Nesta quarta-feira, 27, o STF declarou inconstitucional regra que barrava militares casados e com filhos de participar de cursos de formação em regime de internato.
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Ao votar, ministro Flávio Dino recorreu a uma lembrança pessoal para ilustrar como diferentes profissões já impõem sacrifícios familiares semelhantes ou até mais duros que os de um internato.
O ministro contou que, quando governador do Maranhão, era constantemente questionado por seu filho mais novo sobre as longas ausências. Sem ter como evitar a explicação, buscou uma saída bem-humorada:
"Ele nasceu em 2016, eu era governador, muitas ausências, o Maranhão tem 331 mil quilômetros quadrados, 217 municípios. Ele com três ou quatro anos me cobrou e eu, sem muito caminho, disse a ele: 'filhinho, podia ser pior'. Apontei para a lua e disse: 'papai podia ser astronauta'. Foi um argumento ad terrorem com o menino para dizer: é só o Maranhão."
Veja o momento:
Dino aproveitou a anedota para ressaltar que diversas atividades exigem afastamento prolongado do convívio familiar.
Citou o exemplo dos garimpeiros da Amazônia, que chegam a passar anos longe de casa, muitas vezes em condições precárias ou clandestinas, e dos motoristas de caminhão, que percorrem o país em jornadas extensas, com pouco tempo ao lado da família.
Para o ministro, essas situações demonstram que a vida prática do trabalhador brasileiro já impõe sacrifícios semelhantes ou maiores que os vivenciados em regimes de internato. Por isso, a restrição aos militares casados e com filhos "não guarda congruência com a realidade social do povo brasileiro".