COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas

Porandubas Políticas

Por dentro da política.

Gaudêncio Torquato
quarta-feira, 18 de maio de 2005

Porandubas nº 4

A CRISE AUMENTA   Que o governo Lula está chegando ao cume da montanha da crise, não se duvida. A desarticulação da base governista é completa. Os partidos aliados já não sabem a quem recorrer. O ministro Aldo já não tem mais condições de permanecer no assento da Coordenação Política. O PT ganha desconfiança por todos os lados. O flagrante de corrupção na sala de um funcionário dos Correios, que embolsou a quantia de R$ 3 mil, exibe mais um elo da imensa cadeia de corrupção na administração federal, que mostrou as caras desde o episódio Waldomiro Diniz, assessor do ministro José Dirceu. E este, no programa Roda Viva, na segunda feira, na TV Cultura, bate no refrão: "este governo não rouba, nem deixa roubar". Roberto Jefferson usa a tribuna para dizer que é vítima de uma farsa. O Procurador Cláudio Fonteles, guardião cívico da Nação, quer apurar denúncias de falcatruas envolvendo o ministro da Previdência, Romero Jucá, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O presidente Lula dá um voto de confiança aos dois. Espera que sejam inocentados. As oposições pedem uma CPI para apurar a corrupção nas estatais. O PT mais à esquerda concorda. O que vai acontecer?   LENTIDÃO E LENIÊNCIA   A situação está mais do que confusa. Careceria ação mais que urgente do presidente da República. Decisões que deveria ter tomado em tempo hábil: a) afastamento do ministro Romero Jucá até a apuração completa das denúncias; b) afastamento do presidente Henrique Meirelles até provar que as denúncias são infundadas; c) mudança de comando na articulação política, não necessariamente com o afastamento do ministro Aldo Rabelo, mas com seu deslocamento para outro Ministério; d) mudança no sistema de articulação política, com a proposição de um comitê de líderes de partidos que deveriam ter um link direto com o presidente Lula; e) lavagem completa de roupa suja na própria lavanderia do PT, quando todos os grupos deveriam chegar a pontos convergentes, sob pena de a guerra interna inviabilizar uma estratégia consensual em torno da candidatura Lula; f) prioridade absoluta à articulação não apenas com as forças congressuais mas com as direções partidárias, que controlam as bases. São estas que aprovarão/desaprovarão a aliança dos partidos com o PT para o projeto de reeleição de Lula; g) reforma ministerial, com inclusão de perfis que possam contribuir para agregar forças no segundo tempo da administração petista. O projeto de reeleição de Lula passa pela formação de um governo de coalizão. O que significa abrir mesmo espaço para os partidos aliados. Há um problema nisso tudo: a lentidão do presidente da República. O homem não gosta de tomar posição no meio de uma crise. O que dá a impressão de leniência do governo para o estado geral de desorganização da base governista. Em resumo: Lula erra muito e aumenta a crise com sua indefinição. Assim como aumenta a auto-definição. Ao se comparar a Getúlio Vargas e a Juscelino Kubitschek, Lula coloca-se no mais alto panteão do reconhecimento nacional. O que, convenhamos, é muito cedo. Por isso, cada vez mais se proclama: "menos, Lula, menos".   O FOGO DE JEFFERSON   Roberto Jefferson entra no rol de solidariedade de Lula, até porque seu partido está unido na defesa do presidente do PTB. Dizem que tem bala para atirar, caso seja ferido gravemente. Por enquanto, atirou em dois coronéis ligados a uma empresa de informática. (será que os dois coronéis também não têm outras balas?) Trata-se de um orador muito bom e seu discurso na Câmara pode ter causado boa impressão. Mas sua ficha de adesista de todos os momentos corrói a força do discurso.   ALCKMIN SENADOR   O governador Geraldo Alckmin quer mesmo ser candidato à presidência da República. Até pouco tempo atrás, era o candidato mais forte do PSDB. A posição, hoje, voltou para Fernando Henrique. O ex-presidente assiste, deliciado, Lula começar a descer o despenhadeiro. Se a queda for grande, topará liderar a chapa tucana, sob a alegação: "se o povo assim quis, pelo bem da Pátria..." Aécio Neves já está em plena campanha em Minas Gerais, mas tem uma pontinha do olho virada para o plano federal. Mas Alckmin, se for deslocado de seu eixo principal, toparia bater chapa com Suplicy, na única vaga para senador, em São Paulo, em 2006. Corre uma pesquisa mostrando Alckmin batendo o senador petista. Porém, o ambiente de eleição tem outros ares...   RENAN EM ALAGOAS   O presidente do Senado, Renan Calheiros, está começando a desistir de defender apoio irrestrito ao projeto de reeleição de Lula. Convidado pelo governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, a ser o candidato de uma ampla aliança partidária, começa a encarar positivamente a idéia. E já bombardeia para meio mundo o refrão de que "o PT não é confiável".   MARTA CRISTIANIZADA?   Em São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy está em plena pré-campanha, correndo o Interior e fazendo o que outros pré-candidatos fazem bem menos: contatos com as bases. Vai ser difícil tirá-la do páreo petista. Mas a caneta de Lula e a mão de Zé Dirceu trabalharão intensamente pela candidatura do senador Aloizio Mercadante. João Paulo Cunha não terá vez. Ganhará um cargo de compensação. Para Marta, Lula tem uma Embaixada. Mas a ex-prefeita é dura na queda. Quem a viu em um programa de TV, tirando chapéus para políticos, sentiu que irá até o fim. A briga do PT, em São Paulo, será um tiro no pé. Quem for candidato, entrará na campanha enfraquecido. Até porque, a esta altura, começam a jogar sujo contra a ex-prefeita. Se ela não for a candidata, é pouco provável que trabalhe com afinco o nome escolhido.   SERRA PATINANDO   Já se vão lá cinco meses e o prefeito José Serra não decolou. Dizer que recebeu a Prefeitura destroçada é discurso para, no máximo, dois meses. A essa altura, a administração municipal deveria ter um eixo, uma identidade, uma linguagem. Não tem. Não se sabe o que é prioridade, o que é secundário. O caminho mais largo não foi aberto. Sanear finanças não pode ser programa principal. Isso é meio, não é fim. A identidade de uma gestão abriga algo como um guarda-chuva social, um sólido programa de investimentos na periferia, a recuperação da saúde etc. Se Serra não decolar nos próximos dois meses, estará enfraquecendo todo o projeto tucano para 2006, aí incluindo o projeto presidencial. Se decolar na beirada da eleição de 2006, poucos perceberão. Não dará tempo - como não deu tempo a Marta - que algum candidato tucano consiga votação massiva em São Paulo.   RIGOTTO EM AÇÃO   Começa a ganhar corpo a candidatura de Germano Rigotto, pelo PMDB, à presidência da República. Esbanja charme e densa expressão em matéria econômica. Jovem, sério, fluência na expressão, boa aparência. Não é muito conhecido, o que, nesse momento, de tanta massificação de perfis saturados, é algo positivo. Passa a impressão de assepsia. Garotinho, por sua vez, vive cercado de crises. E duas coisas limitam seu perfil: Rio de Janeiro e a religiosidade evangélica. Ou seja, trabalha em campos muitos limitados. A igreja evangélica tolhe seus movimentos em outras direções. E Rio de Janeiro é um monumento de beleza brasileira. Mas, associado a Garotinho, fica com cara de violência e insegurança social._________________
quarta-feira, 11 de maio de 2005

Porandubas nº 3

A PEDRA NO MEIO DA LAGOA   Os horizontes eleitorais de 2006 estão sendo escancarados com muita volúpia. Os discursos começam a entrar na esfera da polarização. Fernando Henrique ataca de todos os lados, na esteira da mobilização tucana. César Maia ocupa os espaços centrais dos tempos do PFL na mídia partidária. Garotinho avança corpos à frente de outros pré-candidatos do PMDB, até porque tem se colocado em posição de ataque ao governo federal. E Lula já não esconde que entrou no palanque, ao atacar, nos últimos dias, o governo anterior. Mas o que há de novo neste cenário cheio de grandes interrogações? A pedra jogada no meio da lagoa. A classe média está indignada contra Lula. A gota d'água foi a referência ao "traseiro" do brasileiro que se acomoda no bar tomando chope, em vez de reclamar os juros altos no banco. Como pobre quase não vai a banco, Lula atingiu em cheio a classe média. Foi a classe média que deu um voto pesado a Lula na campanha passada. O petista, que sempre foi acolhido pelas massas periféricas, conseguiu chegar ao coração de grandes contingentes do centro da sociedade. Pois bem: esses contingentes estão se desgarrando. Exibem, na ponta da língua, a indignação. O arrependimento é grande. Nas últimas semanas, com a seqüência de besteiras governamentais - inclusive a tal Cartilha para corrigir a linguagem popular - as críticas subiram de tom. Atenção: quando a classe média grita no meio da lagoa, o eco acaba chegando nas margens. Já não se considera Lula um candidato imbatível.   À PROCURA DE UM DISCURSO   Lula ganhou a campanha com o mote "a esperança venceu o medo". A esperança embutia o acervo de mudanças. O que mudou? Se algo mudou, foi um detalhe aqui, um pormenor ali, uma coisita acolá. A matéria econômica continua sendo elaborada com a argamassa da ortodoxia, escudada em juros altos e controle enérgico da inflação. A matéria social carece de substância. Fome zero ganhou um zero de reconhecimento social. O Programa Primeiro Emprego ficou apenas na promessa. Não tem recursos. O Bolsa Família parece herança da situação anterior. O campo da gestão governamental está esburacado. A articulação política do governo Lula é uma lástima. Qual será, então, o discurso de Lula? Se for o discurso da estabilidade, não fará impacto. Se for uma "revolução social", vai ter que dizer a razão pela qual ela ainda não foi feita. Vai ser uma pedreira o candidato Lula encontrar o fio da meada para resgatar um bom discurso. Mas e os tucanos? Também terão problemas. Se o núcleo do discurso abrigar a questão da estabilidade, a situação continuará zero a zero, porque o PT também baterá nesta tecla. Se a questão resvalar para a escalada dos juros, os governistas também encontrarão dados para justificar a escalada tributária no governo anterior. O que poderá dizer o PFL? Pelo que se observa, vai bater na gestão, mostrando a qualidade do governo César Maia. O PMDB, por sua vez, terá um discurso mais nacionalista. Dificuldade: o que é ser nacionalista, dentro de um mundo globalizado? Resumo da ópera: a procura de um discurso será crucial para os partidos e presidenciáveis de 2006.   ALDO ESTÁ QUASE SAINDO   O ministro Aldo Rabelo não tem mais condições de permanecer no Governo. A não ser que deseje ser cozinhado até os ossos. Não tem prestígio na máquina governamental. Não é apreciado pelos petistas. Não tem mais a confiança dos partidos aliados, porque, constata-se, "falta tinta em sua caneta". Trata-se de um homem preparado, educado, cortês nos gestos e palavras. Tive a oportunidade de conhecer seu pensamento mais a fundo, recentemente, e fiquei impressionado com o conhecimento que exibe a respeito dos problemas brasileiros. Confesso, mesmo, que tinha certo preconceito em relação ao ministro por sua filiação ao PC do B, partido que herdou uma visão mais fechada do comunismo. Aldo Rabelo está acima da média do Ministério quanto ao calibre técnico e ético. Ocorre que a política brasileira nem sempre caminha no terreno da racionalidade e dos princípios morais e éticos. Aldo sairá para dar abrigo a um quadro petista, podendo ser o deputado João Paulo Cunha, de Osasco, ex-presidente da Câmara, com imagem positiva junto aos pares, ou mesmo o ministro José Dirceu. Este, porém, apesar do poder, criou inimizades. Atrita com muita gente. Fica melhor no perfil de coordenador geral da campanha de Lula.   ROSEANA SARNEY NO MINISTÉRIO   Se há um perfil na República que tem verdadeira "adoração" pela liturgia do poder é o Senador José Sarney, ex-presidente da República. Nos últimos tempos, saiu do pedestal onde procurou abrigo - para se preservar das coisas da pequena política - e passou a freqüentar os balcões do fisiologismo. Era, até pouco tempo, interlocutor privilegiado de Lula. Agia como conselheiro. Lula prometeu um Ministério para Roseana, como forma de compensar o esforço de Sarney, que, junto com o ex-adversário Renan Calheiros, tem ajudado o presidente a conquistar uma fatia do PMDB. Na esteira da crise aberta com a barganha de Severino Cavalcanti, o presidente decidiu suspender a reforma ministerial, contentando-se em mexer em apenas duas pedras do tabuleiro. Roseana, quase ministra e também quase saindo do PFL, teve que se contentar com a espera. Vai ser contemplada. Sob pena de Sarney começar a destilar um veneno muito bem guardado. Mas a força de Roseana já não será a mesma. Conseguirá, mesmo assim, juntar forças para ser candidatar ao governo do Maranhão e derrotar o hoje ultra-inimigo, governador José Reinaldo. Portanto, o Ministério para Roseana não está descartado. Lula quer isso, mas tem dificuldade para demitir amigos. E Roseana deverá ir para a vaga de um amigo.     PERFIL PARA SÃO PAULO   Experiente, asséptico, honesto, passado limpo, vida decente. Um empresário com certa vivência política. Ou um político com certa experiência na vida empresarial. Ou ainda um político de posições firmes, destemidas. Um líder do campo associativo também é aceito. Capaz de dizer coisa com coisa. Capaz de comandar uma mobilização contra os juros altos e a escalada tributária. Capaz de falar a linguagem das classes médias, sem abandonar os apelos para as massas. Maduro, não muito jovem, nem muito velho. Esses são traços do perfil para governar São Paulo que pesquisas qualitativas começam a apurar. Traços negados: identificado com a velha política, matreiro, sem escrúpulos, nome envolvido em escândalos. Que conheça tão bem a capital como o Interior do Estado.   PRÉVIAS NO PMDB   O PMDB abrirá, no segundo semestre, o sistema de prévias. Uma pesquisa aferirá junto às bases a conveniência de uma candidatura própria à presidência da República. Os governadores do PMDB têm influência forte nas bases. Por isso mesmo, a tendência das bases é pela aceitação das decisões tomadas pelos governadores. Hoje, dos seis governadores, a maioria é pela candidatura própria. Tudo vai depender da situação de Lula. Se estiver bem nas pesquisas, os partidos aliados fecharão com o PT. Caso contrário, a alternativa é a candidatura própria.     CONGRESSISTAS EM BAIXA   A imagem dos congressistas está no fundo do poço. Pesquisas feitas nos últimos dias dão conta da gravidade. A maré baixa apareceu com a onda severina. Se as coisas continuarem como estão, 2006 será o ano recorde de votos nulos.     UMA COISA É UMA COISA...   Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como disse, há tempos, José Genoino. Aloizio Mercadante confia que fará decolar sua campanha, em 2006, a partir dos 10 milhões de votos conseguidos na eleição de senador. Ninguém atravessa um rio no mesmo lugar, diz o ditado. Não é que o filósofo Genoino cunhou a frase que acaba com a confiança de Mercadante?   MARÉ DE DENÚNCIAS   Se Marta Suplicy conseguir se safar da maré de denúncias, feitas por tucanos e pelo Ministério Público, vai sobrar acusação na mídia eleitoral de 2006. Claro, se ela for candidata. A conferir.___________________
quinta-feira, 5 de maio de 2005

Porandubas nº 2

  O PT FAZ LIÇÃO DE CASA O PT começa a fazer a lição de casa para abrir o espaço eleitoral de 2006. Entre as lições que a cúpula petista está ministrando para os alunos das bases, algumas exibem forte conteúdo autoritário. A primeira delas é no sentido de abafar as discussões internas, evitando prévias partidárias entre os pré-candidatos petistas nos Estados. Quanto menor a dissensão interna, tanto maior será a capacidade da cúpula petista harmonizar os interesses em jogo. A orientação partiu do próprio presidente Lula, que está seriamente preocupado com o volume crescente de contrariedade nas bases do partido. A segunda lição tem por objetivo administrar a ambição de pré-candidatos petistas em Estados considerados estratégicos para o projeto de reeleição de Lula. Por exemplo: no Paraná ou em Santa Catarina, a cúpula do PT pretende apoiar os dois candidatos do PMDB, os governadores Requião e Luiz Henrique. A situação mais complicada será o RS, onde o petista Pont não quer abrir mão da candidatura para a reeleição do governador Rigotto. No Nordeste, a cúpula do PT tem interesse em apoiar a candidatura do ex-governador José Maranhão, do PMDB. E Lula até gostaria de ter como vice de sua chapa, o atual governador Jarbas Vasconcelos. Tudo por conta do apoio do PMDB à sua candidatura. Mas o PT está rachado, sendo pouco provável que a corrente majoritária consiga frear o impulso das bandas mais à esquerda. Resumo da ópera: a reeleição de Lula, antes de passar pelo crivo dos partidos aliados, depende, em primeiro lugar, da própria unidade petista. Ai está o busilis. FHC COMEÇA A SE ENTUSIASMAR Fernando Henrique subiu ao patamar privilegiado de "Pai da Pátria", título conferido, graciosamente, a ex-presidentes da República. Vaidoso, gosta de ser aplaudido nos ambientes que freqüenta, a partir de restaurantes finos. Preza e preserva a liturgia do poder, que tão bem faz ao coração do ex-presidente José Sarney. Ser reconhecido como um presidente dos mais importantes na história da modernização política do país seria, por si só, o maior presente, se não fosse a "mosca azul" do poder. A ONU poderia ser o lugar para o nosso ex-presidente. Mas ultrapassou a idade para vestir o figurino do cargo de secretário-geral da entidade. A secretaria geral da OEA é coisa pequena e acaba de ser preenchida por um chileno. Ademais, FHC não contaria com o apoio político do governo Lula para um cargo que necessitasse de tal amparo. Isolar-se no seu Instituto não faz bem à alma. Dar palestras a US$ 50 mil, cada, é um bom negócio, mas o schollar pode ter prestígio internacional e até enriquecer, mas não confere poder interno. Um coração vaidoso e uma cabeça eloqüente só se locupletam com o poder máximo. FHC começa a prospectar as linhas do horizonte. Percebe que as nuvens envolvendo Aécio Neves e Geraldo Alckmin estão muito turvas. Percebe que o céu de brigadeiro em que corria o avião de Lula também começa a se tornar plúmbeo, da cor de chumbo. Fernando vaidoso Henrique risonho Cardoso enche os pulmões da identidade com um sopro de boas lembranças. Quem sabe? Passa a se perguntar. Manhoso, só subiria a montanha do desafio se visse Lula caindo no despenhadeiro da descrença. A QUÍMICA DAS CHAPAS PRESIDENCIAIS O Sudeste tem cerca de 44% dos votos. O Nordeste, cerca de 27%. Sul, com 15%, Norte e Centro-Oeste, com quase 7%, cada, totalizam o eleitorado brasileiro. Pelos números, a equação eleitoral ideal deveria juntar a fome eleitoral do Nordeste com a vontade de comer do Sudeste. Uma chapa assim composta teria 71% dos votos. É claro que essa formação não implica necessariamente vitória da chapa, até porque os perfis dos candidatos se sobrepõem ao regionalismo. Não há dúvida, porém, que candidatos de regiões puxam um discurso com maior identificação às suas comunidades. Dito isto, vale projetar as chapas: qualquer candidato do Sudeste - Lula, Alckmin, Aécio, FHC, César Maia, Garotinho - gostaria de fechar a chapa com um candidato nordestino. Quem estaria disponível no Nordeste e com perfil para compor uma chapa majoritária federal? Vamos lá: senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE), governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), senador Renan Calheiros (PMDB-AL), senador José Agripino Maia (PFL-RN), Marco Maciel (PFL-PE), Ciro Gomes (ingressando no PSB-CE - mas fazendo o percurso para o Rio de Janeiro). A Bahia de ACM está confusa. Mas não se deve eliminar as possibilidades do Norte, Sul e Centro-Oeste, onde quadros como Jefferson Peres, Pedro Simon e outros se destacam. Já para um candidato do Sul - Germano Rigotto - o vice poderia sair tanto do Sudeste como do Nordeste. Chapa pura ou mista? A chapa mista tem a vantagem de somar forças partidárias. A chapa pura só tem possibilidades de vitória quando os nomes que a compõem são nacionalmente admirados, com assento permanente na galeria da grandeza nacional. REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO COMEÇA A TER APOIOS A Constituição Federal já conta com 51 emendas. E há muitas em tramitação. Ou seja, a nossa Carta Magna está ilegível. Para acompanhar a leitura de seus artigos e incisos, há um manual anexado. O caminho da compreensão está cheio de curvas e desvios. Por isso mesmo, a revisão constitucional ganha adeptos a cada dia. Projetos de revisão começam a ser examinados. Algumas questões também ganham consenso, como a preservação dos capítulos dos direitos sociais e individuais. Mas as coisas emperram quando se considera a questão da operacionalidade. Que estatutos serão adequados para aprovar, junto à sociedade, a revisão constitucional? A discussão será aberta nas próximas semanas. O Parlamento começa a se mobilizar. O MARKETING PREVISÍVEL A entrevista coletiva concedida por Lula permite divisar o que virá mais adiante em termos de marketing eleitoral: o marketing da exacerbação emotiva. Vamos ver novamente a invencionice do "Lula paz e amor", das cantigas de crianças, do desfile de miseráveis, dos "feitos que mudaram o país" enfim, os velhos blábláblás. Vem aí novamente Duda Mendonça com seus estereótipos. O que ele e os petistas ainda não perceberam é que grande fatia do eleitorado lulista está indignada. Não votará mais em promessas. As esperanças foram enterradas no poço da descrença. E ninguém agüenta mais lorotas televisivas inventadas por Duda. Esse marketing - podem apostar - como o da Marta, funcionará como um bumerangue.___________________
segunda-feira, 25 de abril de 2005

Porandubas nº 1

  PARA ONDE VAI O PMDB?   O PMDB vai instituir, no Brasil, um estatuto idêntico às eleições primárias dos Estados Unidos, cuja implantação, prevista para outubro deste ano, servirá para permitir aos pré-candidatos do partido à presidência mobilizar as bases, expor plataformas de governo e fazer a campanha. O pré-candidato que obtiver maior votação nas Convenções Estaduais será o escolhido pelo Partido. Observe-se que a decisão da Convenção Nacional, realizada no início de dezembro de 2.004, continua valendo. A banda oposicionista do PMDB leva vantagem na disputa com o grupo situacionista. Espera-se que o julgamento do mérito, envolvendo a validade da Convenção, pelo plenário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, acolha a tese dos oposicionistas. Mais ainda: parcela ponderável da bancada peemedebista votará pela manutenção da verticalização, que engessa as alianças nos Estados, a partir da aliança federal. A motivação da verticalização, no caso, tem fundo maquiavélico: será mais difícil, neste caso, uma aliança entre PMDB e PT, a partir de Estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná.   COMEÇO DE PRÉ-CAMPANHA   O governador Geraldo Alckmin começa a correr o país, iniciando sua pré-campanha. Tem ido ao Nordeste, foi ao Rio Grande do Sul e sua agenda já abre espaços para compromissos de cunho político-eleitoral. Mas o governador exibe um perfil reativo. Parece temer se apresentar com garra. Aécio Neves, por sua vez, prepara ampla estratégia de comunicação, a partir do mote: Minas Gerais e o choque de gestão. Bate forte no ponto fraco do governo petista: a ineficiência administrativa. César Maia também se animou, a partir da vitória conseguida sobre o Governo Federal, com a devolução dos hospitais para a esfera municipal.   CAMPANHA PAULISTA   A campanha ao governo de São Paulo será uma das mais renhidas de 2.006. O candidato mais provável do PT é Aloízio Mercadante, que exibirá os 10 milhões de votos que recebeu na eleição ao Senado.No PSDB, não há candidatos com perfil vigoroso, capazes de mobilizar as bases partidárias e sensibilizar o eleitorado, entre eles, Zulaiê Cobra, Arnaldo Madeira, José Aníbal (apesar do bom recall, a partir da ótima votação na capital, para vereador), e os secretários de Alckmin - Saulo de Castro Abreu e Gabriel Chalita. Há uma carta alta no baralho. Fernando Henrique, se assim o desejasse, seria um candidato "quase" imbatível. O "quase" fica por conta da situação do país. Se Lula estiver cantando aleluias e o povo feliz, o PT ganhará a parada. O PFL teria um forte candidato, se estivesse disposto a romper a aliança com o PSDB: Guilherme Afif Domingos, revigorado pela campanha contra a derrama. Afif, ao lado de lideres da sociedade civil organizada, como o presidente da OAB-SP, Luiz Flábio Borges D' Urso, foi um dos líderes da intensa mobilização que reuniu cerca de 1.500 entidades. Tem boa imagem, visibilidade e fluência discursiva. O PMDB poderá sair com Orestes Quércia ou Michel Temer. A posição do PMDB se fortalecerá, em São Paulo, caso o partido apresente candidatura própria à presidência da República. Hoje, o partido apresenta um conjunto de 17 nomes considerados bem viáveis para os governos estaduais.   REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO   Depois de contabilizar mais de 50 emendas, a Constituição Federal está com o figurino desbotado e pronto para ganhar nova roupagem. O deputado Luiz Carlos Santos apresentou projeto, assinado por 174 parlamentares, para a Convocação de Assembléia de Revisão Constitucional. Recebeu um denso parecer do Constitucionalista Michel Temer, presidente do PMDB, que, após amplas considerações sobre a constitucionalidade do projeto, propõe um substitutivo, que se ampara nos seguintes eixos: a discussão da matéria se dará na esfera do sistema unicameral, mas a votação será feita, por maioria absoluta de votos nas duas Casas congressuais( no projeto original, a votação seria pelo sistema unicameral, nivelando-se votos de deputados e senadores); a reforma deverá ser submetida ao referendo popular - estatuto da democracia direta - "para que o povo, titular do poder constituinte originário, diga se está, ou não, de acordo com o texto revisado". Atente-se que a figura indicada é a do referendo e não o do plebiscito, porquanto este é meramente autorizativo, enquanto aquele - o referendo - é autorizativo-valorativo, razão pela qual o povo aprovará um texto pronto, perfeito e acabado, evitando o "cheque em branco" (com o plebiscito) aos eleitos. A Assembléia de Revisão Constitucional seria instalada em 1o de fevereiro de 2.007, com duração máxima de 12 meses, e, a cada 10 anos, seria autorizada Revisão Constitucional. ___________________