Medidas de Trump miram STF, mas favorecem Lula, diz imprensa dos EUA
The Washington Post e The New York Times destacaram que ofensiva do presidente norte-americano fortaleceu presidente brasileiro e acendeu alerta na diplomacia dos EUA.
Da Redação
segunda-feira, 21 de julho de 2025
Atualizado às 15:37
A recente escalada de tensões entre o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, o presidente Lula e o STF repercutiu na imprensa norte-americana.
A imposição de tarifas de 50% sobre importações brasileiras, anunciada por Trump para agosto, somada à suspensão de vistos diplomáticos de ministros do STF, foi lida por dois dos principais jornais dos EUA como uma manobra com fins políticos - e de efeito oposto ao pretendido.
Sanção política com viés pessoal
Em artigo publicado no The Washington Post, o colunista Ishaan Tharoor descreveu a ofensiva (bullying) como uma tentativa explícita de interferência em favor de Jair Bolsonaro. A iniciativa, no entanto, gerou o que o jornal classificou como um "efeito bumerangue", com críticas internas nos Estados Unidos e ganhos políticos inesperados para Lula.
Segundo o artigo, embora o pretexto das tarifas seja de natureza comercial, o objetivo político foi rapidamente revelado: pressionar o governo brasileiro a suspender o processo criminal contra Bolsonaro e retaliar o ministro Alexandre de Moraes, relator de investigações contra o ex-presidente e crítico ativo da desinformação em redes sociais - o que o colocou em rota de colisão com aliados trumpistas e com o empresário Elon Musk.
A ação da Casa Branca veio após articulação de Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, que se estabeleceu nos Estados Unidos e teria feito lobby junto à administração Trump.
Na última semana, ele apareceu em vídeo gravado nos jardins da Casa Branca e participou da CPAC - Conservative Political Action Conference na Argentina, reforçando os vínculos ideológicos entre a direita radical dos dois países.
"Presente político"
O The Washington Post destaca que a resposta do presidente Lula foi imediata e eficaz do ponto de vista político.
Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, ironizou: "Trump foi eleito para governar os EUA, não para ser imperador do mundo".
O jornal ressalta que o presidente brasileiro passou a incorporar o embate à sua estratégia de comunicação.
Em agendas públicas, tem usado um boné azul com os dizeres "O Brasil é dos brasileiros", em provocação direta ao slogan trumpista "Make America Great Again".
A manobra de Trump acabou, segundo o historiador André Pagliarini, se voltando contra os próprios interesses da direita.
"O que era para ser uma demonstração de força do trumpismo e de sua franquia brasileira virou um presente político para Lula", afirmou ao Post.
Um diplomata brasileiro, sob anonimato, resumiu com sarcasmo:
"O Papai Noel chegou mais cedo para o presidente Lula, e o presente foi enviado por Trump."
Bastidores de desconforto
Embora a retórica pública da equipe de Trump tenha sido beligerante, bastidores revelados pelo Washington Post indicam desconforto no corpo diplomático norte-americano.
Fontes do Departamento de Estado, sob anonimato, classificaram a retaliação ao STF como "profundamente prejudicial" à imagem dos EUA no exterior.
"É difícil imaginar ação mais danosa à nossa reputação do que sancionar um juiz de Suprema Corte estrangeira por discordarmos de suas decisões judiciais", disse um diplomata ao jornal.
Anti-Trump bump
Na mesma linha, o The New York Times avaliou que a ofensiva de Trump teve efeito colateral imediato: fortaleceu Lula, que até então enfrentava um cenário incerto para 2026.
O jornal relata que, com Trump como antagonista, o presidente brasileiro reencontrou uma narrativa mobilizadora: a defesa da soberania nacional diante da pressão de uma potência estrangeira.
"A eleição no Brasil começava a lembrar algo familiar aos americanos: um presidente idoso e em queda nas pesquisas enfrentando um populista provocador que diz ter sido vítima de fraude. Então, entrou Trump", diz o texto.
A resposta de Lula viralizou nas redes sociais e reacendeu o entusiasmo entre seus apoiadores. Levantamentos divulgados dias após o anúncio das tarifas mostraram aumento de 3 a 5 pontos na aprovação presidencial, chegando a até 50%, o melhor desempenho desde o início do ano.
A cientista política Camila Rocha, do Cebrap - Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, definiu a crise como "um golpe de sorte" para Lula.
O jornal também classificou o episódio como parte de um padrão internacional: o chamado anti-Trump bump, observado também em eleições no Canadá e na Austrália, quando líderes locais crescem ao se contrapor ao presidente norte-americano.