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Política brasileira

Em recado post mortem, Velhinha de Taubaté vê Bolsonaro como vítima de injustiça

Falecida há vinte anos, icônica personagem de Luis Fernando Verissimo ressurge em psicografia publicada por Migalhas.

Da Redação

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Atualizado às 14:57

Era ainda madrugada, e o sol, preguiçoso como sempre, nem cogitava aparecer no horizonte, quando os funcionários desta casa começaram a chegar ao portentoso edifício-sede de Migalhas. O Sr. Xavier, nosso vetusto redator, tão vetusto que já confunde "Ctrl C" com uma sopa instantânea, ajeitou-se em seu canto. De repente, começou a balbuciar coisas, como se estivesse dialogando com fantasmas de edições passadas.

O corre-corre foi imediato: todos os colaboradores do andar cercaram sua mesa, temendo um colapso ou, pior, um novo artigo sobre crase. Eis que, subitamente, uma luz se acendeu sobre sr. Xavier. Com a mão direita dramaticamente pousada no rosto e a esquerda escrevendo com velocidade incomum.

Ao final de minutos que pareceram séculos, todos espiaram o papel. O que viram, entre boquiabertos e incrédulos, foi o texto que agora entregamos, para gáudio, e paciência, dos leitores:

"Do assento etéreo onde me encontro, mando esta comunicação:

Continuo convencida de que Jair é inocente. Tudo não passa de um petit mal-entendu, uma fofoca amplificada por haters e, vá lá, no máximo, um lapsus administrativo. Tenho fé de que o Supremo reconhecerá a injustiça e que o nosso imbrochável sairá aplaudido, comme il faut, carregado nos ombros como se fosse campeão do Maracanazo ao contrário.

Quanto àquela tarde de 8 de janeiro, convenhamos, foi apenas um tour guiado pelo Congresso, uma visita mal compreendida pelos guardas de Brasília - quase um passeio cívico-turístico, com direito a lembrancinhas das vidraças.

E a família, ah, meus queridos. Flávio é um self-made man que se fez com a ajuda do papai; Carlos é um enfant terrible de WhatsApp; e Eduardo, ah Eduardo. sempre tão jet set, com aquela pose de 'embaixador in pectore' em Washington. Um verdadeiro globetrotter da política, ainda que com sotaque de Orlando.

Enfim, sigo acreditando, porque acreditar, meus caros, é o que mantém essa Velhinha viva. ou quase.

Velhinha de Taubaté"

 (Imagem: Arte Migalhas)

Em recado post mortem às vésperas de julgamento, Velhinha de Taubaté vê Bolsonaro como vítima de injustiça.(Imagem: Arte Migalhas)

Psicografia migalheira

No último sábado, 30 de agosto, o Brasil perdeu um de seus maiores cronistas: o eterno Luis Fernando Verissimo. Autor de personagens inesquecíveis, entre eles a icônica Velhinha de Taubaté, Verissimo deixou um legado de ironia fina e de crítica social disfarçada de humor.

A "Velhinha" surgiu como a última brasileira que ainda acreditava nos governos, em plena ditadura militar. Ingênua e resiliente, ela se tornou uma alegoria do eleitor crédulo diante de promessas e escândalos. Ao longo de décadas, ganhou vida própria e virou referência cultural - símbolo de esperança e de uma inocência quase impossível em meio às turbulências da política.

Durante o escândalo do Mensalão, em agosto de 2005, Verissimo anunciou a morte da Velhinha, aos 90 anos, diante da TV. No texto, narrou como ela resistira acreditando em todos os governos, de Getúlio a Collor, mas que, diante das denúncias de corrupção, finalmente sucumbira.

Relembre a crônica mortuária:

 (Imagem: Acervo Estadão)


(Clique para ampliar)

"Morreu no último dia 19, aos 90 anos de idade, de causa ignorada, a paulista conhecida como "a Velhinha de Taubaté", que se tornou uma celebridade nacional há alguns anos por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo. O fenômeno, que veio a público durante o governo Figueiredo, o último do ciclo dos generais, levou multidões a Taubaté e transformou a Velhinha numa das maiores atrações turísticas do Estado. Além de estandes de tiro ao alvo e de venda de estatuetas da Velhinha e de uma roda-gigante, ergueram-se tendas para vender caldo de cana e pamonha em volta da pequena casa de madeira onde a Velhinha morava sozinha com seu gato, e não era raro a própria Velhinha sair de casa e oferecer seus bolinhos de polvilho a curiosos que chegavam em ônibus de excursão para serem fotografados com ela e pedirem seu autógrafo.

A Velhinha sempre acompanhou a política e acreditou em todos os governos desde o de Getúlio Vargas, inclusive em todos os colaboradores dos governos militares, "até", como costumavam dizer muitos na época, com espanto, "no Delfim Netto!" O presidente Sarney telefonava frequentemente para Taubaté para saber se a Velhinha, pelo menos, ainda acreditava nele e Collor foi visitá-la mais de uma vez para pedir que ela não o deixasse só. As circunstâncias da morte da Velhinha de Taubaté ainda não estão esclarecidas. Sua sobrinha Suzette, que tem uma agência de acompanhantes de congressistas em Brasília, embora a Velhinha acreditasse que ela fazia trabalho social com religiosas, informou que a Velhinha já tivera um pequeno acidente vascular ao saber da compra de votos para a reeleição do Fernando Henrique Cardoso, em quem ela acreditava muito, mas ficara satisfeita com as explicações e se recuperara.

Segundo Suzette, ela estava acompanhando as CPIs, comentara a sinceridade e o espírito público de todos os componentes das comissões, nenhum dos quais estava fazendo política, e de todos os depoentes, e acreditava que como todos estavam dizendo a verdade a crise acabaria logo, mas ultimamente começara a dar sinais de desânimo e, para grande surpresa da sobrinha, descrença. A Velhinha acreditara em Lula desde o começo e até rebatizara o seu gato, que agora se chamava Zé. Acreditava principalmente no Palocci. Ela morreu na frente da televisão, talvez com o choque de alguma notícia. Mas a polícia mandou os restos do chá que a Velhinha estava tomando com bolinhos de polvilho para exame de laboratório. Pode ter sido suicídio. O ambiente no parque de diversão em torno da casa da Velhinha de Taubaté é de grande consternação."

Agora, a Velhinha de Taubaté ressurge. Não pelos avanços da medicina ou por um improvável clone - como o próprio cronista já brincara -, mas por meio de uma carta psicografada. Inspirado no estilo "Verissimo", Migalhas publicou no Informativo nº 6.157 a nota "Direto da Redação", com mensagem enviada pela Velhinha do além, trazendo-a de volta para comentar o iminente julgamento de Jair Bolsonaro no STF.

Se antes acreditava em todos os governos, agora reafirma sua fé em Bolsonaro. Como disse Verissimo em 2016, ainda "estamos cheios de velhinhas de Taubaté por aí".

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