Justiça do RJ decreta prisão preventiva do rapper Oruam
Artista foi indiciado por tráfico e outros seis crimes após impedir apreensão de menor procurado; episódio reacende debate sobre criminalização do funk.
Da Redação
terça-feira, 22 de julho de 2025
Atualizado às 16:27
Nesta terça-feira, 22, o rapper Oruam teve a prisão preventiva decretada após ser indiciado por sete crimes e ter, segundo a Polícia Civil, impedido a apreensão de um adolescente procurado por tráfico e roubo.
A decisão está sob sigilo e as informações foram confirmadas pelo TJ/RJ.
O mandado foi expedido horas após um tumulto na residência do artista, no bairro do Joá, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
De acordo com a Polícia, Oruam teria mobilizado seguidores nas redes sociais para confrontar agentes da DRE - Delegacia de Repressão a Entorpecentes, que aguardavam o momento adequado para apreender o adolescente de 17 anos conhecido como "Menor Piu", apontado como segurança de Edgar Alves de Andrade, o "Doca", líder do Comando Vermelho no Complexo da Penha.
A abordagem foi frustrada após o menor conseguir escapar, em meio a confusão, com apoio do artista e de terceiros.
Segundo o secretário da Polícia Civil, delegado Felipe Curi, Oruam lançou pedras contra os agentes, feriu um policial e incitou a população.
Na decisão, a magistrada destacou que, diante das evidências, a prisão preventiva era mais adequada do que a temporária, conforme requerimento do MP. O rapper foi indiciado por tráfico de drogas, associação ao tráfico, resistência, desacato, dano ao patrimônio público, ameaça e lesão corporal.
Entenda o caso
O episódio que motivou a ordem de prisão ocorreu na madrugada de segunda-feira, 21.
De acordo com a Polícia Civil, a DRE recebeu informação de que o adolescente procurado estaria na casa de Oruam.
Por ser noite, os agentes esperaram o menor sair à rua, momento em que o abordaram. O artista então iniciou uma transmissão nas redes sociais conclamando seguidores a "brotarem de moto" ao local:
"Me ajuda, eles estão aqui na minha porta", publicou.
Os ânimos se acirraram quando Menor Piu foi colocado em uma picape descaracterizada. Segundo a Polícia, Oruam teria arremessado pedras da varanda de sua residência e depois descido à rua, xingando os policiais com palavras de baixo calão. No tumulto, o menor conseguiu fugir.
Diante da situação de flagrante, por resistência, dano e ameaça, os policiais ingressaram na casa de Oruam, onde um homem foi preso.
O artista fugiu do local e, horas depois, postou vídeos do Complexo da Penha, desafiando as autoridades:
"Me pegar aqui dentro do complexo? Não vai me pegar, sabe por causa de quê? Porque vocês peida!"
Nos vídeos também afirma ter sido alvo de arbitrariedades:
"Tudo o que eu conquistei foi com minha música. Eles provocaram essa situação para fazer isso comigo."
O mandado de prisão preventiva não possui prazo de duração. Até o fechamento desta matéria, o paradeiro oficial do artista ainda era incerto.
Veja os vídeos publicados pelo rapper:
Quem é Oruam?
Oruam - nome artístico de Mauro Davi dos Santos Nepomuceno - é filho de Marcinho VP, um dos líderes históricos do Comando Vermelho, atualmente preso.
O rapper cultiva imagem ligada à vivência periférica e tem tatuagens em homenagem ao pai e a Elias Maluco, condenado pelo assassinato do jornalista Tim Lopes.
Em fevereiro deste ano, Oruam foi preso em flagrante após policiais encontrarem, em sua casa, o traficante Yuri Pereira Gonçalves, foragido da Justiça e armado com pistola 9 mm. Na ocasião, o artista foi liberado no mesmo dia.
O rapper também responde por outro inquérito, por disparo de arma de fogo em condomínio de luxo em São Paulo, ocorrido no fim de 2024, quando vídeos registraram tiros aleatórios e colocaram em risco a integridade de moradores.
Criminalização da cultura?
A detenção do rapper reacendeu debates sobre a criminalização do funk e o papel das autoridades no tratamento de artistas com trajetórias nas periferias.
Diversos artistas e ativistas alegam que há seletividade nas investigações e excessos nas intervenções policiais, especialmente quando envolvem músicos ligados à cultura de favelas.
O caso ocorre em meio à tramitação de projetos de lei apelidados de "Anti-Oruam", que buscam proibir ou punir letras e performances que façam apologia ao crime.