Quem é Tagliaferro, ex-assessor de Moraes que enfrenta série de denúncias
Violência doméstica, obstrução de Justiça e até abolição do Estado Democrático de Direito estão no rol de acusações que compõem o currículo do cidadão.
Da Redação
sexta-feira, 5 de setembro de 2025
Atualizado às 13:57
Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do TSE, tornou-se nome conhecido após uma série de acusações - feitas por ele e contra ele. Do flagrante por violência doméstica, que resultou em sua imediata exoneração do Tribunal, às denúncias de obstrução de Justiça e tentativa de golpe, seu nome passou a frequentar as manchetes.
Hoje, responde a investigações no STF e é alvo de um inquérito sigiloso em São Paulo, que apura suposta atuação em fraude milionária envolvendo heranças.
Paralelamente, e com credibilidade duvidosa, acusa Alexandre de Moraes, ministro do STF e ex-presidente do TSE, de usar a estrutura da Corte Eleitoral para produzir provas posteriormente utilizadas no Supremo.
Carreira e atuação no TSE
Eduardo Tagliaferro tem extensa trajetória ligada à iniciativa privada e à área de tecnologia, tendo assumido cargo de destaque no TSE. Nomeado em 2022 para chefiar a AEED - Assessoria de Enfrentamento à Desinformação, órgão criado ainda na presidência de Edson Fachin e mantido durante a gestão de Alexandre de Moraes, atuava no monitoramento de redes sociais e combate à desinformação no período eleitoral. A AEED tinha a função de identificar publicações consideradas irregulares e encaminhá-las à presidência do TSE para possível remoção.
Violência doméstica
Em 9 de maio de 2023, Tagliaferro foi preso em flagrante em Caieiras/SP por violência doméstica. A vítima, sua esposa, teria relatado que ele chegou em casa alterado, a ameaçou, subiu para o quarto e disparou um tiro. A mulher correu com as filhas para a garagem. Não houve feridos fisicamente, mas o impacto foi imediato: o TSE o exonerou do cargo imediatamente.
Vazamento de informações e denúncia da PGR
Em abril de 2024, a Polícia Federal concluiu investigação no âmbito do chamado esquema "Vaza Toga" e indiciou Tagliaferro por violação de sigilo funcional, após surgirem evidências de que ele teria vazado diálogos do ministro Alexandre de Moraes com servidores do TSE e do STF.
Em agosto de 2025, o procurador-Geral da República, Paulo Gonet, protocolou denúncia formal no STF contra o ex-assessor. As acusações incluem violação de sigilo funcional, coação no curso do processo, obstrução de investigação de organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O ministro Alexandre de Moraes, por sua vez, requereu ao ministério da Justiça sua extradição da Itália, onde reside atualmente.
Depoimento no Senado e embate com Moraes
No dia 2 de setembro de 2025, Tagliaferro participou de audiência na comissão de Segurança Pública do Senado, presidida por Flávio Bolsonaro. Nela, acusou Alexandre de Moraes de adulterar documentos para justificar operações da Polícia Federal e de ordenar a produção de relatórios de monitoramento com base em "pedidos informais" de "parceiros".
Curiosamente, o depoimento se deu simultaneamente à sessão do STF dedicada a julgar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O gabinete de Moraes rebateu as acusações, afirmando que os procedimentos foram regularmente conduzidos e que os relatórios continham descrições objetivas de postagens ilícitas vinculadas a investigações de milícias.
Golpe envolvendo heranças
Em 4 de setembro de 2025, mais uma denúncia envolve o nome do ex-assessor. O MP/SP denunciou Tagliaferro por suspeita de ter atuado para dificultar investigações contra um juiz estadual que estaria envolvido em desvio de dinheiro de execuções fiscais.
Segundo o MP, Tagliaferro teria orientado outros investigados, em 2024, sobre apagar registros de conversas em celulares para evitar exposição durante buscas. O processo tramita em sigilo no TJ/SP.
Panorama atual
Atualmente, Tagliaferro enfrenta acusações em diferentes frentes, tanto na esfera federal quanto na estadual. O STF decidirá se recebe a denúncia apresentada pela PGR, enquanto o TJ/SP analisa a investigação sobre fraude em heranças. Além disso, tramita no Ministério da Justiça o pedido de extradição feito por Alexandre de Moraes.
Ou seja, com tantas passagens nebulosas em seu histórico, Eduardo Tagliaferro não ostenta exatamente um currículo de confiança. Ao contrário, soma episódios suficientes para que seja visto hoje como um cidadão de credibilidade mais do que duvidosa.