Ex-advogada do narcotraficante "El Chapo" é eleita juíza no México
Eleição ocorreu após reforma que institui voto popular para magistrados no país.
Da Redação
sexta-feira, 27 de junho de 2025
Atualizado às 16:53
Silvia Rocío Delgado García, a advogada que, em 2016, fez parte da equipe de defesa do narcotraficante Joaquín Guzmán Loera, conhecido como "El Chapo", foi eleita juíza penal para o Distrito Judicial Bravos, cuja sede é Ciudad Juárez, no Estado de Chihuahua, México.
A eleição, que levou à sua certificação como juíza eleita, faz parte de um processo eleitoral judicial inédito e polêmico no México.
A eleição em que Delgado saiu vitoriosa é a primeira do tipo no mundo, onde os cidadãos escolheram diretamente mais de 1.800 cargos em 19 Estados do país, somados a 881 a nível Federal.
"El Chapo"
Em maio de 2016, Silvia se juntou à equipe de defesa de Joaquín "El Chapo" Guzmán, então líder do Cartel de Sinaloa - organização classificada pelo governo dos EUA como entidade terrorista estrangeira.
Ela atuava como elo direto entre o réu e os advogados coordenadores, sendo responsável por revisar recursos constitucionais, mantê-lo informado sobre sua situação jurídica e relatar supostos maus-tratos.
Em declarações à imprensa e ao Diario de Juárez, insistiu que sua atuação foi estritamente profissional e afirmou não se arrepender.
Em documentário da Deutsche Welle, Delgado sustentou que o julgamento de Guzmán nos Estados Unidos - que o levou à pena de prisão perpétua por mais de dez delitos - "foi uma farsa" e um "tributo a Donald Trump".
Segundo ela, o processo violou o Direito "em sua máxima expressão", privando Guzmán de julgamento justo.
Após a extradição do condenado, em janeiro de 2017, Delgado denunciou violações de direitos humanos em entrevista a um veículo norte-americano.
Ao defender a carreira como advogada, declarou que todos os seus clientes são igualmente importantes e que sua atuação ao lado de uma figura tão conhecida evidencia "o caráter e o temperamento necessários para julgar".
Currículo e campanha
Formada em Direito pela UACJ - Universidade Autónoma de Ciudad Juárez, Silvia Delgado possui mestrado pela Universidade de Durango, especialização em mediação pelo Tribunal Superior de Justiça do Estado de Chihuahua e atualmente cursa um segundo mestrado em Direito Empresarial.
Além da experiência como advogada nas áreas penal, trabalhista, civil, mercantil e familiar, também atuou como professora.
Durante a campanha, destacou o compromisso com a imparcialidade e a reforma do Judiciário.
Defensora do modelo eleitoral de escolha de juízes, argumentou que esse formato evita que magistrados "se preocupem em manter seus cargos ao julgar, por se tratar de postos temporais".
Comprometeu-se a decidir com base na lei e nos fatos, sem favoritismos, assegurando igualdade de condições para apresentação de provas e argumentos.
Propôs, ainda, a implementação de revisões periódicas do desempenho judicial e a adoção de um serviço profissional de carreira para candidatos nas próximas eleições.
As eleições
A eleição que consagrou Silvia Delgado como juíza penal insere-se em um contexto de transformação profunda no Judiciário mexicano, promovida pela reforma constitucional de setembro de 2024, no governo López Obrador.
Trata-se da primeira vez no mundo em que juízes e magistrados de todos os níveis do Poder Judiciário Federal são escolhidos por voto direto da população.
A reforma reduziu o número de ministros da Suprema Corte, extinguiu suas duas salas e instituiu mandatos de 12 anos, com sessões sempre públicas.
A eleição de 2025 abrangeu 881 cargos Federais, incluindo ministros da Suprema Corte, magistrados eleitorais, de circuito e juízes distritais.
Realizadas sem financiamento público ou privado e sem propaganda tradicional, as campanhas foram marcadas por forte presença nas redes sociais, linguagens populares e preocupações com eventuais vínculos entre candidatos e práticas ilícitas.