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Superação

Nos anos 90, advogada perdeu a visão ao ser intoxicada por metanol

Apesar das dificuldades sofridas aos 21 anos, Andreia Vicente concluiu curso de Direito e construiu carreira.

Da Redação

domingo, 5 de outubro de 2025

Atualizado em 6 de outubro de 2025 06:34

Em meio ao atual surto de intoxicação por metanol no Brasil, uma história de três décadas atrás ecoa como alerta e inspiração. A advogada Andreia Mara Vicente (OAB/SP 136.728), hoje com 54 anos, sobreviveu a um caso grave de intoxicação após ingerir uma bebida adulterada.

O episódio ocorreu em dezembro de 1992, quando tinha apenas 21 anos e cursava o quarto ano da faculdade de Direito, e mudou para sempre sua vida: ela perdeu grande parte da visão, mas não desistiu de seu sonho de se formar e atuar na advocacia. O depoimento da advogada foi concedido ao jornal O Globo. 

 (Imagem: Reprodução / Facebook)

Em 92, advogada Andreia Vicente perdeu a visão ao ser intoxicada por metanol.(Imagem: Reprodução / Facebook)

O dia em que tudo mudou

Andreia contou que estava em Santo André/SP, em uma confraternização com amigas, quando ingeriu um drinque de vodca com água de coco comprado em um bar da região. Pouco mais de 36 horas depois, começou a sentir os sintomas: visão turva, fraqueza e vômitos. O diagnóstico, no entanto, não foi imediato.

A jovem chegou a entrar em coma e sofreu uma parada cardíaca. Só após a insistência de seu namorado à época, médico recém-formado, que suspeitou de intoxicação por metanol, o caso foi identificado corretamente. Ela passou por sessões de hemodiálise e recebeu etanol intravenoso como antídoto. O tratamento foi longo e salvou sua vida, mas não evitou a perda quase total da visão. Depois de um mês no hospital, ela passou a enxergar entre 15% e 20% da visão periférica do olho esquerdo. Do olho direito, nada.

A volta por cima

Mesmo diante do prognóstico desanimador dos médicos, que previam que ela não voltaria a enxergar, andar ou falar, Andreia recusou-se a desistir. Com apoio da mãe, familiares, amigos e professores, retornou à faculdade em 1993. Colegas gravavam aulas, liam textos em voz alta e ajudavam nos estudos. Professores adaptaram avaliações para que pudesse seguir.

Em poucos anos, formou-se em Direito e iniciou sua trajetória na advocacia. Conheceu seu ex-marido no fórum, namorou por dez anos e foi casada por mais 17.

Trabalhou por 12 anos na assistência judiciária e, posteriormente, direcionou sua carreira à vara da Infância e da Juventude, atuando em processos de adoção, área em que construiu reconhecimento e satisfação profissional.

Responsabilização e impunidade

A investigação revelou que a vodca ingerida por Andreia foi comprada clandestinamente de um produtor que, sem saber, utilizou barris contaminados com metanol. O caso foi tratado como crime contra a saúde pública. O fabricante chegou a ser preso, mas não houve reparação civil à vítima. O bar, que respondeu judicialmente pela compra da bebida, permanece aberto até hoje.

Mensagem de resiliência

Ao ver os recentes casos de intoxicação por metanol noticiados na imprensa, Andreia se identifica com as vítimas e deixa um recado de encorajamento: "A vida é maravilhosa, a vida vale. Não pode desanimar."

Andreia reforçou a importância de buscar atendimento médico rápido e de haver protocolos claros de saúde pública para casos suspeitos.

Para além da dor, Andreia construiu uma narrativa de resiliência: superou limitações, venceu preconceitos silenciosos e transformou a tragédia em combustível para sua carreira e vida pessoal.

"Não adianta perder tempo com a pergunta: 'Por que comigo?'. A resposta talvez nunca venha. O que importa é seguir vivendo e mostrando que vale a pena, apesar desse absurdo todo."

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