Fiquei 5 horas algemada, diz advogada agredida em aeroporto português
Em entrevista, Priscila Corrêa detalhou violência sofrida no aeroporto do Porto e disse que ajuizará ações contra a companhia aérea e o Estado.
Da Redação
sexta-feira, 6 de junho de 2025
Atualizado às 16:00
A advogada brasileira Priscila Corrêa, residente em Portugal, relatou em entrevista ao Migalhas o episódio de violência que diz ter sofrido no aeroporto do Porto.
Veja a entrevista:
Segundo narrou, após discussão com funcionária da companhia aérea Ryanair a respeito do tamanho da bagagem de mão, foi retirada da aeronave por policiais portugueses, algemada, agredida e impedida de seguir viagem para Madri, onde participaria de um congresso.
"Fiz o check-in, perguntei ao atendente do check-in se a mala estava ok, ele disse que sim, porque ele havia perguntado se eu queria despachar aquela também."
Já próximo do encerramento do embarque, uma funcionária abordou Priscila e alegou que a mala que levava deveria ser despachada como bagagem de porão.
A advogada explicou que já havia despachado um item e que a bolsa que carregava atendia aos padrões permitidos.
"Ela falou: 'sua mala é de porão, você tem que pagar 75 euros'", narrou a advogada.
Ao contestar a cobrança e tentar demonstrar que a bagagem se enquadrava nos limites exigidos, a funcionária foi categórica: "comigo a senhora não embarca".
Priscila então acionou a polícia.
Com o portão de embarque aberto, ingressou na fila para o avião, mas foi novamente abordada pela funcionária, que insistiu para ela retornar.
"Eu falei, mas voltar por quê? A minha mala está no padrão, eu vou falar com a autoridade a bordo. A autoridade é o capitão."
Já dentro da aeronave, foi informada de que a polícia a aguardava. Acreditando tratar-se de desdobramento da ligação feita momentos antes, desceu a escada para dialogar com os agentes.
Segundo relata, ao se aproximar dos policiais, um deles afirmou que ela deveria acompanhá-los:
"'A senhora tem que nos acompanhar, porque parece que a senhora está criando um embaraço, fazendo tumulto'", contou, reproduzindo a fala do agente.
Na sequência, relata ter sido puxada por um dos policiais. Resistiu, questionando os motivos da abordagem:
"Eu falei, não, o senhor não vai me levar assim. Eu sou advogada, eu exijo os meus direitos, eu tenho o direito de saber por que estou sendo detida, eu não fiz absolutamente nada de errado, e eu chamei a polícia para vir em minha intervenção."
Segundo a advogada, cinco policiais participaram da ação. "Pegaram no meu pescoço, pegaram no meu braço, no outro braço", contou. Durante a abordagem, ouviu repetidamente os policiais dizerem "cala-te, cala-te, cala-te".
Ela descreve o momento em que tentava se manter em pé, até ser derrubada com uma rasteira.
"Numa hora [...] que eu travei o pé, ele foi e me deu uma banda. O que é uma banda? É uma rasteira. Na hora que ele me deu a rasteira, eu achei que eu fosse cair, e ele estava virando o meu braço, quase quebrando o meu cotovelo, sabe? Eu achei que eu tinha uma fatura exposta. [...] Eu fui e mordi a mão dele. Aí ele me largou. E aí ele me algemou."
Priscila ficou algemada por aproximadamente cinco horas.
No dia seguinte, compareceu à audiência no tribunal. Exames realizados no Instituto Médico Legal registraram diversos ferimentos: hematomas nos braços e canelas, além de contusões pelo corpo.
A advogada pretende ingressar com ações contra a Ryanair, o Estado português e os policiais envolvidos.