No STF, general admite autoria de plano para matar Lula e Moraes
Segundo Mário Fernandes, o conteúdo do plano foi elaborado de forma autônoma, sem envolvimento de terceiros.
Da Redação
sexta-feira, 25 de julho de 2025
Atualizado às 10:27
O general da reserva do Exército Mário Fernandes, ex-assessor da presidência no governo Jair Bolsonaro, admitiu nesta quinta-feira, 24, ao STF ser o autor do documento conhecido como Punhal Verde e Amarelo, que detalhava um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do STF. A declaração foi dada em depoimento no âmbito da ação penal que apura tentativa de golpe de Estado.
Segundo o general, o conteúdo do plano foi elaborado de forma autônoma, sem envolvimento de terceiros. Ele classificou o material como um "pensamento digitalizado", resultado de uma análise pessoal do cenário pós-eleitoral de 2022.
Fernandes afirmou que o texto foi impresso no Palácio do Planalto para leitura própria, mas que as cópias foram destruídas em seguida. "Não foi mostrado a ninguém, não foi compartilhado com ninguém. Hoje me arrependo de ter digitalizado isso", declarou.
As investigações da Polícia Federal, no entanto, indicam que o documento foi impresso em ao menos três cópias e que, posteriormente, Fernandes esteve no Palácio da Alvorada, onde estavam Bolsonaro e o então ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid. Questionado sobre essa sequência, o general alegou coincidência e negou ter discutido o plano com o ex-presidente.
De acordo com a delação premiada de Mauro Cid, o plano foi idealizado após a vitória de Lula em 2022 e seria colocado em prática caso a tentativa de golpe tivesse sucesso. As ações teriam sido discutidas em reunião na casa do general Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na chapa de Bolsonaro. O plano incluía o uso de armamento pesado e o monitoramento constante de Alexandre de Moraes. Também teria sido prevista a possibilidade de envenenamento das autoridades, com execução marcada para três dias após a diplomação de Lula, em dezembro de 2022.
O documento ficou conhecido como Punhal Verde e Amarelo após ser renomeado pelo próprio general. Em sua versão original, o arquivo estava salvo como "Fox_2017.docx". A Polícia Federal afirma que Fernandes integrava o núcleo 2 da suposta organização criminosa investigada por planejar um golpe de Estado.
Ainda segundo o general, durante sua atuação no Planalto, integrantes do entorno de Bolsonaro discutiam a redação de um decreto com base em "considerandos" jurídicos para uma eventual intervenção do Executivo. Fernandes disse ter feito apelos para que as ações ocorressem "dentro da Constituição".
O plano veio à tona após delação do tenente-coronel Mauro Cid, que também relatou o envolvimento de outros militares. Segundo Cid, recursos em espécie foram entregues pelo general Braga Netto ao major Rafael Martins de Oliveira, para custear despesas operacionais. A quantia teria sido repassada em uma sacola de vinho.
Mário Fernandes está preso preventivamente desde novembro de 2024 e figura como réu no processo que investiga a trama golpista.