios públicos. O cidadão chega à repartição e pede para ver seu processo. Ouve : "Ah, doutor, tem uma pilha enorme na frente do processo do senhor. Vai demorar um tempão até ser despachado. Papel, doutor, não tem pernas". Agastado, o interlocutor reage : "E quanto o senhor quer para pôr dois pés nesse papel"? Tiro e queda. O adjutório (cinquentinha) fez o papel correr rapidinho. 70 anos de história A trajetória do Grupo Rodrimar, fundado em 1944, se confunde com o desenvolvimento do Porto de Santos - o maior da América Latina. Naquela época os irmãos Manoel Rodrigues e Nilo Rodrigues davam o primeiro passo rumo a uma história de sucesso na área de importação e exportação que completa 70 anos. A data será lembrada com uma grande festa na Sala São Paulo para convidados, no dia 21 de agosto. A Orquestra Filarmônica Bachiana, sob a regência do maestro João Carlos Martins, e a dupla Chitãozinho & Xororó serão as atrações da noite. Lições de marketing A) Pacote de macarrão O calcanhar de Aquiles dos candidatos é evitar serem flagrados em dissonância. Isso ocorre geralmente quando um candidato tenta mudar de identidade. O eleitor percebe quando a pessoa torna-se artificial, um mero produto de marketing. E candidato não pode ser trabalhado como se trabalha um sabonete, um pacote de macarrão. B) O segundo turno Costuma-se dizer que o segundo turno é outra campanha. Não o é. Na verdade, trata-se da continuidade da primeira, observando-se essas características. O tempo de programa eleitoral será o mesmo, dando assim chances para uma comparação mais exaustiva e atenta entre perfis e programas. Os 10 minutos que caberão aos dois candidatos serão suficientes para se ter uma avaliação mais completa dos ideários. É bem verdade que a semântica, a mensagem oral, o plano das ideias, deverão ser cobertos pela estética da TV - na estratégia do marketing de embalar os perfis com celofane mais colorido. Portanto, o marketing atuará como ator importante para "vender" os candidatos.
quarta-feira, 30 de julho de 2014

Porandubas nº 408

Tudo é nada Abro a coluna com uma parábola. "Há pessoas que não conseguem perceber o que se passa ao seu redor. Não vêem que não vêem, não sabem que não sabem". Eis o conto. Zé caiu em um poço e está a 10 metros de profundidade. Olhava para os céus e não viu o buraco. Desesperado, começou a escalar as paredes. Sobe um centímetro e escorrega. Passou o dia fazendo tentativas. As energias começaram a faltar. No dia seguinte, alguém que passava pelo lugar ouviu um barulho. Olhou para o fundo do poço. Enxergou o vulto de Zé. Correu e pegou uma corda. Lançou-a no buraco. Concentrado em seu trabalho, esbaforido, cansado, Zé não ouve o grito da pessoa : "pegue a corda, pegue a corda". Surdo, sem perceber a realidade, Zé continua a tarefa de escalar, sem sucesso, as paredes. O homem na beira do posso joga uma pedra. Zé sente a dor e olha para cima, irritado, sem compreender nada. Grita furioso : - O que você quer ? Não vê que estou ocupado ? O desconhecido se surpreende e volta a aconselhar : - Aí tem a corda, pegue-a, que eu puxo. Zé, mais irritado ainda, responde sem olhar para cima : - Não vê que estou ocupado, ó cara. Não tenho tempo para me preocupar com sua corda. E recomeça seu trabalho. Parábola : "Zé não vê que não vê, não sabe que não sabe". Reflita. O mundo está povoado por este tipo de Zé. Campanha morna A campanha ainda está morna. Os candidatos se mexem, tateando, caminhando aqui e ali nas ruas, mostrando receio de não serem bem recebidos. SP tem sido o território mais procurado por abrigar as maiores densidades eleitorais do país e a maior tuba de ressonância. Aécio Neves e Eduardo estão nas ruas. A presidente Dilma não tem o mesmo ritmo em função da liturgia de poder que tem de cumprir, ou seja, a agenda governamental. Mas, logo, logo, estará nas ruas acompanhada de Lula, como se espera. Fumaça no PT Ao que parece, as bandas de Lula e de Dilma ainda não se afinaram. Cada qual desejando ter mais força e poder na estrutura de campanha. Esse é mais um probleminha a ser vencido. O que se pode ver é uma divisão com teor de contundência maior que em campanhas passadas. Se a presidente exibisse índices mais fortes nas pesquisas, certamente o clima seria outro. As querelas internas no PT e entre o PT e partidos aliados podem prejudicar não apenas a candidata, mas os candidatos petistas nos Estados. A conferir. Padilha Quem mais sofre com essas querelas é Alexandre Padilha, que espera a vinda de Lula e Dilma para sua campanha. O candidato está ainda acanhado. Não se vêem grandes caminhadas, movimentação de rua, panfletagem, enfim, o barulho que se ouvia em campanhas passadas. O ritmo é lento. Padilha vai subir, claro, pois o eleitorado petista de carteirinha tem quatro ou cinco vezes mais votos que os atuais 4% que as pesquisas lhe dão. Este consultor chega admitir que ele terá cerca de 20% dos votos, mais adiante. A conferir. Alckmin, o favorito Geraldo Alckmin continua sendo o franco favorito para ser o vitorioso na Batalha de SP. Vamos à leitura : não se trata de um perfil carismático, denso, aliciador de votos. Trata-se de uma pessoa suave, sorridente, diplomata, educado. Isso é suficiente ? Não. Mas Alckmin tem o perfil que polariza com o PT, partido que sofre muito desgaste em SP. Quem quer votar contra o PT escolhe Alckmin ou uma terceira via, no caso, Paulo Skaf. Donde se conclui que as opções a estes candidatos ocorrem na esteira de uma rejeição ao PT. Urge lembrar que o PSDB sofre também o processo de corrosão de material. Skaf tem chances Paulo Skaf é um perfil aguerrido, determinado, lutador. Pode se beneficiar da rejeição ao PT e ao desgaste da floresta tucana em SP. Claro, precisa se fazer mais conhecido e gastar sola de sapato. Ou seja, descobrir o caminho das ruas. Terá o maior tempo de TV na programação eleitoral. Mas um bom programa de TV, sozinho, não ganha campanha. Ele pode ser a vitamina que o eleitorado procura contra a mesmice do PT e do PSDB, que sofrem a corrosão material. A banca banca as campanhas Essa do Santander de fazer cenários mostrando que eventual vitória da presidente Dilma implicaria refluxo na economia e temor dos investidores foi a maior bola fora desse início de jornada eleitoral. Ora, é sabido que a banca - expressão que se usa para abrigar o complexo bancário - tem bancado (com doações) as campanhas eleitorais. E, também ao que se sabe, um analista de um banco não emite interpretação para uso externo sem autorização de seus superiores. O espanhol Santander ensaia um escanteio. Rejeição tem cura ? A presidente Dilma tem cerca de 35% de rejeição. Trata-se de um índice na marca do pênalti. A pergunta : é possível diminuir essa mancha no perfil ? Resposta : sim. Como ? Usando de maneira mais intensa os eixos do marketing : a articulação com a sociedade organizada ; a mobilização das massas nas ruas, o que exige presença forte da candidata nas ruas ; comunicação intensa sobre feitos e ações do governo ; e visibilidade para certos valores : a modéstia (contra a arrogância), a simplicidade, a humildade, gestos simples. A campanha deste ano impregna-se do cheiro das ruas. Tipologia eleitoral Que tipos são os mais comuns em uma campanha ? 1. O continuísta - Candidato à reeleição, máquina a serviço da candidatura, cabos eleitorais multiplicados, esse tipo tem grandes vantagens sobre outros. Particularmente se construiu forte identidade junto à comunidade. Pontos fortes : ações e obras a mostrar. Pontos fracos : mesmice e eventuais denúncias de uso da máquina, etc. 2. O oposicionista - Deve encarnar situação de mudança, troca de peças velhas na máquina administrativa. Para ter sucesso, precisa captar espírito da comunidade, auscultar demandas, fazer um corpo a corpo, deixar-se mostrar, ganhar confiança do eleitor. Pontos fortes : alternativa à velha ordem ; encarnação do espírito do novo. Se for um perfil já conhecido, impregná-lo com o verniz da renovação. Pontos fracos : pouca visibilidade ; estruturas de apoio mais tênues. 3. A terceira via - O candidato da terceira via apresenta-se como perfil para quebrar a polarização entre situação e oposição. Para angariar apoio de todos os lados, carece organizar um discurso adequado às circunstâncias, ouvindo todos os segmentos, buscando uma linha intermediária. Precisa demonstrar que tem melhor programa do que os dois candidatos. Pontos fortes : bom senso, alternativa à polarização acirrada entre grupos, inovação. Pontos fracos : falta de apoios das estruturas. O aeroporto de Claudio A construção do aeroporto na cidade de Claudio, próximo à fazenda de Aécio Neves, não caiu bem em sua imagem. Mesmo com todas as explicações - construção de aeroportos no eixo de 80 km das cidades - o impacto tem sido forte na campanha tucana. A versão que se dá - de uso indébito de recursos públicos - acaba ganhando ênfase. E quanto mais polêmica se forma, mais fumaça se expande nos ares. O aeroporto de Cuba, com financiamento brasileiro, teria agora seu contraponto. Ingratidão "Ingratidão na política é um dos vícios mais degradantes. Os que a praticam podem, até, tentar justificá-la perante os injustiçados. Mas serão, inapelavelmente, jogados no lamaçal onde se escondem os piores elementos da espécie humana". (Barão do Rio Branco) E a água em SP, hein ? O MPF em SP recomendou que o governo de SP apresente urgente projeto de racionamento de águas nas áreas atendidas pelo Sistema Cantareira. Objetivo : evitar um colapso do sistema que abastece 45% da região. Pérolas do Enem -A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos. - Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia. - O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas. - A Previdência Social assegura o direito à enfermidade coletiva. - O ateísmo é uma religião anônima. - A respiração anaeróbica é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos. - O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo. - Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto. - Caráter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais. Grandes páginas da história De Gaulle tinha exata noção de que ao político, como ao artista, é necessário o dom moldado pelo ofício. Cercava-se de cuidados com a expressão, ensinando : "os maiores medem cuidadosamente as suas intervenções. Fazem delas uma arte". Tempos grandiosos aqueles em que as plateias se encantavam com a arte dos grandes mestres da palavra. As sentenças continham boas lições e o poder de mobilizar e atrair a atenção das massas. "Não tenho nada a oferecer-vos senão sangue, sacrifício, suor e lágrimas", declamava Churchill para ingleses inebriados com o fervor que o primeiro ministro imprimia à convocação de guerra. "Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu país", proclamava o presidente John Kennedy em seu discurso de posse, elevando o orgulho norte-americano. Pobres páginas da história Pouco a pouco, a névoa do tempo tornou esquecidas as mais belas páginas da história. A cortina desceu sobre os palcos do esplendor e a era dos tribunos foi fechando portas, sob o eco da locução de Nietzsche no cume do penhasco nos Alpes de Engadine : "vejo subir a preamar do niilismo". A política apequenou-se. Os atores despiram-se dos mantos litúrgicos que os cobriam de reverência. E assim, os mais altos ideais, torpedeados pelas emboscadas da modernidade política, foram suplantados por interesses mercantilistas. A baixaria toma conta A baixeza se expandiu. Governantes de Nações do primeiro mundo vêem suas imagens embaladas em escândalos e, pasmem, sob acusações de envolvimento em casos sexuais com menores e garotas de programa. É o que se viu com o ex-primeiro ministro Berlusconi, da Itália. Correspondências devassadas pelo WikiLeaks mostram como as potências consideram parceiros e adversários. A uma pauta de preconceitos somam-se digressões sobre o caráter (criticado) de figuras públicas. Por aqui, a corrosão também é intensa. O nosso sistema político, no fluxo da crise que fere a democracia representativa em todo o mundo, é balizado por um conjunto de elementos negativos : fragmentação partidária, desmotivação das bases, pasteurização ideológica, perda de força das casas congressuais e supervalorização dos Executivos. O campo da expressão mostra o esburacado estado da arte política. Frases dos nossos políticos O ex-governador Sérgio Cabral chegou a dizer em tempos idos : "Quem aqui não teve uma namoradinha que precisou abortar ?". Foi numa peroração para cerca de 400 empresários. Lula, em momento de descontração, chamou Pelotas/ES, de "exportadora de veado" ; Maluf, que nunca se livrou do indefectível "estupra, mas não mata" ; Marta Suplicy, quando ministra do turismo, não se conteve e, ante o caos aéreo, saiu-se com o "relaxa e goza" ; e o ex-ministro Ciro Gomes é recordista de frases de péssimo gosto : "Fortaleza virou um puteiro a céu aberto" (criticando a administração petista em 2008). Lições para as campanhas  Hoje, a coluna substitui o conselho aos políticos por pequenas lições de marketing. Questão recorrente nos questionamentos de campanha. Que fatores a influenciam ? Eis alguns : - dinheiro - quando o bolso está vazio, a propensão é votar em candidato da oposição ; a recíproca é verdadeira ; - mobilização nas ruas - o candidato precisa se deixar ver, conhecer, tomar um banho de rua ; - maneira de apresentação dos candidatos - estética - alta prioridade. O primeiro sinal percebido pela cognição é a imagem que o candidato transmite. Sério, alegre, improvisado, informal, formal, artificial, desleixado, mal vestido, empetecado, cara de verdadeiro, cara de mentiroso, falso, atraente, simpático, nervoso, calmo, etc. - programas de governo - propostas viáveis/inviáveis, impactantes ou óbvias - alta prioridade ; - patrocinadores/lideranças políticas - dependendo da região, a influência poderá ser muito alta ou tênue ; - casos escabrosos descobertos no meio da campanha - desastrosos, podem queimar as possibilidades de um candidato ; - organizações da sociedade civil - importantes laços com grupos e comunidades ; - identificação com esportes/futebol - influência relativa ; torcidas a favor podem receber o contraponto de torcidas contrárias ; - apoio de artistas/celebridades - depende do artista e da região. Influência junto ao eleitorado mais inculto.
quarta-feira, 23 de julho de 2014

Porandubas nº 407

Da burrice e da engenharia Abro a coluna com uma historinha mineira. Viajando pelo interior de Minas, o arquiteto Marcos Vasconcelos encontrou um grupo de trabalhadores abrindo uma estrada : - Esta estrada vai até onde ? - Muito longe, muito longe, doutor. Atravessa o vale, retorce na beirada da serra, quebra pela esquerda, retoma pela direita, desemboca em frente, e vai indo, vai indo, até chegar a Ponte Nova, passando pelos baixios e cabeceiras. - Vocês têm engenheiro, arquiteto, teodolito, instrumentos de medição ? - Num tem não, doutor. Nós tem um burro, que nós manda ir andando, andando. Por onde ele for, aí é o melhor caminho. Nós vai picando, picando. - E quando não tem burro ? - Aí não tem jeito, doutor ; nós chama um engenheiro mesmo. O arquiteto seguiu adiante filosofando sobre as artes da burrice e da engenharia. O cenário político O olhar na paisagem permite divisar a direção do vento. Vê-se uma gradativa queda da avaliação do governo Dilma, com tendência a bater na sua imagem e nos índices de intenção de voto. Mas a presidente continuará com a forte visibilidade, podendo resgatar algumas posições. Contará com o dobro de TV de Aécio Neves, a partir de 20/8. Terá dois imensos desafios : sustar sua crescente queda no Sudeste e sustentar seus índices no Nordeste, onde chegou a bater a oposição, em 2010, por 12 milhões de votos. BA, PE e CE Esses três Estados constituem um desafio especial : a BA é o maior eleitorado da região nordestina. Hoje, os ventos correm em direção a Paulo Souto, candidato ao governo pelo DEM, com apoio do PMDB e do PSDB. Dilma não terá na BA a votação de 2010. O mesmo se pode dizer em relação a PE e ao CE. No primeiro, Eduardo Campos deverá ser amplamente vitorioso, tirando preciosos votos da candidata ; no CE, apesar de contar com o apoio dos Gomes - Cid e Ciro - e do candidato Eunício de Oliveira, do PMDB, não terá a votação de 2010, porque o PMDB está coligado com o tucano Tasso Jereissatti. Aécio vai ter boa votação na terra do Padim Ciço. Rejeição A taxa de rejeição da presidente Dilma em SP assusta. Chega a 43% junto ao maior eleitorado brasileiro. É possível diminuir esse índice, deixando-o na metade ? Sim. Mas essa tarefa será árdua. Precisa contar com alavancas de adesão muito fortes, a partir de sensível melhora na economia. Precisa que Lula corra todo o Estado e os bairros da capital, fazendo um corpo a corpo intenso. Precisa que o prefeito Fernando Haddad melhore sua avaliação junto ao munícipe. Precisa que a candidata entre em um mutirão de corpo a corpo. Esta campanha, mais que outras, exige o candidato nas ruas. Aperto no bolso Já é possível ver o bolso dos integrantes das classes médias mais apertado. A inflação das ruas - que se pode medir nas feiras livres - começa a ser expressa de forma indignada na linguagem de donas de casa que se queixam de uma cesta básica que encarece a olhos vistos. É evidente que esse bolso mais apertado influi no processo decisório do voto. Como sempre lembro : bolso com menos dinheiro significa geladeira mais vazia, barriga roncando alto, coração indignado e cabeça revoltada. Daí o desafio que se impõe à presidente Dilma : evitar o estouro da boiada nas ruas. Um voto do contra Este consultor identifica um voto do contra se expandindo em muitos espaços. Trata-se de um voto contra o status quo, a situação de sempre, a lengalenga da velha política. Esse voto é de protesto, não necessariamente a favor de A ou B. Claro, que acaba beneficiando alguns atores da política. SP, a grande batalha Non ducor, duco. "Não sou conduzido, conduzo". O lema do brasão da cidade de SP, criado em 1916 pelo prefeito Washington Luiz, que veio a assumir, depois, a presidência da República, expressa de modo adequado a importância do Estado mais poderoso da Federação no pleito eleitoral. Ancorando a hipótese, eis densa lista de superlativos : cerca de 32 milhões de eleitores ; as mais populosas classes sociais, com destaque para três contingentes de classe média ( A, B e C) e super-povoadas margens sociais ; os maiores conglomerados de categorias setoriais, abarcando trabalhadores e profissionais liberais ; centrais sindicais e entidades de áreas produtivas ; movimentos organizados, que promovem intensa mobilização e abrem a locução das ruas ; núcleos em defesa de direitos humanos, minorias e igualdade de gêneros ; e, para dar vazão às demandas dessa gigantesca teia de representação, SP dispõe de vigorosa tuba de ressonância. A força além do PIB A força de SP vai além da liderança no ranking eleitoral, com seus 23% do eleitorado brasileiro. Outros parâmetros entram na abordagem. O Estado exibe o maior grupamento de eleitores racionais, fator decisivo para avanços na esfera política. A racionalidade transparece no voto ponderado, na comparação entre perfis, na cobrança aos governantes, nas mobilizações de setores e nos movimentos reivindicatórios, a denotar a emergência de uma força centrípeta que se expande. Tal percepção provém da organicidade social. Ao longo dos últimos anos, a comunidade criou múltiplas ilhas no arquipélago do poder, tornando-as canais para fazer chegar demandas aos governantes e representantes, praticando, assim, exercícios de democracia direta. A metrópole O epicentro dessa movimentação é a capital, SP, com quase nove milhões de eleitores, eleitorado maior do o que de 23 Estados brasileiros, perdendo apenas para o próprio Estado, MG (15.248.680), RJ (12.141.143) e BA (10.185.417). A metrópole impregna-se de vibração, com suas regiões (norte, sul, leste e oeste) exibindo identidades peculiares (polos habitacionais, industriais e de serviços) e incorporando os adereços estéticos dos espaços chiques. O Triângulo das Bermudas Costuma-se dizer que o pleito será decidido pela passagem do transatlântico eleitoral pelo Triângulo das Bermudas, constituído por SP, MG e RJ, os três maiores colégios. Ou ainda que Minas é quem decide, sob o argumento de que o Estado do Sudeste é uma encruzilhada que representa a síntese do país. Ora, quando há na disputa dois candidatos mineiros (Aécio e Dilma), a tese parece fraquejar. O fato é que SP possui os maiores exércitos da guerra eleitoral. As ondas de seu mar costumam empurrar para longe os eventos que geram : protestos, denúncias, discursos positivos/negativos, avaliações de candidatos, percepções sobre o cotidiano. Na simbologia da pedra jogada no meio da lagoa (associada à classe media), o Estado é a força centrípeta que faz as marolas chegarem às margens. As alavancas As alavancas de empuxo são constituídas pelas classes médias, a emergente classe média C, com suas demandas em torno do "quero mais e melhor" ; a tradicional classe B, onde os índices de racionalidade são altos ; e a classe média A, de renda elevada. (A propósito, as classes médias somam, hoje, mais de 50% da população brasileira, cerca de 105 milhões de pessoas). Os discursos mais críticos e salientes provêm desses aglomerados, que se unem em cobranças e na disposição de votar contra o status quo. Tal posicionamento pode resultar nos chamados "não votos", contabilizados hoje pelas pesquisas em cerca de 30%, soma de abstenção, votos nulos e brancos. O cabo de guerra Por isso mesmo, SP viverá um disputado "cabo de guerra" entre as classes médias e os entrincheirados nos bastiões trabalhistas atrelados ao Estado, que tentarão segurar suas mãos nas alças do poder. A batalha eleitoral aponta, ainda, para dois territórios diferenciados : o da metrópole, onde o nível de insatisfação e angústia atinge índices elevados em decorrência dos problemas rotineiros (congestionamentos, violência, serviços públicos precários) ; e o do interior, habitado por populações menos estressadas, orgânicas e integradas aos valores de uma rotina mais harmônica. Nunca foi tão forte o clamor pela micro-política, programas e projetos destinados às melhorias da estrutura urbana. À frente das bandeiras, desfilam grupos organizados, categorias profissionais sob comandos de novas lideranças e movimentos que pregam ruptura. Em suma, o nível de conscientização - gerando um voto autônomo - é mais elevado. Padilha subirá ? O candidato Alexandre Padilha tende a chegar entre 15% a 20% da intenção de voto. Será puxado por Lula, que ainda tem força para arregimentar os bastiões do petismo e mobilizar as margens sociais. Daí a projeção de polarização entre petismo e tucanismo. Alckmin está bastante confortável, mas poderá ser atacado mais adiante, caso a água comece a faltar nas torneiras. Até o momento, reagiu bem ao tiroteio da oposição e ao bombardeio midiático. Os 54% de Alckmin Geraldo Alckmin conseguirá segurar os 54% obtidos na última pesquisa Datafolha ? Este consultor acha que ele bateu no teto. Será razoável apostar numa queda ao correr da campanha. Seu índice estará entre 40% a 45% na beirada da campanha. TV não faz milagres Quem estiver confiando em programa eleitoral para alavancar seu nome poderá acertar apenas parcialmente. Há uma percepção por parcela ponderável do eleitorado de que os programas eleitorais, mesmo bem feitos, exageram na cosmética e nas promessas. Trens balas, fura-filas, hospitais do primeiro mundo já foram mostrados em maquetes espetaculares. As promessas não foram cumpridas. A desconfiança grassa. Recessão bate a porta Há quem veja a recessão nos horizontes, tendo em vista a projeção de um PIB com resultados negativos no segundo e no terceiro trimestre do ano. Venda de energia Ante o aumento de cerca de 20% no preço da energia, alguns grupos, que têm amplos contratos de compra, passaram a fazer disso um negócio : vendem energia no mercado e fecham unidades industriais. Conseguem ter mais lucro com essa exótica operação invertida. Itaquerão sem segurança No primeiro jogo pós-Copa realizado no Itaquerão, os torcedores se depararam com um show de improviso. Em vez de contratar empresas de segurança privada e vigilância sérias, a organização do time optou por empregar vigias autônomos - função que não existe, uma vez que o profissional de segurança deve estar registrado numa empresa especializada, possuir o Certificado de Conclusão do Curso de Formação de Vigilantes, devidamente registrado na Polícia Federal e a CNV - Carteira Nacional do Vigilante para exercer a atividade. O presidente do Corinthians é Mario Gobbi, delegado de polícia. Clandestinas O combate às empresas clandestinas e aos vigias autônomos é um dos pilares do SESVESP (Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo). "Devemos alertar a sociedade quanto ao despreparo dessas empresas e de vigias que trabalham por conta própria, e o quanto eles colocam em risco a vida de todos os torcedores que querem se divertir de maneira segura", afirma João Palhuca, presidente do SESVESP. Conselhos A coluna vai aproveitar o ciclo eleitoral para oferecer sugestões aos atores políticos e a suas equipes : Aos candidatos 1. Procurem expressar a característica mais importante de sua identidade - o foco. 2. Não esqueçam que o eleitor deseja travar conhecimento com o personagem. Circular no meio da massa é importante. 3. Façam grande esforço para multiplicar presença em vários locais - a onipresença é um valor insuperável. Planejar eventos rápidos em lugares e cidades diferentes em um mesmo dia. Aos assessores 1. A lei da verdade suplanta a lei da mistificação. 2. O eleitor sabe se o candidato foi aumentado artificialmente um palmo ou dois acima de sua altura. 3. Falar com o coração é mais eficaz do que falar pela cabeça. 4. Agir com grandeza, sem golpes baixos, até o fim. 5. Prometer apenas o que poderá ser cumprido. Demonstre a viabilidade. 6. Tenha fé e não desista até o último segundo.
quarta-feira, 16 de julho de 2014

Porandubas nº 406

Abro a coluna com um "causo" do PI. Dois vereadores da Arena de Parnaíba, nos tempos da ditadura, entraram em querela. Um, da Arena de Petrônio Portela, outro, da Arena de Alberto Silva. Inimigos políticos. Um, dentista, pôs os dentes na boca do outro, nos tempos em que eram amigos. Mas, na primeira sessão da Câmara, brigaram feio : - Vossa Excelência é um desonesto. - Desonesto é você, filho de uma... Devolva o meu dente, pois fui eu que pus. - Canalha, mas eu paguei essa merda. - E daí que pagou ? Falar mal de mim, até pode. Com meu dente, não. Partiu para cima. Atracaram-se. E arrancou o dente. Sem anestesia. Eduardo em sabatina Eduardo Campos foi submetido à sabatina na TV UOL, em evento promovido pela Folha de S.Paulo, SBT e Jovem Pan. Fui lá conferir, a convite da Pan. Campos enfrentou todas as questões abordadas, inclusive as perguntas "cascas de banana". De modo geral, saiu-se bem pela fluência e raciocínio. Mas deslizou em algumas, ficando nas generalidades e sem respostas diretas e objetivas. Por exemplo : promete fazer um governo diferente, mesmo tendo de fazer alianças com políticos das antigas. Até porque é de opinião de que "não se pode destruir o que existe". Vantagem no NE O ex-governador de PE confia que terá uma grande votação no Nordeste, chegando a ultrapassar a presidente Dilma, que obteve extraordinária aprovação nas urnas em 2010, com mais de 12 milhões de votos de maioria na região. Campo acredita que, em final de agosto, já estará na frente. Quer mudar a modelagem econômica, é favorável ao "passe livre", trabalha com o conceito de gestão eficaz, põe fé na meritocracia, faz duras críticas à presidente, mas procura preservar o ex-presidente Lula. A feição de Marina Marina Silva, a quem Campos sempre se refere muitas vezes nas entrevistas, mostra-se afinada ao discurso do companheiro de chapa. Pelo menos é que diz sua cabeça, ao confirmar, de maneira positiva, as respostas de Eduardo. O candidato faz críticas fortes ao tucano Aécio Neves, que, segundo ele, faz alianças com o conservadorismo. E, quando apontado que ele também busca parcerias nas alas conservadoras, sai pela tangente dizendo que não barganha por espaços de mídia, mas negocia em torno de ideias. As Copas Finda a Copa de futebol, outras copas serão enfrentadas, doravante, na visão de Campos. E nas Copas da Saúde, Educação, Segurança, Mobilidade Urbana, acha que tem melhores condições de fazer os gols que o país está a merecer. O PT meio perdido O PT parece meio perdido com a situação : o país fez uma belíssima Copa do Mundo, mas nossa seleção foi um desastre. O que explorar ? Claro, o lado do desempenho do país e não o lado da performance futebolística. Mas um lado teima em canibalizar o outro. Para complicar, registra-se uma querela entre dois profissionais da campanha do PT, o ex-ministro Franklin Martins, e o marqueteiro-mor, João Santana. O motivo da briga ? A questão de um "Mais" ; que, para Franklin, deveria vir depois, "Muda Mais" ; para Santana, antes : "Mais Mudanças". A disputa, ganha por João, teve até um fundo de semiologia. Haja lábia para encantar a presidente. E Lula, hein ? Esta coluna mais uma vez pergunta : e Lula hein, onde se escondeu durante a Copa ? Por que não apareceu torcendo pela seleção ? E por que calou o bico, ele que tanto gosta de falar ? Futebol e eleição Reforço o que tenho dito em entrevistas (entre as quais, a da revista Veja, desta última semana) e escrito em artigos : o eleitor sabe separar política de futebol. Claro, uma derrota acachapante como a que tivemos contribui para criar um clima de desânimo e desmotivação. Mas o futebol é apenas um dos fios do rolo comportamental. Sozinho, não terá influência nas urnas. Minta tese é a da equação BO+BA+CO+CA. O Bolso cheio será fundamental para a barriga saciar-se, o coração agradecer comovido e a cabeça decidir votar nos patrocinadores do bolso. Arremato : o dinheiro no bolso das massas, em outubro, é que decidirá o processo eleitoral, dando continuidade ou quebrando as amarras do PT na árvore do poder. Nuvens pesadas Este consultor foi para o meio da massa, no último fim de semana, para presenciar a confraternização do povo em uma festa típica de uma região. Foi em Pirassununga, na festa Nenete, em homenagem a um músico da região, já falecido. Comidas típicas, muita música sertaneja, danças, costumes, galeras animadas. Multidão na rua. Não vi briga. As conversas giravam em torno da degradação geral da política. E muito desprezo pela Seleção brasileira. Elogios mil à equipe alemã pela simplicidade, respeito ao Brasil, simpatia dos jogadores e integração comunitária. Em compensação, os argentinos Relatos se ouviam de muitos lados sobre a grosseria dos argentinos, a balbúrdia, as agressões contra as mulheres (inclusive, mulheres casadas, acompanhadas de seus maridos), desprezo e discriminação aos brasileiros. Minha lupa não flagrou simpatia pelos hermanos (hermanos?), melhor dizendo, pelos vizinhos. As mulheres A Alemanha, em primeiro lugar na Copa, a Argentina, em segundo, e o Brasil, em quarto. Países dirigidos por mulheres. A Holanda, até pouco tempo, estava sob o reinado da rainha Beatriz, que acabou abdicando em favor de seu filho. O que isso quer dizer ? Mera coincidência. Ou simples curiosidade. Não queiram tirar ilações sobre o governo de Cristina Kirchner, por exemplo. Impugnados e sujos Há uma batelada de nomes impugnados pelo MP, por frequentarem a lama dos fichas sujas. São 1.308 candidatos impugnados, 177 com o nome sujo. E há, até, candidatos ao governo de Estado que estão na lista, como é o caso de José Roberto Arruda, que quer voltar ao governo do DF. E a grana das campanhas ? A grana das campanhas deste ano é escassa. Empresas, mesmo as tradicionais doadoras, estão com um pé tapando o cofre. Temem entrar nas listas dos Tribunais, receiam oferecer recursos a um candidato e rejeitar pedidos de outros, e muitos estão sem saber quais os potenciais de cada um : quem vai ganhar ou perder ? Esta campanha tem grande número de interrogações. Mais adiante, quando as pesquisas mostrarem os cavalos que correm na frente, os doadores até vão pensar em suprir o estoque de pasto. 20 pedidos Um empresário confessou a este consultor que recebeu cerca de 20 pedidos de recursos. Está sem saber o que fazer. Ou, melhor dizendo, saberá o que vai fazer um pouco mais adiante. Mercadante O ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, está sendo inflado para assumir o comando da campanha da presidente Dilma. Ele tem voz forte. Alguns fazem objeção : não gera empatia. Choque de gestão Faz-se urgente um "choque de gestão" no futebol brasileiro, o que implicaria a oxigenação nas cúpulas da cartolagem, a busca de perfis adequados aos contextos de competitividade e o fim do ciclo até então vivido pela seleção, com foco em grupinhos, prepotência, arrogância. Pode ser um caminho. Mas não se espere que mexer com uma pedra do tabuleiro será suficiente para conduzir o nosso futebol aos primeiros lugares do ranking mundial. Ele é parte de um todo, não um fio separado do rolo. O ethos nacional é mescla de hábitos, costumes, atitudes, visões, história e tradição. Serviços públicos Clama-se, ainda, por um choque na gestão do Estado. Trata-se de dever inalienável da administração do Estado cuidar para suprir as demandas dos contingentes sociais. Daí a importância de um "choque geral de gestão". A escorchante e vergonhosa derrota do Brasil para a Alemanha pode abrir o encontro do Brasil com suas realidades. Passar uma camada de tinta sobre o nosso futebol, deixando o reboco mofado sobre as paredes da saúde, educação, segurança pública, transportes urbanos, enfim, continuar a encobrir a paisagem torta das ruas é perpetuar o estado de carências. O mergulho profundo do país no oceano de suas grandes causas pode ser a luz de um novo horizonte. Vai significar a gestão da responsabilidade, tempo dos compromissos com metas e resultados, exigência de qualidade, reparo e reengenharia nas estruturas existentes, busca da simplicidade e da priorização de questões essenciais com plena transparência. Mobilização e articulação Não adianta apenas saber fazer bons programas nas campanhas de TV. Eles são ferramentas essenciais, mas não exclusivas. Outros eixos são importantes : a mobilização, caracterizada pelos eventos, comícios, showmícios, reuniões, encontros do candidato com as massas ; e a articulação, que aparece na formação de alianças, nas parcerias com associações e sindicatos, enfim, com as entidades organizadas da sociedade civil. Sem a combinação desses cinco eixos fundamentais, as campanhas ficarão capengas, tortas, frouxas. Muito cuidado para evitar campanhas que pendem mais para um lado que para outro. Ao consultor cabe fazer uma completa análise dos pontos fortes e fracos dos candidatos, a fim de potencializar seus valores e qualidades e minimizar seus defeitos. Deve-se ter uma visão externa mais abrangente, de fora para dentro, a fim de se evitar privilegiar certas áreas em detrimento de outras. O que é tática ? No futebol, quando o atacante joga a bola para trás, recuando-a para seu próprio campo de defesa, parece realizar um movimento covarde. Às vezes, é apupado. Muitos acham que a jogada não tem lógica. Mas essa bola recuada pode abrir espaços, deslocar o adversário, obrigá-lo a avançar de maneira descuidada e abrir a defesa. Pois bem, tal manobra pode gerar uma sequência de ações que culminarão com um gol. Essa é uma operação também chamada de OP. O gol é uma operação OP, de caráter terminal. E é construído por jogadas intermediárias. A tática é ferramenta de vitória. E os índices ? E os índices de intenção de voto não contam ? Não servem para nada ? Aqui vai a resposta : índice de intenção de voto é igual ao desenho do elefante visto nos céus. Dentro de pouco tempo, o que era elefante se esgarça e se transforma em gafanhoto ; e o que era uma nesga de nuvem, parecendo um gafanhoto, se agiganta, mais parecendo o incrível Hulk. Durante uma exposição massiva, de 45 dias seguidos e intensos, qualquer desconhecido se transforma em astro, celebridade. As campanhas eleitorais fazem esse milagre. Canibalização Entende-se por canibalização o esmaecimento de um perfil de baixa visibilidade perante outros, de alta visibilidade. Canibalizar - comer, devorar, superpor, ultrapassar, esmaecer. Esse é um princípio consagrado da comunicação. O mais forte massacra o menor. O sistema cognitivo do povão acaba substituindo nomes e perfis visíveis por outros muito mais visíveis, principalmente se houver um bom programa de TV e rádio. Campanha política, porém, abriga outros componentes : estruturas administrativas, peso das máquinas municipais, estaduais e Federal. Tais estruturas comportam milhares de funcionários, muitos ligados a partidos e políticos. (Do meu recente livro, Novo Manual de Marketing Político, editora Summus) Conselho aos dirigentes de futebol Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos nossos jogadores. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes de clubes e às autoridades : 1. Chegou o momento de mudar a estrutura do futebol brasileiro : regras, calendários, comandos, exportação de jogadores, etc. 2. Urge um choque de gestão e inovação, voltado para eliminar a cartolagem viciada e os velhos padrões de mando. 3. A área política deve atentar para a situação e buscar mecanismos que possam impulsionar as estruturas do esporte brasileiro.
terça-feira, 8 de julho de 2014

Porandubas nº 405

Abro a coluna com uma historinha do Nordeste. Quatro freis Historinha em homenagem ao Frei Damião, sob as bênçãos de quem os nordestinos viveram parte de sua história. Lá vinha o carro desembestado pelas estradas poeirentas, entre Patos e Cajazeiras, na PB. Dentro, dois frades : Frei Fernando e Frei Damião, cuja expressão religiosa é tão enaltecida quanto o "padim" Ciço (padre Cícero Romão Batista). O guarda do posto divisou, de longe, aquele automóvel em louca disparada. E foi logo fechando a cancela do posto. O motorista teve de se conformar com a freada brusca. O guarda foi duro : - Esse carro disimbestado não tem frei ? Expliquemos que a fonética na região é essa mesmo : disimbestado e frei (em vez de desembestado e freio). Resposta lacônica na ponta da língua : -Tem, sim, seu guarda. Tem logo quatro : frei de pé, frei de mão, Frei Fernando e Frei Damião. Surpreso e curioso, o guarda olhou e viu os "freis". Pediu a bênção ao Frei Damião, pediu desculpas, liberou o carro e abriu a cancela. A campanha começou - I Oficialmente, a campanha está nas ruas. Os candidatos começam a por em prática suas estratégias. O discurso tende a configurar os territórios. Dilma realçará os feitos da era lulo-dilmista, fazendo o casamento entre ela e seu antecessor. A estratégia tende a esmaecer as críticas ao pequeno crescimento do país, eis que serão realçados alguns espaços, como o campo do emprego, o campo da assistência social com inserção de 30 milhões de brasileiros ao meio da pirâmide, o campo das obras de infraestrutura, sob o clima de "uma copa vitoriosa", mesmo que o Brasil não levante o troféu. Se conseguir, melhor ainda. A campanha começou - II O discurso de Aécio vai na direção de reformas, enxugamento da máquina do Estado e redirecionamento da política econômica, a par da preservação de programas sociais, como o Bolsa Família. O neto de Tancredo, com seu lema de mudança, quer se fixar como principal candidato da oposição. Tem obtido bons índices de votos no Sudeste e uma taxa muito baixa no Nordeste, onde a presidente Dilma o supera por mais de 10 milhões de votos de maioria. Aécio quer sair de MG com uma vantagem de quatro milhões. Dilma espera que tal vantagem ali, em seu Estado, não ultrapasse um milhão. A campanha começou - III Para Eduardo Campos, a imagem ainda não se fixou no eleitorado. Tem ainda menos de um dígito nas pesquisas de intenção de voto, e seu principal desafio é ser conhecido. Mas contará com menos de dois minutos na TV e rádio, tempo curto para alavancar a visibilidade. Em comparação, Dilma terá mais de 10 minutos. Poderá o ex-governador de PE abrir larga frente no eleitorado jovem, eis que encarna com mais intensidade o conceito de inovação na esteira da vice, Marina Silva, e sua corrente ambientalista. O Nordeste poderá lhe dar fôlego, mas sua luta maior será travada no Sudeste do país. Lula não é o mesmo Lula continua a ser o maior cabo eleitoral do país. Mas já não tem a mesma força do Luiz Inácio de 2010. O país foi sacudido por escândalos e denúncias, a partir do mensalão, o PT passou a ser alvo de tiroteios midiáticos, a partidarização da máquina pública ficou patente, os rachas na aliança se escancararam e, nessa paisagem, o líder absoluto do PT perde densidade. É o que se vê. Para resgatar a força, Lula sugere : vamos procurar a nossa turma. Ou, para quem não sabe, sindicatos, organizações não governamentais, movimentos de massa. Ocorre que esses mesmos grupamentos também se impregnam dos ventos dos novos tempos. Não dispõe essa cadeia do poder que construiu no passado. PMDB revigorado Quem apostava na fragilização do PMDB poderá ter surpresa. Conta com candidatos a governador bem cotados nos Estados, sendo bastante provável que fique nos primeiros lugares do ranking. O PT, que esperava fazer as maiores bancadas de governador, senadores, deputados Federais e estaduais, se mostra, hoje, reticente. Não tem a força que imaginava. A conferir. Padilha sem padilhar Alexandre Padilha confiava tanto em seu rápido crescimento em SP que chegou a se valer do sobrenome para cunhar o verbo "padilhar", no sentido de avançar, mudar, ganhar, etc. Formou uma caravana em SP e correu o interior, visitando municípios, antecipando a campanha. Padilhou ? Não. Não avançou. Que coisa, hein ? E Lula, o grande chefe que sempre consegue tirar coelho da cartola, o que diz ? Está encafifado. Recomenda ao Padilha : "vamos procurar nossa turma". Ao lado do processo, o prefeito Haddad transforma o "padilhar" em "puxar para baixo". E esse PROS, hein ? E esse PROS, vai para onde ? Quais suas possibilidades ? Partido meio confuso ou confuso e meio. Poucos sabem quem são seus líderes. Os Gomes do CE, Cid e Ciro, estão eles. Se perderem no CE, o PROS aumentará os contra. Economia global No Brasil, diversos indicadores sinalizam um arrefecimento da economia brasileira, dentre os quais desaceleração da demanda por serviços, redução do nível de empregos, aumento de estoques e comércio com resultados abaixo do esperado. O panorama mundial não é muito diferente, uma vez que ainda não houve a recuperação total da economia mundial após a crise de 2008. Nesse contexto, "Economia Global" será tema de debate em painel do 25º Congresso Brasileiro do Aço. O economista Eduardo Giannetti será o conferencista e o painel contará com os debatedores : o economista Delfim Netto ; o conselheiro do Aço Brasil e presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, Jorge Gerdau Johannpeter ; e o economista Maílson da Nóbrega. O evento será realizado nos dias 12 e 13 de agosto, no Complexo WTC, em SP. Maior campanha Serão 11 os candidatos à presidência da República. A campanha oficial custará R$ 916,7 milhões, soma dos recursos indicados pelos partidos no TSE. São dados oficiais. Agora, multipliquemos por três esse número para se chegar quase aos R$ 3 bilhões. Como se sabe, o custo informal é três a quatro vezes maior. Imagine-se, agora, a campanha de governador, senador, deputados Federais e estaduais nos 27 entes Federativos. Quem se habilita a dar um número ? Campanhas nas redes Os dados são do poeta Cícero, atento analista da cena política e do desempenho de candidatos nas redes sociais. Mostra-me que Barack Obama tem 44 milhões de seguidores, segue cerca de 650 mil pessoas ; Dilma Rousseff tem apenas 2,5 milhões de seguidores e acompanha (pasmem !) apenas 340 pessoas. Mas a presidente e Lula fazem constantes reuniões com blogueiros. Por que ainda não conseguiram alavancar seus blogs nas redes sociais ? O menu eleitoral Que condimentos entram no caldeirão eleitoral ? O medo é o primeiro deles. Os efeitos do medo são muito grandes ante situações de fome, sede, doença, depressão e até cansaço, o que explica a eficácia da linguagem da ameaça nas abordagens. Exerce o medo maior influência sobre camadas em precária situação econômica, contingentes esgotados ou amedrontados por diversos motivos. O desconhecido, a surpresa, o isolamento, a tensão agravam o estado de medo. Por isso mesmo, procura-se marcar candidatos com a pecha de contrários a programas assistenciais, como o Bolsa Família. É sabido que os valores econômicos e os interesses materiais, fundamento dos dois instintos de conservação do ser humano (combativo e nutritivo), lideram o rol de "alimentos psíquicos" que entram na panela eleitoral. O bolso, portanto, é a parte mais sensível do eleitor. Credenda e Miranda Harold Lasswell, estudioso norte-americano, coloca ainda no caldeirão que começa a ferver duas categorias assim designadas : os Credenda e os Miranda, ou seja, as coisas a serem acreditadas e as coisas a serem admiradas. A primeira comporta o discurso, as propostas, as promessas, repertório, aliás, hoje bastante desprestigiado. Ele parte da lógica que aponta para as prioridades das famílias, ou seja, as demandas urgentes e prementes do cotidiano : alimento barato, transporte fácil, rápido e confortável, escola de qualidade próxima à casa, hospital capaz de prestar bom atendimento, segurança nas ruas, harmonia comunitária. Já na galeria da admiração, emerge, primeiro, o candidato com sua história e valores que modulam o perfil : experiência, mudança, avanço, domínio temático, capacidade expressiva, simplicidade, maneira de se apresentar. Geram simpatia, empatia ou antipatia, elementos que carregam o voto do coração para uns e rejeição para outros. Os amigos Os grupos de amigos, a vizinhança e a própria vida no bairro têm peso no processo decisório do eleitor, eis que funcionam como cola de pertinência social e do cotidiano comum, o que é importante para estabelecer as demandas comunitárias. Explica-se, assim, a proximidade como fator gerador da distritalização do voto, tendência crescente no país. As bases buscam cada vez mais candidatos que se identifiquem com as localidades, que são os centros da micro-política. Partidos e pesquisa Não é desprezível também o tempero dos partidos, principalmente nos fundões do território, onde ainda se vota de acordo com os costumes antigos e sob a égide de lideranças e famílias que repartem o espaço político e as estruturas de poder. Da mesma forma, é inegável a influência de pesquisas junto a alguns compartimentos, particularmente nas beiradas que agregam camadas incultas e embaladas pelo celofane de "vitórias" arrumadas por mapeamentos "fajutos" e de utilização eleitoreira. Em algumas regiões, pesquisa vira cabo eleitoral. Emoção e razão Questão instigante na propaganda política é a que procura distinguir a linguagem da emoção da linguagem da razão. "As pessoas que votam com o coração são mais numerosas que as que votam com a cabeça ; as eleições são ganhas e perdidas pela emoção, não pela lógica", proclama o famoso profissional de propaganda norte-americano, Joseph Napolitano. É verdade que a espetacularização da política, que se expande no bojo da sociedade de informação, procura maximizar as alavancas da adesão do eleitorado, o que implica adoção de signos que impactem o hemisfério emotivo do cérebro. Urge, porém, reconhecer a promoção educacional e social de grupos saídos das margens, que começam a fazer exame criterioso de candidaturas e escolha mais racional de perfis. Ou será que os 30 milhões de eleitores que ascenderam ao meio da pirâmide nos últimos 10 anos votam apenas com o coração ? Conselho aos jogadores Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos jogadores da seleção brasileira. Hoje, mantém o foco na Copa e nos nossos jogadores : 1. A saída de Neymar da Copa pode significar mais garra, mais arrojo, mais união. 2. Trabalhem com a perspectiva de transformar as dificuldades em motivo para criar oportunidades. 3. O país espera que cada um cumpra seu dever. Com dignidade.
quarta-feira, 2 de julho de 2014

Porandubas nº 404

Seu Lunga Pois é, abro a coluna com o impagável Seu Lunga, o desbocado cearense. Chegou a ele um amigo de quem tomou emprestado um dinheiro : - Seu Lunga, a promissória venceu. Resposta mais que rápida : - Meu amigo, para mim tanto faz como tanto fez. Podia ter perdido, ganho ou empatado. Não torço por nenhuma Promissória. E despachou ligeirinho o amigo. Pequenas lições A indagação central ao consultor é : como deve ser a campanha eleitoral deste ano sob o prisma do marketing político ? Não há uma resposta fechada. Toda campanha deve ser plasmada, planejada, focada com base nas realidades regionais, locais, onde os climas e as circunstâncias determinam maior ou menor ênfase aos chamados elementos do marketing. O que se pode indicar como vetores que devem balizar o planejamento é um conjunto de abordagens pinçadas a partir do ciclo político-eleitoral-lúdico que estamos vivenciando no Brasil. Sob este entendimento, uso a coluna de hoje para sugerir as ênfases abaixo nos chamados cinco eixos do marketing político : a pesquisa, o discurso, a comunicação, a articulação e a mobilização. 1. Descobrir o que se passa na cachola Neste ano, mais importante que pesquisa quantitativa, voltada para aferir as intenções de voto em candidatos, é pesquisa qualitativa com o objetivo de mapear o sistema cognitivo do eleitor. Como é sabido, o processo de tomada de decisão por parte do eleitor - a preferência por um candidato e a rejeição a outros - leva em conta um conjunto de situações : proximidade, conhecimento, circunstâncias, qualidades do candidato, passado do candidato, experiência, compromissos, ações já realizadas, maneira de expressar, capacidade de argumentação, ligações partidárias, grupos envolvidos na eleição, etc. O importante é descobrir as razões íntimas de aprovação e rejeição a candidatos. O eleitor pode mudar de posição se o discurso de um candidato preencher plenamente suas expectativas e demandas. 2. Arrumar o discurso adequado e crível A pesquisa oferecerá muitos subsídios para a formação de um discurso ajustado à cachola dos eleitores. O eleitor de 2014 está desconfiado da lenga-lenga. Nesse sentido, vale a pena conferir as seguintes abordagens para o estabelecimento das linhas do discurso : a) questões da proximidade e do cotidiano do eleitor - nesse caso, o discurso agregará os pontos e as demandas imediatas do eleitor, todas as reivindicações e desejos que moldam seu processo decisório ; b) questões intermediárias, de impacto mais geral, que possam expressar o conceito do candidato no ranking dos avanços, mudanças, modernidade, atraso, retrocesso, representação do passado e projeção do futuro ; c) atenção às demandas mais da própria comunidade local, regional e aos movimentos organizados por setores e categorias profissionais. 3. Internalizar o discurso : comunicação eficaz O terceiro desafio é o de procurar fazer com que o discurso entre na cachola do eleitor. Não apenas que chegue a ele, mas que possa ser entendido, assimilado, avaliado e consumido. Ou penetre fundo nos espaços sensoriais e gere empatia, aceitação. Para isso, a comunicação acertada é fundamental. Buscar uma interlocução direta, olho no olho, mão na mão. A par dos veículos de comunicação disponíveis. Os candidatos majoritários terão maior tempo e condições para desenvolver uma comunicação mais eficiente e eficaz. Já os candidatos proporcionais - deputados - terão que usar mais suas capacidades expressivas, a par de um arrojado grupo de cabos eleitorais capazes de verbalizar suas propostas. 4. Criar redes de apoio Mais que outros anos, a articulação com os eleitores agrupados em redes ou nas entidades organizadas é um dos principais desafios desta campanha. A sociedade afasta-se da política. Indigna-se contra a corrupção que campeia por todos os lados. Esse fenômeno tem propiciado a organização de grupos, setores, núcleos que passam a formar novos polos de poder. Que agem sobre os poderes centrais - Congresso, Executivo, Judiciário, etc. Pois bem, os candidatos devem auscultar as vozes das ruas e dos movimentos sociais. Todo esforço deve ser empreendido para se estreitar relacionamentos com as redes organizadas, interpretando seus anseios e assumindo o compromisso de defender suas causas. A articulação com a sociedade e com a própria teia de partidos é um dos eixos mais importantes da campanha deste ano. 5. Pequenos e rápidos encontros O último eixo é o da mobilização. Este é o vetor voltado para a energia da campanha, a movimentação, a circulação do candidato no meio do povo, os eventos, as caravanas, as passeatas e carreatas, etc. Pois bem, em vez de grandes comícios e encontros - que faziam os espetáculos do passado - devem ser organizados pequenos e rápidos encontros : cafés da manhã, pequenas palestras, reuniões com grupos de 100, 200, 300 pessoas, na esteira de uma agenda que possa contemplar 10 a 15 cidades por dia. Difícil, claro, principalmente em Estados de grande superfície. A lógica nesse caso se ancora na onipresença - ou seja, o candidato se fará presente em diversas cidades em um só dia, abrindo vasto campo de visibilidade, estreitando contatos, falando diretamente com lideranças e eleitores. Uma agenda bem planejada é capaz de fazer milagres. A campanha em SP SP sediará a mais emblemática campanha nacional. Pelas seguintes razões : tem o maior eleitorado brasileiro - quase 33 milhões de votos ; os maiores conjuntos de classes médias ; os maiores contingentes de eleitores das margens sociais ; os maiores conglomerados trabalhistas ; enfim, a maior organicidade social do Brasil. SP é a representação maior do país, com suas divisões de classes e os novos polos de poder. E também será a maior tuba de ressonância. Posições em SP O PT mostra-se sem força nesse momento para enfrentar o governador Geraldo Alckmin. Por isso, as atenções se concentram, hoje, em Paulo Skaf, que terá o maior espaço de TV e rádio na programação eleitoral. Skaf deve ir ao segundo turno pelas projeções que se fazem hoje. Muito difícil será Alckmin ganhar esta eleição no primeiro turno, eis que é visível a corrosão nos canos do tucanato depois de 20 anos governando o Estado. No segundo turno, se Skaf confirmar presença, certamente o eleitorado petista concentrará nele seus votos. Daí a previsão que aponta um segundo turno dramático e muito disputado em SP. Kassab, Serra e Suplicy Kassab e o seu time do PSD formam aliança com Paulo Skaf. E Kassab decidiu aceitar o convite para ser o candidato ao Senado. Pelo PT, Eduardo Suplicy. Depois de idas e vindas, José Serra decidiu também ser candidato. Mas Kassab só aceitou a candidatura por saber que Serra disputaria um mandato de deputado e não de senador. Ambos conservam uma amizade alicerçada nos tempos da prefeitura. Pois bem, e agora ? Serra havia desistido do Senado. Recuou e agora diz que aceita. Vamos acompanhar o imbróglio. A situação de Suplicy não é boa. Café com leite ? A escolha do senador Aloysio Nunes Ferreira, PSDB/SP, como candidato a vice na chapa de Aécio objetiva fechar o pacto MG/SP, os dois maiores colégios eleitorais do país. O senador teve 11 milhões de votos. E pode ser uma ponte importante para interiorizar o nome de Aécio Neves junto ao vasto eleitorado das grandes cidades de SP. No Nordeste, hoje, Dilma leva uma maioria de 12 milhões de votos sobre Neves. Tarso no RS Muito difícil a reeleição de Tarso Genro ao governo do RS. A senadora Ana Amélia está com boa dianteira. Armando em PE Interessante a situação de PE. O senador Armando Monteiro, do PTB, apoiado pelo PT, está a quilômetros do candidato do PSB, Paulo Câmara, escolhido por Eduardo Campos. Tem cerca de 30 pontos de vantagem. E este tem a obrigação moral de ganhar no Estado onde, dizem, faz barba, cabelo e bigode. A conferir. Novo comando na Clia Brasil Desde ontem, Roberto Fusaro é o comandante da CLIA ABREMAR BRASIL (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos). Após 90 dias de transição, o executivo assumiu o lugar que foi de Ricardo Amaral por cinco anos. Fusaro, que também é diretor-Geral da MSC Cruzeiros para a América do Sul desde 2006, trabalha no setor há 20 anos. Graduado em Economia e Ciências Contábeis em Buenos Aires e com MBA em Gestão de Negócios pela Universidade de Chicago, já teve experiências em companhias de cruzeiros nos Estados Unidos, Europa e acumula cargos no Brasil desde 2001. Experiente profissional no segmento, Ricardo Amaral seguirá no Conselho da CLIA ABREMAR BRASIL. Despedida de Barbosa Joaquim Barbosa em seu discurso de despedida do STF : "Saio absolutamente tranquilo, como eu disse, com a alma leve, aquilo que é fundamental para mim, o cumprimento do dever. É exatamente aquilo que eu disse hoje na sessão : é importante que o brasileiro se conscientize da importância, da fundamentalidade, da centralidade da obrigação de todos cumprirem as normas, ouvirem a lei, cumprirem a Constituição. Esse é o norte principal da minha atuação. Pouca condescendência com desvios, com essa inclinação natural a contornar os ditames da lei, da Constituição". Joaquim cumpriu a missão. Deixa a Suprema Corte pela porta da frente. Conselho aos jogadores brasileiros Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos estrategistas do PT. Hoje, dedica sua atenção aos jogadores da Seleção brasileira. 1. Mais raça, porque ração ($) vocês têm muita. 2. Mais garra e menos medo. Menos choro, menos tensão e mais alegria. 3. Mais chutes ao gol, mais rapidez, mais meio do campo, mais gols. Em suma, mais futebol.
quarta-feira, 25 de junho de 2014

Porandubas nº 403

Abro a coluna com uma historinha contada pelo impagável Zé Abelha. Jaeder Albergaria foi, sem dúvida, o mais famoso político do antigo PSD no Vale do Rio Doce. Fazia parte do que se convencionou chamar de o jardim de infância de Benedito Valadares. Fundador do PSD. Médico, começa a clinicar em Itanhomi. Primeira semana, nada de cliente. O jovem médico entrava em desespero. De repente, quando está almoçando na pensão onde mora, surge um pai aflito com um garoto ao colo. O garoto havia aspirado um caroço de feijão e respirava mal. Dr. Jaeder diz ao aflito pai que vá caminhando para o seu consultório. - Termino rápido o almoço. O primeiro cliente já garantiria o pagamento da cama e boia ao jovem médico. Acocorado na porta da pensão, um velho cuspinha e pergunta ao assustado pai o quê é que o aflige. - Isso num é nada. Dá esse rapé para ele cheirá. É fava contada - garante. Dito e feito ! O garoto cheira o rapé, espirra e o caroço de feijão voa longe. E bem pra longe voam os primeiros honorários do dr. Jaeder Albergaria. O Futebol venceu Ufa, o futebol venceu. A Copa é um sucesso. De plateias, animação e gols. Quem achava que não daria certo, caiu da arquibancada. Isso é um fato. Mas a política não vai tirar proveito do evento. Vejam-se as vaias. Que continuam aqui e ali. Se o Brasil não chegar às finais, mas fizer boa performance, os ânimos serão apaziguados. Se a seleção não melhorar, é possível que o clima fique ácido. Mas tudo indica que, catando milho, sem grandes exibições, os canarinhos deverão chegar perto da gaiola e, quem sabe, comer os grãos nas finais. A conferir. Zelites Essa mania de achar que a "zelite branca" é a responsável pelas maldades que assolam o território nacional já bateu no teto. Ninguém aguenta mais tal bobagem. Afinal, Lula é de que zona da "zelite" ? E a presidente Dilma ? Os réus do mensalão fazem parte de que parte da "zelite" ? Joaquim Barbosa, o juiz que preside a mais alta Corte, é ou não é "zelite" ? Faz mal ou bem à Nação ? Se fez mal ou bem, que "zelite" representa no repertório das maldades do país ? A "zelite negra" ? Haja mistificação. Haja sofisma. Haja paciência com a imbecilidade. Nós e eles Mas é claro que o apartheid entre pobres e ricos, "nós e eles", interessa ao PT. Que, apesar dos avanços institucionais e atitudinais que ocorrem no país, teima em ressuscitar motes do passado. Lula acha que o discurso da separação de classes favorece o PT. Está equivocado. Até as massas ignaras não toleram mais viver sob refrãos obsoletos. O resgate desse discurso é uma tentativa de botar novamente no palanque a polarização PT x PSDB, os primeiros vestindo a pele da ética e os segundos, o manto da maldade. Será que Lula e adjacências acreditam que podem continuar a enrolar as massas com o celofane da mistificação ? Quem prega ódio ? Lembremos : em 1972, Lula vestia a camiseta do João Ferrador, personagem criado pelo jornalista Antônio Felix Nunes para apresentar as reivindicações dos metalúrgicos. O bordão do raivoso Ferrador era : "hoje eu não tô bom". Em 2002, adotou o slogan "Lulinha paz e amor", contrapondo-se ao perfil combativo e sisudo das eleições de 1989, quando recebeu de Leonel Brizola a alcunha "sapo barbudo". Passou a ecoar o slogan : "a esperança vencerá o medo". Foi um tento. Hoje, tenta recompor o dito sob nova roupagem : "a esperança vencerá o ódio". Nesse ponto, emerge a dissonância. O ódio faz parte da estratégia lulista, quando procura resgatar a polarização entre petistas e tucanos, identificando os primeiros com os ricos e os segundos com os pobres. Vacinação A questão, porém, é mais complexa. Os habitantes do meio da pirâmide e parcelas das bordas já estão vacinados contra os refrãos carcomidos pela poeira do tempo. O slogan das ruas é outro : "mais e melhores serviços públicos". Não acreditam que estatutos como o Bolsa Família serão extintos qualquer que seja o futuro presidente. Aos tucanos, por sua vez, interessa acender a tocha da polarização, crentes de suas chances no pleito deste ano. Fernando Henrique decide ir à trincheira : "Lula vestiu a carapuça", resposta à crítica de que teria "comprado" apoios para aprovar a reeleição. O mais corrupto ? Depois de ter brilhado na constelação da ética, o PT aparece nas pesquisas como o ente que mais encarna o vírus da corrupção. Mesmo assim, aposta na dualidade "nós e eles", o bem e o mal. E continua a desprezar os parceiros partidários da aliança governista, alargando seu império na administração Federal. E haja sofisma, a denotar um duplo padrão ético que lembra a resposta do rei africano sobre o bem e o mal, dada ao pesquisador Carl Jung : "O bem é quando roubo as mulheres do meu inimigo ; o mal é quando o inimigo rouba minhas mulheres". Nessa toada, a campanha eleitoral, já começada, se cerca de grandes interrogações. A aposta maior é a de que os rumos finais serão ditados pelo andar da carruagem econômica : maior inflação, aumento do desemprego, barrigas roncando, massas apertando o cerco, pior para a presidente Dilma, melhor para as oposições ; a recíproca é verdadeira. Lula no ataque No plano dos discursos, o PT se esforça para dar credibilidade a um escopo ideológico, que ainda causa receio à parcela ponderável do eleitorado. É um partido que enxerga, muito assustado, a corrosão de sua identidade, que era a mais confiável há 20 anos. Teme ser desalojado do primeiro andar do poder. Sente que já não tem tanto respaldo popular quanto nos dourados anos da era Lula, de quem espera papel de vanguarda na estratégia de continuidade. Por isso, Luiz Inácio, valendo-se do conhecido instinto, desenvolvido ao longo do contato direto com as massas, resgata o velho axioma de guerra : "a melhor defesa é o ataque". Ataque contra a imprensa ; ataque contra as elites ; ataque contra quem cospe no prato em que comeu ; ataque contra o ex-presidente Fernando Henrique (que teria "comprado" apoio no Congresso ao projeto da reeleição). O tiroteio, vale frisar, tem o mérito de fazer recuar exércitos adversários, obrigando-os à defesa. Beócio Agenor Leal de Souza, vereador de Peçanha, chamou seu companheiro de Câmara Municipal, Tibúrcio Alves Pereira, de beócio. Tibúrcio levantou-se solene : - Nobre senhor vereador Agenor Leal de Souza, se a palavra beócio for agradativa ou adulativa, muito obrigado a V.Exa. Mas se for atacativa, beócio é a mãe de V.Exa. Era atacativa! O bacanal eleitoral Uns dizem : vivemos um bacanal eleitoral ; outros falam : estamos vendo a orgia em plena esfera partidária. Esculhambação geral. O PSB de Eduardo Campos, que pretende se apresentar como o novo, alia-se, no Rio, ao senador Lindbergh, do PT, candidato ao governo. Logo, o "lindinho", como é chamado pela presidente Dilma o candidato petista ao governo, abre um palanque misto no RJ. Ou seja, em seu palco poderão se apresentar Dilma e Eduardo Campos, ambos candidatos à presidência. Em SP, o mesmo PSB (o novo ?), faz aliança com Alckmin, podendo, então, aparecer no mesmo palanque do tucano Aécio Neves. No Rio, agora é o DEM, de César Maia, que se junta ao PMDB. Esse casamento de zebra com bode, de jacaré com cobra d'água, se repete na maioria dos 27 Estados. E Pezão, hein ? Pezão, o governador do Rio, tem um pé no PT, apoiando Dilma, e também um pé no PSDB, apoiando Aécio. Daí a chapa Aezão, como já se vê. Quem tem boca vai a Roma. E quem tem um Pezão, embarca em duas canoas. Assim é a política brasileira. Em tempo : esse consultor tende a acreditar que Pezão levará a melhor no RJ. A conferir. Partidos no Rio No RJ, os partidos conservam a seguinte posição em matéria de prefeituras : PMDB, 22, com 53,% do eleitorado ; PR, 6, com 9,5% do eleitorado ; PT, 12, com 6,6% do eleitorado ; PC do B, 4, com 3,9% do eleitorado ; PDT, 5, com 3,5% do eleitorado ; PSB, 6, com 3,2% do eleitorado ; PP, 8, com 3,1% do eleitorado ; PSC, 7, com 2,8% do eleitorado ; PSD, 7, com 2,5% do eleitorado ; PV, 1, com 1,2% do eleitorado ; PMN, 1, com 1, 06% do eleitorado. Os partidos restantes(PRB, PSDB, PPS, DEM, PSDC, PTB e PSOL) têm menos de 1% dos eleitores. Computo Pachequinho e Chico Fulô (Waldomiro Lobo) eram muito populares e vereadores do PTB em BH. Disputavam as mesmas áreas e viviam brigando. Na tribuna, Waldomiro falava de tuberculose e tuberculosos, seu assunto predileto : - A cidade está cheia de tuberculosos. Não sei ao certo quantos são, mas eu computo... Pachequinho aparteou : - Não é computo não, ilustre vereador. É cômputo. - Eu sei que cômputo. Mas, falando com V.Exa., eu falo computo. Foram aos tapas ! Adeus, Sarney 60 anos de vida política. Uma única derrota em uma eleição para a Câmara Federal. O poderoso ex-presidente da República e senador José Sarney está abandonando a lide eleitoral. Não a trajetória da política. Alega motivos pessoais. Quer ficar mais tempo perto de sua mulher, dona Marly. Mas é evidente que pesam nessa decisão as possibilidades estreitas de uma vitória para o Senado, no AP, que representa na Câmara Alta, e as dificuldades que a família enfrenta no MA, onde os Sarney dominam a política há 60 anos. Sarney promete continuar a influenciar os bastidores do poder. PT abre a porteira Parceiros do PT continuam a fazer alianças nos Estados com adversários do petismo, fato que pesará bastante na balança da presidente Dilma. O PT é o responsável por esta situação. Não abre para os aliados as condições para sua expansão. Ao contrário, mantém-se firme em seu projeto de hegemonia. No Triângulo das Bermudas - SP, MG e RJ - a presidente Dilma perde bastante densidade eleitoral. PTB já saiu da aliança. PP está insatisfeito. PSD, de Kassab, também tem divergências com PT. Esses dois partidos fecharão com o PT no plano Federal, mas as bases expressam resistência. CE No CE, o senador Eunício Oliveira, candidato do PMDB ao governo, tende a fechar aliança com o empresário e ex-governador Tasso Jereissati, que será candidato ao Senado pelo PSDB. E pode ainda formar aliança com o DEM. Carvalho tem razão O ministro Gilberto Carvalho, conhecido por não ter papa na língua, foi direto ao ponto : não apenas as "elites brancas" apupam o governo. Segundo ele, a coisa está "gotejando" e chegando mais embaixo. O ministro tem razão. Basta conferir, de passagem, o Produto Nacional Produto da Insatisfação, que se vê nas ruas e vielas do território. Conselho aos estrategistas do PT Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos marqueteiros dos candidatos. Hoje, volta sua atenção aos estrategistas do PT, a começar pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva : 1. Trata-se de um erro querer resgatar o velho mote da luta de classes, pobres contra ricos. O Brasil quer apagar esse discurso de separação. 2. Urge apresentar à sociedade programas, ideias, projetos, ações, que possam colocar as questões substantivas acima das abordagens adjetivas. 3. As manifestações que ocorrem nos principais centros do país, a partir de SP, apontam para o slogan desses tempos inquietos : mais e melhores serviços públicos.
quarta-feira, 18 de junho de 2014

Porandubas nº 402

Abro a coluna de hoje com uma historinha contada pelo jornalista e escritor Gerardo Mello Mourão, em seu belo livro "Um Senador de Pernambuco - Breve Memória de Antônio de Barros Carvalho". Livro que me foi ofertado pelo grande professor e amigo, o advogado Paulo de Barros Carvalho. O livro trata da vida e obra do famoso senador de PE, Barros Carvalho, figura ímpar da República, deputado, depois senador, ministro de Estado, líder da maioria e líder do governo no Senado, tendo atravessado longos corredores da política desde a era Getúlio Vargas. Pague o almoço O autor destas notas recebeu certa vez telefonema do ministro Horácio Lafer, que tinha urgência em falar com Barros. O encontro foi marcado imediatamente na barbearia do Jockey Club, na avenida Rio Branco. O poderoso ministro da Fazenda explicou : voltara da Europa e sua bagagem estava retida na alfândega há cinco dias, com alegações de irregularidade. Lafer era um homem absolutamente sério, e não queria supor que tivesse cometido irregularidades, mas também não podia expor-se à suspeita de fazer pressões sobre funcionários da Receita. Alguns servidores mais antigos da Fazenda lhe informaram : só o Barros Carvalho pode resolver o problema. Na mesma tarde o inspetor da alfândega, o guarda-mor e um modesto fiscal que apreendera a bagagem trouxeram a papelada a Barros. Até onde se lembra o autor destas notas, havia uma pequena peça de prata oferecida ao ministro por um colega, na França ou na Alemanha, e dois ou três vidros de perfume além do limite permitido em lei. Todos concordaram em que não havia necessidade de lavrar auto de infração e que o passageiro Horácio Lafer podia pagar ali mesmo a pequena soma das alíquotas devidas. Barros pagou de seu bolso, resolveu-se tudo na hora, foi almoçar com o ministro no dia seguinte e, perguntado sobre o montante da despesa, respondeu : "Pague o almoço, que eu acho que ainda saio ganhando". Hoje não se fazem mais ministros da Fazenda como antigamente. Copa para todos os lados O Brasil respira Copa por todos os lados. De futebol à política, dos apupos nas ruas aos gritos de ovação nos estádios. O que era esperado se confirma. O brasileiro torce pela seleção canarinho, não confunde alhos com bugalhos, política com futebol. Isso explica, em parte, a indignação de torcidas contra governantes de todos os naipes. Não apenas contra governistas. O que tem mais surpreendido, nesse início de Copa, é a acidez expressiva de candidatos e cabos eleitorais. Pensava-se que iria haver trégua. Não. Após os apupos (de baixo nível) à presidente Dilma, no Itaquerão, o tom esquentou. Vaia em estádio A vaia conserva uma simbiose com os estádios. Faz parte do ambiente. É bem verdade que as vaias recebidas pela presidente no Itaquerão partiram das galeras endinheiradas. O que ali ocorreu foi uma falta de respeito. O uso de palavras de baixo calão pega mal. Dá-se respeito quem respeita. Era previsível a vaia. Para todos os políticos. Mas não se esperava uma linguagem chula. O tiro pode ter saído pela culatra. A presidente surge, agora, como vítima. Ataques de todos os lados Aécio fala que um tsunami varrerá os governantes do PT. Campos fala que saiu do governo por não concordar com a bandalheira. Dilma refuta dizendo que não se incomoda com vaias de ricos. Lula rebate Aécio Neves resgatando o velho discurso dos ricos contra os pobres, a luta de classes. E prega que a esperança vencerá o ódio. Esperava-se uma trégua sem rancores. Mas a indignação se expande. Imagine-se o que veremos até outubro. A guerra de palavras - e estocadas recíprocas - tende a fazer desta campanha a mais ácida de todos os tempos. Tentativa de polarizar O que se nota é a tentativa do PT e do PSDB de acirrar a polarização. O país está saturado da velha querela entre petistas e tucanos. Mas, ao que se percebe, há interesse dos dois lados em manter a rixa. O PT tem errado muito. Conseguiu o feito de estabelecer um apartheid no corpo social e político : nós contra vocês ; nós somos os bons, vocês são os ruins. Mocinhos e bandidos. Mas o PT não é mais o partido da ética e da inovação, aquele que foi criado para mudar o status quo. Envolveu-se no maior escândalo da contemporaneidade política : a AP 470, o mensalão. Perdeu credibilidade. E passou a ser sinônimo de partido comprometido com a corrupção. Logo... PT sem credibilidade Logo, o discurso do PT perdeu credibilidade. A fala de Lula em resgatar a esperança contra o ódio pode, até, animar incautos e incultos. Mas é um discurso para as bases petistas com o intuito de armar os exércitos das ruas. Consegue, assim, enraivecer setores médios, inclusive parte do segmento que ascendeu ao meio da pirâmide. Lula sabe disso. Sabe também que não tem mais o prestígio de antigamente. Entusiasma os fundões e parcela considerável da classe C, mas afasta-se das classes médias tradicionais. Pode recuperar o terreno perdido pela presidente Dilma em espaços do Nordeste, mas é sensível o desgaste do governismo na região Sudeste, onde se concentra a maior parte do eleitorado. SP, o fator central SP é a joia da coroa entre os Estados. Ganhar dos tucanos em SP tem sido meta prioritária do PT. É o sonho dos sonhos de Lula. Cada vez mais difícil de se concretizar. A falta de água no sistema Cantareira poderia ser o grande trunfo/argumento do petismo para tomar as rédeas do Estado. Mas os rombos nos costados do PT não conseguem torná-lo capaz de engatar um bom discurso no Estado. Alexandre Padilha, que navega em águas baixas - 3% dos votos - conseguirá recuperar os chamados 30% históricos do PT no Estado ? Parece impossível. Nem Lula nem Dilma, dizem, acreditam mais na possibilidade. Embate Alckmin x Skaf Por isso, cresce a possibilidade de um embate entre o governador Alckmin e o candidato do PMDB, Paulo Skaf, que, nesse momento, exibe 21% de intenção de voto, taxa que permite projetar seu ingresso no segundo turno. Sob essa alternativa, vê-se uma dura disputa, desta feita entre um candidato menos comprometido com a velha política e um ícone do tucanato, Geraldo Alckmin, que simboliza 20 anos de poder dos tucanos no mais forte ente estadual da Confederação. Desafios Aécio Neves se sente na obrigação de eleger seu candidato ao governo de MG, Pimenta da Veiga, que está atrás de Fernando Pimentel, do PT ; o mesmo se dá com Eduardo Campos, que enfrenta o desafio de vencer o senador Armando Monteiro, PTB, apoiado pelo PT, ao governo de PE. O candidato de Campos, do PSB, é o ex-secretário da Fazenda, Paulo Câmara, que está bem atrás de Monteiro. BA e RS Na BA, é mais que provável a vitória de Paulo Souto, do DEM, apoiado pelo PMDB e pelo PSDB. O PT deverá perder nesse importante bastião político do Nordeste. No RS, a reeleição de Tarso Genro, do PT, é muito difícil. Apesar dos pesares As arenas dos 12 Estados que sediam a Copa estão dando conta do recado. Há problemas no acesso, nas obras de entorno, mas, ao que se enxerga, os estádios estão aprovados. Ou será que ainda não ? Resta saber como serão mantidos após o campeonato. Visão do país O imenso contraste entre o ar pesado do momento e o clima descontraído, previsível pelo fato de o Brasil patrocinar a maior festa esportiva de sua história, aponta para múltiplos significados. O primeiro deles é o de que a batizada "Copa das Copas", mesmo que consiga dar vazão ao ufanista título, se desenvolverá sob um tecido social esgarçado, a exibir a incapacidade do Estado no acolhimento às demandas da sociedade. Harmonia é uma quimera Os clássicos de nossa sociologia e antropologia chegam a apontar a cordialidade como a característica essencial do brasileiro, o que nos faria um povo por excelência gentil e pacífico. Alguns perguntam : onde estaria o espírito cordato, a tendência à harmonia, ao diálogo, à confraternização, quando movimentos contestatórios fluem em todas as direções e sob a atenção de um Estado sem condições de acolher reivindicações de setores e categorias ? Nossa alma pacífica é uma quimera, como bem o demonstra Darcy Ribeiro, ao frisar que "conflitos de toda a ordem dilaceraram a história brasileira, étnicos, sociais, econômicos, religiosos, raciais etc., cada qual se pintando com as cores dos outros". Se há um traço de união entre os eventos que pontuaram nossa história, ele é a ineficiência do Estado na administração das demandas populares. Sociedade à frente O clamor das ruas não é de hoje. Desde os primeiros tempos da era Vargas, na década de 30, as elites, recitavam, com temor, o mantra : "Façamos a revolução antes que o povo a faça". O fato é que o Brasil moderno flagra uma sociedade correndo à frente das instituições. Dentro dessa moldura, é possível interpretar o que se passa. Primeiro, é oportuno lembrar os valores que contribuíram para balizar o ethos social. Por aqui, a "estadania" fixou-se antes da cidadania. O termo foi cunhado por José Murilo de Carvalho para designar uma cultura mais orientada para o Estado, contrastando com a cidadania, cultura mais voltada para os cidadãos. Nossa pirâmide invertida Os direitos sociais (educação, trabalho, salário justo, saúde, aposentadoria), vieram antes dos direitos civis (liberdade, propriedade, igualdade perante a lei) e dos direitos políticos (organização de partidos, votar e ser votado, etc). No estudado modelo inglês, desenhado por Thomas Marshall, a cidadania foi implantada antes. Na Inglaterra, vieram, primeiro, as liberdades civis, garantidas por um Judiciário independente, depois, os direitos políticos consolidados por partidos e o Legislativo e, finalmente, os direitos sociais. Por aqui, o social prevaleceu sobre os outros. Tal situação gerou a dependência ao Estado, que foi obrigado a ampliar os braços assistencialistas que, na esteira da competição política, incorporaram um viés populista. O Estado todo poderoso, por seu lado, passou a interessar às elites políticas, na medida em que enxergam no presidencialismo imperial a forma de perpetuação no poder. Velhos métodos Chega-se, assim, à esfera da política. Que não se renova. Os métodos são os mesmos do passado. Escândalos explodem. A corrupção campeia. Os problemas se repetem. Descobre-se, agora, o mesmo improviso da Copa de 50, com estádios inconclusos. A sete dias da abertura do Mundial, o Maracanã estava em obras e andaimes seguravam as arquibancadas e a cobertura, apesar de o Brasil ter sido escolhido em 1946. Sobressaem, na radiografia, o país da sociedade organizada, mais exigente e crítica ; e a estampa de um território de gastos superlativos, obras inacabadas, desvios de dinheiro e escândalos. Ora, não resta outro caminho que o protesto, a contestação, a impaciência, a indignação. A pimenta nesse caldo é o pleito eleitoral, que se apresenta como ideal para grupos exibirem suas performances. Violência é parte A violência faz parte da estratégia. A ciência política mostra que na maior parte das sociedades, a paz cívica é impossível sem alguma reforma e a reforma é impossível sem alguma violência. Nos Estados Unidos, na década de 60, Kennedy apregoava a aprovação da lei dos direitos civis para tirar a violência das avenidas e "levar a luta para os tribunais". Já os flagrantes de nossas ruas estão a indicar que os confrontos só amainarão quando as estruturas governativas atenderem ao clamor social. E quando as reformas, que claudicam no Parlamento, forem feitas. Enquanto isso não ocorrer, as forças sociais, como locomotiva, continuarão a puxar as instituições, a partir dos agrupamentos mais esclarecidos. Trunfos Aécio tem ainda um trunfo nas mãos : a candidatura à vice. Quem será ? Alckmin tem um trunfo e um desafio : a vaga de vice e atrair, ao mesmo tempo, o PSD de Kassab e o PSB de Eduardo Campos. Que partido conseguirá ceder o nome na chapa de Alckmin ? Conselho aos marqueteiros Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos atletas da seleção brasileira. Hoje, volta sua atenção aos marqueteiros dos candidatos : 1. Procurem evitar campanhas negativas, de ataques ferozes. O momento do país exige discursos densos. 2. A população quer ouvir propostas, ideias concretas e factíveis. 3. Evitem a cosmética exagerada em seus candidatos, procurando justapor identidade (o que os candidatos efetivamente encarnam) com imagem (a percepção que eles desejam passar aos eleitores).
quarta-feira, 4 de junho de 2014

Porandubas nº 401

Ir à lua ? Apoio, diga data Abro a coluna com a engraçada historinha do inesquecível José Maria Alkmin, político mineiro, ministro da Fazenda de JK, raposa e matreiro : Um correligionário de Bocaiúva, meio lelé da cuca, sem eira nem beira, vai ao gabinete do ministro, ainda no RJ, onde lhe pede uma inusitada colaboração. - Dr. Zé Maria, eu quero ir à lua e preciso da ajuda do senhor, diz o visitante. - Isto não é problema, diz Alkmin, dando asas à imaginação do conterrâneo. Dou-lhe o apoio, de ministro e correligionário. Existe um pequeno e contornável problema, que é de definição, e só depende do amigo. E Alkmin continua : - Você sabe que há quatro luas : nova, crescente, minguante e cheia. Agora, compete a você escolher qual das luas o nobre amigo deseja visitar, pois o apoio está dado. Diante de um atônito conterrâneo, o ministro levanta-se da poltrona, estende a mão para a despedida e afirma, olhando no fundo dos olhos do eleitor : - Me procure, novamente, quando definir ! 8 dias para a Copa Faltam oito dias para começar o maior evento esportivo do mundo. 10 das 12 arenas esportivas que abrigarão os jogos se encontram ainda em conclusão, principalmente obras no entorno, vias de acesso, etc. Vai haver manifestação aqui e ali, a cargo dos black blocs, mas os movimentos não contarão com a simpatia da população. O clima de tensão pode se acirrar, isso sim, caso haja algum incidente mais grave no meio da Copa, uma ruptura de construção, queda de arquibancada, etc, coisa improvável. Mas o mundo do imponderável não tem controle. Candidatos, cuidado Aos candidatos, singelo lembrete : os torcedores vão às arenas ver a performance dos times, não a exibição de candidatos dando tapinhas nas costas e beijando crianças. Evitem, portanto, os trejeitos caso queiram ver os jogos nos estádios. O povão pode aproveitar para usar a presença de um candidato como recado aos políticos, de forma geral, em vaias continuadas. Quanto mais alta a autoridade, mais forte é a possibilidade de um apupo das gerais. Político está em baixa na escala de prestígio. O que dizem as pesquisas Tenho feito uma leitura mais vertical das pesquisas. Minha visão : 1. Os índices quantitativos do momento podem, até, indicar as mesmas posições mais adiante no ranking, mas é mais provável que mudem e muito ; há uma tendência para virar de posição de acordo com o maior conhecimento que o eleitor tenha do candidato ; 2. A polarização entre PT e PSDB será quebrada em alguns Estados, com a possibilidade de alavancagem de nomes que simbolizem uma nova via ; 3. Observa-se uma tendência para quebrar hegemonia dos grandes partidos ; 4. As parcerias "malucas" que estão se fazendo nos Estados estão a indicar a necessidade de uma reforma política - essa pode ser a última eleição do "samba do crioulo doido"; 5. Os perfis mais assépticos, menos contaminados com o vírus da velha política, caem bem na paisagem eleitoral ; 6. Bolsa Família deixou de ser moeda eleitoral. O grupo Quero Mais e Melhor (saúde, educação, transportes, segurança, etc.) é quem faz barulho nas ruas. O papel de Lula Será a campanha em que Lula desempenhará um papel sem a força de antes. Continua a ser o maior cabo eleitoral do país. Sem dúvida. Mas Lula entrou no figurino da mesmice, da banalização. Seu discurso é o mesmo. Sua voz continua a mesma. Seus cabelos estão mais brancos. E o PT, que era o novo, tornou-se velho, decrépito. Não cola mais sua pregação de mudança. Dilma continua a ser a favorita, mas sem a aura da campanha de 2010. A mudança foi pouca em seu governo. Daí os buracos que se observam na paisagem eleitoral. A paisagem de SP Deverá sair pesquisa nos próximos dias em SP. Este consultor arrisca dizer que : a. Geraldo Alckmin reverteu tendência de queda, com administração (por enquanto eficiente) do tema falta d'água em SP (capital) ; b. Paulo Skaf, candidato do PMDB, que acaba de se licenciar da presidência da Fiesp, deve permanecer em torno de 20%. Com tendência a crescer ; c Alexandre Padilha, após maior exposição midiática, deve chegar aos 15%. O PT arregimenta suas bases e passa a vestir a camisa do candidato. As camadas continuam sem uma percepção clara do jogo político. Quem mais aparece, por conta da liturgia do cargo, é o governador Alckmin, cuja base eleitoral no interior de SP é seu ponto forte. Palestra hoje na Assembleia Farei, hoje, às 15h, uma palestra para candidatos, assessores, profissionais da comunicação e do marketing sobre o tema : "10 respostas para a pergunta : como ganhar uma eleição em tempo de grandes mudanças?". A palestra será no auditório Paulo Kobayashi, aberta ao público. É patrocinada pelo Sindeepres, comandado por Genival Beserra, e com o apoio do PMDB, dirigido em SP pelo deputado Baleia Rossi. E os vices, hein ? Partidos e candidatos procuram esconder o jogo. Não fecharam as chapas por conta da indefinição das parcerias. Quem será o vice de Alckmin, Skaf e Padilha ? O ex-prefeito Gilberto Kassab está sendo muito assediado. Abriu conversas com o PMDB, mas, nos últimos tempos, sua articulação com os tucanos ficou mais intensa. O que teria motivado Kassab a sinalizar parceria com o tucanato ? A possibilidade de ser candidato em 2018, com a saída de Alckmin do governo para se candidatar ao Senado ou a outro cargo ; como vice de Geraldo, Kassab teria nove meses para viabilizar seu nome e assumir a candidatura ao governo do Estado. No caso de Skaf, não teria essa chance, muito menos com o Padilha. Aécio e Eduardo Aécio Neves continua a tentar colocar o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, em sua chapa como candidato a vice. Guilherme Afif nega : não há hipótese de Meirelles ser vice de Aécio. Eduardo Campos, com Marina firme na vice, tenta tirar o atraso. Será pouco provável que faça parceria com partidos fortes. Vai se contentar mesmo com dois minutos de TV e rádio. Curiosidades O candidato de Aécio Neves ao governo de MG, Pimenta da Veiga, leva um banho de Fernando Pimentel, candidato do PT. O candidato de Eduardo Campos e do PSB ao governo de PE, ex-secretário estadual da Fazenda, Paulo Câmara, leva um banho do candidato do PTB, senador Armando Monteiro, que é apoiado pelo PT. Mas ambos - Aécio e Eduardo - garantem : vão eleger seus candidatos. A conferir. Fechando o ciclo de 64 A campanha deste ano fecha o ciclo de 1964. Expliquemos : os pesados anos de chumbo redefiniram os rumos da política, fazendo nascer partidos, formando grupos, multiplicando alas e dando margem à diástole que propiciou a abertura dos horizontes democráticos. Os atores alçaram ao patamar contemporâneo sob o empuxo de um discurso que teve como eixo o combate ao passado sombrio. Fernando Henrique, José Serra, Luiz Inácio e Dilma, entre outros, fazem a ponte entre o ontem e o hoje, eles que padeceram sob o tacão da ditadura militar. Vozes do passado ainda se ouvem. Mas é forte o clamor para que o país descortine uma nova era, dando vez ao grupo pós-64. Antecipação Por isso mesmo, a batalha se cerca de um inusitado preparo com o uso antecipado de ferramentas, incluindo intensa propaganda política, manipulação das massas, alianças políticas sem eira nem beira, lógica/ilógica dos discursos. O medo torna-se arma de guerra. É um recurso extremo, mas de efeito devastador. Como pregava Hitler : "É apenas na aplicação permanentemente uniforme da violência que consiste a primeira das condições de sucesso". Implicava a "violação psíquica das massas pela propaganda emotiva baseada no medo". Serge Tchakhotine, em Mistificação das Massas pela Propaganda Política, explica que Hitler usou a estratégia do medo para ativar os dois primeiros instintos humanos : o impulso combativo (o medo e a luta pela sobrevivência - contra incertezas, obstáculos, inimigos, etc) e o impulso nutritivo (alimento, bolso com dinheiro para suprir o estômago). Para ganhar as massas, ensinava Goebbels, "é preciso contar com sua fraqueza e bestialidade, baixar o nível intelectual da propaganda, simplificar as ideias complicadas". Os tempos são outros Ora, os tempos são outros. O dito hitlerista "quanto maior a mentira, maior a chance de todos nela acreditarem" não engabela como no passado, apesar da possibilidade de ainda enrolar incautos e incultos. Entre nós, a estratégia do medo bate nos fundões sob os braços do assistencialismo. Ocorre que a estratégia do terror foi banalizada. Já não finca raízes profundas. A população, mesmo a das margens, parece vacinada contra a artilharia psicológica adotada em guerras eleitorais. Será difícil convencer comunidades que um programa como Bolsa Família, por exemplo, será extinto. Tornou-se política de Estado. E é pouco provável que temas abstratos - privatização da Petrobras, BB e CEF - sejam palatáveis aos sentidos das massas. Os governantes têm a vantagem do "poder da caneta" - liberar verbas, aprovar projetos, nomear pessoas - para dar crédito às promessas. Mesmo assim, a credibilidade do discurso palanqueiro perde força. Transparência tributária Entra em vigor a partir do dia 9/6 a lei 12.741/12, conhecida como "Lei de Olho no Imposto", que prevê o detalhamento da carga tributária nas notas e cupons fiscais sob pena de multa em caso de descumprimento. A obrigatoriedade vale para todo o Brasil e deve atingir cerca de dois milhões de estabelecimentos. Na avaliação de Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sindicato das Empresas de Contabilidade no Estado de São Paulo (Sescon/SP), significa uma revolução e um avanço para a cidadania fiscal. "Sabendo o quanto pagamos de impostos, fica mais tangível exigir do governo retorno em serviços públicos como educação, segurança, saúde e lazer", exemplifica. Pouco mais de 30% das empresas em SP discriminam os tribunos nas notas fiscais. Em seguida, estão RJ (10%) e MG (8%), segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Ninguém tem provas Fecho a coluna com uma historinha que mostra a imagem do político nesses tempos de denúncias e escândalos : Numa festa, a dona de casa recebe um político famoso. - Muito prazer ! - diz ele. - O prazer é meu ! Saiba que já ouvi muito falar do senhor ! - É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas ! Conselho aos assessores dos candidatos Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos atletas da seleção brasileira. Hoje, volta sua atenção aos assessores dos candidatos : 1. Mais que na campanha anterior, o pleito deste ano deverá dar ênfase ao discurso e à articulação com a sociedade organizada. Implica escolher abordagens adequadas, temas de alto interesse da coletividade, e desenvolver contatos estreitos com as entidades de intermediação social. 2. O marketing segmentado (categorias profissionais e classes sociais) deverá prevalecer sobre o marketing massivo (a coletividade como um todo), principalmente nas campanhas estaduais (majoritárias e proporcionais). 3. Essas orientações implicam mapear as forças sociais, verificar quais os novos polos de poder e estabelecer junto a eles um estreito contato, a par de propostas que venham atender suas demandas.
quarta-feira, 28 de maio de 2014

Porandubas nº 400

Abro a coluna com historinhas sobre Ademar, Brizola e Simonsen Como Adhemar virou político Getúlio Vargas não gozava de prestígio na imprensa em 1932. Nesse ano, veio descansar numa fazenda no interior do Estado. Mas adoeceu. Chamaram um médico local muito respeitado e jeitoso, doutor Adhemar de Barros. O ilustre paciente tomou remédios e adormeceu. Mais tarde, ao despertar, ainda encontrou o dedicado médico à cabeceira : - Que horas são ? - perguntou Getúlio. - As horas que o senhor desejar, presidente, respondeu o médico, gentil. Ali nascia a amizade que faria de Adhemar o interventor do Estado de São Paulo. A decolagem do homem político estava selada. A burguesia em Miami Os jornalistas pernambucanos Ivanildo Sampaio e Ernani Régis contam no livro "Quincas Borba no Folclore Político" a reunião de Leonel Brizola com amigo, em 1982, quando disputou o governo do RJ. Um jovem esquerdista insistia para que o manifesto de lançamento da candidatura propusesse reforma agrária e distribuição de renda radicais. Com a prudência curtida em anos de exílio e sofrimento, Brizola descartou : - Meu filho, o Brasil não é Cuba nem a burguesia cabe em Miami. Simonsen, o sincero Mário Henrique Simonsen, engenheiro, economista, professor, brilhante intelectual, presidente do BC no governo Castelo Branco, ministro da Fazenda do governo Geisel e ministro do Planejamento do Governo João Figueiredo, decidiu pedir demissão. Estava insatisfeito e parecia saturado da vida pública. Fez a carta de demissão e foi entregá-la ao presidente que se exercitava no haras que mantinha na Granja do Torto. O ajudante de ordens pediu para o ministro aguardar um pouco. Três, quatro, cinco cigarros depois, aparece o general Figueiredo, saindo da ducha, dorso nu, toalha enrolada : - Presidente, vim aqui trazer este documento. Figueiredo, em pé, abre a carta e lê o pedido de demissão. Explode : - Quer dizer que o senhor está dizendo que o meu governo é uma merda ? Impávido, sem titubear, Simonsen responde : - É isso mesmo ! E saiu calmamente fumando mais um cigarrinho. (Caso contado pelo amigo Barros, o bom e experiente jornalista Guilherme Barros, a quem Simonsen narrava os bastidores da política e fazia confidências) Sismo no meio da pirâmide Tento ler a movimentação social que, desde junho do ano passado, toma conta das ruas do país. E, a cada semana, incorporo mais uma pedrinha no tabuleiro. Vamos à pedrinha : parcela da população brasileira é arrastada para cima e para baixo da pirâmide social pelas ondas de marés enchentes e marés vazantes. A primeira carrega as pessoas da classe C, a chamada nova classe média, para um passeio pelos territórios do grupo B, às vezes com direito a uma escapulida (rápida) ao topo, onde habita a categoria A. Quem propicia a subida é grana extra. A segunda maré, a baixa, empurra o contingente para as águas do fundo. Isso se dá quando a renda das famílias fica apenas no parco rendimento de aposentadoria, pensão ou bolsas, sem os ganhos com bicos e atividades paralelas. O bolso apertado Quando o bolso aperta, a equação BO+BA+CO+CA fica desarrumada. Lembram-se ? BOlso cheio, BArriga satisfeita, COração agradecido, CAbeça apoia patrocinadores. No sufoco do bolso apertado, quem foi induzido a consumir e se vê sem condição de ressarcir despesas, passa a usar de maneira indiscriminada cartões de crédito e a resvalar pela inadimplência. Tal radiografia, flagrada por pesquisa encomendada pelo Consultative Group to Assist the Poor (CGAP), organismo ligado ao Banco Mundial, pode explicar fenômenos que estão a ocorrer no país, a partir de manifestações de movimentos organizados e categorias profissionais. Ponderável parcela da classe média que muda de condição, muitas vezes de um mês para outro, acaba ingressando no perigoso meio-fio da instabilidade, tornando-se, ela própria, um dos eixos a mover a engrenagem da insatisfação social. Entre nada e cinco mil A expressão desolada de um microempreendedor sobre seus ganhos mensais arremata a situação que abriga milhões de brasileiros : "ganho algo entre nada e R$ 5 mil; não dá para adivinhar quando e quanto vai entrar". A insegurança que grassa por classes, espaços, setores e profissões tem se avolumado nos últimos meses, apesar de constatarmos que a taxa de desemprego se mantém estável (em torno de 5%, em março último, nas cinco maiores regiões metropolitanas). A questão é a baixa qualidade do emprego, que leva muitos a buscar outros meios de sobrevivência. Ademais, o cobertor social tem sido curto para cobrir novas demandas. Serviços precários A precária estrutura de serviços não tem recebido do Estado alavancagem para oferecer bom atendimento ao povo. Portanto, por conta do estranho fenômeno que aqui se forma - uma classe C mutante que tateia na escuridão entre as portas do céu e do inferno, passando pelo limbo - as pessoas decidiram abrir a locução sob propícia temperatura ambiental. As políticas sociais do governo abriram buracos. A decisão de implantar gigantesco programa de distribuição de renda - elogiável, porquanto se vive, hoje, o menor nível de desigualdade de nossa história - não tem sido acompanhada de uma política educacional estruturante, capaz de elevar o grau civilizatório de milhões de pessoas que ascenderam na vida. Basta avaliar a estratégia de indução ao consumo, adotada pelo governo brasileiro para enfrentar a crise por que passaram as economias mundiais, a partir de 2008. Crédito e poder de compra Especialistas, dentre eles, Celso Amâncio, ex-diretor das Casas Bahia (OESP, 18/5/2014), dizem : "o governo incentivou o consumo, mas crédito é uma coisa e poder de compra é outro". Quer dizer, o banco até oferece crédito, mas os novos consumidores não dispõem de educação financeira. Acabam usando e abusando de cartões de crédito, um pagando o outro. O governo forjou, de um lado, o populismo econômico para abrir as portas do consumo aos grupos emergentes, mas, por outro, deixou de oferecer a eles ferramentas (e valores) que balizam comportamentos da classe média tradicional. A cesta de compra dos emergentes inchou : TV por assinatura, internet, plano de saúde, escola privada para os filhos, moto ou carro novo. A ignorância em matéria financeira acabou estourando o bolso de tantos quantos achavam ter encontrado o Eldorado. Manjaram ? Isso provoca o sismo Sob essa engenharia, pode-se compreender o movimento das "placas tectônicas" que geram sismos nas camadas do centro da pirâmide. Como se recorda, o losango tem sido apresentado como o formato do novo Brasil : de topo mais espaçado, alargamento do meio e estreitamento da base. Ocorre que o saracoteio da classe C - que ora dança na pista do meio, ora na de baixo -, não permite apostar na substituição definitiva da pirâmide pelo losango. O que se vê na configuração é um redemoinho nas camadas centrais, a denotar insatisfação e impactos que afetam a vida de milhões de brasileiros, principalmente os habitantes de grandes cidades, cujas rotinas sofrem com congestionamentos, mobilizações, greves e paralisações de frentes de serviços públicos. Clima de Copa e eleições É verdade que parte considerável da tensão urbana se deve ao momento especial do país : vésperas de Copa do mundo e de campanha eleitoral. A estratégia de sensibilização do poder e de atores políticos ganha fôlego. Mas é inegável que há uma força centrípeta em ação, aqui mais forte e organizada, ali mais tênue e dispersa, dando a impressão de que o gigante "deitado eternamente em berço esplendido" faz parte da retórica do passado. A dissonância se forma em nossas mentes quando somos levados a cantar (sem interpretar os versos) nosso belo hino nacional. Remanesce a questão : e para onde as altas e baixas marés carregarão a classe C (que soma 64 milhões de pessoas) e, ainda, que consequências serão sentidas em outros conjuntos ? A hipótese mais provável é a que, a continuar o vaivém dos grupos emergentes, os sismos continuarão a balançar o losango e este voltará a dar lugar à velha pirâmide. Pesquisas Onde estão as pesquisas para governos de Estado ? Não aparecem na mídia. O momento é de muita especulação. E mudança. Alguns Institutos, por precaução, deixam de fazê-las, esperando que as "camadas tectônicas" se ajustem às plataformas. O que se pode falar é sobre tendências. Regra geral, há uma tendência de se repartir as coisas negativas com os governantes, que simbolizam o status quo. Governante subindo nesse momento é coisa rara. Pode, sim, resgatar índices anteriores. Ronaldo e Aécio Ronaldo "Fenômeno" anuncia que vai trabalhar para Aécio Neves, seu amigo. Só vejo uma função para ele : embaixador da "boa vontade" para fazer alguma articulação com círculos esportivos. Vai agregar votos ? Não. Vai abrir visibilidade ? Sim. E isso em campanha eleitoral é muito importante. Motivos para campanha contundente Os pré-candidatos começam a se preparar para enfrentar o pleito mais contundente de nossa contemporaneidade. Por que o mais contundente ? 1. Pelo fato de o país viver um momento de mudanças ; 2. Pelo fato de o PT ter maiores dificuldades em realizar o seu intento, o de alcançar a hegemonia política ; 3. Pelo fato de recursos de campanha serem mais escassos, por medo dos doadores de enfiarem a mão no bolso ; 4. Pelo fato de o país ainda vivenciar o clima do mensalão, com denunciados na prisão ; 5. Pelo fato de se visualizar a "corrosão de materiais", 20 anos de poder tucano em SP e 12 anos de PT na área Federal ; 6. Pelo fato de termos candidatos competitivos para a presidência do país ; 7. Pelo fato de vermos a expansão da movimentação das ruas, na esteira de uma democracia participativa ; 8. Pelo fato de termos um eleitorado mais racional e mais exigente ; 9. Pelo fato de o país, pela primeira vez, ir às urnas com uma classe média pontuando em primeiro lugar ; 10. Pelo fato de o conceito de mudança impregnar todas as classes sociais. Repasse de 30% De acordo com o previsto na lei 8.666/93, artigo 65, inciso II, alínea d., Estado e prefeitura de SP deveriam repassar o adicional de periculosidade às empresas de Segurança Privada contratadas pelo governo. No entanto, estão demorando a pagar os 30% do adicional desses contratos, estabelecido na lei 12.740/12, regulamentada pela portaria 1.885/13 do MTE. O atraso tem levado as empresas do segmento à quase insolvência. Vale ressaltar que as empresas de segurança de todos os Estados vêm, desde dezembro de 2013, pagando por sua conta a periculosidade de seus vigilantes. Governantes e assessores deveriam saber que se as empresas por eles contratadas começarem a falir devido à defasagem de preços dos contratos celebrados, o Estado terá de arcar com a demanda trabalhista dos empregados vinculados ao contrato. De 3G O ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, disse que a tecnologia de terceira geração (3G) de telefonia móvel só estará totalmente implantada no Brasil em 2019. Se levará tanto tempo, por qual motivo o governo quer apressar o leilão de tecnologia mais moderna, a 4G, na frequência de 700 MHz ? Tem razão a presidente do Sindicato das Prestadoras de Serviço em Telefonia, Vivien Suruagy, quando diz que o governo está sendo precipitado e quer apenas fazer caixa com este leilão, de olho no superávit primário. Para 4G A 4G em funcionamento no Brasil opera na frequência de 2.5 GHz. Mas tem poucos consumidores, pois a infraestrutura é precária e os aparelhos são muito caros. As operadoras estão temerosas, não recebem informações necessárias da Anatel, mas serão obrigadas a desembolsar muito dinheiro no leilão sem saber se haverá retorno. Para piorar a situação, existem problemas de conflito de sinal entre televisores digitais e celulares com a tecnologia 4G na frequência 700 MHz, cuja resolução vai exigir altos investimentos. Quem paga, se o governo só quer receber ? Arenas esportivas Vespasiano, o imperador, em 22 de junho de 79 d. C., pouco antes de morrer, em carta ao filho Tito, aconselhava-o a concluir a construção do Colosseum (Coliseu), que daria a ele "muitas alegrias e infinita memória". Pois, entre um banheiro, um banco de escola ou um estádio, o povo preferia sentar nas arquibancadas deste último. Conselho aos atletas Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos governantes. Hoje, volta sua atenção para os atletas da Seleção brasileira : 1. Não se deixem contaminar com aplausos nem apupos. Não deixem que eventuais balbúrdias de rua prejudiquem seu rendimento. Entrem na Copa de maneira inteira : mens sano in corpore sano(mente sã em um corpo são). 2. É preciso ter confiança em si mesmo. Os ambientes e o clima serão impregnados de estrelismo, auras cívicas e muitas lantejoulas. Cuidado para não se deixarem levar por glórias antecipadas. 3. Coragem para enfrentar os desafios. "Somente aqueles que acreditam ter forças para subir a montanha mais alta, sabem até onde podem chegar".
quarta-feira, 21 de maio de 2014

Porandubas nº 399

Abro a coluna com uma historinha de PE. Em Itapetim, alto sertão de PE, um vereador tinha a fama de não honrar compromissos financeiros. Comprava e não pagava. Fazia uma encomenda, mandava apanhar, ficava de acertar depois e tudo caía no esquecimento. Certa vez, encomendou um par de esporas ao artesão Luiz Marinho, irmão do poeta Antônio Marinho e, como este, dono de um humor cáustico. Luiz fez o par de esporas, mandou entregar ao vereador e ficou aguardando pagamento. Certo dia, o vereador sentiu-se mal, desmaiou e foi socorrido às pressas, sendo levado a Patos, na PB, onde havia maiores recursos médicos. Dias depois, a notícia : o vereador sofrera uma trombose, iria ficar paralítico para o resto da vida. Um mês depois, teve alta e regressou a Itapetim numa cadeira de rodas. Lúcido, mas paralítico. Nessa condição encontrou Luiz Marinho : - Foi por pouco, seu Luiz, mas Deus não quis ainda que fosse a minha vez. Tive uma trombose, sofri muito, fiquei com um lado "esquecido". Luiz Marinho abriu um riso malicioso : - É, meu amigo. vai ver que esse lado aí é o lado em que ficou o meu par de esporas. O medo em campanha eleitoral - I O PT passou a adotar o medo como alavanca de campanha. Dilma representa a garantia de que as conquistas do povo não serão tiradas. Os adversários, se chegarem ao poder, eliminarão os benefícios. Essa é a mensagem embutida no programa partidário e anúncios publicitários. Pois bem, vamos aos fatos : em 1989, Fernando Collor ganhou usando o medo. Se Lula vencer o Brasil será um inferno. Mário Amato, então presidente da Fiesp, prometia : 800 mil empresários irão embora do Brasil. Em 1994, Fernando Henrique ganhou o mandato com o conforto (e a esperança) do Plano Real. Em 1998, ganhou no primeiro turno com o discurso do medo, tendo a volta da inflação como motivação. O medo - II Em 2002, José Serra usou também o medo. A atriz Regina Duarte apareceu como porta-voz das trevas caso o PT ganhasse. Deu errado. "A esperança venceu o medo". Lula chegava ao poder. Em 2006, Lula também se valeu do medo, desta feita contra Geraldo Alckmin, acusando-o de que, eleito, ele privatizaria a Petrobras, a CEF e o BB. Deu certo. Em 2010, Serra voltou a usar o medo, tentando mostrar a ligação do PT com Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, movimento com envolvimento no narcotráfico). Deu errado. Dilma ganhou com discurso da continuidade das políticas sociais de Lula. Hoje, o PT insiste no medo como alavanca de campanha. Dará certo ? Vejamos. A teoria do medo - I O medo não elege. Pode, sim, fazer parte do composto do discurso. Vejamos. Collor sinalizava a inovação na gestão. Era o novo, encarnava o espírito do tempo. O medo era apenas o pano de fundo da paisagem social. Fernando Henrique encarnou, por sua vez, a luta contra a inflação, era o artífice-mor do Plano Real. Foi eleito sob esse escudo duas vezes. Da mesma forma, Lula representou o contraponto à velha política. Era o ícone da dinâmica social. Comandou gigantesco programa social, tirando parcela da base da pirâmide social para o meio. E Dilma ganhou seu mandato sob essa engrenagem. A pergunta que agora se faz é : qual é a paisagem brasileira ? Como está o Produto Nacional Bruto da Felicidade ? A teoria do medo - II O que significa o medo como discurso de campanha ? 1. Ameaça de retorno do cidadão a uma situação pior do que a vivida por ele hoje ; ameaça de perdas de benefícios ; 2. Risco do país entrar numa era obscura, com volta da inflação e de ganhos obtidos pelas pessoas em diversas frentes. Lembremos que tais ameaças e riscos se manifestam ante os quatro impulsos do ser humano : a. o impulso combativo ; b. o impulso nutritivo ; c. o impulso sexual e d. o impulso paternal. Os dois primeiros impulsos estão ligados à conservação do indivíduo. A luta pela sobrevivência implica competitividade, oferta de emprego, dinheiro no bolso para cuidar das necessidades básicas do cidadão e de sua família. Nesse sentido, inflação, emprego, mais dinheiro no bolso, barriga cheia, harmonia social, segurança - são ingredientes do discurso eleitoral. A teoria do medo - III Ocorre que os programas sociais implantados pelo governo Lula e continuados no governo Dilma - que estão no foco dos impulsos acima mencionados - perderam muito sua capacidade de moeda eleitoral. O Bolsa Família já deu o que tinha de dar em matéria de voto. Pode cooptar as massas assistidas, mas grande parte delas considera que esse é um dever do Estado, a cargo de qualquer governante. Este é um fato que, possivelmente, o PT não tenha percebido. As manifestações de rua por todo o território abrem novos horizontes. Surgem no panorama os grupos do slogan : "queremos mais". Saúde, educação, segurança, transportes. Coisas e equipamentos melhores e em maior quantidade. A teoria do medo - IV O medo só funciona quando as pessoas fazem a comparação : "estou no paraíso e poderei ser recambiado para o inferno". Donde emerge a pergunta : estamos no paraíso ? As pessoas se sentem saudáveis, com saúde, com dinheiro no bolso, tendo fortes estruturas de segurança e meios de mobilidade urbana ? Se não estão vivenciando uma boa situação, o medo do amanhã arrisca a ser um bumerangue sobre a cabeça de quem patrocina o terror. Esta é a leitura que se deve fazer nesse momento sobre o medo. Incutir medo só dá certo quando o Produto Nacional Bruto da Felicidade for alto. A recíproca é verdadeira. Cuidado com o discurso do medo, senhores marqueteiros. A babaquice de Lula Do alto de sua onipotência, Lula bradou : "Eu cansei de ir no Morumbi ver jogo do Corinthians contra o São Paulo. Cansei de ver o Santos no Pacaembu com 60 mil pessoas e nunca tivemos problema de ir a pé. Vai a pé, vai descalço, vai de bicicleta, vai de jumento, vai de qualquer coisa. A gente está preocupado que tem que ter metrô, tem que ir até dentro do estádio ? Que babaquice é essa ? Nós temos é que dar garantias para essa gente assistir aos jogos, comer a nossa comida. É disso que temos de ter orgulho". Pois é, pegou mal. Lula tem um confortável carro à disposição ; viaja nos melhores aviões de carreira e em jatinhos executivos ; trata da saúde no Sírio Libanês, um dos melhores hospitais do país ; e, nos estádios, certamente ganha a tribuna de honra, longe da galera das arquibancadas. Luiz Inácio pode dizer o que quiser. Na pele do líder populista e carismático, é ouvido e aplaudido. Desta vez, porém, excedeu-se. Foi longe. Querer ir de metrô às arenas é algo prático e cômodo. O povo não é bobo. Por isso, a fala de Lula foi uma "babaquice". Aliás... Aliás, Luiz Inácio Lula da Silva abandonou, faz um bom tempo, a fase "Lulinha, Paz e Amor". Está, a cada dia, mais bravo e repleto de adjetivos duros. Juntos nos palanques A combinação volta a ser assunto : Lula e Dilma estarão juntos nos palanques sempre que possível. Esta notícia já é velha. Foi uma decisão do Encontro do PT para apresentar seu programa. E teve a intenção de abortar o Movimento Volta, Lula. Pois bem, o assunto retorna à mídia esta semana. E o motivo parece claro : grupos e galeras que desejam que Lula seja o candidato no lugar de Dilma continuam a agir às claras e nos bastidores. Incluem alas do próprio PT. Enquanto a presidente não recuperar os seus bons índices de avaliação positiva, essa onda continuará a despejar água no oceano da turbulência eleitoral. Presos, soltos e presos O acolhimento ao recurso de um advogado pelo ministro do STF, Teori Zavascki, deveria soltar os investigados da Operação Lava Jato. Deveria. Um dia depois da decisão, o ministro retrocede e decide deixar na cadeia 11 dos investigados. A exceção foi para Paulo Roberto, o ex-todo poderoso diretor da Petrobras. O juiz Sérgio Moro, considerado de primeira linha no Judiciário, teria oferecido argumentos pela manutenção da prisão, inclusive o da fuga de alguns presos que teriam recursos no exterior e envolvimento com cartéis de drogas. Teori revogou a decisão anterior. Mas a imagem que esse vaivém passa para a sociedade é a de um Judiciário na corda bamba. A dança dos partidos Os partidos estão vivenciando a plena dança das parcerias. A agitação é intensa nos bastidores. Um gigantesco leilão se forma no entorno das siglas para se analisar o tamanho e porte das propostas. Quem dá mais ? Quem dá menos ? Quem agrega ? Quem não agrega ? O que se começa a ver é aliança de todos os espectros, casamento de jiboia com elefante ou de calango com tatu. Os projetos pessoais estão acima dos interesses coletivos. Jantares, cafés de manhãs e almoços se sucedem na tentativa de fechar acordos. O país vive o ciclo da "prostituição gastronômica". Contra o crime - I A segurança pública acaba de ganhar mais um reforço da segurança privada. Nesta segunda-feira, 19, o governo do Estado firmou um protocolo de intenções com associações de empresas de segurança privada para receber imagens e informações que vão contribuir com o combate à criminalidade. É mais um passo no programa São Paulo Contra o Crime. Pelo protocolo, imagens de circuitos da vigilância privada podem ser compartilhadas com o sistema de videomonitoramento da Secretaria de Segurança Pública por meio do Detecta, ferramenta que integra bancos de dados já existentes com câmeras de vídeo e emite alertas automáticos de crimes em tempo real. Este mesmo sistema já está sendo instalado em áreas públicas. Contra o crime - II "No Detecta, o governo tem um sistema de monitoramento semelhante ao de Nova York, e vamos integrar as câmeras de vídeo das empresas do setor privado. Isto vai trazer uma contribuição muito importante", afirmou o governador Geraldo Alckmin. "O papel da segurança privada é justamente ser um suplemento às políticas públicas de proteção. Firmar esse acordo, portanto, é consolidar essa missão. O mercado paulista de segurança tem muito a contribuir com as forças policiais, por isso, sentimo-nos reconhecidos e ativamente participantes do processo, celebrado com este ato", declarou João Palhuca, Presidente do SESVESP - Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de SP. O protocolo de intenções foi firmado com cinco associações de empresas de segurança privada e de bares e restaurantes. Temer : homenagem pelo art. 133 da CF A OAB Federal prestou esta semana homenagem ao constitucionalista Michel Temer, vice-presidente da República. Temer foi saudado pelo presidente da Ordem, Marcus Vinicius Furtado Coelho, por seus relevantes trabalhos para a advocacia e para a sociedade brasileira. "Michel Temer tem forte compromisso com o Estado de Direito, com a democracia e com a realização de eleições diretas, livres e legítimas". Destacando o papel da OAB no movimento Diretas Já, há 30 anos, Marcus Vinicius ressaltou a luta dos advogados por uma sociedade justa, solidária e fraterna. "Aquele momento histórico nos mostrou como é importante se afastar do discurso do autoritarismo e regar a planta da democracia. As divergências devem ser resolvidas no diálogo regrado da democracia. E toda essa trajetória possui a participação de nosso homenageado, Michel Temer". Três momentos Vinicius listou três momentos-chave da atuação de Michel Temer como deputado Federal que ilustram seu compromisso tanto com a defesa da advocacia quanto com a cidadania. A redação do art. 133 da CF versa sobre a indispensabilidade do advogado à administração da Justiça e sua inviolabilidade no exercício da profissão. "Também saiu da pena do então deputado Michel Temer a lei que transforma o escritório de advocacia em local inviolável", lembrando, ainda, o diálogo do constitucionalista como presidente da Câmara com a Ordem pela elaboração e aprovação da LC 135, a Lei da Ficha Limpa, "importante para o avanço no modo de se fazer política no Brasil". Conselho aos governantes Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes das organizações sociais. Esta semana, dedica sua atenção aos governantes : 1. Expandem-se as manifestações e paralisações de categorias por todo o país. Urge fazer um esforço para evitar que os espaços urbanos sejam congestionados causando enormes transtornos às populações. 2. Grupos de trabalho e comitês de monitoramento podem ser criados para dialogar com as lideranças dos movimentos e chegar a um termo comum ; 3. Nas próximas semanas, a imagem do Brasil estará ganhando os foros internacionais. Todo cuidado se faz necessário para evitar o caos urbano.
quarta-feira, 14 de maio de 2014

Porandubas nº 398

Abro e fecho a coluna de hoje com duas historinhas do meu amigo Chico Santa Rita, um grande nome do nosso marketing político. Primeira : O candidato "Pato" Em setembro de 2009, fui a Campo Grande/MS fazer palestra sobre marketing político. Num grande auditório, havia mais de 500 assistentes. Sempre digo que posso falar sobre marketing político durante vários dias sem parar, pois acumulei 33 anos de prática em mais de 100 campanhas. Um dos vereadores presentes fez uma pergunta que, mesmo localizada, tem muita abrangência e me permitiu criar uma nova definição. Ele contou que, na sua cidade, o candidato a prefeito do partido era do tipo "sabe-tudo". Sabia fazer a comunicação, sabia fazer os acordos políticos, sabia o melhor lugar para o comício, sabia escolher a música, sabia o ponto fraco do adversário, sabia o que dizer na entrevista, sabia. E a pergunta : "Como agir com um candidato assim?'. Criei a definição na hora : "Esse é o 'candidato-pato'. Age exatamente como essa ave. Sabe andar, mas anda mal, todo desajeitado, balançando o corpo grande. Sabe voar, mas voa mal, tem voo curto e raso, não voa alto, nem a longas distâncias. Sabe nadar, mas nada mal, não mergulha e não é rápido. Bota ovo, mas bota mal, pois o ovo é grande demais e muito pouco frequente. Foi uma gargalhada geral, pois o "candidato-pato" também é muito frequente, como o pato, que está nos quintais, mas também nos jardins e praças públicas. Como agir com ele ? Ah, eu levo na gozação e vou tocando, devagar e sempre, assim como se toca um bando de. patos ! Com a ave de verdade, pelo menos, há possibilidade de se fazer um confit de canard - delicioso prato francês no qual a ave é cozida em fogo brando. Os ventos do segundo turno A expectativa tende a se confirmar. Os ventos de maio tendem a soprar sobre os desvãos do segundo turno. E Aécio se apresenta como o candidato com mais estofo para disputar a vaga presidencial com Dilma. Eduardo Campos até pode vestir o manto do novo. Mas tem patinado em seus índices de intenção de voto. Os bolsões que poderiam formar uma enchente de votos em suas urnas parecem retraídos, a partir dos jovens. Aécio se locomove com mais desenvoltura, correndo as plagas onde Dilma é favorita, a partir do Nordeste, onde a presidente espera ganhar com folga. Na eleição passada, tirou por lá cerca de 70% dos votos. Este ano, deve girar em torno de 50% a 60%. E se tivéssemos novas lideranças ? Diagnóstico : o Brasil é um país de velhas lideranças. Pergunta recorrente : e se tivéssemos novas lideranças no cenário institucional ? Dilma em Minas MG é a fonte cobiçada como segundo maior colégio eleitoral. Dilma passou por lá seis vezes nos últimos tempos. Quer entrar na onda de Fernando Pimentel, o candidato do T ao governo. O dilema está posto : Aécio escolheu Pimenta da Veiga como seu candidato. O tucano é um perfil tradicional. Muito conhecido, mas representante da velha política. Pimentel, por sua vez, foi um prefeito muito bem avaliado. Aécio terá de eleger o sucessor do governador Antonio Anastasia sob pena de amargar uma derrota e isso gerar efeitos negativos sobre sua campanha presidencial. E se tivéssemos mais autoridade ? Diagnóstico : o Brasil vive grave crise de falta de autoridade. Pergunta recorrente : e se tivéssemos perfis que encarnassem valores do respeito, da autoridade, da respeitabilidade e da dignidade pessoal ? O vice de Aécio Seis nomes já apareceram para formar com Aécio a chapa presidencial : Miguel Torres, dirigente da Força Sindical ; o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, de SP ; o senador potiguar José Agripino Maia, do DEM, presidente do DEM ; a deputada tucana Mara Gabrilli, de SP ; e a senadora gaúcha Ana Amélia, do PP. E, por último, José Serra, o tucano que ainda sonha com a presidência da República. Pois bem, Serra é o nome que mais soma para Aécio. Certamente, uma chapa puro sangue com Aécio e Serra teria grande visibilidade. E poderia aumentar a maioria de Aécio no maior colégio eleitoral do país, SP. E se tivéssemos poucos partidos, porém fortes ? Diagnóstico : o Brasil é o espaço ideal para a pasteurização partidária. Temos 33 partidos, quase todos amalgamados. Pergunta recorrente : e se tivéssemos cinco a seis partidos fortes, doutrinários ? O tormento do PT O PT ainda não saiu do inferno astral. O caso Petrobras continua a fazer fumaça. E há versões circulando dando conta : a. que o deputado André Vargas teria negociado sua cassação (no caso, não cassação) com a oposição em troca de mais informações envolvendo perfis petistas, inclusive candidatos ; b. pautas envolvendo nomes próximos à presidente estariam sendo trabalhadas ; c. o esforço monumental do ex-presidente Luiz Inácio para derrubar o movimento Volta, Lula não tem gerado muito efeito. Alas petistas continuam a apostar na hipótese de sua candidatura. O tormento de Alckmin O governador Geraldo Alckmin, apesar de ter escalado técnicos para responder sobre a questão da água da Cantareira (que está na escala de 8,5% de sua capacidade), viverá o tormento das torneiras secas. Mesmo que o chamado volume morto do sistema comece a ser usado, a ameaça de se ver a fonte secar completamente até outubro - caso não chova forte até lá - rondará a imagem do governador. Certamente esse tema estará no epicentro da campanha. Alckmin tem fortes colégios no interior do Estado. O PSDB é um partido poderoso por estas plagas. Mas é visível a corrosão do material tucano, após 20 anos de intenso uso. Provérbios "Ao término do jogo, o rei e o peão voltam para a mesma caixa". (Provérbio italiano) "Ser pedra é fácil, difícil é ser vidraça". (Provérbio chinês) "Tropeçamos sempre nas pedras pequenas, as grandes logo enxergamos". (Provérbio japonês) Carlos Mattus I Do famoso cientista chileno Carlos Mattus : "O governante deve administrar três grandes variáveis : o projeto de governo, a governabilidade necessária a seu projeto e a capacidade de governo. Esse triângulo constitui um sistema dominado pela capacidade de governo. Aí está a chave. Sem capacidade de governo não se formula um bom projeto, nem se administra com perícia a governabilidade. A capacidade de governo se prova no manejo de três balanços chaves : 1) o balanço da gestão política, em que se administra o poder político como recurso escasso ; 2) o balanço da gestão econômica, em que prima a escassez de recursos econômicos ; 3) o balanço de intercâmbio de problemas, que trata das questões cotidianas que as pessoas valorizam. O sinal positivo ou negativo de cada balanço determina o sinal positivo ou negativo do balanço global do governo". Os votos do Sudeste Atentem para este número : Dilma tem 30% dos votos do Sudeste, onde estão os maiores contingentes eleitorais do país. Aécio tem hoje 27%. Daí a concentração de viagens para Minas, SP e Rio. A maioria de Dilma no Nordeste poderá ser tirada caso as oposições aumentem sua participação nas urnas do Sudeste. Esse será o nó da campanha. O X da questão estará por aqui. PROS no CE Quem manda no PROS cearense é Cid Gomes. Mas o PROS nacional está dividido. Uma ala quer fechar com Dilma. Outra tende a ficar com Aécio e há até um grupo que pensa em aderir a Eduardo Campos. No CE, o PROS quer apoiar o nome do senador Eunício Oliveira, do PMDB, contra a vontade do governador Cid Gomes. A confusão é grande. Carlos Mattus II "A metáfora dos três cintos é boa para entender esses balanços e, certamente, nenhum bom estrategista aperta os três cintos ao mesmo tempo. Se existem dificuldades econômicas, deve-se compensar o aperto no cinto (2) com alguma folga nos outros cintos. Em outras palavras, se for necessário impor sérios sacrifícios no âmbito econômico, deve-se compensá-los com benefícios políticos na distribuição do poder, na ética pública, na legitimidade do sistema político e com benefícios não econômicos importantes para a vida dos cidadãos". Lindbergh isolado ? O senador petista Lindbergh Faria enfrenta muitas dificuldades para fechar alianças. Tem o PV e o PC do B como parceiros que lhe darão os nomes para vice (Roberto Rocco) e para o Senado (deputada Jandira Feghali). Há seis meses, Lindbergh era a aposta para ganhar. Hoje, se distancia do pódio. Fundo partidário Por terem pago advogados de condenados na AP 470 com recursos do Fundo Partidário, o PT e o PR estão ameaçados de perder a regalia. O ministro Marco Aurélio, que deixa o cargo de presidente do TSE, poderá afastá-los dos recursos. A dúvida : fará isso no último dia do mandato ? O novo presidente do TSE é o ministro José Antônio Toffoli, ex-advogado do PT. Movimentos grevistas A menos 30 dias da Copa, expandem-se as greves e manifestações de categorias profissionais : motoristas, engenheiros, policiais Federais, professores, policiais militares, entre outras. Na boca do Itaquerão Nas vizinhanças do Itaquerão, instalou-se uma comunidade de Sem Teto. Em uma semana, o número de acampados se avolumou sob a promessa do prefeito Fernando Haddad de acolher o contingente. A presidente Dilma acena com a possibilidade de incluir o grupo no programa Minha Casa, Minha Vida. A Justiça ordenou a reintegração de posse, atendendo recurso da empresa imobiliária. A confusão aumenta como bola de neve. Turistas Espera-se um contingente de 500 mil turistas na Copa do Mundo. Número projetado pela compra de ingresso. E quem não comprou ? PF de traje preto Os policiais Federais que trabalham nas 12 cidades-sede da Copa começam a usar um traje preto. E se cruzarem os braços durante a chegada dos turistas ? Sei não ! Provérbios "Uma maçã por dia mantém o médico distante". (Provérbio inglês) "Um pássaro nunca faz seu ninho em uma árvore seca". (Provérbio japonês) "Quer a faca caia no melão, ou o melão na faca, o melão vai sofrer". (Provérbio chinês) "A raposa tanto vai ao ninho, que um dia deixa o focinho". (Provérbio japonês) "A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo". (Provérbio espanhol) O motorista Quércia Segunda historinha do Chico Santa Rita. O ex-governador Orestes Quércia adorava dirigir carros. Quando senador, em 1976, fiz uma entrevista/perfil dele para a revista Nova, da Editora Abril. Na nossa convivência de três dias houve uma viagem a Pedregulho/SP, sua cidade natal, para que eu conhecesse os lugares da sua infância e juventude. Ele dirigiu um velho Simca Chambord, num total de 692 km, ida e volta. Quando me ofereci para assumir a direção, ajudando-o na tarefa, tive uma resposta incisiva : - Pode deixar que eu dirijo. Adoro isso. Anos depois, já governador entre 86 e 90, novamente andei com ele dirigindo, desta vez dentro da cidade de SP. Íamos fazer uma gravação de vídeo, num estúdio no bairro de Pinheiros e, para desespero da segurança, ele resolveu ir ao volante, comigo no banco do passageiro. Era um sábado de pouco trânsito. Quando passávamos pela avenida Brasil um sinal fechou e paramos ao lado de outro carro, cujo motorista tomou um susto e acenou para o governador. Quércia pediu que eu abrisse o vidro e cumprimentou o desconhecido. A mulher que estava ao lado dele, perguntou "Quem é ?". E o companheiro, imaginando que ela se dirigia a mim, foi rápido, pois o sinal já se abria, mas ainda deu pra ouvirmos : - Não sei quem é, mas deve ser alguém importante, pois o motorista é o Quércia ! Conselho às ONGs Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos presidenciáveis. Hoje, volta sua atenção aos dirigentes das Organizações Sociais : 1. Estamos a menos 30 dias da Copa do Mundo. As Organizações Sociais terão peso na balança da harmonia social do país por ocasião do maior evento futebolístico mundial. Os dirigentes de entidades deverão assumir suas responsabilidades junto ao dever de contribuir para a paz social. 2. As ONGs prestarão formidável contribuição por meio de uma expressão harmônica e alerta contra eventuais radicalismos que, eventualmente, possam gerar tensão social. 3. Que procurem, da mesma forma, evitar que o evento esportivo possa ser utilizado como ferramenta eleitoreira por atores políticos.
quarta-feira, 7 de maio de 2014

Porandubas nº 397

Abro a coluna com deliciosa historinha de uma cidade do RJ. Narrada com o toque de humor do amigo Sebastião Nery. Ô jardineira, por que estás tão triste ? Numa cidadezinha do norte do RJ, a procissão de Senhor Morto caminhava lenta e piedosa, na sexta-feira da Paixão. O povo cantava, de maneira compungida, os hinos sacros. O velho padre na frente, o sacristão ao lado e os fiéis atrás, cantando as músicas que o vigário puxava. De repente um pequeno ônibus, que na região chamam de "jardineira", passou perto e começou a subir a íngreme ladeira da igreja, bem em frente da procissão. No meio da ladeira, a "jardineira" afogou, encrencou, parou, deu aceleradas fortes e inúteis e começou a dar para trás, de costas. Os fiéis não viram, mas o padre, atento, viu. E ficou apavorado. A "jardineira" já despencava numa grande velocidade. O padre gritou : - Olha a jardineira ! E os fiéis, animados com a convocação, começaram a cantar, em ritmo de samba : - Ô jardineira, por que estás tão triste ? Mas o que foi que te aconteceu ? Foi a Camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu...foi a Camélia que caiu.... A "jardineira" descambou ladeira abaixo, até que parou. Não atropelou ninguém. Os fiéis não conseguiram segurar as gargalhadas. Sob o olhar fixo do Senhor Morto ! Ecos de Comandatuba O evento anual do Lide em Comandatuba reuniu empresários, deputados, senadores e governadores de diversos partidos, que, durante mais de quatro horas, ouviram as ideias e propostas dos candidatos Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB. O evento foi muito produtivo e inaugurou, no país, o debate entre pré-candidatos. Até então, o pensamento de pré-candidatos era conhecido por meio de entrevistas individuais. João Dória, o dinâmico comandante do Lide, conseguiu fazer um evento de impacto. A presidente Dilma, convidada, não pôde comparecer. Aécio mais incisivo O que se viu em Comandatuba foi o tucano mineiro Aécio Neves mais solto, mais incisivo, mais direto e mais experiente que Eduardo Campo. Este parecia tolhido por sua candidata a vice, Marina Silva, que ouvia tudo e todos com a máxima atenção. Campos foi muito genérico, Aécio, mais pontual e convincente. Ficou patente que Aécio ganhou a primeira disputa com Eduardo, mesmo pontuando que não via nele um adversário. Abordagem que não deve ter agradado Marina, que faz questão de acentuar as profundas divergências entre eles. Provérbios "Nunca feche totalmente uma porta ; você pode querer voltar !" (Provérbio espanhol) "Não tenha medo de crescer lentamente, tenha medo de ficar parado." (Provérbio chinês) "Não pense que não há crocodilos só porque a água está calma." (Provérbio malaio) Marina atrapalha ? Para alguns, Marina está atrapalhando a rota de Eduardo Campos. Veja-se o caso de SP. Poderia o PSB fazer aliança com o PSDB de Alckmin. Marina não quer nem pensar. Márcio França, nesse caso, se prepara para ser candidato ao governo, mesmo não tendo o apoio de alguns nomes de peso no partido. Mas ele domina a máquina. As alianças do PSB com outras siglas estão, por isso mesmo, em compasso de exame. Marina age como fiscal. Campos parece querer agradá-la, confiando na migração de votos dela para ele. Não conseguirá os 20% de votos que ela angariou na eleição de 2010. Dilma em queda A impressão no meio empresarial e em parcela ponderável da esfera política é a de que a presidente Dilma continuará a cair. Impressão. Há a convicção de que a economia não apresentará melhoras até outubro. Que a inflação das ruas já corroeu os 10% que a presidente garantiu para os assistidos pelo Bolsa Família. Que alas de partidos governistas continuarão a se afastar da candidatura Dilma, seja fazendo eco ao Volta, Lula, seja mesmo sinalizando apoio aos candidatos da oposição. Este consultor coloca dúvidas em alguns pontos. Pode recuperar ? Dilma pode recuperar, sim, índices anteriores de boa avaliação. Basta que a inflação na área de alimentos recue. Bolso em boas condições garante barriga satisfeita. Portanto, isso não é impossível. Mas há ventos que podem vir em sentido contrário. Ventos da Copa. Não propriamente o desempenho do Brasil em campo, mas questões de logística - acesso às arenas esportivas, condições de chegada e saída dos estádios, e mesmo situações de desconforto causadas por obras concluídas a toque de caixa. E se houver um apagão de luz em algum jogo ? Apupos em vez de aplausos. "Posso até conceber um homem sem mãos, sem pés, sem cabeça, pois é só a experiência que nos ensina que a cabeça é mais necessária que os pés. Mas não posso conceber um homem sem pensamento. Seria uma pedra ou um bicho." (Blaise Pascal) Os fundões estão satisfeitos ? Os fundões do país estão satisfeitos ? Prefeitos dos fundões, com os quais este consultor tem conversado, são unânimes em afirmar que o Bolsa Família e outros programas assistencialistas são importantes, agradam, mas não são suficientes para manter o ânimo e a confiança dos eleitores. Eles estão mais exigentes. O ciclo do Bolsa Família cede lugar à era do Bolsa Cabeça. A turma do "quero mais" fica mais densa a cada dia. Principalmente quando se olha para a classe C, o contingente emergente. Esse grupamento é quem está nas ruas fazendo as mobilizações. Chegou no patamar do meio da pirâmide e quer ganhar as mesmas condições da classe média B ou A : mais saúde, transportes urbanos melhores, mais segurança, melhor educação. Essa turma será decisiva. Seu voto definirá o presidente da República. Matar o tempo ? Cuidado. "Quem mata tempo é suicida" (Millôr Fernandes). "Como se fosse possível matar o tempo sem ferir a eternidade" (H. Thoreau). PNBI O fato é que há no ar - coisa sentida nas conversas, nos desabafos - um Produto Nacional Bruto da Insatisfação em visível expansão. Junta indignados de todas as áreas : congestionados no trânsito ; sufocados em ônibus superlotados ; categorias profissionais insatisfeitas com salários defasados ; pessoas em gigantescas filas de hospitais ; habitantes das metrópoles e grandes cidades cercados de violência e medo, muito medo. Essa massa poderá aproveitar eventuais pistas de acesso às arenas esportivas para fazer eco à sua indignação. Evento da Mega Brasil Hoje pela manhã, no Centro de Convenção Rebouças, participarei de um debate com Jorge Gerdau, Fábio Barbosa e José Goldenberg sobre "O Brasil dos Nossos Sonhos". Minha exposição abrigará os principais gargalos e desafios para a alavancagem do país. O Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa é promovido pela Mega Brasil e já faz parte do calendário anual dos grandes eventos de Comunicação, pilotados pelo dinâmico jornalista Eduardo Ribeiro. Feriados demagógicos - 1 O prefeito paulistano Fernando Haddad enviou à Câmara Municipal um PL decretando feriado o 12 de junho - dia do jogo Brasil e Croácia, na abertura da Copa do Mundo -, e abrindo a possibilidade para os vereadores decidirem por feriados também os outros cincos dias em que haverá partidas do Mundial em SP. Se tudo aprovado, seis feriados no período de um mês, um absurdo, neste momento em que a economia do país desacelera, com números desanimadores. Não se compreende paralisar uma cidade de mais de 10 milhões de habitantes para beneficiar 60 mil torcedores que irão ao estádio em Itaquera. Feriados demagógicos - 2 Várias entidades protestam contra a intenção do prefeito de decretar feriado para evitar congestionamentos ou superlotação no transporte público. O SESVESP - Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de São Paulo, por exemplo, enviou ofício ao prefeito e à Câmara contestando o absurdo, ou a perda dessa "fortuna em bens e serviços não realizados". Ao lembrar que SP produz 10% do PIB nacional, o SESVESP pergunta : "Não seria demagogia e irresponsabilidade parar a produção tantos dias ?" Feriados demagógicos - 3 O prefeito Fernando Haddad talvez não saiba dos custos para a iniciativa privada em caso de feriado. Todas as atividades que não podem paralisar seu atendimento - como hospitais, farmácias, call centers, empresas de vigilância, serviços de portaria, etc. - devem pagar 100% a mais a seus funcionários nesses dias. Como podem ser seis feriados... Bem, talvez o prefeito saiba, sim. Uma alternativa seria decretar ponto facultativo. Provérbios "Se quiser conhecer um cavalo, monte nele ; se quiser conhecer uma pessoa, conviva com ela." (Provérbio japonês) "Os professores abrem a porta, mas você deve entrar por si mesmo." (Provérbio chinês) "Melhor é o pouco com Justiça do que grandes rendas com injustiça." (Provérbio bíblico) "Tome o café da manhã como um rei, almoce como um príncipe, jante como um miserável." (Provérbio inglês) Sensus sem bom senso ? Opositores de Aécio Neves se queixam da metodologia usada pelo Instituto Sensus em sua última pesquisa. Colocaram Aécio em primeiro lugar no questionário. Com senso ou falta de senso, o fato é que o tucano tem crescido. O tira-teima virá com a pesquisa Datafolha nos próximos dias. Este consultor tende a apostar em dados próximos entre as pesquisas, sob pena de desmoralização pública do Instituto que for flagrado em manipulação. Greve da PF Na manhã desta quarta-feira, agentes, escrivães e papiloscopistas vão se reunir em frente às superintendências regionais e delegacias da PF para um grande protesto, com faixas, cartazes e elefantes brancos infláveis. Os policiais querem alertar a população sobre a crise que o órgão enfrenta atualmente. Hoje é o dia do oftalmologista. Centenas de agentes Federais em todo o país vão protestar com vendas nos olhos contra a gestão míope da segurança pública brasileira. A urna da Cantareira Pela primeira vez na história, o Sistema Cantareira atingiu um patamar menor do que 10% de sua capacidade de armazenamento. Ontem, o reservatório que abastece boa parte da Grande SP atingia apenas 9,8% da sua capacidade. A eleição de SP SP comandará o pleito de outubro, tendo em vista a liderança no ranking do eleitorado nacional : são quase 33 milhões de votos. Prognósticos, a esta altura, são arriscados, mas é possível apontar algumas pistas que darão suporte ao take off das candidaturas. Vamos lá : 1. A Cantareira está com 10% de sua reserva ; até outubro, se não chover, esse índice deverá cair. Seca na metrópole, com multas aplicadas por Alckmin, significará urnas não tão cheias para o atual governador. Ele deverá sofrer uma queda em seus índices ; 2. Por mais que Padilha e o PT se esforcem para sair do sufoco do bombardeio (o nome do ex-ministro aparece em telefonemas entre o doleiro Youssef e o deputado André Vargas), o episódio devera respingar nos costados do petista ; 3. A polarização clássica PT x PSDB, sob esse ambiente turvo, tende a perder volume ; 4. Um perfil mais asséptico e distante da troca mútua de acusações tende a ganhar corpo. Esse perfil pode ser o de Paulo Skaf. Maluf e Costa Neto com Padilha O PT se esforça para fechar parceria com Paulo Maluf (PP) e Costa Neto (PR), dois perfis que se enquadram no chamado espaço conservador. Se Padilha que ser o novo já entra como Matusalém na Campanha. Mas, como se sabe, o que importa em campanha é tempo de rádio e TV. "O imoralismo chegou a uma vulgaridade extrema e qualquer um se vangloria de exercitá-lo." (Ortega Y Gasset) Fabiane e o espírito do nosso tempo Fabiane Maria de Jesus, 31 anos, foi morta no Guarujá por pessoas que a espancaram até a morte depois de arrastá-la por vielas. Seu corpo foi enterrado, ontem, no cemitério Jardim da Paz, sob forte comoção das cerca de 200 pessoas que acompanharam a cerimônia. Foi linchada depois de uma falsa acusação de que ela sequestrava crianças. O cemitério onde ela foi enterrada fica entre um lixão e um depósito de contêineres. O lugar está cercado de entulhos e insetos. Seu nome foi escrito com pregos no cimento fresco na gaveta por coveiros. Muito religiosa, Fabiane morreu depois de ter ido buscar uma Bíblia na igreja São João Batista. No choro de muitos, ouvia-se o lamento : "falta de amor no coração" das pessoas que a lincharam. Conselho aos presidenciáveis Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos burocratas da economia Hoje, pede a atenção dos presidenciáveis : 1. Em ano eleitoral, costuma-se prometer mundos e fundos. O tom populista/assistencialista toma assento nos discursos. Os candidatos vestem a roupa de Robin Hood. Pois bem, evitem fazer promessas que não cumprirão. 2. Façam propostas que caibam no Orçamento-Brasil. Que primem pela responsabilidade fiscal. Que possam ser efetivamente implantadas. 3. Inspirem-se, sempre, no lema : é mais eficaz ensinar o pescador a pescar que oferecer uma migalha de peixe. Que saciará a fome de hoje, mas não a do futuro.
quarta-feira, 30 de abril de 2014

Porandubas nº 396

Sabedoria de advogado Abro a Coluna com historinha enviada pelo amigo Luis Costa. Dois carros se chocam. Um pertencia a um advogado e o outro a um médico. Ao sair do automóvel, o médico se dirige ao carro do advogado e percebe que nada de grave ocorreu. Só então os dois passam a verificar detalhes do acidente e chegam à conclusão que não tinham como escapar. O advogado já tinha ligado para a polícia, então resolveram ficar esperando a viatura para avisar aos policiais que ambos assumiriam seus prejuízos. A conversa, no início tensa, foi se transformando em animado bate-papo. O advogado vai se tornando íntimo do médico a ponto de lhe oferecer um uísque. Vai ao carro, tira a garrafa, derrama o uísque no copo e dá ao agora companheiro. Depois de alguns goles, o médico, relaxado, pergunta : - E você não vai beber um pouco ? O advogado responde sorrindo : - Claro, mas só depois que a polícia chegar ! E fizer o boletim de ocorrência ! Lula driblando Luiz Inácio é o nosso maior driblador. Sabe fazer firulas como ninguém. Em Portugal, cometeu mais uma versão. O mensalão foi "80% julgamento político e 20% jurídico". É troço de doido, sô, foi a resposta do ministro Marco Aurélio. Ele não entende a Corte Judiciária, foi a resposta de Joaquim Barbosa. Lula, na verdade, sempre nega a existência de fatos nebulosos ou rocambolescos que circundam o PT e companhia. Mas foi ele que pediu desculpas ao povo brasileiro quando tomou conhecimento de que companheiros estariam enveredando por caminhos transversos. Depois, chegou a dizer que se tratava apenas de caixa dois. E agora diz a uma televisão em Portugal que o mensalão não existiu. Volta, Lula ? O movimento que pede a volta de Lula aos palanques como candidato, no lugar de Dilma, se expande na esteira da queda da presidente Dilma no ranking das pesquisas. Hoje, ela tem 34% de avaliação ótima/positiva, índice mínimo necessário para se reeleger conforme estudos feitos por especialistas. Seu índice de intenção de voto está entre 37% a 40%, a depender do Instituto. Dilma tem corrido o país em inaugurações. Lula acaba de chegar da Europa e entrou num labirinto, aliás, teve uma labirintite. Seria um fator de estresse, de desconforto com a situação de sua pupila ? "A abelha atarefada não tem tempo para tristezas". (Provérbio espanhol) "Por causa da rosa, a erva daninha acaba sendo regada". (Provérbio árabe) "Não há que ser forte, há que ser flexível". (Provérbio chinês) PT em inferno astral O PT vive um de seus piores momentos. Depois de atravessar o longo corredor aberto pela AP 470, eis que passa a enfrentar denúncias nas frentes da Petrobras e do Ministério da Saúde. O imbróglio recente se projetará em campanhas do partido por todo o país, mas os baques maiores serão em SP e no PR. Em SP, o tiroteio terá como alvo o candidato Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, cujo nome está envolvido na teia que flagra a tal empresa Labogen. Padilha diz que é tudo mentira e vai processar os caluniadores. Mas o bombardeio midiático dará extensão às versões. O tal Marcão, que seria amigo de Padilha, ainda ganha R$ 24 mil do laboratório. No PR, a ex-ministra Gleisi Hoffmann, candidata ao governo, será alvo do tiroteio que abate o deputado André Vargas. Eleitor mais atento É possível que, em SP, o PT consiga chegar perto dos seus 30% históricos de votos. Mas será difícil. Porque, este ano, o pleito abrigará um eleitor mais atento e curioso. Ele acompanha o noticiário da mídia, mesmo o eleitor das margens, o mais carente. Por isso mesmo, as eleições deste ano deverão ser mais seletivas, mais inspiradas em critérios racionais. A vez do PMDB em SP ? O PMDB tem chances de eleger seu candidato ao governo de SP : Paulo Skaf. Mesmo sem campanha nas ruas, Skaf consegue ultrapassar a faixa dos 20% de intenção de voto. Alguns argumentam que isso se deve a exposição na mídia institucional. De fato, ele apareceu em determinado momento. Depois, apenas se viram anúncios institucionais, sem a presença dele. Ora, os índices alcançados pelo presidente da Fiesp refletem, de alguma forma, a insatisfação dos estratos sociais com o status quo. Parcela do eleitorado se queixa da mesmice e esgotamento dos tempos tucanos e também da gestão petista na área Federal. "As dificuldades são como as montanhas. Elas só se aplainam, quando avançamos sobre elas". (Provérbio japonês) "Endireite o galho enquanto a árvore é nova". (Provérbio chinês) E tem ainda a Copa Não está fora do arco de hipóteses a influência da Copa no calendário eleitoral. Não significa intuir sobre o mau desempenho de nossa Seleção. Significa projetar eventuais problemas nas arenas esportivas - acesso, falta de estrutura, incidentes decorrentes de obras improvisadas - sobre o ânimo das galeras. Isso, sim, poderá gerar apupos. Que os governantes e candidatos evitem estádios. Campos encabulado Quem viu Eduardo Campos nos últimos dias conserva a impressão de que ele se sente tolhido quando está junto de sua vice, Marina Silva. Parece conter-se no discurso, com receio de expressar algo politicamente incorreto aos ouvidos da ambientalista. Foi assim que se viu Eduardo Campos no jantar oferecido a ele por João Dória nesta segunda-feira. Marina, ao contrário, foi retumbante a ponto de ser aplaudida de pé por muitos presentes. Eduardo Campos ainda não ajustou sua identidade de candidato oposicionista. É um perfil frappé. A Justiça Eleitoral Muitos pré-candidatos estão nas ruas fazendo campanha. Em SP, o próprio Alexandre Padilha, esquecendo que ainda não pode falar como candidato, cometeu o deslize de dizer que, quando soube do envolvimento de seu nome com a empresa Labogen, deixou a caravana eleitoral que comandava no interior e correu para tomar providências. Ou seja, simplesmente disse que abandonou a campanha por algumas horas. Igual a Padilha, muitos outros correm seus Estados à procura de voto. E a Justiça Eleitoral ? Parece ter olhos dirigidos a apenas alguns candidatos. A inflação das ruas A burocracia do ar condicionado é refratária ao calor das ruas, vielas e becos. Por isso mesmo, fechados na redoma de estatísticas frias, em grande parte pinçadas de complexas operações e cruzamentos de dados que passam ao largo das feiras livres, os burocratas costumam desenhar cenários de um país diferente do que vivem seus habitantes. São também afamados pela "contabilidade criativa", que usam com frequência para puxar para baixo as contas que batem no bolso do consumidor, principalmente em ciclo de disputa eleitoral. Pouco adiantará mostrar para eles que o preço do tomate já subiu 31,72% este ano, que a batata inglesa aumentou 17,27% ou que os serviços tiveram alta de 9%. A inflação das ruas não conta para o burocrata. Sua visão é esdrúxula : "tomate e chuchu não são produtos insubstituíveis ; ninguém come morango o tempo inteiro ; e não é o índice de feirinhas e botecos que guia a política monetária". Policiais Federais Nesse momento, já é possível enxergar um alto grau de tensão a energizar setores e grupamentos, que pode originar ondas concêntricas de insatisfação social. É bastante previsível a hipótese que aponta para a existência de bolsões represados aguardando o momento para despejar sua indignação. Veja-se essa paralisação dos policiais Federais. Trata-se de um movimento inusitado que agita um braço investigativo do Poder Executivo, cuja forte atuação nos escândalos mais impactantes da contemporaneidade o posiciona como um dos atores fundamentais no combate à corrupção. Os quadros se ressentem de precárias condições de trabalho, salários defasados, "ingerências políticas nas investigações" e repasse de atribuições constitucionais da PF a outros órgãos. O aparato policial nos Estados O aparato policial militar em muitos Estados desfralda também uma larga planilha de reivindicações, centradas em salários e condições de trabalho. Vejam a BA e o RS. A insatisfação das forças policiais se expande. Teria esse fenômeno ligação com o incremento das ocorrências policiais no país ? A desmotivação dos batalhões das ruas seria motor da expansão da criminalidade ? "A paciência é uma árvore de raiz amarga, mas de frutos muito doces". (Provérbio persa) "Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade". (Provérbio chinês) "Não caia antes de ser empurrado". (Provérbio inglês) "Duas coisas indicam fraqueza : calar-se quando é preciso falar, e falar quando é preciso calar-se !". (Provérbio persa) Classe C quer mais que pão Cheguemos ao epicentro das manifestações de rua, formado por grupos com origem na classe média C, os emergentes que escalaram os degraus de baixo da pirâmide para chegar ao primeiro andar do meio. Nesse espaço, alinham-se os grupos que puxam a corrente do "queremos mais". O pão sobre a mesa já não lhes é suficiente. Exigem serviços públicos qualificados, a partir dos transportes urbanos, parques de lazer, segurança, saúde e educação. Jovens, desempregados, comerciários, biscateiros, comunidades, torcidas fanáticas de clubes de futebol, integrantes de ONGs, e, claro, radicais, oportunistas e baderneiros, tendem a assumir papel de vanguarda na agitação das ruas, sob os ares catárticos da Copa e competitivos do pleito de outubro. Classes médias tradicionais As classes médias tradicionais também disparam fortes sinais de descontentamento, menos por conta da pressão da inflação das ruas e mais por se verem inundadas por uma volumosa torrente de escândalos em série. O longo episódio que culminou na condenação de implicados na chamada AP 470 ; o desvendamento de teias de corrupção nos intestinos da administração pública e que batem na Petrobras, empresa-símbolo do país ; a polêmica que se estabeleceu em torno de programas polêmicos, como é o caso do Mais Médicos ; as nuvens que se formam em torno das arenas esportivas, cujo atraso no cronograma de obras ameaça causar reação popular durante a Copa ; a repetição de mantras da velha política, com as interjeições do passado a mostrar a perpetuação de vícios - esse é o cenário da degradação que acolhe a gestão pública e a esfera política. Desinteresse Não por acaso, elevado índice de brasileiros - 72%, segundo o Ibope - não tem nenhum ou quase nenhum interesse na eleição. Na pesquisa espontânea da última rodada, 56% não marcaram intenção de voto em nenhum candidato. Setores produtivos Os setores produtivos, por sua vez, se mostram igualmente insatisfeitos. Vale lembrar que nunca se abriu tanto a caixa das desonerações tributárias como no governo Dilma. Mesmo assim, são claras as manifestações de desagrado com a política econômica, a traduzir inconformismo com os rumos da economia. Como se pode inferir, há um Produto Nacional Bruto de Insatisfação que a burocracia brasiliense teima em não enxergar ou não querer medir. Sem aviso prévio, grupinhos, contingentes, categorias, setores vão formando o que se pode designar de "coalizão dos indignados". Conselho aos burocratas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao PT. Hoje, volta sua atenção aos burocratas da economia : 1. Tenham cuidado com a "contabilidade criativa". Querer expurgar os produtos hortifrutigranjeiros da cesta da inflação é burrice. 2. Nenhum burocrata conseguirá apagar a verdade das feiras livres e passar uma borracha nas contas que batem forte no bolso do consumidor. 3. Sejam realistas, evitem dados mirabolantes e efeitos mágicos sobre o cotidiano das pessoas.
quarta-feira, 23 de abril de 2014

Porandubas nº 395

Pena mínima Abro a Coluna com uma historinha da PB. O rapaz era advogado novo em Princesa Isabel, na PB. Ia defender um criminoso de morte a faca. Procurou o coronel Zé Pereira, o mandão da cidade : - Coronel, preciso conseguir pena mínima para meu cliente. Se não conseguir, não tenho carreira aqui. O coronel prometeu. Terminou o julgamento, pena mínima. O advogado foi agradecer a vitória ao coronel, que valorizou a ajuda : - Doutor, o senhor não calcula a força que eu fiz para conseguir a pena mínima. Todo mundo queria absolver o homem. Coalizão dos indignados Cada ciclo eleitoral possui as suas características, sendo algumas particularmente influenciadas pela vertente da economia. Este ano, ao fator econômico, somam-se situações de desconforto social, desagrado com o andar da carruagem, insatisfações, contrariedades. Há um Produto Nacional Bruto do Inconformismo, somatória de todos os problemas cotidianos, a partir do troco menor no bolso dos consumidores. Pois bem, esse PNBI é bastante visível, principalmente se aguçarmos os ouvidos. Para qualquer lado que se olhe, há um zum zum zum de insatisfações. Esse estado geral de indignação, que também se volta contra os atores políticos, dará o tom do pleito de outubro. Dilma em queda Dilma tende a cair mais ainda ? Resposta positiva se o clima econômico descambar e os consumidores dos estratos de baixo acusarem a queda. Resposta negativa se a locomotiva econômica puxar o trem do conforto social. Dilma tem boas respostas principalmente no Nordeste do Brasil, mas tem caído nos maiores colégios eleitorais, exatamente no Sudeste. Enquanto no NE ela leva, hoje, 51% das intenções de voto, no Sudeste tem uma avaliação positiva (ótimo + bom) de apenas 30%. Atenção para os dados A última pesquisa Ibope abre algumas pistas. 72% dos 37% que não indicaram preferência por nenhum candidato não têm interesse na eleição deste ano. Isso poderá aumentar o número de abstenções, votos nulos e brancos. Na pesquisa espontânea, 56% não marcaram nenhum candidato. Eleitores que disseram não votar de jeito nenhum em Dilma : 33% ; em Aécio, 25% ; e em Eduardo Campos, 21% ; e em Marina (o nome dela esteve em um cenário), 20%. Ou seja, a maior rejeição é para a presidente. Mudança O eleitorado quer mudanças. 30% querem mudar completamente. No Nordeste, 36% querem que tudo fique igual. Esse é o maior pedaço eleitoral (em termos proporcionais) de Dilma. Queda da presidente entre a pesquisa de novembro de 2013 para esta última, de abril de 2014 : 47% a 43% ; não votariam de jeito nenhum em Dilma : 25% a 33% (nesta última). Aécio saiu de 26% e subiu para 33% neste grupo e Eduardo Campos também aumentou a rejeição, de 24% a 33%. O eleitorado está descontente e desconfiado. Clima em SP No maior colégio eleitoral do país, o clima também esquenta. O governador Geraldo Alckmin, apesar da alquimia com que vem trabalhando para superar a tragédia da falta d'água (que já escasseia em torneiras periféricas), passa a ser alvo de bombardeio. O governador promete multar os consumidores flagrados em situações de extravagância. Faz campanha pelo bom senso no uso de água. E garante que o governo aplicará multas aos abusos. Alckmin não conseguirá formar um dique contra a indignação popular se a água deixar de correr nas torneiras nos próximos meses. Pérolas do Barão de Itararé -Cobra é um animal careca com ondulação permanente. -Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades. -Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância. -Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem. -É mais fácil sustentar dez filhos que um vício. Temas do ciclo eleitoral A água, ou se quiserem a falta dela, secará a roça eleitoral do governador Geraldo Alckmin, podendo lhe surrupiar gorda batelada de votos ; a insegurança da população, que se vê cercada de atos criminosos, em todos os espaços - do centro e das periferias - também se apresenta como ameaça ao candidato que dirige a segurança no Estado mais forte (e um dos mais perigosos) do país ; a bandalheira como está sendo apresentada a situação da Petrobras - teias de corrupção nos intestinos da empresa - símbolo da Nação - suja a imagem do candidato petista, Alexandre Padilha. Que terá de repetir a resposta-mantra sobre o caso da Labogen, empresa "farmacêutica" que teria sido beneficiada por negociações envolvendo o Ministério da Saúde ; a deterioração de alguns parafusos da engrenagem econômica, que se fazem ver na expansão da inflação das ruas (feiras livres) também estará recheando o bolo da campanha, podendo ser mais um ingrediente contra Padilha. O eco das ruas Sente-se por aqui e ali a sensação de que o copo transbordou. Escândalos, denúncias, troca de acusações, defesas inconsistentes, tiroteios entre alas de um mesmo partido formam um gigantesco pano de fundo a acolher a coalizão dos indignados. Ouve-se um clamor por inovação, por perfis que possam incorporar um novo conceito de gestão. O eleitorado quer, porém, uma figura que simbolize ação e menos discurso, experiência no trato administrativo, tendo como espelho situações bem empreendidas na área privada. Exemplo das boas experiências Buscam-se exemplos de iniciativas bem realizadas nas organizações privadas. O eleitorado jovem, principalmente, procura distinguir esses perfis na tentativa de se identificar com novos modelos e novas formas de fazer política. Por isso, pode-se prever, nos Estados, o crescimento de candidaturas comprometidas com o choque de gestão na administração pública, uma nova abordagem para o atendimento das prioridades e das demandas sociais, que ganham volume na contemporaneidade. Volta Lula ? Ou fica Lula ? Luiz Inácio está em silêncio. Luiz Inácio em silêncio é um monumento de interrogações ? O que tem pensado sobre a crise da Petrobras ? O que tem aconselhado Dilma a fazer ? O que tem dito aos companheiros sobre a economia sob o fio da meada ? Lula em silêncio diz tudo ou quase tudo : algo como "passarinho na muda não pia". O silêncio do maior palanqueiro do PT é um sinal de alerta para o PT. Mais pérolas do Barão - A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados. - Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai. - O advogado é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si. - Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você. Onde estão as Centrais ? E por falar em Centrais, que carregam a bandeira dos trabalhadores, o que têm elas a dizer a Petrobras, os escândalos, as prisões, o disse me disse de diretores de nossa empresa-símbolo ? Será que defender a Petrobras deixou de fazer parte da agenda da CUT, por exemplo ? Hegemonia petista Até dois meses atrás, o projeto de hegemonia política do PT fazia parte da agenda de todos os partidos. E frequentava, ainda, a agenda de preocupações dos setores produtivos. De uns tempos para cá, sentiu-se certo alívio ante essa propalada meta petista. Mas o PT, sem dúvida, continuará a ensaiar como personagem as peças de nossa política. Trata-se do partido com a maior e melhor organização do país. Serra e Cabral ? Para onde irá José Serra, hein ? Candidato a senador ? Para onde caminhará Cabral ? Na direção do Senado ? Serra poderia ser um deputado de mais de milhão de votos. Será que isso é coisa menor ? Cabral, diz-se, quer ser ministro. De hoje e do amanhã. Em que governo ? A rima Lacerda, governador da Guanabara/RJ, candidato à presidência da República, foi a Montes Claros, lá em MG. A cidade amanheceu com os muros pichados : "Lacerda rima com m...". No comício, à noite, Lacerda acabou o discurso assim : - Aos meus amigos, deixo um grande abraço. Aos meus adversários, a rima. Conselho ao PT Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de SP, Geraldo Alckmin. Hoje, volta sua atenção ao PT. 1. Reconhecer o erro em relação a algumas decisões tomadas pela antiga diretoria da Petrobras pode ser uma alternativa interessante. Melhor do que a querela entre alas do partido. 2. É preciso coragem para repor a verdade, sem firulações, manobras e tergiversações. 3. O eleitor consegue distinguir as diferenças entre falsas versões, meias versões e a verdade. Tentativa de enrolar o eleitorado pode se transformar em bumerangue.