Para PF, ainda é cedo para ligar crime organizado a metanol em bebidas
Para o diretor-geral Andrei Rodrigues, somente o relatório final das investigações poderá apontar eventual ligação com organizações criminosas.
Da Redação
quarta-feira, 22 de outubro de 2025
Atualizado às 16:38
A PF ainda não confirma se o crime organizado está por trás do esquema de adulteração de bebidas alcoólicas com metanol, que provocou dezenas de casos de intoxicação no país.
Em entrevista à TV Migalhas, o diretor-geral da corporação, Andrei Rodrigues, afirmou que as investigações seguem em curso e que apenas o relatório final do inquérito poderá definir se há envolvimento de facções criminosas.
Conforme afirmou, os trabalhos estão concentrados na coleta de material e na realização de perícias, e é prematuro fazer qualquer associação entre o grupo investigado e organizações criminosas estruturadas.
"A investigação é que vai dizer se há ou não relação com o crime organizado ou se é uma questão muito pontual", disse o diretor-geral, ao ressaltar que a PF mantém cautela para não antecipar conclusões.
O diretor destacou ainda que o andamento das apurações depende de análises técnicas e do cruzamento de provas obtidas em operações realizadas em parceria com o MP/SP.
Apesar de não haver prazo definido para o encerramento do inquérito, Rodrigues acredita que o grupo responsável pelo esquema já tenha sido neutralizado após ações conjuntas da PF e do MP/SP.
"Nós fizemos duas grandes operações que descontinuaram uma rede criminosa na cadeia de combustíveis. Agora a gente tem que avançar nas investigações (...) para poder concluir a respeito do cenário da situação atual", concluiu.
Investigação
Os primeiros registros de intoxicação ocorreram no fim de agosto, segundo o Ministério da Saúde. O número de notificações cresceu rapidamente no mês seguinte, quando médicos em São Paulo começaram a identificar pacientes com sintomas típicos de envenenamento, como dores de cabeça, vertigem e alterações visuais.
Em setembro, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar os casos de intoxicação registrados em São Paulo e a possível distribuição de bebidas adulteradas para além das fronteiras do estado
Em reunião extraordinária, o Comitê Técnico do Sistema de Alerta Rápido do governo Federal definiu um protocolo emergencial para enfrentar a crise.
Entre as medidas, estão:
- emissão de alerta nacional pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon/MJSP) aos Procons de todo o país;
- monitoramento em tempo real dos casos suspeitos pelo SAR;
- reforço da notificação de intoxicações em toda a rede de urgência e emergência do SUS;
- levantamento de informações pelo Ministério da Agricultura para apoiar ações de fiscalização.
O Ministério da Saúde orientou ainda que unidades de atendimento redobrem a vigilância para sintomas característicos de intoxicação exógena.
Mudança de padrão
Autoridades destacaram que o atual surto é inédito. Até então, registros de intoxicação por metanol estavam ligados ao consumo de álcool adulterado em postos de combustíveis, geralmente envolvendo pessoas em situação de vulnerabilidade.
Desta vez, os pacientes relataram ingestão de bebidas destiladas em ambientes sociais, como bares e restaurantes, incluindo gin, uísque e vodca.
Sintomas e recomendação
Altamente tóxico, o metanol é um solvente utilizado em indústrias de combustíveis, tintas, plásticos e medicamentos. Mesmo em pequenas quantidades, seu consumo pode causar danos graves à saúde, incluindo cegueira, coma e morte.
A ingestão da substância é considerada uma emergência médica. A substância, ao ser metabolizada, gera compostos como formaldeído e ácido fórmico, altamente tóxicos. Os principais sintomas são:
- visão turva ou perda súbita da visão;
- náuseas, vômitos e dores abdominais;
- sudorese, confusão mental e convulsões.




