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Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Porandubas nº 334

Pode descer Juscelino Kubitschek era um personagem de romance. Suas histórias aéreas matavam de medo os companheiros da campanha e, depois, do governo. Para ele, avião é para voar e acabou-se. Uma noite, na campanha, ia descer no interior do RS. As luzes da cidade apagaram-se, o campo não tinha pista iluminada, o piloto quis voltar para Porto Alegre. Juscelino ordenou : - Pode descer. Deus é juscelinista. Desceram. Era. Outra vez, voavam sobre a Amazônia. Pegaram uma tempestade terrível. Raios, trovões. O avião pinoteando no ar, como pipa, os líderes do PSD e PTB apavorados, de olhos fechados, duros, rezavam, suavam. Juscelino sorriu : - Vou dormir um pouco. Ninguém acreditou. Um mais incrédulo levantou-se, foi lá atrás, puxou a cortina da pequena cabine presidencial privativa. Juscelino dormia e roncava. Outra tarde, voltava de Salvador, anoiteceu em Caravelas, mas precisava voltar ao Rio. O piloto avisou : - Governador, o combustível está acabando. Pode ser que não dê para chegar ao Rio. Vieira de Melo, Getúlio Moura, José Maria Alkmin, João Goulart, apavorados, queriam descer em Caravelas. JK insistiu : - Vamos. Lá a gente vê se deu. Deu. Reta final Ainda é cedo para se fechar o painel de leituras. Mas os nomes que despontam na liderança de algumas capitais abrem a primeira hipótese : o eleitor está saturado das velhas caras. Não se trata de apenas escolher perfis mais jovens, mas pessoas que estão abrindo o leque da política. Vejamos alguns nomes : Carlos Amastha, de origem colombiana, do PP, lidera a corrida em Palmas, TO; Geraldo Julio, PSB, que ganhará o pleito em Recife, puxado pelo governador Eduardo Campos; Nelson Pelegrino, PT, que passou à frente de ACM Neto, em Salvador; Elmano de Freitas, PT, lidera em Fortaleza; Luciano Cartaxo, PT, lidera em João Pessoa; Mauro Mendes, PSB, está na frente em Cuiabá; Alcides Bernal, PP, em Campo Grande, passou Edson Giroto, do PMDB; em Manaus, a senadora Vanessa Grazziotin, do PC do B, empata com o ex-senador tucano, Arthur Virgílio. O que essas caras têm em comum ? Assepsia política. Não tomaram banho nas águas da velha política. O eleitor na última hora Como o eleitor toma decisão de última hora ? Ou seja, como escolherá o candidato se está em dúvida na última semana ? Ele conversa com amigos, troca ideias, põe o sistema racional para funcionar, deixando o espaço motivo de observador. Vê os últimos programas de TV, analisa as informações gerais dando conta de fenômenos que incidem sobre partidos e atores. Joga a massa informativo-analítica na cachola, sacoleja as ideias e acaba optando por um perfil. Nesse instante, também é movido pelo instinto de selecionar o candidato com mais chances de ganhar. Ou seja, acaba praticando um voto útil. Mas, que fique bem claro : esse processo só se desenvolve no eleitor que ainda está indeciso. Russomanno segura ? A expressão contundente é mais intensa nos programas eleitorais nesta final de campanha. Em SP, berço da maior campanha eleitoral do país, os candidatos José Serra, Fernando Haddad e Gabriel Chalita elegeram Celso Russomanno como alvo preferencial. Que é comparado ao ex-prefeito Celso Pitta, já falecido, e eleito sob as graças e o antigo prestígio de Paulo Maluf. O foco da mensagem procura argumentar sobre o despreparo do candidato do PRB e, ainda, o fato de ser candidato de uma Igreja Evangélica, a Universal do Reino de Deus, comandada pelo bispo Edir Macedo. A questão é : o discurso da desconstrução de Russomanno mudará o voto do paulistano ? Ele conseguirá segurar a taxa de 30% de intenção de voto ? Os 5% que perdeu nos últimos dias são efeito do ataque massacrante sobre ele ? É possível Sem dúvida, os ataques que procuram desconstruir a fortaleza em que se refugiou o candidato do PRB estão conseguindo abalar seus alicerces. Os votos do petismo na Zona Leste, que concentra a maior densidade eleitoral de SP, começam a voltar ao leito. Haviam se desgarrado. É o que algumas pesquisas constatam. A conferir. Proximidade Já se procurou analisar o fenômeno Russomanno sob diversas teses, cada qual tendo sua razoabilidade. Argumenta-se, por exemplo, sobre o conservadorismo do eleitorado paulistano. Que se inclina a votar em um perfil mais conservador, no caso, o candidato do PRB. Mostra-se que, ao longo dos últimos 20 anos, ele teceu a couraça do defensor dos pobres, a partir do eixo de defesa do consumidor. Ou seja, agora está puxando os consumidores para a arena dos eleitores. Diz-se, ainda, que o eleitorado está saturado da polarização entre PT e PSDB. E Russomanno se apresentaria como opção para fugir a esta velha arenga. Todas essas hipóteses são passíveis de demonstração. Tentando resumi-las em um só conceito : proximidade. Celso Russomanno cresceu por ter conseguido se apresentar como o candidato mais próximo das margens sociais. Proximidade abre outros conceitos : conhecimento, popularidade, intimidade, amizade. Escopo que confere aos conjuntos eleitorais autonomia de decisão. Um voto sem chancela das celebridades políticas. Segundo turno Quem irá ao segundo turno no pleito paulistano ? Russomano estaria com passagem comprada. Mas... E José Serra e Fernando Haddad ? Quem tende a subir ? Este analista ainda não consegue enxergar a dupla que correrá a segunda volta. O fato é que o segundo turno apresenta uma arena diferente do campo de lutas. Os tempos de TV serão iguais : 10 minutos. O eleitor terá melhores condições de fazer comparação entre os dois perfis. Portanto, os critérios de escolha levarão em conta a razão e não apenas a emoção. 2014 Tenho feito muitas palestras. Lula volta ao cenário político ? Respondo : ele ainda não saiu. É o patrocinador de muitos candidatos. O Guru do PT. Volta a ser candidato à presidência da República ? Não acredito. Ele se dá bem no papel de orientador-mor do PT. Dilma será candidata à reeleição. Lula será um grande eleitor. Se a saúde assim o permitir. Ganhos "Com talento ganhamos partidas; com trabalho em equipe e inteligência ganhamos campeonatos". (Michael Jordan) Daniel, o riponga Vejam como o eleitorado brasileiro gosta de mudar os ambientes e a causar surpresas. Pois não é que o tucano Daniel Coelho, um riponga que se veste à moda hippie, tomou o segundo lugar em Recife, desbancando o senador petista Humberto Costa ? Quem diria, hein ? A se confirmar sua posição, o PT sofrerá uma das mais contundentes derrotas, ou seja, em Recife. O candidato do PSB de Eduardo Campos, Geraldo Julio, navega firme em primeiro lugar. Curiosidade : o tucano riponga entrou maneiro no gosto dos jovens. É a novidade que gera impacto na programação eleitoral. Teori O ministro Teori Zavascki não se submeterá a bateria de críticas gerais - a partir da onda midiática - caso entre em tempo no STF e decida julgar os réus da Ação Penal 470. Tem um perfil de juiz recatado, sem gosto pelo espalhafato. Para julgar, deve se considerar apto. É evidente que ele, sob o aspecto formal, reúne todas as condições para entrar no jogo. Na visão deste analista, estará contemplando a cena. Sem expor seu juízo. E a Copa, hein ? A Copa do Mundo terá influência sobre as eleições de 2014 ? Sem dúvida. Se o Brasil sagrar-se campeão em junho, as eleições de outubro consagrarão a candidata governista. O ambiente festivo e a catarse nacional emoldurarão o perfil da presidente Dilma. Se o Brasil for derrotado, parte da indignação poderá (não necessariamente) recair sobre o governismo. Principalmente se a economia estiver na UTI. Uma Justiça que trabalha Sob esse título, este escriba dedicou sua análise dominical no Estadão (12/8/2012) à Justiça do Trabalho. Alguns dados causaram impacto : em 2011 chegaram às prateleiras da Justiça do Trabalho 3.069.489 processos, dos quais 3.016.219 foram julgados. Os números mostraram que, a cada 100 mil habitantes, 88 ingressaram com ação ou recurso no TST, 296 nos TRTs e 1.097 nas varas do Trabalho, uma expansão de quase 2% em relação ao ano anterior. A seguir, fiz uma análise dos fatores responsáveis pela expansão dos conflitos trabalhistas. Produtividade A Justiça do Trabalho, dizia, apresenta desempenho dos mais produtivos do Poder Judiciário, bastando anotar os resultados de suas instâncias : o TST, em 2011, decidiu 206,9 mil processos dos 211,7 mil recebidos, enquanto os TRTs receberam quase 757 mil, julgando mais de 722 mil ações. A carga de trabalho dos ministros impressiona : 15.857 processos para cada um, considerando, ainda, que o TST reduziu em cem dias o tempo médio de tramitação de processos. Já a primeira instância recebeu 2.135.215 processos e decidiu 2.052.487 casos. E quase R$ 15 bilhões foram repassados para pagamento a trabalhadores que ganharam ações. Esse eixo do Judiciário é um dos mais integrados à modernização. A tramitação eletrônica dos processos judiciais, que simplifica a burocracia e torna a Justiça mais ágil, já é realidade. Os advogados festejam o fato de hoje ser cada vez mais possível enxergar o fim de uma ação trabalhista, ao contrário do que se constata nas áreas civil e tributária. Outra nota de destaque é a transparência : o TST foi o primeiro dos tribunais superiores a divulgar salários de ministros, juízes e servidores. O recordista Hoje, o registro vai para o nome do ministro Emmanoel Pereira. Em 2009, o ministro solucionou 14.529 processos, finalizando aquele ano com o saldo de 2.707 processos conclusos. E mais : ao longo dos 70 anos de Justiça do Trabalho, no Brasil, foi o que mais solucionou processos. Dados dos relatórios do TST. Registro que orgulha a Nação Potiguar, o RN, terrinha do ministro, sob o reconhecimento de outras Nações brasileiras. Bela história Lembrando : em 1932 criaram-se as Comissões Mistas de Conciliação e as Juntas de Conciliação e Julgamento. A Justiça do Trabalho apareceu em 1939, tendo sido regulamentada em 1940 e instalada no ano seguinte. Dois anos depois veio a CLT, reunindo e ampliando a dispersa legislação feita em duas décadas. Os dissídios individuais e coletivos passaram a formar o escopo da Justiça do Trabalho. As mudanças, ao longo dos anos, contemplaram as transformações socioeconômicas e nichos, como as questões portuária e previdenciária e as ações de indenização por dano material e moral decorrentes de acidente de trabalho e de doença profissional. Bela história. Ética sob dúvida A Comissão de Ética Pública entra na lupa dos observadores que formam opinião. Qual será sua próxima decisão ? Pelo visto, o veto da presidente Dilma à renovação do mandato de dois conselheiros colocou um ponto de interrogação na trajetória da Comissão. Que se encontra na encruzilhada. A calma "A calma é a loucura dos sábios". (Napoleão Bonaparte) Guerra na indústria do álcool Produtores e envasadores de álcool estão atônitos com recente decisão da Justiça de reconhecer o direito da Anvisa em proibir a venda do álcool líquido ao consumidor. A alegação é de que os acidentes com o produto estariam aumentando. O estudo que comprovaria a tese, no entanto, tem sido alvo de críticas, já que nem na audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Federal a Anvisa o apresentou. Produtores acreditam em lobby da indústria multinacional para retirada das empresas nacionais do mercado de limpeza. Dizendo não Mesmo na noite mais friaEm tempo de servidãohá sempre alguém que resiste,há sempre alguém que diz não. (Manoel Alegre) Conselho ao eleitor Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos assessores dos candidatos. Hoje, sua atenção se volta ao eleitor : 1. Examine a vida dos candidatos a prefeito. Escolha o de sua preferência, ancorado em : passado limpo, vida decente; melhores propostas em sua visão; perfil mais próximo a você; credibilidade. 2. Veja se as propostas são factíveis. Se não são apenas promessas mirabolantes. 3. Entre os candidatos a vereador, examine os compromissos daqueles que você considera os mais aptos e sérios. Escolha o perfil que atenda com mais precisão as demandas das comunidades. ____________
quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Porandubas nº 333

O sentimento do medo Abro a coluna com o sorridente Juscelino, ícone de simpatia. Candidato a presidente, saiu pelo Brasil visitando o PSD. Desceu na Bahia. Antônio Balbino, governador do PSD, ainda estava em cima do muro : - Qual é a verdadeira posição do café ? - Qual deles, Balbino ? O vegetal ou o animal ? Foi para Pernambuco. Etelvino insistia : - Juscelino, vamos rever o assunto e fazer a união nacional. - Etelvino, já sei que você está contra mim. Quando você fala em união nacional, na verdade está pensando em União Democrática Nacional. - Então você não quer a união ? - Ora, Etelvino, candidato não faz união, candidato disputa. Quem faz união é governo, depois de empossado. E voltou para Minas. Em 31 de dezembro, o chefe da Casa Militar da presidência da República, Juarez Távora (depois candidato da UDN, derrotado por Juscelino), entregou a Café Filho um documento em que "as altas autoridades militares apelavam para uma colaboração interpartidária, um candidato único e civil".O documento só foi divulgado no dia 27 de janeiro, em "A Voz do Brasil". Juscelino respondeu com um discurso duro, escrito por Augusto Frederico Schmidt, que terminava com a frase magistral : - Deus me poupou o sentimento do medo. O núcleo político O mensalão chega ao núcleo político. Como era previsível, o ministro Joaquim Barbosa dá as primeiras indicações que houve compra de voto. O PP foi abrigado no seio do governo. Houve corrupção passiva e ativa. O chefe do núcleo, segundo Barbosa, era o ex-ministro José Dirceu. Tudo dentro do previsível. O roteiro deverá prosseguir com as condenações. A curiosidade estará voltada, mais uma vez, para o parecer do ministro Ricardo Lewandowski e para o voto do ministro Toffoli. Ou seja, o clima nas margens do mensalão esquentará nos próximos dias. A conferir. O ONF de Veja O OFF, na esfera jornalística, é uma entrevista dada a um repórter sob o compromisso de não ser publicada. O jornalista aproveita a conversa com a fonte para tecer panos de fundo, desenhar cenários que lhe possibilitem, mais cedo ou mais tarde, calibrar seus textos. O OFF é uma ferramenta muito usada na área política. Os representantes procuram falar em OFF para fazer críticas, dar informações retumbantes, expor jogos de poder, mostrar o que efetivamente se passa nos intestinos da administração pública. Já o ON é a ferramenta que abre as portas da expressão. Nesse caso, o jornalista tem liberdade para captar e divulgar o que viu, ouviu e sentiu pela expressão dos entrevistados. A Revista Veja produziu, na semana passada, um ONF, mescla de ON e OFF. Expliquemos. Despiste : curvas nas retas A matéria de capa com Marcos Valério expõe uma moldura de despiste. Ou seja, dá a informação sem comprometer a fonte. Imaginemos que a entrevista tenha obedecido ao seguinte roteiro. A revista Veja recebeu um telefonema de pessoa ligada a Marcos Valério. Que sugeriu uma entrevista com ele sob o compromisso de não ser caracterizada como entrevista em ON. O empresário deveria ser preservado. Claro, a revista topou. Marcaram um encontro. Presenças : ele ou alguém para servir de fonte e o repórter. Que fez anotações. Não gravou por não ter recebido autorização. Que forma poderia ser encontrada para apresentar a bomba sem dizer que Valério ou seu representante foi o autor da peripécia ? A linguagem do despiste. O despiste O que é e como se faz o despiste ? Intercalando linguagem de verbos narrativos, de forma direta e indireta. Lembro que os verbos narrativos incluem, entre outros : falar, dizer, narrar, contar, expressar, descrever, aduzir, mostrar, lembrar, citar, anuir, descrever, acrescentar, etc. Na entrevista, a fonte aparece abrindo períodos e parágrafos, dessa forma : "Valério guarda segredos... diz que pelas arcas do esquema passaram pelo menos 350 milhões de reais... ele fala em valores... afirma o empresário", etc. etc. Esta modelagem atende ao princípio do respeito à fonte. E garante a credibilidade da informação. Fontes indiretas Veja, a maior revista brasileira de informação, quis, assim, mostrar que tem compromisso com a verdade. Noutra parte, usou o método indireto. Fontes secundárias e não a fonte primária. Assim : "nos últimos dias, ele confidenciou a amigos".; "Valério teme e fala a pessoas próximas que....". Tais referências indiretas constituem um recurso da Revista para evitar comprometer as fontes primárias. Portanto, não se trata de invencionice. A reportagem tem alicerce. Esta análise, claro, está sujeita a contrapontos de leitores com vieses partidários. O autor do ONF Um exímio ex-repórter de uma grande revista (que continua sendo um mestre na arte de interpretar o universo jornalístico), definiu, com propriedade e humor, a modelagem que abrigou a matéria de capa da Veja : ONF, uma parte em ON e uma parte em OFF. Prometi registrar essa nova modalidade. O que faço com muita alegria. Em tempo : o repórter em questão conhece bem a revista Veja e o perfil da capa, Marcos Valério, que já passou por sua lupa jornalística. Lula e Dilma, cabos eleitorais Lula e Dilma são cabos eleitorais mais eficazes do que FHC e Alckmin ? Essa é a pergunta recorrente que tento responder, seja em perguntas feitas no twitter (@gaudtorquato), seja no facebook ou em outros espaços. Respondo sempre lembrando que os eleitores são gratos a quem os patrocina. E lembro a geografia da gratificação : BOLSO (grana suficiente) para suprir o ESTÔMAGO (geladeira cheia, estômago saciado), CORAÇÃO (agradecido, comovido, emoção, catarse), CABEÇA (decidindo votar nos patrocinadores). Ou seja, o eleitor tende a votar em candidatos indicados por ícones partidários. Principalmente os que encarnam a equação exposta. Lula, ontem, e Dilma, hoje, sob esse parâmetro, exercem mais influência que FHC e Alckmin. O recado do vídeo Ricardo Noblat, segunda-feira, mostra que há mais bombas no arsenal de Marcos Valério. Um vídeo que teria sido encomendado pelo publicitário a profissionais do ramo. Uma cópia teria sido encaminhada a uma das estrelas do esquema do mensalão, réu do processo no STF. Outras três estão guardadas em banco. Se ocorrer algum desastre em seu caminho - diz a matéria - os vídeos serão encaminhados aos jornais O Estado de S.Paulo, O Globo e Folha de S.Paulo. O vídeo seria uma bomba de alta potência. Mais um recado de Valério aos ex-protagonistas dos tempos do mensalão. Efeitos Eis a narração de Noblat : "Renilda, a mulher dele, sabe o que fazer com as três cópias... O que Valério conta no vídeo seria capaz de derrubar o governo Lula se ele ainda existisse, atesta um amigo íntimo do dono da quarta cópia. Na ausência de governo a ser deposto, o vídeo destruiria reputações aclamadas e jogaria uma tonelada de lama na imagem da Era Lula. Lama que petrifica rapidinho. A fina astúcia de Valério está no fato de ele ter encaminhado uma cópia do vídeo para quem mais se interessaria por seu conteúdo. Assim ficou provado que não blefava". Mensalão e eleição em SP O mensalão suja a imagem do PT junto aos setores que habitam o meio da pirâmide, mas não chega a afastar os eleitores das margens. Recorrente questão : a imagem de Haddad não será engolfada pelo mensalão ? Tenho respondido : não. Mas consolida impressões negativas que impregnam determinados núcleos eleitorais. Aqueles que já tomaram a decisão de votar contra o candidato petista. Enquete Jovem Pan A Rádio Jovem Pan conserva a tradição de fazer enquetes eleitorais nas últimas semanas que precedem os pleitos. Como se sabe, enquete não se guia por metodologia científica, servindo apenas de lume jornalístico, um apanhado nas ruas sobre intenções de votos nos candidatos. Na verdade, a enquete flagra apenas a opinião do ouvinte da emissora. Nesse sentido, é muito limitada. Pois bem, José Serra obteve cerca de 70% na primeira enquete. E cerca de 40% na segunda. Haddad, Chalita e Russomano aparecem empatados. FHC e Alkmin, cabos eleitorais Fernando Henrique entra de corpo e alma na campanha de Serra. Esta semana, divulga um documento assinado por intelectuais em apoio ao candidato tucano. Tenho dito e repetido : essas coisas não agregam votos. As assinaturas de celebridades têm o condão de conferir prestígio, mas não sensibilizam as massas. Que nem tomarão ciência do fato. Haddad ou Serra ? Quem irá para o segundo turno ? A se confirmar a tendência de queda de Serra, Haddad seria o candidato a disputar o segundo turno com Russomanno. Mas as pesquisas cotidianas - trackings - feitas pelos tucanos atestam que Serra ainda está na frente de Haddad. Daqui a 10 dias, a bola de cristal abrirá seus segredos. Por enquanto, o olho mecânico dá chance aos dois. Fundões da zona leste Domingo último, este analista foi ao encontro da multidão. Mais exatamente, na Zona Leste, no SESC Itaquera, fundões da capital. Ali está o maior contingente eleitoral de SP. Tem 300 mil eleitores a mais que a Zona Sul. Um show da Família Lima e da cantora Ana Carolina, em comemoração aos 20 anos do maior sindicato de trabalhadores terceirizados e de trabalho temporário de SP, o Sindeepres, comandado pelo intrépido Genival Beserra Leite. 12 mil pessoas afluíram ao local. Gente alegre. Cabos eleitorais esparsos. Massa em plena diversão. Sem dar bolas aos carros de som das campanhas, ali por perto. PMDB redesenhado O PMDB de SP abre caminhos de renovação. Novos quadros, amplas possibilidades. O partido espera eleger cerca de 100 prefeitos no Estado. Brasil e a crise Começam a pipocar declarações e análises sobre os efeitos de uma nova crise financeira internacional sobre o Brasil. A base macroeconômica, garante o governo, está azeitada para aguentar novos trancos. Os especialistas acham que, ante uma nova avalanche, o país tende a ficar à deriva. Deixo a questão para reflexão. Panorama em João Pessoa Vejam os resultados das duas últimas pesquisas eleitorais em João Pessoa. Esta primeira foi feita pela Consult, sob encomenda do Correio da Paraíba : - Luciano Cartaxo (PT): 23,9% - Cícero Lucena (PSDB): 22,9% - Maranhão (PMDB): 17,8% - Estelizabel (PSB): 14,4% Esta segunda é do Portal WSCOM/Sigma : - Luciano Cartaxo (PT): 21,9% - Cícero Lucena (PSDB): 21,3% - Maranhão (PMDB): 17,7% - Estelizabel (PSB): 12,9% E os queijos ? Ainda em sua peregrinação como candidato a presidente, Juscelino hospedou-se em Campina Grande, na casa do coronel Alvino Pimentel, industrial e homem refinado. Tratou JK como se tratam reis : queijos da França e caviar da Rússia. Cinco anos depois, fim de mandato, Juscelino voltou a Campina Grande para inaugurar o serviço de água, promessa da campanha. Quando a porta do avião abriu, a primeira pessoa que viu lá embaixo foi um velho de cabelos brancos. Chamou Abelardo Jurema : - Quem é aquele de cabelos brancos ali no pé da escada ? - É o compadre Alvino, onde o senhor se hospedou. Juscelino já desceu sorrindo, os braços abertos : - Coronel Alvino, e os queijos? Conselho aos assessores dos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos assessores dos candidatos : Aproxima-se a reta final das campanhas. Esse é o momento que merece especial atenção. 1. Urge fazer um mapeamento geral da campanha, sob os prismas do discurso/propostas; altos e baixos da comunicação; carências detectadas na frente da articulação política e social; análise da mobilização - verificação das ações realizadas pelos cabos eleitorais. 2. Reordenar focos e metas, reajustar trabalho de campo (nas regiões e bairros), organizar forte programa de comunicação; reordenar a agenda do candidato, contemplando as maiores densidades eleitorais. 3. Descentralizar ações de forma que a campanha se faça presente em todos os espaços municipais. A ideia é a de tornar o candidato onipresente, ou seja, com visibilidade em todas as regiões. ____________
quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Porandubas nº 332

Juscelino Abro a coluna com Juscelino Juscelino Kubitscheck, José Maria Alkmin e Odilon Behrens saíram juntos do seminário de Diamantina. Continuaram estudando juntos, farreando juntos. Uma noite, havia uma festa na cidade com entrada paga. As namoradas precisavam comparecer. Mas eles não tinham um tostão. Alkmin resolveu o problema : - Vamos vender a alguém uma de nossas camisas. Encontraram o comprador, mandaram passar uma camisa de Juscelino, enrolaram, disseram que era nova, pegaram o dinheiro, foram para a festa. No dia seguinte, o comprador chegou uma fera : - A camisa não era nova, estava gasta, rasgou logo. Juscelino tomou a palavra : - Meu amigo, aonde você foi ? - A um baile. - Dançou o quê ? - Tudo. Bolero, samba. - Então a culpa foi sua. Esta camisa é muito fina; só serve para dançar valsa. Outra do simpático presidente : Estudante bolsista em Paris, Juscelino Kubitschek encontrou Odilon Behrens, que chegava com as notícias de Minas. Ex-colegas no seminário de Diamantina, passaram a relembrar os companheiros : - E o Alkmin ? Nunca mais soube dele. - Está na Penitenciária de Neves. - Eu sabia que ele ia acabar lá. Era Diretor. Campanha sem emoções O clima que envolve o pleito é morno. Não há impactos nem grandes emoções. Afora uma ou outra campanha mais acirrada, em função das peculiaridades regionais, pode-se aduzir que as eleições de outubro deste ano se inserem entre as mais tranquilas da contemporaneidade. Os motivos apontam para um conjunto de vetores : 1) economia sob controle; 2) ausência de grandes novidades; 3) modelos de campanha tradicionais; 4) saturação de embates entre tucanos e petistas (polarização); desejo de alteração nos perfis dos gestores, significando tendência para escolher caras diferentes (não necessariamente o novo); 5) mobilidade social, significando inserção de milhões de eleitores na classe média e consequente engajamento de contingentes nas frentes de defesa do consumidor. E o mensalão não é novidade ? Pois é, o julgamento do mensalão poderia ser considerado uma boa novidade. Mas a carga negativa que o caso agrega não terá o condão de mudar a posição dos contingentes eleitorais. Ou seja, tucanos e petistas consolidarão os pontos de vista já formados. Os petistas começam a falar do mensalão tucano em MG. Um empate de cargas negativas. Parcela do eleitorado, ante a tentativa de polarização, tende a optar por uma alternativa, Russomanno, em São Paulo, por exemplo. Por isso, o uso de FHC na campanha de Serra, lembrando o mensalão, não resultará em votos. Serão poucos os eleitores que poderão mudar de voto por conta do apelo de Dilma por Haddad. O que um escritor não vê Lo que un escritor no ve, no ha acontecido. (Elias Canetti - Hampstead) Campos, o mais ativo Eduardo Campos se apresenta como o cabo eleitoral mais ativo do país. Mais do que Lula. Porque lidera os processos em que partidários do PSB avançam sobre os próprios domínios do petismo, a partir de Belo Horizonte e Recife. Tenta, a todo momento, dizer que continua afinado à Lula e à presidente Dilma. Claro, quer continuar olhando para uns e piscando para outros. Por isso, não pode e não deve se afastar de correligionários. A verdade, porém, é que o governador de PE está jogando como um ás da política. Vai posicionar seu partido em importantes territórios eleitorais. Registrará importantes passos. Com grande cacife, espera negociar com os parceiros que lhe forem mais convenientes. Geração pós-64 Sempre lembro uma confissão que ouvi dele em uma conversa cheia de revelações em um dos eventos promovidos por João Doria em Comandatuba : "meu sonho é juntar a geração pós-64 e tomarmos os rumos do país". Entendi a mensagem não como um rompimento à velha turma, até porque ele, Eduardo, respeita muitos da velha guarda, mas como um compromisso de levar adiante um programa de reformas, que só ocorreriam sob o comando de um grupo mais jovem e sem grandes amarrações à arvore do passado. Um homem fascinado Un hombre que toca fascinado a cada mujer porque nunca le pertenecerá. (Elias Canetti - Hampstead) Junto com Aécio Será difícil uma composição entre o PSB de Campos e o PSDB de Aécio Neves. A complexidade de uma aliança desse naipe seria menor se não houvesse no meio do campo jogadores do porte de Fernando Henrique, José Serra, Geraldo Alckmin e outros assemelhados em história e fama. Mas em política, tudo é possível. Até mesmo essa aliança. Que só ganharia viabilidade se o país entrasse em profunda crise econômica, com sequelas terríveis sobre o bolso e o estômago do eleitorado. Nesse caso, a credibilidade do lulismo/petismo seria impactada. A presidente Dilma, nesse caso, também correria o risco de ser envolta no celofane cinzento da crise. O Brasil é maior que a crise Em outra ponta, a leitura é bastante otimista. Leva em consideração a hipótese de que, qualquer que seja o impacto de uma crise mundial sobre o país, nossa base econômica tem firmeza para aguentar os abalos, mesmo que os sismos partam de catastrófica performance da China. Perderíamos, sim, um monumental espaço consumidor - o chinês - para onde vão as nossas commodities (principalmente da área de alimentos), mas haveria outros espaços como destino de nossas riquezas. Sempre haverá barrigas para alimentar, aqui e alhures. Há lastros de riquezas e desenvolvimento em outros setores vitais de nossa economia. Portanto, a tese de que o Brasil é maior do que novas crises mundiais tem sustentação. Sob essa perspectiva, Dilma abre horizontes promissores para 2014. A mulher em desespero La mujer que ha conocido y sobrevivido a todos los grandes hombres. Uno de ellos se niega a morir. Su desesperación. (Elias Canetti - Hampstead) Copo transbordando Mesmo sob um eventual novo governo Dilma, as perspectivas indicam alterações de monta na fisionomia política. Os grandes partidos estão chegando ao ponto de quebra de seus pesos e potenciais. As velhas lideranças começam a dar sinais de esgotamento. Os modelos partidários carecem de novas vestimentas. As gestões da administração pública são questionadas. Os cidadãos, abrigados em seus núcleos de referência mais respeitada (movimentos, sindicatos, associações), exigirão serviços de maior qualidade. O Judiciário se aproxima das ruas. O Ministério Público abre a lupa por todos os espaços. A política haverá, necessariamente, de se refundir e reaparecer mais transparente e clara nos espaços da cidadania. Reformas terão que vir. Lideranças As campanhas seguem dentro da previsibilidade. Manuela D'Ávila (PC do B) tem boas condições de levar a melhor em Porto Alegre. Ratinho Júnior (PSC) e Luciano Ducci (PSB) estão empatados em Curitiba. Carlinhos de Almeida (PT) lidera com grande vantagem o pleito de São José dos Campos. Duarte Nogueira (PSDB) está na frente em Ribeirão Preto. Geraldo Julio (PSB) lidera em Recife. Carlos Eduardo Alves (PDT) está na frente em Natal. Marcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte. Tereza Jucá (PMDB), em Boa Vista. Arthur Virgílio (PSDB), em Manaus. Eduardo Paes (PMDB) está muito na frente no Rio. Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), em Vitória. Zé Maranhão e Cícero Lucena (PSDB) empatam em João Pessoa. Firmino Filho (PSDB) lidera em Teresina. Moroni Torgan (DEM), em Fortaleza. Edmilson Rodrigues (PSOL) está bem na frente em Belém. Paulo Garcia (PT), atual prefeito, lidera em Goiânia. João Alves (DEM) lidera em Aracaju. Rui Palmeira (PSDB) e Ronaldo Lessa (PDT) estão empatados em Maceió. O empresário do ano Otávio Azevedo (Grupo Andrade Gutierrez) foi escolhido Empresário do Ano pela Câmara Portuguesa do RJ. Trata-se de um dos mais celebrados perfis do empreendedorismo brasileiro. É um dos mais denodados defensores da aproximação entre Portugal e Brasil : "temos tentado motivar o governo português e o governo brasileiro a aproveitarem este momento para fazerem uma aproximação definitiva do ponto de vista empresarial e até legal". O Grupo AG está há 24 anos em Portugal, através da Zagope, que é 100% do grupo. Zavascki no STF O ministro Teori Albino Zavascki, do STJ, foi convidado pela presidente Dilma para assumir a vaga aberta com a aposentadoria de Cezar Peluso no STF. Natural de Faxinal dos Guedes/SC, tem 64 anos e está desde 2003 no STJ. Foi desembargador do TRF4. Zavascki também é professor de Direito. Alguns de seus livros : "Antecipação de Tutela"; "Processo Coletivo - Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de Direitos"; "Processo Coletivo e Processo de Execução : Parte Geral". Em tempo : o ministro nunca entrou em lista de possíveis nomes. Iluminando os dias não vividos Cuando ella se mueve velozmente a mi alrededor, se me iluminan los días no vividos. (Elias Canetti - Hampstead) Burocracia O excesso de burocracia prejudica a competitividade de 92% das indústrias brasileiras. A avaliação é da CNI, que divulgou duas pesquisas sobre o tema, uma envolvendo a indústria da construção e outra relativa à indústria de transformação e extrativa. No saldo geral, a Confederação aponta que além de afetar a competitividade de 92% da indústria, parcela de 850% dos industriais ouvidos considera que há um número excessivo de obrigações legais. Marta na cultura A senadora Marta Suplicy é a nova ministra da Cultura no lugar de Ana de Hollanda. Será que o novo cargo significa promoção ? Marta é vice-presidente do Senado, onde tem oportunidade de dirigir importantes sessões. Na Cultura, circulará bastante nas rodas de badalação. Pode ser que se sinta melhor nesse espaço de corte. Não confies em ninguém "Quando alguém fala bem de ti, podes estar certo de que ele te escarnece. Não confies segredos a ninguém. Mesmo se frequentemente teu valor é ignorado, não te faças valer a ti mesmo, nem tampouco te desvalorizes. Os outros te espreitam e esperam teu primeiro momento de relaxamento para te julgar. Se alguém te interpela e te insulta, pensa que está pondo à prova tua virtude. Os amigos não existem, há apenas pessoas que fingem amizade". (Cardeal Mazarino - Breviário dos Políticos) Conselho aos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos candidatos : 1. A campanha entra nas semanas finais. E decisivas. É momento de dar as últimas cartadas. Urge arrematar com propostas coerentes, densas, críveis, que venham atender à demandas urgentes das comunidades. 2. Muito cuidado com campanhas negativas, recheadas de adjetivação pesada, voltadas para denegrir a imagem dos adversários. 3. As duas últimas semanas de programação eleitoral costumam expandir a audiência. O eleitorado quer tomar pé dos avanços feitos pelos candidatos, estabelecer as últimas comparações entre eles e os indecisos começam a avançar na direção de seus escolhidos. ____________
quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Porandubas nº 331

Lavô, o bonito Abro a coluna com duas historinhas que tem como personagem o ex-governador do RN, Lavoisier Maia. Lavoisier não é um tipo de beleza admirado. Mas é considerado uma figura simpática. Um grande galanteador. Quando governador do RN, era esperado para inaugurar o serviço de energia elétrica do Paraná, cidadezinha encravada no extremo oeste do Estado. Preparou-se uma grande festa. Palanque armado, povo reunido, banda de música, muita comida e bebida. O governador não aparecia. Lá pelas 23h, esgotado das andanças na região, faminto, chegou à praça central para o grande evento. Confusão para saber quem iria preceder o governador nos discursos. Depois de muita negociação, chegou-se ao consenso : a palavra seria apenas do governador Lavô, como era chamado pelo povão. Extenuado, o governador pegou o microfone e começou : "meu querido povo do Paraná". Nesse instante, um bêbado com uma garrafa de cachaça, na frente do palanque, começou a gritar para delírio geral : "é o bonito, é o bonito, é o bonito". Ali mesmo, sob uma tempestade de risos, acabava-se o comício. O galanteador O ex-governador, ex-senador do RN e ex-deputado Federal Lavoisier nunca perdeu a oportunidade para exibir as qualidades de galanteador. Em uma de suas viagens de Natal a Brasília, um pouco antes da decolagem do avião, pediu a um amigo, sentado atrás, que lhe emprestasse os jornais da terra. O amigo procurou se levantar para levar os jornais, mas foi demovido pela aeromoça, já que o avião estava decolando. O rapaz pediu "leve, por favor esses jornais para o governador Lavoisier". A aeromoça, levando os jornais, quis conferir a informação : "o senhor é o governador Lavoisier Maia ?". Com sua inconfundível língua enrolada, Lavoisier respondeu de pronto : "Pois não, sou deputado, mas ex-governador, ex-senador e também ex-casado, à sua disposição". (P. S. Havia se separado de Vilma Faria, também ex-governadora e ex-deputada Federal) FHC entra na arena O ex-presidente Fernando Henrique mantinha, até semana passada, uma postura de equidistância da guerra eleitoral. Foi agraciado pela presidente Dilma com o convite para participar, em Brasília, de um evento que reuniu ex-presidentes da República. Lembre-se que ele participara antes de um jantar, em outubro de 2011, com o grupo The Elders, reunindo a ex-primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland, a indiana Ela Bhatt e o ex-presidente americano Jimmy Carter. FHC retribuiu o gesto, expressando elogios à primeira mandatária. Mas mudou de postura nos últimos dias, ao se referir à "pesada herança" que ela herdou do governo Lula, em artigo publicado, dia 2, domingo, no Estadão. (Aliás, do lado dele, estava meu artigo sobre a corrupção). Na verdade, parecia uma resposta a todas as abordagens, feitas nos últimos anos, sobre "a herança maldita" que a era Lula atribuía ao ciclo FHC. O tucano bateu forte, mostrando os buracos abertos pela administração lulista. Apontou, como exemplo, "a desorientação da política energética". Dilma responde Em nota oficial, a presidente não apenas refuta o argumento de que teria recebido a "pesada herança", mas insere o seu patrocinador na galeria dos "estadistas". E acusou : "não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob ameaça de apagão". A nota foi uma candente defesa do lulismo e, claro, do seu próprio governo. A tênue linha educativa que distinguia as relações entre a atual presidente e o ex-presidente se esgarçou. Ao decidir chutar o pau da barraca do ciclo Lula, FHC entrou na guerra eleitoral. Pode ter sido movido pela intensa presença de Lula nos programas dos candidatos petistas nas capitais, a partir de SP, onde seu candidato, José Serra, entra em acentuado declínio. O fato é que a polarização entre tucanos e petistas toma lugar não apenas na vanguarda das campanhas de Serra e Haddad, mas na retaguarda, onde aparecem os ícones partidários, liderados pelos dois maiores, Lula e FHC. Mais leitura sobre São Paulo Adensa-se o caderno de leituras sobre a campanha de SP. Por mais que este consultor tenha feito exaustivas análises sobre os possíveis cenários, continua a enfrentar a questão : quem vai para o segundo turno ? Para esta instigante dúvida, a bola de cristal recusa-se a dar respostas fechadas. Mas aponta algumas hipóteses : 1) Russomanno consolida sua posição; 2) Serra, caindo mais, abre espaço para o ingresso de Fernando Haddad no segundo turno; 3) É provável um "embolamento" de candidatos ao redor do patamar de 20% a 25%. Segundo turno No segundo turno, as dificuldades seriam bem maiores para José Serra. Que veria contra ele a integração dos outros candidatos de maior expressão eleitoral. Russomanno seria, até, mais mortal para Serra que Fernando Haddad. Contra este, poderia desaguar uma onda crescente anti-petista. Serra, para sobreviver à maré vazante, teria de resgatar na cachola dos eleitores a credibilidade perdida. Persiste a versão de que, eleito, não ficaria até o final do mandato. Ademais, a impressão que passa é que, em 2012, Serra faz a mesma campanha de 2004. Efeito televisivo Haddad já consegue se firmar como candidato de Lula. Faz, também, uma campanha moderna, de efeitos tecnológicos de impacto na TV. Chalita aparece bem na TV, com imagens limpas, discurso claro e tentando quebrar a polarização. Poderá subir bastante. Serra usa a velha morfologia. Campanha previsível. Russomanno tem um programa de TV muito pobre de ideias e propostas. Que procura disfarçar com a embalagem do povo. Está sempre ao lado de gente, conversando, ouvindo, fazendo-se de xerife. Soninha é poesia e utopia. Paulinho tem melhor desempenho que em campanhas passadas. Passa franqueza. Mas circula em um corredor de restrições. Os restantes são pequenos traços expressivos. Recheados de exclamações radicais. PT em tom menor Nesse momento, o cenário eleitoral aponta para um refluxo do PT no Nordeste na esteira do adensamento do PSB, a partir da provável derrota do senador Humberto Costa, em Recife, e consequente vitória de Geraldo Julio, candidato do governador Eduardo Campos. A propósito, Geraldo já passou Costa : 33% contra 25%. Mas se o PT ganhar em SP, recupera com juros e correção monetária todas as eventuais perdas que, por acaso, registrou na trajetória eleitoral de 2012. Uma vitória em SP seria o sonho dos sonhos petistas. Consolidaria a posição do partido na maior praça eleitoral do país, abrindo horizontes promissores para a disputa do governo do Estado e reeleição da presidente Dilma. Os primeiros candidatos Se Fernando Haddad vencer na capital paulista, abre-se a fila de pretendentes ao governo do Estado, em 2014, com os nomes de Aloysio Mercadante e Marta Suplicy. Mas o ícone do partido, Luiz Inácio, dependendo das circunstâncias do momento (economia, saúde pessoal), poderá ser o coringa do baralho. Difícil acreditar nessa hipótese. Mas tudo é possível em política. Se a economia cair no despenhadeiro, Lula serviria de contraponto e sairia puxando a emoção das massas. Caso contrário, continuará a ser o "conselheiro-mor" de Dilma e dos petistas que entrarão na moldura dos candidatos. Manu em Porto Alegre Manuela D'Ávila (PC do B) abre os horizontes de amplas possibilidades. Porto Alegre abre caminho para ser administrada pela disposição e jovialidade desta candidata. Cenas do passado Corre na rede um vídeo sobre Celso Russomanno quando fazia cobertura de carnaval. Trata-se de campanha negativa contra o candidato. Outro tempo, outro contexto, outras motivações. Assistência social O que é mais assistência social ? Tirar um jovem das ruas e do mundo das drogas, incentivando-o com uma bolsa de estudos, com a qual poderá ajudar a família, ou incentivar meninas nordestinas a terem filhos e, assim, poderem ganhar a Bolsa Maternidade ? No Nordeste, milhares de moças recebem o adjutório paternalista do governo. Recusam-se a trabalhar porque não querem ter carteira assinada. Temem perder a bolsa maternidade. Essa mentalidade é incentivada pela área social do governo Dilma. Lamentável esse conceito de assistência social. Que ameaça perpetuar o paternalismo assistencialista/caduco/dinossaurico do Estado brasileiro. Devoluções O Grupo do ex-senador Luiz Estevão fez acordo para devolver aos cofres da União R$ 468 milhões. Que teriam entrado ilegalmente em suas contas. Agora é a vez do ex-juiz Lalau. A AGU confirma que o Brasil recuperou, por meio do Tribunal Federal da Suíça, US$ 6,8 milhões que estavam bloqueados no país desde 1999, na conta bancária do ex-juiz. As coisas começam a tomar um novo rumo. A economia sob controle Quem apostava na economia desembestada, neste segundo semestre, pode ter de mudar suas expectativas. Tudo indica que continuará sob cabresto curto. Os controles estão afiados. Os pacotes de motivação continuarão a ser abertos. Para os próximos meses, os efeitos defasados de política monetária, a continuidade dos estímulos fiscais/tributários e o programa de investimento em transporte e logística, recentemente anunciado pelo governo Federal, devem intensificar o processo de retomada já em curso da atividade industrial. O monitoramento da inflação terá lupa mais precisa. Significa que o governismo dará o tom geral das eleições, deixando as oposições com perspectivas de vitória apenas nos espaços onde os governantes estaduais oposicionistas forem bem avaliados. Por governismo, leia-se : o conjunto de partidos que formam a base política do governo Dilma. A indústria da guerra Pequena observação à margem da campanha eleitoral nos Estados Unidos. Mitt Romney arrecada o dobro de Barack Obama. Ele passou a ser a bola da vez em matéria de novidade. Ele entrou na faixa dos já vistos e conhecidos. O republicano ressuscita o império da guerra. As grandes corporações despejam milhões de dólares em sua campanha. Voltam a ter esperança de produzir arsenais de guerra. E a faturar em cima do espectro dos conflitos do mundo contemporâneo. Oração de Brian I Discurso de Brian Dyson, ex-presidente da Coca Cola, ao deixar o cargo. "Imagine a vida como um jogo em que você esteja fazendo malabarismos com cinco bolas no ar. Estas são : Trabalho - Família - Saúde - Amigos e Vida Espiritual. Você terá de mantê-las todas no ar. Logo você vai perceber que o Trabalho é como uma bola de borracha. Se soltá-la, ela rebate e volta. Mas as outras quatro bolas - Família, Saúde, Amigos e Espírito - são frágeis como vidros. Se você soltar qualquer uma destas, ela ficará irremediavelmente quebrada, marcada, com arranhões, destroçadas, vale dizer, nunca mais será a mesma. Entenda isto : aprecie e se esforce para conseguir cuidar do valor mais valioso. Trabalhe eficientemente no horário regular do escritório e deixe o trabalho no horário. Gaste o tempo requerido à sua família e aos seus amigos. Faça exercício, coma e descanse adequadamente. E, sobretudo... Cresça na sua vida interior, na parte espiritual, a coisa mais transcendental, porque é eterna". Oração de Brian II "Shakespeare dizia : 'Sempre me sinto feliz, sabes por quê ? Porque não espero nada de ninguém. Esperar sempre dói'. Os problemas não são eternos, sempre têm solução. O único que não se resolve é a morte. A vida é curta, por isso, ame-a!". Viva intensamente e recorde : Antes de falar... Escute ! Antes de escrever... Pense ! Antes de criticar... Examine ! Antes de ferir... Sinta ! Antes de orar... Perdoe ! Antes de gastar... Ganhe ! Antes de se render... Tente de novo ! Antes de morrer... Viva !". Vagas especiais SP lidera a vanguarda em algumas frentes da cidadania. Um exemplo pode ser apontado nos espaços destinados ao estacionamento de pessoas portadoras de necessidades especiais e idosos. Mas, nos últimos tempos, observa-se relaxamento da fiscalização. Nas ruas e em estacionamentos de shopping centers, as vagas especiais estão sendo ocupadas por automóveis sem as devidas identificações, incluindo os cartões especiais emitidos pelo DETRAN. A cidadania exige respeito à legislação. Cobra-se fiscalização rigorosa dos órgãos responsáveis. Conselho a presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos partidos. Hoje, sua atenção se volta à presidente Dilma Rousseff : 1. A Corte Suprema do país é o espaço sagrado que deve abrigar os mais preparados e renomados nomes do saber jurídico nacional. 2. Essa razão, por si só, justifica que os perfis designados para compor o alto colegiado devem reunir os valores morais e éticos e a bagagem de conhecimentos que conferirão credibilidade, respeito e grandeza ao STF. 3. Vossa Excelência, do alto de sua imensa responsabilidade, saberá escolher, dentre a plêiade de nomes, aqueles que reúnem as melhores condições para substituir os ministros que, compulsoriamente, deixam a Corte, ministro Cezar Peluso (que já saiu) e Ayres Britto (ao final do ano). ____________
quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Porandubas nº 330

Abro a coluna com Zé Abelha, o impagável contador de historinhas mineiras. Comício à Paganini Comício em Entre Folhas, à época, distrito de Caratinga/MG. A política fervia. Os grupos iam aos palanques, armados até aos dentes. Zé Augusto, candidato, para onde vai, leva a tiracolo seu famoso violino, a pequena metralhadora, cuja capa lembra o instrumento de Paganini. Fazia parte da comitiva do candidato um famoso padre da região, o monsenhor Aristides Marques da Rocha, que militava no PSD e exercia grande influência sobre as massas. Só andava armado. Revólver em um bolso e as balas embrulhadas num lenço, bem amarradas, no outro. O monsenhor Rocha tinha a batina cheia de pequenos rasgos, feitos por devotos que arrancavam pedaços para fazer bentinhos. Um adversário de Zé Augusto, ao ver o monsenhor armado, toma coragem e tenta desconcertado : - Uai, monsenhor, o senhor não vive dizendo que homem só morre quando Deus chama ? - É isto mesmo, meu filho, mas hoje eu estou armado porque posso encontrar algum udenista que Deus está chamando com urgência e, aí, eu presto um serviço ao Criador, matando o filho da p.... O comício de Zé Augusto transcorreu na santa paz. Procurando um norte Os programas eleitorais procuram um norte. Nas duas primeiras semanas, os programas tatearam no escuro, ao tentar fisgar o eleitorado com descrições melosas sobre a vida dos candidatos, propostas genéricas nas áreas de saúde e transportes, principalmente. Mas não deixaram também de fazer incursões na arena de guerra, ou seja, fustigaram adversários. Se formos dividir em blocos, podemos apontar o seguinte enquadramento : a) perfil dos candidatos; b) propostas e temas gerais; c) ataques; d) comparações entre ideias e estilos. Os programas, regra geral, não abrigam os recursos a serem investidos. A campanha paulistana Como era previsível, os programas de José Serra e Fernando Haddad são os que mais tempo se dedicam a questões da cidade, principalmente o do tucano. O programa do candidato petista tem dedicado muito tempo à descrição do perfil de Haddad, coisa compreensível face ao seu desconhecimento pelo eleitorado. Serra procura mostrar conhecimento sobre a cidade, gastando um bom tempo discorrendo sobre o sistema de transportes e saúde. Mostra o que já foi feito nessa área por ele e Kassab. Mais da metade do tempo de Haddad é usada para exposição sobre sua vida. O programa tucano bate forte na proposta petista do "bilhete mensal", chamando-o de "bilhete mensaleiro". A campanha negativa abriu espaço. Russomanno apresenta-se sempre no meio do povo. Chalita mostra sua carreira política, fixa a imagem do educador e propõe que o eleitor não dê ouvido às "picuinhas" entre tucanos e petistas. Soninha encaixa-se no rótulo da sustentabilidade, combate o apadrinhamento político, enquanto Paulinho da Força lapida a vertente do emprego, meta de sua proposta de descentralização. Campanha negativa A campanha negativa é a do ataque ao adversário, seja lembrando frentes abandonadas, seja tentando vincular propostas novas com situações escandalosas, como é o caso do bilhete mensal de Haddad, cuja associação com o "mensalão" torna-se patente. Os profissionais de marketing podem, até, se respaldar em pesquisas para decidir usar as armas de ataque em campanhas. Em casos específicos, principalmente quando ficou consagrada uma gestão irresponsável em alguma área - como a da saúde - mostrar cenários devastados pode gerar efeitos. Contanto que essa estratégia seja comedida, usada de maneira tópica. Não deve significar o eixo de um programa. O eleitor quer ver coisas positivas. Já nos Estados, os ataques ganham mais eficácia em função do embate histórico entre os partidos democrata e republicano. Os políticos "Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas) Embolados Quatro candidatos podem embolar o meio de campo em SP : Serra, Russomanno, Haddad e Chalita. Os quatros podem oscilar em torno de 20% a 25%. Serra e Russomanno, descendo; e Chalita e Haddad, subindo. Haddad deve chegar aos 13% na próxima rodada. Pesquisas qualitativas abrem esta possibilidade. Lá pelo dia 15/20 de setembro, a tendência se mostrará mais clara. A campanha paulistana ainda se reveste de grandes interrogações. O preço do voto "O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas) O livro do Ruy Ruy Altenfelder Silva é um profissional de muitos conhecimentos, a partir do Direito, área que domina exemplarmente. Profissional de múltiplas atividades, consultor, conferencista, Ruy, do alto de sua experiência no comando de instituições de magnitude, como o Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE, também se destaca como um denso intérprete da vida nacional. Basta ver a infinita coleção de entrevistados de seu programa Diálogo Nacional, veiculado em 10 canais a cabo em diversas regiões do país, onde recebe os mais renomados perfis da cultura e da educação, da política e dos negócios. Preâmbulo para dizer que, hoje, às 18h30, Ruy lançará o livro "Diálogo Nacional - Repensando o Brasil", que terá coautoria de Alexandre Artacho Altenfelder Silva. A obra contém 35 artigos, envolvendo questões de ética, política, educação e desenvolvimento. Mensalão Até o momento, o julgamento do mensalão derruba hipóteses preliminarmente assentadas. Não há dois grupos de ministros, um pela absolvição, outro pela condenação dos réus; os ministros têm procurado expressar abordagens diferentes, ângulos inusitados. Ou seja, não há concordância com todos os pontos levantados pelo relator. E mesmo quando concordam, enxergam aspectos diferenciados. A expressão reveste-se de densa argumentação jurídica. Quanto à influência sobre as eleições, este consultor volta a lembrar : o processo apenas reforçará pontos de vista já firmados por grupamentos de eleitores, não induzindo o voto. O grande eleitorado tende a votar por esta geografia do voto : bolso, estômago, coração, cabeça. Adversário "Quando estamos no governo, todo adversário que quer se encaixar diz ser técnico". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas) Delfim pergunta Delfim Netto, nosso economista maior, pergunta : "como vamos organizar a sociedade brasileira para propiciar empregos - de boa qualidade e salários adequados - a 150 milhões de pessoas que constituirão a população em idade ativa em 2030 ?". Delfim responde "Se quisermos ter em 2030 algo parecido com o nível de renda per capita em paridade de poder de compra de Portugal de hoje, temos de crescer em torno de 5% ao ano (mais ou menos 4% do PIB per capita), em média, nos próximos 18 anos. Isso exigirá cuidadosa e rigorosa política fiscal, capaz de sustentar a política monetária (que produzirá o equilíbrio interno), e adequada política cambial (que produzirá o equilíbrio externo)". O choque "Há um fato na política que a torna bastante interessante : o choque dos falsos políticos com os políticos falsos". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas) 168 mil temporários Levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário (Asserttem) revela que de janeiro a julho deste ano foram contratados 168 mil temporários para trabalhar em diversos segmentos no comércio, indústria e lazer. Deste total, cerca de 10%, ou seja, 16 mil trabalhadores foram efetivados na vaga. Os números consideram somente as contratações feitas nos períodos de aumento na demanda, como as férias de verão, Páscoa, Dia das Mães e férias de julho. De acordo com as pesquisas, encomendadas pela entidade ao Instituto Ipema, a data que mais gerou vagas temporárias foi a Páscoa, com 70,8 mil contratos, sendo 7 mil efetivações. As greves A presidente Dilma deve se esforçar para o Congresso aprovar a lei que regulamenta as greves no setor público. Vai enfrentar muitas resistências, a partir das Centrais Sindicais. Mas a opinião pública não concorda com o grevismo desenfreado que paralisa setores da vida nacional. A questão é : qual a causa das greves de servidores, se estes ganham salários que, na média, chegam a ultrapassar os de categorias assemelhadas na iniciativa privada ? Resposta : o engessamento da legislação trabalhista e os escudos que o governo construiu, ao longo dos últimos anos, para abrigar o sindicalismo. Como se sabe, as frentes do trabalho foram entregues ao sindicalismo, a começar pelo Ministério do Trabalho. O mundo gira na roda do trabalho. Que, no Brasil, está travada. A livre negociação foi para o brejo. O que vale, hoje, é a rígida obrigação imposta por um acervo legislativo herdado do passado. À Propósito Os servidores Federais de 18 categorias aceitaram proposta de reajuste salarial de 15,8% oferecida pelo governo. São servidores dos ministérios da Saúde, Previdência, Trabalho, Cultura, Fazenda, Agricultura, Planejamento, Transportes, além de Arquivo Nacional, Imprensa Nacional, Museu do Índio, Embratur, entre outros. As relações de Guimarães Rosa Guimarães Rosa, o grande escritor mineiro, prezava o que chamava de 'Relações Exteriores', ou seja, suas relações pessoais com terceiros. O velho Rosa alinhava as normas de sua 'mineirice', dentre as quais Zé Abelha nos brinda com essas : "Combater a expansividade, em todas as suas formas. De uma maneira geral, é preciso guardar silêncio". "Dominar todos os impulsos. Não comunicar notícias, não transmitir novidades". "Never explain, never complain". (Nunca explicar, nunca queixar-se!) "Não ser afirmativo (dogmático) nem demonstrativo (explicativo)". "Não expressar nunca as nossas impressões, especialmente as que resultam das conversações que ouvimos". "Cada exclamação, cada palavra, cada gesto - conservador - aumentam nossas reservas". "Moderar todos os movimentos expressivos e dar apenas mui ligeiras mostras de emoção, surpresa, alegria, descontentamento". Conselho aos partidos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos. Hoje, sua atenção se volta aos partidos : 1. As primeiras escaramuças de campanha mostram que a negatividade abre campo nos espaços da mídia eleitoral. Não deixem seus candidatos e assessores trilhar as vias tortuosas dos ataques a adversários e xingamentos. 2. Procurem compor programas eleitorais com exposições objetivas e propostas viáveis, demonstrando quanto custarão e de onde virão os recursos. 3. A procura de diferenciais para arrumar os perfis dos candidatos é uma meta desejável e todo esforço de marketing deve ser empreendido para consegui-la. É legítima a comparação de perfis quando dois ou mais contendores debatam suas diferenças no plano das ideias, não na esfera de vida pessoal. ____________
quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Porandubas nº 329

O besourão Abro a coluna com uma historinha que me foi contada pelo ex-senador Ramez Tebet, saudoso amigo. Por ocasião da criação do Estado do MS, em 1979, a população de Campo Grande ficava assombrada com a caravana dos 17 grandes carrões pretos dos deputados estaduais que paravam diante da Assembleia Legislativa. Os carros ganharam logo o nome de "besourão" e, ao passarem pelas ruas, as pessoas logo faziam o sinal da cruz, na tentativa de afastar o medo daqueles carros que mais pareciam transporte de defunto. Ninguém se atrevia a andar num carro daqueles. Até que um dia, ao comparecer ao velório de um correligionário, numa cidade do interior, dirigindo um desses carros, o então deputado Ramez Tebet teve que atender ao pedido da família do defunto. Queriam por que queriam que o defunto fosse levado naquele carro. Nessa hora, não dá para negar. E lá se vai o deputado carregando o caixão de defunto em seu "besourão". A história se espalhou por todo o Estado. Assim a fama negativa do carrão preto foi dissipada. O "besourão" passou a ser visto com outros olhos. A boa fama só veio, por incrível que pareça, depois de ter conduzido um defunto. Lógica do marketing político Nas últimas semanas, tenho enfrentado uma bateria de perguntas sobre possibilidades de candidatos. A pergunta-chave começa com o pleito de SP. Vou tentar usar a bolinha de cristal, não antes de checar os instrumentais e as técnicas de comunicação. Vamos começar pela última pesquisa Datafolha, que dá a Russomanno 31% dos votos e a Serra, 27%. O candidato do PRB aguentará o rojão eleitoral, ou melhor dizendo, uma bateria pesada de comunicação dos candidatos tucano e petista, cada qual com 7 minutos 39 segundos, e ele, com um pouco mais de 2 minutos ? Pela lógica, não. Pois a massificação dos perfis, ao longo de 45 dias de campanha, tende a gerar canibalização. Expliquemos. Canibalização Entende-se por canibalização o esmaecimento de um perfil de baixa visibilidade perante outros, de alta visibilidade. Canibalizar - comer, devorar, superpor, ultrapassar, esmaecer. Ou seja, Russomanno, com pequena exposição, tende a ser superposto por Serra e Haddad. Esse é um princípio consagrado da comunicação. O mais forte massacra o menor. O sistema cognitivo do povão acaba substituindo nomes e perfis visíveis por nomes e perfis muito visíveis. O que não impede a pergunta : mas Russomanno não poderia consolidar sua posição com uma exposição de dois minutos ? Pode, sim. Principalmente se fizer um bom programa de TV e rádio. Campanha política, porém, abriga outros componentes : estruturas administrativas, peso das máquinas municipal, estadual e Federal. Essas estruturas comportam milhares de funcionários, muitos ligados aos partidos e políticos. Daí a inferência : Serra contará com as máquinas da prefeitura e do Estado. Haddad, com a máquina Federal. Russomanno não terá esse apoio. Cenários Russomanno teria condições de enfrentar essas frentes poderosas ? Difícil. Mas ele conta com o apoio de uma banda evangélica, representada pela Igreja Universal, cujo dirigente maior é dono da TV Record. Ou seja, conta com um eixo comunicativo forte, apesar do controle rígido que a Justiça Eleitoral impõe às redes. Pelos vetores acima delineados, é possível apontar este cenário : Serra, mantendo cerca de 30% : Haddad subindo para alcançar 25%. Os dois se posicionariam para o segundo turno. Mas, como em política, não existem regras, tudo é possível. Russomanno, nesse caso, teria condições de fixar seu perfil como o anti-Serra; e disputar com ele o segundo turno, deixando Fernando Haddad para trás. E Lula ? E o PT ? Essa é outra grande dúvida. Lula, com todo seu carisma, não puxará Haddad ? Em SP, Lula não tem tido tanto sucesso. É o que diz a história. Os paulistanos sabem dar a cada um o seu peso. E decidem conforme suas conveniências. Vejo certa autonomia na decisão do voto paulistano. A micropolítica - as demandas das regiões e dos bairros - é mais importante que a força dos líderes e a imagem dos partidos. Acrescente-se que as siglas estão combalidas, desgastadas. Lula também não poderá fazer a campanha dos seus sonhos. Por mais recuperado que esteja, precisa ter muitos cuidados. O PT tem históricos 30% em SP. Será, porém, que o eleitorado não está saturado da polarização entre tucanos e petistas ? Essa polarização também pega o Serra, que sofre da doença - desgaste de material. Serra é cara de ontem. E os paulistanos gostam de testar novas experiências, novos atores. Foi assim com Pitta. Foi assim com Marta. Foi assim com Kassab. E os outros ? Quem também tem condições de um bom avanço é Gabriel Chalita. Que disporá de um programa de mais de quatro minutos, ou seja, uma grande exposição. É fluente, simpático, conta com grande apoio dos católicos e poderá sair-se muito bem dos debates. Soninha e Paulinho da Força deverão oscilar em torno dos 5%. Defesa e ataque "A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é abundante". (Sun Tzu) Mensalão A essa altura, o mensalão fixou moradia no sistema cognitivo da população. Nas margens, associa-se à corrupção, roubalheira. Nos espaços centrais, já se faz ligação com partidos e seus esquemas. Quanto a influenciar o voto, é pouco provável que isso vá ocorrer. Eleitores distinguem as situações. Militantes de partidos apenas reforçam suas posições : petistas fazendo a defesa do partido, oposicionistas procurando marcar a sigla com o carimbo de corrupção. Com sobras para mensalão do PSDB e do DEM. Inserções publicitárias As inserções publicitárias de 30 segundos ao longo do dia terão mais influência no eleitorado que os programas eleitorais. Aparecem sem avisar, pegam o eleitor desprevenido, martelam rapidamente a cognição e, mais adiante, reaparecem. Serra e Haddad serão os mais beneficiados. Dentro de duas semanas, deverão alterar posições dos candidatos. Vejam a campanha : Serra (Avança São Paulo) - 689 inserções Haddad (Para mudar e renovar SP) - 689 inserções Chalita (São Paulo em 1º Lugar) - 394 inserções Russomano (Por uma nova São Paulo) - 197 inserções Soninha (Um sinal verde para São Paulo) - 106 inserções Paulinho (PDT) - 155 inserções Carlos Gianazzi (PSOL) - Frente de Esquerda - 85 inserções Levy Fidelix (PRTB) - 82 inserções Ana Luiza Figueiredo (PSTU) - 75 inserções Eymael (PSDC) - 75 inserções Miguel Manso (PPL) - 75 inserções Anai Caproni (PCO) - 75 inserções Tempos de mídia eleitoral Vejam, aqui, os tempos de cada candidato : Fernando Haddad (PT) : 7min39s José Serra (PSDB) : 7min39s Gabriel Chalita (PMDB): 4min23s Celso Russomanno (PRB): 2min12s Paulinho da Força (PDT): 1min44s Soninha Francine (PPS): 1min11s Carlos Gianazzi (PSOL): 0min57s Levy Fidelix (PRTB): 0min54s Ana Luiza Figueiredo (PSTU): 0min50s Anai Caproni (PCO): 0min50s Eymael (PSDC): 0min50s Miguel Manso (PPL): 0min50s Campanhas de vereadores Os programas eleitorais de vereadores cairão no vazio. O desfile de nomes, bocas e caras vai servir para animar papos, abrir risadas, gerar pequenos comentários. Um ou outro nome mais esdrúxulo chamará a atenção. Os sinais estéticos - maneira de expressão oral, gestualidade, vestimenta - deverão chamar mais a atenção. Mas até os "Tiriricas" estão saindo da paisagem. Footing e trottoir Cuidado, candidatos a prefeito de todo o Brasil, não confundam alhos com bugalhos. Lembre-se da historinha do Pedro Ivo. Padre Pedro acabava de chegar a Vassouras/RJ. Houve reunião na paróquia. Reclamou : rapazes e moças estavam fazendo o footing em frente à igreja, perturbando os oficiais religiosos. O vereador Pedro Ivo, candidato a prefeito, pediu a palavra : - É lamentável que em nossa terra não exista um local adequado para as famílias vassourenses fazerem o trottoir diário. Perdeu a eleição. (Da verve de Sebastião Nery) A arena é o bairro A campanha mais efetiva do vereador é nas regiões, nos bairros. A proximidade entre o candidato e o eleitorado é determinante do voto. Quanto mais identificado com as comunidades locais, mais bem sucedido será o candidato, principalmente aqueles que têm serviços a mostrar. Os candidatos de primeira viagem investirão muito mais que os perfis já conhecidos. O discurso político Costumo bater nesta tecla. Muita gente se engana com a eficácia do discurso político. Pois bem, o discurso político é uma composição entre a semântica e a estética. O que muitos não sabem é que a eficácia do discurso depende 7% do conteúdo da expressão e 93% da comunicação não verbal. Esse é o resultado de pesquisas que se fazem sobre o tema desde 1960. E vejam só : das comunicações não verbais, 55% provêm de expressões faciais e 38% derivam de elementos paralinguísticos - voz, entonação, gestos, postura, etc. Ou seja, do que se diz, apenas pequena parcela é levada em consideração. O que não se diz, mas se vê tem muito maior importância. Portanto, senhoras e senhores que encenam peças no programa eleitoral, anotem esta informação. Dilma, mais integrada A presidente Dilma não está apenas consolidando sua imagem de gestora eficiente, mas de locomotiva de grandes projetos nas frentes de concessão/privatização. Nesse sentido, integra-se com mais firmeza nos escopos da competitividade, livre iniciativa e eficácia produtiva. Bem mais que Lula. Censura no Maranhão ? O candidato do PT no Maranhão, Washington Oliveira, vice-governador da Roseana Sarney que está concorrendo à prefeitura, teria censurado blogs da capital, tentando cercear a liberdade de expressão de seus opositores. A ordem é censurar quem falar mal de Washington Oliveira. Vamos ver até onde eles vão com isso tudo. A coluna recebe e registra a informação. Lula versus Edu Luiz Inácio era grande amigo de Eduardo Campos. Estão atritados. Lula não gostou da atitude de Edu ao abandonar o candidato do PT em Recife, senador Humberto Costa, para lançar Geraldo Julio, do PSB. A política é mesmo mutante. Aula de política Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault : Colbert : Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, senhor superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço. Mazarino : Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado é diferente ! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se. Todos os Estados o fazem ! Colbert : Ah, sim ? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis ? Mazarino : Criando outros. Colbert : Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Mazarino : Sim, é impossível. Colbert : E sobre os ricos ? Mazarino : Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres. Colbert : Então como faremos ? Mazarino : Colbert ! Tu pensas como um queijo, um penico de doente ! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres : as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos. Cada vez mais, sempre mais ! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média ! Senhoras e senhores candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos líderes sindicais. Hoje, sua atenção se volta aos candidatos : 1. Procurem defender propostas concretas, factíveis, críveis, demonstrando como realizar sua implementação. 2. Escolham eixos centrais para firmar sua identidade e criar seu diferencial. 3. Cuidem de todas as áreas do marketing político, a saber : pesquisa, discurso, comunicação, articulação e mobilização. ____________
quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Porandubas nº 328

Abro a coluna com uma historinha envolvendo o grande Franco Montoro e uma personagem do meu querido Estado RN. Urbano que virou agrário Franco Montoro ficou famoso pela troca de nomes que fazia. Há muitas histórias envolvendo essa modalidade de dislexia ou dislogia. Uma delas ocorreu comigo, no restaurante dos professores no campus da USP. Montoro havia sido convidado por um grupo de professores para fazer uma palestra sobre o Brasil e a América Latina, dentro do fórum de debates que desenvolvia na Fundação que criou e dirigiu. Certo momento, ao falar do RN, ele passou a se referir a nomes de amigos comuns e conhecidos. Foi quando, de repente, depois de vários acertos, ele me pega de surpresa com a indagação : "e o Agrário, como vai o Agrário" ? Respondi : "Agrário, governador, acho que não sei quem é...". Mas aí lembrei-me de um nome na esquina do contraponto : Urbano. E repus a pergunta : "por acaso, governador, não é Urbano, Francisco Urbano" ? Era. Na época, Urbano dirigia a Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. Daí a confusão. Em respeito ao grande homem, contive a risada ! Chutou o pau da barraca O advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, chutou o pau da barraca. Disse que Lula não apenas sabia como ordenou o mensalão. E arrematou com a inferência de que, ali no STF, onde escancarou sua locução, haveria "um festival de absolvições". Acusou de frente o procurador-geral, Roberto Gurgel, por ter deixado Lula fora do processo. Nunca se viu um destempero tão contundente na presença dos mais altos quadros da Justiça brasileira. A tática do advogado foi a de defender atacando. Tirou o sono dos ministros. Chamou a atenção. Vai dar certo ? Criou animosidades ? Despertou indignação ? Usou linguagem rasteira ao perguntar se Lula era pateta ? O "omisso" Gurgel ouviu tudo em silêncio. E Jefferson, o que disse ? "Jogaria Lula no chão" Roberto Jefferson assistiu atentamente a peroração do seu advogado. Disse que se soubesse da ligação entre o ex-presidente e o BMG, "jogaria Lula no chão". Mas acabou elogiando o desempenho de Luiz Francisco. Que tem "o mesmo quilate" do cliente. Perillo-Cachoeira O STJ determinou a abertura de inquérito para investigar relações entre o governador Marconi Perillo e Carlos Cachoeira, em GO. Essas águas ainda vão rolar por muito tempo. Mais mensalão A impressão é a de que o país respirará os ares do mensalão ainda por muito tempo. Mensalão do DEM, no DF. Mensalão dos tucanos, em MG. Quem espera ares puros pode ir treinando as narinas para tempos mal-cheirosos. Datapovo O Instituto Datapovo, que pode ser auscultado a qualquer hora do dia, em casa, no escritório ou na rua, é o melhor termômetro para se medir a temperatura ambiental. Façam a pergunta : "Maria, Joaquina, Neusa, Deise, Joana, Pedro, Mané, Zé, Joaquim, você sabe o que é mensalão" ? Ouvirão algo parecido com a indagação : "não é aquela roubalheira dos políticos" ? Continuem a perguntar : "você sabe qual foi o partido que está metido com isso" ? Nem todas as respostas apontam para o mesmo partido. Muitos têm dúvidas. Mas a maior parte das respostas aponta para o PT. Lula em São Paulo As dúvidas crescem. Lula conseguirá puxar seu candidato Fernando Haddad ? Este consultor já foi mais incisivo na indicação do "sim". O PT tem históricos 25% a 30% em SP. Mas, os tempos mudam. Cada campanha tem seu clima, seu repertório, suas circunstâncias. Celso Russomanno, por exemplo, pela leitura das campanhas passadas, já teria caído. Continua firme com 25%. A primeira pesquisa após o início da propaganda eleitoral, em 22 de agosto, apontará as tendências. Sangue, trabalho, suor e lágrimas "Espero que meus amigos e colegas, ou colegas de outrora, que tenham sido afetados pela reconstrução política, sejam tolerantes e me desculpem por qualquer falta de cerimônia na maneira por que fui compelido a agir. Eu diria a esta Casa, como disse àqueles que passaram a formar este governo : - Eu nada mais tenho a oferecer senão sangue, trabalho, suor e lágrimas". (Winston Churchill) Serra declina ? As conversas sobre a campanha paulistana já foram mais favoráveis ao tucano José Serra. Que, em todos os cenários feitos há um mês, era o favorito do segundo turno. Hoje, começa-se a propagar a ideia de que ele estaria ameaçado de não entrar na reta final. Ou seja, perde a condição de favorito e, mais, de não entrar no segundo turno. O problema de Serra é a rejeição. Consolidada com a impressão de que teria passado sua vez. Difícil aceitar a hipótese, porque o tucano conta com duas mega estruturas de apoio : máquinas governamentais do Estado e da Capital. Paulinho queimado Comenta-se que Paulinho da Força passou a frequentar o dicionário de rejeição da presidente Dilma. Que prezaria os candidatos Chalita e Russomanno, que integram partidos da base governista. O PDT de Paulinho também faz parte. Mas o próprio, por conta da linguagem e das ações destemperadas, teria entrado no limbo em que o Palácio do Planalto coloca alguns perfis indesejados. Pacote da privatização O anunciado pacote das concessões em diversas frentes da infraestrutura não recebe loas de todas as áreas do empresariado nacional. Grandes questões envolvem os programas e metas estabelecidas para as ferrovias, trem-bala, rodovias, portos, aeroportos, energia, etc. Algumas questões afloram nos ambientes produtivos : como fazer concessões em áreas já concessionadas, como as das ferrovias, por exemplo ? O governo vai prorrogar os contratos ? Foram feitos estudos de viabilidade dos megaprojetos ou se trata de mais um pacotão recheado de números ? Não seria mais uma avenida paralela aos programas existentes, plasmados para uma travessia gloriosa na passarela eleitoral ? 90 mil demissões A lenta capacidade da indústria de transformação paulista para retomar a trajetória de crescimento deve levar o setor a fechar o ano com saldo de 80 mil a 90 mil demissões. Isso representa uma queda no nível de emprego de 3%, de acordo com o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da FIESP. Viés político Há quem veja no mega programa de concessões em eixos infraestruturais um forte viés político. Escudo contra efeitos danosos do julgamento do mensalão nas avenidas do PT com sequelas sobre as imagens de Lula e do próprio governo. Porém... Mas as pesquisas começam a mostrar que o mensalão não afeta a imagem do governo Dilma. Os dois pontinhos oscilando para baixo na pesquisa desta semana - comparativamente com a anterior - mostram que a administração continua muito bem avaliada. Técnica faz faxina ética A imagem que a presidente Dilma está consolidando é a de uma governante técnica que pegou a vassoura para limpar os espaços do governo de impurezas políticas. A faxina ética já colou. Mensalão pode, até, prejudicar o PT. Mas não queimará o estoque de prestígio do governo. Confiança de Campos Eduardo Campos quer eleger seu candidato no Recife, Geraldo Julio, logo no primeiro turno. Confiança em excesso ? Lula, seu amigo do peito, promete ir a Recife fazer campanha para o candidato do PT, o senador Humberto Costa. A conferir. Bolso vazio, sim Quem pode corroer os traços da imagem positiva é o bolso do eleitor. Ou seja, a perda da capacidade de adquirir bens de consumo - a partir de alimentos - constitui o calcanhar de Aquiles do governo Dilma. A economia, esta sim, poderá ser o ponto do desequilíbrio. Este analista pinça, mais uma vez, sua geografia eleitoral : bolso, estômago, coração, cabeça. Bolso cheio significa geladeira locupletada; estômagos saciados; que, satisfeitos, tocam de perto o coração; coração comovido sinaliza a cabeça. Que acabará enviando sinais de agradecimento aos patrocinadores do bolso cheio. Sinais ? Em forma de votos. 100 milhões, duas medalhas R$ 100 milhões a mais que o investimento feito para a Olimpíada de 2008. Foi esta a quantia que o Brasil "gastou" para disputar em Londres. Qual o resultado ? Uma medalha de prata e uma de bronze, duas medalhas a mais que em Pequim. Muita grana, muita dispersão, politicagem, desvios, ilícitos, displicência, desleixo, incúria. Este é o Brasil do eterno retorno. A volta olímpica A volta dos brasileiros da Olimpíada foi uma festa. Desfiles em carros de bombeiro, bandeiras tremulando ao vento. Parecia que o Brasil ganhara o primeiro lugar. E o prefeito Eduardo Paes, como papagaio de pirata, parecia ser o maior dos nossos campeões olímpicos. Liderança do PMDB Com o acordo fechado para Henrique Alves ser o candidato do PMDB à presidência da Câmara, já começa a se adensar a lista de candidatos à sua sucessão na liderança do PMDB : Eduardo Cunha/RJ, Sandro Mabel/GO, Rose de Freitas/ES, Danilo Forte/CE, Manoel Junior/PB e Marcelo Castro/PI. O mais ativo é Mabel. E um dos mais fiéis aliados de Henrique é Cunha. Vitória "Perguntais qual o nosso objetivo ? Posso responder com uma palavra : Vitória - vitória a todo custo, vitória apesar do terror, vitória por mais duro e longo que seja o caminho a percorrer, pois sem a vitória, não haverá sobrevivência". (Winston Churchill) Neymar e companhia O que fez Neymar em campo ? Não deu o esperado show. Chegou com a fama de atleta de triatlo : corre, pedala e .. nada. O problema é que o endeusamento dos atletas brasileiros maltrata sua identidade. Achando-se deuses do Olimpo, os nossos famosos deixam de pisar no chão duro. Vivem da fama. Habitam os espaços midiáticos. Ganham milhões. Sob a corrosão de suas performances esportivas. Razões para votar O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Ali, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele : "três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral : um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea". Um burrinho baixinho José Fernandes de Melo, médico, ex-deputado estadual por diversas legislaturas no RN, ex-prefeito de Pau dos Ferros, principal cidade do extremo oeste, fazia suas campanhas à base de receitas médicas e muita verve. Por onde passava, costumava fazer uma brincadeira com os eleitores. Por ocasião de sua última eleição para prefeito, nos meados da década de 80, comemorando a vitória numa festa no meio do povo, foi insistentemente abordado por uma eleitora, que lhe pedia um burrinho para ajudá-la nas tarefas da roça. O prefeito não perdeu a chance de fazer mais uma de suas brincadeiras. "Que tipo de burrinho a senhora quer ? Pode ser um burrinho baixinho, meio gordo, um pouco velho" ? A mulher respondeu : "pode ser, sim, doutor José". E ele : "pode ser um burrinho que dá muito coice quando chegam perto dele" ? Resposta : pode, sim. O médico, ligeiro, dobrou-se, mãos e joelhos no chão, e arrematou : "pois está aqui ele, dona Maria, pode montar". A mulher, encabulada, sob as gargalhadas do povo, saiu de fininho. (Zé Fernandes, casado com minha irmã, Lindalva Torquato Fernandes - já falecidos-, que foi deputada estadual, prefeita de Pau dos Ferros e ministra do Tribunal de Contas do Estado) Conselho aos líderes sindicais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos advogados que trabalham na Ação Penal 470. Hoje, sua atenção se volta aos líderes sindicais : 1. O momento que o país atravessa não permite atitudes irresponsáveis, gestos tresloucados, mobilizações oportunistas. O Brasil não é uma ilha de segurança em um oceano tempestuoso. 2. Ante a moldura da crise internacional e os possíveis efeitos que certamente chegarão até nós, é preciso agir com responsabilidade e evitar que as paralisações em curso contribuam para acirrar os ânimos e expandir a insegurança social. 3. É bastante compreensível o acervo reivindicatório das 30 categorias de servidores Federais em greve. Mas todo esforço deve ser empreendido para se chegar a um termo de ajuste, que possa por fim ao movimento paredista. Estamos às vésperas de um pleito eleitoral. Que precisa ocorrer em um clima de harmonia e segurança social. ____________
quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Porandubas nº 327

Em 5 anos, tudo pode ocorrer Um poderoso sultão, sábio entre os sábios, possuía um camelo muito inteligente. Obedecia a todas as ordens que nem precisavam ser emitidas de viva voz. Faltava-lhe apenas o dom da palavra. Esse detalhe entristecia sobremaneira o sultão. Um dia, decidiu convocar o Grande Conselho e chamou o grão-vizir. - Quero que ensine meu camelo a falar ! - Mas isso é impossível. - Cortem-lhe a cabeça ! Tragam-me o adjunto ! Mesma afirmação de desejo sultanesco, mesma resposta, mesma sentença. A cena repetiu-se diversas vezes e cabeças rolaram. Exasperado o sultão declarou. - Aquele que ensinar meu camelo a falar será meu grão-vizir. Silêncio ! O sultão repetiu a exortação. Eis que surgiu um humilde ajudante de cozinheiro. Disse : -Dá-me, ó incomparável senhor, um prazo de 5 anos, e farei falar teu camelo. Estupefação geral. Seguida do cumprimento da promessa. -Doravante, és meu grão-vizir ! Mas se falhares, sabes o que te espera ! - Bem sei ! Encantado, o jovem fez profunda reverência e saiu correndo para dar a boa notícia à esposa. - Infeliz, acabas de assinar tua condenação. - Não é bem assim, meu bem. Pedi 5 anos. Você sabe que muitas coisas poderão acontecer em 5 anos : morre o camelo, morre o sultão... (Fábula enviada pelo atento Alexandru Solomon, que arremata : "nada a ver com o PAC, a Ação Penal 470 e outras coisitas...") A animação dos advogados Os advogados dos réus da Ação Penal 470 estão animados. Acreditam que derrubarão tese de existência do mensalão. Combinaram o discurso : se houve ilícito, ocorreu no departamento do caixa 2. Delúbio Soares assume esse crime. José Dirceu argumenta : não mandava no PT. José Genoino levanta a ideia : não cuidava do dinheiro do partido que presidia. Marcos Valério alega : fez empréstimos legais. Pergunta que não quer calar : se tudo era legal, porque isso veio à tona desde cedo ? A confusão vai ganhando densidade na esteira de falas de ministros, como a de Marco Aurélio Melo. Que reconhece a ausência de provas documentais e a abundância de provas testemunhais. O cavalo "Em serviço o que se quer não é o cavalo que corra mais, é o cavalo que aguente mais". (Eça de Queirós) O pensamento do ministro Alguns advogados valem-se do argumento do ministro Marco Aurélio para arrematar : como ele mesmo reconheceu, não há provas. Só que esquecem a outra parte do argumento do ministro : e querem o quê ? Uma carta de confissão do mensalão. Escravos "Todos somos mais ou menos escravos, da lei, da opinião, das conveniências, dos prejuízos; uns de sua pobreza, e outros de sua riqueza". (José de Alencar) Frase lapidar Outra declaração de Marco Aurélio : "O Brasil se tornou um país do faz de conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados não sabiam". Ou seja, por essa frase, os advogados dos acusados deveriam inferir que o voto do ministro será pela condenação, eis que reconhece a existência do "maior dos escândalos". Como se pode aduzir, na Ação Penal 470 cada qual busca interpretar à sua maneira o pensamento dos magistrados. Capital e trabalho "Quando o capital se acovarda, o trabalho morre". (Olavo Bilac) Janice ensina Janice Ascari, procuradora regional da República em São Paulo, ensina : não há hierarquia entre prova testemunhal, pericial e documental. Então, por que os advogados tentam desqualificar as provas testemunhais ? A pena do jornalista "Nos países onde o parlamento representa mal a Nação, a pena do jornalista vale mais que a eloquência do orador". (Rui Barbosa) Dilma na campanha A presidente Dilma não pretende entrar no embate eleitoral. Teme que seu apoio a alguns candidatos possa criar contrariedade no seio de partidos da base governista. Em SP, o candidato Fernando Haddad usa as imagens da presidente e de Lula em seus materiais. Lula vai entrar de sola na campanha. Espera alavancar seu candidato. Dilma percebeu que, em alguns Estados, a atitude de alheamento será mais conveniente. O homem "O homem não é sempre o mesmo em todos os instantes". (Machado de Assis) Lula na campanha Há uma fila de centenas de candidatos petistas esperando uma foto com Lula. O ex-presidente já fez uma foto coletiva, junto com muitos candidatos do PT. Com a liberação médica, Lula vai se dedicar à campanha de Haddad, fazendo companhia ao candidato, mas preservando-se de situações que possam abalar a saúde : jornadas noturnas, movimentações no meio da massa, etc. Este consultor acredita que a presença de Lula será fundamental para expandir a intenção de voto em Haddad. Em meados de setembro, a intenção de voto no candidato petista pode chegar aos 20%. A conferir. Nosso povo "Somos, ainda, sobre todos os outros, o povo das esplêndidas frases golpeantes, das imagens e dos símbolos". (Euclides da Cunha) Russomanno consolidará ? Esta é a pergunta que muitos fazem : Celso Russomanno conseguirá consolidar seu índice de intenção de voto, hoje em torno de 25%. Este consultor não consegue desenhar cenários. Esta campanha exibe mais pontos de interrogação que a de 2008. E Serra, hein ? Há quem aposte que José Serra não entrará no segundo turno. Em vez de subir, desce. E sua taxa de rejeição é altíssima, em torno de 30%. A leitura "Como as pessoas leem sempre, em vez dos melhores de todos os tempos, apenas a última novidade, os escritores permanecem no círculo estreito das ideias que circulam, e a época afunda cada vez mais em sua própria lama". (Schopenhauer) Chalita O candidato Gabriel Chalita conseguiu apoio de importantes núcleos evangélicos. O candidato do PMDB tende a crescer com a boa visibilidade na mídia eleitoral. A conferir. Ministros na campanha Os ministros do governo Dilma começam, também, a fazer os primeiros movimentos eleitorais. Alguns estão dispostos, até, a correr o país. Outros dispõem-se apenas a aparecer nas fotos dos candidatos. Crimes maiores "Todos os crimes, geralmente, se tornam maiores quando provocam escândalo, isto é, quando se tornam obstáculo para os fracos, que olham menos para o caminho que estão seguindo do que para a luz que outros homens levam à sua frente". (Thomas Hobbes) Ciclo da visibilidade A campanha entrou, nessa semana, no ciclo da visibilidade média, com a cobertura das andanças e movimentações de candidatos pelas redes de TV e rádio. O ciclo entrará na fase mais avançada, a partir de 21 de agosto, quando terá início a programação eleitoral. Tempo de TV e rádio A redundância é uma das sagradas e consagradas leis da comunicação. Quanto mais seja exposto um candidato nos espaços midiáticos, mais visibilidade alcançará. Quanto mais tempo tenha para propagar suas ideias, mais conhecidas essas serão e, por conseguinte, maior a probabilidade de serem captadas, entendidas e internalizadas (entrando na cachola dos eleitores). Esse princípio foi muito usado por Hitler para propagar o nazismo : repita uma mentira uma, duas, três vezes. Na terceira vez, será aceita como verdade. Hitler, pelas lições de Goebels, seu ministro da propaganda, usou muito o estribilho, forma repetitiva da propaganda política. Dois juntos "Se dois se põem de acordo e juntam forças, juntos podem mais, e consequentemente têm mais direito sobre a natureza do que cada um deles sozinho; e quantos mais assim estreitarem relações, mais direitos terão todos juntos". (Baruch de Espinosa) Propaganda negativa A revolução francesa de 1789 pode ser considerada o marco da propaganda agressiva nos termos em que hoje se apresenta. Ali, os jacobinos, insuflados por Robespierre, produziram um manual de combate político, recheado de injúrias, calúnias, gracejos e pilhérias que acendiam os instintos mais primitivos das multidões. Na atualidade, é a Nação norte-americana que detém a referência maior da propaganda agressiva, mola da campanha negativa. Este formato, cognominado de mudslinging, apresenta efeitos positivos e negativos. No contexto dos dois grandes partidos que se revezam no poder - democrata e republicano -, diferenças entre perfis e programas são mais nítidas e a polarização sustentada por campanhas combativas ajuda a sociedade a salvaguardar os valores que a guiam, como o amor à verdade, a defesa dos direitos individuais e sociais, a liberdade de expressão, entre outros. Nem sempre a estratégia de bater no adversário gera eficácia. Romney, mais grana Obama, ao que parece, perde o charme. Na campanha de 2008, arrecadou cerca de US$ 600 milhões pelas redes sociais. Hoje, o presidente perde para o candidato republicano, Mitt Romney, em matéria de arrecadação de fundos. O republicano alcançou, em julho, mais de US$ 101,3 milhões, enquanto Obama conseguiu apenas US$ 75 milhões. Mas a arrecadação total - somando todos os meses - é dos democratas : US$ 627 milhões contra US$ 495 milhões dos republicanos. Ohio, vital Para ganhar a eleição norte-americana, o Estado de Ohio é considerado o mais simbólico e decisivo. Quem é vitorioso nesse Estado, leva a melhor. O único democrata a vencer sem o apoio de Ohio foi Kennedy. ACM aguentará o tranco ? ACM Neto, candidato do DEM, tem 40% das intenções de voto em Salvador. Pois bem, seu opositor, o petista Nelson Pelegrino, tem 10%. Mas terá uma base de apoio, formada por 15 partidos, o que dará um tempo de TV três vezes maior que o do DEM. Donde emerge a pergunta : ACM Neto sustentará a posição ? Este consultor não arrisca um prognóstico. Milagre ajudando Obama ? Cientistas da Nasa qualificaram de "milagre de engenharia" o pouso em Marte da sonda Curiosity, que já começou a enviar imagens de uma antiga cratera. Ela vai detectar a existência de vida em Marte. O jipe-robô, com 6 rodas, pesa uma tonelada, e realizou complexa e arriscada operação para entrar na atmosfera marciana e pousar no local escolhido. Essa é a primeira missão de astrobiologia da Nasa desde o envio da sonda Viking, na década de 1970, e é também o primeiro laboratório analítico completo a operar em outro mundo. Barack Obama festeja o acontecimento. Na crença de que Marte lhe fará uns bons votinhos. Noções de gestão pública "Como aprender nunca é demais, principalmente, nesta era do conhecimento, os candidatos que vierem a ser eleitos poderiam dedicar algum tempo antes da posse para adquirir ou reciclar as noções modernas de gestão pública e as informações sobre a real situação dos municípios que terão a responsabilidade de administrar nos próximos quatro anos". (Ruy Martins Altenfelder Silva e Alexandre Artacho Altenfelder Silva - Diálogo Nacional : Repensando o Brasil) Conselho aos senhores advogados Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos ministros do STF. Hoje, sua atenção se volta aos advogados que trabalham na Ação Penal 470 : 1. Acautelem-se. Evitem declarações à imprensa que possam gerar polêmica ou ferir a imagem de magistrados. 2. Compreende-se o esforço de cada profissional do Direito para fazer a melhor defesa dos réus na Ação Penal 470. Urge, porém, não ferir suscetibilidades com alguma abordagem expressiva que possa provocar mal estar em algum magistrado. 3. Os juízes também deveriam se esforçar para, com suas declarações públicas, fazer prejulgamentos. Mesmo que isso ocorra - e tem ocorrido - todo cuidado deve ser tomado para evitar respostas públicas que possam gerar animosidade entre os operadores do Direito. ____________
quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Porandubas nº 326

Promessas de campanha A historinha foi enviada por um leitor do Paraná. Candidatos de duas famílias disputavam a prefeitura de uma pequena cidade. Final de campanha. A combinação era de que os dois candidatos e seus familiares teriam de usar o mesmo palanque. Discursou, primeiro, o candidato que tinha 70% de preferência dos votos : - Povo da minha amada terra, povo ordeiro, trabalhador, religioso e cumpridor de suas obrigações. Se eleito, irei resolver o problema de falta de água e de coleta de esgoto. Farei das nossas escolas as melhores da região, educação em tempo integral. Vou construir uma escola técnica do município... E arrematou : - E tem mais, meus amigos, ordeiros, religiosos e cumpridores de seus deveres morais, vocês não devem votar no meu adversário. Ele não respeita nossa gente, nossas famílias, nossos costumes ! Ele desrespeita nossa igreja. Ele nem se dá ao respeito. Vocês não devem votar nele. Porque ele tem duas mulheres. O adversário, com 20% de intenção de voto, quase enfartou quando viu a mulher, ao seu lado, cair no palanque. Ela não aguentara ouvir a denúncia do adversário de que o marido tinha uma amante. A desordem ganhou o palanque. A multidão aplaudia o candidato favorito e vaiava o adversário. Cabos eleitorais começaram a se engalfinhar. Passado o susto, com muita dificuldade, o estonteado candidato acusado de ter duas mulheres começa seu discurso, depois de constatar que a esposa estava melhor : - Meu amado povo, de bons costumes e moral ilibada, religioso e cumpridor de seus deveres morais, éticos e religiosos. Quero dizer aos senhores e senhoras aqui presentes, que, se agraciado com seus votos me tornar o prefeito desta cidade, farei uma mudança de verdade. Não só resolverei o problema da falta de água, como farei também o tratamento de todo o esgoto do município, construirei uma escola técnica e um novo hospital ! A massa caçoava do coitado e de sua mulher. Foi em frente : - Vou melhorar o salário dos professores, a merenda das crianças e ainda vou instituir o Bolsa Cidadão ! Agora, prestem bem atenção. Se os amigos acharem que não podem votar em mim porque tenho duas mulheres, votem no meu adversário ! Mas saibam que a mulher dele tem dois maridos. A galera veio abaixo. O pau comeu. Brigalhada geral. Urnas abertas. O candidato corno perdeu : 76% para o adúltero. Mensalão chegará às ruas ? A pergunta é a que mais instiga os atores políticos. Porque traduz o jogo das forças em contrário, de um lado, o PT, com que lidera ampla base aliada, de outro, as oposições, comandadas pelos tucanos do PSDB. Pois bem, o Mensalão é seguramente o maior contencioso que chega ao STF : 50 mil páginas, 38 réus, 600 testemunhas, 500 jornalistas inscritos para cobrir o evento, intensa polêmica no meio da sociedade. Mas não será um fenômeno capaz de alterar a composição do voto no país. Pode chegar às ruas das metrópoles, principalmente as habitadas por classes médias altas, onde se juntam os aglomerados de formação de opinião. Mas estará fora do grande circuito, ou seja, 95% dos 5.565 municípios brasileiros tendem a ficar à margem do processo. Efeitos do julgamento Alguns atores entrarão no rolo do julgamento, a começar pelos próprios julgadores, os ministros da Suprema Corte. A absolvição ou condenação dos réus provocará manifestações de repúdio, aprovação/desaprovação, indignação por parte de setores e grupamentos organizados. Mais uma vez, as massas amorfas e difusas ficarão à margem. Os grupos organizados tocarão suas trombetas, principalmente os núcleos sob a égide e patrocínio das frentes partidárias. O PT, como se sabe, possui uma base barulhenta que vai às ruas tocar bumbo. Portanto, parcela dos membros do STF atravessará o corredor polonês da sociedade organizada. O PT, seja qual for o resultado do julgamento, será o ente partidário a registrar as maiores perdas. Ou seja, em caso de absolvição, carreará a raiva de eleitores-adversários; em caso de condenação dos réus, também sobre ele desaguarão ondas de indignação. Lula e Dilma Lula entrará também no rolo, apesar de ter um grande escudo contra o mensalão : carisma. Por isso mesmo, os efeitos sobre sua imagem - em caso de condenação dos réus - serão mínimos. Já a presidente Dilma, na esteira de seu perfil técnico, não será atingida por respingos da onda mensaleira. Absolvição ou condenação ? Outra pergunta difícil. Mas há algumas pistas que poderão ser expostas. Primeira : o ministro revisor. Ricardo Lewandowski, teria manifestado o interesse em fazer "um contraponto" ao relatório do ministro relator, Joaquim Barbosa. "Contraponto", termo que aponta para o outro lado. Segunda : o ministro Dias Toffoli, que já foi advogado do PT e cuja namorada teria trabalhado para um dos réus do mensalão, anunciou a intenção de julgar o processo. Ou seja, seu afastamento, defendido por uma corrente de juízes e advogados, não ocorrerá. Terceira : o ministro Cezar Peluso, um dos maiores especialistas em Direito Penal no STF, dará seu voto antes de se afastar, na segunda quinzena de setembro. Quarta : o parecer do procurador geral, apesar de não conter novidades, é duro. O que se pode desenhar como resposta ? Resposta Diante dessa moldura, este analista tende a ler a seguinte resposta : a) absolvição de uma parte dos réus, por falta de provas; b) condenação de outra parte dos réus; c) penas leves para os condenados. Andressa no palco A namorada de Carlos Cachoeira, Andressa, parece ter apreciado desfilar no cenário em que se move o namorado. Bonita, charmosa e amorosa, abriu espaços na imprensa, que viu em sua história nuances de um folhetim capaz de atrair o interesse das multidões. Até ser flagrada por um juiz, que a acusa de fazer chantagem contra ele. A larga exposição pública de Andressa acabou voltando-se contra ela. O amor também exige atitudes recatadas. Discrição. Lula na campanha Lula ainda não está em ponto de bala para atirar na arena das campanhas. Queixa-se de dores. Tem uma bursite. Há uma fileira de candidatos esperando por uma foto com ele. Fernando Haddad, em São Paulo, aguarda com expectativa as caminhadas com seu patrocinador. Haddad espera chegar aos 30% históricos do PT em SP. Jarbas e Campos O primeiro grande efeito da campanha no campo das parcerias se dá em Recife, onde o senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, se une ao governador Eduardo Campos, presidente do PSB, em torno do candidato Geraldo Júlio. Os ex-adversários selam um pacto de paz. Momentâneo ou com vistas para o amanhã ? O xerife Celso Russomanno se apresenta como xerife do povo. Reforça as tintas da imagem de defensor do consumidor, que começou a usar desde a morte da mulher há 20 anos. A questão é : conseguirá manter seu alto índice de intenção de voto ? Há muitas dúvidas. Terá um minuto e meio de mídia eleitoral. Difícil. Carla, a assistente O ministro Joaquim Barbosa dará seu voto em cerca de mil páginas. Trabalhou de maneira exaustiva, sacrificando a saúde, para poder dar conta do recado. Fez um mutirão de juízes recrutados em 47 varas Federais. Mas seu braço direito tem sido a assessora Carla Ramos, ex-aluna de Barbosa que só tirava 10 nas provas. Defensora pública no RJ, foi convidada pelo ministro para ser sua assessora no processo do mensalão. Hoje, é a fiel escudeira. Anvisa sem bússola Em recente decisão, a Anvisa voltou atrás liberando a venda de medicamentos isentos de prescrição nas prateleiras das farmácias do país, alterando a resolução 44/2009. A proibição aconteceu no intuito de reduzir as intoxicações, mas depois de consultas públicas a agência concluiu que a medida não atingiu o objetivo e ainda prejudicou o consumidor. Quem agora está na mira para sair das prateleiras, desta vez dos supermercados, é o álcool líquido. A grande questão divergente seria o aumento dos casos de queimaduras, versão não comprovada nas estatísticas do SUS. A resolução 46/2002, que proíbe a comercialização do álcool acima de 54º GL, não deverá agradar ao consumidor. Isso porque, para fazer a limpeza de casa e conseguir o mesmo resultado, será preciso gastar muito mais. Ao que tudo indica, será mais uma resolução fadada ao fracasso. 8 milhões de eleitores O pleito deste ano terá 8 milhões de eleitores a mais do que o de 2008. Serão 138,5 milhões de eleitores. E as mulheres continuarão na frente dos homens : 71,6 milhões (52% dos eleitores) contra 66,1 milhões de homens eleitores (48%). SP lidera com 31.253.317, seguido de MG, 15.019.136, RJ, com 11.893.309, BA, 10.110.122 e RS, com 8.328.4143. Os estados com os menores números de eleitores são RO, com 292.394; AP, com 448.018; e AC, com 498.017. São quatro os tipos de homem Aquele que não sabe, e não sabe que não sabe. É um tolo : evite-o; Aquele que não sabe, e sabe que não sabe. É um simples : ensine-o; Aquele que sabe, e não sabe que sabe. Está dormindo : acorde-o; Aquele que sabe, e sabe que sabe. É um sábio : respeite-o. (Conceitos árabes coletados por Luís Costa) Jovens bandidos da classe média Quem achava que apenas pobreza e miséria explicam a criminalidade ? Um grupo de 16 jovens estudantes universitários de SP, de idade entre 18 e 21 anos, foi flagrado cometendo sequestros-relâmpago. São acusados de 50 sequestros. Com os cartões dos sequestrados, conseguiam dinheiro para viagens ao litoral, bebidas e baladas. Onde estamos, para onde vamos ? Identidade, eixo do candidato Os candidatos precisam expressar sua identidade : conceito, história de vida, pensamento, atitudes, valores, princípios. Não adianta inventar essa identidade de maneira abrupta. Os eleitores percebem quando o gato quer se passar por lebre. Curiosidade Por que o grande advogado Márcio Thomaz Bastos teria deixado de advogar para Carlinhos Cachoeira ? Teria sido por conta do flagrante do juiz que denunciou tentativa de barganha feita contra ele por Andressa Mendonça, a namorada do acusado ? Tempos de grandeza Ao contrário de alguns historiadores e cientistas sociais, que consideram muito crítico o momento vivido pelo país, este analista defende uma abordagem contrária : o Brasil está dando uma lição de grandeza. As instituições funcionam a plenos pulmões e a nossa democracia participativa se expande na esteira das entidades de intermediação social. Viva ! Rehder e SP Marcelo Rehder, presidente da SPTuris desde o fim do ano passado, tem na ponta da língua a radiografia turística e cultural da maior metrópole do país : "Hoje, 70% dos turistas vêm à cidade para negócios e eventos. Campanhas para que essas pessoas fiquem mais um dia têm sido feitas e estão dando resultados. A cultura é a nossa praia, temos uma oferta enorme de museus, teatros, cinemas e gastronomia que, muitas vezes, nem os paulistanos conhecem". A SPTuris é a entidade que planeja eventos como a Virada Cultural, SPFW, Parada LGBT, entre outros. Grandes desafios Rehder fala dos grandes desafios, a partir da Copa. "O Itaquerão terá 68 mil lugares. Hoje já temos eventos que trazem mais pessoas do que isso. O show do U2 teve 80 mil pessoas. Na Copa, alguns dos problemas podem ser os aeroportos e a mobilidade dentro da cidade. Há que verticalizar mais e adensar tudo mais perto do transporte público. Ficamos muitos anos sem investir no metrô. Temos de ter transporte sobre trilhos e integrar as linhas da CPTM com a cidade - isso é uma coisa que já começou a ser feita". A maneira de dizer Anedota Árabe Um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse o sonho. - Que desgraça. Senhor ! Exclamou o adivinho. Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade. - Mentiroso ! Gritou o sultão enfurecido. Como te atreves a dizer-me semelhante coisa ? Fora daqui ! Chamado outro adivinho, este falou assim : - Excelso senhor ! Grande felicidade vos está reservada ! O sonho significa que havereis de sobreviver a todos os vossos parentes ! Iluminou-se a fisionomia do sultão e mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. Quando saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse : - Afinal, a interpretação que fizeste do sonho foi a mesma do teu colega... - Lembra-te, meu amigo, tornou o adivinho, que tudo depende da maneira de dizer. (Leia comigo - Luís Costa) Conselho aos ministros do STF Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às autoridades policiais. Hoje, sua atenção se volta aos ministros do STF : 1. Chegou o momento tão esperado do julgamento da Ação Penal 470. Busquem em seus altos conhecimentos as luzes para iluminar os caminhos da decisão. 2. Multiplicam-se sugestões, conselhos, pressões, contrapressões. No meio da algaravia, procurem separar as sementes limpas da Justiça do joio sujo dos lamaçais. 3. Vossas Excelências são os mais altos e gabaritados magistrados do Judiciário. De suas consciências, emergirá a bússola que guiará os passos da Nação. ____________
quarta-feira, 25 de julho de 2012

Porandubas nº 325

Abro a coluna com o deputado Newton Cardoso, ex-governador de Minas Gerais, fonte cheia de histórias hilárias. Assumiu o governo de Minas e, no dia seguinte, foi ao aeroporto para viajar no helicóptero da administração estadual. Ao tomar conhecimento de que aquele "trem" tinha o nome de seu adversário, foi logo dando bronca no piloto : - Não entro de jeito nenhum nesse trem com o nome do Hélio ( ). O piloto, constrangido, respondeu : - Mas governador, esse helicóptero é do governo do Estado e não do ex-governador Hélio. Newtão não quis saber : - Esse trem agora vai se chamar Newtoncóptero. Falei e tá falado. Outra historinha envolvendo o folclórico ex-governador. Resolveu passear de carro com a família. O carro pifou na estrada. O mecânico, que o socorreu, diagnosticou : - São os burrinhos dos freios; estão danificados. Acho bom trocar logo esses burrinhos. Cardoso deu a bronca : - Calma, seu mecânico, meus filhos não descerão dos burrinhos de jeito nenhum. Mensalão na reta final O mensalão, ufa, chega à reta final. 3 de agosto, início da partida. Previsão de término : segunda quinzena de setembro. São 38 réus, 50 mil páginas de documentos, 90 horas de julgamento, 15 sessões do plenário, 600 testemunhas em 42 cidades brasileiras. Fase de inquirição de testemunhas : 4 anos. Alegação final dos réus tem 2,8 mil páginas. Voto do relator Joaquim Barbosa tem mil páginas. Voto do revisor Ricardo Lewandowski, também mil páginas. Para efeito de comparação, lembremo-nos do caso Collor : 8 réus, 38 páginas de processo (1994). O interesse é tão grande que o STF está pedindo reforço de segurança junto à Força Nacional. Mídias nacional e internacional com luzes e holofotes acesos. Projeções Hipótese 1 : condenação de todos os réus. Penas duras. Menos provável. Hipótese 2 : absolvição de todos os réus. Pouco provável. Hipótese 3 : condenação de alguns e absolvição de outros. Razoável. Esta é uma projeção por muitos considerada a mais viável. As penas serão variadas. Mas poucos acreditam em penas muito duras. Os operadores do esquema poderão receber penas mais pesadas. O caso mais emblemático a suscitar dúvidas e interrogações envolve o ex-ministro José Dirceu. Haverá novidades, como a versão mais recente do ex-deputado Roberto Jefferson, que denunciou o esquema : Lula ordenou a operação. Esta é a bombástica declaração do advogado de Jefferson, Luiz Francisco Corrêa Barbosa. Como se recorda, logo após denunciar o caso, o presidente do PTB inocentou Lula : "eu contei e as lágrimas desceram dos olhos dele. O presidente Lula é inocente nisso". Estratégias Entre as estratégias dos advogados de defesa, uma das mais anunciadas diz respeito ao desdobramento dos casos, o que poderia, caso a tese fosse aceita, fazer com que os autos dos processos de alguns réus voltem às instâncias inferiores, permanecendo no STF apenas os processos abrigando réus com prerrogativas de foro, conforme visão do ministro Marco Aurélio Mello. Outros defenderão o argumento de que os recursos do mensalão provinham do caixa 2 de campanhas. Há, ainda, os que defenderão a ideia de que alguns réus não tomavam conhecimento e nem eram responsáveis pelo caixa do PT. O fator Russomanno A última pesquisa Datafolha sobre os candidatos à prefeito de São Paulo tem aberto grande polêmica sobre os competidores, a partir da hipótese sobre os dois competidores que entrarão no corredor do segundo turno. Dois dados surpreenderam : o crescimento de 2 pontos de Celso Russomanno, do PRB, que chegou aos 26% e a expansão da taxa de rejeição de José Serra, que chega aos 37%. Minha interpretação : Russomanno abocanhou uns pontinhos que eram do cantor Netinho de Paula, que se retirou do pleito; Serra, que é conhecido por quase todo o eleitorado de 8,5 milhões, aumenta rejeição nas margens, onde não é bem avaliado. Seu desafio será o de diminuir drasticamente a rejeição, algo entre 15% a 20%. Mas a grande pergunta é : Russomanno sustentará seu índice ? Projeções Vamos à história. Em julho de 2008, Marta liderava o pleito, seguida por Geraldo Alckmin. Marta chegou a ter 35%, enquanto Alckmin exibia confortáveis 32%. O prefeito Kassab, que assumira no lugar de Serra, tinha 8%. Na oportunidade, este consultor fez para ele a leitura : poderia quebrar a polarização entre PT x PSDB por meio de uma campanha positiva, alegre, jovial, para cima. E assim ele fez. Subia degraus a cada pesquisa. Quebrou a polarização. Passou Marta Suplicy e desbancou Alckmin. A história derruba a tese de que a polarização é algo irremovível. Pode, sim, ser ultrapassada. Nesse caso, há possibilidades de crescimento para Fernando Haddad e Gabriel Chalita. Será difícil para Russomanno sustentar sua taxa. Terá apenas 2 minutos e alguns segundos de TV e rádio. TV, o comício eletrônico Que ninguém se engane. A TV será o maior cabo eleitoral da campanha municipal nos municípios que contam com mídia eletrônica. Será a vitrine de candidatos e de suas propostas. O fluxo de atenção obedecerá a uma lógica : início dos programas de rádio e TV (21 de agosto) até 5 de setembro, boa audiência. Eleitores querem saber quem é quem e quais são as propostas. De 5 a 20 de setembro, queda da audiência. O eleitorado, após tomar conhecimento das campanhas de cada candidato, faz um intervalo. Assiste, esporadicamente, alguns programas. À medida que a campanha se aproxima do final, a audiência tende a crescer. Os eleitores querem conferir abordagens e consolidar suas visões/julgamentos/decisões sobre candidaturas. Balança capenga Há mistério cercando os pesos da balança da Anatel. A Agência avaliou desempenho das operadoras, pede providências e compromissos com qualidade. Até aí tudo bem. Entre Claro, Vivo, TIM e Oi, esta última é a que apresenta menor índice de reclamação. Da moldura avaliativa, emerge a instigante questão : por que a Vivo não foi punida pela Anatel ? Há mais complexidade em alguns chips que imagina nossa pequena capacidade de compreensão. Desemprego e eleições Só agora começam a aparecer os primeiros sinais de desaceleração da economia, a partir do freio na indústria. O mercado de trabalho é o território dos efeitos. Anuncia-se, aqui e ali, fechamento de postos de trabalho. O desemprego começa a mostrar sua carranca. Eleições sob um pano de fundo de contingentes desempregados apontam para o perfil de um eleitor contrariado, nervoso, insatisfeito, indignado. Os danos serão mais visíveis nos maiores centros eleitorais, a partir de São Paulo. Mensalão e eleições O mensalão terá repercussão sobre o processo eleitoral ? A primeira leitura é a de que os eleitores conseguirão distinguir as coisas. Mas, nas capitais onde se constata polarização clássica entre petistas e tucanos, é previsível que o discurso do mensalão frequente a mesa dos debates. Haverá, como se sabe, alguns debates, promovidos pelas redes de TV. E é provável que o assunto acenda a polêmica principalmente na segunda metade de setembro. Parcerias Nas 85 maiores cidades do país - com mais de 200 mil eleitores - PMDB e PT dobraram as alianças. Nesse grupo, em 2008, o PMDB apoiava 10 candidatos petistas. Hoje, apoia 20. Já a recíproca mudou um pouco. Em 2008, o PT apoiava um peemedebista em 6 cidades. Hoje, endossa um peemedebista em 3 cidades. O PMDB também reduziu acordos com o PSDB. Já o PSB do governador Eduardo Campos diminuiu o apoio aos candidatos petistas, privilegiando seus próprios quadros. E manteve acordos com o PSDB e o PSD do prefeito Kassab. Resumo do quadro : PMDB dá sinais de expandir aliança com PT e PSB faz o caminho inverso, expressa distanciamento. Obama e a economia Barack Obama está com dificuldades de expandir o cofre da campanha. Em 2008, conseguiu juntar quase US$ 600 milhões. Hoje, não chegou a captar US$ 100 milhões. É a economia, estúpido. O empate com Mitt Romney tem como desenho de fundo a posição nada confortável da economia norte-americana. Pacto de não agressão ? José Serra quer firmar pacto de não agressão com Celso Russomanno. Quem acredita nisso ? Difícil. Na hora H, todos os candidatos puxam a navalha cortante da expressão. SOS para as crianças A cada ciclo de férias, a pauta de tragédias se expande. Continuam a morrer crianças em hotéis e parques de diversão no país nesses tempos de insegurança geral. É assustador ! A última morte foi segunda feira, em um hotel de Águas de São Pedro. Uma criança de 4 anos brincava num balanço. Uma das barras de sustentação do brinquedo caiu sobre a menina. O Estado não fiscaliza nem pune os desvios que se acumulam. Vidas humanas destruídas na esteira da irresponsabilidade. Vamos apoiar entidades como a ONG Férias Vivas (clique aqui), fundada por Fernando Pinto Zacharias e Silvia Maria Basile. Trabalho perde função Há greves em 7 ministérios, em agências e autarquias Federais. Calcula-se em 150 mil o número de servidores abarcados pelos movimentos. Pela lógica, o Ministério do Trabalho e Emprego seria a entidade a negociar com as lideranças das greves. Pois bem, o Ministério não cuida disso. A pasta está esvaziada. Primeiro, porque Dilma percebeu que ali é um território muito disputado pelas Centrais sindicais, a partir da Força Sindical. Por isso, baixou um decreto transferindo ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão a responsabilidade de negociar com os servidores públicos e gerir o cadastro nacional das entidades sindicais que representam o funcionalismo. Ou seja, o Ministério do Trabalho perdeu peso na frente de articulação com os servidores. 54º Congresso de Hotéis De 26 a 28 de julho, o CONOTEL 2012 reunirá autoridades, gestores e executivos da cadeia hoteleira para debater as principais questões do setor no Centro de Eventos Fecomercio, na capital paulista. Na abertura do evento, este consultor fará uma análise da conjuntura neste momento em que o setor conta com a aprovação do Plano Brasil Maior pela presidente Dilma Rousseff. O Congresso deve contar também com a presença de Valdir Moysés Simão, secretário executivo do Ministério do Turismo; Maurício Lucena Do Val, diretor de Políticas de Comércio e Serviços do MDIC; Marco Antônio Viana Leite do Ministério do Desenvolvimento Agrário; Valéria Barros, do SEBRAE Nacional; Ângela Pimenta Peres, do SESI; Enrico Ferni, presidente da ABIH Nacional; e Bruno Omori, da ABIH/SP. O evento é uma realização das quatro principais entidades do setor : ABIH Nacional (Associação Nacional da Indústria de Hotéis), FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), e FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil e Resorts Brasil). Entre os temas abordados, "Brasil como ambiente macroeconômico para aceleração do turismo"; "Modelos internacionais da relação de parceria entre governo e hotelaria"; e "Inovação como ferramenta preventiva contra estagnação do mercado hoteleiro". Mais informações (clique aqui). Conselho às autoridades policiais Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos e seus assessores. Hoje, sua atenção se volta às autoridades policiais : 1. A insegurança voltou a provocar pânico em São Paulo. O momento é propício para uma profunda reflexão sobre a capacitação dos quadros policiais. Que devem receber urgente orientação/treinamento sobre condutas de abordagem dos cidadãos. 2. É inadmissível que os assustadores eventos policiais, que culminaram com o assassinato de um publicitário e de um imigrante italiano, sejam debitados na conta da banalização, como se fossem casos normais. A população quer ver atos e decisões substantivas voltadas para aperfeiçoar as ações da polícia. 3. Caso persistam as situações de extrema violência, como as que se viram em São Paulo, nos últimos dias, a indignação social culminará com o repúdio aos governantes do momento. E a arma que o povo usará será o voto. "Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia". (José Saramago) "Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar". (José Saramago) "O que as vitórias têm de mal é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas". (José Saramago) ____________
quarta-feira, 18 de julho de 2012

Porandubas nº 324

Abro a coluna com duas historinhas do insubstituível Sebastião Nery para aliviar o peso do texto de hoje : Montado na lei Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, estava participando de um júri em Quixeramobim/CE. O promotor berrava na tribuna : - Senhores jurados, estou montado na lei. Quintino pede um aparte : - Vossa Excelência tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece. O promotor se calou. Latitude Pedro Libery, vendedor de loteria, elegeu-se deputado estadual pelo PTB. Foi à tribuna fazer um discurso contra o prefeito de Curitiba : - As ruas estão esburacadas, sem luz e, à noite, os cachorros soltos, numa latitude que não deixa ninguém dormir. PSB versus PT Parecia que a querela entre PSB e PT se esgotaria após o jantar que a presidente Dilma ofereceu aos governadores Eduardo Campos, presidente do partido socialista, e a Cid Gomes, que comanda a sigla no Ceará. Campos até se esforçou para limitar a questão, argumentando que os casos de Belo Horizonte, Recife e Fortaleza deveriam ser analisados em sua especificidade, não devendo se estender à aliança nacional entre as duas siglas. Ocorre que a aliança entre PSDB e PSB, em BH, sinaliza um abraço de Márcio Lacerda em Aécio Neves e a abertura de uma portinhola para o futuro. Lacerda e Aécio são carne e unha. Aécio quer ser o tucano candidato contra Dilma. Saiu do Palácio do Planalto sem tirar a limpo a história. PMDB e PSD marcam posição O PMDB não teve dúvidas. O vice-presidente da República, Michel Temer, presidente licenciado do partido, ligou imediatamente para Leonardo Quintão e o demoveu da candidatura à prefeitura. E assim o PMDB, em um gesto rápido e radical, fechou parceria com o PT, compondo chapa com o ex-ministro Patrus Ananias. Quis dizer que aquilo era um gesto de fé na aliança para 2014 entre o PMDB e o PT. O mesmo fez o PSD do prefeito Gilberto Kassab. Mas o 2º vice do PSD, Robert Brant, acusou a guinada do partido em direção a Patrus e deixou a legenda. A 1ª vice-presidente, a senadora Kátia Abreu, também gritou. Ora, Kassab ajudou a quem o amparou na luta para formar seu partido : Lula e Dilma. Ambos deram força para a criação da legenda. O PSDB, por sua vez, posicionou-se contra a formação do partido, impetrando uma Ação de Inconstitucionalidade. Era uma resposta a Aécio Neves, patrocinador do candidato Márcio Lacerda. PSD na base governista A senadora Kátia Abreu parece não ter entendido a jogada do PSD. O partido sinaliza ingresso na base governista. Ora, a senadora tem feito elogios à presidente Dilma. Portanto, estaria confortável com a posição do partido no governismo. Ou acharia ela que o PSD deveria firmar parceria com o PSDB de Aécio Neves ? Como se sabe, a movimentação para unir Aécio e Eduardo Campos é visível. O prefeito de São Paulo pode, até, manter canais abertos com o governador de Pernambuco, mas, ao que se sabe, não toparia juntar-se à banda tucana do senador mineiro. A cota tucana de Kassab limita-se ao bico de José Serra. Kátia no PMDB A senadora Kátia Abreu sempre manteve portas abertas no PMDB. Tem boa articulação com o presidente licenciado do partido, o vice-presidente da República Michel Temer. Se sair do PSD para ingressar no PMDB, cumpriria apenas um rito já ensaiado há tempos, desde os tempos do DEM. Pesquisa em Recife O senador Humberto Costa, do PT, acaba de ser contemplado com 40% em pesquisa feita pelo IBOPE sobre a intenção de voto dos candidatos à prefeito. Mendonça Filho, do DEM, registra 20%. Em terceiro lugar, desponta o tucano Daniel Coelho, com 9% e o quarto lugar é ocupado pelo candidato do governador Eduardo Campos, o ex-secretário Geraldo Daniel, com 5%. Pois bem, esse consultor, olhando para as páginas do passado, lembra : resultados das primeiras pesquisas são bem diferentes de resultados das últimas pesquisas. Conclusão : os últimos poderão ser os primeiros. Não seria inimaginável nem impossível divisar Geraldo Daniel subindo o pódio. LDO, em cima da hora Esforço de última hora : MP 563, com pacote para indústria, votada na segunda-feira, destravou a pauta para votação da lei de Diretrizes Orçamentárias. Aprovada ontem. Recesso garantido. LDO teria de ser votada sob pena de suspensão do recesso. Bom senso prevaleceu. Oposições cederam. Redes sociais na campanha Neste pleito, a internet terá importância maior do que nas campanhas passadas. Redes sociais agora fazem parte da estratégia da maioria dos candidatos. O país tem mais de 50 mil usuários e a maior parte dos candidatos vai usar as redes sociais como nunca o fizeram. Mas é importante não abusar, pois a prática descarada deste meio pode ser um bumerangue, voltando contra o candidato. É preciso avaliar a identidade de cada canal. Em todo o Brasil são 5.565 municípios e muitos candidatos apostam na internet como forma de tentar compensar o fato de terem de dividir com aliados o tempo de propaganda obrigatória na TV. Exemplo disso é a disputa à prefeitura do RJ, na qual após a aliança entre 20 partidos, o atual prefeito terá mais da metade dos 30 minutos de propaganda eleitoral na TV. Como usar Site e sistema para doações on-line também serão explorados durante o ano eleitoral. O maior caso de sucesso do gênero foi o da candidatura do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Em pouco mais de um ano e meio, Obama arrecadou US$ 500 milhões em doações pela internet. As redes sociais, no entanto, devem ser usadas de modo responsável. Cuidado com agressões. A linguagem deve ser clara, objetiva. Os candidatos devem ser sinceros, respeitar a oposição e mostrar suas diferenças em relação a adversários. Ser criativo, aceitar debates e não temer a discussão de problemas também arrematam os conselhos. A massificação da internet é positiva também para os eleitores, que terão mais tempo e fontes diferentes para pesquisar a respeito dos candidatos e suas estratégias. Oficialmente, a mídia eleitoral começa em 17 de agosto, mas na internet a disputa começou bem mais cedo. Planejamento de campanha O planejamento de uma campanha abriga todos os aspectos de uma campanha política, com a inclusão das metas, objetivos, estratégias, táticas, meios e recursos, equipes e estrutura de operação, sistema de marketing, estudo dos adversários, etc. O mais importante é o foco sobre os eixos do marketing eleitoral, aqui apresentados : a pesquisa, a proposta de discurso (os programas), a comunicação, a articulação e a mobilização. A pesquisa objetiva mapear interesses e expectativas do eleitorado. É vital para estabelecer e/ou ajustar o discurso do candidato. Sem pesquisa, atira-se no escuro. A pesquisa qualitativa tem a vantagem de descobrir os mapas cognitivos dos eleitores, aquilo que eles estão pensando. É fundamental, na medida em que o mapeamento do sistema de interesses e expectativas do eleitorado deverá ser o centro do discurso. A pesquisa quantitativa mede apenas intenção de voto, em determinado instante. O discurso Feita a radiografia do eleitorado, passa-se a formar o discurso e a ajustar a identidade do candidato, que é soma de seus valores, de suas qualidades, de sua formação, história e compromissos. Esta identidade deverá embasar todo o programa de governo. Ou seja, o ideário a ser implementado. A seguir, esse conjunto de ideias precisa ser comunicado. As propostas do candidato deverão ser apresentadas ao eleitor, via TV, rádio e outras formas. Candidato que não tem identidade, não tem eixo, não tem esqueleto, coluna vertebral. Quando o eleitor capta a ideia central de um candidato, começa a entrar no sistema de signos da campanha, fator que funcionará como indutor importante na decisão de voto. Daí a importância da televisão e de um programa criativo. Nesse caso, aparecem bem os profissionais de marketing político com experiência de TV. Mas campanha política não é apenas comunicação de TV e rádio. E aqui aparece a primeira grande confusão do marketing. Mobilização e articulação Não adianta apenas saber fazer bons programas de TV. São ferramentas essenciais, mas não exclusivas. Outros eixos são importantes : a mobilização, caracterizada pelos eventos, comícios, showmícios, reuniões, encontros do candidato com as massas. E há, ainda, o eixo da articulação, que aparece na formação de alianças, nas parcerias com associações e sindicatos, enfim, com as entidades organizadas da sociedade civil. Sem a combinação desses cinco eixos fundamentais, as campanhas ficarão capengas, tortas, frouxas. Muito cuidado para evitar campanhas que pendem mais para um lado que para outro. Ao consultor cabe fazer uma completa análise dos pontos fortes e fracos dos candidatos, de forma a potencializar seus valores e qualidades e minimizar seus defeitos. Deve-se ter uma visão externa mais abrangente, de fora para dentro, a fim de se evitar privilegiar certas áreas em detrimento de outras. Marketing ganha campanha ? Marketing não ganha campanha. Quem ganha campanha é o candidato. Marketing ajuda um candidato a ganhar a campanha, ao procurar maximizar seus pontos fortes e atenuar seus pontos fracos. O marqueteiro, aliás, profissional de marketing, (não gosto do designativo porque tem conotação pejorativa) é importante, na medida em que funciona como um estrategista que define linhas de ação, orienta a escolha do discurso, ajusta as linguagens, define padrões de qualidade técnica, sugere iniciativas e até pondera sobre o programa do candidato, os compromissos e ações a serem empreendidas. O profissional de marketing precisa, sobretudo, ser um profissional com visão sistêmica de todos os eixos do marketing. Que não entenda uma campanha apenas como um apelo publicitário, uma proposta de marketing televisivo. Que seja capaz de visualizar os novos nichos de interesse de uma sociedade exigente, crítica e sensível aos mandos e desmandos dos governantes. Cuidado com o marketing capenga Um bom marketing ajuda a eleger, mas é o candidato quem se elege. Marketing mal feito, ao contrário, ajuda um candidato a perder as eleições. Não adianta um bom marketing se o candidato é um boneco sem alma. Candidato não é sabonete. Tem vida, sentimentos, emoção, choro e alegria. Portanto, muita coisa depende dele, de sua alma, de seu calor interno, de sua identidade. Marketing há de absorver essas condições para evitar transformar pessoas em produtos de gôndolas de supermercado. Em um primeiro momento, a inserção publicitária na TV até pode exibir o candidato de forma mais genérica, por falta de tempo para expor conteúdo. Mas o eleitor não se conformará com meros apelos emotivos e chavões-antigos, como os usados para embalar perfis saturados (candidatos beijando crianças e velhinhos, takes em câmera lenta mostrando o candidato no meio do povo, etc.). Candidato ideal O eleitor está à procura de um candidato com as seguintes qualidades : experiência, honestidade ; vida limpa e passado decente ; assepsia; equilíbrio/ponderação ; preparo; coragem/determinação ; autoridade (não confundir com autoritarismo). Há uma saturação de perfis antigos, que usam as esteiras da velha política. O eleitor quer ver perfis mais identificados com suas grandes demandas : segurança, saúde, educação, melhoria das condições de vida nas regiões, nos bairros, nas ruas. Quem apresentar propostas mais condizentes com as necessidades do eleitor terá melhores condições de ser escolhido. Fases de uma campanha As principais armas de um profissional de marketing político para ajudar uma campanha são : capacidade e sensibilidade para captar, com muita propriedade, as indicações das pesquisas ; visão abrangente de todos os eixos de uma campanha, não se atendo apenas aos programas de TV, como muitas vezes ocorre com os publicitários engajados nas campanhas; poder de influência sobre o candidato, principalmente no que concerne ao foco do discurso; ter noção adequada do timing de campanha, ou seja, das seguintes fases : lançamento do candidato (junho), crescimento (julho), consolidação (agosto/setembro), auge/clímax (final de setembro/semana da eleição), declínio. Este é o ciclo de vida de uma campanha. Se o declínio ocorrer antes da semana da eleição, não tem quem sustente a posição do candidato. Um candidato que se preocupa apenas com o primeiro turno, poderá morrer antes de chegar à praia. É preciso saber ouvir o som do vento. Quando o vento sopra numa direção, de crescimento, por exemplo, não há força que consiga deter seu rumo. Conselho aos candidatos e assessores Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos parlamentares. Hoje, sua atenção se volta aos candidatos e seus assessores : 1. Atentem para os 5 eixos do marketing. 2. A identidade do candidato deve ser verdadeira, não artificial. 3. Ajustem os eixos da campanha em cada fase. Façam avaliações periódicas. ____________
quarta-feira, 11 de julho de 2012

Porandubas nº 323

Faltam 8 contos Vereador em Itiruçu/BA, estava duro. A seca tinha comido tudo. Sem dinheiro para a feira foi pedir ao prefeito Pedrinho. Pedrinho brincou : - Por que você não pede a Jesus Cristo ? Ele não é o pai dos pobres ? Voltou para casa, escreveu a Jesus Cristo pedindo 50 contos. Endereçou : "Para Nosso Senhor Jesus Cristo". E pôs no correio. No correio, abriram a carta, levaram para o bar. Lá fizeram uma vaquinha, apuraram 42 contos, registraram e mandaram para o vereador. Quando ele abriu viu os 42 contos, sentou-se e escreveu nova carta : "Nosso Senhor; agradeço muito sua atenção. Recebi o dinheiro que lhe pedi. Mas rogo o seguinte : se o senhor for mandar dinheiro novamente, faço o obséquio de mandar em cheque, porque, dos 50 contos, o pessoal do correio meteu a mão em 8". (Mais uma do grande Sebastião Nery) Pressão da CUT O novo presidente da CUT, ex-bancário Vagner Freitas, promete mobilizar suas bases e ir às ruas caso a decisão do STF não obedeça a critérios técnicos. A pressão da sociedade organizada para fazer valer suas ideias até pode ser compreensível. No caso da CUT, a suspeita emerge com força. Primeiro ponto : se o Supremo condenar mensaleiros, a decisão seria política ? Pelo que se infere, apenas a absolvição seria aceita pela CUT, porque estaria estribada em critérios técnicos. Risível essa posição da CUT. Segundo ponto : pode uma entidade que recebe dinheiro público fazer campanha por perfis, pessoas, partidos ? A CUT recebe uma dinheirama do imposto sindical. Atentem para esse termo : imposto. O Estado impõe a tal contribuição de um dia de trabalho. Tira de todos os assalariados. Portanto, trata-se de um imposto, que é repassado para as Centrais. Para que servem as Centrais ? As Centrais Sindicais, afinal de contas, são órgãos inseridos no organograma do sindicalismo ou do partidarismo político ? Podem fazer movimentações partidárias, pedir voto, apoiar ou condenar pessoas ? A se considerar o foco - coordenação sindical, defesa de interesses de trabalhadores, mobilização das categorias sindicalizadas - desviar-se dessas funções seria algo não recomendável. Mas, por estas plagas, tudo é permitido inclusive o que é proibido. Ora, o presidente da CUT, Artur Henrique, que deixa o cargo, já disse alto e em bom som que a entidade não vai permitir que os tucanos voltem ao poder. Que proibição é essa ? Tem a CUT força institucional para proibir que um partido político volte a ganhar o centro do poder ? Não. De lorota em lorota, cada qual faz sua afronta. E o que a CUT poderia efetivamente fazer se outro partido, que não o PT, chegasse ao poder pelo voto ? Chamaria os militares para um golpe ? Falar de si "Falar muito de si mesmo também é um meio de se esconder". Nietzsche "Cala a boca" ao voto aberto O STF não permite que nenhum senador abra o voto no processo de cassação do senador Demóstenes Torres. Que coisa, hein ? Mas é útil recordar que Demóstenes abriu o bico por ocasião do processo de cassação contra o senador Renan Calheiros, que renunciara à presidência do Senado. Dizia ele na ocasião que se Renan não serve para presidir a Casa, também não serve como senador. Ou seja, proclamou seu voto contra o alagoano. Agora, ao que se infere, ancora-se na proibição do voto aberto para tentar salvar o mandato. A lei e suas circunstâncias. Cada roca com seu fuso. Você é um gato Alguém acusou Toninho Cabral de não ser filho da cidade. Ele era vereador em Campina Grande. Na tribuna, defendia-se : - Nasci em Cabaceiras, é verdade, mas vim abrir os olhos em Campina Grande. Um desafeto o aparteou lá do fundo : - Vossa Excelência não é um homem, é um gato. Sabe por quê ? Gato abre os olhos oito dias depois de nascer. Campos abre o verbo O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que comanda o PSB, manda o recado : apoia a presidente Dilma, mas quer autonomia político-partidária. Ou seja, abre uma fresta para contemplar o horizontes de 2014/2018. Por enquanto, mostra-se firme na base governista, mas faz cálculos : se o PT continuar a querer ver os partidos da base como vassalos, ele, Campos, retirará seu exército do campo de batalha governista. A verdade é que Campos e Aécio Neves ensaiam passos largos na direção do amanhã. Ele tem um sonho : reunir o grupo pós-64 sob a mesma bandeira. 11/12 avos "Onze doze avos de todos os grandes homens da história eram apenas representantes de uma grande coisa". Nietzsche Temer, eficiência na articulação Enquanto o PSB se afasta do PT, em Belo Horizonte, o PMDB dele se aproxima. O vice-presidente da República e presidente licenciado do partido, Michel Temer, de maneira discreta, como é seu estilo, e ágil, costurou o apoio do PMDB ao PT com a indicação do vice na chapa de Patrus Ananias. O PMDB trabalha de maneira pragmática, habilitando-se a continuar como parceiro preferencial do PT. Ganha, em consequência, amplo apoio de lideranças petistas, que começam a desconfiar das intenções do governador pernambucano. PMDB unido Aliás, a taxa de unidade do PMDB é inédita. É comum ouvir-se : o PMDB está mais unido hoje do que nos próprios tempos do dr. Ulysses. E avança em territórios que foram praticamente abandonados, a partir de SP, onde espera eleger cerca de 100 prefeitos e conta com um candidato competitivo em São Paulo, o deputado Gabriel Chalita. Economia às escuras A moldura da economia no segundo semestre poderá ficar às escuras. Queda no crescimento, refluxo na indústria - 6,9% de abril para maio, a nona queda consecutiva. Sinais de alerta por todos os lados. Queda também na arrecadação : R$ 20 bilhões a menos em junho. E, como empurrão, o governo libera o maior lote de restituições de IR - R$ 2,6 bilhões, irrigando as contas de 2,46 milhões de contribuintes. Macaco "O homem é sempre mais macaco do que qualquer macaco". Nietzsche Lupi sob ameaça ? O ministro do Trabalho, o deputado Brizola Neto, quer desbancar Carlos Lupi, ex-ministro da Pasta, do comando do PDT. Promete disputar o cargo em março de 2013. Paulinho da Força deve firmar posição ao lado do ministro. Bons ventos Em tempos de crescimento sustentável, as ações voltadas para o plano energético ganham musculatura na carteira de investimentos públicos. O Brasil colhe bons ventos no horizonte econômico e agora começa a soprar, também, na nossa matriz energética. O potencial natural para parques eólicos é imenso. O norte-nordeste brasileiro é privilegiado nesse aspecto. A senadora baiana Lídice da Mata comemorou, em discurso recente no Congresso, a inauguração de um complexo eólico em seu estado. O projeto na região de Caetité, com 14 parques eólicos, é o maior da América Latina e tem capacidade para atender uma cidade com 540 mil residências ou mais de dois milhões de habitantes. São os novos ventos soprando a favor. PSD na base governista O PSD dá mais um passo em direção à base governista. A aliança com o PT, em Belo Horizonte, constitui mais um passo nessa direção. O prefeito Kassab mantém boas relações com o ex-presidente Lula e com a presidente Dilma. A decisão de firmar apoio ao candidato do PT em BH, Patrus Ananias, contrariou o ex-deputado Roberto Brant, que se afasta do partido. E gera a dissidência da vice-presidente do partido, a senadora Kátia Abreu. A habilidade do prefeito paulistano, que preside o partido, entrará em cena para acalmar os correligionários. Quem conhece a capacidade de articulação do prefeito sabe que as coisas se acomodarão. A conferir. Parasita "Quase todo ser vivo contém um parasita". Nietzsche CPI das Águas Correntes Ontem, encerrou-se o primeiro ciclo da CPI das Águas Correntes. A CPI só ressurgirá após o recesso de julho. Entre ditos e desditos, verdades e versões, achados e perdidos, patinação e navegação nas águas turvas, as coisas ainda permanecem confusas. Afora a quase certeza da cassação do senador Demóstenes e a desclassificação da empresa Delta como grande prestadora de serviços ao Governo, ainda não se tem noção dos resultados. Mas o clima de agosto tende a ficar mais quente. Desta feita, por conta da temperatura eleitoral mais elevada. Marketing : os 5 eixos Cumprindo compromisso firmado nesta coluna e no twitter, este consultor passa a fazer pequenas inflexões sobre a campanha. Lembro, sempre, os cinco eixos do marketing eleitoral : pesquisa, formação do discurso (propostas), comunicação (bateria de meios impressos - jornalísticos e publicitários - e eletrônicos), articulação política e social e mobilização (encontros, reuniões, passeatas, carreatas, etc.). A mobilização dá vida às campanhas. Energiza os espaços e ambientes. A articulação com as entidades organizadas e com os candidatos a vereador manterá os exércitos na vanguarda. A comunicação é a moldura da visibilidade. Principalmente em cidades médias e grandes. Sem ideias, programas, projetos, os eleitores rejeitarão meros blá-blá-blás. E, para mapear as expectativas, anseios e vontade, urge pesquisar o sistema cognitivo do eleitorado. Logomarca, slogan e música A logomarca é a vestimenta do candidato. Que abriga a estética da campanha, com as cores básicas e o ideário do candidato, expresso em palavras-chave. Esse conjunto carece de criatividade, harmonia e naturalidade. Se exagerar no artificialismo, será detectado pelo sistema cognitivo dos eleitores. As cores sairão da matriz cromática do partido do candidato. E o arremate será dado pela música, que funciona como o canal sonoro, a levar o nome e os conceitos centrais que envolvem a candidatura. Jumento que transportava sal Um jumento carregado de sal atravessava um rio. A certa altura escorregou e caiu na água. Então o sal derreteu-se e o jumento, levantando-se mais leve, ficou encantado com o acontecido. Tempos depois, chegando à beira de um rio com um carregamento de esponjas, o jumento pensou que, se ele se deixasse cair outra vez, logo se levantaria mais ligeiro; por isso resvalou de propósito e caiu dentro do rio. Todavia ocorreu que, tendo-se as esponjas embebido de água, ele não pôde levantar-se, e morreu afogado ali mesmo. Assim também certos indivíduos não percebem que, por causa das suas próprias astúcias, eles mesmos se precipitam na infelicidade. (Esopo) Conselho aos parlamentares Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Hoje, sua atenção se volta aos parlamentares. Abre-se, daqui a pouco, o recesso parlamentar. Tempos de auscultar os pulmões sociais. Tempos de ouvir as bases. Procurem, nesse intervalo de férias e descanso, atentar para os seguintes aspectos : 1. Quais são as expectativas, anseios e desejos do eleitorado. 2. Conferir se os brasileiros, na véspera de uma campanha eleitoral, expandiram a taxa do Produto Nacional Bruto da Felicidade ou, ao contrário, estão tomados pela desesperança. 3. Orientem seus candidatos a apresentar propostas críveis e factíveis ao eleitorado. ____________
quarta-feira, 4 de julho de 2012

Porandubas nº 322

Bucéfalo Esta historinha chegou aos meus ouvidos pela narração de um observador atento da política potiguar. Luís Gomes/RN, cidade onde este escriba nasceu. Década de 70. Cenário : plenário da Câmara Municipal. Aécio Batista, conhecido por Barichon de Giron (na linguagem dos ciganos que viviam na região), dentista e vereador, dispara contra o adversário um verbete desconhecido no plenário : - Vossa Excelência é um bucéfalo. Pego de surpresa, o adversário, ressabiado, retrucou : - O que vossa Excelência quer dizer com esse termo ? Se for adulativo, muito obrigado a vossa Excelência, com os meus cumprimentos à sua genitora e aos seus irmãos e irmãs; agora, se for atacativo, vá para a pqp, seu fdp. O presidente da sessão mandou trazer um dicionário. Lá estava : "indivíduo ignorante, rude ou pouco inteligente". Era atacativo. Os dois se atracaram no plenário. Quase saiu tiro. A palavra bucéfalo foi abolida daquele Parlamento. Sob pena de risco de nova tragédia. Não consigo conter o riso. Era uma vez...Mil vezes Agradeço às amigas e amigos que compareceram ao evento de lançamento do meu livro "Era uma vez Mil Vezes...O Brasil de Todos os Vícios". A Livraria Cultura da av. Paulista estava cheia. Agradeço, igualmente, às autoridades que estiveram ali presentes, grandes amigos, a partir do vice-presidente da República, Michel Temer; governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; prefeito da capital paulistana, Gilberto Kassab; e José Police Neto, Netinho, presidente da Câmara Municipal. Registro a presença de amigos empresários, a partir do presidente da FIESP/CIESP, Paulo Skaf. E a muitos que vieram de longe. Agradeço, ainda, ao José Mário e a Topbooks a magnanimidade pelo acolhimento ao livro, tão bem editado. História de ontem A fumaça espessa começa a se diluir. Não ainda de modo a permitir distinguir com clareza a linha do horizonte. Refiro-me aos interesses do PSB e do PT. Faço esta reflexão. Historicamente, os dois partidos têm atuado juntos. Consideram-se unidos pelo cordão de esquerda. Logo, irmanam-se no ideal de manter a integração de suas bandeiras, até porque sentem que não chegou o momento de entregar a rapadura às oposições. Esse é o primeiro ditame. Vamos ao outro : Eduardo Campos, poderoso mandachuva do PSB, neto de Miguel Arraes, e Luiz Inácio Lula da Silva consideram-se irmãos. Nos ideais, lutas, anseios e expectativas. Terceiro argumento : ambos são nordestinos e pernambucanos. Lula despejou um caminhão de dinheiro em Pernambuco durante os 8 anos de seu mandato. Pernambuco perdia o lugar de líder do Nordeste para o Ceará. Com os altos investimentos, recuperou a liderança. História de hoje Portanto, Eduardo Campos é uma espécie de irmão mais novo de Lula. A cada momento crítico, corre para ouvir seu guru. E Lula vai administrando as querelas, dando conselhos, mostrando os caminhos. Mas a política tem curvas. Nem sempre as retas traçadas podem ser seguidas. O PSB, então, quer mudar o percurso. Sua meta é tomar o lugar do PMDB como parceiro preferencial do PT. Isto é, indicar o vice de Dilma em 2018. Que seria o próprio Eduardo Campos. A condição pode ser definida pelo ditado : cresça e apareça. Por conseguinte, o PSB quer fazer uma baciada enorme de prefeitos. Se fizer bonito no campo eleitoral, habilita-se a tomar o lugar do PMDB. É isso que explica o fato de o PSB ter candidatos em 11 capitais. Em 2008, tinha candidatos em apenas 7. "Nenhum deles tem caráter : o que se podia fazer ? Tiveram de roubar um". (Friedrich Nietzsche) Rompimento simbólico É evidente que para ter performance mais competitiva adiante, o PSB precisa expandir seu cacife. Nesse momento, a interlocução de irmãos não funciona entre Campos e Lula. Importa, agora, é agir com pragmatismo. Em Belo Horizonte, por exemplo, rompe-se o acordo entre os dois partidos. Aécio Neves, que apoia a reeleição de Marcio Lacerda, não aceitou a coligação entre PT e PSB para o chapão de vereadores. PT caiu fora da aliança e quer, agora, indicar o vice-prefeito, Roberto Carvalho. Ou, em seu lugar, Patrus Ananias. Resumo : PT e PSB procuram fazer suas arrumações pensando, cada qual, em 2014. Lula gostaria que o vice da Dilma fosse Eduardo Campos. Que já internalizou a ideia : para isso, precisa ter cacife. "Quem não tem nada para fazer, um nada já lhe dá o que fazer". (Friedrich Nietzsche) PMDB olha de soslaio O PMDB está atento aos movimentos do PSB. Sabe que se conseguir eleger a maior planilha de prefeitos, será, mais uma vez, a noiva cobiçada. Terá candidatos em 2.800 municípios. Se consolidar sua posição de maior partido, será difícil Eduardo Campos querer pleitear posição na chapa petista. Ademais, os acenos de Eduardo Campos na direção do tucano Aécio Neves começam a incomodar núcleos do petismo. Sabe-se que Campos e Neves mantêm uma sólida amizade, construída lá atrás quando os avôs de ambos, Miguel Arraes e Tancredo Neves, tricotavam o tecido político. Também se sabe que a relação entre Campos e Dilma é muito diferente - e distante - da relação que o governador de Pernambuco mantinha com o pernambucano Luiz Inácio. "Quem sempre se cuidou muito acaba ficando doente de tanto cuidado". (Friedrich Nietzsche) Bicos tucanos rachados Está ficando muito difícil a convivência entre as alas de Geraldo Alckmin e José Serra, com prejuízo na linha de frente do engajamento na campanha para a prefeitura. Tudo porque Serra aceitou a indicação do PSD do prefeito Kassab : Alexandre Schneider como vice de Serra. A indicação tem lógica : o ex-secretário de Educação da prefeitura é um perfil que se contrapõe ao perfil jovial de Haddad, do PT. Entende do "riscado" da Educação, podendo, dessa forma, ser uma voz autorizada a falar sobre o tema. Ademais, o PSD, com a conquista do tempo eleitoral obtida no STF, cederá mais de 2 minutos de mídia eleitoral ao PSDB. Tem lógica a escolha de Serra. Câmaras inchadas Este ano, o país ganhará mais 5.070 vereadores, pulando de 51.748 para 56.818. O aumento do número de vereadores se deve à EC 58, aprovada em 2008, pela qual o número de cadeiras nas Câmaras em 2012 seria calculado com base na população aferida pelo IBGE em 2011. Dilma no auge Recorrente questão a que respondo em entrevistas sobre a crescente popularidade da presidente Dilma : 1º) o eleitor expressa opinião de acordo com a geografia do voto - bolso, estômago, coração, cabeça. Bolso com a grana do Bolsa-Família significa geladeira cheia, estômago saciado, coração agradecido e cabeça simpática ao patrocinador; 2º) Conceitos abstratos - que incluem ameaças de crise econômica - não batem no sistema cognitivo do eleitor. A não ser que esvaziem seu bolso; 3º) Eventuais efeitos de crise na frente econômica chegam ao bolso do eleitor muito tempo depois; 4º) Perfil técnico de Dilma passa ao cidadão a imagem de perfil asséptico, moral e ético. A ovelha tosquiada Uma ovelha que estava sendo tosquiada desastradamente disse ao tosquiador : "Se é a minha lã que tu queres, corta mais alto; porém se é a minha carne que tu desejas, então mata-me de uma vez, e para de me torturar aos poucos". Esta fábula é adequada àqueles que exercem desajeitadamente o seu ofício. (As fábulas de Esopo) Aécio na moita Quem deu uma encolhida na mídia foi o senador Aécio Neves. Mas os olheiros passam a informação : passou aqui, foi ali, esteve acolá. Sempre às escondidas. O fato é que está fazendo articulação. Procura reforçar laços com o PSB, de Eduardo Campos. E o PSD, hein ? Mais uma vez, o prefeito Gilberto Kassab deu ampla demonstração de competência. Criou, em tempo recorde, um partido com mais de 50 deputados. Diziam que esse ente não sobreviveria por não ter chances de ganhar mídia eleitoral e recursos. Ganhou uma coisa e outra. O partido, mesmo apoiando Serra em São Paulo, integrará a base de apoio do governo Dilma. O prefeito tem com ela uma boa relação de respeito e cordialidade. Lula também tem boa relação com Kassab. Qual o futuro desse partido ? Fusão ou bloco ? Fusão, nem pensar. O partido poderá, isso sim, pensar na formação de um bloco. Tudo vai depender dos resultados de outubro. Há quem fale bastante na formação de um bloco com o PSB, de Eduardo Campos. Difícil ocorrer. O prefeito Gilberto Kassab mantém intensa interlocução com o vice-presidente da República, Michel Temer. No futuro, se os projetos de Michel e Eduardo entrarem em choque, este analista não tem dúvidas : Kassab se inclinará pelo projeto do presidente licenciado do PMDB. A vida é breve "O fato é o seguinte : não recebemos uma vida breve, mas a fazemos, nem somos dela carentes, mas esbanjadores. Tal como abundantes e régios recursos, quando caem nas mãos de um mau senhor, dissipam-se num momento, enquanto que, por pequenos que sejam, se são confiados a um bom guarda, crescem pelo uso, assim também nossa vida se estende por muito tempo, para aquele que sabe dela bem dispor". (Sobre a Brevidade da Vida - Sêneca) Grecca Rafael Grecca, candidato do PMDB a prefeito de Curitiba, é um dos mais criativos perfis da administração pública brasileira. D'Ávila Manuela D'Ávila abre boas possibilidades em Porto Alegre. Perfil afável. E não tem medo de gastar sola de sapato. Chalita Desenvolto, gastando sola na periferia paulistana, o deputado Gabriel Chalita abre bons espaços em sua pré-campanha. Irradia simpatia. Haddad Fernando Haddad, por sua vez, continua apartando as querelas entre alas petistas. E a responder questões polêmicas ligadas à Educação. Agora, parte para a briga com o vice de Serra, Alexandre Schneider. Que jogou uma isca na direção dele. Fisgada. Russomano Se Celso Russomano/PRB conseguir segurar o índice de 20% até meados de setembro, será uma grande surpresa. Escolheu um vice denso, preparado e fluente : Luiz Flávio Borges D'Urso/PTB. Dez truques Dez truques dos hereges para responder sem confessar : 1) A primeira consiste em responder de maneira ambígua. 2) O segundo truque consiste em responder acrescentando uma condição. 3) O terceiro truque consiste em inverter a pergunta. 4) O quarto truque consiste em se fingir de surpreso. 5) O quinto truque consiste em mudar as palavras da pergunta. 6) O sexto truque consiste numa clara deturpação das palavras. 7) O sétimo truque consiste numa autojustificação. 8) O oitavo truque consiste em fingir uma súbita debilidade física. 9) O nono truque consiste em simular idiotice ou demência. 10) O décimo truque consiste em se dar ares de santidade. (Manual dos Inquisidores - escrito por Nicolau Eymerich em 1376. Revisto e ampliado em 1578 por Francisco de La Peña) PMDB e PT nas capitais O PMDB terá candidatos em 12 capitais; em 2008, tinha candidatos em 13. PT terá candidaturas em 17; em 2008, disputava em 19. No Rio No Rio de Janeiro, uma parte do PT deverá apoiar o candidato do PSOL, deputado Marcelo Freixo. Também uma ala do PDT, ligada ao Movimento de Resistência Leonel Brizola, já anunciara apoio ao deputado estadual. DER e os lotes O DER de São Paulo vai contratar, selecionadas por técnica e preço, 14 empresas para fiscalizar 14 lotes de obras rodoviárias. As notas técnicas já foram publicadas. 14 empresas diferentes tiveram as maiores notas. As mesmas 14 tiveram notas menores nos outros 13 lotes em que não obtiveram a maior nota. Surpreende que a competência de cada empresa se manifeste apenas em 1 lote de 14 ! A velha competência - ou se tem ou não. É isso ? Brizola Neto Setores de serviços estão agradavelmente surpresos com o desempenho do deputado Brizola Neto no comando da Pasta do Trabalho. Têm sido bem acolhidos pelo ministro. Como iria eu sabê-lo ? Cassado pelos militares na primeira lista do golpe de 64, Jânio passou longas temporadas na Europa, sobretudo Londres. Um dia, ia pela Champs Elysées, em Paris, um grupo de turistas brasileiros o viu. Um deles perguntou : - Presidente, o senhor sabe quem sou eu ? Jânio ficou com ódio, arregalou os olhos : - Ora, meu caro, se você, que é você, não sabe quem você é, como iria eu sabê-lo ? E seguiu em frente. ( Da verve do Sebastião Nery) Conselho ao governador Campos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos marqueteiros. Hoje, sua atenção se volta ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos : 1. Quem tudo quer tudo perde. Não vá com muita sede ao pote. A impressão é de que você, no intuito de alargar a avenida de 2014, passa com a moto-niveladora por cima de tudo (acordos) e de todos (inclusive parceiros). 2. Cada coisa no seu tempo. A política obedece a um ciclo de cinco fases : lançamento de uma ideia (perfil), crescimento, consolidação/maturidade, clímax e declínio. Muitos declinam antes do clímax. Um perigo. 3. A coerência ainda é uma virtude da política. Procurar preservá-la continua a ser um bom conselho. Tenha mais cautela. Afinal, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. ____________
quarta-feira, 27 de junho de 2012

Porandubas nº 321

Começo com a graça do grande José Américo de Almeida, um dos maiores tribunos brasileiros. Margarida Vasconcelos, eleita Miss Paraíba, foi visitar o velho José Américo, joalheiro de palavra e autor de A Bagaceira, no casarão avarandado da praia de Tambaú, em João Pessoa. Chegou falando muito, falando demais, maltratando o português e as ideias. Queria conselhos : - Doutor José Américo, o que o senhor me recomenda para eu representar bem o Estado no concurso de Miss Brasil, lá no Rio ? - Minha filha, você quer mesmo um conselho ? Então fale o menos possível. E, se puder, não abra a boca. Era uma vez... mil vezes Amanhã, quinta-feira, 28, lançarei meu livro "Era uma vez mil vezes - O Brasil de todos os vícios" na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Publicado pela editora Topbooks, é uma leitura vertical, dividida em cinco capítulos, da política brasileira. Na capa, apresentações escritas pelos admiráveis amigos Jorge Gerdau, Delfim Netto, Dora Kramer, Ricardo Noblat, Maria Adelaide Amaral e Carlos Eduardo Lins da Silva. "Era uma vez mil vezes..." expõe uma reflexão sobre o país com base nos costumes da sociedade e nos padrões da política nacional. Todas as amigas e amigos leitores dessa coluna estão convidados. Lançamento do livro "Era uma vez mil vezes - O Brasil de todos os vícios" 28 de junho de 2012, 19hConjunto Nacional - Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, SP)Informações: (11) 3170-4033 (Livraria Cultura) ou (11) 5053-6100 (GT Marketing) Malulismo Paulo Maluf chega ao paraíso. Nunca foi tão autossuficiente como nesses dias de confraternização com o PT e Lula. Acaba de dizer : "Eu, perto do PT, sou comunista". O comunista Maluf é apenas uma firula que quer dizer : vocês acreditam sinceramente que o PT ainda é um partido ideológico? Há muito que o PT jogou sua ideologia pelos desvãos da velha cultura política brasileira. Todos os partidos se juntam no caldeirão do cozido doutrinário. O malulismo - mescla do malufismo com o lulismo - constitui a manifestação mais avançada da pasteurização que invade a esfera partidária. Maluf é o profeta desses tempos cada vez mais inacreditáveis. Mil caminhos existem Mil caminhos existem, que ainda não foram palmilhados, mil saúdes e ocultas ilhas da vida. Ainda não esgotados nem descobertos continuam o homem e a terra dos homens. (Assim falou Zaratustra - Friedrich Nietzsche) Pressões e contrapressões O ministro Ricardo Lewandowski se queixa de pressões que estaria recebendo por parte da mídia e da própria presidência do STF. Diz que não se rege por pressões. Que cumpre a agenda de sua consciência. Compreende-se. Mas a agenda formada pelo ministro Ayres Britto, presidente da Corte, foi aprovada por maioria dos membros. Afinal, o processo do mensalão está quase caindo de maduro da árvore da lerdeza. São sete anos de espera. Lewandowski entregou ontem a sua revisão, que é uma leitura atenta do voto do ministro Joaquim Barbosa, sujeito a ajustes e abordagens diferenciadas. Pelo andar da carruagem, o julgamento entrará no mês de setembro. Lembre-se que 3 de setembro é a reta final do ministro Peluso no Supremo. Aposentadoria compulsória. A favor de um e contra outro Um príncipe também é estimado quando é um verdadeiro amigo ou um verdadeiro inimigo, isto é, quando, sem temor algum, declara-se a favor de um e contra outro. Esse partido é sempre melhor do que se manter neutro, porque, se dois poderosos vizinhos a ti entrarem em guerra, e um deles vencer, das duas uma : ou tens o que temer do vencedor, ou não. (O Príncipe - Nicolau Maquiavel) PSB e PT tomam distância O PSB e o PT começam a tomar distância no espaço político-partidário. A partir deste último. Os partidos se afastam em pleitos, onde, até então, caminhavam juntos : Fortaleza, João Pessoa e Recife. O caso mais impactante é o do Recife, onde o PSB garantira o apoio ao PT, caso o candidato fosse o ex-deputado Maurício Rands. João da Costa ganhou as prévias. O PT acabou pedindo aos dois que se retirassem do pleito. Rands aceitou, o prefeito João disse não. O PT, então, decidiu afastá-lo na marra, escolhendo o senador Humberto Costa como candidato do partido. Ante a confusão formada, o presidente do PSB, governador Eduardo Campos tira do bolso do colete o nome de Geraldo Júlio, o golden-boy da administração pessebista, e o lança como candidato do PSB. Atrai para a aliança o PMDB do senador Jarbas Vasconcelos. Visão de futuro Em Fortaleza e em João Pessoa, o PSB também sairá com candidatos próprios. O partido demonstra não querer ser apertado em abraço de afogados, como lembra seu vice-presidente, Roberto Amaral. Aplaina caminhos do presente com vistas ao futuro. Eduardo Campos é ambicioso e gostaria de juntar em torno dele o que chama de "geração pós-64". PMDB, o coringa Qualquer cenário que se projete para o amanhã deve levar em consideração o papel do PMDB. Trata-se do maior partido nacional, com alta taxa de união interna graças à articulação realizada pelo presidente licenciado do partido, o vice-presidente da República Michel Temer. Todos os sinais apontam para uma performance altamente positiva do partido, o que o conduzirá novamente ao pódio municipal. Ou seja, deverá continuar com o maior número de prefeitos. Com a planilha nas mãos, o partido deverá ser um coringa. Se pender para um lado, este lado ganha o jogo. Se o PT, por exemplo, der uma guinada e quiser caminhar em faixa própria - posicionando-se como poder hegemônico - arrisca-se a entrar em parafuso. PT diz que fará 1.000 prefeitos. PMDB deverá ultrapassar esse número. Atenção, na cidade inteira Volte sua atenção para a cidade inteira, todas as associações, todos os distritos e bairros. Se você atrair à sua amizade seus líderes, facilmente vai ter nas mãos, graças a eles, a multidão restante. (Cícero - Manual do candidato às eleições, 34 A.C.) Serra no teto ? Serra não expandiu sua taxa de intenção de voto mesmo com a intensa exposição a que teve direito nos spots publicitários. Há quem diga que bateu no teto dos 30%. O que impressiona é a altíssima taxa de rejeição do candidato, 32%. Que não cede. Essa é a montanha perigosa que poderá obstruir o desempenho do tucano. Spots publicitários Serra dentro de um estúdio dando aulas de administração. Haddad, circundado por Lula e Dilma. Em um cenário branco e frio. Chalita falando nos bairros, identificando as questões das regiões e discorrendo sobre as demandas das comunidades. Não é preciso entender de propaganda para se chegar à óbvia conclusão : a maior identificação com São Paulo é, sob o aspecto dos spots publicitários dos partidos, a do deputado Gabriel Chalita. Aliás, a convenção realizada na Praça da Sé revestiu-se de simbolismos. Praça central do civismo. Portanto, o candidato está bem calçado. Começo a considerar a hipótese de crescimento de Chalita. E repito o que tenho dito : furando o bloqueio e chegando ao segundo turno, será prefeito de São Paulo. Vá ao encalço dos eleitores Rastreie, vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuide para que em suas respectivas localidades eles cabalem votos para você e defendam sua causa como se fossem eles os candidatos. (Cícero - Manual do candidato às eleições) Perfis à mostra Tenho sido indagado, quase diariamente, por jornais e revistas sobre os perfis preferenciais do eleitorado. Cada região tem suas preferências. Há, porém, alguns traços sobre os quais parece haver consenso : - passado limpo, vida decente - candidatos que possam exibir sua trajetória sem ter vergonha de mostrar aspectos de sua vida; - identificação com a cidade - candidatos que busquem vestir o manto da cidade, significando compromisso com as demandas das comunidades e as questões específicas dos bairros; - despojamento, simplicidade - candidatos despojados, simples, descomplicados, sem as lantejoulas e salamaleques que costumam se fazer presentes no marketing exacerbado. Candidatos não afeitos ao 'dandismo' - mania de querer aparecer de maneira diferente. - respeito, decência, dignidade pessoal - candidatos de postura respeitosa para com os eleitores e identificados com uma vida pessoal e familiar digna; - transparência, verdade - candidatos que não temam contar as coisas como elas são ou foram; - objetividade, viabilidade de propostas, concisão, precisão - candidatos de expressão objetiva e concisa, capazes de fazer propostas viáveis e não mirabolantes. Precisos na maneira de abordar os assuntos. Fatores de influência Outra questão recorrente nos questionamentos midiáticos é a respeito dos fatores que influenciam uma campanha. Eis alguns : - maneira de apresentação dos candidatos - estética - alta prioridade. O primeiro sinal percebido pela cognição é a imagem que o candidato transmite. Sério, alegre, improvisado, informal, formal, artificial, desleixado, mal vestido, empetecado, verdadeiro, mentiroso, falso, atraente, simpático, nervoso, calmo, etc. - programas de governo - propostas viáveis/inviáveis, impactantes ou óbvias - alta prioridade; - patrocinadores/lideranças políticas - dependendo da região, a influência poderá ser muito alta ou tênue; - casos escabrosos descobertos no meio da campanha - desastrosos, podem queimar as possibilidades de um candidato; - organizações da sociedade civil - importantes para agregar grupos, mobilizar as comunidades; - identificação com esportes/futebol - influência relativa; torcidas a favor podem receber o contraponto de torcidas contrárias; - apoio de artistas - depende do artista e da região. Vai ter lugar para todo mundo ? O afã mundial pelos jogos da Copa costuma provocar dúvidas sobre questões de infraestutura nos países que acolhem a nata do esporte bretão. Um dos pontos focais de preocupação é a oferta de leitos para hospedar a massa mundial (e local) de torcedores. Fazendo coro com esta preocupação, as comissões de Viação e Transportes e de Turismo e Desporto promovem, hoje, às 10h uma audiência pública com representantes do setor hoteleiro e dos navios de cruzeiro para debater a questão. A hotelaria se mostra bem preparada, mas a opção pelos navios como reforço na brigada hospedeira poderia ser uma ajuda interessante. A conferir. Não é flor que se cheire Cândido Norberto, jornalista, deputado do MTR (cassado), na tribuna da assembleia do RS, criticava o governador Ildo Meneghetti. Janela aberta, via-se ao lado o Palácio Piratini. Irritado com os ataques, o deputado Hed Borges, da bancada do governo, grita lá de trás : - V. Exa., senhor deputado, já foi do PL, do PSD, do PTB, agora é do MTR. Como um beija-flor, vive pulando de flor em flor. Cândido Norberto apontou para o palácio : - É por isso mesmo que eu lhe digo, senhor deputado, que esse governador não é flor que se cheire. (Nery em seu Folclore Político) Conselho aos marqueteiros Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos assessores políticos. Hoje, sua atenção se volta aos marqueteiros : 1. Tentem desenvolver uma identidade para seus candidatos, consoante com a história, os valores, os princípios e as condutas dos perfis. Identidade montada sobre uma base artificial desmorona. 2. Procurem auscultar não apenas a intenção de voto dos eleitores, mas as razões que fundamentam/orientam suas decisões. Ou seja, tentem entender o sistema cognitivo e a cultura política do eleitorado. 3. Façam ajustes periódicos, usem abordagens diferenciadas, façam comparações entre estilos, analisem as forças e fraquezas, as oportunidades e ameaças de seus candidatos. ____________
quarta-feira, 20 de junho de 2012

Porandubas nº 320

A artrite... Nesses tempos de papa velhinho, que tal abrir a coluna com esta historinha ? O bêbado entrou no ônibus aos tombos. Malvestido, sujo, tossindo, tropeçando, tremendo, com um jornal na mão, sentou-se ao lado de um padre. A cada arranco do ônibus, tombava para o lado do padre, que, irritado, o empurrava sem piedade ou indulgência, e com nojo. O bêbado abriu o jornal, tentou ler, mas não conseguia porque tremia muito, bateu no braço do padre : - Padre, o que é artrite ? - É uma doença muito ruim, muito triste, muito feia, muito nojenta, que dá nas pessoas que bebem muito. - E mata, padre ? - Mata sim, e mata rápido. Ou o doente para de beber ou morre logo. - Padre, o senhor jura que não está me enganando não ? - Juro por essa cruz que está aqui no meu peito. Não estou enganando. E tem coisa pior. Quem morre de artrite, porque não parou de beber, não vai para o céu, nem mesmo para o purgatório. Vai direto para o fogo do inferno. - Coitadinho dele, padre. - Dele, quem ? - Do Papa, padre. O jornal está dizendo aqui que o Papa está com artrite. O padre se levantou, trocou de lugar, e foi lá pra frente. (Da pena engraçada do Nery) Maluf reza por Haddad Paulo Maluf até que tentou rezar por José Serra. A condição : ganhar posições no governo Geraldo Alckmin. Que não aceitou o pleito. Serra, por sua vez, prometia cargos na prefeitura, após assumir o cargo. Maluf correu para outro altar, o de Fernando Haddad, o "novo". E Lula, o papa, levantou a voz e articulou para ele um cargo no Ministério das Cidades. Os fins justificariam os meios. Uma Secretaria de Saneamento. Saneamento ? Isso mesmo ? Sim. O Brasil é mesmo o país da piada pronta. Mas é bom lembrar que o ex-prefeito já aderira a Marta Suplicy, em 2004, no segundo turno, quando ela disputou e perdeu a campanha para Serra. Sob as bênçãos de Lula O papa Luiz Inácio não teve como recusar. Maluf teria dito : quero fechar a aliança entre PP e PT na minha casa. E convidou Lula para dar uma chegadinha por lá. O ex-presidente da República chamou a patota da alta cúpula do PT paulista e lá se foi o grupo para os jardins do Paulo. Que não perdeu a pose. Acariciou a cabeça de um constrangido Fernando Haddad. Lula ficou no centro da foto. Sorrisos gerais. Abraços e apertos de mão. E assim foi selada a união do amor com o ódio. Expliquemos. Paulo Maluf proclamou que aderia a Haddad por "amor a São Paulo". Em passado recente, o PT destilava ódio contra Maluf. Inclusive, acirrou tanto o malufismo que conseguiu compor o verbo malufar. Vejam no dicionário o que significa. Os néscios "Não admira que os néscios se julguem muito sabedores, eles que têm a vantagem de desconhecer que ignoram". (Marquês de Maricá) Partidos amalgamados Não se pretende dizer que os outros partidos são puros, éticos, dignos, com escopos doutrinários e ideológicos. Não. Vivemos, hoje, o ápice da crise da democracia representativa : partidos sem doutrina, amalgamados; parlamentos em declínio; oposições funcionais, sem discurso; bases sem ânimo para participar. Vivemos, hoje, o ciclo da tecnodemocracia, que reúne a esfera política, as estruturas e quadros burocráticos e os núcleos de negócios. Como diria Maluf, não há, nesses tempos pragmáticos, nem esquerda nem direita; o que há são minutos e segundos de TV e rádio. Haddad sobe O efeito Lula começa a se mostrar. Fernando Haddad subiu de 3% para 8%. Deverá chegar aos 25%/30% históricos do PT em São Paulo. Serra permanece com os 30%, mas sua taxa de rejeição é de 32%, só superada pela rejeição de Netinho de Paula, do PC do B. Tudo indica que o segundo turno será disputado por Serra e Haddad. A pesquisa Datafolha constata, ainda, que a influência de Lula, em São Paulo, caiu 10 pontos percentuais, de 49% para 39%. Chalita mantêm-se praticamente na mesma posição. Ante uma campanha que tende a ser muito polarizada, será difícil para o candidato peemedebista romper o duelo entre tucanos e petistas. Filosofia do Barão I Pérolas do Barão de Itararé : - Cobra é um animal careca com ondulação permanente. - Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades. - Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância. - Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem. - É mais fácil sustentar dez filhos que um vício. Marta fará falta ? A pesquisa Datafolha indica : Marta Suplicy não fará falta à campanha de Haddad. Ora, mais uma razão para a senadora desculpar-se e cair fora. Mas Lula vai deixar ? CPI das Águas Correntes Para onde vai a CPI das Águas Correntes ? Desembocará no oceano da Papuda ou no deserto dos inocentes ? PT está rachado. Duas alas abrem visões diferenciadas. PT da Câmara estaria na retranca, acusa o PT do Senado. Cenários : Demóstenes condenado pelo Conselho de Ética do Senado e provavelmente também pelo plenário. Única quase certeza. O resto tem cheiro de pizza de condimentos variados. Maluf na TV Paulo Maluf diz que vai aparecer na TV pedindo votos para Haddad. O PT diz que ele não irá. A conferir. O milionário "O milionário, ao ser perguntado quanto dinheiro era o bastante, replicou 'só um pouquinho mais'. Reconhecia uma característica essencial da vida humana. Há razões positivas pelas quais o poder tende a ser uma bola de neve e é dado àqueles que o possuem". (Kenneth Minogue) Erundina coerente Luiza Erundina rejeita ser candidata a vice de Fernando Haddad. Acusando a estocada com a entrada de Maluf na coligação, não topou entrar no jogo. A foto da turma toda, junta, foi a gota d'água. Não será candidata. Alega, porém, que pedirá votos para Haddad. O PSB recusa a vice, mas comporá a aliança. Luta de classes Não se pode dizer que Luiza Erundina é uma oportunista. Sua conduta é elogiável. Continua a morar num pequeno apartamento, não tem a exibição peculiar dos políticos e é pessoa afável. Pode, sim, cultivar o seu socialismo, apesar de se constatar que os socialistas, nesses tempos pragmáticos, vestem roupas costuradas com os fios mais fortes do capitalismo. Luiza só erra quando compara uma eleição à luta de classes. Pérolas do Barão II - A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados. - Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai. - O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si. - Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você. Haddad perde ou ganha ? Pedem a este consultor uma análise do apoio de Paulo Maluf a Fernando Haddad. O petista mais perde ou mais ganha ? Praticamente não ganha votos. Ganha, isso sim, um bom tempo de TV. Vital para a campanha petista, eis que significará mais visibilidade, mais exposição, maior poder de influência junto ao eleitorado. Nesse sentido, a parceria foi importante para o PT e Haddad. O malufismo vive um processo de declínio. Quem é malufista histórico - um contingente entre 6% a 8% em SP - não votará no PT. Tende a se identificar com um candidato mais conservador. Mas os petistas tenderão a fechar posição em torno de Haddad, sem Maluf ou com Maluf. O PT é uma religião. Setores médios, incluindo núcleos de profissionais liberais, que poderiam entrar na seara de Haddad, tendem a migrar para o território de José Serra ou mesmo para a área de Gabriel Chalita, do PMDB. Aceleração No segundo semestre, a economia deverá se expandir. Trata-se de otimista previsão dos economistas. Mas o PIB deste ano deverá ficar em torno de 2,5%, até menos um pouco. Já o de 2013 é visto em torno de 4%. Dilma e as indicações Os bastidores políticos começam a esquentar a panela. As indicações de que a presidente Dilma quer influenciar as eleições de presidente do Senado e da Câmara deixam nervosos partidos da base, principalmente o PMDB. Aliás, não apenas Dilma quer eleger os perfis de sua preferência. De norte a sul do país, o PT faz suas listas. Impõe nomes. Queima todos aqueles que não comungam de sua orientação. Texto anódino Os ambientalistas começam a pichar o texto final da Conferência Rio+20, sob coordenação do Brasil. Dizem que o esboço é uma decepção. O texto não trará impacto sobre a vida das pessoas. Não há nele menção de metas ou objetivos. O evento olha mais para o passado do que para o futuro. O tirano Maquiavel conta no Livro III dos Discursos sobre os primeiros dez livros de Tito Lívio a história de um rico romano que deu comida aos pobres durante uma epidemia de fome e que foi por isso executado por seus concidadãos. Argumentaram que ele pretendia fazer seguidores para tornar-se um tirano. Essa reação ilustra a tensão entre moral e política. Mostra que os romanos se preocupavam mais com a liberdade do que com o bem-estar social. Mensalão Não dá para adivinhar. Mas é possível chegar-se a um cenário em que, dos 38 acusados no mensalão, alguns entrarão na faixa de penalidades que já prescreveram. O cenário de inocência geral é o que menos cabe na leitura dos analistas. Pérolas do Barão III - Mulher moderna calça as botas e bota as calças. - A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana. - Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato. Conselho aos assessores políticos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos comandantes do planeta, presentes ou não na Conferência da ONU, Rio+20. Hoje, sua atenção se volta aos assessores políticos : 1. Procurem compor para seus candidatos uma forte identidade. Que estabeleça um diferencial, qualidades, características diferentes de outros contendores. 2. Arrumem um programa de campanha que atenda as demandas da coletividade. E tentem evitar a linguagem das generalidades, coisas abstratas, frouxas, difusas. 3. Componham para seus candidatos um amplo painel sobre as forças e fraquezas, ameaças e oportunidades. Planejem a campanha com o espelho desta planilha. ____________
quarta-feira, 13 de junho de 2012

Porandubas nº 319

Evoluindo com o povo Dia 28/5/2012. Câmara Municipal de Mirante da Serra/RO. Populares faziam pressão sobre a Casa legislativa por melhorias prometidas e não cumpridas. De repente, um vereador toma a palavra para manifestar sobre o tumulto. E tasca : - "Meu povo, fico feliz pela presença de todos, isso é democracia, mas vocês precisam entender que Mirante da Serra evoluiu muito, quando eu cheguei aqui há 30 anos não tinha estrada, energia e nem hospital..." É interrompido por um impaciente ouvinte. - "É, o senhor esquece que há 30 anos aqui nem cidade tinha; como queria ter alguma coisa ?" O vereador não deixa a peteca cair : - Isso é para você ver que estamos trabalhando para o povo e pelo povo. Já temos hospital e até rua asfaltada. Parabéns para nós que estamos evoluindo". O tumulto se agiganta. Sobre o vereador cai uma onda de apupos. Águas correntes e sujas A CPI das Águas Correntes inunda os dutos da política com torrentes de sujeira. A cada semana, emergem mais informações sobre sócios com contratos milionários, pagamentos extraordinários, ligações espúrias, versões estapafúrdias. E o que essa torrente provoca ? Muita confusão na cabeça de quem se atreve a acompanhar o caso. A CPI do Cachoeira mais parece uma Torre de Babel. Muito se fala e pouco se presta atenção. Todos os implicados, sem exceção, se dizem inocentes. Os depoimentos acumulam argumentos que não são questionados, comprovados, avaliados devidamente. A essa altura, a barafunda se estabelece. 10 a 10 ou 0 a 0, conforme a interpretação de cada pessoa que acompanha o imbróglio. O bate-boca de ontem poderá se repetir hoje. Que confa... ! O desembargador Tourinho Neto, do TRF da 1ª região, do DF, reconheceu como ilegais as interceptações telefônicas da operação Monte Carlo, da PF. A operação desmontou o grupo de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Ou seja, considera nulas as provas decorrentes desses grampos. E agora ? O povo "Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades do coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem, que sofrem, que se lamentam em vão. Estes Homens são o Povo". (Eça de Queiroz) Rio+20 O Brasil sediará por quase duas semanas o maior evento mundial sobre a sustentabilidade do planeta. Mas as expectativas não são animadoras. Os chefões das Nações mais importantes não se farão presentes, preferindo mandar representantes. Cientistas e ambientalistas estão descrentes. Alegam que as conquistas da Rio 92 foram abandonadas. A globalização seria a barreira contra a regulamentação. Mesmo assim resta a esperança de que grupos organizados façam pressão, propiciando clima favorável aos avanços. Mais um pito público A presidente Dilma, com seus pitos rotineiros em ministros, reforça a identidade de centralizadora e durona. Quem ganhou o mais recente puxão de orelhas foi seu "amigo" Mendes Ribeiro, ministro da Agricultura. Que falou sobre... Código Florestal, ou seja, um tema que faz parte da agenda da... agricultura. Mendes apenas adiantou que poderia haver um acordo sobre os vetos feitos pela presidente ao texto aprovado pela Câmara e juntados numa nova MP. Ou seja, trabalhava com a ideia da harmonia, consenso, pacificação. Foi desautorizado pelo assessor de imprensa da presidência. A mando da presidente. O puxão de orelhas foi mal recebido pelo PMDB, partido de Mendes. Dilma poderia simplesmente ter dado um telefonema e pedido ao ministro para desmentir o acordo em torno da nova MP. Que amizade estranha essa entre o ministro e a presidente. Seca e inverno A seca no NO mostra a desolação da paisagem. Carcaças de animais tragados pela fome. As chuvas no Estado de SP aumentaram o número de mortes em 45%. Em 10 horas, a capital registrou, nesta segunda-feira, 271 raios. Cada região com sua tragédia característica. PT x PT O PT contra o PT. Ou melhor, alas contra alas. O PT do prefeito João Costa, do Recife, é contra a cúpula partidária. Que escolheu o senador Humberto Costa como candidato a prefeito da capital pernambucana. PSB terá nome O PSB do governador Eduardo Campos, ao concluir que a coisa fica feia para as bandas do PT, decidiu lançar candidato próprio em Recife. Campos se sentiu liberado para deixar a aliança com o PT. Seu candidato deverá ser um dos quatro secretários de Estado que deixaram a máquina : Geraldo Júlio, ex-titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico; Tadeu Alencar, ex-chefe da Casa Civil; Danilo Cabral, ex de Cidades; e Sileno Guedes, antes secretário de Articulação Social. Os dois mais cotados são Geraldo Julio e Danilo Cabral. PSB contra PT Em Fortaleza, os irmãos Gomes - Cid, governador, Ciro e Ivo - decidiram romper com o PT, da prefeita Luizianne, que indicou Elmano Freitas como candidato a prefeito. O PSB dos três indicará um nome do partido. Slim...slim... Anotem aí : nos próximos tempos, um nome vai fazer plim...plim... digo, slim...slim... nos ouvidos nacionais. O nome ? Carlos Slim. Que vai expandir a tecnologia 4G no Brasil. Dono da Claro, Embratel e NET, vai investir mais R$ 10 bilhões no setor. Bom, o cara é o mais rico do mundo. Slim ! Está falado. Em João Pessoa Em João Pessoa, a disputa no PSB é mais acirrada que a situação do PT em Recife. O governador Ricardo Coutinho/PSB convidou o atual prefeito Luciano Agra/PSB a desistir da reeleição. Lançou o nome de Estelizabel Bezerra/PSB. Lembrando. Ricardo Coutinho foi eleito prefeito de João Pessoa tendo o apoio do PMDB, em 2004, que indicou o seu vice, Manoel Júnior. Em 2008, Ricardo foi reeleito tendo como companheiro de chapa Luciano Agra, seu secretário de planejamento. Venceu as eleições, em chapa formada pelo PSB, PSDB e DEM contra o PMDB e o PT. No final do ano passado, o PSB começou a preparar substituição do nome para disputar a eleição de 2012. Agra, que assumiu em definitivo a prefeitura de João Pessoa com a renuncia de Ricardo, era visto por esse como muito técnico. Luciano renunciara ao direito à reeleição. E lançou Estelizabel Bezerra, jornalista alinhada ao movimento feminista. Voltou atrás. Há dias, enviou carta a Eduardo Campos e ao governador da Coutinho informando do desejo de disputar a reeleição. O leque Em resposta, o governador disse que o PSB mantinha a candidatura de Estelizabel Bezerra, exonerada por Luciano em fevereiro, tão logo foi lançada como sua substituta. O prefeito de João Pessoa enviou aliados à sede do partido para registrar sua candidatura na convenção, ocorrida domingo. Pois bem, Estelizabel venceu Agra na convenção do PSB : 305 votos contra 142 votos. Ricardo Coutinho conclamou os filiados para votar em Estelizabel. Outras candidaturas já postas : PMDB: José Maranhão, ex-governador por três mandatos; PSDB : Cícero Lucena, que votou em Maranhão em 2010, por ser arquirval de Ricardo. PT : Luciano Cartaxo, deputado estadual; vice-governador do Maranhão (2009/2010). PPS : Nonato Bandeira, ex-secretário de comunicação de Ricardo, tanto no período em que foi prefeito de João Pessoa (2005/2010) quanto no governo do Estado. Até março era o melhor amigo de Ricardo. PTN : Toinho do Sopão. Informações enviadas por Elson de Carvalho Filho. A quem agradeço. Em BH, PT de Pimentel vence Em BH, o ministro Fernando Pimentel levou a melhor e indicará o vice na chapa do prefeito Marcio Lacerda, candidato do PSB à reeleição. Patrus Ananias está se distanciando do partido. Não teria mais clima no petismo mineiro. Vieram e não me encontraram Otávio Mangabeira foi governador da Bahia, ministro de Relações Exteriores e um sábio da velha política. Tinha um amor todo especial à língua. E cuidava do português a todo preço. Chega uma comissão de professoras ao palácio, Mangabeira as recebe no salão. - Governador, nós viemos aqui conversar com V. Excelência sobre a situação do ensino na Bahia. (Deviam, claro, ter dito "vimos", que é o presente. "Viemos" é o passado.). Mangabeira respondeu apenas : - Que pena, senhoras professoras, vieram e não me encontraram. E voltou para o gabinete. Dirceu à la Collor José Dirceu conclamou a juventude socialista a fazer sua defesa face à ameaça de eventual condenação no STF, que vai julgar, a partir de agosto, o caso dos mensaleiros. Dirceu fez entusiasmado discurso em evento da UNE. Ao melhor estilo Collor, convidou a estudantada a tomar as ruas para fazer sua defesa. Não pediu - registre-se - que os jovens pintassem a cara de vermelho, a cor do PT. O ex-líder estudantil, convenhamos, exagerou na dose. Copa, até agora 27 bi O TCU fez as contas. Até o momento, as obras para a realização da Copa somam R$ 27,140 bilhões. O TCU considera financiamentos oferecidos por bancos federais, investimentos feitos por agentes privados, pelas estatais e pelas esferas de governo estaduais e municipais. A mobilidade urbana conta com a fatia maior : R$ 12,004 bilhões. Os aeroportos deverão consumir R$ 7,4 bilhões. Os 12 estádios da Copa custarão R$ 6,778 bilhões. Obras paralisadas Começa-se a achar o responsável pela paralisação de obras do PAC : a Casa Civil do Planalto. Os projetos chegam por lá. E a Casa Civil "senta em cima", dizem as línguas. Ferinas, mas com alta credibilidade. Com a palavra, a ministra Gleisi. Forças pedem mais As Forças Armadas, atualmente não muito armadas por conta da precariedade de seus equipamentos, reivindicam melhores condições de trabalho e salários condignos. A Marinha lidera esse movimento reivindicatório. Começa-se a ouvir um clamor mais explícito das Forças. Sinais dos tempos de pressão e mobilização da sociedade mais organizada ? Impressões Marconi Perillo (PSDB/GO) respondeu as questões de senadores e deputados. Saiu-se bem. Apresentou documentos. Mais adiante, a confusão se instalou quando o relator perguntou se ele, governador, quebraria seus sigilos telefônico e bancário. Agnelo Queiroz (PT/DF) está se preparando com afinco. Vai depor hoje. Impressão é a de que contrários se enfrentarão. Mais jogadas de defesa e ataque. PIB de 2,3% 2,3% de crescimento em 2012. Menos que os 2,7% do ano passado. Economia em baixa, emprego na gangorra, mensalão na bancada da decisão, CPI das Águas Correntes em clima de balbúrdia - terão influência no processo eleitoral ? Resposta : nos espaços onde houver polarização entre tucanos e petistas. A bola da vez Depois dos 100 bilhões de euros que a Espanha ganha do BC europeu para o seu setor bancário, a bola da vez será a Itália. A dívida pública italiana é maior do que a dívida da Espanha - 120% do PIB - mas o déficit orçamentário é menor - 3,9% ante os 8,5% da Espanha. Nos últimos 3 meses, o PIB italiano caiu 0,8%. Suavemente José Maria Alkmin, mineiro dos velhos tempos, ex-ministro da Fazenda, ex-deputado, foi advogado de um crime bárbaro. No júri, conseguiu oito anos para o réu. Recorreu. Novo júri, 30 anos. O réu ficou desesperado : - A culpa foi do senhor, dr. Alkmin. Eu pedi para não recorrer. Agora vou passar 30 anos na cadeia. - Calma, meu filho, não é bem assim. Nada é como a gente pensa da primeira vez. Primeiro, não são 30, são 15. Se você se comportar bem, cumpre só 15. Depois, esses 15 são feitos de dias e noites. Quando a gente está dormindo tanto faz estar solto como preso. Então, não são 15 anos, são 7 e meio. E, por último, meu filho, você não vai cumprir esses 7 anos e meio de uma vez só. Vai ser dia a dia, dia a dia. Suavemente. Da coleção de historinhas de Sebastião Nery. Conselho aos comandantes do planeta Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos comandantes do planeta, presentes ou não Conferência da ONU, Rio + 20. 1. A Rio+20 é a grande oportunidade que as Nações planetárias dispõem para fazer ajustes fortes nos botões do futuro. Urge controlar os excessos e ajustar o exagerado consumismo que leva à degradação do meio ambiente. 2. Países com índices diferentes de desenvolvimento devem procurar meios e métodos para compor uma pauta comum e condizente com a sustentabilidade da vida planetária. 3. Ao crescimento econômico - meta finalista dos países - deve corresponder desenvolvimento social e proteção ambiental. Países que se desenvolveram bem antes e mais provocaram danos ao meio ambiente devem reconhecer suas responsabilidades e oferecer sua contrapartida para a melhoria da condição humana. ____________
quarta-feira, 6 de junho de 2012

Porandubas nº 318

Esselentíssimo juiz Abro a coluna de hoje com uma engraçada historinha envolvendo advogados e juízes. Ao transitar pelos corredores do fórum, o advogado, que também era professor, foi chamado por um dos juízes : - Olha só que erro ortográfico grosseiro temos nesta petição. Que coisa vergonhosa ! Estampado logo na primeira linha do petitório lia-se : "Esselentíssimo juiz". Gargalhando, o magistrado perguntou ao advogado : - Por acaso, professor, esse advogado foi seu aluno na faculdade ? - Foi sim - reconheceu o mestre. Mas onde está o erro ortográfico a que o senhor se refere ? O juiz pareceu surpreso : - Ora, meu caro, acaso você não sabe como se escreve a palavra Excelentíssimo ? Então explicou o professor : - Doutor juiz, acredito que a expressão pode significar duas coisas diferentes. Se o colega desejava se referir a excelência dos seus serviços, o erro ortográfico efetivamente é grosseiro. Entretanto, se fazia alusão à morosidade da prestação jurisdicional, o equívoco reside apenas na junção inapropriada de duas palavras. O certo então seria dizer : "Esse lentíssimo juiz". ....Silêncio geral ! Depois desse episódio, aquele magistrado nunca mais aceitou o tratamento de "Excelentíssimo juiz", sem antes perguntar : - Devo receber a expressão como extremo de excelência ou como superlativo de lento ? Ressentimentos O que significa uma montanha de emendas sobre uma MP ? Pode significar participação maciça do corpo político sobre as medidas provenientes do Executivo; pode significar tentativa de ajuste, melhoria, aperfeiçoamento do instrumento normativo. Mas grande quantidade de emendas a uma MP também pode ser considerada um sinal explícito de insatisfação dos parlamentares com o andar da carruagem movida pelo governo. É o que se infere das 620 emendas apresentadas para alterar o novo Código Florestal. A Comissão mista vai analisar a admissibilidade da MP e o senador Luiz Henrique (PMDB/SC) vai apresentar um cronograma de trabalho. Mágoas acumuladas É sabido que o poço de mágoas aberto na Câmara Federal em decorrência do trato que o Executivo vem dando às demandas parlamentares se aprofunda. A presidente Dilma Rousseff tem tratado a base governista a pão seco e água salobra. Os ressentimentos se acumulam. Os partidos não abrem críticas porque temem puxão de orelhas da presidente. Que tem, de maneira lenta e gradual, expurgado espaços, limpado áreas até então ocupadas pelos partidos da base. No território da Petrobras, os partidos ficaram a ver navios. Fala-se que o sistema Eletrobrás está na mira. Esse processo culminaria com a saída do ministro Edison Lobão do Ministério das Minas e Energia. Saindo, o ministro deixaria livre o caminho para uma drenagem no entorno. Para compensá-lo, a presidente quer vê-lo na presidência do Senado na próxima legislatura. Combinar com os russos Mas a presidente precisaria combinar essa jogada com os russos. Não apenas com os ursos do PT. Combinar com os russos quer significar fazer uma eficiente articulação junto ao PMDB, que tem o maior número de jogadores no plenário da Casa senatorial. Também tem o significado : combinar com os técnicos dos russos, a partir dos senadores José Sarney e Renan Calheiros. Especula-se que Sarney gostaria de patrocinar essa jogada por considerar Lobão um jogador de seu time. Mas Sarney deve ter suas restrições. No Senado, o técnico Renan Calheiros, que lidera a bancada do PMDB, tem voz ativa. E Renan não vai desistir com facilidade da presidência da Casa. Governo de Alagoas ? A presidente Dilma já sinalizou a Renan que gostaria de vê-lo no governo de Alagoas. E teria se comprometido a apoiá-lo. Mas esse apoio mais parece abraço de urso. Mais apertado que afetuoso, mais estrangulador que amaciador. Sarney, por seu lado, sabe que o deslocamento de Lobão para a presidência do Senado implica ver espaços da Eletrobrás, onde teria alguma influência, desocupados. Neles a presidente fincaria estacas impermeáveis às pressões políticas. E assim, de grão em grão, de cargo a cargo, Dilma plasma o governo à sua imagem e semelhança. Bumerangue Sob o prisma estratégico, que leva em conta a necessidade de a presidente dotar o governo de todos os meios e recursos para atingir as metas que pretende, substituir gestores políticos por administradores técnicos é uma medida não apenas compreensível mas recomendável. Estamos falando dos cargos nas empresas governamentais. Ocorre que os partidos que perdem posições precisam ser recompensados. Sob pena de partirem para uma retaliação. Que pode ser no médio prazo. Já nos espaços políticos - presidências das Casas Legislativas - o risco da presidente é bem maior. Ali os interesses de partidos e blocos se cruzam. A cartilha do Executivo não é bem digerida quando dá receitas fortes. Por isso, a intenção de Dilma de querer eleger presidentes nas duas Casas que rezem pelo seu missal causa muita contrariedade. Auge da popularidade A presidente arrisca-se a operações políticas mais complicadas porque atingiu o pico da popularidade. Conta com quase 80% de aprovação. Logo, tem respaldo da comunidade nacional para adentrar em territórios dominados por interesses políticos. Se, daqui a pouco, sua popularidade começar a cair, será mais difícil tomar atitudes duras na frente política. O momento é esse. Ela age sob a crença de que "ou vai ou racha". Os partidos, por sua vez, aguardam o momento para o contra-ataque. Que, mais cedo ou mais tarde, virá. Na forma de desaprovação de pautas e nomes indicados pelo Executivo e que tenham de passar, necessariamente, pelo crivo do Parlamento. Presidência do Senado Quanto à presidência do Senado, está muito cedo para se projetar cenários mais claros. Lobão até pode querer enxergar esse horizonte, sob a indicação de que seu ciclo nas Minas e Energia está com os dias contados. Renan, por sua vez, administra o tempo observando, examinando, avaliando, conversando aqui e ali, falando pouco e agindo muito nos bastidores. No momento certo, tomará a decisão : colocar a bagagem no plenário e tomar o pulso dos senadores ou fazer as malas e correr para as Alagoas. Câmara Já na Câmara dos Deputados, o nome mais evidente para assumir o lugar de Marcos Maia (PT/RS) é o do deputado Henrique Alves. Por sinal, o mais antigo parlamentar, o que carrega nas costas o maior número de mandatos : 11. Henrique é o nome do PMDB e de confiança do vice-presidente da República, Michel Temer. Querer colocar alguém no lugar de Henrique, por parte de quem quer que seja, seria uma operação de alto risco. Há um compromisso formal do PT com o PMDB para que este indique o nome para dirigir a Casa na próxima legislatura. É claro que todos esses cenários ficarão mais aclarados após as eleições de outubro. Se o PMDB continuar com o maior núcleo de prefeitos, certamente reforçará seu cacife. A conferir ! Mais turistas estrangeiros Com o câmbio desfavorável, a conta de gastos de turistas no exterior tende a arrefecer. É um bom momento para inverter essa matemática, inclusive facilitando a entrada de turistas vindos de além-mar. As divisas dos estrangeiros são alvo de cobiça de toda a cadeia econômica do turismo. Tramita no congresso uma matéria que flexibiliza os processos para turistas estrangeiros. Trata-se do Estatuto do Estrangeiro, cujo relator é o deputado Cadoca, de Pernambuco. O parlamentar é uma das referências no legislativo nas questões afetas ao turismo nacional. Mare nostro O setor de Cruzeiros Marítimos realizou em São Paulo o seu evento maior. Voltado aos agentes de viagens, o Cruise Day/Fórum Abremar contou com a presença do deputado Jonas Donizette que mostrou conhecimento da causa e citou números positivos sobre a atividade. Jonas, que lidera a corrida para a prefeitura campinense, sabe do que fala. Já presidiu a Comissão de Turismo e Desporto da Câmara no ano passado e desempenhou importante papel frente àquele colegiado arregimentando simpatia do trade em sua estreia no legislativo Federal. Brasil menos competitivo No debate entre agentes, autoridades e demais players do setor de cruzeiros marítimos, no Cruise Day 2012, os participantes puderam compreender melhor os gargalos da atividade. Entre eles, os altos custos operacionais e a limitada infraestrutura portuária que, pela primeira vez, devem causar redução de 15% na oferta da próxima temporada. "As discussões ganharam muito com o interesse do trade, em especial, dos agentes de viagens que agora entendem o motivo pelo qual a temporada será menor", revela o presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, Ricardo Amaral. Destino em alta Durante sua participação na Aliança das Civilizações, o vice-presidente Michel Temer foi informado de que os turistas brasileiros estão em alta na Turquia. Istambul era o destino escolhido por cinco mil brasileiros por ano, segundo a imigração turca. Em 2011, esse número saltou para 91 mil. E deve crescer ainda mais : a Globo está desembarcando para filmar a novela Salve Jorge naquele país a ser exibida no horário das nove horas. Vice em alta O primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, prestou muitas homenagens ao vice-presidente brasileiro, Michel Temer. Erdogan o recebeu na entrada do palácio do governo em Istambul, elogiou o Brasil, falou dos laços de proximidade com o ex-presidente Lula, chamou a presidente Dilma de "irmã" e mostrou boa vontade de aumentar o intercâmbio comercial com o Brasil. A começar pela Embraer, cujo possível negócio com a Turkish Airlines pode chegar a U$ 600 milhões. Temer também mostrou suas credenciais, relatando que conseguiu a aprovação de decreto legislativo que acaba com a bitributação entre os dois países. Isso atrapalhava muito exportadores e importadores. Presos Apesar de ter apenas 5% dos habitantes do planeta, os EUA abrigam hoje 25% da população carcerária do mundo. Tempo de TV José Serra, PSDB, lidera, por enquanto, o palanque eletrônico em São Paulo. Pelo número de partidos que lhe darão apoio, já conquistou 8min e 14s de TV e rádio; Haddad, do PT, tem 6min e 3s e Chalita, PMDB, dispõe de 4min e 3s. Esses tempos deverão mudar até a definição de alguns partidos. PT e PSB PSB e PT se esforçam para fazer alianças em Recife e em São Paulo. Em Recife, o PT está detonando a candidatura do prefeito João da Costa. Em seu lugar, indica o senador petista Humberto Costa. Aceito pelo governador e presidente do PSB, Eduardo Campos. Em São Paulo, o PSB está caminhando para ingressar na campanha de Haddad. Mas há um grupo que gostaria de ver o partido saindo com um candidato próprio, forma de não se envergonhar de mudar tão rapidamente de estrada. O presidente do PSB estadual, que está saindo da secretaria de Turismo do governo de São Paulo, é o deputado Márcio França. Portanto, trabalhou na floresta tucana até esses dias. Tomando ônibus "Gostaria de dividir minha experiência com você que bebe e mesmo assim dirige. No último sábado à noite bebi não sei quantas taças de vinho. Bebi tanto que fiz uma coisa que nunca havia feito antes : deixei meu carro no estacionamento e peguei um ônibus. Resultado : cheguei em casa são e salvo, sem nenhum incidente. Fiquei muito orgulhoso de mim mesmo, sobretudo porque nunca antes na minha vida tinha dirigido um ônibus". (Enviado pelo amigo Álvaro Lopes) Conselho à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros da CPI. Hoje, sua atenção se volta à presidente Dilma Rousseff : 1. Todo cuidado é pouco, presidente. O crescimento de 0,2% no PIB, no último trimestre, recomenda urgentes e densas medidas de incentivo à economia. Urge verificar se a receita de 2008 - impulso ao consumo e acesso ao crédito - basta para estancar a queda. E os investimentos na infraestrutura, presidente ? 2. Seria oportuno radiografar todos os setores que enfrentam estrangulamentos. Ouvir suas lideranças, mapear suas demandas. 3. Imagine, presidente, juntar crise econômica com caldeirão político do mensalão. Vossa Excelência, se isso ocorrer, poderá ter uma indigestão no segundo semestre deste ano. ____________
quarta-feira, 30 de maio de 2012

Porandubas nº 317

Meu povo e minha pova Nesses tempos de preparo eleitoral, cai bem essa historinha. Parece absurda, mas é verdadeira. Deixamos de dar os nomes para evitar constrangimentos às famílias. Um ex-prefeito de Aracati, cidade litorânea do Ceará, em comício animado, gritou no palanque : "Meu povo e minha pova. Vou ser reeleito prefeito de Aracati com minha fé e as fezes de vocês". A burocracia tem pernas O cidadão chega à repartição e pede para ver seu processo. Ouve do chefe do departamento : "ah, meu senhor, tem muitos outros na frente do seu. Vai demorar um tempão até ser despachado. Papel, doutor, não tem pernas". Agastado, o interlocutor reage : "e quanto o senhor quer para por dois pés nesse papel?". Tirou do bolso um maço de dinheiro (que já tinha separado em casa para não dar na vista e, de maneira disfarçada, entregou ao sorridente chefe). Tiro e queda. O adjutório fez o papel correr rapidinho com seus dois pés. A corrupção se espraia por todos os lados. Política, sempre uma gangorra A política é uma gangorra. Eleva seus participantes, em um momento, e os rebaixa, instantes depois. Quando se pensa que o fulano está sentado à direita de Deus, Pai, eis que é flagrado na beira da estrada. Vejam os eventos mais recentes. Luiz Inácio, do alto de seu carisma e em plena convalescença, desce um degrau na escada do sucesso. Pediu ao amigo Nelson Jobim um encontro reservado com o ministro e ex-presidente do STF, Gilmar Mendes. Dito e feito. O encontro, um mês depois, veio à tona. Por quê ? Gilmar na onda Gilmar Mendes abriu a expressão por uma razão : percebeu que seu nome estava passando de boca a boca como integrante do círculo de amizades do senador Demóstenes Torres. Mais : que teria marcado encontro com o senador em Berlim. Lula sabia do encontro. Por isso, na conversa teria sugerido - não solicitado - que o mensalão não fosse julgado nesse ano eleitoral. Poderia prejudicar os quadros petistas. O PT quer fazer 1.000 prefeitos municipais. Em troca, poderia dar cobertura a Gilmar, administrando eventual passagem danosa pela esfera da CPI mista. O ministro, ao perceber a insinuação, disse que não havia nada a temer. Lula : "e a visita a Berlim ?", indagou o matreiro ex-presidente. O ministro argumentou que ia sempre a Berlim por ter uma filha morando lá. Rebu Gilmar deu detalhes, como se quisesse comprovar a fala. Lula teria ainda dito que pediria a Sepúlveda Pertence para monitorar a ministra Carmen Lúcia, enquanto ele próprio administraria os ministros Lewandowski e Toffoli. Teria ainda cometido o deslize de dizer que o ministro Joaquim Barbosa era um "complexado". Quanta informação comprometedora. Lula, por meio de seu Instituto da Cidadania, fez o desmentido. O rebu está formado. O encontro realmente ocorreu e os detalhes fornecidos por Gilmar criam um escudo contra falsas versões. O que pode ter ocorrido Digamos que Lula tenha feito uma observação de cunho pessoal. Até aí, tudo bem. Inaceitável é a ideia de sugerir proteção ao ministro. Um jogo de recompensas. Gilmar repeliu a sugestão. Lula deve ter achado que a viagem do ministro a Berlim tenha sido financiada pelo esquema de Cachoeira. Comprou bilhete errado. Gilmar Mendes, por seu lado, caiu numa encruzilhada. Não poderia se negar a um encontro arrumado pelo amigo Nelson Jobim. Que acabou negando tudo. O imbróglio está formado. Vai ter consequências. Perguntinha necessária : Por que Gilmar Mendes passou um mês para dar conhecimento da abordagem feita por Lula ? Só ouviu bochichos a respeito de seu nome um mês depois do encontro ? Efeitos O caso vai render na feira eleitoral. Por mais que Lula se valha de seu cobertor carismático, será difícil cobrir parte do corpo com as chamas da fogueira que acendeu. Projeta-se o efeito sobre a campanha paulistana. Seu candidato Fernando Haddad deverá ser chamuscado. É possível também que o assunto sirva de combustível para acender outras tochas em cidades que abram a polarização PT x Oposições. Outro efeito : o mensalão, agora sim, entra por inteiro na agenda do STF. Que não poderá mais postergar o julgamento. O próprio presidente da Alta Corte, ministro Ayres Britto, acaba de proclamar : a fruta está madura, pronta para ser tirada da árvore. Pérolas do Enem (I) - A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos. - Os estuários e os deltas foram os primitivos habitantes da Mesopotâmia. - O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas. - A Previdência Social assegura o direito à enfermidade coletiva. - O Ateísmo é uma religião anônima. Retrocesso ? A crise na Europa poderá chegar por estas plagas. Há quem defenda a tese de que, desta feita, o Brasil não passará incólume pelo corredor turbulento do euro. Se o país crescer menos de 3% este ano, sob um dólar mais alto - R$ 2,20, por exemplo - o PIB brasileiro atingirá R$ 4,24 trilhões. Em dólares, seria US$ 1,93 trilhão. Com esse PIB menor, o Brasil seria novamente superado pela Grã-Bretanha, Itália e Rússia. Cairia novamente para a 9ª economia mundial. Previsão do bom pensador e diplomata Marcos Troyjo. Caldeirão fervente Junte-se a economia em declínio e a política pegando fogo, sob pano de fundo do julgamento do mensalão em curso, para se ter uma visão do caldeirão fervente em que mergulhará o país nos próximos meses. Claro, isso é apenas a ponta de um cenário. O governo Dilma poderá encontrar a fórmula mágica para segurar o crédito e o programa de bolsas para as margens. Nesse caso, o governismo continuará, faceiro, a desfraldar sua bandeira vitoriosa. No cenário de turbulência, as oposições terão chance de fazer grande baciada de prefeitos. Lula, o articulador O PC do B vinha mantendo conversações com o PMDB de São Paulo para fechar acordo em torno do candidato Gabriel Chalita. A ideia era que o PC do B apresentasse a candidatura a vice na chapa do Chalita. Lula entrou no jogo e desfez as cartas dadas. PSB paulista conversava muito com o PSDB sobre o apoio à candidatura Serra à prefeitura paulistana. Afinal, o secretário de turismo do governo Alckmin é o deputado Márcio França, presidente do PSB paulista. Lula entrou no baralho e redistribuiu as cartas. No Ceará, Lula dará as cartas ao PT para seguir a indicação do governador Cid Gomes para a prefeitura de Fortaleza. Em Recife, idem. Luiz Inácio nem bem se recuperou do grave problema de saúde que o afastou, temporariamente, das lides políticas e começa a sacar a arma, atirando para todos os lados. Pérolas do Enem (II) - A respiração anaeróbica é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos. - O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo. - Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto. - Caráter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais. Aliança das civilizações Amanhã, o vice-presidente da República, Michel Temer, fará a palestra de abertura do Encontro dos Parceiros da Aliança das Civilizações, em Istambul, na presença do primeiro ministro da Turquia, do primeiro ministro da Espanha e do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon e outros chefes de Estado. Esta iniciativa, proposta por José Luis Zapatero, primeiro ministro da Espanha, em 2004, tem por objetivo mobilizar a opinião pública mundial com vistas a superar preconceitos, percepções equivocadas e "polarizações entre o mundo islâmico e o ocidente". Doação O vice-presidente Michel Temer, vai discorrer sobre o Brasil, um país multicultural, plurireligioso e multiétnico, e anunciará a decisão do governo brasileiro de apoiar o novo modelo de desenvolvimento para a Aliança das Civilizações. O Brasil vai contribuir com US$ 250 mil para financiar iniciativas na área da educação. Temer tem participado, em nome do Brasil, de importantes foros mundiais. Régua eleitoral Há 2 meses, a régua eleitoral mostrava a pontuação de 75% a 80% de candidatos situacionistas com grandes possibilidades de vitória em outubro. Esse índice, hoje, está entre 65% a 70%. A persistência (I) A persistência é uma das principais virtudes dos grandes homens. Cristóvão Colombo aferrava-se à obsessão de que poderia chegar ao Oriente pelo caminho do Ocidente. O pensamento não lhe dava trégua. Esta foi a diferença entre Colombo e os seus contemporâneos. Estava convencido. Queria partir. Mas seria forçado a esperar muito. Enquanto aguardava, falava do sonho. D. João II, Rei de Portugal, interessou-se pelo assunto e submeteu o projeto de Colombo a uma junta de sábios. Estes condenaram a ideia. Quando morreu a esposa, Colombo gastou a maior parte de suas economias com o enterro. E foi para a Espanha. A persistência (II) Fernando e Isabel, empenhados em dispendiosa guerra com os mouros, deram apenas meio ouvido à proposta do genovês. A Rainha, entretanto, foi simpática a ele. Concedeu-lhe uma pensão, enquanto a junta de notáveis do Reino estudava o assunto. Depois de dois anos, a pensão foi suspensa. Obrigado a se manter sem ajuda, durante os oito anos seguintes vendeu livros e mapas que confeccionava. Seus cabelos ficaram brancos. Foi atacado pelo artritismo. Mas nunca desesperou. E, um dia, realizou seu sonho. Nomes próprios Abrilina Décima Nona Caçapavana Piratininga de Almeida Acheropita Papazone Adalgamir Marge Adegesto Pataca Adoração Arabites Aeronauta Barata Agrícola Beterraba Areia Agrícola da Terra Fonseca Alce Barbuda Aldegunda Carames More Aleluia Sarango (Próxima lista em outras Porandubas) Lula na 1ª instância ? O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, encaminhará para a primeira instância a representação que pede uma investigação contra o ex-presidente Lula. Ontem, DEM, PSDB, PPS e PSOL protocolaram pedido contra Lula por causa de reunião em que ele teria pedido ao ministro do STF, Gilmar Mendes, o adiamento do mensalão. Gurgel encaminhará o caso para a chefe da Procuradoria da República do DF, Ana Paula Mantovani. O ex-presidente não tem mais foro privilegiado. A decisão terá consequências ? Demóstenes na CPI O senador Demóstenes Torres respondeu a todas as questões que lhe foram feitas na CPI mista. Experiência de promotor. Sensação é a de que a corda no pescoço começa a ser afrouxada. Governadores vão ou não ? Os governadores Marconi Perillo (PSDB), Agnelo Queiroz (PT) e Sérgio Cabral (PMDB) serão convocados pela CPI ? Entre 0 a 10, as chances de permanecerem em seus palácios é de 9. Zé Abelha Eis uma historinha do repertório de Zé Abelha, o nosso mineirinho contador de causos. Dr. Luís da Costa Alecrim, juiz de Direito da comarca de Conselheiro Pena, interroga um cidadão acusado de ter esfaqueado uma prostituta, residente na Boate Luar. - O senhor conhece esta faca ? - Não, doutor, nunca vi essa peixeira. Dr. Alecrim manda recolher o indiciado. Mês seguinte, novo interrogatório : - O senhor conhece esta faca ? - Conheço sim senhor, responde com malícia o indiciado. - Então o senhor confessa a tentativa de homicídio ? - Não senhor ! Eu disse que conhecia a peixeira. Não é aquela que o senhor me mostrou, mês passado ? Conselho aos membros da CPI Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos. Hoje, sua atenção se volta aos membros da CPI : 1. A essa altura do campeonato, poucos acreditam na efetividade da CPI mista. Corre a impressão de que uma gigantesca pizza começa ser a preparada. 2. Se os componentes da Comissão Mista pretendem resgatar a credibilidade, urge retomar o foco, avaliar as investigações já realizadas, convocar os implicados - pertençam a qualquer partido - e fazer os encaminhamentos necessários. 3. Todo esforço se faz necessário para não transformar a CPI em palanque de partidos nesse ciclo pré-eleitoral. ____________
quarta-feira, 16 de maio de 2012

Porandubas nº 316

A circulação do dinheiro Numa pequena cidade, os habitantes endividados passam um momento vivendo às custas de crédito. A sorte chega com um gringo. Que procura o único hotel. O gringo saca uma nota de R$ 100,00, deposita-a no balcão e pede para ver um quarto. Enquanto o turista sobe ao quarto, o gerente do hotel sai correndo com a nota de R$ 100,00 e vai até o açougue pagar suas dívidas ao açougueiro. O açougueiro pega a nota e vai até o criador de suínos a quem deve. Paga tudo. O criador, por sua vez, pega a nota e corre ao veterinário liquidar sua dívida. O veterinário, com a nota de R$ 100,00 em mãos, decide ir à zona pagar o que devia a uma prostituta. Expliquemos : em tempos de crise, a categoria trabalha a crédito. A prostituta sai com o dinheiro em direção ao hotel, onde levava os clientes. Ultimamente, deixara de pagar pelas acomodações. Liquida a conta de R$ 100,00. Nesse momento, o gringo chega novamente ao balcão, pede sua nota de R$ 100,00 de volta, agradece e diz que o hotel não correspondeu às suas expectativas. Sai do hotel e vai embora da cidade. Ninguém ganhou um vintém ! Mas todos saldaram suas dívidas. E, assim, mais felizes, começam a ver o futuro com confiança ! Moral da história : quando o dinheiro circula, não há crise ! ( Historinha de Luis Costa em Leia Comigo) Tempos nublados A definição para esses meados de maio pode ser esta : tempos nublados. Se a observação cai bem sob o aspecto do clima - entre 16ºC a 18ºC - e das nuvens plúmbeas fechando os céus do Sudeste e do Sul, também pode ser usada para definir a temperatura política. Vivemos tempos cinzentos. Não se tem clareza sobre o que poderá advir. Há uma CPI em pleno curso, que ainda não deixa ver limites e horizontes. Além de Demóstenes, alguns deputados, Cachoeira - de onde poderá fluir uma torrente de águas poluídas - a indagação persiste : os governadores Marconi Perillo (PSDB/GO), Agnelo Queiroz (PT/DF) e Sérgio Cabral (PMDB/RJ) serão chamados a depor ? E os braços da Delta em Mato Grosso e outros Estados serão apertados pela CPI ?Grandes dúvidas Os tempos nublados fazem emergir grandes dúvidas : afinal de contas, qual será o impacto das revelações e apurações da CPI das Águas Correntes sobre o processo eleitoral ? E mais : que impacto - influência - poderá ter a CPI sobre o julgamento do mensalão ? Os ministros do STF tenderiam a se sensibilizar com as ondas de indignação que se formam no seio da Opinião Pública, por ocasião das CPIs que ganham alta visibilidade na mídia ? Algumas situações podem ser interpretadas. Este consultor oferece algumas pistas. Aprender a suportar "É preciso aprender a suportar o que não é possível evitar. Assim como a harmonia do mundo, nossa vida é composta de coisas contrárias, e de diversos tons, doces e ásperos, pontudas e chatas, moles e duras. Que poderia exprimir o músico que só gostasse de um tom ? É necessário que saiba utilizar a todos e misturá-los; do mesmo modo nos cabe fazer com os bens e os males que são inerentes à nossa vida. Nosso ser não subsiste sem essa mistura, em que cada parte é tão imprescindível quanto a outra...". (Montaigne) O escudo do governo Ponto um. A imagem da presidente Dilma tende a continuar imune aos abalos e impactos por eventos na frente política. Do alto de sua aprovação, não terá a imagem chamuscada. A população a distingue como governante preocupada em dar eficiência à máquina. Ademais, firmou o conceito de "faxineira ética". Ponto dois. É possível, isso sim, que a agenda do Executivo sofra atrasos em função da CPI ou por conta de desdobramentos nas relações com o Parlamento : liberação de recursos, etc. Ganha força, porém, a ideia de que não haverá veto da Câmara ao veto da presidente ao Código Florestal, se isso efetivamente ocorrer. O próprio PMDB estaria disposto a mudar seu posicionamento. O escudo dos governadores Como deixar de convocar um governador e convocar outro ? Cristaliza-se a tendência de posição homogênea. Se um governador for convocado, outros também o serão. Ou seja, o pau que bate em Chico bate em Francisco. Nesse caso, até Cabral poderá ser convocado a depor, se Perillo e Agnelo entrarem no envelope da convocação. Mais uma projeção : os partidos que integram a Comissão tendem a absolver os comandantes dos Executivos estaduais. O escudo do procurador O procurador-geral, Roberto Gurgel, não deverá ser convocado. Depois do ímpeto inicial do PT, animado e liderando a ideia, constata-se certo arrefecimento. Não seria de bom tom. Ademais, a questão poderia bater no STF e esta Corte tende a abrigar o procurador sob seu escudo com o argumento de que as funções que lhe competem asseguram o direito de não dar depoimento à CPI. O mesmo argumento é usado para evitar a ida de sua mulher, Cláudia Sampaio, subprocuradora da República. A gravidade do senador "Apareça o pregador : se a natureza lhe deu uma voz rouquenha e feições estranhas, se o barbeiro não o barbeou direito, se além disso o acaso ainda o salpicou de manchas, por maiores que sejam as verdades que ele esteja pregando, eu aposto na perda da gravidade do nosso senador." (Blaise Pascal) O escudo de Demóstenes Quebrado. Eis como se apresenta o escudo do senador Demóstenes. E, por isso mesmo, estará sujeito às chuvas e trovoadas da CPI. Deverá ser arrastado pela correnteza que jorra das águas correntes da (o) Cachoeira. Mas o senador vai lutar até a última gota de sangue. Tem DNA de promotor. É perito na arte de acusar e, claro, de colocar curvas em quem o acusa. No mais, ver-se-á um denso acervo no entorno do Direito. Amor próprio Um maltrapilho dos arredores de Madrid pedia esmolas com grande dignidade. Um transeunte lhe disse : "Não tem vergonha de exercer essa infame atividade quando pode trabalhar ?" - "Senhor, respondeu o mendigo, peço-lhe esmola e não conselhos"; e tendo dito isto, deu-lhe as costas, com toda a empáfia castelhana. Era um mendigo orgulhoso esse; pouca coisa bastava para ferir-lhe a vaidade. Por amor de si mesmo pedia esmola; e ainda por amor de si mesmo não permitia que lhe fizesse qualquer reprimenda. (Voltaire) CPI no momento errado ? Dizem que a CPI nasceu sob a vontade do ex-presidente Lula. Que desejava dar uma sinuca de bico em Demóstenes e Marconi Perillo, mesmo sabendo que poderia sobrar veneno na água de Agnelo Queiroz. O fato é que as oposições, até então sem discurso e sem ação, ganharam um copo de vitamina com essa CPI. Se Perillo, do PSDB, está na dança, Agnelo, do PT, está no centro da roda. Ademais, essa CPI cria um clima de indignação que tende a fazer pressão indireta a favor de apurações de ilícitos em todos os campos. Nessa moldura, entra o mensalão. Que estará na pauta do STF logo mais. Não há como protelar a decisão de julgá-lo. O momento é propício. O clima ambiental sugere aperto de parafusos. Condenação a culpados. A impunidade gera revolta no meio da pirâmide. Venda da Delta Até agora é inexplicável a venda da empreiteira Delta ao grupo JBS. A empresa está sendo considerada inidônea. Como o governo dá cobertura - via BNDES - a esse empreendimento ? Um dos acionistas do JBS garantiu que a venda se fez com o endosso do governo. Mais um caso a entrar no rol das explicações. A verdade da comissão Nem bem foi instalada, a Comissão da Verdade já debate sobre as veredas a seguir. Um dos integrantes, o advogado José Carlos Dias afirma que a Comissão apurará questões de todos os lados. Outros integrantes defendem a tese de que o grupo vai apurar os desmandos e os crimes cometidos pela Ditadura Militar. O outro lado, alegam, foi assassinado. Já o Clube Naval vai formar uma Comissão Paralela da Verdade. Militares da reserva vão fazer algum barulho. Acesso à informação O Brasil dá, hoje, mais um passo no território da Cidadania. Começa a valer a lei de acesso à informação. A Constituição prevê que todos os cidadãos têm direito a receber dos órgãos públicos informações do seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade. A lei estabelece obrigações para os órgãos e entidades do poder público quanto à gestão da informação e define os tipos de informação que podem ser solicitadas. Uma das novidades é a obrigação de cada órgão da administração pública criar uma Comissão Mista de Reavaliação de Informações, responsável pela implementação da norma. Maus modos "É indecente expressar com intensidade as paixões que se originam de certa situação ou disposição do corpo, pois não se pode esperar que quem está conosco, não possuindo a mesma disposição, simpatize com elas. Fome intensa, por exemplo, embora em muitas ocasiões seja não apenas natural, mas inevitável, é sempre indecente; e comer vorazmente é universalmente visto como demonstração de maus modos." (Adam Smith) Ficha Limpa no executivo Mais um passo nas veredas da moralização. O executivo quer barrar na administração pública perfis maculados de sujeira. Nos próximos dias, deverá ser produzida a norma para cercear a inserção de pessoas sem ficha limpa nas malhas da administração. Tem lógica a decisão. Se uma pessoa nessas condições não pode ser candidata, da mesma forma deverá ser afastada da função de cuidar da res publica. Tolerância zero : álcool Deve-se mesmo acreditar na hipótese de que o Brasil começa a andar nos trilhos da racionalidade. A defesa da tese de que o cidadão tem liberdade para consumir doses de álcool, evitar o flagrante da embriaguez por meio da recusa do uso do bafômetro, não resistiu a uma audiência no STF, presidida pelo ministro Luiz Fux. Os depoimentos dos convidados fecharam com a posição : tolerância zero para consumidores de álcool que decidem dirigir veículos. E Haddad, hein ? Entremos, mais uma vez, no túnel da campanha de São Paulo. Para uns, o túnel está ainda muito escuro, a essa altura. A escuridão não deixa ver se Fernando Haddad, candidato de Lula e do PT à prefeitura, chegará ao final da jornada eleitoral. O PT abriu, ontem, uma bateria de inserções publicitárias para alavancar o candidato. Somará 15 minutos nos próximos dias. Lula e Dilma aparecerão nos spots. Este consultor acredita que Fernando Haddad chegará aos 25 pontos percentuais, margem que lhe dá condições de entrar no segundo turno. Claro, seu adversário será José Serra. Que contará com o empuxo das máquinas estadual e municipal. Entre 0 a 10, Serra tem 8 pontos na chance de ser um dos disputantes do segundo turno. Testando identidade e imagem Candidato precisa ter forte identidade. Que significa seu conceito. O tronco da árvore. Que lembra semente, história de crescimento, tradição, valores, princípios, caráter. A imagem que projeta é resultante desta identidade. Tênue, a imagem será frágil. Forte, a imagem será clara, retilínea. Que imagens, eleitores, têm os candidatos a prefeito de sua cidade ? Vamos oferecer alguns parâmetros : experiência, conhecimento, força política, tradição partidária, inovação, compromisso com cidade, proximidade do eleitor, firmeza religiosa, apoio de entidades e grupos, arrojo, coragem, honestidade/desonestidade, moral/ética, assepsia, conservadorismo, ficha suja, infidelidade, oportunismo, populismo. Esse acervo serve para enquadrar um perfil. Royalties, Dilma A presidente Dilma foi vaiada e aplaudida, ontem, em Brasília, por prefeitos participantes da 15ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios. Que queriam cobrar sua posição sobre os royalties do petróleo. A presidente irritou-se com os gritos e mandou ver : "Vocês não vão gostar do que eu vou dizer. Não acreditem que vocês conseguirão resolver a distribuição de hoje para trás. Lutem pela distribuição de hoje para a frente". Encerrou o discurso abruptamente. Prefeitos se dividiam entre aplausos e vaias. Trens para a Copa A CAF Brasil, subsidiária da espanhola Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles, está na frente na disputa para execução da obra do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Cuiabá e Várzea Grande/MT visando a Copa do Mundo de 2014. A empresa é uma das integrantes do consórcio VLT Cuiabá, que apresentou o seu projeto ontem à Comissão de Licitação no valor de R$1,4 bilhão. A decisão sairá daqui a 10 dias. Aécio apagado Grande decepção. É assim que muitos enxergam a figura do senador Aécio Neves. Por onde se passa, ouve-se : trata-se de uma figura apagada. Sem brilho. Sem discurso. Uma estrela cadente. Este consultor acha que o senador está perdido no mar. Um naufrago à procura de uma tábua de salvação. Um truque do Padre Vieira O Padre Antônio Vieira, o célebre pregador, escritor, político e diplomata jesuíta, subindo certa vez ao púlpito, iniciou estranhamente o seu sermão exclamando : - Maldito seja o Pai !... Maldito seja o Filho !... Maldito seja o Espírito Santo !... E quando a assistência, horrorizada, pensava que o grande orador houvesse enlouquecido, ele tranquilamente prosseguiu : - Essas, meus irmãos, são as palavras e as frases que se ouvem com mais frequência nas profundezas do inferno. Houve um suspiro de alívio no templo, mas com esse recurso teve Vieira despertada e presa a atenção dos fieis como poucas vezes, por outra via, houvera conseguido. (Narrado por Luis Costa em Leia Comigo) Conselhos aos candidatos Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros da CPI das águas. Hoje, sua atenção se volta aos candidatos : atenção, candidatas e candidatos. Se quiserem receber a atenção do eleitorado, se empenhem em arrumar os traços de sua identidade para que sua imagem possa ser bem recebida. Atentem para estes aspectos : 1. Procurem compor um acervo de valores, princípios e ideias. E sempre que possível tentar expressar tal acervo. 2. Estabeleçam um denso e abrangente programa de ações, contemplando regiões, bairros, classes sociais e categorias profissionais. 3. Identifiquem as lideranças e as organizações sociais que mobilizam e animam as comunidades regionais. Tentem fazer parcerias com os elos da organicidade social. ____________
quarta-feira, 9 de maio de 2012

Porandubas nº 315

Da casa do...! Primeiro mandato de Garibaldi Alves Filho como governador do Rio Grande do Norte. Dava-se a largada dos projetos de aprimoramento dos recursos hídricos do Estado. O coroamento se deu posteriormente com as adutoras que se tornaram uma marca registrada do seu governo. Na cidade de Patu, participando de uma inauguração oficial, Garibaldi foi cobrado do público pelo início do serviço de abastecimento d'água da cidade, esperado com muita ansiedade. Sem se afobar, como é do seu hábito, o governador discursou, pegando carona na cobrança popular e colocando nas palavras indisfarçável irritação : - Vou botar água em Patu nem que a água venha da casa do....! Parou. Sentindo que não podia ir além, o governador repetiu a frase : - Já autorizei Rômulo Macedo a elaborar o projeto e vou botar água em Patu nem que a água venha da casa do...! Parou de novo. Populares na frente do palanque apressaram-se a ajudar o governador : - Da casa do cacete.... O orador, sutil e perspicaz, arrematou : - Eu não queria dizer essa palavra...! Risos gerais. Gari guardara a postura e conseguiu aplausos. (Do acervo de Valério Mesquita) O desempenho da presidente A presidente Dilma Rousseff supera as expectativas no campo da gestão. É o que se infere de conversas com empresários, esfera política e jornalistas. Mexeu no mecanismo da poupança sem o estardalhaço da estabanada era Collor. Com ganhos um pouco mais baixos, a poupança, mesmo assim, continua a ser um bom porto para os investimentos. A presidente, na verdade, quis conter a avalanche que poderia inundar o mecanismo, caso continuasse a oferecer a base de incentivos que proporcionava. Não mexeu nas contas de poupadores antigos. E força a queda dos juros. Colchão social Desenhada a nova arquitetura da poupança - e na esteira de movimentos que tendem a forçar os bancos a diminuir seus spreads - o governo Dilma parte para nova frente : o colchão social. Decide aumentar o Bolsa Família e estabelecer um pacote com ações para a primeira infância - crianças de 0 a 6 anos. Ou seja, o governo ampliará os repasses do Bolsa Família para quem tem filhos nessa faixa etária, além de reforçar oferta de serviços de saúde e educação. O governo fornecerá gratuitamente 3 remédios contra asma, como já existe nas áreas de hipertensão e diabetes. Plasmando a identidade O modus operandi do governo Dilma exibe algumas metas e preocupações : fechar os buracos em toda a malha administrativa ; gerir com parcimônia as demandas políticas ; arrochar os cinturões do governo, particularmente os que circundam os cofres públicos ; avaliar os atrasos nas frentes obreiras ; evitar estouros de contas em algumas frentes ainda sem muito controle ; centralizar processos da gestão. Há críticas a esse modo de governar, particularmente no que toca à excessiva centralização. Diz-se, por exemplo, que a presidente é capaz de passar três horas analisando planilhas, detalhes, curvas crescentes e descendentes. É seu jeito. Por isso mesmo, tem uma visão mais abrangente e plena da administração Federal. Pequena e tão grande Alcides Carneiro, advogado, poeta, político, um dos maiores oradores da Paraíba. Vamos entremear a coluna com algumas de suas frases. "Paraíba : Terra que se fez pequena para não parecer tão grande!" (Durante campanha para a Câmara Federal). "Paraíba que é pequenina na sua configuração geográfica, mas, que é grande no heroísmo dos seus filhos..." Lula sem o viço A continuar nessa modelagem administrativa, não haverá espaço para eventual volta do ex-presidente Luiz Inácio. Que representa um tempo e um estilo de governo. Popular, carismático, discursivo, exuberante, animador de plateias, mobilizador de multidões. Pois bem, esse estilo teve seu espaço e seu tempo. Regressar a ele é, de alguma forma, retroceder. O país agora abre fronteiras no território da racionalidade. Ademais, Lula já não tem o viço, o dinamismo, a força física que exibia para enfrentar os mais espinhosos caminhos. Vê-se um perfil debilitado. Em convalescença. Lula como consultor Por mais que possa ser considerado um paciente curado de grave enfermidade, sobrarão sempre lembranças e resquícios de um ex-doente que não pode e não deve cometer exageros. Dona Marisa Letícia é a primeira a se opor a um programa que ameace debilitar seu marido. Por todo esse conjunto de coisas, o cenário mais viável é o que aponta a permanência de Lula no lugar mais confortável de consultor, orientador, moderador, apaziguador de querelas. Campina Grande Num comício em Campina Grande, Alcides Carneiro falava e foi aparteado por um popular. - "Campina Grande é de Argemiro !..." De imediato respondeu : - "Campina, és muito grande para pertenceres a um só homem...". Enfrentando o aríete político É evidente que os políticos da base tendem a fazer cada vez mais pressão junto ao Executivo para que este atenda seus pleitos e demandas. Na verdade, o que um político quer é que as verbas alocadas para ações e projetos em suas bases sejam liberadas. Ele tem esse direito e pressiona o Executivo, chegando a fazer ameaças de não votar de acordo com a orientação do Palácio do Planalto. Mas teme represálias da opinião pública. Afinal, a presidente surfa numa alta onda de prestígio, hoje em torno de 86% de aprovação. Os políticos não querem enfrentar um governante no auge de sua aprovação. E Dilma, sob esse escudo, vai plasmando a administração à sua imagem e semelhança. Hipótese : a possibilidade de um governante executar com êxito programas e ações é maior quando está no clímax da aprovação popular. A recíproca é verdadeira. CPI das águas correntes Nem bem foi aberta, a CPI das Águas Correntes já cria traumas. Os parlamentares que a integram queixam-se do excesso de vigilância e da falta de dados na sala que guarda os documentos. São obrigados a deixar o celular e outros objetos do lado de fora. Muitos dizem que entrar na sala é um mico. Ocorre que os vazamentos diários, em tempestades torrenciais, não justificam medidas de extremo cuidado como as que estão sendo tomadas. É pouco provável que os documentos ali guardados contenham informações mais bombásticas do que as divulgadas todos os dias. 1º cenário : águas quentes 1º cenário : águas quentes em Goiás. O senador Demóstenes e o governador Marconi Perillo tomarão um banho quente. Demóstenes sairá mais chamuscado do que Perillo. A temperatura de sua imersão deverá ser de 90º C. Água quase em ebulição. Mas o banho de Carlinhos Cachoeira será com água fervendo a 100º C. Já a pele do governador poderá ser preservada com a aplicação de pomadas compradas na lojinha de conveniências. O deputado Carlos Alberto Leréia também aproveitaria a pomada. 2º cenário : águas podres 2º cenário : águas fétidas do Lago Paranoá. O governador Agnelo Queiroz será inundado por águas do lago, mas é bem possível que, na hora H, surja uma canoa saída da lojinha de conveniências recíprocas, guiada pelos partidos, que seria sua tábua de salvação. É possível que o banho do governador respingue em parte de sua equipe. 3º cenário : águas 3º de cenário : Baía da Guanabara esplendorosa. O governador Sérgio Cabral, que adora festas, poderá dar um mergulho na baía, não a ponto de se afogar. Respingos cairão sobre a cabeça do deputado Stepan Nercessian. Cruz das armas Em Cruz das Armas, na campanha política de 1950, iniciado o discurso de Alcides, o tempo mudou e começou a chover. Motivado, Alcides declarou : - "Sou recebido com palmas, bênção dos homens e, sob a chuva, bênção de Deus, que umedece e fertiliza o generoso solo da nossa Paraíba". Perfis Registro, com satisfação, o recebimento do livro do amigo, advogado, ex-ministro do TSE, ex-conselheiro Federal da OAB, membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas e, sobretudo, figura celebrada pelas sementes de amizade que espalha por todos os cantos onde circula, Roberto Rosas : "Perfis do Mundo Jurídico". A obra contempla perfis no Supremo Tribunal Federal ; perfis no Tribunal Superior Eleitoral ; perfis acadêmicos e perfis do mundo jurídico. Editado por Migalhas, 345 páginas. Código Florestal A presidente Dilma tem, até o dia 25 de maio, para se manifestar sobre o projeto do Código Florestal. Certamente fará vetos. A essa altura, há quem diga que a presidente vetará o projeto totalmente. Outros acham que o veto será sobre partes, incluindo o artigo que trata da recomposição de matas ciliares. Mais Alcides "Os que menos recebem, são os que mais agradecem...". "Pedir não ofende, humilha mais a quem nega, do que a quem pede...". "Deus estava irado quando inventou a paixão". Dívida dos Estados O calendário de votação do Congresso está apertado. Ainda mais tendo pela frente o desdobramento (imprevisível) da CPI do caso Cachoeira. Haverá recesso parlamentar em julho, enquanto o segundo semestre será praticamente dedicado às eleições municipais. Deputados e senadores querem ajudar seus candidatos, sendo que muitos parlamentares (da Câmara) serão, eles mesmos, candidatos. O governo se angustia ante a necessidade de se aprovar, ainda este ano, a mudança no indexador da dívida dos Estados com a União e as novas regras de rateio do Fundo de Participação dos Estados. Por determinação do Supremo Tribunal Federal, deveriam ser aprovadas até dezembro. 2º turno paulistano Grande dúvida cerca o pleito paulistano, principalmente o segundo turno. Entre 0 a 10, o candidato tucano José Serra ganharia, hoje, nota 8 como provável candidato ao segundo turno. A questão é : quem disputaria com ele ? O PT aposta em Fernando Haddad, confiando nos 30% históricos de intenção de voto que o partido arruma em São Paulo. Desta feita, porém, a dúvida se instala com mais intensidade, eis que o ex-ministro da Educação patina em parcos 4% a 5%. Lula teria condições de levá-lo nas costas ? Muitos garantem que sim. Há controvérsias. Por isso, cresce a expectativa em torno de Gabriel Chalita. Que já anuncia o cenário : teria o apoio do PT contra Serra no segundo turno; ou teria o apoio do tucano Alckmin, governador e poderoso, contra Haddad, se este desbancar o Serra. Difícil de apostar nesse momento. Recorde de público Esta coluna registra dois aniversários, semana passada, que bateram recorde de convidados : o do presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, pré-candidato do PTB à prefeitura de SP, e o do deputado Gabriel Chalita, pré-candidato do PMDB. Compareceram aos eventos cerca de 2 mil pessoas. A festa no Jockey Club para D'Urso reuniu muitas personalidades, entre os quais o vice-presidente Michel Temer, o governador Alckmin, o prefeito Kassab, os candidatos José Serra (PSDB), Celso Russomano (PRB), deputados Federais e estaduais, vereadores e secretários de Estado, e de Gabriel Chalita, que também recebeu, dias depois, no bar Brahma, o abraço de importantes figuras da vida pública, a partir do vice-presidente Temer. Paes em paz ? Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, candidato à reeleição pelo PMDB, não deverá ser atingido por eventual borrasca a cair sobre Sérgio Cabral, governador. Hollande e a realidade François Hollande ganhou as eleições francesas com um discurso focado para a quebra de austeridade. Sua visão é de que não é com ortodoxia que a Europa sairá da crise que aperta suas finanças. Os gregos fazem a ele um desafio : apoiar os partidos gregos que também rejeitam a austeridade. Pedem que ele não endosse a firme decisão da primeira ministra alemã, Ângela Merkel, que é a de apertar os controles e equilibrar os orçamentos. Significaria extraordinário esforço para renegociar o pacto fiscal da União Europeia. A dúvida entre afrouxar e apertar - eis o manto que cobre o perfil do socialista Hollande. Selo de qualidade : empresas contábeis Hoje, será realizada no Expo Transamérica, em São Paulo, a 7ª edição do Programa de Qualidade de Empresas Contábeis (PQEC 2012). Serão mais de 400 organizações certificadas com o selo que garante a excelência dos serviços prestados na área da contabilidade. "Com a velocidade da informação e o aumento da exigência dos consumidores, a qualidade dos serviços passou a ser fundamental para o sucesso das organizações", afirma José Chapina Alcazar, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon/SP) e idealizador da premiação. Parte das empresas certificadas conquistarão também o selo internacional ISO 9001:2008, fruto de uma parceria entre o Sescon/SP e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O evento contará com o show da dupla Victor e Leo. São esperadas 4,5 mil pessoas. Bom samaritano A China começa a adentrar o território das boas ações. Incentiva com dinheiro a quem pratica as virtudes do bom caráter. O brasileiro Mozer Rhian Oliveira, 27 anos, gaúcho, evitou que uma chinesa fosse furtada na rua. Levou uma surra dos larápios sob os olhares de transeuntes que não lhe prestaram nenhum socorro. O governo chinês reconheceu a boa ação e, como estímulo e reconhecimento, lhe deu 50 mil yuans, R$ 15,2 mil. Será que essa prática seria bem acolhida por estas plagas ? Tenho, aqui, minhas dúvidas. Sanatório para tuberculosos "Esta é uma casa que por infelicidade se procura, mas por felicidade se encontra". Hospital dos servidores "Este hospital nasceu da bondade dos que sentem e viverá da confiança dos que sofrem". Alcides Carneiro, um grande tribuno. Conselho aos membros da CPI das águas Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Ministério Público. Hoje, sua atenção se volta aos membros da CPI das águas : 1. Estejam atentos ao que é principal e ao que é acessório. Procurem ajustar o foco para as questões centrais, evitando que as querelas partidárias acabem canibalizando as investigações. 2. Há muitas informações vazando pelos ralos dos investigadores. A essa altura, a teia é tão cheia de fios, que chega a confundir os mais experientes leitores. Procurem separar os fios de cada rolo. 3. Não se deixem levar pela fosforescência midiática. Ajam como parlamentares na função investigativa. Sem excessos. Sem maneirismos. Sem manobras que possam prejudicar o andamento das apurações. ____________
quarta-feira, 25 de abril de 2012

Porandubas nº 314

Escola para quê ? O presidente Dutra tinha um auxiliar capixaba, oficial do Exército, gago. Quando Dutra dava uma ordem, ele ficava mais gago ainda. Resolveu dar um jeito de curar a gagueira. Soube que o Méier tinha uma escola para gagos, tocou para lá. O endereço que levou não coincidia. Procurou no bairro todo, nada. Foi ao português da esquina, desses de bigode e tamanco, cara de quem desceu na praça Mauá : - O sesenhor popopodia me inininformar se aaaqui temtem uma escola para gagagago ? - Mas o senhor já fala gago tão bem, para que quer escola ? (Do acervo do imperdível Sebastião Nery). CPI das Águas Correntes A CPI do Cachoeira, que pode também ser chamada de CPI das Águas Correntes, se apresenta como uma borrasca que pode ser devastadora ou chegar à praia sem estardalhaço. Grandes dúvidas cercam a movimentação de deputados e senadores. O PMDB e o PT darão as cartas, eis que contam com ampla maioria dos membros da CPI mista. Mas as oposições - PSDB e DEM - tentarão agitar as ondas. Quantas frentes serão abertas de início ? Eis uma grande dúvida. O presidente, senador Vital do Rego (PMDB/PB), e o relator, deputado Odair Cunha (PT/MG), terão muitas dores de cabeça. 4 sub-relatorias O PPS, por meio do líder Rubens Bueno, sugere a criação de quatro sub-relatorias : 1) Movimentação financeira, responsável por analisar as quebras de sigilo bancário e fiscal; 2) Contratos, para investigar negócios entre as empresas ligadas ao esquema, com a construtora Delta, e governos Federal, estaduais e municipais; 3) Jogos ilegais e loterias, para esmiuçar o funcionamento do esquema de contravenção e de loterias estaduais comandado pelo grupo de Cachoeira e 4) Normas de combate à corrupção, responsável por elaborar sugestões da CPMI para o combate aos crimes de colarinho branco. Mensalão em plenário É bem razoável apostar na hipótese de que o mensalão abrirá um nervoso segundo semestre. O ministro Ricardo Lewandowski afastou-se do corpo do TSE para ter mais tempo e fechar seu parecer. Entenda-se : será o parecer do revisor. Que não anulará o ponto de vista do relator do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, hoje vice-presidente do STF. O ministro Barbosa deverá logo mais apresentar seu relatório. Pode-se inferir que deverá ser um documento forte. Lembre-se que o ministro foi promotor. Acostumado a fazer a defesa da sociedade. O novo presidente do STF O novo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Ayres Britto, é um humanista por excelência. Seu discurso de posse é uma obra-prima. Arriscou-se a sair da abordagem meramente jurídica para abrigar vertentes mais largas nas áreas do conhecimento. Mostrou que sabe interpretar a alma. Sua visão holística contemplou eixos da sociologia, da antropologia, da neurociência e, até, da física quântica. Sem falar nos largos vãos do canto poético com os quais emoldurou a sua peroração. Teremos por apenas 7 meses um perfil de grande intérprete do ser humano e da vida coletiva no comando da mais alta Corte. Um nome que orgulha a Nação. Um freio à corrupção Uma comissão de juristas, sob encomenda do Senado, está fazendo uma revisão no Código Criminal. E abre importante capítulo na história de combate à corrupção. Juiz ou servidor público que exibir patrimônio incompatível com sua renda - a renda declarada na Receita Federal - será levado às barras da Justiça, podendo receber pena de até 8,5 anos de prisão, além da perda de bens adquiridos ilegalmente. Trata-se de mais um passo na trajetória de combate à corrupção no país. O Brasil, dessa forma, alinha-se à tendência mundial na punição ao enriquecimento ilícito. Barbosa versus Peluso A querela entre dois ministros da Suprema Corte é ruim para a imagem de ambos. E, de certa forma, a contenda acaba batendo na imagem do Judiciário. O ministro Carlos Ayres Britto, além de suas imensas responsabilidades e atribuições funcionais, desempenhará mais um papel importante : o de ser algodão entre cristais. Xaxixo Antônio Constâncio de Sousa, deputado pelo antigo PSP (PR), pediu um aparte a Armando Queiroz, líder do então governador Ney Braga na Assembleia Legislativa . - Não dou o aparte, não. V. Exa. não está à altura de participar dos debates. V. Exa. não é capaz de citar uma palavra com 3 x. - Sou, sim. Xaxixo. Pensava em salsicha. Código Florestal Se o Código Florestal contemplar a anistia aos desmatadores, nos termos do relator, deputado Paulo Piau (PMDB/MG), a presidente Dilma revogará a medida por meio de Medida Provisória. Lembre-se que a presidente aprovou a exclusão de pequenos produtores da obrigatoriedade de recompor as matas nativas desmatadas de maneira ilegal, mas exigiu a manutenção da regra para os demais produtores. Operação militar A tarefa de uma operação militar é dissimuladamente concordar com as intenções do inimigo... chegar ao que eles querem primeiro, para sutilmente antecipá-los. Manter a disciplina e adaptar-se ao inimigo... Assim, no princípio você é como uma donzela e o inimigo abre a porta. A seguir, você é como um coelho solto, para que o inimigo não possa impedi-lo de entrar. (Sun-Tzu, século quarto a.C.) O papel de Lula O ex-presidente Luiz Inácio, mesmo com a imensa vontade de alavancar a performance do PT neste ano eleitoral, terá papel limitado. Ele sabe que, agora, tem limites muito bem definidos. Não poderá exagerar no verbo. Os palanques deverão ser limitados. Dona Marisa é cheia de cuidados. Lula deverá, isso sim, dar um pouco mais de esforço em São Paulo. Fernando Haddad tem pouca visibilidade. Lula quer arrastá-lo ao patamar dos 30% históricos do PT. Deverá conseguir. Torresmo no angu Deus não manda cozido nem assado.Com menino e com muié, orelha em pé.Galinha velha é que dá bom caldo.Dois tatus machos não moram num buraco.Quando o mar briga com a praia quem apanha é o caranguejo.Quem fala muito, dá "bom dia !" a cavalo.Quem nasce torto morre envergado.Debaixo desse angu tem torresmo. (No Tempo de Lampião - Leonardo Mota) Pegadinhas nos bancos Os bancos expandem a propaganda sobre juros, chamando a atenção da clientela com o mote : os juros caíram. Pegadinha : juro pequeno só para empréstimos de curto prazo; ou tempo mínimo de conta no banco. Em alguns bancos, a nova taxa é para quem está no negativo e está usando mais de 50% do limite há dois meses. Nesse caso, o banco faz um CDC em 24 parcelas a 3%. Dá aqui e toma acolá. Em outros bancos, os novos percentuais são concedidos para quem dividir o pagamento em quatro prestações. Rio +20 Aguarda-se a presença de 135 autoridades na Rio+20. A ONU confirmou presença de muitos chefes de Estado e de seus vices. O Rascunho Zero, de 19 páginas, primeira versão do documento que deverá ser debatido na Conferência, tem sido muito criticado por ambientalistas. Deverá ser fechado entre 13 e 15 de junho. O evento ocorrerá entre 20 e 22 de junho. ACM Neto sem PMDB Está cada vez mais difícil - quase impossível - uma aliança entre PMDB e DEM para a prefeitura de Salvador. O DEM lançou o deputado ACM Neto. O PMDB esperava ser chamado para debater a aliança. Foi tomado de surpresa. É mais viável uma aliança com o PSDB. Atualmente, o PMDB pensa em lançar Mário Kertész e o PSDB, Antônio Imbassahy. PSB e PT O jogo entre PSB e PT está confuso no meio de campo. O PT tenta fazer com que seus correligionários apoiem candidatos do PSB nas capitais para, em troca, conseguir o apoio deste partido ao seu candidato em São Paulo, Fernando Haddad. Não está sendo fácil. O populismo argentino Cristina Kirchner vive dias de glória. Tomou para o Estado argentino a fatia espanhola da YPF. A Espanha se esforça para retaliar. Defende que a União Europeia negocie com o Mercosul sem a presença da Argentina. Mas o Brasil também está, há tempos, sob o chicote argentino. Máquinas agrícolas, móveis e carne suína do Brasil esperam há um ano para entrar nesse país "irmão". Não passam pela aduana. Cristina, dessa forma, ganha mais aplausos das massas. Resgata o velho peronismo. Aliás, suas falas são emolduradas com a foto, ao fundo, de Evita Perón. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Norte-Sul E a ferrovia Norte-Sul, hein ? As obras da ferrovia Norte-Sul, fundamentais para a logística e a redução do "custo Brasil", estão praticamente paradas. Motivos ? Projetos não disponíveis, desapropriações em atraso, falta de empenho de verba, falta de coordenação administrativa da VALEC, contratante das obras. Todos estão bem intencionados. Ocorre que processos simples permanecem sem solução pela falta de diálogo entre diretores e equipes de campo. Algumas empresas contratadas já admitem que serão obrigadas a abandonar a obra. Em termos de prazo, obras que deveriam permitir operação de trens em 2012 não estarão realizadas antes de 2014. Triste destino para um empreendimento que seria um símbolo das grandes realizações do PAC. Brasil ameaça borrar sua imagem. Pagot mira PR Luiz Antonio Pagot, que saiu do DNIT sob bombardeio, espera a vez de ser chamado pela CPI mista para abrir o bico. Infere-se que atirará no PR com balas de alto calibre. Pagot quer "pagar" o preço que lhe cobraram. Advocacia solidária Esta coluna abre espaço para o Grupo da Advocacia Solidária. O que faz essa turma ? Trata-se de um grupo de jovens advogados e estudantes que compreende a solidariedade como sendo um valor imprescindível ao exercício da profissão de advogado. Os líderes Marco Antônio Moreira da Costa e Pedro Guerra explicam : "compreendemos que o advogado deve ser livre para desempenhar seu ofício solidariamente a tantos quantos quiser. Pretendemos desmistificar algumas 'verdades' que fundamentam visões corporativas, desumanas e inconstitucionais. Finalizamos recentemente uma parceria entre a Advocacia Solidária e a Defensoria Pública do Estado de São Paulo para promovermos palestras em instituições de ensino superior pelo Estado de São Paulo sobre o tema Ampliação do Acesso à Justiça". Tape os ouvidos Em Morro Agudo, a 80 quilômetros de Ribeirão Preto/SP, havia um comerciante e chefe político muito ativo, de muito prestígio, mas analfabeto. Tinha um empregado que lia as coisas para ele. Um dia, o comerciante brigou com a mulher, separaram-se, contrataram advogados, foram para a Justiça. E, de repente, chegou uma carta dela de inúmeras folhas, passando a limpo (ou a sujo) os longos anos de vida em comum. Ele não poderia dar ao empregado para ler, chamou o melhor amigo : - Você pode ler esta carta para mim ? Mas você vai me fazer um favor. Eu sei que ela vem falando tudo, contando tudo. Então você leia alto para mim, mas tape os ouvidos. Conselho aos membros do Ministério Público Nos últimos tempos, temos visto se espraiar um denuncismo que, em muitos casos, ultrapassa os limites das boas regras do Direito e da Justiça. O Brasil precisa, sim, ser passado a limpo. E, para esta tarefa, é imprescindível a atuação firme dos membros do Ministério Público. Recomenda-se, apenas, que se pautem pelo bom senso. Nesse sentido, a coluna sugere : 1. Tenham cuidado e ajam com responsabilidade ao oferecer denúncia contra qualquer cidadão. A prova material é fundamental para amparar as ações previamente planejadas. 2. Ilações ou prejulgamentos constituem um perigo por ferir preceitos constitucionais. É bom lembrar que o Inciso LVII do art. 5º da CF preconiza : "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória". Inverter a norma significa agir de maneira irresponsável e incompatível com a função. 3. Urge ser humilde, evitar a arrogância e a prepotência. O prestígio da Instituição foi alcançado com muitas lutas. Cuidado para não mancharem a imagem desse Instituto que faz a defesa da sociedade. ____________
quarta-feira, 18 de abril de 2012

Porandubas nº 313

Vendendo aspirador de pó A dona de casa, em um vilarejo, ouve alguém batendo palmas em sua porta... - Ó de casa, tô entrando ! Ela se depara com um homem que vai entrando na casa e joga esterco de cavalo em seu tapete da sala. A mulher apavorada pergunta : - O senhor está maluco ? O que pensa que está fazendo em meu tapete ? Sem deixar a mulher falar, o vendedor deita o verbo : - Boa tarde ! Eu estou oferecendo ao vivo o meu produto ; e vou provar pra senhora que os nossos aspiradores são os melhores e mais eficientes do mercado, tanto que vou fazer um desafio : se eu não limpar este esterco em seu tapete, eu prometo que irei comê-lo ! A mulher se retirou para a cozinha sem falar nada. O vendedor curioso, perguntou : - A senhora vai aonde ? Não vai ver a eficiência do meu produto ? A mulher responde : - Vou pegar uma colher, sal e pimenta e um guardanapo de papel. Também uma cachaça para te abrir o apetite, pois aqui em casa não tem energia elétrica ! Moral da história : conheça o seu cliente antes de oferecer qualquer coisa. ____________ A CPI de águas turbulentas A CPI do Cachoeira vai inundar muitos espaços. À guisa de lembrança, o jorro d'água abrirá alguns braços formando : 1) o rio Demóstenes; 2) o lago Perillo; 3) a lagoa Agnelo; 4) o arquipélago Delta; 5) os riachos da Câmara e 6) ramificações aqui e acolá. O senador Demóstenes Torres, com grande experiência no Ministério Público, vai usar tudo que sabe do campo das letras jurídicas. Os governadores Marconi Perillo e Agnelo Queiroz contarão com boas estruturas de defesa. O arquipélago Delta tem um arsenal insuperável para brigar. Os parlamentares envolvidos da Câmara poderão ser acolhidos no abrigo do corporativismo. A CPI vai ferver água durante boa parte do ano. A tormenta do mensalão Há, ainda, dúvidas sobre as águas que rolarão da montanha do mensalão. Não se sabe se virá um tufão ou um tsunami. Na incerteza, pode-se apostar em tormenta. Claro, se o julgamento começar neste semestre. Carlos Ayres Britto, que assumirá a presidência do STF amanhã, pensa em iniciar o julgamento agora em junho. Tudo depende da liberação do processo para análise do plenário da Corte. Liberação que está nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski. Ainda há gente querendo apor novo conjunto de provas. O advogado Tolentino, ex-sócio de Marcos Valério, é o autor deste novo capítulo. Visão técnica e visão política Começa a guerra de grupos, facções, núcleos e partidos. Distingue-se, por parte do PT, o interesse em pressionar os membros do Supremo para que analisem o mensalão sob a exclusiva ótica técnica. Os implicados que integram o PT acreditam que, sob os parâmetros da técnica, o STF não encontrará provas da existência do mensalão. Ora, mas esse processo, pelo que se sabe, não pode ser apartado da visão política - que implica conluios, rede de interesses manobrada por recursos financeiros, pressões partidárias. O fato é que intermediação política foi comprovada. A engenharia jurídica deverá encontrar meios para demonstrar a existência do fenômeno. Agora, dizer que o mensalão foi apenas o uso de caixa dois é - como se diz - substituir a versão pela verdade. O caldo geral O que sairá do caldeirão onde estarão sendo cozidos os condimentos do mensalão e da CPI mista do Cachoeira ? Pergunta difícil de responder. Mas é possível alinhar o pano de fundo para eventuais respostas. Primeiro : o governo irá colaborar para deixar a água ferver e transbordar, queimando quem deve ser queimado, ou deverá se esforçar para acender um fogo lento ? A água fervente transbordando poderá prejudicar o fluxo parlamentar e, consequentemente, a carruagem administrativa. Segundo : as insatisfações da base parlamentar serão administradas ? Se a indignação continuar, o risco de o governo ser prejudicado é real. Particularmente no que diz respeito à principal empreiteira do PAC, a Delta, que teria recebido cerca de 800 milhões de reais. Terceiro : as investigações podem trazer revelações bombásticas e, nesse caso, os horizontes serão escuros como trevas. E as eleições ? Costumo lembrar que o eleitorado brasileiro, bombardeado todos os dias por denúncias de desvios e corrupção, fará uma distinção entre a deterioração política generalizada e as demandas que afligem seu cotidiano. Ou seja, o discurso local predominará sobre o discurso abrangente. A micropolítica suplantará a macropolítica. As necessidades dos bairros e regiões - creches e escolas, transporte, estabelecimentos hospitalares, alimentos baratos, segurança e proteção - influenciarão mais os eleitores que as maracutaias e redes de corrupção. Jogo partidário PT e PMDB disputam a possibilidade de fazer o maior número de prefeitos. O PT é mais fechado, o PMDB mais aberto; aquele olha mais para si; este vê também os outros. PSB, por sua vez, olha para a esquerda e para a direita, abrindo brechas por todos os lados. PDT, PTB, PR terão menores chances. E as oposições ? O PSDB tende a perder espaços, com exceção de São Paulo, Paraná e Goiás. O DEM é quem mais perderá. Até poderá fazer bonito em algumas - poucas capitais e cidades médias. O PSD vai depender do tempo de TV e rádio. DEM e PMDB As conversações em torno de eventual e futura fusão entre PMDB e DEM estão avançadas. PMDB é mais preferido pelo DEM que PSDB para efeito de fusão. Prestígio de Dilma A presidente Dilma atingiu o maior pico de aprovação popular já alcançado por um presidente nas últimas quatro décadas : 76%. Colada à imagem a tinta da faxina ética. A crise que abate atores políticos não chega nem perto à imagem presidencial. Com essa bagagem de apoio, ela faz o que pensa e quer. A base governista teme fazer represálias quando não se sente atendido em suas demandas. Espera que o tempo traga algum desgaste à presidente. O fato é que sob o escudo de alto prestígio, a presidente Dilma tem definido a pauta que quer e escolhido o roteiro de percurso sem dar muita bola às pressões. PMDB contido O PMDB é um partido que contém seu ímpeto. Não está satisfeito com a conduta do governo, que diz governar com o PMDB. Este partido sabe que não é verdade. Diminuiu seu espaço na administração em mais de 40% quando comparado ao espaço que detinha no governo Lula. Ideli Salvatti é a ministra mais repudiada pelo partido. O jantar de Ideli Na noite em que o PMDB comemorava seus 46 anos, com a presença do vice-presidente da República, Michel Temer, Ideli jantava com um grupinho de peemedebistas descontentes. É claro que o "ágape idelístico" gerou indigestão em estômagos do partido. Por um bom tempo, o líder Henrique Alves deixou de atender telefonemas da ministra, que queria se desculpar. Panos quentes foram jogados sobre a mesa. EMTUpidas...! Há alguma coisa confusa na EMTU. Foram divulgadas as exigências para as empresas que fariam a supervisão e fiscalização da construção e reforma das subestações elétricas de um corredor de ônibus, aliás, um importante investimento para a melhoria do transporte urbano. O estranho é que a única empresa a atender todas as exigências foi uma especializada em Saneamento e não no objeto da licitação. Onde estamos, a que país pertencemos ? Gestão comunicante ? A CPTM criou um setor de "Gestão de Meio Ambiente". Parabéns. Agora, colocar este setor sob a direção de um comunicólogo não é arriscado ? Será que, em uma mesma diretoria, engenheiros, biólogos e comunicólogos falarão a mesma linguagem ? A intenção parece boa. Mas, o tempo é o senhor da razão. Veremos como funcionará. ABSESP Nesta quarta-feira, a Associação Brasileira dos Sindicatos e Entidades de Segurança Privada, fundada em 2010 e presidida pelo empresário José Adir Loiola, inaugura sua sede em Brasília/DF. Há tempos o segmento de segurança privada carecia de uma representação nacional que correspondesse à altura de sua importância econômica. A ABSESP vai representar mais de 80% do mercado de segurança privada em 18 estados brasileiros. No Brasil, o efetivo da segurança privada é de 540 mil vigilantes trabalhando em 1.500 empresas autorizadas a funcionar pela Polícia Federal. PSD e a decisão TSE O PSD do prefeito Gilberto Kassab tem esperança de ganhar tempo de mídia eleitoral. TSE julga o caso. O DEM argumenta que o tempo de TV e rádio e os recursos partidários são estabelecidos a partir das cotas alcançadas pelos partidos nas eleições. O PSD alega que, ao ser criado dentro da lei e das regras eleitorais, deve receber não apenas os migrantes partidários, mas os direitos que eles detinham. Se o parlamentar deixa legalmente um partido deve carregar com ele todos os direitos que tinha. Haddad avançará ? Dúvida no ar : Fernando Haddad avançará ? Hoje, tem 3% de intenção de voto. Este consultor avalia que o candidato petista tende a alcançar os 30% que o PT, historicamente, alcança na capital. Chalita e Serra Se, por um acaso, não for Haddad e sim Gabriel Chalita o opositor de José Serra, no segundo turno, o tucano tem grandes chances de.... perder o pleito. Tipologia eleitoral 1. O continuista - Candidato à reeleição na prefeitura, máquina a serviço da candidatura, cabos eleitorais multiplicados, o continuista tem grandes vantagens sobre outros. Particularmente se construiu forte identidade junto à comunidade. Pontos fortes : ações e obras a mostrar. Pontos fracos : mesmice e eventuais denúncias de corrupção/nepotismo, etc. 2. O oposicionista - Deve encarnar situação de mudança, troca de peças velhas na máquina administrativa. Para ter sucesso, precisa captar espírito da comunidade, auscultar demandas, fazer um corpo a corpo, deixar-se mostrar, ganhar confiança do eleitor. Pontos fortes : alternativa à velha ordem; encarnação do espírito do novo. Se for um perfil já conhecido, impregná-lo com o verniz da renovação. Pontos fracos : pequena visibilidade; estruturas de apoio mais tênues. 3. A terceira via - O candidato da terceira via apresenta-se como perfil para quebrar a polarização entre situação e oposição. Para angariar apoio de todos os lados, carece organizar um discurso moderado, ouvindo todos os segmentos, buscando uma linha intermediária. E demonstrar que tem melhor programa do que os dois candidatos. Pontos fortes : bom senso, alternativa à polarização acirrada entre grupos, inovação. Pontos fracos : falta de apoios das estruturas. Estratégias e táticas Candidatos de todos os partidos ganham mais força quando estabelecem planejamento de suas campanhas. Pequenos conselhos : - Buscar o apoio de entidades organizadas da municipalidade - sindicatos, associações, federações, clubes, movimentos, núcleos; - Montar sistema de aferição (pesquisa) de modo a mapear demandas e interesses dos bairros e regiões; - Estabelecer um programa abrigando ações e projetos específicos para as áreas e elegendo como focos determinados setores da sociedade (mulheres, crianças, jovens, etc.); - Criar agenda de eventos - pequenos eventos, bem articulados, com pequenos grupos, de forma a estabelecer forte interação entre os interlocutores; mais eventos pequenos funcionam melhor que eventos grandes; - Criar forte identidade - eleger dois ou três grandes eixos que possam identificar rapidamente o candidato, de forma a estabelecer um diferencial em relação a outros; - Escolher um grupo de conselheiros entre os nomes mais respeitados da comunidade e que sirva de referência; - Estabelecer um fluxo de comunicação para a campanha, obedecendo aos ciclos : lançamento do nome; crescimento da campanha; consolidação da visibilidade; maturidade; clímax da campanha e declínio. Deixar volumes maiores para as últimas fases; - Formar ampla rede de apoiadores/cabos eleitorais de confiança, fazendo com que cada eleitor seja, ele mesmo, um cabo eleitoral; - Formar uma teia de divulgadores/trombetas de campanha, pessoas que começam a falar das virtudes e qualidades do candidato, de modo natural, conquistando, assim, a simpatia dos ouvintes. Sem demonstrar arrogância; - Planejar o dia D. Dia das Eleições. Logística, visibilidade/publicidade (controlada), sistemas de articulação/mobilização/apuração, etc. Conselho aos membros da CPI Os componentes da CPI mista, a ser criada para investigar as denúncias envolvendo Carlinhos Cachoeira, serão muito pressionados por partidos e sistemas de forças. Por isso, precisam se guiar por um conjunto de princípios e ideias, dentre os quais : 1. Definir de maneira criteriosa a pauta da CPI, nomes e estruturas a serem investigadas. 2. Estabelecer um prazo para finalização dos trabalhos. 3. Evitar tumultos e balburdias que possam vir a prejudicar o andamento dos trabalhos e a comprometer a própria CPI. ____________
quarta-feira, 4 de abril de 2012

Porandubas nº 312

Mais ignorante não é O famoso Padre Levy, que gostava mais de voto do que de Deus, era candidato a deputado estadual na região de Patos, na Paraíba. Disputava a eleição com o deputado José Gaioso, velho sertanejo atrasado e desabusado. Na campanha, o Padre Levy fez, com sucesso, uma passeata de jumentos em Santa Terezinha, então distrito de Patos. Os aliados de Zé Gaioso cobraram dele uma reação. Zé Gaioso mandou arranjar um burro novo, forte, para atravessar a vila e chegar à feira montado. Quando montou, o burro saiu pulando e derrubou Zé Gaioso na frente de todo mundo. O deputado mal conseguiu levantar-se, todo quebrado e dolorido. Avançou no burro, pegou uma orelha, deu uma dentada que lhe deixou sangue escorrendo na boca e gritou bem no pé da orelha : - "Você pode ser mais burro do que eu. Mas mais ignorante não é não." (Do grande narrador Sebastião Nery) Demóstenes e as oposições As oposições saem feridas do tiroteio que abate o senador Demóstenes Torres. A razão é simples : ele encarnava um canhão das oposições. Atirava quase todos os dias no governo e nas malfeitorias que enxergava. Logo, seu nome se incrusta no arsenal oposicionista. Derrubado, o senador goiano atinge, na queda, o baluarte que fustigava os paredões situacionistas. O DEM, que pediria a expulsão do senador da sigla caso ele não houvesse se antecipado, mesmo assim sai chamuscado do episódio. Como já o fora por ocasião da renúncia do governador do DF, José Roberto Arruda. O novo artilheiro O presidente do DEM, que acumula a liderança do partido no Senado, José Agripino, vai de ter de esperar um pouco até poder recuperar o poder de fogo. Porque sair atirando agora, quando um de seus companheiros é flagrado em gravações comprometedoras pela PF, seria um bumerangue. O projétil acabaria caindo sobre sua cabeça. Por isso, as oposições vão ter de procurar um novo artilheiro. Quem se habilita ? Aécio Neves, que já começou a disparar tiros mais fortes ? Aécio é mineiro. E mineiro acaba embalando o tiro em pacotes de algodão. Para amortecer o impacto. Usando as próprias pernas Se quereis atingir as alturas, usai as vossas próprias pernas. (Nietzsche em Zarustra) Situação confortável Vejamos, agora, o affaire Demóstenes sob a perspectiva do situacionismo. Parcela expressiva de governistas gostaria de apertar os cinturões do governo Dilma. Os deputados queixam-se de que as verbas aprovadas no Orçamento são liberadas a conta-gotas. Deram alguns recados. E aí os recursos começaram a ser despejados nas regiões. Mas continua a existir certa má vontade do Executivo para com as demandas parlamentares. Daí o motivo de continuada insatisfação. Mas o episódio que assola o senador goiano acaba contribuindo para arrefecer ânimos situacionistas mais exaltados. Ou seja, na esteira do enfraquecimento das oposições, os governistas mais aguerridos também perdem fôlego. Pacote cheio Desta vez, ao que parece, o pacote para amparar a indústria veio cheio. O governo deixará de arrecadar cerca de R$ 10 bilhões. Entre as medidas, uma é bem expressiva : desonerar empresas de 15 setores mais afetados pela crise da economia mundial (11 setores e mais quatro contemplados no programa Brasil Maior - confecções, couro e calçados, tecnologia da informação e "call centers"). O governo libera-as do pagamento dos 20% de contribuição patronal do INSS, barateando, assim, o custo do trabalhador. Atraso nas obras As obras para a Copa do Mundo de 2014 estão muito atrasadas. Faltando 800 dias para o início da competição, 8 das 12 arenas exibem apenas 50% de realização. Só duas obras estão mais adiantadas : o estádio Castelão, em Fortaleza (60,4%) e os estádios de Belo Horizonte e Salvador, ambos com 55%. O de Brasília está com 54%. Os mais atrasados são os estádios do Beira-Rio, em Porto Alegre, com 20%; a Arena das Dunas, em Natal, com 20,5%; o Itaquerão, em São Paulo, com 30% e o Maracanã, no Rio de Janeiro, com 39%. Razão e loucura Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre, também, alguma razão na loucura. (Nietzsche em Zaratustra) Pré-candidatos Há 131 pré-candidatos no Congresso : 13 do PT; 19 do PMDB; 20 do PSDB; 10 do PSB: 14 do DEM; 10 do PSD; 9 do PR; 3 do PV; 6 do PC do B; 2 do PDT; 2 do PPS; 2 do PSC; 2 do PTC; 4 do PP; 1 do PRP; 1 do PT do B; 1 do PMN; 3 do PV e 3 do PRB. Pode haver algumas desistências. Campanha paulistana As atenções se voltam para a campanha paulistana. A interrogação que todos fazem é : Lula conseguirá carregar seu pupilo, Fernando Haddad ? Este consultor aventura-se a responder : sim. Apesar de Lula não ter dado a vitória a Marta Suplicy, na campanha para a prefeitura, ou a Aloizio Mercadante, para o governo do Estado, o PT tem obtido, em todos os pleitos, um índice em torno de 30% dos votos na capital. Cada campanha é diferente de outra. Lula poderá obter um resultado melhor neste pleito. Tudo vai depender do clima ambiental. A geografia do voto O clima ambiental, por sua vez, é movido por fatores que começam na economia. Ou, em outros termos, o voto obedece a uma geografia peculiar. A geografia do voto começa no bolso. Quanto mais espaçoso o bolso e mais dinheiro guardar, maior o índice de satisfação do eleitor. A seguir, a geografia do voto abriga o espaço do estômago. O estômago, por sua vez, vale-se das geladeira; quanto mais cheia, mais satisfeita a barriga do eleitor. Geladeira cheia depende, claro, do bolso. Pois bem, continuemos com a geografia do voto. O espaço adiante é o do coração. Estômago satisfeito manda um recado para o coração e este envia a mensagem para a cabeça, que é o destino final. Ou seja, o coração comovido diz à cabeça : vamos agradecer a situação e votar no perfil que está no nosso coração. Transformar-se no inimigo "Transformar-se no inimigo é colocar-se no lugar do adversário. Notamos que, em geral, existe uma tendência de julgar forte o inimigo, mesmo sendo ele um ladrão que, após cometer um roubo, se fecha numa casa. Mas, se soubermos nos colocar no lugar desse inimigo, veremos o quanto ele deve se sentir perdido ao ter que enfrentar todo o mundo ou fugir. Aquele que se isola é, pois, um faisão, e o que acossa para matá-lo, um falcão. Essa situação exige uma boa reflexão." (Miyamoto Musashi) Quem será o beneficiário ? Dito isto, indaga-se : quem será o beneficiário final do processo ? Quem receberá o voto em agradecimento do coração e do estômago ? Eixos de apoio É evidente que a geografia do voto também é desenhada por outros eixos que figuram na planilha da política : a proximidade entre o candidato e o eleitor; simpatia gerada pelo perfil; empatia, que liga ainda mais o candidato do eleitor; boa apresentação pessoal - semântica (expressão) e estética (maneira de se vestir, falar, gesticular, etc.); histórico do candidato e experiências anteriores junto ao eleitor; visibilidade; programas de ação, projetos, compromissos, principalmente os que envolvem a micropolítica (coisas voltadas para o cotidiano dos moradores das regiões e bairros, etc.). Capital e trabalho "Quando o capital se acovarda, o trabalho morre." (Olavo Bilac) Empate em Porto Alegre Manuela D'Ávila (PC do B) está tecnicamente empatada com o prefeito José Fortunati (PDT), segundo pesquisa feia pelo Correio do Povo/Instituto Methodus. A vantagem de Fortunati sobre Manuela é ínfima, variando de 0,9 ponto percentual a 3,1 pontos. As chances de Manu são muito boas, até porque ela encarna renovação, mudança, avanço, valores ansiados pela comunidade política. Justiça do Trabalho Ante recurso feito por espólio de técnico de informática falecido em acidente de trânsito, o TST, em recente decisão, responsabilizou a empresa contratante pela morte e consequente indenização por danos morais à família do mesmo. A Corte entendeu que a função de "técnico de informática" é de risco, uma vez que exige o constante deslocamento por estradas. Fica no ar a indagação : a responsabilidade pela segurança nas estradas não é do governo ? Dano social A mesma Justiça do Trabalho começou a condenar empresas por dano social. Quando alguém é demitido e fica desempregado, mesmo por uma semana, entende a Justiça do Trabalho que a empresa que o demitiu causou um "dano social". Portanto, deve indenizar a sociedade por meio de multas e recolhimentos extraordinários ao Fundo de Amparo ao Trabalhador. Mais uma indagação fica no ar : qual o destino dos impostos recolhidos e de contribuições compulsórias ? Alavancas do discurso I Nesse momento, os pré-candidatos começam a se preparar para o pleito. Este consultor oferece pequena ajuda, mostrando como conseguir a adesão dos ouvintes e participantes de um evento de massa ao discurso. Como conseguir atrair a atenção da multidão ? Pincemos pequenas lições dos clássicos da política. Existem alguns símbolos detonadores e indutores do entusiasmo das massas em, pelo menos, quatro categorias. Eis as quatro alavancas psíquicas : 1. Alavancas de adesão - Discurso voltado para fazer com que a população aceite os programas, associando-se a valores considerados bons. Nesse caso, o candidato precisa demonstrar a relação custo-benefício da proposta ou da promessa. 2. Alavancas de rejeição - Discurso voltado para o combate à coisas ruins (administrações passadas, por exemplo). Aqui, o candidato passa a combater as mazelas de seus adversários, os pontos fracos das administrações, utilizando, para tanto, as denúncias dos meios de comunicação que funcionam como elemento de comprovação do discurso. Alavancas do discurso II 3. Alavancas de autoridade - Abordagem em que o candidato usa a voz da experiência, do conhecimento, da autoridade, para procurar convencer. Sob essa abordagem, entram em questão os valores inerentes à personalidade do ator, suas qualidades pessoais. Quando se trata de figura de alta respeitabilidade, o discurso consegue muita eficácia. 4. Alavancas de conformização - Abordagem orientada para ganhar as massas e que usa, basicamente, os símbolos da unidade, do ideal coletivo, do apelo à solidariedade. É quando o político apela para o sentimento de integração das massas, a solidariedade grupal, o companheirismo, as demandas sociais homogêneas. Sede de poder Nordeste, capital da sedeE é com sede que a sede cresceE o Poder a poder da sedeNão deseja que a sede cesse. Quem sepulta um cristão na redeVai vivendo a poder de preceÉ sertão num pé-de-paredeVendo tudo morrer de "EDE"Pois ali já beberam o "S". (Jessier Quirino - Prosa Morena) Conselho aos ministros do STF Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos organizadores da Rio+20. Hoje, sua atenção se volta aos ministros do Supremo Tribunal Federal : 1. A sociedade brasileira espera que o STF coloque em sua pauta o caso do mensalão. Todo esforço se faz necessário para que não haja protelação. 2. Nesse momento em que tanto se questiona a transparência das Cortes Judiciárias do país, o julgamento do caso mais rumoroso/escandaloso de nossa história política recente redundará em significativo avanço para a credibilidade da Justiça. 3. Quanto mais se postergar a decisão sobre o mensalão, mais versões fantasiosas, suspeitas e interrogações se multiplicarão, com danosos efeitos sobre a imagem da Instituição Jurídica. ____________
quarta-feira, 28 de março de 2012

Porandubas nº 311

Abro a coluna com uma historinha do Maranhão, contada por Sebastião Nery. José Burnet, chefe da Casa Civil do governador do Maranhão, João Castelo, era deputado estadual do PSD. Em 1962 candidatou-se à Câmara Federal e saiu pelo interior fazendo campanha. Chegou à cidade de Santa Helena, foi para o comício : - Povo de Santa Helena. Eu gosto tanto desta terra, tanto, que se pudesse nascer de novo pediria a Deus para nascer aqui em Santa Helena. Foi um sucesso. No dia seguinte estava em Pinheiro : - Povo de Pinheiro. Eu gosto tanto desta terra, tanto, que se pudesse nascer de novo pediria a Deus para nascer aqui em Pinheiro. Lá de trás, um caboclo, que por acaso tinha assistido ao comício da véspera em Santa Helena, gritou : - Doutor, e Santa Helena, doutor ? - Santa Helena ? Santa Helena ? Santa Helena que me perdoe. E desceu. PT em chamas O PT, por meio de seu comando, avisa que está tranquilo. Não é verdade. O partido nunca esteve tão nervoso. Não se trata apenas da candidatura de Fernando Haddad, imposta pelo ex-presidente Lula, ao partido. Lula espera que Haddad seja eleito prefeito de São Paulo confiando na vontade dos eleitores em querer ver um perfil novo, asséptico. Alas do partido, principalmente a da senadora Marta Suplicy, não engoliram facilmente a encomenda lulista. Há, também, o episódio de troca de liderança do governo na Câmara. O líder Vaccarezza estava desempenhando bem a missão. Em seu lugar, entrou o deputado Arlindo Chinaglia, ex-presidente da Casa e integrante da mesma ala do presidente da Câmara, Marco Maia. Dizem, porém, que o ex-líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira, da mesma ala de Chinaglia e Maia, era o preferido da ministra Ideli. Enfim, o PT não está calmo. Hegemonia petista Prosseguem intensas as articulações intra e inter-partidárias com foco no pleito municipal de outubro. Os partidos da base aliada desconfiam que o PT quer por em ação a mais arrojada operação do projeto de expansão política : eleger o maior número de prefeitos em cidades médias e grandes. Na verdade, ao PT não interessa muito colégio eleitoral pequeno. Se obtiver entre 18% a 20% do eleitorado, estará na dianteira do processo político-eleitoral. Esta é sua meta. Daí a disposição (o termo adequado seria ambição) de não abrir mão de candidaturas em capitais e cidades estratégicas. O projeto de hegemonia petista está em curso. PSB, a terceira via ? A maior interrogação do momento é sobre a decisão a ser tomada pelo PSB do governador Eduardo Campos em São Paulo. O partido se faz presente no governo Geraldo Alckmin, por meio do secretário de Turismo, Márcio França. Que, aliás, dirige o PSB no Estado. Mas Eduardo Campos é quem dá as cartas. E Eduardo é amigão de Lula. Que injetou recursos nunca vistos em Pernambuco, algo perto de R$ 20 bilhões. Edu parece irmão mais novo de Lula. Veio visitar o ex-presidente para dizer a ele : o PSB não vai caminhar com Serra. Tem duas alternativas : ir de candidato próprio, formando a terceira via, ou fechar com Haddad. A primeira hipótese seria mais compreensível e menos trágica para uma sigla que, até o momento, participa ativamente da administração estadual. Pimentel, o silencioso Fernando Pimentel é uma incógnita. Ministro do Desenvolvimento, não se sabe muito o que faz e o que pensa. Não participa de eventos importantes nas frentes de produção. Mas é um acompanhante fiel da presidente Dilma nas viagens internacionais. Está sempre ali na foto, como papagaio de pirata. Pimentel continua em silêncio também sobre as consultorias que lhe teriam dado a bolada de R$ 2 milhões. A Comissão de Ética Pública da Presidência da República deu 10 dias para o ministro explicar o imbróglio em que se envolveu. Ficha Limpa no Judiciário Mas é claro que a adoção da Ficha Limpa nos sagrados espaços do Judiciário será uma decisão a ser aplaudida. Afinal de contas, o Judiciário deve dar o exemplo. O CNJ quer que os tribunais do país contratem apenas pessoas com ficha limpa para ocupar cargos de confiança. A intenção é a de estender as exigências da lei da Ficha Limpa a todos os que não foram aprovados em concurso público. Dois pesos e duas medidas Qual será o critério que o Governo do Estado de São Paulo se utiliza para fixar o salário mínimo estadual ? Vejamos os números. Em 2011, ele era fixado em R$ 600,00. Em 2012, foi para R$ 690,00, um aumento de 15%. Tudo seria maravilhoso não fosse esse aumento repassado para as empresas contratadas pelo Estado. Os contratos reajustados neste mês foram aquinhoados com apenas 4,60%. Ora, quem paga a diferença ? Os empresários já fizeram os esforços possíveis para continuar na luta. Enfrentam o alfabeto dos poréns e todavias ! Conclusão : o próprio Governo os joga na informalidade, no buraco da ilegalidade. Não está na hora de uma revisão de critérios de reajustes, senhor governador ? Imagem da Justiça Infelizmente, a imagem da Justiça em nosso país está bastante embaçada com as denúncias em série que têm assolado juízes e desembargadores. Lobão no Senado ? A presidente Dilma Rousseff dá sinais de que deseja influir na política partidária. Sabe-se, por exemplo, que ela quer emplacar o nome do ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, na presidência do Senado. Com o gesto, a presidente mataria dois coelhos com uma só cajadada : desalojaria um político do comando da área energética, diminuindo o poderio do grupo Sarney, para colocar um técnico, Márcio Zimmermann, de sua inteira confiança; e colocaria Lobão no lugar de Sarney, tirando o atual líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, do tabuleiro. Dilma sugeriu a Renan que se candidatasse ao governo de Alagoas. E mandou que Zimmermann se filiasse ao PMDB. Renan dispõe, hoje, do apoio da maioria dos senadores peemedebistas. E projeções do momento lhe garantem cerca de 50 votos entre os 81 senadores. A estratégia da mandatária até pode dar certo, mas haverá reações fortes. Páscoa salgada Nesta Páscoa, os contribuintes enfrentarão uma alta carga tributária incidente sobre os principais itens consumidos, como vinho, bacalhau e os tradicionais ovos de chocolate. A carga tributária do bacalhau importado é de 43,78% e no vinho chega a 54,73%. Já a colomba pascal tem uma carga tributária de 38,68%. Caso o consumidor opte por comemorar a data em um restaurante, os tributos sobre a comida fora de casa e os serviços atingem a margem de 32,31%. PT versus PMDB Até o momento, não há razões para deixar de acreditar na polarização PT x PMDB em São Paulo. Serra, uns 35%-38%, contra Haddad, uns 30%. Chalita, a dúvida Se Gabriel Chalita conseguir despertar o eleitorado, colocando-se como alternativa capaz de desfazer a polarização, tem condições de avançar. Mas isso dependerá também do jogo dos candidatos do PC do B (Netinho de Paula), PRB (Celso Russomano) e outros. Russomanno, por exemplo, não segurará seus 20% ? Tempo pequeno de Rádio e TV. PMDB, imersão na identidade O PMDB atravessa um ciclo de intensas conversas internas. As lideranças do partido, a partir do vice-presidente da República, Michel Temer, se esforçam para fazer uma imersão no tronco da identidade, procurando responder as questões : o que somos, para onde vamos, o que precisamos ? Há um enorme esforço para unir todas as alas do partido. Haverá, sempre, um grupo de descontentes, mas a integração de propósitos tende a ser o fio condutor das disposições partidárias. O futuro do PMDB será redesenhado a partir dos resultados eleitorais de outubro. Seja qual for o resultado, a estratégia de buscar parceiros menores para uma integração/fusão parece consensual. O bispo Uma historinha de Zé Abelha, o nosso contador de causos de Minas. No auge da discussão nacional sobre a lei do divórcio, o então bispo auxiliar de Belo Horizonte, D. Serafim Fernandes de Araújo, reitor da Universidade Católica de Minas Gerais, democrata, liberal, torcedor roxo do Galo, o Clube Atlético Mineiro, foi entrevistado : - O senhor não acha que o bom senso evitaria muitos divórcios ? - Acho sim, meu filho, e muitos casamentos também. Câmara e Senado Ao PMDB, por acordo, o PT decidiu dar apoio para a presidência da Câmara na próxima legislatura, a se iniciar em fevereiro de 2013. Mas o PT, a essa altura, já dá sinais de que poderá não cumprir o prometido. Principalmente, se o Senado continuar nas mãos do PMDB. O estilo Dilma Pouco a pouco, a presidente Dilma dá sinais de que pretende intensificar as relações com partidos, comandos e líderes. Chega à conclusão de que seu perfil técnico deve tomar, periodicamente, um banho nas águas mornas da política. Fusões Depois de outubro, partidos vão avaliar possibilidades de continuar como estão ou como deveriam ficar. Projeta-se um cenário de fusões, incorporações e parcerias. As pequenas unidades deverão ser engolidas pelas grandes. A conferir ! Demóstenes "A fim de que possa acompanhar a evolução dos fatos noticiados nos últimos dias, comunico à Vossa Excelência meu afastamento da Liderança do Democratas no Senado Federal". Assim o senador Demóstenes Torres apresentou sua renúncia. O corregedor da Casa, senador Vital do Rêgo (PMDB/PB), enviou pedido de informações ao Ministério Público para saber se há envolvimento de Demóstenes no esquema da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Recife Embora Francisco Rocha, o Rochinha, da tendência CNB do PT, tenha antecipado que o candidato do partido no Recife "é" João da Costa (PT), atual prefeito do Recife, o diretório estadual petista não aceitou a revelação e permanece analisando as possibilidades de realizar prévias com Maurício Rands (PT), que tem apoio camuflado do governador Eduardo Campos (PSB), e até com a probabilidade do ex-prefeito João Paulo (PT) entrar na disputa contra o seu ex-afilhado político, ex-secretário de Planejamento e ex-amigo durante 30 anos João da Costa. Domingo passado, em São Bernardo do Campos, Lula, Eduardo, Rui Falcão e Rochinha conversaram sobre as eleições no Recife. Os três primeiros nada disseram sobre o que teria sido decidido. Só não se contava com a indiscrição de Rochinha. Natal I A campanha em Natal/RN aguarda a posição da ex-prefeita de Natal e ex-governadora do RN, Wilma de Faria (PSB). Se for candidata, deverá ir para o segundo turno. O outro candidato forte é o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PDT), que lidera as pesquisas. O PSDB, aliado ao DEM da governadora Rosalba e do senador José Agripino, trabalha com o nome do deputado Federal Rogério Marinho. O PMDB, com apoio do Ministro Garibaldi Filho e do líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Alves, lançou o nome do deputado estadual Hermano Morais. Caso haja união entre PSDB, DEM, PMDB e o PR do deputado João Maia, Rogério ou Hermano teriam força competitiva. Isolados, não conseguirão andar. Natal II O PT aposta no deputado estadual Fernando Mineiro, apesar de Fátima Bezerra, deputada Federal ser o nome mais forte do partido. Por fim, a atual prefeita, Micarla de Sousa, do PV, com grande rejeição, portanto, sem chances. Até maio, ela definirá sua posição. Wilma Faria será o termômetro. Em 2010, seu candidato, Iberê Ferreira de Souza (PSB) perdeu para Rosalba Ciarlini (DEM) a campanha para o Governo do Estado. Derrotada para o Senado, Wilma poderá voltar, este ano, à cena em grande estilo, demonstrando que a política faz curvas. Espera por uma curva na Ficha Limpa. Demita o sujeito Severino Cabral, pai do senador Milton Cabral, eleito prefeito de Campina Grande/PB, chamou o secretário : - Demita fulano. - Ele não é funcionário da prefeitura. - Eu sei. Mas quero que ele receba a portaria de demissão, para saber o que eu faria com ele, se fosse. Conselho aos organizadores da Rio+20 Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos novos líderes do governo no Senado e na Câmara. Hoje, sua atenção se volta aos organizadores da Rio+20 : 1. O mundo estará de olho no Brasil, particularmente no Rio de Janeiro, em junho, por ocasião da Conferência Rio+20. Celebridades, especialistas e autoridades da esfera ambientalista se farão presentes ao maior evento mundial da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. 2. A essa altura, já se projeta a defasagem da estrutura receptivo-hoteleira do Rio de Janeiro, sinalizando carências e apontando para falhas que poderão manchar a imagem do Brasil às vésperas de outros grandes eventos internacionais. 3. Diante dessa moldura, todos os esforços devem ser empreendidos para que o Brasil não tenha sua imagem borrada com as tintas do despreparo, desorganização, improvisação e incapacidade. Autoridades, olho vivo. E mãos à obra ! ____________
quarta-feira, 21 de março de 2012

Porandubas nº 310

Abro a coluna com a verve do passado. Ao abrir a sessão da Câmara Federal, quando ainda era sediada no Rio de Janeiro, o presidente Ranieri Mazzilli concedeu a palavra a Carlos Lacerda, então representante do Distrito Federal. Rápido e agressivo, o deputado Bocaiúva Cunha gritou ao microfone, sob os risos do plenário : - Agora vocês vão ver o purgante ! Lacerda, num piscar de olhos, respondeu : - Os senhores acabaram de ouvir o efeito ! Nem os adversários prenderam o riso. Frentes abertas Sob as glórias de 76% de aprovação popular, a presidente Dilma Rousseff quer inaugurar uma nova forma de governar. À sua imagem e semelhança. Impondo conceito, regras, formas, métodos. Será bem-sucedida. É possível. Na política, tudo é possível. Por conta de seu estilo, algumas frentes foram abertas contra o Governo. Vejamos. I - A onda política A nomeação de novos líderes do Governo para o Senado e Câmara é prerrogativa da presidente. Incontestável. Mas a cultura política aconselha que as nomeações deveriam ser precedidas de um sistema de consultas. Se houve consulta, não se sabe. Deve, isso sim, ter havido muita conversa de bastidor entre Dilma, Lula e um pequeno grupo de assessores. Resultado : a demissão do senador Jucá e do deputado Vaccarezza de seus postos para dar lugar ao senador Eduardo Braga e ao deputado Arlindo Chinaglia pegou de surpresa o mundaréu político. O PT mostrou-se rachado. E o PMDB, ferido. Para complicar, o PR do Senado saiu da base do governo. Os políticos não estão satisfeitos com o estilo rompante da ministra Ideli. Que, como se deduz, não dá um passo sem consultar a presidente. Forma-se uma onda no Congresso que poderá inundar os vãos e desvãos do Palácio do Planalto. II - A onda empresarial Os empresários, principalmente os integrantes do universo industrial, se queixam do processo de desindustrialização a que vem sendo submetido o país. De cada quatro produtos adquiridos no mercado brasileiro, um é chinês. O PIB industrial despenca. O chão de fábrica se estreita. Os empregos estão migrando da indústria para os setores de serviços. A insatisfação se expande. O governo promete medidas pontuais. Mas não age. Fábricas são fechadas. Polos têxteis, como o de São Paulo, enfraquecem. A mais poderosa Federação das Indústrias do país, a FIESP, toma a frente da movimentação. Dia 4 de abril fará um grande movimento em São Paulo, juntamente contra as Centrais Sindicais. As Centrais querem mobilizar cerca de 100 mil pessoas. Essa é mais uma poderosa frente contra a inércia do governo em relação à indústria. III - A onda militar A terceira frente contra o governo Dilma emerge na área militar. Mais exatamente, no refúgio dos militares aposentados. Que, agora de pijama, expressam um discurso de insatisfação/indignação contra as pretensões da Comissão da Verdade. O Ministério Público pretende resgatar a história dos desaparecidos. E quer que a Comissão da Verdade abra o véu do passado. Os militares sustentam o argumento de que a lei da anistia passou uma borracha no passado. Os desaparecidos foram dados como mortos. Como poderiam, agora, ser considerados vivos ? Não é possível, segundo eles, restabelecer essa condição. Mas os nossos aposentados das Forças Armadas não têm forças, ou seja, armamentos. Ocorre que os verbos contundentes que expressam poderão criar fagulhas nos quartéis. Não se pode desprezar a insatisfação nesse meio. IV - A onda sindical A quarta frente contra o estilo Dilma de governar age no seio das Centrais Sindicais. Que se sentem desprestigiadas. Sem a intensa interlocução que possuíam na era Lula. Naqueles tempos, os líderes sindicais desfilavam quando queriam pelo Palácio do Planalto. Agora, só esporadicamente. Não dispõem mais das portas abertas do poder central. Lutam para fazer chegar à presidente seu clamor. Por isso, as Centrais Sindicais se juntam aos empresários industriais, insatisfeitos, para adensar o bolsão de contrariedade contra o governo. Farão movimentação por todo o país, a partir de uma grande passeata, em São Paulo, dia 4 de abril. V - A onda cultural Há, ainda, uma frente contra o Governo, mais exatamente contra uma ministra do governo Dilma, Ana de Hollanda. A classe artística pede sua substituição. As manifestações pedindo a mudança da ministra se expandiram, recentemente, a partir da informação de que o Ministério da Cultura advogou em favor do ECAD (escritório de arrecadação e distribuição de direitos) em um processo no qual a instituição autoral é acusada de cartelização e gestão fraudulenta. O processo está em julgamento no Conselho de Administrativo de Defesa Econômica. VI - A onda internacional Há certo acirramento de ânimo entre o Brasil e alguns países. Na última viagem da presidente Dilma à Europa, ela fez sérias críticas à política monetária expansionista dos países europeus, que produz efeitos nocivos por desvalorizar de forma artificial as moedas. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, em tom crítico, respondeu com o argumento de que o Brasil exerce políticas protecionistas muito duras. A posição do Brasil em relação à ditadura síria e ao Irã também é motivo de críticas. Mineirinhas Frases de Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas - político, industrial, filósofo e, antes de tudo, udenista ortodoxo da linha bilaqueana (Bilac Pinto, o Bilacão, seu dileto amigo). Sempre infernou a vida de seus adversários, com as suas atitudes destemidas e sua natural mineirice. "Quando estamos no governo, todo adversário que quer se encaixar, diz ser técnico". "O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro". "Há um fato na política que a torna bastante interessante : o choque dos falsos políticos com os políticos falsos". "Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado". "Muita campanha eleitoral se parece com sauna : depois do calorão vem uma ducha fria". (Pinçadas de A Mineirice, de José Flávio Abelha) Riscos Não existe política sem riscos; o problema é de limites. 22% de insumos importados Um dado revelador : 22,4% dos insumos utilizados por fabricantes brasileiros, no ano passado, foram importados. O maior patamar da série histórica iniciada desde 1996. Uma frente por vez Lição geral da política : ataque um inimigo por vez. Cuidado quando entrar na arena de guerra. Se você tem muitos adversários, poderá perder o foco. Velhas lições As lições de táticas e estratégias dos clássicos da política e das guerras parecem não merecer nenhuma consideração por parte de nossa presidente. Lembremos pequenos conselhos de Sun Tzu : a) "Quando em região difícil, não acampe. Em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos seus aliados. Não se demore em posições perigosamente isoladas. Em situação de cerco, deve recorrer a estratagemas. Numa posição desesperada, deve lutar. Há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas". b) "Não marche, a não ser que veja alguma vantagem; não use suas tropas, a menos que haja alguma coisa a ser ganha; não lute, a menos que a posição seja crítica. Nenhum dirigente deve colocar tropas em campo apenas para satisfazer seu humor; nenhum general deve travar uma batalha apenas para se vangloriar. A ira pode, no devido tempo, transformar-se em alegria; o aborrecimento pode ser seguido de contentamento. Porém, um reino que tenha sido destruído jamais poderá tornar a existir, nem os mortos podem ser ressuscitados". Não perder o controle Lembro mais esses dois princípios : - Nunca descuide da perda de controle sobre o processo de governo, se a governabilidade cai abaixo de seu ponto crítico; - Se isso ocorrer, tente imediatamente reverter o processo de desacumulação de força, evitando ingressar nos limites de perda de capacidade de reverter o processo. Serra nas prévias No próximo domingo, ocorrerão as prévias tucanas para escolha do candidato do PDSB à prefeitura de São Paulo. Claro, José Serra será eleito. Apesar de José Aníbal garantir que ele ganhará essa pequena eleição. Serra será o candidato. Ganhará as eleições ? Perspectivas : tem competitividade; poderá polarizar a campanha; ir para o segundo turno. E a rejeição ? Se for muito alta, na margem dos 30%, babau. Perderá. Se conseguir baixar para a casa dos 15%, terá condições de chegar ao topo. 30% do PT Fernando Haddad, candidato do PT, chegará aos 30% de intenção de voto. Essa é a margem histórica do PT. Lula carregando seu pupilo nas costas terá condição, sim, de elevar essa margem. PR na oposição ? Onda. Não vejo PR na oposição. Coisa de momento. Crise de nervos. Passa com qualquer calmante. Um cargo melhor aqui, um Ministério acolá. Nada que possa mudar a índole governista do partido. A união do PMDB Deputados e senadores do PMDB serão convocados para refletir sobre a equação : a unidade partidária é a porta do futuro. Quanto mais unidos, mais larga será a porta. A recíproca é verdadeira. PT e PSB Eduardo Campos continua a tricotar sua roupa para desfilar em 2014. Mas o PT e o PSB começam a brigar em algumas capitais. Em João Pessoa, o PT quer lançar candidato próprio, quebrando a aliança com o PSB do governador Ricardo Coutinho. Em São Paulo, avançam as negociações em torno de uma aliança entre PSDB e PSB. Em Fortaleza, também será possível que o PSB lance candidato próprio, rompendo a parceria com o PT da prefeita Luizianne Lins. 65% de conteúdo local A nova presidente da Petrobras, Graça Foster, promete que a indústria nacional de serviços de petróleo usará 65% de conteúdo local. Ou seja, para cumprir a meta de buscar óleo nas camadas de pré-sal, a empresa investirá muito dinheiro. Seu programa de investimentos é da ordem de US$ 225 bilhões em 5 anos. As compras locais fazem parte da política de fortalecimento da indústria nacional. Trata-se, segundo ela, de "requisito básico da Nação e da Petrobras". Rumores Sobre rumores de crise ministerial, face a demissão do Ministro Clemente Mariani, da Fazenda, Jânio Quadros dirigiu um bilhete ao seu secretário particular José Aparecido de Oliveira : "Aparecido : Leio num jornal que o Ministério está em crise... Veja se localiza para mim. Leio, também, que recebi, da Fazenda, um bilhete enérgico. Desminta. O ministro é educado bastante, para não o escrever ao presidente. E o presidente não é educado bastante, para recebê-lo... Assinado - Jânio Quadros 09/08/1961". (Historinha contada pelo escritor e jornalista amigo Nelson Valente em seu livro sobre Jânio Quadros) Conselho aos novos líderes do Governo Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos novos líderes. Hoje, sua atenção se volta aos novos líderes do governo no Senado e na Câmara, respectivamente, senador Eduardo Braga e deputado Arlindo Chinaglia : 1. Na política, nem sempre a menor distância entre dois pontos é uma reta, como na geometria euclidiana. Portanto, procurem fazer também algumas curvas. Ou seja, não queiram andar apenas nas retas da política. Sob pena de tropeçarem. 2. Significa que deverão anotar as demandas de parlamentares e partidos. E implementar, pontualmente, tais demandas sob pena de um alto preço a pagar, mais adiante. 3. Os novos líderes precisam se lembrar que a imposição de uma nova modelagem na esfera da gestão e articulação política implica combinação/acordo com as partes envolvidas no processo. ____________
quarta-feira, 14 de março de 2012

Porandubas nº 309

Einstein no Brasil Abro a coluna contando uma historinha do amigo Sebastião Nery sobre a relatividade das coisas. Quando Einstein esteve no Brasil, foi ciceroneado por Austregésilo de Athayde. Saiu olhando as coisas, Austregésilo a tiracolo, explicando a relatividade do jeitinho brasileiro. A toda hora, Austregésilo tirava do bolso um caderninho e fazia anotações. Einstein ficou curioso : - O que é que o senhor anda escrevendo aí ? - Suas opiniões, Mr. Einstein, suas observações. Às vezes as minhas também. Tenho o hábito de anotar sempre as ideias que me ocorrem para aproveitá-las nos meus artigos. O senhor não anota suas ideias ? - Não anoto, Dr. Austregésilo, porque até hoje só tive uma, a teoria da relatividade. Tensão no Planalto Parece pleonasmo falar em tensão no Planalto. Porque os ares de Brasília são permanentemente contaminados pela água em ebulição nos fornos do poder. A semana começou tensa com a substituição dos líderes do Governo no Senado e na Câmara. No Senado, Romero Jucá (PMDB/RR) cede lugar ao também senador da região amazônica, Eduardo Braga (PMDB/AM). Que já foi prefeito de Manaus, governador do Amazonas por duas vezes, depois de ter iniciado a carreira política como deputado Federal. Hoje, faz parte da ala que se diz independente do PMDB. Jucá vem lá de trás e já serviu o governo FHC. Passou pelo ciclo Lula e chegou até o governo Dilma. Cândido Vaccarezza (PT/SP) sai da liderança do Governo depois de um bom tempo. Trata-se de um perfil cordato, conciliador, um dos quadros do PT com melhor articulação junto aos partidos. Entra Arlindo Chinaglia (PT/SP), perfil também cordato. Foi presidente da Câmara e conhece bem os meandros das articulações. O significado A substituição dos dois líderes não se deu apenas por conta da insatisfação das bases governistas. Afinal, a não aprovação do nome de Bernardo Figueiredo para a ANTT não se deu por conta da inabilidade do senador Jucá. O nome não tinha bom conceito na casa. E passou a ser alvo do tiroteio do senador Roberto Requião. Já a indignação que se espraia nos corredores da Câmara também não pode ser contida por Vaccarezza. Afinal de contas, a rebeldia que ali se desenvolve é fruto de alguns fatores: 1º) represamento de verbas aprovadas no Orçamento para obras patrocinadas por deputados; 2º) a não contemplação dos pleitos partidários nos ministérios e o próprio fechamento de portas para as demandas parlamentares; 3º) a equação mal resolvida de preenchimento das vagas ministeriais a cargo da presidente Dilma. Como será ? Pode ser que as coisas melhorem nas frentes de articulação. Mas outros atores também deverão ser trocados. Por exemplo, a ministra Ideli Salvatti faz muita força para acertar. Mas não tem sido eficaz. A esfera política não a considera com estofo para fazer articulação política. Que depende, e muito, do perfil pessoal, do DNA de cada um. Ideli é amarga e zangada. Um ente fora do habitat natural. PMDB, o maior polo O maior polo de insatisfação se encontra no PMDB. Que vê seus ministros sem autonomia decisória; monitorados por secretários executivos nomeados pelo PT; com verbas de seus parlamentares represadas. O PMDB acredita que essas barreiras são todas planejadas : o PT quer bloquear o crescimento do partido, temendo que ele continue com o maior número de prefeituras e vereadores. O projeto petista tem como meta fazer do partido uma gigantesca estrutura a serviço da continuidade de mando do PT. Temer, o conciliador Michel Temer, o vice-presidente da República, tem sido muito importante nesse momento de foguetório desvairado. É cercado de pressão por todos os lados. Tem agido como algodão entre vidros. E até suportado fogo amigo. Não se sabe até quando. Pequeno conselho aos fogueteiros : quando a fumaça é constante, ela mesma avisa onde se localiza a fogueira. Tudo valerá Nem bem o processo eleitoral começou e as jogadas no tabuleiro mostram que a campanha deste ano será a mais contundente da contemporaneidade. Uns contra uns e outros contra outros; podendo ser também de ex-adversários contra ex-aliados. Tudo valerá. O jeito Dilma de ser A cada dia, a presidente Dilma mostra seu jeito de ser. E de fazer política. Ouve um pequeno grupo. E toma decisões. Ao que parece, não faz consultas à área política. Apenas comunica suas decisões aos líderes. Sua cartilha é a cartesiana. Os políticos, segundo ela, precisam andar na linha reta. Mas a política, como se sabe, é, frequentemente, uma curva. Os tropeços ocorrem a cada momento. Lula tem aconselhado a presidente a ouvir mais os políticos. Por mais que ela tenha conversado com alguns, a sensação é a de que falta lábia nas conversas. Churchill 1 O General Montgomery estava sendo homenageado, pois venceu Rommel na batalha da África, na 2ª Guerra Mundial. Discurso do General Montgomery : 'Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói'. Churchill ouviu o discurso e com ciúme, retrucou : 'Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele'. (As historinhas sobre Churchill, que continuam adiante, foram enviadas por Jorge Massad) O Brasil vai bem O Brasil vai muito bem. Essa é a versão que as autoridades fazem questão de expressar. Crise internacional ? Ah, o Brasil passa ao largo. Estamos indo bem na frente de comércio exterior. Nossas commodities têm ajudado a alcançarmos bons resultados comerciais. Nossas reservas estão aumentando. O que nos permite um bom lastro para eventuais problemas cambiais. Esse é o discurso do ministro Guido Mantega. E a indústria ? Ora, a indústria vive um momento difícil. Mas é um momento só, frisa o nosso ministro da Fazenda. A indústria vai mal A verdade é que a indústria vai mal. De cada quatro produtos adquiridos no mercado, um é importado. A indústria manufatureira registrava uma participação no PIB de 27,2% em 1985; esse índice despencou para 15,8% em 2010. A queda de emprego na indústria entre setembro de 1985 e setembro de 2010 foi de 28%; já a participação dos manufaturados na pauta de exportações baixou de 55% em 2005 para 39,4% em 2010. A pauta de importações engorda a olhos vistos. Em 2003, o coeficiente de importação era de 12,5%; no segundo trimestre do ano passado, 22,9%. China ganha todas E quem está devastando a indústria brasileira ? A China. Ganha concorrências a torto e a direito. E mais : vende gato por lebre. Não entrega as encomendas nos prazos. Não dá manutenção. Faz comparações absurdas. Compara o preço de um trem com 4 carros (o que fabrica) sendo apenas 50% motorizados, com um trem de 6 carros, todos motorizados. E há Estados que entram na "emboscada" chinesa, como o Rio de Janeiro, com a maior tranquilidade. Churchill 2 Certa vez, Einstein recebeu uma carta da Miss New Orleans onde dizia a ele : "Prof. Einstein, gostaria de ter um filho com o senhor. A minha justificativa se baseia no fato de que eu, como modelo de beleza, teria um filho com o senhor e, certamente, o garoto teria a minha beleza e a sua inteligência". Einstein respondeu : "Querida miss New Orleans, o meu receio é que o nosso filho tenha a sua inteligência e a minha beleza". Capital e trabalho juntos A FIESP e as Centrais Sindicais estabeleceram um programa de ações e eventos em defesa da indústria nacional. O primeiro evento em prol da indústria nacional está previsto para o dia 27 de março, com o lançamento de uma frente parlamentar no Congresso Nacional. Outro, em 4 de abril, reunirá cerca de 100 mil pessoas em frente à Assembleia Legislativa de São Paulo. A mobilização de entidades empresariais e sindicais tem o objetivo de alertar o governo para a adoção de políticas que visem proteger a esfera industrial e, consequentemente, os empregos. Desaceleração ? E se a economia mundial desacelerar em 2012 ? O Brasil será afetado ? Não há razão para acreditar que o Brasil é uma ilha de segurança em um mar agitado. Todos os continentes sofrerão com as águas batendo em suas costas. Passando a perna nos trabalhadores Funcionários de empresas terceirizadas, a serviço do Governo, que quebram e não arcam com os passivos trabalhistas vão precisar de paciência. É que a Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) do Tribunal Superior do Trabalho, decidiu, por unanimidade, suspender a tramitação dos processos que tratam da responsabilidade subsidiária dos órgãos públicos tomadores de serviços, no caso de não cumprimento de obrigações trabalhistas pela empresa prestadora. Algumas decisões monocráticas têm acolhido liminares em reclamações e cassado decisões tomadas pelo TST em que se aplicou a súmula 331, alterada em maio de 2011 para limitar a responsabilidade subsidiária aos casos de conduta culposa do ente público no cumprimento da Lei das Licitações. Churchill 3 Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill : "Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver". Resposta de Churchill : "Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver". 8 mil recursos no TST Mais de oito mil recursos extraordinários sobre o assunto estão paralisados no TST. Com a decisão da SDI-1, uma quantidade ainda maior de processos deve permanecer à espera da definição do STF. O fato é que não haveria impasse, se a contratação tivesse como preceito a idoneidade financeira, operacional, fiscal e a qualidade da prestação de serviços da contratada. Algo que pode ser perfeitamente definido por uma legislação específica. Jegue para o Japão A China quer importar do Brasil 300 mil jumentos. Que sairão do Nordeste. O jegue já inspirou poetas e escritores. E agora mobiliza os nordestinos que querem evitar sua exportação para a China, onde seriam industrializados - carne e derivados. As campanhas pela "salvação do jegue" estão no ar. Uma dela, "Adote um Jumento. O menino Jesus lhe agradecerá". Churchill 4 Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse : - Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos. Resposta de Churchill : - Por que não ? Você me parece bastante saudável. Modernização no futebol ? Ricardo Teixeira, ufa, deixou a CBF. Poucos acreditariam que um cartola tão cheio de poder pudesse, um dia, renunciar a um dos mais ambicionados cargos por estas plagas. Teixeira saiu não apenas por conta de sua saúde, que merece cuidados. Mas por desgaste de material. Muito tempo no mesmo canto desgasta as pessoas. Por mais força que pareçam ter. É de esperar que, doravante, o futebol seja vitaminado com novas ideias, ajustes de programas e projetos, reordenação estratégica. Mas, sabem quem assumiu ? Um cartola que vai completar em breve 80 anos. Nada contra ele. Felizmente, o próprio se comprometeu a implantar rodízio no comando da Confederação. A sociedade, hoje, tem o mando das coisas. Lula puxará Haddad ? Essa é a pergunta que este consultor tem tentado responder. O candidato do PT, Fernando Haddad, está com apenas 3%. Pois bem, respondo : Lula vai arrastar Haddad para o patamar histórico do PT, cerca de 30%. E mais : Haddad continua competitivo. Por isso, qualquer tentativa de resgatar o nome de Marta Suplicy é coisa de apressadinhos. E Serra é o favorito ? É. José Serra continua como favorito. Mas tem uma grande rejeição para administrar. É bem provável que seja um dos candidatos do segundo turno. Mas não se pode, a essa altura, apontar para nenhum vencedor ou perdedor. Chalita entra no meio ? Esta é também mais uma pergunta que me fazem. Gabriel Chalita, hoje com 7%, poderá quebrar a polarização entre PT e PSDB. Vai depender dos tempos nebulosos ou claros de outubro. O caldeirão eleitoral O sistema cognitivo do eleitor tende a conjugar aspectos múltiplos : condições folgadas ou apertadas do bolso; mais alimentos ou menos alimentos na geladeira; simpatia proporcionada pelo candidato; proximidade/distanciamento que o candidato represente para o eleitor; qualidade das propostas - credibilidade, factibilidade, utopia/factóides, condições de realização; apoiadores do candidato; bom programa de TV; presença nos bairros e regiões da cidade, etc. Churchill 5 Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (Sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos, mas concedeu a palavra à deputada. E ela disse em alto e bom tom : - Sr. Ministro , se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá ! Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou : - Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer ! Conselho aos novos líderes Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos novos líderes : 1. Cuidado. Examinem as demandas de grupos e regiões. Não prometam coisas que não poderão cumprir/realizar. 2. Procurem convencer a presidente Dilma que o governo de coalizão é uma via de duas mãos. 3. Tentem alcançar consenso junto às bancadas; a cartilha cartesiana da presidente Dilma há de conter sambas variados, não apenas um sambinha de uma nota só, ou seja, atendimento às demandas de um único partido. ____________
quarta-feira, 7 de março de 2012

Porandubas nº 308

Os quatro semáforos Certo prefeito de Santa Rita do Sapucaí, nas Minas Gerais, ao ver nomeado um amigo para comandar o DETRAN, correu a Belo Horizonte, e não se fez de rogado. Foi logo pedindo : - Amigo, me arranje umas sinaleiras para minha cidade. Vai ser o maior sucesso. Vai ajudar muito a minha popularidade. O diretor, tomado de surpresa, ante tão inusitado pedido, procurou administrar a euforia do prefeito, mas não tinha como escapar à pressão : - Compadre, está difícil arrumar esses aparelhos. Tenho de fazer uma grande reforma aqui na capital. Mas vou me esforçar para lhe arrumar quatro semáforos. Mas, por favor, não espalhe. Insisto : não espalhe. E assim foi. Ao chegar a Santa Rita, um mês depois da entrega, ficou embasbacado. Viu os quatro semáforos colocados no mesmo lugar : o centro da cidade. Perguntou ao alcaide : "por que você mandou colocar todos eles naquele lugar" ? Sorriso no canto da boca, o prefeito respondeu : - Ora, compadre, você esqueceu ? Me lembro bem : você bem que me pediu para não espalhar os faróis. Manifesto do PMDB O manifesto do PMDB, assinado pela maioria da bancada, é a gota d'água tirada do pote da insatisfação no qual mergulha o corpo partidário. O partido está insatisfeito com um 'certo' desprezo do governo. Não se trata apenas de queixas contra o menor espaço que tem hoje, comparado ao dos tempos de Lula. Trata-se da constatação de que a coalizão, na prática, não funciona. O Executivo quer os votos do PMDB. E só. Não faz consultas ao partido. Na hora H, a presidente Dilma vale-se da habilidade e do perfil harmônico do vice-presidente Michel Temer para acalmar os ânimos. Mas há limites nessa história de "vem-aqui-e-chega-pra-lá". Mais reuniões Diante da crise que pode se alastrar pelos desvãos do Parlamento, o vice-presidente Michel passa a ter papel transcendental. Não por acaso, a presidente Dilma quer fazer reuniões periódicas com ele. Agenda aberta, conversa franca. Votação em peso Por mais que existam divergências internas, o PMDB tem dado exemplo de unidade. Basta ver os votos por ocasião do Código Florestal e do Fundo Complementar do Servidor Público. Mostrou que vota unido. O líder Henrique Alves tem trabalhado com afinco para aprovar as matérias de interesse do Executivo. Mas não tem havido correspondência do governo. Só cobranças. Os peemedebistas desconfiam - e com razão - de que o governo quer minar suas forças e, ao mesmo tempo, ampliar as condições político-eleitorais do PT. Presidência da Câmara O PMDB quer presidir a Câmara Federal na próxima legislatura. E seu candidato é Henrique Alves, aliás, o parlamentar com o maior número de mandatos na Casa, 11. Henrique, para assegurar sua posição, procura se equilibrar entre a meta de atender os pleitos do Executivo e as demandas de sua bancada. Satisfazer, ao mesmo tempo, a uns e outros é tarefa quase impossível. Por isso, há um certo grupo - cerca de 20 - que tenta obstruir sua posição de liderança. Mas o vice-presidente, Michel Temer, do alto de sua índole equilibrada, funciona como algodão entre cristais. Geddel, a trombeta Há no PMDB alguns perfis que fazem barulho. Quem toca mais alto a trombeta é Geddel Vieira Lima, que exerceu o cargo de líder do partido, foi ministro da Integração Nacional, comanda o PMDB na Bahia, e hoje ocupa uma diretoria da Caixa Econômica Federal. Geddel é uma das melhores cabeças do partido. Pensa bem, mas é muito atirado. Não tem papas na língua. E não se cansa de fustigar, quase diariamente, o governador Jaques Wagner, adversário com quem quer medir forças. Ora, com tantas vozes dissonantes, torna-se mais complexa a tarefa do líder Henrique, de agradar todas as alas do partido. Ameaça concreta O PMDB está ameaçado de perder a posição de partido que detém o maior número de prefeituras do país, quase 1.200. O PT poderá tomar o seu lugar. E se isso ocorrer, o partido verá diminuídas as chances de poder vir a ser o parceiro principal do PT em 2014. Eis uma ameaça que paira sobre o PMDB. Condições para ser governador Solenidade de promoção da Polícia Militar em andamento, os agraciados com ascenso na carreira da corporação são chamados pelo cerimonial. Um a um recebe diplomação. Absorto em seu lugar, olhar atento a tudo, a maior autoridade presente à solenidade - governador Dinarte Mariz - resolve cochichar à orelha de Luciano Veras, secretário da Segurança do Estado : - Coronel, eu não estou vendo entre os promovidos aquele meu afilhado que lhe fiz recomendação... A resposta do secretário justifica o porquê da ausência do indicado pelo governador : - Eu estive avaliando a carreira dele e observei que não havia condições para ganhar a promoção pretendida pelo senhor. Sem maiores reservas, Dinarte alardeia sua contrariedade com a exclusão técnica : - Luciano, que condições você está falando ? Se eu fosse atrás dessas condições nunca teria sido governador. (Quem conta o "causo" é Carlos Santos em seu livro Só Rindo 2) Blocão Há um bloquinho na Câmara, composto pelo PSB, PC do B, PMN e PRB. Pois bem, o sonho de Eduardo Campos é dar a esse ajuntamento o nome de blocão. A ideia é atrair o PSD de Kassab. Com essa junção, o bloco teria 110 deputados, que seria o maior da Casa. E, claro, com direito a reivindicar o comando parlamentar. Essa é mais uma ameaça que paira sobre o PMDB. Mais insatisfeitos Não é apenas o PMDB que se mostra insatisfeito com a participação no governo Dilma. Outros partidos também estão acusando o isolamento. Entre eles, o PSB, o PDT e o PR. A presidente reluta em nomear um indicado de Valdemar Costa Neto para o Ministério dos Transportes. Paulinho da Força quer indicar, pelo PDT, o novo ministro do Trabalho, mas a presidente tende a escolher o deputado gaúcho, Vieira da Cunha. O PSB, insatisfeito, deu apenas 2 votos favoráveis ao projeto do Fundo Complementar do Servidor Público. Dilma, a durona Pois é, depois de um ano, a presidente Dilma deixa ver, na plenitude, seu perfil : durona, cobradora, exigente, detalhista, apuro técnico, rigorosa, mandona, puxadora de orelha. O perfil da presidente amedronta ministros e assessores. Como consequência, distingue-se uma moldura de ministros sem autonomia, medrosos, pouco proativos. Muitas obras estão paradas. Verbas aprovadas para parlamentares não são liberadas. Esse é mais um motivo para descontentamento. A humildade "A humildade é virtude lúcida, sempre insatisfeita consigo mesma, mas que o seria ainda mais se não o fosse. É a virtude do homem que sabe não ser Deus". (André Comte-Sponville) Militares da reserva Pois é, os militares de pijama conseguiram o que queriam : ampla visibilidade. Fizeram um manifesto contra a Comissão da Verdade. E, de quebra, uma crítica ao governo. A presidente Dilma mandou puni-los. E, com essa decisão, a corrente de solidariedade entre os militares aposentados cresceu. Era o que eles queriam. Ora, a presidente deveria ter fechado os olhos a esses queixumes. Quem está na reserva só tem mesmo, como arma, o direito à livre expressão. Garantido pela Constituição. A impressão é a de que houve erro de conduta por parte do Executivo. Quadro paulistano A decisão de Serra, de participar do pleito paulistano, abre as seguintes hipóteses : maior probabilidade de segundo turno é com ele e Haddad. Mas tudo vai depender do papel de Lula. Terá o ex-presidente condições efetivas de participar ativamente do pleito ? Até onde vai a motivação de Marta Suplicy com a candidatura Haddad ? Geraldo Alckmin ajudará de maneira efetiva ou ficará na moita ? Os tucanos estarão todos unidos ou haverá dissidentes/inconformados/indignados, como eventuais perdedores das prévias (Zé Aníbal e Ricardo Trípoli, por exemplo ?). Lula, corajoso Quem conversou com Lula, recentemente, o achou muito deprimido. Ora, o ex-presidente passou por uma dura bateria de quimioterápicos. Os estados de depressão são previsíveis. Lula tem sido muito corajoso. Esta Coluna torce pela rápida recuperação deste grande brasileiro. Governos sem grana Os governos estaduais estão com a faca no pescoço. Os cofres estão vazios. Muitas obras paradas. Acorrem à Brasília. Ministros fazem ouvidos moucos. Loucinha pintada Etelvino Lins tomou posse no governo de Pernambuco. Logo no dia seguinte recebeu a visita de um tio do interior, que queria abraçar o sobrinho glorioso. O velho entrou meio desconfiado, sentou no sofá largo, começou a conversar. Mas tinha uma bronquite de abade. Tossia sem parar. Um emprego do palácio apanhou uma escarradeira toda desenhada em azul e a colocou discretamente ao lado. O velho tossiu, cuspiu no canto do chão. O empregado puxou a escarradeira mais para perto. O velho empurrou com o pé : - Tervino, tira essa loucinha pintada daqui, senão eu acabo cuspindo dentro. (Quem conta o "causo" é Sebastião Nery em seu Folclore Político) O caso Valcke Esse secretário-geral da FIFA, Jerome Valcke, é mesmo um desastrado. Sugeriu que o Brasil deveria ganhar "um chute no traseiro" para avançar na organização da Copa de 2014. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, pediu que a FIFA troque de interlocutor junto ao Brasil. Pano de fundo : soberania do Brasil e poderio da FIFA na organização/realização do evento. Até onde os poderes de ambos se cruzam ? Dilma para Merkel A chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, perguntou a presidente Dilma, que criticara "o tsunami" financeiro : "o que você gostaria que nós fizéssemos?". Nossa mandatária respondeu : "primeiro, esterilizem a enxurrada de euros; segundo, queremos fazer boa parceria com Alemanha, desde que haja reciprocidade; terceiro, temos que tomar medidas de proteção à nossa moeda para proteger o mercado". Ajudando Haddad A presidente quer ajudar o pupilo de Lula, Fernando Haddad, a se eleger prefeito de São Paulo. Até toparia mexer no Ministério por conta dessa candidatura. Mas já avisou que não vai enfiar o pé na lama. Ajuda de longe. Para evitar desgaste. Aliás, esse tem sido o aviso da presidente aos correligionários. Epílogo "Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". (Jorge Luis Borges) Conselhos à presidente Dilma Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à José Serra. Hoje, sua atenção se volta à presidente Dilma Rousseff : 1. A insatisfação na base governista tende a se expandir caso não sejam liberadas as verbas aprovadas no Orçamento para as regiões indicadas pelos parlamentares. Em um ano eleitoral, fechar os cofres para a esfera política parece incongruente. 2. A postura técnica, elogiável e recomendada, precisa ter uma contrapartida política. Não se governa sem apoio da base política. 3. A responsabilidade deve iluminar os caminhos decisórios. E vossa Excelência acerta em cheio quando decide colocar a régua no meio das demandas e pressões. Mas tenha cuidado para não exacerbar na postura. ____________
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Porandubas nº 307

"Foi o que me valeu" Carlos Pedreira, advogado e engraçado, entra no relato engraçado de Leonardo Mota, no Tempo de Lampião, lá no Nordeste. A passagem é esta : Certa vez, passei a atuar num processo de desquite. Como esses processos são sempre escandalosos, interferi suasoriamente junto aos cônjuges, a ver se os reconciliava. Consegui um entendimento de ambos. A esposa era uma jararaca velha ciumenta. Feia e desdentada, casara-se em segundas núpcias com o meu constituinte. Atendendo ao meu pedido para que dissesse francamente as razões que a levavam a desquitar-se, ela não hesitou : - Doutor, eu não aguentei ingratidão do finado, quanto mais deste ! Felizmente, o defunto meu primeiro marido está hoje prestando contas a Deus das noites e noites que me fez passar em claro. Agora, faz seis mês que eu estou casada com este cidadão. Os primeiros três mês viveu-se em paz. Ele tratava de me agradar e eu a ele. Mas, de certo tempo pra cá, este homem se desencabeçou, pensa que eu sou peixe podre, se esqueceu que é casado comigo, virou oficial de varruma (conquistador) e vive espalhando o sacramento pela rua..( prevaricando..). - Mentira sua ! Exaltou-se o acusado. E como prova de que cumpria os seus "deveres", e procurando desabotoar a camisa : - Inda na semana passada você deu-me uma dentada aqui no peito, que eu não sei como não me arrancou um chaboque... Está aqui a roncha ! - É menos verdade ! Titubeou ela, mostrando as gengivas. É menos verdade : a prova é que eu nem dente tenho... Ele pôs levemente a mão sobre o peito equimosado e resmungou : - Foi o que me valeu... Serra, ufa, saiu do muro Até que enfim, José Serra decidiu encarar a realidade. Não tinha alternativa melhor que a de entrar no páreo paulistano. Elenco as seguintes razões : o ciclo Serra de Vida Política não aguentaria mais uma esticada no limbo até 2014. Sem poder e sem visibilidade, chegaria trôpego e com a fala engrolada no ano do pleito presidencial. A eleição paulistana fecha o ciclo da polarização PT versus PSDB. Mas essa polarização só ocorreria com Serra candidato para disputar com Fernando Haddad. Nenhum outro candidato tucano teria cacife para ser competitivo. Apoio e visibilidade Serra conta com o apoio de duas máquinas, a da prefeitura, comandada por Kassab, e a do Estado, comandada por Alckmin. Serra tem alta visibilidade e já entra na disputa carregando uns 25% de intenção de voto. Tem ele uma rejeição alta - 33% - mas pode diminuí-la ao correr da campanha. Experiente, conhece os problemas de São Paulo mais que outros. Ademais, FHC e a cúpula tucana já avisaram que o candidato tucano, em 2014, para enfrentar Dilma é Aécio Neves. Portanto, ante a melhor alternativa, Serra desceu o muro. O novo quadro Diante da moldura que se estabelece com a decisão de Serra, é possível fazer as seguintes projeções : um segundo turno envolvendo Haddad e Serra, em campanha polarizada; a estrutura das máquinas - municipal e estadual - tende favorecer a candidatura tucana; Serra tentará comer o prato do centro para as bordas, ou seja, das classes médias para as margens sociais; Haddad, sob o império carismático de Lula, tentará comer a sopa das bordas para o centro, ou seja, tentando fisgar o eleitorado de Marta Suplicy e, vir com ele, das margens para o centro. O PT começa com seus 30% históricos de votos. Mas sua decolagem carecerá de mais alguns pontinhos. Nacionalização ? A questão é : com a entrada de Serra, a campanha será nacionalizada ? Este consultor tende a apostar que poderá, sim, ser nacionalizada, até porque a entrada de Lula na arena contribuirá para essa ideia. Táticas de guerra "Prepare iscas para atrair o inimigo. Finja desorganização e esmague-o. Se ele está protegido em todos os pontos, esteja preparado para isso. Se ele tem forças superiores, evite-o. Se o seu adversário é de temperamento irascível, procure irritá-lo. Finja estar fraco e ele se tornará arrogante. Se ele estiver tranquilo, não lhe dê sossego. Se suas forças estão unidas, separe-as. Ataque-o onde ele se mostrar despreparado, apareça quando não estiver sendo esperado".(Sun Tzu) Chalita no meio Mas há a candidatura de Gabriel Chalita, pelo PMDB, que não pode ser desprezada. Chalita é carismático e junta um voto fiel de parcela importante da Igreja Católica. Terá um bom tempo de TV e rádio, mais de quatro minutos, e expressa um discurso de renovação. Poderá, portanto, fazer barulho. Seu desafio : quebrar a polarização entre tucanos e petistas. Se não entrar no segundo turno, fechará posição com Haddad. Neste caso, o petista contará com a maior parcela do eleitorado de Chalita. Claro, nem todos os eleitores deverão entrar na corrente, pois há, em São Paulo, forte onda contra o petismo. A partir das classes médias. D'Urso Na telinha estará também a imagem de Luiz Flávio Borges D'Urso, candidato do PTB, que poderá surpreender nos debates. D'Urso é bom de embate. Se tiver um tempinho razoável de TV, pode crescer. Renda mínima "As rendas mínimas asseguradas aos cidadãos que não trabalham podem fazer com que grupos sociais inteiros caiam em um alçapão de pobreza por inatividade, de onde terão as maiores dificuldades de sair. E assim se reduz a oferta de trabalho". (Majnoni D'Intignano) PSB com Haddad O PSB do governador Eduardo Campos deverá formar aliança com o candidato petista. Lula e Campos são muito amigos e conservam uma admiração recíproca. Mas há um imbróglio : Marcio França, que comanda o PSB estadual, é secretário de Turismo do governo Geraldo Alckmin. Será que se curvará à orientação/determinação do governador Eduardo Campos ? Há, como se pode depreender, muita interrogação no ambiente pré-eleitoral. PC do B e PR O PT quer atrair, ainda, o PC do B, o PR e outros partidos que compõem a aliança governista na área Federal. O PC do B tem Netinho de Paula, o cantor e vereador, como pré-candidato a prefeito. O PR é o partido de Paulo Maluf. Seria interessante Maluf no palanque de Haddad, ao lado de Lula e Marta Suplicy. Como o pleito deste ano é o do samba do crioulo doido, Maquiavel faz o patrocínio. Dilma virá ? Claro, a presidente Dilma, convocada por Lula, deve aparecer para dar um abraço em seu candidato Haddad. Mas, como ela própria já anunciou, não gastará sola de sapato com os contendores, porque na maior parte dos 5.564 municípios os candidatos pertencem à base governista. Agradar a um significará desagradar a outro. A exceção deverá ser São Paulo. Trazida pela batuta do Papa Lula. PSD de Kassab O PSD do prefeito Gilberto Kassab terá papel importante no cenário político. O fato de apoiar Serra, em São Paulo, não implicará uma teia de apoios aos tucanos em outros espaços. Kassab tem sido muito claro : esse apoio se restringe a São Paulo. Até porque a tendência do partido é a de vir a integrar a base governista, logo após o quadro eleitoral. O PSD lutará para eleger 500 prefeitos. Com uma bancada de 53 deputados, terá cacife suficiente para influir no processo legislativo. Kassab pisca com um olho para o norte e, com o outro olho, para o sul. Um dos mais hábeis articuladores da política nacional. Centrais e empresários A FIESP promoveu, nesta segunda-feira, um encontro/almoço entre Centrais Sindicais e empresários. O motivo : debater a desindustrialização em marcha no país. Em torno de uma comprida mesa, dirigentes de entidades sindicais e industriais expressaram sua indignação com a falta de sensibilidade do Governo Dilma para com os setores produtivos. Paulo Skaf deu o tom dos discursos. Mostrou como o país está estrangulando seu parque industrial. A contrariedade se dirigia também ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que prometera comparecer ao encontro e, na última hora, deu o cano. Por que Pimentel não apareceu ? Cochichos : desprezo por São Paulo; falta do que dizer aos participantes; medo de ser foco de grande indignação (e foi mesmo); veto da presidente Dilma à sua presença na FIESP. A lição de Lincoln "Não criarás a prosperidade se desestimulares a poupança. Não fortalecerás os fracos, por enfraquecer os fortes. Não ajudarás o assalariado, se arruinares aquele que paga. Não estimularás a fraternidade humana, se alimentares o ódio de classes. Não ajudarás os pobres, se eliminares os ricos. Não poderás criar estabilidade permanente, baseada em dinheiro emprestado". (Lincoln) Dados contundentes Sindicalistas e empresários cantaram a mesma música : o Brasil está patrocinando milhares de empregos no exterior. O presidente da Marcopolo, gigante da fabricação de ônibus, exibiu dados contundentes : a hora trabalhada em sua fábrica, na Índia, é de R$ 12,00; no Brasil, é de R$ 54,00. Essa tende, dentro de poucos anos, a ser a maior fábrica do grupo. E desfilou o rosário de contas negativas, que termina na nossa logística, que cunhou com o adjetivo : "podre". Pano de fundo A presidente Dilma Rousseff dá visíveis demonstrações de desconsideração à maior Federação de Indústrias do país, FIESP. Diferentemente de Lula, que sempre visitou a entidade, quando convidado, Dilma é indiferente aos convites para encontros com empresários na avenida Paulista. Parece ter optado por uma aliança tática com a Federação de MG e com o mineiro Robson Andrade, que dirige a CNI. Em suma, Minas faz a cabeça (e o coração) da presidente. Fernando Pimentel, amigo dileto da mandatária, dá sinais de que a FIESP não existe em seu sistema cognitivo. PDT em chamas O PDT parece um partido em chamas. Paulinho, da Força Sindical, diz que será candidato a prefeito de São Paulo. Mas pode vir a apoiar José Serra. Ou não ? Depende. Depende de quem será nomeado ministro do Trabalho. Se for alguém de sua ala, poderá debandar para o lado de Haddad, em São Paulo. Se não for, baterá cabeça com o governo e com o PT em São Paulo. Lupi, por sua vez, espera que o ministro seja alguém de sua confiança. Não pode ser o deputado Vieira da Cunha ou Brizola Neto. Se for Vieira, Paulinho garante que pulará para a oposição. Ninguém sabe para onde a sigla caminhará. Base da Antártica A base brasileira na Antártica foi destruída por um incêndio. Pesquisas de 30 anos foram destruídas. Retrato brasileiro do desleixo e displicência. Marketing de campanhas Este consultor, ancorado em sua vivência, chama a atenção para o planejamento do marketing das campanhas. Senhores candidatos e assessores, atentem para estas abordagens : 1) priorizem questões regionalizadas, localizadas, na esteira de um bairro-a-bairro, ou seja, façam a micropolítica; 2) procurem criar, logo, logo, o diferencial de imagem, elemento que será a espinha dorsal da candidatura, facilmente captável pelo sistema cognitivo do eleitor; 3) desenvolvam uma agenda que seja capaz de proporcionar "onipresença" ao candidato (presença em todos os locais); 4) organizem uma agenda contemplando as áreas de maior densidade e, concentricamente, chegando às áreas de menor densidade eleitoral; 5) eventos menores e multiplicados são mais decisivos que eventos gigantescos e escassos; 6) despojamento, simplicidade, agilidade, foco para o essencial, mobilidade, propostas fáceis de compreensão e factíveis - eis aí um ligeiro escopo de conceitos-chave. Maia e Garotinho Cesar Maia e Anthony Garotinho formalizaram a aliança entre PR e DEM. Minha velha mãe, Chiquita, sempre me lembra : "meu filho, nunca diga : desta água não beberei". Porandubas populares Pois é, esta coluna Porandubas Políticas tem a satisfação de registrar a peça Porandubas Populares ou Paulicéia Desvairada, de Carlos Queiroz Telles. Misto de teatro de revista, circo e ópera-rock. Ora, Porandubas é isso mesmo, coisa como fragmentos. Vivem perguntando a este consultor : o que significa Porandubas ? Digo : em tupi guarani, quer dizer notas, notícias curtas, flashes, fragmentos de texto, pílulas. O nome dos ministros ? Pequeno teste : quem é capaz, agora mesmo, de citar sete ministros do governo Dilma ? Até o final deste texto, procure se lembrar. Num regime presidencialista forte, como o nosso, e ainda por cima controlado com mão de ferro, sob o regime do medo, ministro que aparece muito tem a língua cortada. Bom, chegamos ao final. E os cinco ministros ? Lembro : há 37 ministros. Mais que uma rosa "Quero ser algo mais que uma rosa na lapela de meu marido" (Margaret Trudeau, então casada com o primeiro ministro do Canadá, Pierre Trudeau) Conselho a José Serra Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos foliões. Hoje, sua atenção se volta à José Serra : 1. Não perca tempo. Alinhe o discurso, com abordagens convincentes, para justificar sua decisão de ser candidato, depois de tanto tempo indefinido. 2. Desta feita, evite coisas espalhafatosas, como registro em Cartório com o compromisso de permanecer até o final da administração, caso seja eleito. Uma vez, é aceitável. A segunda vez, mesmo sob o colchão da sinceridade, ninguém vai aceitar. Lembraria o compromisso não cumprido. 3. Tente usar a experiência para estabelecer seu diferencial. E administre sua conhecida índole de auto-suficiência, arrogância e superestima. Os olimpianos também despencam dos céus. ____________
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Porandubas nº 306

Salgar meu pai Abro a Coluna com uma historinha do Rio Grande do Norte, mais precisamente de Macaíba, vizinha à Capital, Natal. Em certa administração municipal, constituída em sua grande maioria por pessoas de Natal, um pobre rapaz procurou o gabinete do prefeito com um problema urgente. Era uma sexta-feira. "Meu pai morreu e vim pedir o caixão", suplicou o jovem à secretária natalense da mais fina flor da moderna burocracia. "Hoje não há como atender. O prefeito e todo o pessoal foram a Natal. Volte segunda-feira, está bem ?", respondeu a funcionária conscientíssima do dever cumprido. Desolado o rapaz recuou e abriu novamente a porta do gabinete para nova abordagem : "Dona, poderia me arranjar dois reais ?". "Pra quê você quer o dinheiro ?", interrogou a eficiente servidora."É pra comprar sal grosso, salgar o meu pai até segunda-feira !". Quem conta o "causo" é Valério Mesquita. Cenários eleitorais - Vermelho/encarnado Este cenário é o do PT. Nele, vê-se o partido abocanhando entre 1200/1300 prefeituras das 5.564 existentes no país. Significaria passar à frente do PMDB e, desse modo, garantir a argamassa para a decolagem do avião de 2014, com as maiores bancadas - estaduais e federais - sob o embalo da reeleição da presidente Dilma. Este é o desenho que o PT tentará compor. E mais ainda : sua meta é eleger o maior número de prefeitos nas 200 mais populosas cidades do Brasil. Faz parte da estratégia de prolongar o ciclo petismo/lulismo/dilmismo. - Vermelho/preto Este é o cenário do PMDB. O desenho que o partido quer ver no país abriga entre 1300/1400 prefeitos. Acha que, por ter, hoje, o maior número de administrações municipais e o maior número de vereadores, pode ambicionar meta mais larga, ou seja, expandir sua base municipalista. Trata-se do partido de maior capilaridade nacional, posição que vem mantendo desde 1986, quando elegeu 21 dos 22 governadores de Estado. Eram os tempos áureos de Sarney e do confisco do boi no pasto. A grande luta do partido será com o PT, que quer desbancá-lo da posição. - Azul/amarelo Este é o cenário tucano. O PSDB tentará eleger entre 800 a 1000 prefeitos. Conta, para isso, com a força de administrações estaduais nos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo (Geraldo Alckmin), Minas Gerais (Antonio Anastasia), e em Estados importantes como Paraná (Beto Richa) e Goiás (Marconi Perillo). Lembre-se que MG tem o maior número de municípios do Brasil e o governador Anastasia é bem avaliado. A administração Alckmin também goza de razoável prestígio. - Verde/amarelo/branco Este é o cenário do PSD de Kassab. Que governa, hoje, cerca de 270 prefeituras, com a migração de prefeitos vindos principalmente do DEM. O PSD já tem 53 deputados Federais e espera ser vitorioso em 500 municípios. O partido pisca de um lado e de outro, ensaiando estabelecer alianças de todos os lados. Seu objetivo é formar uma grande base política. O prefeito é exímio articulador. Conta com governos de Estado (SC, AM) e com políticos influentes. Tenderá a participar da base governista. - Vermelho/amarelo Este é o cenário do PSB, do governador Eduardo Campos. Espera fazer uns 800 prefeitos, principalmente na região Nordeste, a partir dos Estados de Pernambuco e Paraíba, onde tem as rédeas. Campos sonha com 2014, seja como candidato a presidente da República seja como vice na chapa da presidente Dilma. Pisca com um olho para o tucano Aécio Neves e com outro para Kassab. É um poço de ambições. E aprecia Maquiavel. - Azul/verde/branco Este é o cenário do DEM. Que foi visivelmente enfraquecido pelo PSD de Kassab. O partido terá o pleito de outubro como um parâmetro para projetar suas estratégias e abrir os horizontes de futuro. Caso perca tempo eleitoral e recursos do Fundo Partidário - ameaça real que sobre ele se projeta - a saída para o DEM seria uma fusão. E o partido com quem começa a abrir conversações é o PMDB. Os dois, juntos, formariam um grande ente com mais de 100 deputados Federais. O DEM quer eleger uma boa bancada de prefeitos, mas seu desempenho será uma incógnita.Prosperidade e adversidade "Na prosperidade, nossos amigos nos conhecem. Na adversidade, conhecemos os nossos amigos". (Collins) A policromia partidária Como se pode aduzir das próprias cores que adornam os cenários, a imbricação de posições, ações, metas e comportamentos é patente. Todos pensam de forma assemelhada. Falamos, claro, dos grandes e médios partidos (lembrando ainda o PDT, PTB, PP, PRB, PV) que agem no centro - e nas bandas esquerda e direita - do arco ideológico. Não estamos, aqui, incluindo os entes com maior coloração doutrinária, como PSOL, PCO, PSTU, etc. A constelação partidária deverá obter 90% dos votos nacionais, deixando percentagem mínima para siglas das margens ideológicas. A régua de cada um Quem tem se sobressaído nas administrações estaduais ? A maior visibilidade dos governadores, convenhamos, ocorreu na esteira de eventos negativos - acidentes/incidentes naturais no Rio, greves de policiais militares, epidemias, etc. Quem apareceu de maneira positiva ? Ninguém. Anastasia, sobre o qual se projetava a marca de exímio gestor, mergulhou. Renato Casagrande, do Espírito Santo, não é nem referência de passagem. Alckmin, em São Paulo, talvez seja o mais visível, particularmente por conta de eventos conjuntos com a presidente Dilma Rousseff, em São Paulo. Tarso Genro, no Rio Grande do Sul, fica distante dos eixos centrais. Perillo e Beto Richa, tucanos, parecem não terem ainda deslanchado. Cabral, do Rio, aparece sempre em meio a tragédias. E com a imagem de turista parisiense. Wagner, da Bahia, acaba de sair de uma greve. Quem ficou acima de cinco na régua ? Difícil dizer. Tudo o que somos "Morrer é deixar tudo o que temos e levar tudo o que somos". Serra quase aceitando E aqui estou eu novamente fazendo a recorrente leitura do quadro paulistano. Digo e repito : aqui nessa arena ocorrerá a mais sanguinolenta e emblemática luta eleitoral dos últimos tempos. Terá Lula, careca e curado, no comando de um exército; Alckmin, na vanguarda de outro; e Kassab, abrindo novas frentes na arena. Pois bem, a briga tende a se acirrar, caso José Serra, que sempre nega ser candidato, decida enfrentar o páreo. Este consultor soube que, nas últimas horas, ele deixou de refugar. Já não manda o interlocutor recolher-se ao silêncio. Mostra-se disposto a pensar. Serra está quase com a decisão pronta. Se sair, Kassab deverá recuar da ideia de fechar posição com o PT de Haddad. Daí a pressa de Serra para evitar a decisão de Kassab.Rejeição nas nuvens Caso Serra tope a parada, deverá enfrentar a maior luta de sua vida : contra ele mesmo. Tem uma rejeição altíssima, por volta de 35%. Significa que Serra deverá ajustar sua identidade, na esteira de um processo que demanda mudança de atitudes, comportamentos, ações, gestos, etc. José Serra não provoca simpatia. O que mata um jardim "O que mata um jardim não é o abandono. O que mata um jardim é esse olhar vazio de quem por ele passa indiferente". Mário Quintana. Ministros na ordem unida Em tempos idos, era fácil apontar o ministro com maior força, de maior prestígio, o mais simpático, o mais arrogante, etc. Nos últimos tempos, essa tarefa tornou-se difícil. Porque o governo gira em torno de dona Dilma. Que centraliza tudo, que dá as ordens, puxa a orelha, cobra, dá corda, motiva e desmotiva. Os ministros temem enfrentar a ira da presidente. O Ministério recolheu-se. Quem bota as manguinhas de fora pode levar bronca. Mais ordem unida A presidente Dilma recomendou, ontem, aos 15 partidos que compõem a base aliada - presentes à primeira Reunião do Conselho Político - que mantivessem a unidade. Que as eleições de outubro não fossem obstáculo para brigas partidárias. Estiveram presentes líderes e presidentes dos seguintes partidos : PT, PMDB, PSB, PSC, PP, PDT, PTB, PR, PCdoB, PRTB, PRB, PT do B, PRP, PSL e PHS.Ansiedade "Ansiedade é a incapacidade de saber o que é importante e o que não é". Plasmando a cara A cara do Ministério vai tomando a feição de dona Dilma. A nova ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, e a nova presidente da Petrobras, Graça Foster, são carne e unha com a presidente. De maneira lenta, segura e gradual, a comandante-em-chefe das forças do país vai escolhendo os seus generais e coronéis. Magistrados em nova briga Nem bem saíram da batalha sobre o CNJ, cujas funções queriam ver mais restritas, as associações de magistrados acenam com mais querelas. Querem, agora, lutar contra o Executivo por não aceitarem a criação do Fundo Complementar para os Servidores Públicos. As demandas dos magistrados, convenhamos, contribuem para expandir o contencioso que entope os canais da Justiça. Cada qual empresta sua cota para as curvas da Justiça. Justos e pecadores "Só há dois tipos de homens : os justos que se crêem pecadores e os pecadores que se crêem justos. Mas nunca sabemos em qual dessas categorias nos classificamos - se soubéssemos já estaríamos na outra". (Pequeno Tratado das Grandes Virtudes - André Comte-Sponville) Governo sob pressão O governo não tem cumprido o compromisso de mandar pagar as emendas dos parlamentares feitas no orçamento de 2011. A insatisfação das bases bate no teto. As ministras Ideli e Gleisi são uma pilha de nervos. Os deputados miram em três alvos : aprovação do Fundo Complementar dos Servidores Públicos, o Código Florestal e a Lei Geral da Copa.Prócer e liderança Historinha contada por Carlos Santos, em seu livro Só Rindo 2. Auxiliar direto do governador Dinarte Mariz, Grimaldi Ribeiro apresenta-lhe outro político interiorano no Palácio Potengi : - Este é um prócer político do Trairi - define. Noutra oportunidade, utiliza vocábulo diferente : - Governador, esta é um liderança política da região Oeste. Intrigado com as constantes distinções, mas sem captar a sutileza da separação, o arguto Dinarte interpela Grimaldi : "Por que uns são próceres e outros lideranças ?". Professoral, Grimaldi justifica : - Governador, prócer só tem pose, e liderança é que tem voto. Conselho aos foliões Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos membros do Judiciário. Hoje, sua atenção se volta aos foliões : 1. Tempo de folia é tempo de catarse, de alegria, de descontração, de convívio social. Aproveitem a folia carnavalesca, mas sem exageros que possam causar problemas ao físico e ao espírito. 2. Que o carnaval lhes proporcione viver momentos de relaxamento e lazer ao lado de familiares, amigas e amigos. 3. E que voltem ao espaço do labor com disposição e o compromisso de realizar bem as suas tarefas e funções. Pelo seu bem e pelo bem da sociedade ! ____________
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Porandubas nº 305

Malícias de Tancredo Abro a Coluna com historinhas de Tancredo Neves, o avô do senador Aécio, contadas pelo amigo Sebastião Nery. Tancredo dava uma entrevista e o jornalista anotava tudo. Quando acabou, Tancredo Neves leu. Estava escrito : - Não pretendo ser governador de Minas. Tancredo pediu licença, emendou com a própria caneta : "Não pretendo ser candidato a governador de Minas". E outra. Geraldo Rezende, editor político de O Diário, sábio e santo, conversava com Tancredo no final da campanha para o governo de Minas, em 1960, contra Magalhães Pinto : - Tancredo, você precisa ter fé. Dê uma passada no Santuário de São Geraldo, em Curvelo, que São Geraldo não esquece seus devotos. Tancredo foi lá. Perdeu as eleições para Magalhães. Telegrafou a Geraldo : - Geraldo, São Geraldo esquece seus devotos. Meses depois, Jânio renuncia, assume Jango. Tancredo é primeiro-ministro. Geraldo telegrafa a Tancredo : - Tancredo. São Geraldo não esquece seus devotos. Bahia violenta A Bahia de Todos os Santos virou terra da barbárie. 54 mortos, até o momento, vítimas da violência que assola Salvador, desde o início da greve dos policiais militares. Surpreendente é que a greve assumiu proporções inusitadas, deixando as autoridades governativas sem rumo. O governador Jaques Wagner, sempre cioso de seus deveres, diz que não cederá. O aumento de 6,5% que deu ao funcionalismo será o mesmo para a PM. O mais incrível é ver a situação de caos nas terras santificadas da Bahia, nas proximidades do carnaval, um dos maiores e mais animados eventos do país. O affaire poderá sujar a imagem do governo e servir de discurso aos opositores na campanha eleitoral deste ano. Salário vergonhoso Um policial militar, em início de carreira, ganha na Bahia R$ 1.550,00. Será que este salário sustenta uma família com 3 filhos ? No Rio de Janeiro, o salário é menor ainda, de R$ 1.137,49. Abaixo, só os salários dos policiais no Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul, de R$ 1.111,00 e R$ 996,00, respectivamente. Já no Distrito Federal, os policiais ganham R$ 4.129.73. Neto sobe A crise baiana poderá servir de impulso à candidatura de ACM Neto. Que tem condições de alçar voo. Para ser o próximo prefeito de Salvador. A privatização de Dilma Pois é, os aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília foram a leilão e passarão a ser concessões privadas. O vencedor do leilão de Guarulhos (R$ 16,213 bilhões, ágio de 373,5%) foi a Invepar, empresa de investimentos criada pela OAS, que tem como acionistas os fundos de pensão Funcef (Caixa Econômica), Previ (BB) e Petros (Petrobras). A empresa ganhou em acordo com a ACSA, da África do Sul, que opera principais aeroportos africanos. O de Campinas (R$ 3,821 bilhões e ágio de 159,8%) vai para as mãos de Triunfo Participações, consórcio formado pela Constran, que pertence à UTC Engenharia ; Aeroservice, empresa de projetos de aeroportos ; e Egis Airport Operation (França), operadora de aeroportos. E o de Brasília (R$ 4,5 bilhões e ágio de 673,4%) ficará sob o controle da Engevix, em sociedade com a Corporación America (Argentina). Participações No aeroporto de Guarulhos, a Invepar tem 90% e a ACSA, 10% ; no de Campinas, Triunfo fica com 45%, Constran com 45% e Egisavia fica com 10% ; o aeroporto de Brasília foi repartido entre 50% para a Engevix e 50% para a Corporación Argentina. Atenção : a Infraero terá participação de 49% nos consórcios. E mais um dado para entender a moldura : o BNDES financiará 80% dos investimentos. Claro, com a Infraero pagando parte da conta. Privatização sob vigilância O dado acima permite inferir : a privatização ficará sob o olhar do governo. Ou seja, a Infraero terá uma lupa para enxergar as situações de cada consórcio.Ágio médio O ágio médio no leilão de privatização dos aeroportos foi de 348%. Total arrecadado : R$ 24,5 bilhões. Empreiteiras fortes como Odebrecht e CCR ficaram de fora. Grandes operadores de aeroportos, como os que operam em Cingapura, Zurique e Houston perderam seus lances. O caráter e o silêncio Há dois grandes traços que pintam o caráter : a atividade em prestar serviços, o que prova generosidade, e o silêncio sobre os serviços prestados. PELISSON (Paul, escritor francês, historiógrafo de Luís XIV. Pinçado por José da Silva Martins em sua Coletânea de Pensamentos) Mais recorde Brasil dos bilhões. R$ 14,6 bilhões de lucro líquido. O maior lucro líquido já alcançado por um grupo na história do Brasil. Foi o que conseguiu o grupo financeiro Itaú/Unibanco em 2011. Esse é o Brasil da dinheirama. Pão e circo "Os povos gostam do espetáculo; através dele, dominamos seu espírito e seu coração". Luís XIV. Maquiavel já aconselhava ao Príncipe "divertir e reter o povo em festas e jogos". Os tiranos que surgiam nas cidades gregas entre os séculos VII e VI A.C. já utilizavam intensamente as festas populares em benefício de sua propaganda. Dilma cautelosa A presidente Dilma, após a recomposição do Ministério, deverá recolher o excesso verbal em matéria de política. Tende a ser mais cautelosa. O Congresso retoma a agenda e há projetos importantes, como o Fundo Complementar do Servidor Público, a ser votado nas próximas semanas. Partidos e silentes Os partidos também entenderam que a presidente Dilma não aprecia muito os salamaleques, pressões e contrapressões. E também recolhem o lixo verborrágico. Procurarão usar sua força expressiva (e eleitoral) em tempo e condições mais convenientes. Agora, não é hora. Passarinho na muda não pia. Quem não crê em nada "Quando um homem vem me dizer que não crê em nada e que a religião é uma quimera, faz com isso uma confidência muito ruim, pois devo ter, sem dúvida, ciúme de uma terrível vantagem que ele tem sobre mim. Como ? Ele pode corromper minha mulher e minha filha sem remorsos, enquanto eu seria impedido de fazer o mesmo por medo do inferno ! A disputa é desigual. Que ele não creia em nada, com isso posso consentir, mas que vá viver em outro país, com aqueles que se lhe parecem, ou, pelo menos, que se esconda, e que não venha insultar minha credulidade". Montesquieu em seus Escritos. Cenário paulistano Esta coluna não abre mão de fazer um recorrente cenário eleitoral para a capital paulista. Pede desculpas aos leitores pela retomada da paisagem paulistana. Afinal, trata-se do pleito mais importante do país, eis que abrigará o maior eleitorado e as maiores lideranças políticas nacionais, a partir de Lula, careca e santificado, que faz articulação em prol de seu candidato, Fernando Haddad, até em quarto do hospital Sírio-Libanês. Então, vamos lá. Desenho I Fernando Haddad, pelo PT, com o apoio do PSD, de Kassab, disputa com Gabriel Chalita no segundo turno. Vale lembrar que o PT tem históricos 30% dos votos na capital paulista. Gabriel Chalita, do PMDB, terá um bom tempo de TV e rádio. Alguém poderá objetar : e o candidato tucano ? Esse é o busílis. Se for um dos japoneses - muito parecidos - será pouco provável. Japoneses : Zé Aníbal, Ricardo Trípoli, Bruno Covas e Andrea Matarazzo. Bruno Covas poderia tirar Geraldo Alckmin da retaguarda e deixá-lo na vanguarda. Mas o neto de Mário Covas não conta com número suficiente de adesões para ganhar as prévias. Andrea conhece bem a cidade, até mais que os outros. Também não contaria com votos suficientes. Desenho II A questão de sempre : e Serra ? Cercado de pressões por todos os lados, tem jurado que não topa. Mas há uma esperança entre os tucanos. A de que ele poderia aceitar e salvar a Pátria. Receberia o apoio irrestrito do PSD de Kassab e, assim, desfazer a aliança que ele tende a estabelecer com o PT. Serra candidato poderia entrar no segundo turno. Ganharia a campanha ? Dependerá do seu índice de rejeição, hoje muito alto. O ambiente social e econômico do 2º semestre influirá na diminuição/manutenção do índice de rejeição. Nesse caso, poderíamos ver o restabelecimento da velha polarização PT x PSDB. Pano de fundo : santo Lula protegendo Haddad. Mais paisagens Alckmin protegeria Serra ? Há quem duvide. E se o vice-governador Guilherme Afif fosse o candidato ? Teria chances caso dispusesse de tempo eleitoral (rádio e TV) suficiente. Outra perguntinha recorrente : Serra tem futuro ? Sem dúvida. Mesmo se não for candidato a prefeito, Serra terá um horizonte de média distância para contemplar. Se não for o candidato tucano em 2014, perdendo para Aécio a vaga, teria de fazer opções antes daquele ano decisivo. Poderia disputar o Senado. Ou, mesmo, a presidência da República por outro partido, o que o levaria a sair do PSDB até outubro de 2013.Vitória ou derrota de Lula E se Fernando Haddad for derrotado ? Seria uma derrota de Lula. E se ganhar ? Mais uma vitória de Lula. Que parece vitaminado. O ex-presidente está muito ativo. Parece somar forças em momentos críticos.Mantega capengou O affaire em torno da Casa da Moeda pegou de leve no ministro Guido Mantega. Foi ele quem escolheu o presidente que saiu. Sob grande suspeita. Quis atribuir a escolha ao PTB. Que negou. Ao tentar argumentar, Mantega escreveu torto por linhas tortas. Que ganho real é esse ? Há pouco tempo, nesta coluna, fizemos reflexões sobre os critérios estabelecidos pelo Decreto Estadual 48.326/2003 para conceder reajustes ao setor prestador de serviços. Ocorre que o Estado impõe fórmulas que levam em consideração apenas a variação do IPC. Ou seja, no acordo da categoria dá-se um reajuste de 15%, mas o governo repassa ao setor menos que 7% (IPC apurado). Como isto vem ocorrendo há alguns anos, a perda, nos últimos 3 anos, já chega a mais de 25%. Sem condições de honrar dissídios trabalhistas, o setor obreiro começa a mobilizar suas bases em torno de uma greve geral. Seria prudente que governo e empresários procurem os meios e as condições para uma abordagem que possa equacionar a pendenga. O setor privado é o maior gerador de empregos do Estado. Merece um pouquinho mais de atenção. A não ser que o governo queria estrangular a galinha de ovos de ouro. Governantes Quando Confúcio visitou a montanha sagrada de Taishan, encontrou uma mulher cujos parentes haviam sido mortos por tigres. - Por que não se muda daqui, perguntou Confúcio. - Porque os governantes são mais ferozes que os tigres. Descontroles No Rio, três prédios desabam deixando um rastro de mortes. Descalabro. Falta de fiscalização. Rio de Janeiro mais parece uma Beleza em Apuros. Agora, é em São Bernardo que um prédio despenca. Descontroles por todos os espaços. Esse é o Brasil do jeitão que é, da incúria, do desleixo, da falta de planejamento, da ausência de critérios racionais, da folgança de todas as horas.Notas dos partidos Pesquisa informal da coluna. Notas dos partidos aliados ao governo Dilma. De 1 a 10. PT avaliando o governo Dilma : 9. PMDB : 7,5. PP : 6. PTB : 6. PRB : 7. PDT : 6. PSB : 8. PC do B : 8. Aferição dos três principais partidos da oposição : PSDB : 5. DEM : 5. PPS : 5. Andréa Andréa Neves da Cunha, irmã de Aécio, bem articulada, começa a surgir na paisagem mineira. Sucessora de Anastasia no governo ? O exemplo de Maomé Maomé levou o povo a acreditar que poderia atrair uma montanha. E que, do cume, faria preces a favor dos observantes da sua lei. O povo reuniu-se; Maomé chamou pela montanha, várias vezes; e como a montanha ficasse quieta, não se deu por vencido, mas disse : "Se a montanha não quer vir ter com Maomé, Maomé irá ter com a montanha". Dessa forma, os homens que prometeram grandes prodígios e falharam sem vergonha (porque nisso está a perfeição da audácia), passam por cima de tudo, dão meia-volta e realizam o seu feito. (Francis Bacon em seus Ensaios) Conselho aos membros do Judiciário Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos partidos e seus líderes. Hoje, sua atenção se volta aos membros do Judiciário : 1. Após a decisão do STF convalidando as funções do CNJ, resta ao corpo do Judiciário fazer intensa reflexão, mapeando seus altos e baixos, pontos fortes e fracos. O momento é de recolhimento. 2. Urge recompor a força moral do Judiciário, o que implica posturas mais sóbrias e circunspectas. Os Tribunais de Justiça dos Estados devem fazer o exercício da limpeza em suas fichas. Joio, mesmo isolado, não pode contaminar o trigo. 3. Conceitos para cobrir o manto sagrado da Justiça : transparência, dignidade, zelo, organização, agilidade, sabedoria, ética, vigor cívico e isenção. ____________