Mexicana é condenada a 30 dias de desculpas no X por criticar deputada
Tribunal eleitoral do México puniu cidadã por violência política de gênero após postagem sobre esposa de presidente da Câmara.
Da Redação
segunda-feira, 11 de agosto de 2025
Atualizado às 16:28
Trinta dias seguidos de pedidos públicos de desculpas na rede social X. Essa foi a condenação imposta pelo TEPJF - Tribunal Eleitoral do Poder Judicial da Federação à mexicana Karla María Estrella Murrieta, por criticar um casal de políticos do partido governista. A "pena" foi concluída neste domingo, 10.
A sanção teve origem em uma postagem feita por Karla, em 14 de fevereiro de 2024, na qual afirmava que o presidente da Câmara dos Deputados, Sergio Gutiérrez Luna (Morena), teria feito "birra" para incluir a esposa, Diana Karina Barreras, então candidata a deputada Federal pelo Partido do Trabalho, nas listas eleitorais.
Barreras denunciou a mensagem por calúnia e por violência política de gênero.
Apenas esta última acusação prosperou.
Para o tribunal, o comentário colocou a candidata em posição de subordinação ao marido, minimizando suas capacidades e trajetória política, o que configurou violência simbólica e discriminatória.
- Veja a decisão.
Além das publicações diárias de desculpas, o TEPJF impôs multa de 1.085 pesos (cerca de R$ 316), a remoção do conteúdo original, a participação obrigatória em cursos e leituras sobre gênero e direitos humanos e a inclusão de Karla, por um ano e meio, no Registro Nacional de Pessoas Sancionadas do INE - Instituto Nacional Eleitoral.
Apesar da sanção e da exposição pública, que se estenderá até 2027 como "pessoa sancionada", Karla viu seu número de seguidores no X saltar de cerca de 7 mil para quase 60 mil durante o cumprimento da pena.
O post, repetido durante os 30 dias, continha os seguintes dizeres: "Peço a você, DADO PROTEGIDO, desculpas pela mensagem que esteve carregada de violência simbólica, psicológica, por interposta pessoa, digital, midiática e análoga, assim como de discriminação, baseada em estereótipos de gênero. Isso prejudicou seus direitos político-eleitorais porque minimizou suas capacidades e trajetória política."
Por determinação judicial, o nome da deputada Federal foi substituído por "Dado Protegido", a fim de preservar a identidade.
Segundo informou ao jornal O Globo, Karla pretende levar o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos, argumentando que no México não há instância imparcial capaz de reverter a decisão.
Morde e assopra
Apesar da punição, Karla não deixou de se manifestar.
Cada pedido de desculpas publicado foi acompanhado de um post com críticas à pena - ora veladas, ora diretas - e quase sempre banhadas em ironia.
Em uma das publicações, Karla utilizou citação da advogada e ex-juíza associada da Suprema Corte dos Estados Unidos, Ruth Bader Ginsburg, para ressaltar o "poder" das postagens no X e denunciar a tentativa de "silenciamento" por parte do tribunal eleitoral.