Saída do STF: Ministros, PGR e advocacia homenageiam Barroso

Após o anúncio da aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso, durante a sessão plenária desta quinta-feira, 9, colegas da Corte prestaram homenagens emocionadas à sua trajetória no STF.

O presidente da Corte, Edson Fachin, abriu as manifestações destacando o impacto profundo da atuação de Barroso na história do Tribunal e da jurisdição constitucional brasileira.

"As palavras são insuficientes para expressar o impacto de seu trabalho, cujos efeitos perdurarão por muitas gerações", afirmou Fachin.

O ministro lembrou que a contribuição de Barroso antecede sua chegada ao STF, citando a atuação ainda como advogado em causas que ampliaram direitos sexuais e reprodutivos e reforçaram a igualdade material.

Entre os marcos de sua trajetória no Supremo, Fachin mencionou a defesa das cotas raciais em concursos públicos, a proteção aos povos indígenas Yanomami, e decisões em temas como vacinação obrigatória, fundo do clima e transporte gratuito em dia de eleição.

O presidente também ressaltou o legado administrativo de Barroso à frente do STF e do CNJ, como a criação do Exame Nacional da Magistratura e a implementação de ações afirmativas para ampliar a presença de mulheres e pessoas negras na magistratura.

Fachin recordou a amizade entre ambos e concluiu a homenagem com palavras de afeto:

"Carregarei para sempre comigo o abraço que nos demos em 2012, antes ainda de sua vinda para o Tribunal, como lembrança da generosidade da vida que teima em nos carregar adiante."

Sem mágoas

O decano do STF, Gilmar Mendes, prestou homenagem emocionada ao colega, ressaltando a importância de sua atuação tanto como magistrado quanto como presidente da Corte.

 Gilmar lembrou os desafios enfrentados durante a gestão de Barroso, classificando o período como "os dois anos mais difíceis" de sua vivência no Tribunal. Disse ter apoiado o colega por "dever cívico" e destacou sua condução firme e responsável à frente do STF.

 "Sua Excelência sabe do apoio que emprestei, e não foi em nenhum favor, mas um dever cívico durante esses dois anos difíceis, certamente os dois anos mais difíceis, pelo menos da minha vivência no Tribunal", afirmou.

O ministro afirmou que o compromisso de todos deve ser com a instituição e não com diferenças pessoais, destacando a importância da ética da responsabilidade, citando o sociólogo Max Weber.

"O compromisso tem que ser com a instituição, isso é o fundamental. Olhemos para frente e saibamos ser dignos das funções que recebemos, das dádivas que tivemos de poder contribuir para a construção de um país melhor", disse.

 Encerrando a homenagem, Gilmar citou o escritor Alberto Manguel para expressar admiração pela trajetória do colega:

"Somos o que somos, mas transformados naquilo que nos esforçamos por nos tornar. Vossa Excelência trilhou o melhor caminho. Um grande abraço, seja feliz."

Amizade e admiração

Ministro Luiz Fux relembrou a longa amizade com Barroso, construída ainda na juventude acadêmica. Definiu o colega como "um homem de integridade profunda, sabedoria ímpar e amor incondicional pelas pessoas", e contou que foi o celebrante do casamento do ministro com a saudosa Tereza, sua esposa.

Fux destacou que o tempo "não separa o inseparável" e afirmou que Barroso deixa o Supremo com uma trajetória marcada pela humildade, coerência e compromisso com os valores humanos e constitucionais.

"Sua passagem por esta Corte deixa um legado de luz, razão e humanidade. O tempo não separa o inseparável", concluiu.

PGR

O procurador-geral da República Paulo Gonet prestou homenagem destacando a contribuição do magistrado à Justiça brasileira. Surpreso com o anúncio da aposentadoria, afirmou que o país continuará a se beneficiar da atuação intelectual e moral de Barroso.

"Se perdermos o magistrado jurista, o país continuará a se beneficiar do jurista sempre culto, sempre aberto ao diálogo e sempre buscando o justo e o certo", afirmou o chefe do MP.

Em nome da instituição, o PGR desejou ao ministro felicidade na nova etapa profissional, ressaltando que seu legado no Supremo permanece como exemplo de comprometimento, equilíbrio e dedicação ao serviço público.

Advocacia

O advogado Ricardo Quintas Carneiro, da banca LBS Advogados e Advogadas, presente no plenário, prestou uma homenagem ao ex-presidente do STF.

Surpreso com o anúncio da aposentadoria, ele afirmou ter vestido "as vestes de trabalho" para representar a advocacia e agradecer a Barroso pela relação de respeito com a classe e com a OAB.

O advogado destacou que o ministro soube conduzir o STF com firmeza e serenidade, mesmo nos momentos mais delicados da vida institucional do país.

"Soube conduzir este tribunal com firmeza, sem perder a ternura", disse, citando a célebre frase de Che Guevara.

Ao encerrar a fala, desejou êxito na nova etapa da vida e fez referência à canção que fala sobre manter "a mente esperta, a espinha ereta e o coração tranquilo", afirmando que Barroso deixa o Tribunal "com a espinha ereta, que ninguém foi capaz de dobrar".