Neste domingo, 25/5, é celebrado o Dia Nacional da Adoção — data que reforça a importância do direito de toda criança e adolescente crescer em um ambiente familiar.
Atualmente, mais de 5,2 mil crianças e adolescentes aguardam por uma família no Brasil, e o Judiciário tem atuado para acelerar esse processo, especialmente para os chamados casos de “difícil colocação”, que envolvem grupos de irmãos, crianças com mais de 8 anos ou com algum tipo de deficiência.
Uma das principais ferramentas para viabilizar esses encontros é a Busca Ativa, gerenciada pelo SNA - Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento e coordenada pelo CNJ.
Por meio dela, os pretendentes habilitados têm acesso a informações, fotos e vídeos de crianças e adolescentes disponíveis para adoção. Desde 2019, mais de 1.100 adoções foram concretizadas graças a essa iniciativa. Atualmente, 1.427 perfis estão ativos na plataforma.
De acordo com o desembargador Sergio Luiz Kreuz, do TJ/PR, a Busca Ativa é uma estratégia essencial para garantir o direito à convivência familiar, uma vez que só é acionada após esgotadas todas as possibilidades no cadastro nacional — inclusive para pretendentes estrangeiros.
O ingresso da criança na ferramenta depende de decisão judicial, embasada em laudo psicossocial e, sempre que possível, na manifestação da própria criança ou adolescente.
No Paraná, além da Busca Ativa nacional, o TJ desenvolveu a plataforma A.Dot, que amplia a visibilidade dos perfis com vídeos e imagens dos jovens. Lançada em 2018, a ferramenta já soma mais de 52 mil acessos e resultou em 193 adoções formalizadas, além de dezenas de processos em andamento.
Para garantir a efetividade do sistema, o TJ/PR também tem investido na formação de magistrados e profissionais da rede de proteção. No ano passado, promoveu oficinas específicas sobre a Busca Ativa, abordando desde fundamentos jurídicos até boas práticas na condução dos processos.
Casos recentes demonstram o impacto da iniciativa. Três irmãs, de 10, 13 e 14 anos, foram adotadas por uma família de São Paulo após esgotadas as tentativas locais no Paraná.
Outro exemplo é o de uma adolescente de 15 anos, vítima de violência familiar, que iniciou contato com os novos responsáveis por meio de videochamadas e teve sua adoção formalizada meses depois.
Histórias como essas inspiram outras famílias. Um casal paranaense, que adotou uma adolescente de 15 anos, compartilhou uma carta em que descreve os desafios e, principalmente, as alegrias da experiência.
A mensagem serve como incentivo para quem deseja abrir as portas e o coração para uma nova vida em família.
Leia a carta na íntegra :
“Há um ano, minha esposa e eu tomamos uma das decisões mais importantes e transformadoras de nossas vidas: adotamos a E., uma adolescente de 15 anos. Desde o primeiro dia, foi como se ela sempre tivesse feito parte da nossa família. Sua chegada foi natural, sem estranhamento, e em pouco tempo já estávamos rindo juntos, como se tivéssemos compartilhado anos de convivência.
É uma menina extremamente alegre e falante — fala alto, inclusive! Nossa casa se encheu de energia com suas histórias intermináveis e momentos de pura diversão. Temos incontáveis lembranças de risadas espontâneas e situações engraçadas. Além disso, ela é muito obediente e sempre disposta a ajudar nas tarefas domésticas, o que tornou a rotina em casa ainda mais leve.
Como toda adolescente, ela tem suas peculiaridades. Ama doces, mas está precisando controlar a glicose. É apaixonada por animes e séries coreanas e, embora nunca tenha namorado, descreve com muito romantismo como imagina o marido ideal. É fascinante ver sua visão de mundo, que muitas vezes ainda carrega a inocência de uma criança.
Ela também adora viajar e tem um paladar versátil, comendo de tudo. No entanto, quando o assunto é cozinha, as coisas ficam complicadas. Ela é um desastre culinário e extremamente desastrada no dia a dia — perde, quebra ou esquece objetos com facilidade. Para completar, tem crenças bastante peculiares: acredita firmemente na existência de sereias e lobisomens e até diz que há provas que comprovam isso!
Se há um desafio que enfrentamos, é ensiná-la a ser mais sincera. Quando faz algo errado, tende a mentir para evitar problemas. Esse tem sido um dos principais pontos que trabalhamos com ela, mostrando a importância da verdade e da confiança dentro da família.
Na escola, ela encontra dificuldades em praticamente todas as disciplinas, especialmente Português e Matemática. No entanto, tem um talento especial para o desenho – ainda não é nada extraordinário, mas demonstra criatividade e dedicação. Como está crescendo rápido, já é mais alta do que nós, o que às vezes nos rende momentos cômicos.
Ao longo desse ano, fizemos algumas viagens em família e aproveitamos muitos momentos juntos. A experiência de adotar uma adolescente tem sido incrível. Ao contrário do que muitos pensam, não nos arrependemos em nenhum momento. Pelo contrário, o fato de ela já ter certa independência e não precisar de cuidados intensivos, como uma criança pequena, torna o dia a dia mais tranquilo.
Nosso compromisso é ajudá-la a se tornar uma pessoa de bem. Temos ensinado valores importantes, como fé em Deus, educação financeira e hábitos saudáveis de alimentação. Acreditamos que, com amor, paciência e orientação, ela tem um futuro promissor pela frente.
Se você pensa em adotar, não descarte a possibilidade de acolher um adolescente. Eles trazem desafios, sim, mas também muito amor, alegria e a oportunidade de transformar vidas — a deles e a nossa. E. mudou a nossa para melhor, e temos certeza de que há muitos outros adolescentes esperando por essa mesma chance”.
Informações: CNJ.