COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas

Criptogalhas

Regulação de criptoativos e blockchain no mundo.

Tatiana Revoredo
Contexto No artigo anterior, vimos que a tributação de criptomoedas varia muito em todo o mundo e, após explorar as práticas de tributação entre órgãos de supervisão, bem como as iniciativas globais com recomendações tributárias de órgãos internacionais como a OCDE, começamos a explorar a legislação tributária sobre criptoativos nas principais economias, abordando a tributação nos EUA.  Hoje, continuaremos a explorar como é a tributação cripto nas principais economias do mundo, especialmente o Bloco Europeu, e alguns países membros como Alemanha e França. Este artigo foi extraído do livro "Tributação e Compliance de Criptoativos [6 Continentes, 30 Países].1 Tributação cripto nas principais economias do mundo Bloco Europeu Embora a UE - União Européia busque o alinhamento regulatório através da MiCA2, cada país membro aplica regras diferentes. A maioria dos países impõe CGT - imposto sobre ganhos de capital sobre as vendas de criptomoedas. Algumas jurisdições, incluindo a Alemanha e a Bélgica, oferecem isenções para criptomoedas mantidas por mais de um ano, com o objetivo de promover o HODLing3-4.    Os governos tratam as recompensas de staking, mineração e airdrops como renda tributável, mas as alíquotas de imposto dependem do país e da faixa de renda.5-6-7 A Espanha e a Irlanda classificam o trade frequente de criptomoedas como "business income" [renda de PJ], o que aumenta as obrigações fiscais. A UE isenta as transações de cripto para moedas fiduciárias do IVA, mas alguns serviços relacionados a criptomoedas, inclusive mineração e consultoria, permanecem tributáveis.  As empresas que detêm criptoativos também estão sujeitas a "corporate tax" [impostos corporativos], embora Alemanha, Malta e Portugal mantenham taxas mais baixas que países com altos impostos, como a França. Países europeus com impostos altos e países com impostos baixos sobre criptoativos A tributação de criptoativos varia muito na Europa, com alguns países impondo altas taxas e outros oferecendo políticas mais favoráveis. Dinamarca, França, Holanda e Áustria aplicam alguns dos mais altos impostos sobre ganhos de capital e renda sobre cripto, com taxas superiores a 40% em alguns casos. Em contrapartida, países como Bulgária (10%), Hungria (15%) e Malta (0-5%) oferecem estruturas tributárias mais favoráveis ao investidor.  Devido a importância economica de alguns países membros do bloco europeu, como Alemanha, vale analisar sua tributação cripto em tópico a parte. Alemanha 1. Uma das legislações tributárias de cripto mais amigáveis do mundo  A alienação de criptomoedas [venda ou troca] pode estar sujeita a impostos, dependendo de quanto tempo o contribuinte manteve seus ativos.   Com a alienação de criptomoedas após 1 ano da aquisição do ativo totalmente isenta de impostos! E as alienações em menos de um ano sujeitas a imposto de renda cuja alíquota varia de 0-45%. Especificamente nas alienações em menos de 1 ano da aquisição, o contribuinte só será obrigado a pagar imposto se obtiver mais de 600 euros em ganhos de capital ou renda em criptomoedas no curto prazo [menos de um ano].8 2. Tributação da renda obtida com criptomoedas e stablecoins Se o contribuinte ganha criptomoedas, por exemplo, por meio de "mineração" e recompensas de "staking", ele está sujeito ao pagamento de imposto de renda com base no valor de mercado de seus ativos no momento do recebimento, e em sua renda total do ano por meio de criptomoedas e outras fontes.9-10 As stablecoins são tributadas de forma semelhante a outros criptoativos. A venda de stablecoins ou sua troca por criptomoedas [tokens nativos de determinada rede blockchain] ou outros tokens [não nativos] em menos de um ano de sua aquisição, é considerada tributável [embora seja provável que o ganho tributável seja próximo de 0].11 3. Taxas e tributação sobre as perdas de criptomoedas na Alemanha Se você se desfez de uma criptomoeda com prejuízo após menos de um ano de posse, poderá usar isso para compensar quaisquer ganhos tributáveis e reduzir sua obrigação tributária sobre criptomoedas no ano. Assim como os ganhos em criptomoedas mantidos por mais de um ano não são considerados tributáveis, as perdas em criptomoedas mantidas por mais de um ano não podem ser usadas para compensar ganhos. Por exemplo, se o contribuinte adquirir 2.000 euros de $ETH [ether, token nativo do blockchain Ethereum] e, meses depois, o valor de sua ETH cai para 900 euros. Se o contribuinte, aliena seus $ETH no valor de 1.200 euros, incorrendo em uma perda de capital de 800 euros, ele pode compensar esses 800 euros no ganho de capital de curto prazo [menos de um ano]. No tocante às comissões cobradas pelas corretoras ou taxas pagas em transações de determinada rede blockchain, estas podem potencialmente ser descontadas da obrigação fiscal. Isto é, taxas e comissões podem ser deduzidas do produto de sua venda e reduzir os ganhos de capital. 4. Tributação do pagamento em criptomoedas e renda obtida com mineração As criptomoedas recebidas como compensação pelo trabalho são consideradas renda sujeita ao imposto de renda. Da mesma forma, as criptomoedas obtidas com a mineração também são consideradas renda. Aqui, diferentemente da Rússia, as empresas podem deduzir os custos das despesas relevantes, como eletricidade e gastos com aquisição de equipamentos de hardware para mineração. Note que os mineradores amadores, contudo, não podem deduzir as despesas relevantes. Como exemplo de renda obtida com a mineração, imagine que o contribuinte ganhou 5.000 euros de $BTC [token nativo do blockchain Bitcoin] por meio da mineração e, meses depois, ele vendeu seu $BTC por 5.500 euros. Neste exemplo, o contribuinte deve declarar 5.000 euros de renda e 500 euros de ganho de capital. 5. Tributação de criptomoedas obtidas com staking, airdrops e hard forks As criptomoedas obtidas com os prêmios de staking são consideradas renda na Alemanha. Se o contribuinte se desfizer de suas recompensas de staking em menos de 12 meses da aquisição, elas estarão sujeitas ao imposto sobre ganhos de capital de curto prazo, dependendo de como o preço de seus tokens oscilou desde que o contribuinte as recebeu originalmente.12 Os airdrops por sua vez, podem ser tributáveis, dependendo das circunstâncias específicas.13 Os rendimentos de airdrops são considerados tributáveis se o contribuinte tiver realizado ações específicas para recebê-los, como pagar taxas de gás para reivindicar seus tokens ou compartilhar uma publicação na mídia social sobre o airdrop. No entanto, se o contribuinte não realizou nenhuma ação para receber o airdrop, ele será considerado não tributável. Um hard fork ocorre quando uma rede blockchain se divide em duas e os detentores do token nativo daquele blockchain recebem novas unidades de criptomoeda referente a nova rede que se formou. Um exemplo é o hard fork do Bitcoin Cash em 2017, quando os detentores de $BTC [token nativo do blockchain Bitcoin] receberam $BCH [bicoin cash, o token nativo do blockchain do Bitcoin Cash].14 As novas unidades de criptomoeda recebidas devido a um hard fork não são consideradas tributáveis. No entanto, na Alemanha, o contribuinte só será tributado se se desfizer dos novos tokens adquiridos [no nosso exemplo, se se desfizer do $BCH] dentro de 12 meses após recebê-las. Se a alienação ocorrer mais de 12 depois do hard fork, o contribuinte fica isento. 6. Tributação de NFTs e DeFi Até o momento em que este artigo foi escrito, o governo alemão não forneceu nenhuma orientação sobre tributação de NFTs.15 É provável que eles sejam tributados de forma semelhante a outros criptoativos. Ou seja: 6.1. Compra de NFTs com criptomoedas: É provável que a compra de NFTs com criptomoedas seja considerada uma alienação de criptomoedas. Nesse caso, o contribuinte pagará imposto sobre ganhos de capital - se tiver adquirido sua criptomoeda há menos de 12 meses.  6.2. Venda/troca de NFTs: É provável que a alienação de NFTs em menos de 12 meses de sua aquisição esteja sujeita ao imposto de renda, enquanto a alienação de NFTs após mais de 12 meses estará isenta de tributação. Como exemplo de tributação sobre a negociação de NFTs, imagine que um contribuinte adquiriu um NFT por 700 euros e, meses depois, ele aliena o NFT por 2.000 euros. Neste exemplo, o contribuinte obteve em 1.300 euros de ganho de capital. Aqui, é importante lembrar que a compra de NFTs com criptomoedas será considerada uma alienação tributável se o contribuinte tiver mantido a criptomoeda por menos de 12 meses. 6.3. Cunhagem de NFTs: No tocante à mintagem de NFTs, se o contribuinte mintar um NFT como criador, é provável que a receita das vendas primárias e secundárias seja tributada como renda. Até o momento em que este artigo foi publicado, nem a União Européia, nem o governo alemão  forneceram diretrizes sobre a tributação relacionada a DeFi - Decentralized Finance16. É provável que as transações de DeFi sejam tributadas de acordo com as seguintes regras: A criptomoeda adquirida via plataformas DEFI estará sujeita ao imposto de renda. As alienações de criptomoedas em menos de 12 meses estarão sujeitas ao imposto sobre ganhos de capital de curto prazo. _____________ 1 Revoredo, Tatiana; In: Tributação e Compliance de Criptoativos [6 Continentes, 30 Países]", Parte 3, Cap. 8, página 107-122, Amazon, 2025. 2 Disponível aqui. 3 O termo "HODL" teve origem em um erro de digitação em uma postagem de fórum no Bitcointalk, em que um investidor escreveu erroneamente "hold" [segurar numa tradução simples do inglês para o português] como "HODL". Nesse passo, o termo "HODLing" refere-se à estratégia de manter suas criptomoedas (como bitcoin ou ether) por um longo período, independentemente das flutuações de preço de curto prazo. Essencialmente, trata-se de uma abordagem de compra e manutenção de longo prazo, com foco no potencial de crescimento futuro, em vez de tentar prever o tempo do mercado. 4 Disponível aqui. 5 "Staking é necessário para garantir a segurança e a funcionalidade de uma plataforma blockchain. Determinadas blockchains - que usam o mecanismo de consenso Proof of Staking - precisam de criptomoedas/tokens dados como garantia para validarem e verificarem a segurança das transações na rede. Os stakers certificam com suas criptomoedas que todas as transações de determinada blockchain foram processadas corretamente. E por disponibilizarem seus criptomoedas para validar e segurar a rede blockchain, os stakers recebem juros na forma de tokens, cunhados quando um novo bloco é adicionado à rede, mas também podem pagar uma penalidade (chamada slashing) se não se comportarem corretamente". Revoredo, Tatiana; In: "SEC e a possível mudança de política sobre staking em ETPs", disponível aqui. 6 O termo "mineração" refere-se ao "processo de verificação e validação de transações em uma blockchain [que utiliza 'prova de trabalho' como algorítmo de consenso], bem como o processo que gera novas unidades de criptomoedas". Revoredo, Tatiana; In: "O impacto ESG do bitcoin, entre mitos e realidade", MIT Sloan Management Review Brasil, disponível aqui. 7 "O termo "airdrop" refere-se a tokens doados por projetos blockchain aos primeiros usuários [early adopters] como recompensa pelo apoio inicial ao projeto. Pense em receber amostras grátis quando se faz compras numa loja. Os airdrops são também uma forma de criar um interesse inicial em uma nova criptomoeda, eis que estas só terão algum valor se estiverem sendo utilizadas por uma comunidade de usuários - teoricamente, os destinatários dos airdrops têm um incentivo para promover o interesse nos tokens que receberam gratuitamente." Revoredo, Tatiana; In: Blockchain e Crypto em minutos - Guia Educativo. 8 Disponível aqui. 9 Idem Nota 4 10 Idem Nota 5 11 "Stablecoins Segundo a OCDE, as stablecoins pertencem à categoria dos 'ativos digitais baseados em utilidade', ao lado dos CBDCs que, por sua vez, são representativos da responsabilidade institucional. Para o propósito deste artigo, utilizaremos o termo stablecoins principalmente como ativos monetários ao portador, projetados para imitar o preço das moedas fiduciárias, utilizando um mecanismo de estabilização." Revoredo, Tatiana; In: Stablecoins algorítmas na mira do Senado ameridano", Migalhas, disponível aqui. 12 Idem Nota 4 13 Idem Nota 6 14 "Um hard fork é uma alteração não compatível com as versões anteriores em um protocolo blockchain. Os hard forks resultam na divisão da rede em duas blockchains separadas, uma seguindo a versão antiga do protocolo e a outra aderindo à nova versão. Cada ramificação resultante de um hard fork opera de forma independente. Isso significa que, após o fork [bifurcação], os nodes da rede aceitam transações como válidas em uma ramificação da bifurcação, mas não mantêm a outra bifurcação resultante da divisão." - Revoredo, Tatiana; In: Blockchain & Crypto em minutos - Guia Educativo, disponível aqui. 15 "Um Non Fungigle Token [NFT ou token não fungível em português] são um tipo de token que representam a propriedade de bens digitalmente escassos, como uma peça de arte, música, um pedaço de um apartamento, um nome de domínio na Internet, colecionáveis no mercado de esportes, memes, ferrramentas usadas em jogos online, avatares em mundos virtuais, ingressos, dentre outros. Um NFT significa a representação de um ativo não fungível no meio digital sob uma forma de um número de série. Há alguns em que NFTs se assemelham a produtos de investimento e, assim, podem ser classificadas como títulos - por exemplo, se por ocasião da venda de um NFT, é prometida uma parte dos negócios futuros (em ações, dividendos ou ambos) aos compradores." - Revoredo, Tatiana; In: Blockchain & Crypto em minutos - Guia Educativo, disponível aqui. 16 "Decentralized Finance é qualquer serviço financeiro ou aplicação construída em um blockchain ou na Web 3.0. É um sistema paralelo que compreende contratos inteligentes, ativos digitais, protocolos e dApps construídos utilizando a tecnologia blockchain." - Revoredo, Tatiana; In: Como a evolução dos contratos inteligentes em blockchain tornou possível o surgimento das finanças descentralizadas", MIT Technology Review, disponível aqui.
Contexto A tributação de criptomoedas varia muito em todo o mundo, com países implementando diferentes políticas para lidar com o crescente mercado de ativos digitais. Neste artigo, exploro diretrizes de órgãos internacionais como a OCDE e alguns desenvolvimentos recentes em várias regiões.   Práticas de tributação entre os órgãos de supervisão  De modo geral, as abordagens à tributação de criptomoedas refletem interesses nacionais variados, equilibrando a promoção da inovação e a garantia da conformidade fiscal: 1. Tributação leve Países oferecem regimes fiscais favoráveis para aumentar seu status como centros favoráveis a criptoativos. Como exemplo, podemos citar: Em um esforço para atrair investimentos e se tornar um centro global para o comércio de ativos digitais, Hong Kong isenta o imposto sobre ganhos com criptomoedas para fundos de "private equity", fundos de hedge e indivíduos ricos. Tal iniciativa visa posicionar Hong Kong no mesmo nível de centros financeiros como os EUA e Singapura, como já exploramos nesta coluna1. Na mesma linha, a partir de 1º/1/24, a Eslováquia implementou um regime de imposto sobre criptomoedas que reduziu para 7% a alíquota de imposto sobre os ganhos com a venda de criptoativos mantidos por mais de um ano - uma queda significativa em relação aos 39% anteriores. Além disso, os pagamentos feitos em criptomoedas para bens e serviços de até ? 2.400 por ano estão isentos de imposto de renda. Essa isenção cria um ambiente favorável para pequenas transações, incentivando o uso de criptomoedas na vida cotidiana2.  Na Turquia, o governo arquivou os planos de tributar a renda de ativos digitais e ações3.  Já os Emirados Árabes Unidos, com uma alteração introduzida pela FTA - Autoridade Tributária Federal, isentaram todas as transações de criptomoedas do IVA - Imposto sobre Valor Agregado4.  2. Tributação rígida Outras nações mantêm políticas fiscais rigorosas para garantir a conformidade regulatória e a geração significativa de receita. Como exemplo, podemos citar: A Itália tem sido proativa no esclarecimento do tratamento fiscal de atividades relacionadas a criptografia por meio de uma consulta pública. Em outubro de 2024, apresentou uma proposta para aumentar a alíquota do imposto sobre ganhos de capital em bitcoin de 26% para 42%, e também, uma iniciativa legislativa para um regime eletivo que permite que os contribuintes sejam tributados em 14% sobre ganhos não realizados em criptoativos5.   A França, por outro lado, faz uma distinção entre transações de ativos digitais conduzidas em uma base profissional e não profissional. Isto é, a alíquota de imposto aplicável aos ganhos de capital e à renda de criptoativos depende do fato do contribuinte ser um operador profissional, um investidor ocasional ou um minerador. DGFiP - The General Directorate of Public Finances determina que os ganhos de capital da venda de criptomoedas como bitcoin são tributados como: Investidores ocasionais - taxa fixa de imposto de 30% Traders profissionais - regime tributário BIC de 0-45% Mineradores de criptomoedas - regime tributário BNC de 0-45%. Os investidores ocasionais devem pagar um tipo de imposto de renda chamado de Taxa Fixa Única (PFU) ou "Flat Tax", como é conhecido na França. Essa é uma taxa fixa porque não considera sua faixa de tributação e sua base de renda fiscal. O imposto fixo se aplica a pessoas físicas com investimentos financeiros em cripto e outras receitas de investimento, como dividendos e seguro de vida, e não a traders profissionais. O DGFiP só tributará ganhos de capital de cripto quando o criptoativo for convertido em moeda fiduciária e se o ganho de capital total exceder 305 euros por ano6.   Essas políticas destacam a diversidade na forma como as jurisdições globais estão navegando no complexo cenário de tributação e regulamentação cripto. Os países têm adaptado continuamente suas estruturas regulatórias para equilibrar a inovação com a supervisão, seguindo, inclusive, as diretrizes de órgãos internacionais como veremos a seguir. Iniciativas globais O CARF da OCDE e a conformidade fiscal global para criptoativos  Em 2022, a OCDE desenvolveu e lançou o CARF - 'Cryptoassets Reporting Framework', para padronizar as trocas automáticas de informações fiscais sobre transações de criptoativos em nível global, e combater a evasão fiscal. Isso inclui criptomoedas, tokens específicos como stablecoins, bem como tokens não fungíveis7.  Desenvolvida como resultado de uma diretriz do G20 publicada em 2021, a estrutura do CARF exige relatórios sobre o tipo de criptomoeda, bem como o tipo de transação de ativos digitais - seja por meio de um intermediário ou provedor de serviços. Em agosto, a OCDE aprovou emendas ao CRS, incluindo a inclusão de moedas digitais do banco central (CBDCs) no escopo de seus relatórios. O CARF desempenha um papel fundamental na formação da conformidade fiscal global para criptoativos, padronizando e facilitando a troca de informações fiscais relacionadas a transações de ativos digitais. Segue abaixo uma análise detalhada de seu impacto: 1. Transparência fiscal padronizada 1.1. Estrutura global: O CARF é uma iniciativa de transparência fiscal criada para combater a evasão fiscal global por meio da definição de uma estrutura padronizada para a troca automática de informações fiscais relacionadas a transações de criptoativos. Isso ajuda os países a alinhar seus padrões de relatórios fiscais entre fronteiras. 1.2. Ampla adoção: Até o momento, 48 países, incluindo as principais economias, como Austrália, Canadá, Suíça e Reino Unido, se comprometeram a implementar o CARF já em 2026, com o objetivo de realizar a troca total de informações até 20278-9. 2. Troca de informações e conformidade 2.1. Intercâmbio automatizado de informações: O CARF inclui mecanismos para coletar e trocar informações automaticamente entre as jurisdições participantes. Isso aumenta a conformidade fiscal ao minimizar as brechas que permitem que as transações de criptografia escapem da tributação. 2.2. Relatório do provedor de serviços: De acordo com o CARF, os provedores de serviços de criptoativos são obrigados a coletar dados de transações e relatá-los às respectivas autoridades fiscais nacionais, garantindo a transparência das avaliações fiscais. 3. Impacto na regulamentação e no compliance 3.1. Influência europeia: Muitas nações europeias, como o Reino Unido e a Itália, estão ativamente envolvidas em consultas e implementações para alinhar suas leis tributárias domésticas com as diretivas do CARF, que também incluem medidas para lidar com a não conformidade e introduzir nova tributação sobre atividades relacionadas a cripto.   Prevenção da evasão fiscal: A estrutura aborda questões cruciais relacionadas ao controle da evasão fiscal no mercado cripto em rápida evolução, garantindo a consistência regulatória e fechando as lacunas de transparência entre as jurisdições10.  Tributação de criptoativos nas principais economias A legislação nas principais economias podem influenciar significativamente o cenário global de tributação de criptomoedas. Portanto, eis aqui algumas delas com base em informações recentes. Estados Unidos 1. Tributação Nos EUA, as criptomoedas são tributadas como propriedade. Você paga impostos sobre os ganhos quando as vende, negocia ou se desfaz delas. O valor do imposto devido depende do período em que você manteve a criptomoeda e do seu nível de renda tributável. Para ganhos de capital de curto prazo [mantidos por menos de um ano], a alíquota que você pagará é equivalente à sua alíquota de imposto de renda normal. Essa taxa varia de acordo com sua renda anual e pode variar de 10% a 37%. Para ganhos de capital de longo prazo [mantidos por mais de um ano], aplicam-se alíquotas preferenciais mais reduzidas. A maioria dos contribuintes pagará 0%, 15% ou 20%, embora haja exceções para determinados contribuintes de alta renda. Para calcular os ganhos de capital de criptoativos, é preciso encontrar a base de custo e o valor justo de mercado [FMV - Fair Market Value] no momento do evento tributável [por exemplo, venda ou trading], o contribuinte deve usar a fórmula: FMV* - Base de custo = Ganho/perda de capital [no momento da venda] Base de custo = Custo da moeda + Taxas Até 31/12/25, os contribuintes dos EUA podem escolher entre métodos de identificação específicos como HIFO, FIFO, identificação específica e custo médio para calcular ganhos de capital com cripto. Para declarações de imposto de renda nos EUA envolvendo criptomoedas, é preciso se familiarizar com os seguintes formulários: Formulário 1040: O principal formulário para declarações de imposto de renda anual de pessoas físicas, incluindo renda, deduções e créditos. É utilizado para informar a renda total, incluindo ganhos ou perdas de capital de transações envolvendo criptoativos. Cronograma D: Relata ganhos e perdas de capital de vendas ou aquisição de ativos, como criptomoedas. O contribuinte deve transferir as informações do Formulário 8949 para o Schedule D. Formulário 8949: Necessário para declarar vários ganhos ou perdas de capital no Schedule D, fornecendo informações detalhadas sobre a transação. O contribuinte usa esse formulário para informar seus ganhos ou perdas de capital de suas transações cripto. Formulário 1099-K: Emitido por corretoras de criptomoedas para usuários que excedem determinados limites de volume de transações e de receita bruta, resumindo os pagamentos anuais. Formulário 1099-B: Fornecido por corretores ou intermediários para relatar vendas de criptomoedas e detalhes relacionados. Formulário 1099-DA [NOVO]: A partir de 1º/1/25, as corretores de criptomoedas, incluindo corretoras e processadores de pagamento, são obrigados a informar as vendas e aquisições de ativos digitais dos usuários ao IRS usando o recém-desenvolvido Formulário 1099-DA. Os formulários específicos necessários variam de acordo com a natureza e o volume de suas transações de criptomoeda e a situação fiscal específica do contribuinte. Como exemplo de cálculo do imposto sobre criptoativos nos EUA, veja11:  Imagine que o contribuinte tenha uma renda tributável de US$ 50.000 e tenha realizado ganhos com criptoativos de curto prazo de US$ 5.000 e ganhos de longo prazo de US$ 10.000. Os ganhos de curto prazo seriam tributados de acordo com sua alíquota regular de imposto de renda. Se sua alíquota for, por exemplo, 22%, você deverá US$ 1.100 (22% de 5.000 US$). Os ganhos de longo prazo seriam tributados com a alíquota reduzida. Se você se enquadrar na faixa de 15% para ganhos de longo prazo, deverá US$ 1.500 (15% de US$ 10.000). Combinando os dois valores, o valor total de impostos sobre criptomoedas a recolher seria de US$ 2.600.  2. Proposta de imposto sobre transações Uma proposta, sugerida pelo investidor em tecnologia Jason Calacanis, pretende criar uma alíquota de imposto de 0,01% sobre as transações de criptomoedas nos EUA.  Embora a intenção seja gerar reservas governamentais em ativos digitais, existe a preocupação de que tal imposto possa levar a uma expansão tributária mais ampla que afete empresas e investidores, além de aumentar a burocracia estatal. David Sacks, "czar cripto e de IA" da Casa Branca, comparou a proposta com o imposto de renda inicial dos EUA [the early US income tax], que inicialmente visava um pequeno grupo, mas acabou se expandindo para afetar milhões, destacando as preocupações com possíveis encargos regulatórios sobre empresas e traders12.  O debate está ligado a discussões mais amplas sobre a tributação Federal dos EUA, com o governo Trump considerando uma mudança de impostos de renda para receitas baseadas em tarifas, o que pode impactar futuras estratégias de tributação cripto. Ações legislativas recentes, como uma votação bipartidária no Senado contra "a expansão dos requisitos de relatórios de cripto do IRS" [especialmente o "DeFi Broker Rule"], refletem a crescente resistência à tributação excessiva e ao exagero regulatório do setor cripto nos EUA13-14.     3. Revogação da DEFI broker rule: O The United States IRS - Internal Revenue Service publicou uma norma exigindo que as corretoras centralizadas [CEx], a partir de 2025, informassem as transações de criptoativos - o que certamente levaria investidores a recorrer a plataformas descentralizadas [DEx] como Uniswap ou PancakeSwap, onde a aplicação de impostos é atualmente mais desafiadora15.   De acordo com essa mesma regra, se uma plataforma de finanças descentralizadas [DeFi] facilitar a compra ou a venda de ativos digitais [mesmo que por meio de contratos inteligentes] e exercer controle ou influência suficiente sobre o processo de transação, ela poderia se enquadrar na definição de corretora16-17.     Tal norma do IRS teve como objetivo ajudar os investidores a "apresentar declarações de imposto de renda precisas com relação a transações de ativos digitais" e abordar possíveis não conformidades em criptoativos de acordo com o relatório do IRS emitido em junho de 202418.  Durante o período de consulta pública sobre referida norma, diversos atores do mercado cripto alertaram o IRS e o Tesouro de que a adoção da regra prejudicaria o setor de criptoativos, principalmente desenvolvedores de software que criam os chamados "serviços de front-end de transação que seriam obrigados a cumprir encargos de conformidade considerados por alguns como ilegais. Por conta disso, em 27/12/24, "the DeFi Education Fund", the Blockchain Association e the Texas Blockchain Council entraram [https://theblockchainassociation.org/wp-content/uploads/2024/12/BA-DEF-TBC-v.-IRS_Complaint.pdf] com uma ação contra o IRS, por ampliar os requisitos de coleta de dados a DEXs, argumentando que a inclusão de corretoras descentralizadas no termo "corretoras" é inconstitucional19.  Segundo os autores da ação, tal exigência sufocará a inovação e sobrecarregará os empreendedores americanos - se for mantida. "O IRS e o Tesouro foram além de sua autoridade estatutária ao expandir a definição de "corretora" para incluir fornecedores de front-ends de negociação DeFi, mesmo que eles não realizem transações", disse Marisa Coppel, diretora jurídica da Blockchain Association.  E acrescentou: "Isso não é apenas uma violação dos direitos de privacidade dos indivíduos que usam tecnologia descentralizada, mas também empurraria toda essa tecnologia em expansão para o exterior. The Blockchain Association continua a apoiar os inovadores e usuários do DeFi e continuará a lutar contra essa regulamentação equivocada para garantir que os Estados Unidos continuem sendo o lar da tecnologia financeira descentralizada e dos desenvolvedores".20  Todavia, diante deste cenário, em 4/3/25, o Senado votou 70-27 para revogar a regra do IRS que classifica os desenvolvedores de software DeFi como corretoras. E em 11/3/25, a Câmara votou por 292 a 132 a favor da revogação da regra. O Senado votará novamente a versão da Câmara antes que ela seja encaminhada para a mesa do presidente Trump, com a Casa Branca sinalizando apoio.21-22 Por hoje, é só. Na próxima semana, na segunda parte deste artigo, continuaremos a explorar a tributação atual de criptoativos nas principais economias do mundo. _____________ 1 Revoredo, Tatiana; In: "Hong Kong: isenção tributária sobre ganhos de capital em criptomoedas, Criptogalhas, disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Revoredo, Tatiana; In: Itália e Turquia tem planos opostos para tributaçào de criptoativos, Criptogalhas, disponível aqui. 4 Revoredo, Tatiana; In: EAU: isenção tributária e cooperação entre reguladores torna Dubai um hub cripto, Criptogalhas, disponível aqui. 5 Vide Nota 3. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui.  13 Revoredo, Tatiana; In: IRS e as novas regras tributárias para criptos nos EUA, Migalhas, disponível aqui. 14 Revoredo, Tatiana; In: Atualizações e desenvolvimentos legislativos pós eleição de Trump, Migalhas, disponível aqui. 15 Idem Nota anterior 16 Revoredo, Tatiana; In: "Como a evolução dos contratos inteligentes em blockchain tornou possível o surgimento das finanças descentralizadas", MIT Technology Review, disponível aqui. 17 Revoredo, Tatiana; In: Atualizações e desenvolvimentos legislativos pós eleição de Trump, Migalhas, disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui. 21 Revoredo, Tatiana; In: IRS e as novas regras tributárias para criptos nos EUA, Migalhas, disponível aqui. 22 Apesar dos desafios atuais no rastreamento de transações via DeFi [Finanças Descentralizadas], os avanços na análise de redes blockchain podem torná-las mais rastreáveis até 2027. Isso seria facilitado por ferramentas e métodos que analisam os dados nas redes blockchain, identificam padrões e correlacionam transações em diferentes plataformas, melhorando, em última análise, a conformidade e o gerenciamento de riscos no espaço DeFi. Plataformas de rastreamento de DeFi como Nansen, DeBank, Elliptic, Chainalysis, Etherscan e Dune Analytics estão se tornando componentes essenciais do ecossistema com ferramentas para monitoramento de transações, conformidade e análise avançada. Essas plataformas oferecem ferramentas cruciais de gerenciamento de risco, conquanto ainda precisem ser sistematicamente testadas quanto à sua capacidade de mitigar toda a gama de riscos relacionados a DeFi. Disponível aqui.
sexta-feira, 11 de abril de 2025

DataDAOs e seus desafios regulatórios

Contexto As DAOs1 - Organizações Autônomas Descentralizadas de dados podem enfrentar desafios regulatórios significativos em várias jurisdições devido à sua estrutura descentralizada e inovadora.  Tendo isto em conta, após analisarmos os principais obstáculos na área jurídica, no artigo de hoje veremos algumas estratégias para navegar pela incerteza regulatória provocada pela natureza descentralizada dos DataDAOs2, e como alcançar a conformidade com normas de KYC e AML.   Os desafios regulatórios das DataDAOs  Os principais obstáculos a serem enfrentados pelas DataDAOs são a incerteza regulatória, os conflitos de jurisdição, o compliance com as regulações de KYC e AML e a proteção ao consumidor. A incerteza regulatória advém da diversidade na classificação de tokens nas jurisdições, pela diversidade no reconhecimento de DAOs como entidades legais, e pela necessidade das DataDAOs cumprirem as diferentes leis internacionais de proteção de dados.3 Os conflitos de jurisdição surgem devido ao alcance global das DataDAOs pode levar a conflitos jurisdicionais, dado que a natureza descentralizada e sem fronteiras da tecnologia blockchain complica as disputas legais e a aplicação da lei entre países. Eles também podem ter origem nas diferentes regras fiscais entre as jurisdições, que se traduzem nas complexidades de conformidade para os participantes globais na tributação de distribuições de tokens e lucros da monetização de dados.4 Sob a ótica do compliance com os requisitos tradicionais das regulamentações de KYC e AML, o ethos descentralizado das DataDAOs entra em conflito com as exigências tradicionais de KYC - Know Your Customer e AML - Anti-Money Laundering. A conformidade com essas normas é necessária para evitar fraudes e atividades ilegais, mas apresenta desafios para manter a privacidade e a descentralização.5 Ainda, garantir a proteção do consumidor é fundamental para evitar fraudes e gerenciar os riscos de governança. Isso inclui abordar questões relacionadas à verificação de dados e à privacidade, mesmo quando as regras descentralizadas entram em conflito com as leis tradicionais de proteção ao consumidor.6 Em geral, embora as DataDAOs ofereçam um potencial transformador, elas precisam navegar em um cenário regulatório complexo para garantir a conformidade em várias jurisdições e, ao mesmo tempo, manter sua integridade descentralizada.  O envolvimento com os órgãos reguladores e a adoção de soluções de tecnologia jurídica são estratégias que podem ajudar a mitigar esses desafios. Esclarecido isso, vejamos como as DataDAOs podem alcançar a conformidade com as normas KYC e AML, e navegar na incerteza regulatória em relação à classificação de tokens.  Estratégias para navegar pela incerteza regulatória Navegar pela incerteza regulatória em relação à classificação de tokens é um desafio significativo para as DataDAOs devido ao cenário jurídico em evolução e muitas vezes ambíguo. Aqui estão algumas estratégias que as DataDAOs podem empregar para enfrentar esses desafios: 1. Colaboração e diálogo com os órgãos reguladores Inicie e mantenha linhas abertas de comunicação com os órgãos reguladores para entender suas expectativas e compartilhar percepções sobre a tecnologia. Esforços colaborativos, como a proposta do Programa de Colaboração Regulatória de Tokenização EUA - Japão e Web3, visam harmonizar as classificações de tokens e facilitar a interoperabilidade regulatória.7 2. Parcerias jurídicas e de compliance Faça parcerias com especialistas jurídicos e empresas de conformidade para ficar a par das mudanças regulatórias e desenvolver estruturas de tokens compatíveis. Isso envolve revisões e atualizações regulares da situação legal e dos mecanismos de token da DAO.8 3. Implementação de disposições de 'Safe Harbor' Defender e empregar disposições de garantia (safe harbor), quando disponíveis, para proteger projetos blockchain inovadores durante sua fase de desenvolvimento. Essa estratégia oferece um período de carência para que os projetos cumpram todos os requisitos regulatórios enquanto continuam suas operações9. 4. Esforços de padronização Envolva-se com alianças do setor e trabalhe para criar estruturas padronizadas para a classificação de tokens, o que pode ajudar a reduzir o risco regulatório. Isso pode envolver a participação em iniciativas internacionais e a contribuição para o desenvolvimento de padrões globais.10 5. Adoção de medidas de conformidade proativas Implemente medidas de conformidade de forma proativa, garantindo transparência nas operações e auditorias financeiras, fornecendo documentação clara dos processos de emissão de tokens e mantendo registros que possam demonstrar a conformidade, se necessário.11 6. Promoção de sandboxes regulatórios Incentive e participe de iniciativas de sandboxes regulatórias que permitam o teste de novas tecnologias sob estruturas regulatórias flexíveis. Esses sandboxes oferecem um ambiente controlado para a experimentação de novos modelos enquanto se preparam para requisitos regulatórios mais amplos. 7. Utilização de estruturas jurídicas descentralizadas Aproveite as estruturas jurídicas descentralizadas para distribuir o risco regulatório e fornecer uma estrutura de governança mais resiliente. Essa abordagem pode ajudar as DataDAOs a se adaptarem rapidamente às mudanças regulatórias e atenuar os pontos centralizados de falha na conformidade.12 Neste contexto, o envolvimento em diálogos com os órgãos reguladores e o alinhamento com as práticas recomendadas do setor são essenciais para enfrentar esses desafios de forma eficaz. Ao adotar uma combinação dessas estratégias, as DataDAOs podem gerenciar melhor os riscos regulatórios e continuar a inovar com responsabilidade no ecossistema de blockchain. O equilíbrio entre compliance com normas de KYC e AML e a natureza descentralizada dos DataDAOs Equilibrar a conformidade com as normas KYC - Know Your Customer e AML - Anti-Money Laundering e, ao mesmo tempo, manter sua natureza descentralizada representa um desafio significativo para as DAOs de dados. Aqui estão algumas estratégias que podem ser empregadas para alcançar esse equilíbrio:13 1. Envolvimento com os órgãos reguladores 1.1. Diálogo proativo com os órgãos reguladores O envolvimento no diálogo com os órgãos reguladores pode ajudar os DataDAOs a navegar no cenário regulatório de forma mais eficaz, garantindo que as soluções inovadoras de conformidade recebam validação e suporte. 1.2. Sandboxes regulatórios A participação em sandboxes regulatórios pode oferecer um ambiente controlado no qual os DataDAOs podem testar soluções de conformidade sem o risco de penalidades por não conformidade. 2. Adoção de padrões de conformidade 2.1. Soluções de conformidade descentralizadas A utilização de padrões e estruturas existentes, como os desenvolvidos por organizações como a Digital Identity Foundation, pode orientar as DataDAOs no alinhamento com as normas KYC/AML sem sacrificar a descentralização. 3. Uso de sistemas de identidade descentralizados 3.1. Identidade autônoma descentralizada  O aproveitamento das soluções de Self Sovereign Identity14 pode permitir que os indivíduos controlem suas próprias identidades, fornecendo apenas as informações necessárias às contrapartes. Os usuários podem comprovar criptograficamente sua identidade sem compartilhar dados pessoais, cumprindo assim os requisitos de KYC sem comprometer a privacidade. 3.2. Identificadores descentralizados [DIDs] As DataDAOs podem usar DIDs - Decentralized Identifiers15, que permitem que os participantes gerenciem suas identidades independentemente de autoridades centralizadas, implementando zero-knowledge proofs [provas de conhecimento zero] para verificação de identidade. 4. Tecnologias de preservação da privacidade 4.1. Provas de conhecimento zero [ZKPs] Ao empregar ZKPs16, as DataDAOs podem verificar as identidades dos usuários e realizar transações sem revelar detalhes pessoais subjacentes. Essa tecnologia oferece uma maneira de atender aos requisitos regulatórios de forma discreta.  4.2. Computação multipartidária [MPCs] A MPC17 permite o compartilhamento e o processamento de dados entre diferentes partes, mantendo-os criptografados, garantindo a conformidade com as normas de AML sem expor dados confidenciais do usuário. 5. Modelos de governança em camadas Estruturas de governança híbridas [governança on-chain e off-chain]18 podem permitir que os DataDAOs implementem as verificações KYC/AML necessárias de uma forma que respeite os protocolos descentralizados e, ao mesmo tempo, permita a conformidade regulatória. Isso envolve o uso de contratos inteligentes para a verificação automatizada de compliance. Essas estratégias facilitam coletivamente o equilíbrio entre a conformidade normativa e o ethos descentralizado das DataDAOs. Ao priorizar tecnologias de preservação da privacidade e modelos de governança inovadores, as DataDAOs podem potencialmente aumentar a confiança e permitir uma adoção mais ampla. Perspectivas finais É provável que o cenário regulatório em evolução tenha implicações significativas para a viabilidade de longo prazo das DataDAOs e suas estruturas de tokens19.  À medida que as Organizações Autônomas Descentralizadas continuam a crescer e a se diversificar, seja de qual tipo for, elas enfrentarão desafios regulatórios substanciais devido à sua natureza descentralizada. Tais desafios incluem, como vimos, a conformidade entre jurisdições, a formulação de estruturas de governança e a proteção da propriedade intelectual. Por conta das suas estruturas inovadoras, é necessário que as DataDAOs naveguem por esses desafios com habilidade, sendo recomendado a contratação de escritórios jurídicos especializados e familiarizados com o ecossistema blockchain-cripto para garantir a conformidade. Além disso, como DataDAOs estão fortemente ligadas à propriedade e à portabilidade dos dados, também é preciso assessoria jurídica especializada nessas áreas. De outro lado, como as estruturas de tokens das DAOs [em geral], devido a suas estruturas inovadoras, desafiam as classificações tradicionais, é preciso se antecipar aos riscos legais provocados pela gestão dos ativos tokenizados, considerando ainda fatores como a alta volatilidade dos preços e a baixa liquidez em corretoras descentralizadas [DEXs] - o que sugere a necessidade de diversificação e uma boa gestão de tesouraria. Por fim, o cenário regulatório em evolução, especialmente com foco na conformidade e nos direitos de propriedade de dados, moldará a forma como as DataDAOs e seus tokens são estruturados e gerenciados. Ao alinhar suas estruturas para atender aos padrões legais e criar tokenomics20 robustos, as DataDAOs podem garantir a viabilidade a longo prazo e a confiança dos usuários. __________ 1 "DAO é a sigla em inglês para "organização autônoma descentralizada". É um tipo de organização que compartilha semelhanças com uma estrutura tradicional de empresa, mas com características adicionais como, por exemplo, a aplicação automática de regras operacionais por meio de contratos inteligentes. Nas DAOs, as decisões são democráticas e horizontais. Horizontal porque não há nenhuma pessoa exercendo o controle da DAO da mesma forma que um CEO convencional ou uma equipe de alta gerência o faria." - Revoredo, Tatiana; In: "Guia prático de DAOs", MIT Sloan Management Review Brasil, disponível aqui. 2 DataDAOs, também conhecidos como Data Liquidity Pools (DLPs), são mercados descentralizados nos quais os dados são contribuídos, tokenizados e disponibilizados para uso em vários aplicativos, como o treinamento de modelos de IA. "DataDAOs [DAOs de dados] são basicamente organizações descentralizadas que se concentram no agrupamento de dados fornecidos pelos usuários de uma rede blockchain. Vide também liquidity pools." - Revoredo, Tatiana; In: "Blockchain e Cripto em minutos - Guia Educativo", disponível aqui. Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Idem Nota anterior 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Idem Nota anterior 11 Idem Nota 8 12 Disponível em: . 13 Disponível aqui. 14 "A identidade descentralizada, também chamada de identidade auto-soberana [Self Sovereign Identity, SSI], é um conceito emergente da web3 cujos pilares são a prova da propriedade digital, a privacidade e o controle da identidade pelo próprio individuo. Ela compreende uma estrutura baseada em padrões abertos, que usa identificadores digitais e credenciais verificáveis que são próprios, independentes e permitem o intercâmbio de dados confiáveis nas interações da web." - Revoredo, Tatiana; In: 'O que é identidade auto-soberana e porque ela é essencial à Web3', publicado por MIT Sloan Management Review Brasil, disponível aqui. 15 "DID, um identificador "on-chain" [em uma rede blockchain], é o anexo que liga uma blockchain pública a uma identidade do mundo real. Numa linguagem mais técnica, utilizando a definição do Web 3 Consortium (W3C), os Decentralized Identifiers [DIDs], ou identificadores descentralizados, são um novo tipo de identificador que possibilitam uma identidade digital verificável e descentralizada. Os DIDs podem pertencer a uma pessoa, objeto, ou mesmo algo mais abstrato, como um modelo de dados. Ao contrário dos identificadores típicos e federados, os DIDs foram projetados para que possam ser desacoplados dos registros centralizados, provedores de identidade e autoridades certificadoras. Quando um DID é registrado em uma blockchain pública e descentralizada, isto dá ao proprietário a custódia e total soberania sobre sua identidade digital e poder sobre como ela é usada - da mesma forma que possuir suas chaves privadas lhe dá a propriedade total de suas criptomoedas." Revoredo, Tatiana; In: 'A descentralização da identidade - uma das metas mais desafiadoras da Web3', publicado por MIT Technology Review, disponível aqui. 16 "ZKP [Zero-Knowledge Proof] cuja tradução de forma literal seria "prova de conhecimento zero", é um método de criptografia proposto pelos pesquisadores do MIT Silvio Micali, Shafi Goldwasser e Charles Rackoff na década de 1980, que permite que uma parte afirme a validade de uma declaração sem revelar os fatos subjacentes que a tornam verdadeira ou falsa." Disponível aqui. 17 "MPC é uma abordagem matemática usada em criptografia que tem como objetivo final fazer com que uma operação criptográfica seja computada por várias entidades, garantindo que suas entradas permaneçam privadas e não sejam compartilhadas com terceiros." - Revoredo, Tatiana; In: ZKP vs. MPC: soluções para uma Web3 confiável, disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Tokens são unidades que representam um ativo digital em um blockchain, e podem servir não apenas como troca e pagamento, mas também para retratar um objeto físico ou virtual.  20 Disponível aqui.
A nova postura da FDIC O recente anúncio da FDIC - Corporação Federal de Seguros de Depósitos dos EUA FDIC (the U.S. Federal Deposit Insurance Corporation) marca uma mudança significativa na política regulatória dos EUA, ao reverter sua exigência anterior de que os bancos buscassem pré-aprovação para se envolverem em atividades relacionadas a criptoativos. Tal mudança está descrita na Carta de Instituição Financeira (FIL-7-2025), que anula a exigência anterior de que as instituições financeiras notificassem a FDIC antes de se envolverem em atividades relacionadas a criptomoedas e stablecoins.1 Ora, isto se alinha com as recentes mudanças de política do OCC, que autorizou bancos a se envolverem em atividades relacionadas a cripto, se gerenciarem os riscos adequadamente, como veremos mais detalhadamente no próximo tópico.2-3-4 FDIC enfatiza que todas as atividades relacionadas a criptoativos devem ser conduzidas com segurança e está analisando a orientação conjunta de 20235 com o Federal Reserve e o OCC. Principais diretrizes 1.Mudança de política A nova orientação da FDIC permite que bancos participem de atividades relacionadas a criptos, desde que gerenciem os riscos associados e cumpram as leis e regulamentações aplicáveis. Essa medida é vista como um passo para promover a inovação no setor bancário. 2. Alinhamento com outros órgãos reguladores A decisão da FDIC está alinhada com as ações recentes do OCC - Office of the Comptroller of the Currency, que também suspendeu as restrições às atividades de ativos digitais no sistema bancário federal dos EUA. 3. Reação da indústria Os líderes do setor elogiaram a decisão por proporcionar clareza regulatória e promover a inovação, embora alguns críticos tenham expressado preocupação com os possíveis riscos.6 4.Contexto histórico Essa mudança de política marca um afastamento da abordagem da administração anterior (do Presidente Biden), que foi criticada por limitar o acesso das "empresas cripto" aos serviços financeiros, muitas vezes chamada de "Operação Chokepoint 2.0".7 5.Consequências futuras A nova postura da FDIC pode liberar fluxos de capital significativos para o setor cripto, à medida que instituições financeiras passem a explorar novas oportunidades para atender o crescente mercado de ativos digitais, oferecendo produtos e serviços relacionados a criptoativos. Essa mudança regulatória da FDIC, reflete uma mudança mais ampla na política de criptografia dos EUA sob a administração atual, com o objetivo de posicionar o país como líder no espaço cripto.8 A orientação atualizada do OCC O OCC também atualizou recentemente suas diretrizes sobre a regulamentação de criptoativos, marcando uma mudança significativa em sua abordagem em relação às instituições financeiras que se envolvem com ativos digitais. Principais diretrizes 1. Flexibilização das regulamentações O OCC flexibilizou suas regulamentações sobre bancos que se envolvem com criptomoedas e stablecoins. Essa mudança segue o anúncio do Presidente Donald Trump de encerrar a "Operação Chokepoint 2.0", que anteriormente restringia o acesso das empresas cripto aos serviços bancários.9 2. Custódia e atividades de criptoativos Os bancos nacionais e as associações federais de poupança agora podem se envolver na custódia de criptoativos, em atividades relacionadas a stablecoins e participar de redes DLTs sem a necessidade de prévia aprovação da supervisão.10-11-12 3. Interpretive Letter 1183 O OCC emitiu a "Carta Interpretativa" 1183, esclarecendo que as instituições financeiras dos EUA podem fornecer serviços relacionados a criptomoedas de forma segura e sólida. Isso se baseia em uma Carta de 2020 que permitiu que os bancos oferecessem serviços de custódia de criptomoedas.13 4. Remoção da exigência de pré-aprovação O OCC rescindiu a exigência de que os bancos obtenham uma carta de não objeção antes de se envolverem em determinadas atividades relacionadas a criptoativos, revertendo uma diretriz de 2021.14 5. Foco no gerenciamento de riscos O OCC enfatiza a importância de fortes controles de gerenciamento de risco tanto para atividades bancárias tradicionais como para as novas, com o objetivo de reduzir a carga regulatória sobre os bancos envolvidos em atividades relacionadas a cripto.15 6. Risco de reputação: O OCC deixou de examinar os bancos quanto ao risco de reputação, após críticas do setor cripto por ter sido excluído do setor financeiro. Essa medida se alinha aos esforços para esclarecer que as atividades relacionadas a criptoativos sejam permitidas dentro do sistema bancário federal americano.16 Implicações da nova postura do OCC Incentivo à inovação A orientação atualizada visa reduzir a carga regulatória sobre os bancos e promover o tratamento consistente das atividades de criptografia, incentivando a inovação responsável. Potencial de centralização Embora a orientação permita que os bancos atuem como validadores de redes blockchain que utilizam o algoritmo PoS -Proof of Stake, há preocupações sobre a possível centralização de poder, o que poderia prejudicar a natureza descentralizada das redes blockchain.17-18 Aceitação mais ampla Esse desenvolvimento reflete uma aceitação e integração mais amplas das atividades de criptomoedas no setor bancário tradicional, oferecendo uma alternativa às exchanges. De modo geral, a orientação atualizada do OCC representa uma mudança significativa em direção a um ambiente regulatório mais favorável a criptomoedas e stablecoins, potencialmente abrindo caminho para uma maior adoção institucional no espaço cripto. Análise comparativa Impactos gerais da nova postura do OCC e da FDIC para criptos Tanto o OCC quanto a FDIC mudaram para um ambiente regulatório mais favorável às criptomoedas, removendo restrições anteriores que exigiam que os bancos buscassem aprovação prévia para atividades relacionadas a cripto.19-20 A decisão do OCC de permitir que instituições financeiras se envolvam em atividades relacionadas a criptoativos sem aprovação prévia é vista como uma mudança positiva significativa para o setor cripto, alinhando-se a uma postura pró-cripto mais ampla de órgãos reguladores como a SEC e a FDIC.21 A mudança de política da FDIC faz parte de uma estratégia mais ampla para estabelecer uma nova estrutura para que instituições financeiras se envolvam com segurança em atividades relacionadas a criptoativos e blockchain, alinhando-se com as ações recentes do OCC.22 Implicações para instituições financeiras As instituições financeiras agora podem se envolver em atividades relacionadas a cripto, incluindo custódia de ativos digitais, operações com stablecoins e empréstimos garantidos por criptoativos, sem a necessidade de aprovação regulatória prévia, desde que mantenham fortes controles de gerenciamento de risco.23 Espera-se que essa mudança regulatória facilite a integração dos sistemas financeiros tradicionais com tecnologias DLT e blockchain, impactando potencialmente empresas como a Ripple e posicionando as principais instituições financeiras como concorrentes de plataformas como a Coinbase.24 Implicações para exchanges Como as mudanças nas políticas da OCC e da FDIC dão sinal verde para instituições financeiras dos EUA ingressarem no "espaço cripto", as corretoras de criptoativos (exchanges) podem enfrentar maior concorrência, especialmente em áreas como serviços de custódia e transações de stablecoins.25-26-27 Corretoras como a Coinbase têm defendido regulamentações mais claras para garantir a concorrência justa e o acesso a serviços bancários, destacando as disputas legais em andamento com os órgãos reguladores.28-29 Perspectivas finais As recentes mudanças regulatórias do OCC e FDIC representam uma mudança significativa em direção a um ambiente mais favorável para que os bancos se envolvam em atividades relacionadas a cripto. De outro lado, a integração de criptoativos ao sistema bancário tradicional pode aumentar a confiança e a estabilidade no mercado cripto, dado que a maioria dos investidores leva em consideração o tempo de existência e experiência dos bancos no gerenciamento de ativos financeiros complexos.30 O cenário regulatório em evolução sugere um futuro em que os pagamentos com criptoativos se tornarão mais transparentes e seguros, alinhando-se com os interesses das gerações mais jovens, que são importantes impulsionadores da adoção cripto.31 De modo geral, o alinhamento das regulamentações da OCC e da FDIC provavelmente promoverá um ambiente mais competitivo, incentivando os bancos tradicionais a expandir suas ofertas de criptomoedas e, ao mesmo tempo, desafiando as corretoras cripto a se adaptarem ao cenário em constante mudança.  Por fim, espera-se que esse alinhamento entre os dois órgãos reguladores incentive a inovação e ofereça uma alternativa às exchanges, mitigando perdas como as oriundas da MT.Gox e, mais recentemente, da FTX.32-33 ________________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Idem nota 14 16 Disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Idem nota 11 19 Idem nota 2 20 Disponível aqui. 21 Disponível aqui. 22 Disponível aqui. 23 Disponível aqui. 24 Idem nota 21 25 Idem nota 13 26 Idem nota 21 27 Disponível aqui. 28 Disponível aqui. 29 Disponível aqui. 30 Disponível aqui. 31 Disponível aqui. 32 Idem nota 13 33 Mt. Gox inicia reembolso a credores após 10 anos de seu colapso. Revoredo, Tatiana; In: Criptogalhas, disponível aqui.
Contexto Desde que Trump assumiu a Presidência do Poder Executivo em janeiro deste ano, a política relacionada a criptoativos nos EUA tem se movido na velocidade da luz. Com dezenas de ações executivas, atualizações regulatórias e desenvolvimentos legislativos, é muita coisa para acompanhar. Este artigo explora todas as mudanças nas políticas relacionadas a criptoativos nos EUA desde o início de 2025.  Medidas do Poder Executivo No dia 23 de janeiro de 2025, o recém-eleito Presidente Trump assinou uma ordem executiva.1 Vejamos as três principais diretrizes a seguir: 1.Revogação de políticas cripto adotadas no governo Biden: Revogar a Ordem Executiva nº 14067 e a Estrutura do Departamento do Tesouro para Engajamento Internacional em Ativos Digitais. Ambas visavam "proteger consumidores, investidores e empresas" e priorizavam o desenvolvimento da moeda digital do banco central [CBDC].2-3-4 2.Estabelecer o 'Crypto Council': Instituir o Conselho Presidencial de Consultores para Ativos Digitais, composto por 24 indivíduos, incluindo fundadores e CEOs do setor privado. Esse conselho tem a tarefa de propor estruturas regulatórias, realizar audiências públicas e receber conselhos de líderes do setor.5-6-7-8 3.Proibir as Moedas Digitais do Banco Central [CBDCs]: Proibir que os órgãos federais busquem o estabelecimento, a emissão ou a promoção de CBDCs, seguindo a mesma linha do projeto de Lei anti-CBDC da Carolina do Norte e de outros estados americanos.9-10-11 No dia 6 de março de 2025, o Presidente Donald Trump assinou outra ordem executiva cujo teor traz duas diretrizes principais: 4.Estabelecer uma Reserva Estratégica de Bitcoin: instituir uma Reserva Estratégica de Bitcoin, comparada a um "Fort Knox digital". A reserva manterá inicialmente aproximadamente 198,1 mil bitcoins [$BTC] obtidos por meio de apreensões legais, com a opção de adquirir mais bitcoins por meio de estratégias "orçamentariamente neutras".12-13-14-15 5.Estabelecer um estoque de ativos digitais dos EUA: Criar uma reserva separada, composta de criptomoedas que não sejam bitcoin [$BTC] apreendidas pelo governo dos EUA. Esse estoque inclui criptomoedas como $ETH [token nativo da rede blockchain Ethereum], $XRP token nativo da blockchain Ripple,  $SOL [token nativo da blockchain Solana] e $ADA [token nativo da blockchain Cardano], e o governo declarou explicitamente que não adquiriria outras criptomoedas além das apreendidas.16-17-18 Atualizações regulatórias 1.Criação de uma força-tarefa de criptoativos pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA: no dia 21 de janeiro de 2025, o presidente interino da SEC, Mark Uyeda, instituíu uma "Força-tarefa cripto" liderada pelo comissário Hester Peirce.19 2. Revogação do SAB 121 pela CVM dos EUA: em 23 de janeiro de 2025, a SEC emitiu o SAB 122, rescindindo finalmente o SAB 121, que efetivamente impedia os bancos de manter ativos digitais.20-21 3.Abandono das principais ações judiciais cripto pela SEC: desde fevereiro de 2025, a SEC indeferiu ou suspendeu ações judiciais contra empresas relacionadas à prestação de serviços relacionados a cripto, incluindo Binance, Coinbase, OpenSea, Robinhood, Uniswap, Gemini, Justin Sun, Consensys, Kraken, Yuga Labs, DRW e Ripple.22-23-24-25-26-27-28-29 4. A SEC deixará de exigir o registro das empresas relacionadas a criptoativos como sistemas de negociação: em 10 de março de 2025, o chefe interino da SEC instruiu a equipe a explorar a reversão de uma proposta para expandir as definições de sistemas de negociação alternativos para incluir certas empresas de criptomoeda.30-31-32 5. Reconhecimento pela SEC de que a "mineração" não envolve valores mobiliários: em 20 de março de 2025, a SEC esclareceu que o algorítmo de consenso Proof-of_Work utilizado por algumas redes blockchains - como a do Bitcoin -, conhecido vulgarmente como mineração, não envolve títulos mobiliários e, portanto, não requer registro.33-34-35 6. A CVM dos EUA pode isentar certos NFTs das regras de valores mobiliários: em 21 de março de 2025, a líder da Força-Tarefa Cripto da SEC, a comissária Hester Peirce, sinalizou que a agência poderá esclarecer em breve que certos NFTs [tokens não fungíveis] não são valores mobiliários.36-37 7.O Tesouro dos EUA suspendeu as sanções contra a Tornado Cash: na última sexta-feira [21], o Departamento do Tesouro removeu as sanções econômicas contra o mixer de criptomoedas "Tornado Cash".38-39 Desenvolvimentos legislativos No nível federal, as principais iniciativas legislativas foram: 1.GENIUS Act: Introduzido no dia 4 de fevereiro de 2025, o "Guiding and Establishing National Innovation for U.S. Stablecoins [GENIUS] Act" pretende estabelecer uma estrutura regulatória abrangente para stablecoins de pagamento. Em 13 de março de 2025, o Comitê Bancário do Senado aprovou o GENIUS Act com uma votação de 18 a 6, levando-a ao Senado para debate40-41. 2. STABLE Act: Em 6 de fevereiro de 2025, os parlamentares divulgaram uma minuta de discussão do "Stablecoin Transparency and Accountability for a Better Ledger Economy [STABLE] Act". Esse projeto de lei busca estabelecer uma estrutura para a emissão e operação de stablecoins de pagamento denominadas em dólares.42-43 A diferença entre GENIUS Act e STABLE Act, reside no fato de que o GENIUS Act oferece flexibilidade [escolha entre regulamentação federal/estadual, ativos de reserva mais amplos e estudo de stablecoins algorítmicas], enquanto o STABLE Act impõe medidas mais rígidas [limitando as reservas a instrumentos conservadores e uma proibição temporária de dois anos para stablecoins algorítmicas44]. 3. MEME Act: Introduzido em 27 de fevereiro de 2025, o MEME Act [Modern Emoluments and Malfeasance Enforcement] visa proibir que altos funcionários do governo emitam, patrocinem ou endossem qualquer título, futuro, commodity ou ativo digital.45-46-47 4. Saving Privacy Act: Também apresentado em 27 de fevereiro de 2025, o Saving Privacy Act pretende proteger os direitos dos indivíduos de fazer transações com ativos digitais usando hardwallets.48-49-50-51 5.Revogação do DeFi Broker Rule da Receita Federal dos EUA: em 4 de março de 2025, o Senado votou 70-27 para revogar a regra do IRS que classifica os desenvolvedores de software DeFi como corretores. E em 11 de março de 2025, a Câmara votou por 292 a 132 a favor da revogação da regra. O Senado votará novamente a versão da Câmara antes que ela seja encaminhada para a mesa do Presidente Trump, com a Casa Branca sinalizando apoio.52 6. FIRM Act: Em 6 de março de 2025, o presidente do Comitê Bancário do Senado apresentou o Financial Integrity and Regulation Management [FIRM] Act para proibir que as agências bancárias federais considerem o "risco de reputação" ao avaliar a segurança e a solidez de um banco.53-54-55 No nível estadual, as principais proposições legislativas foram: 7.Propostas estratégicas de ativos digitais e reserva de Bitcoin:  Em março de 2025, legisladores de 24 estados apresentaram projetos de lei para estabelecer reservas de Bitcoin e/ou ativos digitais em nível estadual - alocando partes de fundos estaduais para investimentos em cripto.56 8. Propostas de ativos digitais: 23 estados propuseram novos projetos de lei abordando questões mais amplas de ativos digitais, incluindo estruturas regulatórias, proteções ao consumidor, tributação, reconhecimento legal e integração de blockchain em serviços governamentais.57 Desenvolvimentos finais Estamos em um ponto de inflexão na política de criptoativos nos EUA que, definitivamente, pode influenciar legilsladores e reguladores em em todo o mundo. É bom acompanhar de perto, não só as ordens executivas do Presidente Trump e as atualizações regulatórias, mas principalmente  o desenvolvimento legislativo, dado que a legislação relativa a criptoativos nos EUA começa no Poder Legislativo.58 __________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 "Sec. 3.  Revocation of Executive Order 14067 and Department of the Treasury Framework of July 7, 2022, (a), (b), (c), (d)",  Presidential Actions, STRENGTHENING AMERICAN LEADERSHIP IN DIGITAL FINANCIAL TECHNOLOGY, The White House, 23/01/2025, disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 "Sec. 4.  Establishment of the President's Working Group on Digital Asset Markets, (a)", Presidential Actions, STRENGTHENING AMERICAN LEADERSHIP IN DIGITAL FINANCIAL TECHNOLOGY, The White House, 23/01/2025, disponível aqui. 6 "Sec. 4.  Establishment of the President's Working Group on Digital Asset Markets, (c) (i), Presidential Actions, STRENGTHENING AMERICAN LEADERSHIP IN DIGITAL FINANCIAL TECHNOLOGY, The White House, 23/01/2025 disponível aqui. 7 "Sec. 4.  Establishment of the President's Working Group on Digital Asset Markets, (e)",  Presidential Actions, STRENGTHENING AMERICAN LEADERSHIP IN DIGITAL FINANCIAL TECHNOLOGY, The White House, 23/01/2025, disponível aqui. 8 "Sec. 4.  Establishment of the President's Working Group on Digital Asset Markets, (a)",  Presidential Actions, STRENGTHENING AMERICAN LEADERSHIP IN DIGITAL FINANCIAL TECHNOLOGY, The White House, 23/01/2025, disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 "Sec. 5.  Prohibition of Central Bank Digital Currencies, (a), (b)", Presidential Actions, STRENGTHENING AMERICAN LEADERSHIP IN DIGITAL FINANCIAL TECHNOLOGY, The White House, 23/01/2025, disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 "Sec. 3.  Creation and Administration of the Strategic Bitcoin Reserve and United States Digital Asset Stockpile, (a)", ESTABLISHMENT OF THE STRATEGIC BITCOIN RESERVE AND UNITED STATES DIGITAL ASSET STOCKPILE; Presidential Actions, The White House, 06/03/2025, disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 "Sec. 3.  Creation and Administration of the Strategic Bitcoin Reserve and United States Digital Asset Stockpile, (c)", ESTABLISHMENT OF THE STRATEGIC BITCOIN RESERVE AND UNITED STATES DIGITAL ASSET STOCKPILE; Presidential Actions, The White House, 06/03/2025, disponível aqui. 16 "Sec. 3.  Creation and Administration of the Strategic Bitcoin Reserve and United States Digital Asset Stockpile, (b)", ESTABLISHMENT OF THE STRATEGIC BITCOIN RESERVE AND UNITED STATES DIGITAL ASSET STOCKPILE; Presidential Actions, The White House, 06/03/2025, disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui. 21 Disponível aqui. 22 Disponível aqui. 23 Disponível aqui. 24 Disponível aqui. 25 Disponível aqui. 26 Disponível aqui. 27 Disponível aqui. 28 Disponível aqui. 29 Disponível aqui. 30 Disponível aqui. 31 Disponível aqui. 32 Disponível aqui. 33 Disponível aqui. 34 Disponível aqui. 35 Disponível aqui. 36 Disponível aqui. 37 Disponível aqui. 38 Disponível aqui. 39 Disponível aqui. 40 Disponível aqui. 41 Disponível aqui. 42 Disponível aqui. 43 Disponível aqui. 44 Disponível aqui. 45 Disponível aqui. 46 Disponível aqui. 47 Disponível aqui. 48 Disponível aqui. 49 Disponível aqui. 50 Disponível aqui. 51 Disponível aqui. 52 Disponível aqui. 53 Disponível aqui. 54 Disponível aqui. 55 Disponível aqui. 56 Disponível aqui. 57 Idem nota anterior 58 Disponível aqui.
Contexto Historicamente, a SEC tem se posicionado pela exclusão do staking1 nos produtos negociados em bolsa [ETPs, Exchange-Traded Products], considerando-o como uma oferta de títulos mobiliários não registrados. Todavia, um grupo bipartidário de parlamentares norte-americanos [liderados pelos senadores Cynthia Lummis, Kirsten Gillibrand, Steve Daines, Ron Wyden, Bill Hagerty, Thom Tillis e Bernie Moreno] recentemente enviou uma carta à agência reguladora, contestando a exclusão do staking em ETPs relacionados a criptoativos, argumentando que isso prejudica a proteção aos investidores e a competitividade dos Estados Unidos nos mercados de ativos digitais2. Implicações do atual posicionamento da SEC A exclusão do staking dos ETPs pode colocar os EUA em desvantagem competitiva em relação aos de países como Alemanha, Austrália, Canadá, Reino Unido e Suíça, onde os ETPs com staking incluso são permitidos. Nestes países, a legislação reconhece que os arranjos para o staking de criptomoedas não se assemelham a um esquema de investimento coletivo, reforçando sua importância na segurança e manutenção de redes blockchain.3 De outro lado, a exclusão do staking de ETPs pela SEC atrasa a inovação, dado que o staking é crucial para a segurança e a funcionalidade das redes blockchain que usam proof-of-staking [PoS] como algoritimo de consenso, como Ethereum e Solana. Assim, afeta o crescimento e a estabilidade dessas redes blockchain.4 Note que a atividade de staking é essencial tanto para a segurança de determinadas redes blockchain, quanto para a segurança dos próprios ativos transacionados nestas redes e objetos de ETPs. Isto porque, por exemplo, se não houver ninguém fazendo staking de ether [token nativo da rede Blockchain Ethereum], todos os ativos de ETPs transacionados na blockchain Ethereum estariam em risco. Além disso, a atual posição da SEC impacta o acesso e a proteção dos investidores, pois os coloca numa situação em que seus investimentos são protegidos apenas por ativos mantidos em outras jurisdições. Daí, se a agência permitisse o staking em ETPs, ampliaria o acesso do investidor às funções dos protocolos blockchain, possibilitando retornos potenciais, que atualmente são limitados pelas atuais restrições impostas pela agência. Pois bem, além do envolvimento dos senadores dos EUA, solicitando esclarecimentos à CVM americana sobre a exclusão de staking em ETPs relacionados a criptoativos, a recente troca na direção da SEC, sob a presidência interina de Mark Uyeda 65 e as propostas da indústria relativas a modelos de staking para mitigar as preocupações envolvidas, podem levar a uma possível mudança na política de staking nos EUA, ainda este ano. Desenvolvimentos recentes Força-tarefa de criptoativos da SEC está considerando a integração de staking de criptomoedas em ETPs.6 - 7 Tanto que participou de um encontro com líderes do setor cripto, como a Jito Labs e a Multicoin Capital, onde se debateu a fundo, não apenas a possibilidade de incluir o staking como um recurso em produtos negociados em bolsa, mas também, porque "restringir o staking em ETPs de criptoativos prejudica (i) os investidores, pois prejudica a produtividade do ativo subjacente e priva os investidores de retornos potenciais, e (ii) a segurança da rede, pois impede que uma parte significativa do suprimento circulante de um ativo seja bloqueada"8. No tocante à propostas e registros de produtos financeiros, a exchange Cboe BZX e a NYSE Arca solicitaram aprovação para incluir staking em ETFs de Ethereum, indicando um interesse crescente em recursos de staking em ETPs9-10-11. As preocupações específicas da SEC sobre staking em ETPs No encontro da força-tarefa cripto com líderes do setor, mencionado no tópico anterior, a SEC expressou várias preocupações com relação à inclusão de staking em produtos negociados em bolsa (ETPs). Tais preocupações giram principalmente em torno de prazos de resgate, tratamento tributário e classificação de oferta de títulos mobiliários12. A CVM dos EUA está cautelosa quanto aos possíveis atrasos no resgate devido aos períodos de bloqueio associados ao staking, o que poderia afetar a liquidez para os investidores. Além disso, há complexidades na forma como os prêmios de staking são tributados, o que poderia complicar as obrigações fiscais dos investidores de ETPs. Some-se a isto a preocupação com a possibilidade do staking constituir uma oferta de valores mobiliários, o que exigiria conformidade regulamentar adicional. Propostas para solucionar as preocupações da SEC Para amenizar essas preocupações, os representantes do setor de criptoativos sugeriram dois modelos principais: o modelo de serviços e o modelo de liquid staking13. O modelo de serviços envolve o uso de validadores terceirizados para o staking, o que poderia ajudar a gerenciar os cronogramas de resgate e as implicações fiscais por meio da terceirização dessas funções para entidades especializadas. De outro lado, a abordagem do modelo de token de liquid staking14 envolve a manutenção de LSTs - tokens de staking líquido em ETPs, o que pode proporcionar liquidez e potencialmente simplificar o tratamento tributário ao oferecer um mecanismo mais direto para o staking de recompensas. Esses dois modelos visam a mitigar as preocupações da SEC e, ao mesmo tempo, permitir que os investidores se beneficiem dos retornos potenciais do staking e dos aprimoramentos de segurança de redes blockchain. Perspectivas finais Os desenvolvimentos recentes que vimos nos parágrafos anteriores e as propostas do setor sugerem que a SEC está se envolvendo ativamente com os líderes do setor e legisladores para potencialmente integrar o staking aos ETPs, o que pode aumentar os retornos dos investidores e alinhar as regulamentações dos EUA aos padrões globais. Apesar das atuais incertezas regulatórias nos Estados Unidos, as taxas de participação em staking e o valor total bloqueado em protocolos de staking apresentaram flutuações significativas no último ano, refletindo a natureza dinâmica do mercado cripto. Neste contexto, parece que uma mudança na política da SEC, em relação ao staking de ETPs pode ter efeitos de longo alcance no mercado de criptomoedas, influenciando as estruturas regulatórias em todo o mundo, a competitividade do mercado cripto e o crescimento das redes blockchain que utilizam PoS como algorítimo de consenso15-16. __________ 1 "Staking é necessário para garantir a segurança e a funcionalidade de uma plataforma blockchain. Determinadas blockchains - que usam o mecanismo de consenso Proof of Staking - precisam de criptomoedas/tokens dados como garantia para validarem e verificarem a segurança das transações na rede. Os stakers certificam com suas criptomoedas que todas as transações de determinada blockckchain foram processadas corretamente. E por disponibilizarem seus criptomoedas para validar e segurar a rede blockchain, os stakers recebem juros na forma de tokens, cunhados quando um novo bloco é adicionado à rede, mas também podem pagar uma penalidade (chamada slashing) se não se comportarem corretamente". Revoredo, Tatiana; In: "O que é staking?", disponível aqui.  2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui.  8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Idem Nota anterior 13 Disponível aqui. 14 O liquid staking oferece os benefícios do staking tradicional e, ao mesmo tempo, desbloqueia o valor dos ativos bloqueados para uso como garantia. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui.
A regra do 'DeFi Broker Rule' da Receita Federal americana A "IRS DeFi Broker Rule"  foi introduzida como parte do the Infrastructure Investment and Jobs Act . Trata-se de uma regra que obriga as DeFi - plataformas de finanças descentralizadas  a coletar e relatar informações de contribuintes e transações ao IRS - Internal Revenue Service, a Receita Federal dos EUA. Tal regra faz parte de um esforço mais amplo para melhorar a conformidade fiscal ao expandir a definição de "broker"  para incluir protocolos de finanças descentralizadas, impondo requisitos de KYC - Know Your Customer e outros ônus de conformidade às plataformas DeFi.  Reação do setor e da área jurídica  O setor de blockchain e criptoativos, bem como especialistas da área jurídica se opuseram veementemente à regra do IRS, sob o fundamento de que ela impõe encargos de conformidade impossíveis de se cumprir, na prática, além de ameaçar a inovação. Quase todos os grandes nomes do setor de criptografia assinaram uma carta da Blockchain Association pedindo a revogação dessa regra. Nesse passo, o Congresso dos Estados Unidos tem trabalhado ativamente  para tornar sem efeito tal regra, citando preocupações com privacidade, inovação e encargos indevidos para os desenvolvedores.  Como veremos a seguir, tanto a Câmara quanto o Senado votaram para revogar o enquadramento de plataformas DeFi como brokers e as exigências de compliance no estilo Wall Street. A Casa Branca - agora sob a presidência de Donald Trump - também sinalizou apoio nesse sentido.   Argumentos a favor e contra a revogação do DeFi Broker Rule  Os críticos da proposta de revogação regra do IRS advertem que ela poderia levar a uma potencial perda de receita tributária e facilitar a evasão fiscal e atividades ilícitas. Contudo, o teor das justificativas revelam um desconhecimento mais profundo das tecnicidades que envolvem protocolos DeFi. Para se ter uma ideia, o democrata de Illinois, Danny Davis, discordou da resolução, comparando as criptomoedas às ações: "Quando você vende ações com um corretor de ações, o corretor informa o produto da venda tanto para você quanto para o Internal Revenue Service". "Provavelmente, para a surpresa de ninguém, quando há relatórios independentes sobre essas vendas, os contribuintes têm maior probabilidade de declarar sua renda ao Internal Revenue Service."   De outro lado, o principal fundamento dos defensores da proposta de revogação do DeFi Broker Rule consiste no fato de que "protocolos DeFi operam de forma autônoma, sem intervenção humana e geralmente nunca assumem a custódia de fundos [que permanecem nas carteiras digitais dos investidores]."   Os dApps - Aplicativos descentralizados usados em DeFi não exigem que ninguém os gerencie. Ninguém controla os dApps DeFi, pois eles são executados sem intervenção humana. Apesar de existirem desenvolvedores para correção de eventuais bugs, ajustes nos aplicativos e também eventuais adições, os dApps e protocolos DeFi  operam integralmente por meio de códigos de computador e contratos inteligentes. Por isso, as finanças descentralizadas não poderiam ser tratadas como corretoras pelo IRS.  Segundo os proponentes da resolução na Câmara, liderados pelo deputado republicano Mike Carey, a regra impõe ônus indevidos aos desenvolvedores de software e vai além das intenções da Lei de Investimentos em Infraestrutura e Empregos de 2021. Na mesma linha, o Senador Ted Cruz, patrocinador da resolução no Senado, defendeu a revogação da regra do IRS. Segundo ele, "DeFi é um microcosmo da revolução das criptomoedas" e a regra que visa os desenvolvedores de software como corretores (e os obriga a divulgar dados de usuários e informações pessoais) não faz sentido, dado que "o software deles nunca retém ou controla os fundos dos usuários."   Principais pontos da aprovação da revogação pelo Congresso 1. O apoio bipartidário A Câmara dos Deputados dos EUA votou por 292 a 132 a favor da revogação da regra do corretor DeFi do IRS, com forte apoio bipartidário, incluindo 76 democratas que se juntaram aos republicanos. Antes da votação da Câmara, o Senado dos EUA já havia aprovado uma resolução  para anular a regra, com uma votação de 70 a 27.   2. Implicações para o setor de criptoativos A revogação é vista como uma vitória significativa para a indústria de criptoativos, pois elimina custos de conformidade onerosos, apoia a inovação e evita a fiscalização "excessiva" das finanças descentralizadas. 3. Próximos passos A resolução para revogar a regra agora aguarda a aprovação final do Senado antes de ser enviada ao presidente Trump, que deve assiná-la como lei.   Perspectivas finais A revogação da DeFi Broker Rule do IRS provavelmente trará vários efeitos sobre o cenário regulatório dos criptoativos. Dentre os potenciais efeitos de longo prazo, podemos citar: Redução dos encargos de conformidade, estímulo à inovação e à competitividade, privacidade e progresso tecnológico. A recente vitória bipartidária no Congresso faz parte de um esforço mais amplo para manter os EUA como líder em inovação em blockchain e criptoativos, com possíveis implicações positivas para futuras legislações do setor.  Olhando mais especificamente para o futuro do cenário regulatório, a revogação da regra do IRS reflete uma mudança em direção para uma regulamentação de criptoativos mais favorável em Washington, com um Congresso controlado pelo Partido Republicano. O resultado da votação em ambas as Casas do Congresso é visto como um indicador inicial da futura abordagem do governo dos EUA à regulamentação de ativos digitais, com possível alinhamento a uma postura pró-cripto. De modo geral, espera-se que a revogação da DeFi Broker Rule do IRS promova um ambiente mais favorável à inovação para o setor de DeFi nos EUA, ao mesmo tempo em que levanta preocupações sobre a supervisão regulatória e a conformidade fiscal. ___________________________________ 1- Disponível aqui. 2- Também conhecido como Lei de Infraestrutura Bipartidária, é uma lei federal dos Estados Unidos promulgada pelo 117º Congresso dos Estados Unidos e sancionada pelo presidente Joe Biden em 15 de novembro de 2021. Disponível aqui. 3- Disponível aqui. 4- Disponível aqui. 5- O termo inglês 'broker' (derivado do francês antigo broceur, 'pequeno comerciante'), também designado intermediário, designa uma pessoa física ou jurídica ou, ainda, um grupo de pessoas que atua como intermediário nas transações entre um comprador e um vendedor, recebendo uma comissão quando o negócio é concluído. 6- Disponível aqui. 7- Disponível aqui. 8- Disponível aqui. 9- Disponível aqui. 10- Revoredo, Tatiana; In: "Regulação e compliance em DeFi". Disponível aqui. 11- Disponível aqui. 12- Disponível aqui. 13- Disponível aqui. 14- Disponível aqui. 15- Disponível aqui.  16- Idem nota anterior. 
Contexto A SEC - Comissão de Valores Mobiliários dos EUA mudou recentemente sua abordagem em relação à regulamentação cripto, marcando uma mudança significativa em relação à estratégia anterior de repressão sob o domínio de Gary Ganler, com uma nova força-tarefa focada na clareza regulatória e na possível aprovação de novos produtos de investimento em criptoativos.  É disto que trata este artigo. Uma nova era na política da SEC para criptoativos Em fevereiro, a Comissária da SEC, Hester Peirce, anunciou um novo roteiro para a política de criptoativos nos EUA, destacando uma mudança (da aplicação de medidas coercitivas para clareza regulatória), com foco no envolvimento do setor e na criação de um porto seguro para o setor1.  Ora, isto representa um alívio temporário para ofertas de tokens, permitindo que eles sejam negociados legalmente sem a exigencia de registro na SEC (desde que observada a publicidade e divulgação necessárias). Quais são os principais aspectos dessa mudança? Pausa nas ações de fiscalização, nova liderança e força tarefa, bem como foco na clareza regulatória. Vamos destrinchar isto melhor. Principais aspectos da nova postura da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA A SEC pausou ou abandonou2 várias investigações e casos contra grandes empresas cripto, como Coinbase3, Binance e Tron4. A SEC também retirou o boletim contábil SAB 1215, um padrão contábil repudiado por grande parte do setor. Essas medidas são vistas como um afastamento das ações coercitivas e agressivas de fiscalização que caracterizaram a abordagem anterior da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, sob o comando do ex-presidente Gary Gensler6. Agora, sob a nova liderança do presidente interino Mark Uyeda, a SEC introduziu uma nova "força-tarefa cripto" liderada pela Comissária Hester Peirce.7 Tal força-tarefa possui como principal objetivo estabelecer regulamentações claras e duradouras para garantir inovação e estabilidade de longo prazo ao setor.  O que a SEC está considerando para promover a inovação no setor cripto? A CVM dos EUA pretende definir limites regulatórios, criar caminhos de registro realistas e desenvolver estruturas de divulgação sensatas.8 Nesse passo, a classifidação de quais criptoativos são considerados títulos mobiliários é um dos principais objetivos, pois trará diretrizes mais claras para empresas no registro de produtos e serviços que envolvam criptoativos.9 O grupo de trabalho da SEC também enfatizou a necessidade de colaboração com outras agências federais, em especial a CFTC - 'Commodity Futures Trading Commission', bem como a participação da sociedade como um todo (incluindo investidores, participantes do setor e acadêmicos) para garantir um ambiente regulatório equilibrado que não atrase a inovação (2, 4, 5). Para tanto, a Comissária Peirce propôs um período de "safe harbor" (porto seguro) para permitir que projetos blockchain se desenvolvam sem ônus regulatório imediato, com a força-tarefa podendo recomendar alívio temporário para determinadas ofertas de tokens.10 Como exemplo da mudança significativa na política cripto dos EUA, vale mencionar documento recente da força-tarefa cripto da SEC - Comissão de Valores Mobiliários dos EUA em que foi discutido a integração de staking11 de criptomoedas em produtos negociados em bolsa (ETPs).12 Como o setor cripto enxerga o redirecionamento da SEC Para grande parte dos analistas do setor, a reversão do curso da SEC é uma grande vitória, dado que a gestão anterior, sob o comendo de Gary Gensler, concentrou suas ações em medidas coercitivas que sufocavam a inovação e empurravam empresas (que ofereciam produtos e serviços relacionados a criptoativos) para o exterior.13 14 De todo modo, para o setor, ainda é necessário a aprovação de legislações claras pelo Congresso dos EUA para evitar possíveis riscos sistêmicos semelhantes à postura da gestão anterior da SEC, ao "de-banking"15 16 e à operação "Choke Point"17 encabeçada pela Adminstração Biden.18   O futuro das exchanges nos EUA com o novo posicionamento da SEC Espera-se que a mudança de abordagem da SEC tenha vários impactos sobre o futuro das corretoras de criptomoedas e suas operações nos Estados Unidos. Vejamos. No tocante à regulação, a nomeação de figuras favoráveis às criptomoedas, incluindo Paul Atkins como Presidente da SEC e Mark Uyeda como presidente interino, sugere um direcionamento para um quadro regulatório mais favorável.19 Some-se a isto o arquivamento de várias investigações contra as principais empresas cripto pela SEC, é uma medida vista como uma correção necessária pelos líderes do setor que criticaram a abordagem anterior como onerosa e pouco clara.20 Quanto aos benefícios potenciais, o estabelcimento de regulamentações mais claras, potencial afrouxamento da fiscalização, podem significar mais aprovações de ETFs cripto. Além disso, a nova abordagem da SEC também pode aumentar o financiamento de capital de risco para projetos de blockchain, cripto e web321.  Por fim, como a SEC está considerando novos produtos negociados em bolsa para vários ativos digitais, isto indica uma possível expansão das opções de investimento regulamentadas. Perspectivas Quando olhamos para um contexto mais amplo, sob a ótica das mudanças políticas e de liderança, a reversão de curso pela SEC coincide com as mudanças na liderança política dos EUA, com a eleição de Trump que prometeu em sua campanha políticas mais favoráveis à criptomoedas.  Isso inclui a nomeação22 de figuras pró-cripto em posições regulatórias importantes23.  Some-se a isto o fato de que sob a ótica dos esforços legislativos, estes parecem buscar o estabelecimento de uma estrutura regulatória para criptoativos, com esforços bipartidários no Congresso para proporcionar clareza regulatória, particularmente para as stablecoins.  De modo geral, a nova abordagem da SEC representa um movimento em direção a um ambiente regulatório mais estruturado e transparente para criptomoedas, com o objetivo de equilibrar a inovação com a proteção ao investidor e a integridade do mercado. 1 Disponível aqui.  2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 "Trump's "New" Crypto Task Force: A Policy Shift Ahead?", Forbes Digital Asset, disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 "Staking é necessário para garantir a segurança e a funcionalidade de uma plataforma blockchain. Determinadas blockchains - que usam o mecanismo de consenso Proof of Staking - precisam de criptomoedas/tokens dados como garantia para validarem e verificarem a segurança das transações na rede. Os stakers certificam com suas criptomoedas que todas as transações de determinada blockckchain foram processadas corretamente. E por disponibilizarem seus criptomoedas para validar e segurar a rede blockchain, os stakers recebem juros na forma de tokens, cunhados quando um novo bloco é adicionado à rede, mas também podem pagar uma penalidade (chamada slashing) se não se comportarem corretamente". Revoredo, Tatiana; In: "O que é staking?", disponível aqui. 12 Disponível aqui.   13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Em janeiro, o congressista James Comer enviou uma carta a várias empresas ligadas a cripto, perguntando-lhes sobre sua experiência com o debanking. Ele escreveu como Presidente do Comitê de Supervisão e Reforma Governamental da Câmara dos Estados Unidos, o mesmo comitê que investigou a "Operação Choke Point" durante o governo Obama, na qual os setores desfavorecidos tiveram dificuldades com as contas bancárias. Leia a carta, disponível aqui. 16 De-banking, mais comumente chamado de "desbancarização" em português, também conhecido no setor bancário como de-risking, é o fechamento de contas bancárias de pessoas ou organizações por bancos que consideram que os titulares das contas representam um risco financeiro, legal, regulatório ou de reputação para o banco. O encerramento de contas geralmente é realizado sem justificativa e sem a perspectiva de recurso. A desbancarização pode ter consequências graves para indivíduos e empresas, pois os exclui de muitas atividades na sociedade. 17 "Operação 'Choke Point 2.0' refere-se ao esforço coordenado dos reguladores financeiros do governo Biden para sufocar a criptoeconomia nos EUA, desbancando a indústria e separando os empresários do capital necessário para investir na América, como bem observado disse o senador americano Bill Hagerty, membro dos comitês de bancos e apropriações." Revoredo, Tatiana, disponível aqui. 18 Em Audiência Pública ocorrida há três semanas atrás, o Comitê de Serviços Financeiros do Congresso americano questionou "The Biden Admin's Efforts to Put Crypto in the Crosshairs" (Os esforços da Administração Biden para colocar a criptomoedas na mira). Disponível aqui. 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui. 21 Disponível aqui. 22 Disponível aqui. 23 Disponível aqui.
Contexto A DFSA - Autoridade de Serviços Financeiros de Dubai aprovou1 oficialmente as stablecoins USDC e EURC como tokens cripto2 reconhecidas no DIFC - Centro Financeiro Internacional, o que representa um marco regulatório significativo.  Por que isto é importante? Porque é a primeira vez que stablecoins são reconhecidas pela estrutura regulatória de Dubai destinada a criptoativos.  Tendo isto em conta, este artigo busca explorar as implicações deste reconhecimento legal. Para a total compreensão do assunto, contudo, é preciso destacar alguns pontos importantes como, por exemplo, os padrões regulatórios globais para stablecoins, bem como as medidas de compliance da USDC e EURC, em comparativo com outras stablecoins como Tether (USDT) ou Binance USD (BUSD). Como ponto de partida, vamos traçar um panorama geral das stablecoins objeto deste artigo. Histórico, funcionalidade, expansão tecnológica da USDC e EURC A USDC foi criada pelo Centre, um consórcio cofundado pela Circle e pela Coinbase, e foi lançada em 26 de setembro de 20183.  Quanto à sua funcionalidade, a USDC é uma stablecoin indexada 1:1 ao dólar americano, garantida por dinheiro e equivalentes de dinheiro, e está em conformidade com várias estruturas regulatórias, como veremos a fundo mais adiante.4 Com relação à expansão tecnológica, a USDC oferece suporte nativo em várias redes blockchain com vistas a aumentar sua interoperabilidade e adoção. Atualmente, ela possui suporte nativo para 20 redes blockchain5 e também está conectada a muitos blockchains emergentes por meio de "bridges"6. A EURC, por sua vez, é uma stablecoin lastreada na moeda fiduciária da União Europeia, o Euro, lançada pela Circle em 30 de junho de 2022, e projetada para facilitar remessas internacionais, pagamentos peer-to-peer e pagamentos de marketplaces.7 Com relação à expansão tecnológica, a EURC oferece suporte nativo em 5 redes8: Avalanche, Base9, Ethereum10, Solana11 e Stellar. Quanto à posição no mercado, a EURC está a caminho de se tornar a principal stablecoin denominada em euros por valor de mercado.12 Mercado de stablecoins Vs. moedas fiduciárias tradicionais Este tópico trata especialmente da USDT e da BUSD, devido ao escrutínio regulatório significativo sofrido por essas duas stablecoins, principalmente em relação à transparência e à classificação das reservas. Esclarecido isto, o mercado de stablecoins em comparação com as moedas fiduciárias tradicionais, pode ser compreendido por meio de vários pontos-chave como o escrutínio regulatório e a dinâmica de mercado (capitalização de mercado e volume de negociação).  Sob a ótica do escrutíneo regulatório das stablecoins, a Tether ($USDT), é classificado como uma "commodity" pela CFTC - Commodity Futures Trading Commission nos EUA, o que a diferencia dos títulos mobiliários e a sujeita a diferentes padrões regulatórios.13 A USDT enfrentou uma análise minuciosa sobre a transparência de suas reservas e a falta de auditorias independentes, levantando preocupações sobre se todos os seus tokens estão totalmente respaldados em todos os momentos.14 Apesar dessas preocupações, o Tether continua sendo a stablecoin mais utilizada no mercado. A stablecoin da Binance USD ($BUSD), por sua vez, voltou "a respirar", depois que a U.S. SEC - Securities and Exchange Commission concluiu sua investigação sobre a empresa emissora Paxos, sem tomar medidas coercitivas15 - o que foi visto como uma vitória legal para o setor cripto. Na sua notificação de encerramento, a SEC esclareceu que a $BUSD não é considerada um título mobiliário. Contudo, após esta última investigação da SEC e à decisão da Binance de retirar a $BUSD do seu livro de ordens, sua presença no mercado diminuiu significativamente16. No tocante à dinâmica do mercado (capitalização de mercado e volume de negociação), a Tether já chegou a ter 75% de participação no mercado de stablecoins.17 No dia 25/2/25, a $USDT tinha uma capitalização de mercado de aproximadamente US$ 142,5 bilhões, e um volume de negociação de 30 dias de cerca de US$ 58,6 bilhões.   Já a $BUSD tem uma capitalização de mercado muito menor, de aproximadamente US$ 61,3 milhões, e um volume de negociação de 30 dias de cerca de US$ 10,1 milhões. Pois bem, num comparativo com as moedas fiduciárias tradicionais (dólar, euro, real, etc.), as moedas fiduciárias tradicionais estão sujeitas a estruturas regulatórias abrangentes, incluindo supervisão do Banco Central e controles de política monetária, aos quais as stablecoins como o $USDT e o $BUSD não aderem totalmente. Ademais, as stablecoins operam em um ambiente regulatório mais fragmentado, com diferentes graus de escrutínio e classificação em diferentes jurisdições18. De outro lado, em termos de adoção e os casos de uso, as stablecoins oferecem vantagens como transações mais rápidas, custos reduzidos e acessibilidade, especialmente em regiões com acesso bancário limitado.19 E elas são cada vez mais usadas para transferências internacionais e como reserva de valor em economias voláteis, proporcionando uma ponte entre as finanças tradicionais e os criptoativos (criptomoedas, stablecoins e outros tipos de tokens).20 Compliance: USDC e EURC vs. USDT e BUSD As medidas de conformidade da USDC e da EURC, comparadas com as de outras stablecoins, como Tether ($USDT) e a Binance USD ($BUSD), possuem diferenças significativas na adesão e transparência regulatórias. As stablecoins do consórcio entre Circle e Coinbase, $USDC e $EURC, estão posicionadas como altamente regulamentados e transparentes. Já a Tether ($USDT) embora seja a mais utilizada atualmente, enfrenta escrutínio contínuo e desafios regulatórios, principalmente no que diz respeito à transparência de suas reservas.  Quanto à stablecoin da Binance USD, ações regulatórias afetaram significativamente a presença de mercado da $BUSD, com a Binance interrompendo inclusive seu suporte. Deste modo, enquanto $USDT e $BUSD enfrentam desafios regulatórios, $USDC e $EURC são líderes em conformidade e transparência regulatórias.  Importante observar que esse foco na conformidade é cada vez mais importante no mercado de stablecoin, influenciando inclusive a dinâmica do mercado e a confiança do usuário21 - principalmente os que estão dando os primeiro passos no setor cripto. Padrões regulatórios globais e as iniciativas de compliance da Circle A Circle tomou várias iniciativas para alinhar medidas de compliance de suas stablecoins à Stablecoin Standard, órgão do setor para emissores de stablecoin em todo o mundo que estabelece um conjunto de padrões regulatórios globais para emissores de stablecoin.22 Tais padrões buscam aumentar a resiliência operacional, a transparência e os compromissos consistentes dos emissores, e sofrem influência das recomendações do BIS - Bank for International Settlements como, por exemplo, estruturas eficazes de gerenciamento de risco e cooperação transfronteiriça.23 Sob o aspecto das ferramentas tecnológicas de compliance, a Circle introduziu uma ferramenta de conformidade chamada Compliance Engine para carteiras programáveis, que inclui ferramentas de triagem e monitoramento de transações para detectar comportamentos de risco.24 Outrossim, passou a adotar25 o the Confidential ERC-20 Framework, uma estrutura que utiliza FHE - Fully Homomorphic Encryption26 para aumentar a privacidade e a conformidade nas operações com token ERC-2027. Implicações do reconhecimento das stablecoins USDC e EURC em Dubai A aprovação28 oficial de $USDC e $EURC como tokens cripto29 reconhecidas no DIFC traz, de imediato, consequências que podem ser resumidas em integração em serviços financeiros, conformidade regulatória e impacto regional. A primeira implicação é que tal reconhecimento permite às instituições que operam no DIFC integrem o USDC e o EURC em serviços de ativos digitais, pagamentos, gerenciamento de tesouraria e aplicativos financeiros. De outro lado, como o DIFC impõe padrões de compliance rigorosos30, autorizando que apenas criptoativos (criptomoedas e stablecoins) por ele reconhecidos operem em seu ecossistema, tal aprovação estabelece um padrão legal de referência para outros emissores de stablecoin.  A terceira implicação diz respeito ao fato do DIFC ser um importante centro financeiro31 para o Oriente Médio, África e Sul da Ásia, abrigando mais de 7.000 empresas registradas. Nesse contexto, a inclusão de USDC e do EURC reflete a crescente clareza regulatória para criptoativos na região. Perspectivas finais As iniciativas para alinhar USDC e EURC com os padrões regulatórios globais tornam as stablecoins emitidas pela Circle aceitáveis em várias jurisdições. No entanto, não se pode olvidar o papel das plataformas DeFi na adoção de stablecoins, dado que as utilizam para fornecimento de liquidez, empréstimos e financiamentos em uma infraestrutura descentralizada. Assim, não só medidas de conformidade afetam a dinâmica e a confiança do mercado, mas também a obtenção de clareza regulatória relacionada às infraestruturas e plataformas DeFi.32   1 Disponível aqui. 2 Revoredo, Tatiana; In: Dubai: Stablecoins e novo regime regulatório para tokens cripto, Coluna Criptogalhas - Portal Migalhas, 2024, disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Algorand, Aptos, Arbitrum, Avalanche C-Chain, Base, Celo, Ethereum, Hedera, Flow, NEAR, Noble, OP Mainnet, Polkadot, Polygon PoS, Solana, Stellar, Sui, TRON, Unichain e ZKsync. 6 Bridges são plataformas de software que ligam serviços de criptomoedas que, de outra forma, não se podem comunicar entre si. Permitem que os utilizadores transfiram tokens de uma cadeia de blocos, ou livro-razão digital, para outra. Estas ligações facilitam aos utilizadores de criptomoedas o investimento numa multiplicidade de projectos diferentes. Também tornam o ecossistema mais interligado - o que pode significar torná-lo mais vulnerável se as entidades mais fracas tiverem problemas. E depois há a sua vulnerabilidade a crimes cibernéticos - desde maio de 2021, os hacks em bridges levaram a perdas superiores a US$ 3,2 bilhões. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui. 21 Disponível aqui. 22 Disponível aqui. 23 Disponível aqui. 24 Disponível aqui. 25 Disponível aqui. 26 Disponível aqui. 27 ERC-20, ou Ethereum Request for Comment 20, é um padrão técnico usado para emitir e implementar ativos na blockchain Ethereum. O padrão descreve um conjunto comum de regras que um ativo deve seguir para funcionar corretamente no ecossistema Ethereum. Essas regras dizem respeito à forma como os ativos ERC-20 são transferidos dentro do blockchain da Ethereum e como seus saldos de fornecimento e endereço são registrados de forma consistente.O principal objetivo do padrão ERC-20 é garantir a interoperabilidade entre diferentes ativos e aplicativos na blockchain Ethereum. 28 Disponível aqui. 29 Revoredo, Tatiana; In: Dubai: Stablecoins e novo regime regulatório para tokens cripto, Coluna Criptogalhas - Portal Migalhas, 2024, disponível aqui. 30 Revoredo, Tatiana; In: Dubai (VARA): O primeiro regulador do mundo dedicado só a criptoativos, Coluna Criptogalhas - Portal Migalhas, 2024, disponível aqui. 31 Revoredo, Tatiana; In: EAU: Isenção tributária e cooperação entre reguladores torna Dubai um hub cripto, Coluna Criptogalhas - Portal Migalhas, 2024, disponível aqui. 32 Disponível aqui.
A necessidade de um debate amplo e aprofundado Hoje, não há como levar adiante a regulação de determinado setor ou mercado, sem antes uma discussão aprofundada sobre a tecnologia envolvida, a infraestrutura e a arquitetura da internet - atual e em desenvolvimento1  -, e os possíveis impactos sobre aspectos econômicos, jurídicos, político e sociais do país em si, e em relação ao resto do mundo. Para entender isto melhor, vamos usar dois exemplos: o primeiro relacionado à criptografia - uma das tecnologias que possibilitaram o surgimento da tecnologia blockchain e do bitcoin -, e o segundo relacionado à estrutura e arquitetura da internet - atual e a que está sendo desenvolvida.  Todos os meios de comunicação, universidades, organismos internacionais, legisladores e autoridades monetárias dos países estão discutindo criptomoedas, stablecoins, DeFi e CBDCs, bem como o que é dinheiro, porque a evolução da tecnologia possibilitou o surgimento do Bitcoin. E a origem dos criptoativos se deu pelo aprimoramento de três tecnologias: redes distribuídas (peer-to-peer)2, algoritmos3 de consenso4 e um ramo da matemática, a criptografia5. A importância da criptografia A criptografia estuda como garantir a segurança nas comunicações - mascarar informações para que possam ser escondidas à vista de todos, e verificar uma parte da fonte de informação6.  Aqui, importante destacar que a criptografia sustenta atualmente muitos dos sistemas ao nosso redor7. Digo isto, porque ela é tão poderosa que governos já a consideraram como uma arma inimiga da segurança nacional8.  Durante a Segunda Guerra Mundial, usar sistemas de criptografia como "Enigma"9 foi fundamental para decodificar as transmissões inimigas e virar a maré da guerra em favor dos aliados. Hoje, qualquer pessoa com um navegador moderno está executando um sistema de criptografia sofisticado para proteger as respectivas interações na internet.  É a criptografia que torna seguro digitar nossa senha e enviar informação financeira a sites, fazer pagamentos na internet e tornar realidade a Economia da Web. Dá para imaginar as repercussões à sociedade caso um país decidisse proibir ferramentas que utilizassem criptografia nos primórdios do desenvolvimento dessa tecnologia? Além da criptografia, outro exemplo - para compreender o "porquê" não dá para regular determinado mercado ou setor sem um debate10 amplo e aprofundado sobre as tecnologias envolvidas, e possíveis impactos sobre aspectos políticos, econômicos e jurídicos no país e globalmente - diz respeito à infraestrutura da internet. A arquitetura da internet  Na arquitetura atual da internet, validadores tradicionais de confiança controlam a identidade das pessoas e gerenciam seus ativos e propriedade há décadas. Mas a centralização desses validadores tem riscos inerentes.   Quando muitas informações são concentradas em meio digital, esse ponto se torna um alvo de cyber criminosos11.   Também, na atual arquitetura centralizada da internet, não são poucas as preocupações com a privacidade - como ficou evidente, por exemplo, no escândalo da Cambridge Analytica que nos revelou até que ponto algumas organizações podem ir para monetizar e explorar informações pessoais de terceiros12.  Por isso, os construtores da internet13 estão revolucionando a maneira como interagimos online, criando uma versão mais fluida, com foco na descentralização14, privacidade, identidade auto-soberana15, fim do armazenamento de dados em silos16, monetização direta, e uma transferência significativa de poder dos serviços centralizados para o ser humano.   Nessa linha, protocolos do próximo estágio da Web17 estão sendo construídos - como, pex., Akash Network18, Arweave19, Bittensor20, Livepeer21 e Render Network22 -, acabando com o gerenciamento e armazenamento de dados por terceiros, e em total alinhamento com o desenvolvimento de softwares de privacidade, ferramentas de autocustódia, gerenciamento de identidade23 e ativos digitais pelos próprios usuários.   Críticas à proibição ou restrição da autocustódia As críticas à "tentativa" de restrição ou banimento "legal" de carteiras de autocustódia - e digo tentativa, porque é difícil concretizar isso na prática - vão desde a ausência de supervisão judicial e compartilhamento excessivo de dados até vínculos insuficientes com investigações criminais, e estão relacionadas à  privacidade e independência financeira, inovação, concorrência, direitos fundamentais, descentralização e segurança. A proibição da autocustódia compromete a privacidade financeira e independência econômica24.  Além disso, a autocustódia é considerada essencial à descentralização25, que junto com a privacidade formam os pilares do próximo estágio da Web26. Ao possibilitar que as pessoas mantenham controle total sobre seus ativos digitais, a autocustódia de chaves privadas permite a interação direta, reduz significativamente o risco da contraparte e elimina a necessidade de confiar fundos a terceiros, o que é um princípio fundamental da descentralização.  Ainda, a autocustódia é pré-requisito para utilizar DeFi27 e a própria Web328. Isto porque, os protocolos relacionados funcionam em redes Peer-to-Peer (P2P)29, o que exige que o indivíduo mantenha suas chaves privadas consigo. Note que as chaves privadas são a única maneira de acessar tokens e criptomoedas em uma rede pública blockchain como as redes Bitcoin, Ethereum30, Polygon31 e Solana -, dando-lhe total propriedade e controle sobre seus ativos. Também, a autocustódia é crucial à saúde das redes blockchains públicas32  - que é onde realmente está a inovação da tecnologia blockchain33. Nessa linha, vale mencionar as palavras de Vitalik Buterin - criador do protocolo blockchain Ethereum - que, em resposta a quem defende explicitamente uma abordagem de captura regulatória para proteger cripto, disse que "tal abordagem não está alinhada com os princípios básicos das criptomoedas"34.  Em resumo, o acesso direto a protocolos, sem intermediários, é a essência da descentralização, pilar das redes blockchains públicas, do ecossistema DeFi e dos protocolos relacionados ao próximo estágio da Web. Por isso, um país que proíbe o uso de hardwallets ou impõe legislação que cria obstáculos, ou busca restringir sua utilização, retarda a inovação. Não à toa, o Estado americano de Oklahoma recentemente aprovou projeto de lei35 para garantir o direito à autocustódia a seus cidadãos. Colisão entre normas de AML e CFT com o direito à privacidade financeira   Geralmente, as regulamentações de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo exigem que os CASPs coletem dados abrangentes dos clientes relacionados a transações que envolvam carteiras "não-custodiadas", inclusive transferências enviadas para essas carteiras e recebidas delas (transferências peer-to-peer).   Ora, tal inclui, entre outras coisas, os nomes e endereços do originador e do beneficiário da transação, bem como os endereços de suas hardwallets.  Assim, mediante solicitação das autoridades dos estados membros responsáveis pelo combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, os provedores de produtos e serviços relacionados a criptoativos (exchanges e instituições financeiras) são obrigadas a divulgar esses dados. Todavia, a concessão desse acesso a dados financeiros, dependendo da maneira como é realizado, pode constituir uma interferência inaceitável no direito dos clientes à privacidade financeira, direito fundamental consagrado em estruturas jurídicas internacionais. Condições à interferência legal no direito fundamental à privacidade financeira A Declaração Universal dos Direitos Humanos, apresentada pelas Nações Unidas em 1948, também lista a privacidade como um direito humano fundamental no art. 12: "Ninguém será submetido a interferências arbitrárias em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Todos têm direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques." Nesse passo, qualquer interferência no direito à privacidade36, de acordo com o art. 52 da Carta dos Direitos Fundamentais, só é permitida se atender a condições rigorosas:  Deve ser baseada em lei,  Deve respeitar a essência do direito à privacidade,  Deve ser proporcional ao objetivo almejado e  Deve ser necessária e atender genuinamente a objetivos de interesse geral reconhecidos pela jurisdição ou à necessidade de proteger os direitos e liberdades de terceiros. Some-se a isto o fato de que normalmente, países democráticos ainda exigem o preenchimento de mais condições cumulativas: Que a interferência no direito à privacidade esteja relacionada a indivíduos específicos suspeitos de planejar, cometer ou ter cometido crimes graves no contexto de processos em andamento, e O acesso deve estar sujeito à autorização prévia de um órgão independente, como um tribunal, com base em uma solicitação justificada de uma autoridade pública em uma investigação criminal. Ora, se as regulamentações de AML e CFT geralmente não definem requisitos processuais detalhados para o acesso aos dados financeiros dos clientes, cabe aos países assumirem sua responsabilidade através da supervisão judicial ou independente prévia. Neste contexto é que surgem as justificadas críticas dos defensores do direito fundamental à privacidade financeira no tocante à insuficiente independência dos órgãos de supervisão, o escopo excessivo do compartilhamento de dados e a ausência de um requisito para procedimentos legais em andamento relacionados aos dados solicitados. Afinal, se a privacidade precisar ser violada por autoridades legítimas, como sugerem a Declaração de Direitos e a Declaração dos Direitos Humanos, isso não deve ser arbitrário ou universal, mas sim com algum grau de causa provável, por um motivo específico e dentro dos limites do Estado de Direito. A ausência de salvaguardas processuais unificadas e precisas e o risco de implementação inadequada de regulamentações de AML e CFT pelos países, aumentam a probabilidade de violações e o uso indevido de dados para fins não relacionados à prevenção de crimes, como objetivos políticos, por exemplo.  As legislações de AML e CFT baseiam-se implicitamente na premissa de que todos devem ceder a maior parte ou toda a sua privacidade às autoridades centrais para garantir que nada de ruim aconteça.   Naturalmente, queremos que terroristas, traficantes de seres humanos, criminosos violentos de rua, membros da máfia, assassinos, ladrões, fraudadores e outros indivíduos perigosos sejam capturados e processados e, portanto, a maioria das pessoas fornece recursos para a aplicação da lei para atingir esses objetivos.  No entanto, os procedimentos e as tecnologias usados por autoridades policiais para capturar criminosos perigosos, também podem ser usados pelos governos para suprimir a fala, vigiar ativistas de direitos humanos, ativistas pró-democracia e oponentes políticos e manter o controle sobre seus cidadãos - e é por isso que é importante ter limitações em seus poderes.  Considerações finais A atual abordagem restritiva de alguns países em relação às ferramentas que aumentam a privacidade em transações financeiras, como carteiras auto-hospedadas, apresenta desafios significativos, tanto técnicos quanto jurídicos, políticos e sociais.  Essas restrições limitam as liberdades individuais e a privacidade financeira de nacionais, entidades civis e em países terceiros, especialmente aqueles já marginalizados ou excluídos financeiramente.  Some-se a isto o fato de que tais medidas podem, de forma não intencional, permitir que regimes não liberais exerçam repressão financeira ao restringir o acesso a ferramentas financeiras seguras e privadas.  De outro lado, embora criptoativos sejam relativamente novos, a busca pelo difícil equilíbrio entre regulação, privacidade e inovação não é, como podemos extrair da guerra travada entre o governo dos EUA e os defensores da privacidade na década de 199037.  Naquela época, as comunicações criptografadas eram uma nova tecnologia, e o governo procurou exigir que as chaves privadas fossem mantidas por "guardiões" (terceiros). O governo americano argumentava que as mensagens digitais indecifráveis eram muito perigosas para serem usadas pelos cidadãos comuns, que poderiam teoricamente usar as comunicações privadas para prejudicar a segurança nacional. Olhando para o retrovisor, fica claro que os argumentos do governo americano foram mal embasados e, em última análise, incompatíveis com uma sociedade livre que valoriza a privacidade e a liberdade de expressão. Tanto que hoje, diariamente todos nós utilizamos comunicações criptografadas para nos comunicarmos com outras pessoas no WhatsApp, Signal, iMessage e aplicativos semelhantes. Por isso, é essencial que nas discussões legislativas sobre autocustódia, as liberdades individuais e o direito fundamental à privacidade sejam devidamente considerados, junto com os possíveis impactos a instrumentos financeiros eficazes no apoio a organizações da sociedade civil, e à competitividade do país no cenário global. 1 Disponível aqui. 2 "Uma rede peer-to-peer é aquela em que dois ou mais computadores compartilham arquivos e acessam dispositivos sem precisar de um servidor ou software de servidor" (Revoredo, 2019, pág. 123). 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Apesar de alguns tratarem a criptografia, equivocadamente, com sentido ilícito. 8 Não muito diferente de como alguns legisladores enxergam as chaves privadas resguardadas pelas hardwallets, e que são essenciais à "criptografia assimétrica" usada na tecnologia blockchain. 9 Disponível aqui. 10 Que vai além de aspectos econômicos como estabilidade monetária e legislação tributária. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Veja em "O futuro será um oceano de dados transacionados em DeFi via DAOs"; Revoredo, Tatiana in MIT Technology Review; disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui. 21 Disponível aqui. 22 Idem Nota 17. 23 Disponível aqui. 24 Disponível aqui. 25 "Na descentralização, em vez de validadores tradicionais de confiança, o controle é distribuído entre os participantes da rede, que alcança o controle coletivo empregando um mecanismo de consenso (algorítmo). (Revoredo, Tatiana. In: Blockchain: Tudo o que você precisa saber, Amazon, 2019, pág. 112. Disponível aqui.). 26 Disponível aqui. 27 Finanças Descentralizadas. Disponível aqui. 28 Disponível aqui. 29 "Uma rede peer-to-peer é aquela em que dois ou mais computadores compartilham arquivos e acessam dispositivos sem precisar de um servidor ou software de servidor" (Revoredo, 2019, pág. 123). 30 Disponível aqui. 31 Disponível aqui. 32 As redes blockchain públicas não permissionadas, como Bitcoin e Ethereum, são baseadas em protocolos de consenso, que utilizam seus tokens nativos (criptomoedas) como fator determinante para garantir a cibersegurança da rede, seja via staking, seja via mineração. 33 "Um dos aspectos disruptivos da tecnologia blockchain é que ela foi projetada para, através de mecanismos de consenso (algoritmos), substituírem uma autoridade central". 34 Disponível aqui. 35 Disponível aqui. 36 No Brasil, o direito à privacidade está amparado pelo art. 5º, inciso X, da Constituição Federal, que garante inviolabilidade à vida privada e o considera um direito da personalidade. 37 Disponível aqui.
As razões para limitar softwares relacionados à autocustódia Por conta das recomendações do GAFI1 2, alguns países como Brasil e membros da UE - União Europeia estão propondo limitações, e até a proibição total, do uso de hardwallets3 e softwares relacionados à autocustódia.  Dentre os principais motivos para tanto, podemos citar a supervisão e controle regulatórios, a preservação da estabilidade econômica, AML - preocupações com o combate à lavagem de dinheiro e a prevenção à dolarização. Dentre estas justificativas, a mais comum é o controle e a supervisão regulatória. Países como o Brasil4 propuseram restrição a "saques"5 6 de stablecoin "para" carteiras autocustodiadas para aumentar a supervisão do mercado de câmbio e regular os fluxos de capital. Isso faz parte de esforços mais amplos para controlar pagamentos, vendas, custódia e transações com criptoativos atrelados à moeda estrangeira (stablecoins). Além disso, países com controles econômicos rigorosos têm maior probabilidade de restringir criptoativos (stablecoins e criptomoedas), devido a preocupações com a estabilidade econômica. Segundo estudo da University of Missouri sobre implicações da regulamentação do mercado cripto para a economia política global7, as stablecoins8, especialmente aquelas atreladas ao dólar americano, podem aumentar o poder monetário dos EUA que é uma ameaça à soberania econômica de alguns países.  Outra razão para a restrição ou banimento de autocustódia está na prevenção à dolarização9 da economia10, restringindo o uso de stablecoins em moeda estrangeira para pagamentos, exceto sob condições legais ou regulatórias específicas, o que parece ser o caso do Brasil. Por fim, há países que tomam medidas contra carteiras de autocustódia como preocupação com o combate à lavagem de dinheiro (AML). Nessa linha, temos a União Europeia, que implementou regulamentações que proíbem transações anônimas de criptoativos por meio de carteiras de autocustódia como parte de seus esforços de AML11. Como a União Europeia foi a primeira na formação de padrões regulatórios globais ao mercado de criptoativos, antes de analisarmos o status legal no Brasil, vejamos um pouco mais detalhadamente como os europeus enxergam a autocustódia. Status atual das carteiras não custodiais na União Europeia As estruturas regulatórias atuais e futuras dentro das leis da União Europeia - com relação à autocustódia e transações de criptomoedas ponto a ponto ("transações peer-to-peer" ou P2P) -, têm como principal objetivo determinar se, e em que medida, as carteiras autocustodiadas estão sob a alçada dos sistemas regulatórios públicos.  Além disso, a União Europeia disciplina as possíveis implicações de tais estruturas regulatórias para entidades e indivíduos envolvidos em atividades de carteiras "sem custódia", especialmente em relação às políticas de combate à lavagem de dinheiro (AML, "Anti-Money Laundry") e ao financiamento antiterrorista ("Combating the Financing of Terrorismo", CFT). Mais especificamente no tocante ao MiCA - Regulamento de Mercados de Ativos Criptográficos12, que entrou em vigor no dia 30 de dezembro de 2024, esta regulação se concentra nas obrigações regulatórias dos provedores de serviços de criptoativos ("Cripto Assets Service Providers", CASPs) em vez de questões de AML/CFT, e pode, assim, influenciar indiretamente os CASPs a adotarem práticas mais rígidas com relação a hardwallets. Já o Regulamento (UE) 23/1.11313 - que também entrou em vigor no último dia de 2024 -  influencia diretamente os CASPs de várias maneiras, pois seguindo recomendação 16 do GAFI14, exige deles a coleta de informações detalhadas sobre transações que envolvam carteiras "sem custódia" (de terceiros) e informem atividades suspeitas. Na prática, isto significa que os CASPs estão proibidos de facilitar transações anônimas.  Além disso, o regulamento impõe obrigações rigorosas aos CASPs com relação à devida diligência do cliente que se envolva com endereços auto-hospedados.  Note que o cumprimento dessas obrigações geralmente leva a um aumento nos custos operacionais dos CASPs, exigindo a implementação de ferramentas avançadas de análise onchain15, a contratação de pessoal qualificado em AML e outras despesas relacionadas.  Consequentemente, para mitigar os custos e reduzir os riscos associados às transferências assinadas por chaves privadas autocustodiadas, os CASPs podem optar por recusar essas transferências. Aqui, também vale destacar que as obrigações impostas aos CASPs entram em conflito com o surgimento de tecnologias de código aberto como a Lightning Network16 e Fedimint17, que não têm permissão, são resistentes à censura e oferecem fortes garantias de privacidade.  Ora, tais tecnologias em rápido crescimento estão remodelando os padrões de transações globais e, ao rejeitar tais transações, os CASPs baseados na UE correm o risco de perder participação no mercado e serem superados por rivais não europeus que operam sob estruturas menos restritivas.   Portanto, essa abordagem regulatória pode marginalizar os CASPs da UE, empurrando os usuários para alternativas não regulamentadas fora da UE, prejudicando assim a eficácia da estrutura AML/CFT na Europa. Afinal, as transações de criptoativos envolve uma tecnologia é global e sem fronteiras.  Nesse passo, o resultado disso não é apenas o não cumprimento dos objetivos regulatórios, mas também o enfraquecimento da economia digital, da capacidade de inovação e da competitividade global da União Europeia não só em serviços financeiros, mas em relação a outras indústrias, como em artigo sobre o difícil equilíbrio entre regulação e inovação. Olhando para o futuro, a Regulamentação AML (UE) 24/1.62418 e a Diretiva AML (UE) 24/1.64019, que entrarão em vigor em 10 de julho de 2027, introduzirão regulamentações ainda mais rigorosas para carteiras não custodiadas e transações P2P.  Essas regulamentações imporão obrigações aprimoradas de devida diligência do cliente aos CASPs, incluindo avaliações de risco e monitoramento de transações envolvendo ferramentas de autocustódia.  Em resumo, embora as regulamentações atuais da União Europeia - brevemente analisadas acima  - não visem especificamente hardwallets, a legislação e as diretrizes futuras afetarão significativamente a forma como carteiras auto-hospedadas são disciplinadas no ecossistema financeiro, o que pode levar a um maior escrutínio e custos operacionais para os CASPs que atuam na UE. Status atual das carteiras de autocustódia no Brasil Hoje, não há proibição ou limitação de hardwallets no Brasil. Só existe a exigência administrativa da Receita Federal ao contribuinte - por ocasião da declaração do imposto de renda  -, de apontar qual o tipo de custódia utilizado: se as chaves privadas dos criptoativos declarados estão em exchanges (custódia por terceiro), ou o contribuinte faz autocustódia (armazena suas próprias chaves privadas em hardwallets).  Entretanto, no dia 29/11/24, o Banco Central do Brasil abriu duas consultas públicas sobre a regulação do mercado de ativos virtuais.   Na primeira consulta, o BACEN sugere a criação de três modalidades de sociedades para prestar serviços de criptomoedas - as intermediárias, as custodiantes e as exchanges ou corretoras de criptoativos, - e define tarifas e regras. O objetivo da proposta é que bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos de investimento e Caixa Econômica Federal "possam atuar nas modalidades de intermediação e custódia de ativos virtuais".  Na segunda, o Banco Central sugere as etapas de autorização e a disciplina de atuação - tanto para corretoras de criptoativos como para corretoras de câmbio, corretoras de títulos e valores mobiliários e distribuidoras de títulos e valores mobiliários -, busca incluir atividades e operações das prestadoras de serviços de ativos virtuais (PSAVs) no mercado de câmbio e, através dos artigos 76-J e 76-N, trata especificamente da autocustódia, nos seguintes termos: Art. 76-N. "É vedado à prestadora de serviços de ativos virtuais efetuar transmissão de ativo virtual denominado em moeda estrangeira para carteira autocustodiada." (NR). Art. 76-F. "É vedado à prestadora de serviços de ativos virtuais efetuar transmissão de ativos virtuais para carteira autocustodiada detida por não residente." (NR). Ora, na prática, isso significa que, se referido artigo for aprovado, detentores de criptoativos residentes no Brasil não poderão mais guardar as chaves privadas relacionadas às suas stablecoins consigo (autocustódia), mas somente através de exchanges autorizadas, tornando a custódia por terceiros para este tipo de criptoativo.  E com relação aos não residentes, a situação se agrava, como veremos no próximo tópico. Em resposta, a deputada Federal Júlia Zanatta (PL/SC) apresentou no dia 6/2/25, o PL 311/2520 que dispõe sobre a proteção ao Direito de Autocustódia de Ativos Virtuais, e busca para assegurar o direito ao uso de carteiras auto-hospedadas, garantindo aos cidadãos a possibilidade de assinar transações de criptoativos, sem a necessidade de intermediários financeiros.  Aqui, vale trazer à baila algumas questões.  O alcance da restrição à autocustódia proposta pelo BACEN? A regulação das ferramentas de autocustódia sugerida pelo BACEN, que impõe a custódia por terceiro para chaves privadas de stablecoins comercializadas em corretoras e instituições financeiras brasileiras, é um primeiro passo para fechar todas as possibilidades e etapas do processo de construção de uma transação de criptoativos pelos usuários?  Estamos no início de um debate em que o Estado brasileiro tem como objetivo final tornar crime a autocustódia em geral e as transações peer-to-peer.  O intuito da obrigatoriedade da custódia por terceiros proposta pelo BACEN - que acabou de dar sinal verde às instituições financeiras para 'oferecer bitcoin'21 - é tornar ilegal a autorização da transação aprovada única e exclusivamente pelos próprios usuários (leia-se, autocustódia), bem como as transações peer-to-peer?   Numa breve análise do art. 76-N, parece que o Banco Central do Brasil busca apenas criar barreiras para que as transações de stablecoins não ocorram fora do âmbito de vigilância do mercado de câmbio por ele regulado. Isto porque, ao ser questionado pelo deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade/RJ), em audiência pública22 na Câmara dos Deputados sobre o assunto, Renato Kyotaka Uema, chefe adjunto do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BACEN destacou a preocupação da entidade com a transparência nas transações deste tipo de criptoativo.  Nas palavras de Uema, "A transferência para essas carteiras poderia criar alguma opacidade em relação aonde estariam indo estes recursos. A preocupação do regulador neste primeiro momento de consulta pública é ser o mais rígido possível no sentido de levantar os possíveis riscos. Quando eu falo de opacidade, estamos falando basicamente de dois pontos principais: legislação tributária e legislação de lavagem de dinheiro". Todavia, quando olhamos para o teor do art. 76-F, está claro que o BACEN está considerando os ativos virtuais em geral - isto é, criptomoedas inclusive, e não apenas "ativo virtual em moeda estrangeira" como descrito no art. 76-N. Neste contexto, é importante considerar como funcionam as transações de criptoativos23 peer-to-peer (P2P) e através de corretoras descentralizadas ("Decentralized Exchanges", DEXs). Por que a natureza 'peer-to-peer' intriga reguladores em todo o mundo? A grande maioria das pessoas transaciona criptomoedas e stablecoins via corretoras centralizadas ("Centralized Exchanges", CEXs). Contudo, a tecnologia blockchain foi criada para que detentores de criptoativos realizem transferências diretas, peer-to-peer24, ou através de corretoras descentralizadas.  Uma DEX é um mercado ponto a ponto em que as transações ocorrem diretamente entre os detentores de criptomoedas. As DEXs usam contratos inteligentes para facilitar as negociações, o que as torna "trustless", pois não requerem um órgão central para controlar ou processar as transações de criptomoedas. Ora, por ocorrem fora da esfera tradicional de supervisão dos órgãos de fiscalização, em 2015 o GAFI classificou as transações P2P e via DEX como de alto risco e, desde então, há um movimento regulatório para a abordar riscos relacionados, por entender que este tipo de transação oferece a atores ilícitos um método ideal para transferir fundos. Entretanto, imperioso destacar que o GAFI abandonou sua posição quanto às transações peer-to-peer, depois das críticas bem fundamentadas de muitos players da indústria e organismos internacionais, decidindo não estender suas diretrizes a usuários individuais de ativos virtuais, ou recomendar uma fiscalização direta pelos governos das transferências P2P, optando por uma abordagem diferente. O GAFI passou a recomendar aos países que considerem administrar os riscos relacionados às transferências P2P, mas através de uma regulação que estipule como intermediários devem interagir com carteiras não custodiais. Considerações finais O fato de uma transação estar fora da esfera "tradicional" de controle estatal não a torna necessariamente ilícita, nem significa impossibilidade de fiscalização.  Restringir, total ou parcialmente, a autocustódia, antes de dar ao aparato estatal tecnologia de ponta - como ferramentas de análise onchain25 - para o exercício da fiscalização, não nos parece o caminho mais acertado. Afinal, como exploraremos em detalhes no próximo artigo, não há como levar adiante a regulação de determinado setor ou mercado, sem antes uma discussão ampla e aprofundada sobre as tecnologias envolvidas, a arquitetura da internet - atual e em desenvolvimento26 -, bem como os possíveis impactos sob a ótica econômica, jurídica, política e social. ___________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Carteiras de armazenamento a frio, cold wallets, carteiras não custodiadas (por terceiro), carteiras "sem custódia", carteiras auto-hospedadas, ou, ainda, carteira de autocustódia. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Como vimos em artigo anterior, é incorreto falar em "saque" de criptomoedas ou stablecoins para carteiras digitais, eis que esses ativos nunca deixam a rede blockchain correspondente. Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Segundo a qual "os VASPs devem transmitir informações relevantes sobre o originador e o beneficiário", quais sejam: informar às autoridades o nome do originador e do beneficiário da transferência de criptoativos; informar às autoridades um endereço de carteira para cada um ou um número de referência de transação exclusivo; verificar informações relativas ao cliente, sempre que houver circunstâncias suspeitas relacionadas a lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo." Note que a INR 16 do GAFI já é exigida no Brasil desde 2019, através da Instrução Normativa da Receita Federal 1.888/19. 15 Como uma rede blockchain é um livro-razão transparente de transações. Você pode visualizar qualquer transação na rede blockchain, e essa é a base da análise onchain. Em outras palavras, as ferramentas de análise onchain extraem os dados relacionados às transações que ocorrem em determinada rede blockchain, ajudando tanto órgãos governamentais na fiscalização de eventuais atividades ilícitas, quanto prestadores de serviços de criptoativos a se manterem compliance e, ainda, investidores que desejam utilizar métricas onchain (extraídas de redes blockchain) para analisar o sentimento do mercado, ou se determinado criptoativo está em sobrecompra ou sobrevenda. 16 Disponível aqui. 17 Fedimint é o primeiro protocolo de dinheiro eletrônico apoiado pelo blockchain Bitcoin. Ele é uma estrutura para aplicativos federados cujo foco é criar uma federação de eCash (dinheiro eletrônico) que torne mais fácil manter e gastar bitcoins. Disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui. 21 Disponível aqui. 22 Disponível aqui. 23 Disponível aqui. 24 Chamadas também de transferências P2P ou ponto-a-ponto. "Uma rede peer-to-peer é aquela em que dois ou mais computadores compartilham arquivos e acessam dispositivos sem precisar de um servidor ou software de servidor" (Revoredo, Tatiana; In: Blockchain: Tudo o que você precisa saber, Amazon, 2019, pág. 123). 25 Idem Nota 14. 26 Disponível aqui.
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Diretrizes do GAFI para autocustódia

Introdução Para compreender este artigo, antes é necessário pontuar alguns conceitos como chaves públicas, chaves privadas, endereço público, custódia e transações de criptoativos. É o que faremos a seguir. Como funcionam as transações em uma rede blockchain Blockchain é a estrutura que possibilita as transações de criptoativos (criptomoedas, tokens e stablecoins) e funciona com dois tipos de chaves exigidas em todas as transações. Uma chave pública, que se parece com um número de conta bancária, e outra, privada1, composta por até 78 números aleatórios ou 256 bits na linguagem computacional que pode ser comparada ao PIN ou a uma senha de banco. Um bitcoin, por exemplo, é a representação de uma unidade monetária na rede de blockchain bitcoin sem qualquer vínculo ao mundo físico. Uma unidade de bitcoin é identificada na rede blockchain por uma chave pública, uma chave privada e um endereço público2, e essas três informações possibilitam que as criptomoedas sejam transacionados na rede.  A chave privada é, portanto, uma espécie de senha que possibilita a seu detentor assinar as transações na rede blockchain e enviar bitcoins ou outro criptoativo para um terceiro. Ela possibilita as transferências de uma pessoa para outra e, deste modo, quem possuir a chave privada de determinado criptoativo pode enviá-los para quem quiser3. Aqui, vale destacar que os criptoativos nunca "deixam" de uma rede blockchain. É incorreto falar em "armazenamento de criptoativos em carteiras digitais". Como assim? Espécies de custódia  Basicamente, há duas espécies de custódia: a autocustódia e a custódia por terceiros. Na custódia por terceiro, você confia a uma empresa - como a Coinbase ou a Anchorage, entre outras - para armazenar as chaves privadas de seus criptoativos e, quando solicitados, assinam as transações por você. Já na autocustódia, você realmente tem o controle total de seus criptoativos, porque é você quem guarda sua própria chave privada. Como? O armazenamento das chaves privadas é feito através de carteiras digitais de armazenamento a frio - as famosas hardwallets, cold wallets, carteiras não custodiadas (por terceiro), carteiras "sem custódia", carteiras auto-hospedadas, ou, ainda, carteira de autocustódia4. Armazenamento à frio porque elas não ficam conectadas à internet, apenas quando necessário para assinar uma transação de criptoativos na rede blockchain.   Esta é a origem do jargão popular do mundo cripto "Not Your Keys, Not Your Bitcoin" - sem suas chaves privadas, sem seu bitcoin. Se você não controla a chave privada, suas criptos não lhe pertencem de fato.  O principal desafios e as vantagens da autocustódia O principal desafio da autocustódia é que você pode perder seus criptoativos se não armazenar corretamente sua chave privada. De outro lado, as carteiras de autocustódia oferecem certas vantagens sobre os custodiantes centralizados (custódia por terceiro).  Em primeiro lugar, elas eliminam a necessidade dos usuários confiarem seus fundos a terceiros - o que reduz riscos de hacks, perda de fundos por falência dos custodiantes, como ocorreu no caso da Mt. Gox5 e da FTX6, e outras violações de segurança. Em segundo lugar, elas dão aos usuários o controle sobre seus fundos e chaves privadas, permitindo que eles façam transações diretas com seus criptoativos - criptomoedas, tokens e stablecoins -  em protocolos descentralizados em DeFi e Web3. Outra vantagem das carteiras de autocustódia é a crescente demanda por privacidade e segurança. Com a crescente violação de dados e prevalência da vigilância, cada vez mais pessoas têm adquirido consciência da importância de proteger suas informações pessoais e seu rastro financeiro.  Esclarecidos os principais pontos relacionados a chaves públicas, chaves privadas, endereço público, custódia e transações de criptoativos, vejamos o cenário regulatório global relativo à autocustódia. Recomendações do GAFI para carteiras auto-hospedadas e transações peer-to-peer A FATF - Força-Tarefa de Ação Financeira, mais conhecida no Brasil como GAFI, é uma organização intergovernamental criada em 1989 pelo G7 para desenvolver e promover políticas destinadas a combater a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo.  Como um órgão global de definição de padrões, o GAFI emite diretrizes e recomendações que os países membros são incentivados a implementar para aprimorar suas estruturas de AML e CFT. Ao abordar as questões de carteiras sem custódia e transações P2P - peer-to-peer, o GAFI reconhece riscos exclusivos associados a essas tecnologias. As carteiras de autocustódia podem ocultar as identidades dos indivíduos envolvidos nas transações e as origens dos fundos. Da mesma forma, as transações peer-to-peer (P2P, ponto a ponto), que ocorrem diretamente entre usuários sem intermediários, não estariam sujeitas aos mesmos controles de AML/CFT que as transações facilitadas por entidades regulamentadas. A abordagem do GAFI enfatiza uma metodologia baseada em risco, instando os países a avaliar e mitigar os riscos apresentados por essas tecnologias.   Embora as transações P2P não sejam diretamente regulamentadas de acordo com os padrões do GAFI, a organização incentiva os Estados membros a implementar medidas que aumentem a transparência e a supervisão dos VASPs - provedores de serviços de ativos virtuais e a desenvolver ferramentas para monitorar as atividades P2P.  Isso inclui o uso de análises de blockchain para identificar e avaliar os riscos associados a carteiras sem custódia (hardwallets) e para garantir que os controles adequados estejam em vigor para evitar atividades ilícitas. Por meio desses esforços, o GAFI busca fortalecer a resposta global ao crime financeiro e, ao mesmo tempo, adaptar-se ao cenário em evolução dos ativos digitais.  Os pontos a seguir resumem a abordagem do GAFI em relação às carteiras sem custódia e às transações peer-to-peer: As diretrizes destacam que o uso de carteiras sem custódia pode ocultar as identidades dos indivíduos envolvidos nas transações e a origem ou destino dos fundos. Isso é identificado como um sinal de alerta para possíveis atividades de lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo; As diretrizes especificam que as transações P2P não estão sujeitas a controles de AML/CFT de acordo com os padrões do GAFI, pois as obrigações são impostas aos intermediários e não aos indivíduos. Isso indica uma lacuna regulatória em relação às transações diretas entre indivíduos; As diretrizes descrevem os fatores de risco associados aos ativos virtuais, incluindo o uso de carteiras sem custódia. Observa-se que as transações que envolvem entidades não obrigadas (por exemplo, carteiras sem custódia) e transações P2P anteriores podem apresentar riscos maiores; O GAFI recomenda que os países desenvolvam metodologias e ferramentas, como a análise de blockchain, para avaliar as métricas do mercado P2P e as soluções de mitigação de risco. Isso inclui determinar se as carteiras são hospedadas ou auto-hospedadas, o que está relacionado ao uso de carteiras sem custódia; As diretrizes sugerem a implementação de medidas para uma supervisão aprimorada e contínua baseada em riscos dos VASPs e controles para facilitar a visibilidade da atividade P2P. Isso inclui a exigência de que os VASPs facilitem apenas transações de e para endereços considerados aceitáveis, o que pode envolver o exame minucioso das transações de carteiras sem custódia. De modo geral, o GAFI enfatiza os riscos associados às carteiras sem custódia e às transações P2P, ao mesmo tempo em que delineia os desafios regulatórios e as recomendações para lidar com esses riscos dentro da estrutura AML/CFT. Pois bem, com base nas recomendações do GAFI, os reguladores começaram a criar estruturas regulatórias voltadas para autocustódia e transações peer-to-peer. É o que veremos no próximo artigo.____________ 1 Disponível aqui. 2 Idem nota 1. 3 Disponível aqui. 4 Que permitem aos usuários controlar suas próprias chaves privadas e fundos sem depender de terceiros. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Mercados de previsão na mira regulatória

"Mercados de previsão em blockchain, que ganharam popularidade durante as eleições nos EUA, estão na mira de reguladores dos EUA, França, Singapura, Tailândia e Taiwan". Contexto Os mercados de previsão estão se tornando uma ferramenta de alcance significativo no ecossistema blockchain, oferecendo uma maneira exclusiva de prever eventos e reunir percepções por meio da participação descentralizada. Para se ter uma idéia, a Polymarket - a maior plataforma de previsão de mercado em blockchain - no início de outubro de 2024 ultrapassou U$ 1 bilhão de dólares1 em volume de negócios mensal, chegando a alcançar US$ 6,8 milhões de volume mensal de negociação no mês seguinte, o que demonstra a rapidez com que o Polymarket chegou ao centro das atenções. Contudo, países em diversas partes do mundo tomaram medidas para bloquear plataformas de mercados de previsão, aumentando os obstáculos regulatórios. Eis o que veremos neste artigo. Mas para compreender a razão para o endurecimento de alguns países com a Polymarket, é importante saber o que são mercados de previsão e como operam essas plataformas de previsão de mercado. Panorama geral dos mercados de previsão 1. O que são mercados de previsão Os Prediction Markets [Mercados de Previsão] são plataformas em que os indivíduos podem fazer apostas sobre os resultados de eventos do mundo real.  Esses mercados operam com base no princípio da inteligência coletiva - em que a agregação de previsões individuais pode levar a previsões precisas. Eles se assemelham a jogos de azar, em que os participantes "apostam" na probabilidade de ocorrência de eventos específicos. Esses eventos podem variar de eleições políticas a resultados esportivos e previsões financeiras. 2. Tipos de mercados de previsão existentes Muitos mercados de previsão são construídos em redes descentralizadas [P2P]2 que permitem operações automatizadas e sem intermediários, por meio de contratos inteligentes3, e que utilizam criptomoedas4 na plataforma.  Como exemplo, temos a plataforma Polymarket5 - que utiliza a rede blockchain Polygon6  -, e o BeT on Drift7 - na blockchain Solana8. Mas é bom ressaltar que também existem mercados de previsão populares fora do mundo blockchain, como o PredictIt9, para a criação de mercados sobre política dos EUA, e o Iris Vector10, para apostas sobre o clima e desastres naturais. 3. Vantagens e desafios dos Mercados de Previsão Dentre as vantagens dos mercados de previsão, especialmente aqueles em plataformas descentralizadas, oferecem transparência, resistência à censura e a capacidade de integração com outros aplicativos blockchain. Mas os mercados de previsão também possuem alguns desafios a serem enfretrados como, por exemplo, baixa liquidez, parcialidade do usuário e possível manipulação do mercado. Outro ponto é que plataformas de mercados de previsão em redes descentralizadas não são muito fáceis de usar para quem não tem familiaridade com criptomoedas, sem falar nos desafios regulatórios. 4. 'Prediction Markets' estão em evidência Plataformas como a Polymarket ganharam atenção por seu papel na previsão de eventos políticos, com volumes de negociação e envolvimento de usuários significativos. Um exemplo de como mercados de previsão podem surpreender foi a retirada da candidatura de Biden das eleições presidenciais em 2024. Em setembro de 2023, a Polymarket estimou as chances de Joe Biden se retirar da corrida em 22%, percentual bem acima das pesquisas tradicionais e das opiniões de especialistas.  À medida que o meio do ano avançava, apesar das garantias públicas da campanha de Biden de que continuaria na disputa, os mercados de previsão continuaram a ajustar suas chances de continuar na disputa eleitoral para baixo. Em julho de 2024, a previsão se mostrou precisa - Biden se retirou oficialmente da disputa11. Dentre os recentes desenvolvimentos na plataforma de previsão Polymarket, quando olhamos para os volumes de negociação, o grande destaque foi sem dúvida a mudança significativa nas probabilidades eleitorais favorecendo Trump (60,6%) em relação a Harris (39,3%)12. E essa mudança surpreendeu bastante na época, principalmente porque não houve nenhuma notícia correspondente entre agosto e outubro de 2024 que a justificasse. De outro lado, também o endosso13 de Elon Musk aos mercados de previsão, classificando-os como mais confiáveis que as pesquisas eleitorais, chamou ainda mais a atenção para o Polymarket.  Mas é bom lembrar que "hoje", quando falamos em mercados de previsão, como o próprio nome diz, estamos falando de probabilidades, e não necessariamente da verdade real - como vimos na recente polêmica envolvendo "Money Eletric: The Bitcoin Mystery", documentário da HBO14 que deu um golpe nos mercados de previsão.  O endurecimento regulatório à Polymarket As críticas à ética que envolve os mercados de previsão também estão aumentando. Entre as apostas mais populares da Polymarket estavam várias ligadas à propagação de incêndios florestais na Califórnia, atraindo a repreensão daqueles que argumentaram que seus usuários estavam lucrando com uma tragédia nacional15. Dentre as previsões mais novas e mais populares na terça-feira estavam o número de vezes que Elon Musk publicará no X esta semana, se a cidade de Nova York revogará seu controverso regime de preços de congestionamento16 até o verão ou se Donald Trump comprará a Groenlândia. À medida que sua popularidade disparou, também aumentou o escrutínio regulatório, incluindo restrições na França e em Taiwan e uma investigação em andamento pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA. Na França, a Autoridade Nacional de Jogos começou a investigar o Polymarket no final de 2023. As autoridades francesas confirmaram17 que a Polymarket não está autorizado a operar no país, o que levou ao bloqueio do acesso dos usuários franceses após a investigação. Taiwan, que vem mudando sua abordagem regulatória após o colapso da FTX18, também tomou medidas antecipadas contra a Polymarket, banindo a plataforma desde agosto de 2023. O governo citou preocupações em relação a operações de jogos de azar não autorizadas19. O Federal Bureau of Investigation [FBI] executou um mandado de busca contra o CEO da Polymarket, Shayne Coplan, em novembro, como parte de uma investigação criminal para saber se a startup havia contornado essa proibição20. Em dezembro de 2024, a Autoridade Reguladora de Jogos de Singapura bloqueou o acesso ao Polymarket, pois foi considerado que ele estava oferecendo jogos de azar ilegais. E usuários de mídias sociais relataram ter perdido o acesso ao site no último dia 17 de janeiro21. De outro lado, na Tailândia, as autoridades policiais estão se preparando para propor uma proibição semelhante. Isto porque, se descobriu que a Polymarket estava oferecendo jogos de azar on-line ilegais no país porque usa criptomoeda para negociações e apostas, como disse a polícia local em um comunicado22. Desde então, essa empolgação diminuiu, com uma queda significativa nos volumes e nos juros abertos. Para se ter uma idéia, os juros em aberto no Polymarket [que aqui significa o valor de todos os mercados não resolvidos em um determinado dia], contudo, tiveram uma piora no desempenho, caindo 77% entre 6 de novembro e segunda-feira [20 de janeiro]23. Mas não apenas a Polymarket está na mira regulatória. Os órgãos reguladores federais nos EUA estão analisando a negociação de contratos futuros da Crypto.com que permitem que os investidores apostem em grandes eventos esportivos, incluindo o Super Bowl. Também a Kalshi enfrentou críticas por oferecer contratos vinculados ao assassinato do executivo do United Health Group Inc., Brian Thompson, no mês passado24. Apesar das críticas, contudo, principal rival da Polymarket está começando o ano com uma vantagem competitiva. Os americanos têm permissão para usar a plataforma graças a uma vitória legal25 sobre a CFTC26 em setembro. E com o retorno de Trump à Casa Branca, seu filho Donald Trump Jr. anunciou que Kalshi o contratou para assessorá-lo em sua estratégia e expansão futuras27. Perspectivas Talvez, hoje, os mercados de previsão ainda não sejam 100% (cem por cento) uma fonte segura de informações, principalmente se os maus atores dominarem esses mercados, oferecendo acesso a jogos de azar ilegais. E nesse sentido, é importante a atuação de reguladores para impedir que esse tipo de uso se prolifere. Todavia, banir "hoje" todos os mercados de previsão por conta do mal uso de algumas plataformas pode comprometer uma inovação que pode ser muito importante à sociedade. Isto porque, inovações como integração de inteligência artificial28 e futarchy - uma forma de governança proposta29 pelo economista Robin Hanson, que combina mercados de previsão com tomada de decisões democráticas - estão sendo explorados para aumentar a eficiência e o escopo dos mercados de previsão.  Não são poucos os que defendem que mercados de previsão podem se tornar fontes de informações confiáveis, funcionando como "máquinas da verdade". __________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui. 21 Disponível aqui. 22 Disponível aqui. 23 Disponível aqui. 24 Disponível aqui. 25 Disponível aqui. 26 Disponível aqui. 27 Disponível aqui. 28 Disponível aqui. 29 Disponível aqui.
Contexto As notícias da eleição presidencial americana - que já estavam impulsionando as flutuações de bitcoin nos últimos meses - fez o preço da primeira criptomoeda ultrapassar o marco de US$ 100 mil e bater mais de US$ 108 mil após a eleição de Donald Trump, demonstrando como os investidores acreditam que o resultado pode afetar o futuro do setor.  Mas a legislação relativa a criptoativos nos EUA começa no Poder Legislativo1.  No dia 3/1/25, teve início a 119ª sessão do Congresso dos EUA. Os políticos prometeram clareza sobre os requisitos regulatórios para stablecoins, uma estrutura para decidir se as empresas que oferecem produtos e serviços relacionados a cripto serão supervisionadas principalmente pela CFTC ou pela SEC, bem como estabelecer de uma reserva nacional de bitcoin para os Estados Unidos2 3 4. Nessa linha, para que o setor veja um progresso real, certos comitês do Senado e da Câmara têm importância ímpar nos Estados Unidos.  Tendo isto em conta, neste artigo exploraremos cada um dos comitês do Poder Legislativo americano, cujo papel é crucial na elaboração da legislação de criptoativos dos Estados Unidos. Antes, contudo, vejamos como republicanos e democratas escolhem quem é colocado na presidência desses comitês. Regras do comitê republicano vs. democrata  Como regra geral, o atual presidente de um comitê permanece no cargo se o seu partido continuar a controlar cadeiras relevantes no Congresso. Se o controle da Casa Legislativa mudar, o membro mais antigo do partido, também conhecido como "the ranking member" (membro classificado), normalmente se torna presidente. Mas republicanos e democratas têm processos muito diferentes para decidir quem é colocado nas funções principais dos comitês.  A liderança democrata é bastante previsível, pois, em geral, as indicações para os comitês seguem a regra da antiguidade. Isto é, se o membro mais experiente se aposenta ou perde a eleição, o próximo mais experiente assume seu lugar. No entanto, isso às vezes pode se complicar quando o próximo membro mais experiente escolhe presidir um comitê diferente - os congressistas não podem comandar vários comitês ao mesmo tempo. Os republicanos, por sua vez, só permitem que um político seja the "ranking member" (membro presidente) de um comitê por um total de seis anos. Eles também consideram mais fatores ao escolher quem liderará seu partido em um comitê -  levando em conta, por exemplo, o estilo político, o relacionamento com outros membros do partido e a capacidade de captação de recursos.  De todo modo, não existe uma fórmula rígida, e os parlamentares votam por voto secreto5.  Neste contexto, o procedimento de cada partido, para decidir quem é colocado nas funções principais dos comitês, têm seus prós e contras.  Enquanto o processo do partido Democrata eleva os políticos mais experientes - o que pode tornar a liderança menos sensível à dinâmica do partido, e criar obstáculos para o partido renovar e trazer jovens políticos -, o procedimento dos republicanos abraça renovação e incentiva os políticos a construirem relacionamentos - mas pode colocar o partido em uma situação difícil quando o melhor candidato a presidente simplesmente envelhece.  The Senate Banking Committee  The Senate Banking Committee (Comitê do Senado para Assuntos Bancários, Habitacionais e Urbanos) focou muita atenção no setor cripto este ano porque, juntamente com seu homólogo da Câmara dos Deputados, the Financial Services Committee, supervisiona a SEC (a CVM dos Estados Unidos).  Como o nome sugere, sua competência também inclui legislação relacionada a bancos, controles de preços, seguro de depósito, política monetária federal e tópicos relacionados. Muitas das leis que se originaram desse comitê são aplicadas à industria cripto, e os projetos de lei relativos à estrutura do mercado de criptoativos também passarão por esse comitê. Tai inclui projetos de lei como o FIT21 - the Financial Innovation and Technology for the 21st Century Act6 e a legislação relativa a stablecoins7. No governo do presidente Biden, o senador democrata pelo Estado de Ohio, Sherrod Brown, era o presidente do comitê bancário do Senado - e ele foi bastante hostil ao setor cripto, votando contra legislações importantes - como a que anula o SAB 121 -, e focando suas declarações8 no uso de criptoativos de forma ilícita.  Contudo, em uma disputa acirrada para representar o Estado de Ohio no Senado, Sherrod Brown foi derrotado9 pelo candidato republicano apoiado por Donald Trump, Bernie Moreno - que é visto como apoiador do setor cripto por ter criado um negócio de rastreamento da propriedade de veículos baseado em blockchain, e pelas várias declarações a favor do mercado cripto.  Nesta mudança de cenário, Tim Scott, senador da Carolina do Sul, tornara-se presidente do comitê bancário do Senado. Ele apoia10 abertamente o setor de criptoativos, votou a favor da resolução para derrubar o SAB 121, copatrocinou a lei de oportunidades iguais para todos os investidores - que expandiu a definição de um investidor credenciado -, além de ser crítico feroz de Gary Gensler, ex-presidente da SEC.  The House Financial Services Committee  The House Financial Services Committee (Comitê de Serviços Financeiros da Câmara), como contraparte do the Senate Banking Committee (Comitê Bancário do Senado), também é crucial para o setor cripto. O FIT2111 teve início no Comitê de serviços financeiros da Câmara em 2024, antes de ser aprovado pelo Congresso.  Também é provável que a legislação relativa a stablecoin seja originada, e  impulsionada com o apoio do deputado pela Carolina do Norte, Patrick McHenry, presidente da comissão até dezembro de 2024.  O substituto de McHenry será um deputado do Arkansas, French Hill12 - ex-banqueiro que trabalhou no departamento do tesouro dos EUA, e superou três outros republicanos para ganhar o martelo do comitê de serviços financeiros, uma posição a partir da qual ele planeja impulsionar um reposicionamento político maciço do governo Biden13.  Hill assumiu14 publicamente o compromisso de que os dois primeiros projetos de lei que ele priorizaria como presidente seriam sobre stablecoins e estrutura de mercado cripto - duas iniciativas importantes para o setor.  The Senate and House Agriculture Committees  The Senate and House Agriculture Committees (Comitês de Agricultura do Senado e da Câmara) são importantes para o setor cripto porque são responsáveis pela supervisão da CFTC15 (Comissão de Negociação de Futuros e Commodities) dos EUA. Ambos desempenhariam um papel significativo em um projeto de lei de estrutura de mercado que concedesse à CFTC qualquer parcela de autoridade regulatória sobre o mercado de criptomoedas, além de terem o poder de incentivar a CFTC a adotar uma postura mais agressiva ou relaxada em relação à indústria cripto.  Aqui, é bom destacar que os membros desses comitês estão ansiosos para abordar as criptomoedas como uma questão importante, porque este "é um assunto politicamente mais empolgante que o foco principal desses comitês, a agricultura"16.  No Senado, até o final de 2024, o setor cripto contava com uma importante aliada no comitê de agricultura do Senado, a senadora democrata pelo Estado do Michigan, Debbie Stabenow, relatora de um projeto de lei no início de 2024 que expande o papel da CFTC na regulamentação do mercado cripto17, mas que está se aposentando18.  Como o partido Republicano obteve o controle do Senado, o membro mais votado, o parlamentar pelo Estado do Arkansas John Boozman, tornar-se-á presidente do comitê da agricultura no Senado. Bozzman sempre apoiou19 que a CFTC regulasse os ativos digitais e há rumores de que esteja trabalhando20 com Stabenow em seu projeto de estrutura de mercado.  O comitê de agricultura da Câmara, pelos motivos mencionados acima, também é crucial para a legislação cripto nos EUA, possui um subcomitê sobre mercados de commodities, ativos digitais e desenvolvimento rural, que, entre suas outras responsabilidades, trabalha com legislação relacionada a corretoras de commodities digitais e supervisão da CFTC.  Como o partido Republicano agora detém o controle da Câmara, o presidente do comitê de agricultura da câmara continuará sendo o deputado Glenn "GT" Thompson21, da Pensilvânia. Thompson tem apoiado muito o setor cripto, adiantando-se ao propor22 um projeto de lei para uma estrutura de mercado cripto em 2021.  Mais complicado, no entanto, é a presidência do subcomitê. Como Thompson continuará como presidente do comitê na Câmara, o atual presidente do subcomitê, o deputado Dusty Johnson, de Dakota do Sul, deve manter seu cargo.  The Senate Finance Committee and House Ways  The Senate Finance Committee (Comitê de Finanças do Senado) e and the House Ways Committee (Comitê de Formas e Meios da Câmara] ditam a política tributária - e com a lei de cortes de impostos e empregos promulgada pelo ex-presidente Donald Trump expirando em 2025, esses comitês estão no centro das atenções no início da 119ª sessão do Congresso dos EUA. Um imposto sobre ganhos de capital não realizados é a maior questão à qual o lobby do setor cripto se opõe23.  Quanto à liderança do comitê de finanças do Senado, o senador republicano pelo Estado de Idaho, Mike Crapo, será o presidente. Crapo não fez do setor cripto uma parte central de sua identidade política porque não é uma questão eleitoral importante em seu Estado natal, mas ele tem apoiado discretamente24 a legislação tributária que apoia as prioridades da indústria cripto.  Com relação ao The House Ways and Means Committe (Comitê de Formas e Meios da Câmara), é importante para a política tributária, assim como o comitê de finanças do Senado.  Também vale a pena observar que os próprios projetos de lei sobre impostos costumam ser um apanhado de prioridades políticas díspares, exigindo muitos compromissos e negociações entre os comitês da Câmara e do Senado antes de irem para votação em plenário. Se uma política tiver um componente significativo de aumento de receita, o comitê de formas e meios da câmara assume a liderança. Como os republicanos controlam a Câmara, o deputado Jason Smith, do Estado do Missouri, permanecerá como presidente. Embora ele não tenha falado muito sobre cripto publicamente, ele sempre votou25 em apoio às leis que o setor apoia.  Perspectivas Antes das the midterms americanas (eleições de meio de mandato), como os membros do Congresso não enfrentam nenhuma deadline, provavelmente o Senado dos EUA estará ocupado debatendo as confirmações de nomeações políticas presidenciais polêmicas nos primeiros dois meses. E o Congresso como um todo estará ocupado com as prioridades da campanha de Trump, como controle de fronteiras e política tributária26. Se a CFTC receber autoridade para supervisionar o setor na legislação de estrutura de mercado, por exemplo, poderá levar meses para projetar e implementar um novo conjunto de regras, mesmo que alguém com experiência na agência, como o ex-comissário Brian Quintenz ou a atual comissária Summer Mersinger, seja escolhido como presidente.  Neste contexto, considerando que o processo de criação normativa leva em torno de 18 meses27, pode levar mais de um ano para que algumas das mudanças articuladas na legislação relativa ao mercado cripto se tornem realidade28.  De todo modo, saber como funciona o procedimento de cada partido, para decidir quem é colocado nas funções chaves dos principais comitês do Poder Legislativo, e conhecer quem bate o martelo em cada comissão já é meio caminho andado para ter uma idéia do que esperar do cenário legislativo relativo a criptoativos nos EUA. 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 O sócio geral da Castle Island Ventures, Nic Carter, disse à Bloomberg no mês passado que não acreditava que um número suficiente de membros do Congresso estivesse a bordo para que tal projeto de lei fosse aprovado. Disponível aqui. 4 A fundadora e CEO da Digital Chamber, Perianne Boring, disse à Reuters que achava que esse projeto de lei poderia ser aprovado, embora não nos primeiros 100 dias. Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui.  7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui.  17 Disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui. 21 Disponível aqui. 22 Disponível aqui. 23 Disponível aqui. 24 Disponível aqui. 25 Disponível aqui. 26 Disponível aqui. 27 Disponível aqui. 28 Disponível aqui.
Contexto atual Atualmente, a Índia tem uma grande economia e em rápido crescimento, uma força de trabalho tecnológica altamente qualificada com líderes experientes, uma população jovem numerosa e crescente e a segunda maior população de língua inglesa do mundo.1 Com quase 12% de todos os desenvolvedores de aplicações blockchain2 e Web33 do mundo - o que a torna a segunda maior base de desenvolvedores depois dos Estados Unidos -, a Índia possui uma base maciça de fundadores da Web3 que se reflete na força do ecossistema de startups indiano. Não à toa, a Índia está prestes a assumir a liderança global no espaço da Web3, sendo impedida, contudo, por dois fatores críticos que a estão impedindo: A falta de conscientização sobre a importância e inevitabilidade da Web3 e a ausência de uma estrutura regulatória facilitadora para tecnologias Web3 e criptoativos.4 A evolução da regulação cripto na Índia Quanto à regulação relacionada ao mercado de criptoativos, este é um tema que vem sendo debatido há muito tempo pelas autoridades indianas, que adotaram uma postura inicial rígida sobre o assunto. Os primeiros comunicados emitidos pelo Banco Central da Índia [RBI] em 2013 e 2017, advertiam "usuários, proprietários e traders" de que nenhuma empresa na Índia estava autorizada a prestar serviços relacionados a criptomoedas.5 Em 2018, o RBI proibiu as instituições financeiras de prestarem serviços relacionados a criptoativos, proibição esta que foi derrubada pela Suprema Corte indiana em 20206. Em 2022, com o objetivo de monitorar as transações cripto e desencorajar o comércio especulativo e garantir uma receita fiscal estável, a Índia introduziu uma mudança significativa em sua política tributária, criando um imposto de 1% deduzido na fonte sobre a transferência de criptoativos, juntamente com um imposto fixo de 30% sobre a renda dessas transações.7 Até meados de 2024, o governo indiano continuou a criar barreiras regulatórias ao mercado de criptoativos na Índia, proibindo, por exemplo, as principais corretoras cripto estrangeiras de se instalarem no país sob a justificativa de não conformidade com as políticas de combate à lavagem de dinheiro. Todavia, análises recentes mostraram que tais objetivos não foram atingidos8, além do que a Índia se tornou a atual líder global de adoção de criptoativos9. Talvez, por conta disso, o ministro das Finanças indiano, Shri Pankaj Chaudhary tenha emitido um comunicado10 - em resposta à "Lok Sabha Unstarred Question 3418 on VDA - Virtual Digital Assets Regulation" -, para tratar das principais preocupações com criptoativos, afirmando que o governo indiano pretende estabelecer uma nova estrutura regulatória abrangente para o setor blockchain-cripto. É o que veremos mais a fundo a seguir. A nova proposta indiana de estrutura regulatória para criptoativos Segundo aludido comunicado11, um documento de discussão será publicado para delinear as posições regulatórias da Índia - refletindo o esforço da Índia para equilibrar a inovação com a supervisão regulatória -, mas não há um cronograma específico definido. Tal estrutura normativa faz parte da estratégia mais ampla da Índia para se integrar aos padrões globais e, ao mesmo tempo, promover um ambiente seguro e inovador para ativos digitais. Ainda, diz o comunicado que a nova proposta teria como objetivo abordar a supervisão, proteção ao investidor, riscos de comércio internacional, monitoramento de mercado e alinhamento regulatório global. No tocante à conformidade regulatória, o ministro aponta que o mercado de criptoativos na Índia já está sujeito à PMLA - Lei de Prevenção à Lavagem de Dinheiro desde 7/3/23, marcando uma mudança regulatória significativa. Quanto à tributação de criptoativos, eventual lucro obtido com criptomoedas e tokens deve ser tributado de acordo com a lei do imposto de renda de 1961. Com relação aos demais aspectos, eles já são disciplinados pela lei de tecnologia da informação de 2000 e pela lei das empresas de 2013. Por fim, o comunicado enfatiza que os VDAs são inerentemente sem fronteiras e exigem colaboração internacional para evitar a arbitragem regulatória. Também observa que uma regulamentação eficaz depende de esforços globais coordenados, como os descritos no documento de síntese do FMI-FSB adotado durante a presidência indiana do G20. Perspectivas atuais e futuras Discussões contínuas com líderes de mercado e organizações globais estão moldando o cenário regulatório na Índia para garantir a estabilidade do mercado e a segurança do investidor. Apesar dos atuais desafios regulatórios, a Índia tem o potencial de liderar e se tornar um exemplo global no espaço blockchain, cripto e Web3, com inovação e colaboração contínuas. Neste contexto, a iniciativa de uma regulamentação mais clara e mais favorável veio em boa hora, podendo transformar o cenário de negócios do país, favorecendo o desenvolvimento próspero e evitando a fuga de empreendedores para novas jurisdições - motivada12 principalmente pelas duras e opacas condições fiscais. De modo geral, embora a busca por uma nova estrutura regulatória apresente desafios, ela também oferece oportunidades de crescimento e inovação na Índia, especialmente no ecossistema de startups relacionadas a aplicações blockchain, cripto e Web3. 1 Disponível em: https://www.hashedem.com/public/uploads/reports/1667628521064.pdf/ 2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui  4 Idem Nota 1 5 Disponível aqui. 6 Idem Nota anterior. 7 Disponível aqui. 8 Idem Nota anterior. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Idem Nota anterior 12 Disponível aqui.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

UE: atrasos na implementação da MiCA

Contexto MiCA1 é a estrutura regulatória de criptomoedas mais abrangente que existe até agora sobre o mercado de criptoativos no mundo, e sua implementação total está prevista para entrar em vigor em 30 de dezembro de 2024. Contudo, vários estados-membros da União Européia, incluindo Bélgica, Chipre, Irlanda, Itália, Lituânia, Malta, Polônia, Portugal, Luxemburgo e Romênia, ainda não adaptaram suas leis locais para implementar o MiCA. Por que isto é importante? Para que a regulamentação seja aplicada em toda a União Européia, apesar de ter sido aprovada pelo Parlamento Europeu, os países precisam alinhar as leis locais com os requisitos operacionais necessários à total implementação definitiva da Markets in Cripto Assets [MiCA]. Assim, esse atraso na implementação da estrutura regulatória pelos Estados-Membros do bloco europeu pode desacelerar o ímpeto cripto na União Européia por algum tempo, levando projetos, investimentos e empregos para outras jurisdições como, por exemplo, Hong Kong2 e Emirados Árabes Unidos3. Requisitos operacionais para a MiCA entrar totalmente em vigor 1. Estrutura organizacional: Estruturas de governança robustas, incluindo estruturas organizacionais claras e procedimentos eficazes. 2. Proteção dos ativos dos clientes: Medidas para proteger os criptoativos dos clientes, incluindo protocolos de segregação e segurança. 3. Tratamento de reclamações: Estabelecimento de procedimentos para o tratamento imediato e justo das reclamações dos clientes. 4. Políticas de conflito de interesses: Identificação e gerenciamento de possíveis conflitos de interesse. 5. Terceirização: Obrigações para garantir que os acordos de terceirização não prejudiquem a qualidade dos controles internos e a capacidade das autoridades de supervisão de monitorar a conformidade. Regras de transição até a entrada em vigor As disposições transitórias da MiCA estabelecem um período de anterioridade e as hipóteses de exclusão nacional. Isto significa que os CASPs [também conhecidos como VASPs, Virtual Asset Service Providers], que já prestam serviços de acordo com as leis nacionais existentes, podem continuar operando até 31 de dezembro de 2025 ou até receberem autorização nos termos da MiCA - o que ocorrer primeiro. Também, significa que os estados membros podem optar por não participar do período de proteção, exigindo conformidade antecipada. O procedimento de implementação em duas etapas Após sua provação pelo Parlamento Europeu em 9 de junho de 2023, iniciou-se seu procedimento de implementação que é composto de duas fases. Etapa 1: Aplicação de regras relacionadas a stablecoins [ARTs4 e EMTs5] Etapa 2: Aplicação total da MiCA a outros ativos de criptografia e CASPs. A primeira etapa ocorreu em 30 de junho de 2024, quando os emissores de stablecoins tiveram que garantir a autorização correta para operar nos países do bloco. A segunda - cujo prazo final é em 30 de dezembro de 2024 - diz respeito aos Provedores de Serviços de Criptoativos (CASPs), como exchanges, provedores de carteiras [wallets] e custodiantes, e exige que tais empresas estejam registradas e sediadas em pelo menos um país da União Europeia para solicitar uma licença sob a MiCA que lhes permita operar comercialmente em todo o bloco europeu. As razões para o atraso na implementação Um grande problema para alguns reguladores nacionais está no prazo para o registro dos CASPs junto à autoridade nacional competente [NCA, National Competent Authority]. Devido ao curto período de tempo entre a data limite dessa segunda fase e o término da primeira fase em outubro - quando certos padrões técnicos regulatórios foram finalizados. Apenas dois meses é um tempo muito exíguo para os países lidarem com a documentação e toda a complexidade exigida e, no caso de alguns países como a Alemanha6, dificuldades geopolíticas agravam essa situação. Orientações adicionais à vista? No mês passado, alguns órgãos representativos da indústria, como Blockchain for Europe, the European Crypto Initiative, a Electronic Money Association e a International Association for Trusted Blockchain Applications [INATBA], enviou uma carta7 à ESMA8 para alertar sobre a dificuldade das  autoridades nacionais competentes [NCAs] conseguirem administrar os registros dos provedores de criptoativos até o deadline no final de 2024, o que é crucial para o lançamento de uma supervisão eficaz com base em um relacionamento regulatório bem estabelecido. Por isso, no documento, foi solicitada uma suspensão da atividade de execução para que as empresas que ainda não receberam autorização não incorram em sanções se continuarem operando. Tal pedido foi negado pela ESMA. Diante da falta de alternativas além do inevitável acúmulo de registros, algumas empresas poderiam ser forçadas a interromper suas operações e serviços relacionados a criptoativos na Europa. Para se ter uma ideia do que estamos falando aqui, as corretoras de criptomoedas na Europa já estão se preparando para retirar da lista - de negociação em suas plataformas - as stablecoins que não estão em conformidade local9, dado que a MiCA está próxima do prazo final de aplicação. A Coinbase Europe, a "Coinbase Germany" e a "Coinbase Custody International" retirarão de negociação o USDt da Tether em sua plataforma. Todavia, ontem, em uma reunião, a ESMA analisou o prazo final de implementação da MiCA, e muito provavelmente "orientações" adicionais sobre o cronograma serão divulgadas em breve. Perspectivas Faltando apenas três semanas, quase um quarto dos 27 países que constituem o bloco não estão prontos para cumprir todas as exigências da segunda fase de implementação da MiCA. Mesmo órgãos reguladores nacionais com uma estrutura avançada em criptoativos têm apontado o dedo para seus governos, culpando o procedimento legislativo como sendo o gargalo na implementação. O BaFIN, órgão regulador financeiro da Alemanha, por exemplo, já permite que instituições financeiras custodiem criptoativos sob uma estrutura que foi inicialmente baseada nas regras da MiFID (Markets in Financial Instruments). Mas agora, precisa se adequar aos padrões estabelecidos pela MiCA, percorrendo todo um processo político, que leva tempo, e não tem data certa para acabar. _____ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Asset-Referenced Tokens [ARTs] são tokens que mantêm um valor estável ao fazer referência a vários ativos. 5 Electronic Money Tokens [EMTs] são tokens que fazem referência a uma única moeda fiduciária. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 European Security Markets Authority, disponível aqui. 9 Disponível aqui.
Contexto Nos Estados Unidos, a senadora norte-americana pelo Estado de Wyoming, Cynthia Lummis, apresentou projeto de lei para estabelecer o que ela chamou de "reserva estratégica de bitcoins", um programa que instrui o Tesouro dos EUA e o Federal Reserve a comprarem um milhão de bitcoins nos próximos cinco anos para depois mantê-los por pelo menos mais 20 anos1.   Ao lançar essa proposta legislativa na última Bitcoin Conference em Nashville2, com apoio do então candidato Donald Trump, Lummis sugeriu alavancar o valor de mercado do bitcoin para reduzir significativamente a dívida nacional americana e aumentar a resiliência financeira3. Após a ideia ser impulsionada com a reeleição de Trump nos EUA, as discussões sobre uma Reserva Estratégica de Bitcoin - SBR (Strategic Bitcoin Reserve em inglês) ganharam peso em vários países, inclusive no Brasil. É isto que exploraremos a fundo no artigo de hoje. Conceito e motivação política    A ideia de uma SBR ganhou interesse bipartidário, com figuras como os candidatos à presidência Donald Trump e RFK Jr., bem como a senadora Cynthia Lummis propondo escalas variadas de aquisição de bitcoin para reforçar o caixa do Tesouro americano4. O conceito é visto como uma forma de reforçar o domínio monetário americano e combater adversários geopolíticos. O governo dos EUA já detém aproximadamente 212.847 bitcoins - $BTC por meio do confisco de ativos, e há sugestões para interromper a venda desses ativos e aumentar a reserva5. Consequências O estabelecimento de uma SBR dos EUA poderia influenciar significativamente as percepções globais do bitcoin de várias maneiras6. Primeiro, a adoção do bitcoin pelos EUA como um ativo de reserva estratégica poderia levar a uma legitimação do bitcoin como uma reserva digital de valor, semelhante ao ouro, e incentivar o investimento institucional e de varejo. Segundo, isso poderia transformar o bitcoin de um ativo especulativo em um componente central das economias nacionais, potencialmente levando a uma adoção global mais ampla. Em terceiro lugar, a adoção do bitcoin como reserva estratégica pelos EUA poderia levar a uma corrida global pelo bitcoin, com outras nações, como China e Rússia, possivelmente seguindo o exemplo para se proteger contra a hegemonia do dólar americano, gerando implicações geopolíticas significativas7 8. Ainda sob o aspecto geopolítico, uma SBR poderia proporcionar aos EUA uma vantagem estratégica na competição geopolítica, especialmente contra o bloco BRICS, que está explorando moedas digitais alternativas visando a desdolarização9. Sob o prisma da estratégia econômica, o suprimento finito e a natureza descentralizada da rede blockchain bitcoin são vistos como possíveis proteções contra a inflação e contra a desvalorização das moedas fiduciárias (euro, dolar, rublo, por exemplo), complementando as reservas tradicionais, como o ouro10. Logo, uma reserva de bitcoin poderia aumentar a estabilidade econômica americana11. Por fim, uma SBR poderia apoiar as metas climáticas dos EUA ao integrar a mineração de bitcoin com energia renovável, estabilizando a rede e incentivando a geração de energia renovável12. Reações do mercado A proposta provocou reações mistas, com alguns gerentes de ativos céticos quanto à sua viabilidade e possível impacto sobre o dólar americano13. No entanto, os proponentes argumentam que a fase de adoção do bitcoin justifica essas preocupações, e uma reserva estratégica serviria como um ativo estratégico, não especulativo. Uma SBR dos EUA, todavia, poderia levar outros países a considerar reservas semelhantes, marcando uma mudança significativa nas estratégias financeiras globais. Desenvolvimentos em outros países Alguns países que já estão planejando ou desenvolvendo uma SBR são: Butão O Butão acumulou discretamente mais de US$ 1 bilhão em reservas de bitcoin, posicionando-se como um modelo para nações menores que exploram a adoção de ativos digitais14. A estratégia do Butão envolve o aproveitamento de recursos energéticos para mineração de BTC. Catar e Emirados Árabes Unidos Há muita especulação sobre como outros países, como o Catar, os Emirados Árabes Unidos15 e, possivelmente, outros países da região, estão acumulando bitcoin ($BTC) como um ativo de reserva16. Hong Kong Johnny Ng, membro do Conselho Legislativo de Hong Kong, anunciou que seriam tomadas medidas para incluir o bitcoin nas reservas financeiras da região. Após destacar a importância da conformidade com as estruturas regulatórias nesse processo, Johnny Ng afirmou que a integração do bitcoin na estrutura financeira de Hong Kong é possível17. Polônia O candidato presidencial polonês Slawomir Mentzen anunciou planos para criar uma SBR se for eleito, com o objetivo de transformar a Polônia em um centro cripto com regulamentações de apoio18. Suíça Na Suíça, os defensores do bitcoin estão fazendo campanha para um referendo nacional para incluir o bitcoin nas reservas do Banco Nacional Suíço. Essa iniciativa requer 100 mil assinaturas e tem como objetivo alterar a Constituição suíça19. Venezuela A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, propôs a adoção do bitcoin como ativo de reserva nacional para combater o colapso econômico e a hiperinflação. Essa proposta é vista como um meio de estabilizar a economia e proteger os ativos nacionais20. Brasil e bitcoin como reserva estratégica Deputado apresentou um PL - PL 01/2421 - para o Brasil ter reservas de bitcoin ($BTC), sugerindo uma "aquisição planejada e gradual de  criptomoedas", limitando a participação do bitcoin a 5% das reservas internacionais.  Batizada de Reserva Estratégica Soberana de Bitcoins [RESBIt], a estratégia buscaria não só diversificar os ativos financeiros do Tesouro Nacional, mas também proteger as reservas contra flutuações cambiais e riscos geopolíticos, além de fomentar o uso da tecnologia blockchain no setor público e privado, de acordo com o deputado federal Eros Biondini (PL-MG), formulador do PL. Atualmente, as reservas do Brasil são formadas por uma cesta de moedas estrangeiras que, até 26 de novembro, correspondia a US$ 361,2 bilhões em reservas diversificadas da seguinte maneira: dólar (80%), euro, libra e outras moedas fiduciárias "fortes" (27%) e ouro (3%). Riscos associados A implementação de uma SBR por um país envolve riscos em potencial. Apesar do preço do bitcoin se valorizar no longo prazo, muitos analistas financeiros apontam riscos e desafios categorizados em fatores econômicos, regulatórios e geopolíticos. Quanto aos riscos econômicos, podemos citar a volatilidade e a associação de bitcoin como um ativo de especulação. O bitcoin é conhecido por sua alta volatilidade de preços. Em 2023, a volatilidade anual do bitcoin foi de aproximadamente 53,18%, com preços variando de um mínimo de US$ 35.789,11 a um máximo de US$ 94.178,20, representando uma faixa de preço de 163,15%22. Essa volatilidade pode representar um risco significativo para a estabilidade das reservas de um país dependendo do momento do ciclo do bitcoin. Outrossim, o bitcoin é frequentemente visto como um ativo especulativo. Daí porque, para alguns analistas, a possibilidade de oscilações significativas de preço pode levar a ganhos ou perdas substanciais, o que pode não ser adequado para as reservas estratégicas de um país que exigem estabilidade e previsibilidade23. Sob a ótica regulatória, os países enfrentam obstáculos legais e de conformidade ao integrar o bitcoin em seus sistemas financeiros. Por exemplo, há preocupações sobre a conformidade com os padrões internacionais, como as políticas Know-Your-Customer - KYC e Anti-Money-Laundering - AML. Ademais, muitas vezes há resistência política à adoção do bitcoin como um ativo de reserva. Os players tradicionais podem se opor a essas medidas devido ao possível impacto sobre o sistema financeiro existente. Além disso, o uso do bitcoin pode ser influenciado por tensões geopolíticas. Por exemplo, países como a Rússia e o Irã usaram o bitcoin para atenuar o impacto das sanções internacionais, o que poderia levar a um maior escrutínio e possíveis sanções de outras nações24. Por fim, a mudança para as reservas de bitcoin pode alterar a dinâmica financeira global, especialmente em relação ao domínio do dólar americano. Os países que se afastarem do dólar poderão enfrentar repercussões econômicas e políticas25. Desafios estratégicos e operacionais O primeiro desafio estratégico e operacional para uma SBR é a implementação de um sistema de Prova de Reservas - PoR para garantir a integridade das reservas de bitcoin. Sem isso, há o risco do que é conhecido como "bitcoin de papel", o que poderia minar a credibilidade da reserva. A PoR assegura que o bitcoin é real e está totalmente respaldado - no caso do país não manter o bitcoin em custódia própria. Sem uma PoR, há o risco das corretoras e bolsas operarem como bancos de reservas fracionárias, mantendo menos bitcoin do que devem, o que leva a colapsos graves. Muitas instituições financeiras, como a FTX26 e a Prime Trust, operavam com reservas fracionárias, o que levou ao seu colapso quando os clientes tentaram sacar os fundos de uma só vez. A PoR é, portanto, uma proteção contra essas falhas e o futuro dos sistemas financeiros transparentes. O segundo desafio é a integração do bitcoin aos sistemas financeiros e de tesouraria existentes em um país, o que exige mudanças e adaptações significativas, que podem ser complexas e exigir muitos recursos27. Percepção e compreensão do público A percepção e o entendimento do público sobre o bitcoin influenciam significativamente sua adoção como um ativo de reserva estratégica. Pesquisas28 indicam que a aquisição de bitcoin pelas pessoas está fortemente correlacionada com o conhecimento sobre o bitcoin e a crença em sua utilidade do que com fatores políticos ou demográficos. Por isso, campanhas e parcerias educacionais, como a colaboração do Tether com o Fuze, visam aumentar a conscientização e a adoção de ativos digitais29. Na mesma linha, em El Salvador há diversos projetos para educar a população sobre bitcoin, aumentar a alfabetização financeira e a confiança no ativo30. Entretanto, as reações mistas e o ceticismo de alguns participantes do mercado destacam a necessidade de educação contínua e de estruturas políticas claras para apoiar a função do bitcoin como um ativo estratégico. Dados quantitativos Em 20 de novembro de 2024, a oferta circulante de bitcoin era de aproximadamente 19.784.700, com um volume de negociação diário de US$ 30,64 bilhões e uma capitalização de mercado de US$ 1,86 trilhão. A rede tem 486.965 endereços ativos e 810.805 transações bem-sucedidas, indicando atividade e interesse robustos31. Perspectivas finais O conceito de uma reserva estratégica de bitcoin está ganhando força nos EUA e no mundo todo, com vários países explorando os possíveis benefícios e implicações de manter o bitcoin como um ativo de reserva. Essa tendência destaca o papel crescente da primeira cripto nas estratégias financeiras globais e seu potencial para influenciar a dinâmica econômica e geopolítica. Contudo, embora a criação de uma reserva estratégica de bitcoin possa oferecer possíveis benefícios, como diversificação e proteção contra a desvalorização da moeda fiduciária, ela também apresenta obstáculos políticos, econômicos e operacionais significativos que precisam ser cuidadosamente considerados e gerenciados para que ela se torne realidade. Neste contexto, varios fatores precisam convergir para que a adoção de uma reserva estratégica de bitcoin pelos países se torne realidade. 1 Disponível aqui 2 Disponível aqui 3 Disponível aqui  4 Disponível aqui  5 Idem Nota 1. 6 Disponível aqui  7 Idem Nota 1. 8 Disponível aqui  9 Disponível aqui 10 Disponível aqui 11 Disponível aqui 12 Idem Nota anterior. 13 Disponível aqui 14 Disponível aqui 15 Disponível aqui 16 Disponível aqui 17 Disponível aqui 18 Disponível aqui  19 Disponível aqui  20 Disponível aqui  21 Disponível aqui 22 Disponível aqui 23 Disponível aqui 24 Disponível aqui 25 Idem nota anterior. 26 Disponível aqui 27 Disponível aqui  28 Disponível aqui 29 Disponível aqui 30 Disponível aqui 31 Dados da Galaxy Capital.
Intro Com uma proposta tributária ousada, Hong Kong pretende eliminar o imposto sobre ganhos de capital em criptomoedas para fundos de hedge, private equity e veículos de investimento familiar.  Principais aspectos da iniciativa A proposta inclui isenções não apenas para ganhos com criptomoedas, mas também para investimentos em crédito privado, propriedade no exterior e créditos de carbono1. Com foco na competição global, a proposta legislativa foi projetada para competir com outros centros financeiros, oferecendo um ambiente fiscal mais competitivo2. Sob o aspecto do impacto econômico da iniciativa, se aprovadas, as isenções fiscais poderão melhorar significativamente a economia digital de Hong Kong, atraindo mais liquidez global e posicionando a cidade como um importante centro financeiro offshore. Quanto ao cronograma de implementação, espera-se que a nova legislação seja implementada em 2025, potencialmente transformando o cenário financeiro de Hong Kong e intensificando a corrida para dominar o mercado de criptomoedas. Aqui, vale destacar que a  proposta de isenção tributária vem logo após o anúncio recente do ZA Bank - o maior banco virtual de Hong Kong -, lançando um novo serviço cripto para usuários de varejo, permitindo que eles comprem e vendam Bitcoin [$BTC] e Ether [$ETH] diretamente, usando "fiat"  [moedas fiduciárias como dollar e euro]3. De acordo com um comunicado oficial de 25 de novembro, os residentes de Hong Kong com contas no ZA Bank podem passar por uma avaliação de risco para usar o novo serviço de criptografia vinculado ao aplicativo do banco. Hong Kong quer se tornar o principal centro de gestão de patrimônio global Estrutura para empresa de fundo aberto para se manter competitiva Hong Kong tem promovido sua estrutura de empresa de fundo aberto para se manter competitiva. O fundo é projetado para abrigar grandes conjuntos de ativos e subfundos em uma única estrutura de baixa tributação. Até outubro, mais de 450 desses fundos haviam sido lançados na região. Em comparação, a estrutura da empresa de capital variável de Cingapura, introduzida em 2020, atraiu mais de 1.000 fundos4. Isenções fiscais podem nivelar o nível de atuação Darren Bowdern, chefe de impostos de gestão de ativos para a Ásia na KPMG, enfatizou5 que essas medidas de isenções fiscais visam eliminar o risco de obrigações fiscais para gestores de fundos, colocando Hong Kong no mesmo nível de centros financeiros globais como Cingapura e Luxemburgo. A pressão por reformas tributárias ocorre no momento em que Hong Kong busca recuperar sua vantagem na gestão de patrimônio global. O CEO do UBS, Sergio Ermotti, elogiou recentemente o progresso do país, alertando que Hong Kong poderia ultrapassar a Suíça como o principal centro de gestão de patrimônio. O esforço busca atrair o capital e a inovação globais Com o crescente interesse em ativos digitais e a mudança nas preferências dos indivíduos de altíssimo patrimônio líquido, a mais recente iniciativa de Hong Kong sinaliza um esforço determinado para continuar sendo um ímã para o capital e a inovação globais. O resultado final da consulta pode moldar o futuro financeiro da cidade e seu lugar na economia cripto global. Posicionamento regulatório O movimento de Hong Kong para regulamentar o mercado de ativos virtuais, começou há dois anos com um programa piloto sob a Comissão de Valores Mobiliários e Futuros, estabelecendo as bases para um regime de licenciamento formal. O regime da Plataforma de Negociação de Ativos Virtuais (VATP), implementado em junho de 2023, tem como objetivo melhorar a proteção dos investidores e reforçar os padrões de conformidade das plataformas de ativos digitais. Desde então, quando olhamos para os avanços regulatórios, percebemos que Hong Kong têm buscado aprimorar sua estrutura para apoiar o crescimento do mercado de criptoativos em seu território, e isso inclui planos como: introduzir regulamentações de stablecoin e expandir o licenciamento das exchanges de criptomoedas - o que poderia reforçar ainda mais a confiança dos investidores e atrair capital internacional. Christopher Hui, Secretário de Serviços Financeiros e do Tesouro de Hong Kong, disse6 recentemente que a Região Administrativa Especial da China quer garantir que tenha o "ambiente propício correto para blockchain, em particular seus aplicativos financeiros". "Estamos sendo questionados o tempo todo (...) quais são os incentivos (...) do governo em termos de crescimento desse setor", disse Hui no final de outubro, durante um discurso de abertura na FinTech Week de Hong Kong7. Perspectivas finais Hong Kong já oferecia incentivos fiscais para determinados fundos privados e veículos de investimento familiar, desde que atendam a requisitos específicos e invistam em áreas designadas. Isso inclui uma isenção de imposto sobre lucros a uma alíquota padrão de 16,5%, enquanto os juros transportados para gerentes de private equity são tributados em 0%. Além disso, determinadas transações podem se beneficiar da isenção de "stamp duty". A política futura visa apoiar o desenvolvimento e o investimento cripto em produtos regulamentados, à medida que a região tenta se transformar em um centro global de ativos digitais. Isto é, os incentivos fiscais propostos por Hong Kong fazem parte da estratégia mais ampla de se tornar um participante importante no setor de ativos digitais de um trilhão de dólares. Portanto, a iniciativa busca elevar o status de Hong Kong a um importante centro financeiro de criptomoedas e para atrair investidores ricos, incluindo escritórios familiares e gerentes de ativos. ___________ 1 Disponível aqui. 2 Idem Nota 1. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Idem Nota 4. 6 Disponível aqui. 7 Idem Nota 6.
Contexto The Markets in Crypto-Assets - MiCA1 -  é a estrutura normativa abrangente da União Europeia criada para padronizar as regras destinadas a regular o mercado de criptoativos nos estados membros do bloco. Ela busca melhorar a proteção do consumidor, garantir a integridade do mercado e promover a inovação no setor de criptoativos. Tendo a MiCA e os fatores político-econômicos como pano de fundo, o artigo de hoje explora o status regulatório da Alemanha, França e Lituânia. Alemanha A Alemanha enfrenta desafios significativos na implementação da MiCA devido à instabilidade política. O colapso da coalizão governamental da Alemanha paralisou a aprovação de um projeto de lei crucial necessário para designar o BaFin - o órgão regulador financeiro da Alemanha - como a autoridade licenciadora. Isso resultou na impossibilidade do BaFin conceder licenças a empresas alemãs que desejam atuar no mercado de criptoativos europeu. E essa situação criou uma lacuna regulatória que afeta a capacidade das empresas locais de cumprir a MiCA, que exige dos estados-membros da União Européia a implementação de medidas nacionais específicas - como por exemplo a designação de um órgão regulador. Assim, por causa da situação política na Alemanha, referida lacuna regulatória cria uma disparidade em que as empresas estrangeiras podem operar sem as mesmas restrições enfrentadas pelas empresas locais. Isto é, a falta de clareza regulatória coloca empresas cripto alemãs em desvantagem competitiva em comparação com as empresas com sede em países que já estão em conformidade com a MiCA. Aqui, vale destacar que essa situação gera prejuízo não só a empresas cripto nativas, mas também a instituições financeiras e as empresas de valores mobiliários alemãs que não podem estender suas licenças para se qualificarem como provedores de serviços de criptoativos [CASPs] devido à ausência da estrutura legislativa necessária. Neste cenário, quando olhamos para as possíveis consequências econômicas, percebemos que o atraso na implementação da Lei de Supervisão Alemã de Mercados de Criptoativos [KMAG]2 leva à incerteza jurídica, e tem o potencial de levar os empregos do setor cripto da Alemanha para outros países. França A França está liderando a implementação da MiCA na União Européia, com empresas como a Circle3 já atingindo a conformidade. O órgão regulador francês, AMF, têm atuado intensamente na liberação de licenças para Provedores de Serviços de Criptoativos [CASPs]. A conformidade com a MiCA posiciona as empresas francesas como alvos de aquisição atraentes devido à sua infraestrutura robusta e ao alinhamento regulatório, o que pode gerar uma onda de fusões e aquisições.  Explicando isto melhor, as empresas que estiverem de acordo com os padrões da MiCA não apenas protegerão suas posições no mercado, mas também ganharão uma vantagem competitiva, aproveitando as credenciais de conformidade para atrair parceiros, investidores e compradores. A consolidação será uma resposta natural ao aumento dos custos operacionais, com os participantes menores buscando alianças para sobreviver e prosperar. Além disso, as empresas em conformidade com a MiCA também são alvos atraentes para empresas não pertencentes à UE que buscam uma entrada mais fácil no mercado europeu. Sem uma licença de compliance com a MiCA, as empresas não pertencentes à UE correm o risco de serem totalmente excluídas da UE, já que o princípio da solicitação reversa deve ser entendido como muito restrito e, como tal, deve ser considerado uma exceção; e não pode ser assumido nem explorado para contornar a MiCA. No entanto, apesar de sua liderança regulatória, a França enfrenta desafios políticos que podem afetar sua atratividade como um "hub cripto". As recentes propostas de mudanças fiscais e a instabilidade política podem levar as empresas a se mudarem para jurisdições mais estáveis4. Claro que é direito essencial de um país determinar quais impostos são mais adequados para proporcionar a mais alta qualidade de vida para seus cidadãos. No entanto, devido ao caráter transnacional dos criptoativos, se as novas propostas para aumento de tributação forem implementadas na legislação, as empresas cripto provavelmente considerarão outras jurisdições em vez da França. Lituânia A Lituânia planeja5 implementar requisitos mais rigorosos de licenciamento para provedores de serviços de criptoativos [CASPs], que devem estar totalmente em vigor até 2025 e pode levar a uma redução do número de empresas  cripto em operação no país. Essa abordagem visa fortalecer as regulamentações de combate à lavagem de dinheiro [AML] e alinhar-se aos padrões da MiCA. Com uma estrutura jurídica historicamente favorável ao setor, a Lituânia atraiu6 muitas empresas cripto. Agora, a uma nova postura regulatória mais rigorosa pode levar a uma consolidação do mercado no país, favorecendo empresas maiores e em conformidade. Breve análise comparativa Quanto ao rigor regulatório, a Lituânia e a França estabeleceram estruturas regulatórias claras que equilibram a supervisão com a promoção da inovação. Em contrapartida, o ambiente regulatório da Alemanha é atualmente instável, o que pode impedir a inovação. Quando olhamos para fatores políticos e econômicos, observamos que a instabilidade política na França e na Alemanha apresenta desafios para uma implementação regulatória consistente, enquanto a abordagem proativa da Lituânia oferece um ambiente mais estável para as empresas que oferecem produtos ou prestam serviços relacionados a criptoativos. Sob a ótica do impacto regulatório na inovação, embora os três países tenham o objetivo de se alinhar às regulamentações da MiCA da UE, a Lituânia e a França parecem mais preparadas para promover a inovação por meio de medidas regulatórias claras e de apoio. Perspectivas finais De modo geral, espera-se que a implementação da MiCA nos países do bloco europeu impulsione a consolidação do mercado de criptoativos no continente, favorecendo as empresas que podem atender a seus rigorosos padrões. No contexto geral, a Lituânia e a França estão adotando abordagens mais proativas e estruturadas para a regulamentação do mercado de criptoativos em comparação com a Alemanha, que atualmente enfrenta desafios legislativos e políticos que podem afetar sua capacidade de promover a inovação, com perda de competitividade no setor. __________ 1 Disponível aqui. 2 Que visa alinhar as regras nacionais da Alemanhã com a MiCA. 3 Disponível aqui. 4 Kiddle, Tom; In: Is France's crypto je ne sais quoi no more? Disponível aqui. 5 Nagarajan, Shalini In: Lithuania's Fintech Haven to Cull Crypto Firms Under New Licensing Rules. Disponível aqui. 6 Bloomberg; In: A European Fintech Hub Prepares to get tough on Crypto Companies. Disponível aqui.
Contexto A DFSA - Autoridade de Serviços Financeiros de Dubai publicou uma orientação abrangente sobre a regulamentação de "Crypto Tokens", criando um regime regulatório para criptomoedas - tokens nativos de blockchains públicas -, e se posicionando sobre stablecoins - tokens programáveis e não nativos em uma rede blockchain. Motivação A DFSA reconheceu que tokens cripto que compreendem aproximadamente 80% da capitalização do mercado global de criptomoedas: $BTC - Bitcoin, $ETH - ether, $LTC - litecoin, e $XRP - ripple.  Em seguida, publicou um regime regulatório para crypto tokens em setembro de 2024, com o intuito de fornecer uma estrutura clara para empresas e fundadores que operam no DIFC - Dubai International Financial Centre.  Aqui, vale lembrar que o DIFC foi projetado para promover a inovação, mantendo uma abordagem regulatória robusta para garantir a estabilidade financeira e a proteção ao consumidor de Dubai. Já tratamos do DIFC em outro artigo desta coluna1. O regime regulatório de tokens cripto da DFSA O que são "crypto tokens"? Por quê sua definição importa? Segundo consta das diretrizes2 da DFSA, "crypto tokens"  são representações digitais criptograficamente protegidas que estão remodelando o cenário financeiro. Nas palavras da DFSA, "um token é uma representação digital de valor, direitos ou obrigações, criptograficamente segura, que pode ser emitida, transferida e armazenada eletronicamente, usando tecnologia de livro-razão distribuído ou outra tecnologia similar". Já um "crypto token é um tipo de token que é utilizado, ou se destina a ser utilizado, como meio de troca ou para fins de pagamento ou para fins de investimento [ou que confere um direito ou interesse em tal token]. Para a DFSA, a definição de um crypto token não inclui "token excluído", "token de investimento", ou qualquer outro tipo de Investimento. Por que isto essa classificação é importante? Porque somente os tokens cripto que foram reconhecidos pela DFSA podem ser usados no DIFC, salvo algumas exceções.  Quais serviços financeiros devem observar o novo regime regulatório? Somente aos seguintes serviços financeiros se aplicam diretamente o regime regulatório destinado a tokens cripto: 1. negociação de investimentos como principal; 2. negociação de investimentos como agente; 3. Aconselhamento sobre produtos financeiros; 4. Organização / fornecimento de custódia; 5. Organização de negócios em investimentos; 6. Operação de uma câmara de compensação; por fim, 7. Operação de um sistema de negociação multilateral Nas diretrizes, a DFSA ressalta que outros serviços financeiros podem estar indiretamente relacionados a um token cripto. Por exemplo, um gestor de fundo pode gerenciar um fundo de investimento coletivo que investe em um token cripto, ou uma empresa autorizada pode (sujeito às restrições expressas) fornecer crédito ou organizar crédito para um investidor não varejista de token crypto, ou ainda, um prestador de serviços financeiros pode usar um token cripto em circunstâncias limitadas.  As empresas recém-chegadas ao DIFC precisam obter uma Licença apropriada para prestar um Serviço Financeiro em relação a um crypto token. As empresas que já estão autorizadas pela DFSA devem considerar se precisam de uma variação em sua licença Principais pontos  Nas diretrizes, a autoridade de serviços financeiros de Dubai se aprofunda nos detalhes intrincados de como os tokens cripto são classificados, reconhecidos e governados sob seu novo regime regulatório. Dentre os principais tópicos, podemos citar: 1. Tokens reconhecidos x não reconhecidos  Neste tópico, é possível descubrir os critérios de reconhecimento de crypto tokens usados pela DFSA, e o que é preciso para que um token seja usado no DIFC. 2. Tokens Proibidos Aqui, DFSA exclarece quais tokens, incluindo tokens de privacidade e tokens algorítmicos, são explicitamente proibidos no DIFC como, por exemplo, o token nativo da rede blockchain anônima Monero.  3. Passo-a-passo para um Crypto Token obter o reconhecimento pelo DFSA  Trata-se de um guia passo a passo para empresas que pretendem obter o reconhecimento legal de seus tokens. 4. Perguntas Frequentes No final das orientações, há um tópico com perguntas e respostas que cobre as dúvidas mais comuns sobre tokens cripto, desde os requisitos de variação de licença até qual é a abordagem do DFSA sobre stablecoins. Também, abrange quais requisitos - relacionados à prevenção à lavagem de dinheiro, proteção ao consumidor e governança de tecnologia - precisam ser cumpridos. O posicionamento do DFSA sobre stablecoins Ao responder à pergunta sobre qual é sua abordagem sobre stablecoins, a DFSA responde que "um token é um Fiat Crypto Token se, para estabilizar seu preço ou reduzir a volatilidade em seu preço, o valor do crypto token pretende ser determinado por referência a uma única moeda fiduciária".  Em seguida, a DFSA estabelece critérios de reconhecimento adicionais para stablecoins porque elas são normalmente comercializados como fornecedores de valor estável em relação a outros criptoativos e, portanto, atraem casos de uso mais amplos.  No DIFC, as stablecoins reconhecidas são permitidas para uso adicional em determinadas circunstâncias no contexto de serviços financeiros de transmissão de dinheiro e execução de transações de pagamento, compensação e liquidação e margem em conexão com a negociação de tokens cripto de garantia (derivativos). Assim, a DFSA classifica stablecoins como Fiat Crypto Tokens, e as define como aqueles tokens atrelados a uma única moeda fiduciária. Tal ocorre porque é desafiador manter uma vinculação a duas ou a uma cesta de moedas, pois isso exigiria, por exemplo, uma mudança constante na composição das reservas, o que, segundo a DFSA, causaria a deterioração da estabilidade prometida do token.  Portanto, as stablecoins atreladas a várias moedas serão tratadas pela DFSA sob o mesmo regime regulatório destinado aos tokens cripto (criptomoedas).  Embora, neste novo regime regulatório, a DFSA não regulamente a emissão de stablecoins, seus critérios de reconhecimento foram projetados para permitir que a DFSA reconheça (após o recebimento de um pedido para fazê-lo) stablecoins emitidas em outras jurisdições comparáveis, garantindo que elas mantenham um valor estável em relação à sua indexação.  Um Fiat Crypto Token (stablecoin) que não atenda à definição ou aos critérios fixados no novo regime regulatório para reconhecimento legal, pode, no entanto, atender aos critérios destinados a um crypto token (criptomoedas). Perspectivas finais Com estas orientações, as startups e fundadores - que já operam no DFIC de Dubai ou pretendem lançar projetos envolvendo crypto tokens - têm um roteiro claro para navegar no crescente ecossistema cripto regulado pelo DIFC, garantindo que suas operações estejam em conformidade com os padrões internacionais. ________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui.
A Itália planeja aumentar a alíquota do imposto sobre ganhos de capital em bitcoin de 26% para 42%. O anúncio1 foi feito pelo vice-ministro da economia, Maurizio Leo, em uma coletiva de imprensa no dia 16 de outubro. A proposta de aumento da alíquota ocorre no momento em que a União Europeia está se preparando para implementar totalmente a MiCA2 - a nova legislação de criptoativos da União Européia -, no final deste ano. Para justificar a medida, Leo classificou o medida como uma resposta à crescente popularidade do bitcoin, referindo-se a ele como um "fenômeno de disseminação". No entanto, tal medida parece fazer parte dos esforços para financiar as custosas promessas eleitorais de Giorgia Meloni e, ao mesmo tempo, reduzir o déficit fiscal. Note que esse novo plano tributário parece divergir das promessas anteriores feitas pela primeira-ministra Meloni, que garantiu aos cidadãos que não haveria aumentos amplos de impostos. Como ela própria afirmou3 em sua conta no X: "Como prometemos, não haverá novos impostos para os cidadãos. Além disso, faremos com que o corte de impostos sobre os trabalhadores seja estrutural, e 3,5 bilhões de bancos e seguradoras serão alocados para a área de saúde e para os mais vulneráveis para garantir melhores serviços que estejam mais próximos das necessidades de todos." Mas qual seria o real impacto do aumento de impostos sobre ganho de capital em criptoativos? O caso da Índia e a efetividade do aumento da tributação cripto Esforços anteriores de outros países para tributar o mercado de criptomoedas nem sempre renderam muito aos cofres estatais. A Índia - atual lider4 no ranking de adoção cripto da Chainalysis5 - introduziu uma mudança significativa em sua política tributária em fevereiro de 2022, ao impor6 um imposto de 1% deduzido na fonte sobre a transferência de ativos digitais virtuais, juntamente com um imposto fixo de 30% sobre a renda dessas transações. A mudança na tributação buscava monitorar as transações cripto, desencorajar o comércio especulativo e garantir uma receita fiscal estável. Entretanto, análises recentes mostraram que tais objetivos não foram atingidos. Pelo contrário, segundo o relatório7 "TDS on Virtual Digital Assets:  A report on the effect of the 1% TDS on tax revenue and user trends" - que analisou o efeito das mudanças tributárias sobre a receita tributária e as tendências dos usuários - o volume total de criptoativos negociados nas CEXs indianas caiu aproximadamente 97% entre 1º de fevereiro de 2022 e 31 de janeiro de 2024. Um dos principais motivos para esse declínio é a migração de traders para corretoras offshore.  Essa mudança não apenas prejudicou a intenção original de rastrear as transações de VDA, mas também resultou em uma perda significativa de receita para o governo indiano. Além disso, aumentos excessivos de impostos podem levar investidores a considerar a migração para países com ambientes fiscais mais favoráveis, como Dubai - na semana passada, os Emirados Árabes Unidos isentaram8 todas as transações de criptoativos do pagamento de imposto sobre valor agregado. Por outro lado, essa inexistência de fronteiras para as negociações com criptoativos tem preocupado a ESMA - Autoridade Europeia de Valores Mobiliários e Mercados. A preocupação da CVM Européia com a inexistência de fronteiras para negociações de criptoativos A ESMA recentemente, emitiu9 parecer sobre as licenças de empresas prestadoras de serviços de criptoativos com alcance global. O parecer aborda os riscos associados a essas empresas que buscam autorização da UE e, ao mesmo tempo, mantêm operações significativas fora do escopo regulatório da União Européia. A ESMA expressa preocupações sobre estruturas complexas, como CEXs autorizadas pela UE que encaminham ordens para locais fora da UE, o que pode afetar a proteção do consumidor. Ela aconselha as autoridades nacionais competentes a avaliar essas estruturas cuidadosamente e enfatiza uma avaliação caso a caso da execução, conflitos de interesse e obrigações de custódia. Agora que já sabemos dos planos da Itália em relação à tributação de criptoativos, vejamos por quê eles são opostos aos planos da Turquia. A pausa nos planos de tributação de criptos na Turquia Na Turquia, o governo arquivou10 os planos de tributar a renda de ativos digitais e ações, o que gerou um alvoroço entre os investidores. O vice-presidente Cevdet Yilmaz disse que o foco do governo agora é "reduzir as isenções fiscais". "Não temos um imposto sobre ações em nossa agenda. Ele foi discutido anteriormente e saiu de nossa agenda." - disse ele. A suspensão dos planos tributários aconteceu, porque o pacote tributário proposto em junho deste ano - que também se estendia aos ganhos com criptoativos - não foi bem recebido pelos investidores turcos. O aumento tributário criado pelo Ministério das Finanças buscava aumentar o imposto sobre ganhos do mercado de capitais, e não deixar nenhuma área sem tributar, sob a justificativa de "fornecer justiça e eficácia na tributação". No entanto, o pacote tributário proposto rapidamente levou a uma enorme queda nos volumes de negociação nas corretoras turcas, o que levou o Ministro das Finanças Mehmet Simsek a reverteu o curso11. "Estamos adiando a minuta do estudo tributário para a bolsa de valores por um tempo para reavaliá-lo à luz do feedback de todas as partes relevantes", disse Simsek. Apesar das garantias do ministro - e agora do vice-presidente - de que nenhum novo imposto será implementado, o mercado de ações da Turquia ainda não se recuperou, com o volume mensal de negociação caindo quase 50%. Para ativos digitais, o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan tentou impor um imposto de 0,03%12 em todas as transações. O ministério das finanças projetou que isso adicionaria 3,7 bilhões de liras (US$ 110 milhões de dólares) aos cofres da agência tributária. A Turquia é um dos maiores mercados de ativos digitais do mundo. Ela ficou em 12º lugar em termos de adoção no ano passado, com um relatório da bolsa KuCoin em setembro passado afirmando que mais da metade de todos os turcos adultos possuem algum ativo digital. Perspectivas finais A Itália já vinha demonstrando que pretendia adotar uma linha mais dura na regulacão de criptoativos, como já exploramos13  nesta coluna. No entando, parece que os formuladores de políticas públicas italianos não fizeram a lição de casa, e estão fazendo movimentos legais e regulatórios sem olhar para as experiências práticas de outros países. Quanto à Turquia, cumpre destacar que com a suspensão de seus planos tributários, ela  se junta à Coreia do Sul no adiamento de impostos sobre ativos digitais. A nação asiática pretendia inicialmente impor um imposto de 20% sobre ganhos anuais de ativos digitais em 2021. No entanto, as críticas de traders de ativos digitais levaram o Partido do Poder Popular a adiá-lo duas vezes14, e agora está programado15 para 1º de janeiro de 2028. ________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Idem Nota 11 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui.
Contexto  Novas regras de Taiwan e da Austrália para VASPs1 refletem o movimento  regulatório de diversos países em direção a normas mais rígidas para provedores de serviços de ativos virtuais. FSC de Taiwan aplicará novos regulamentos AML para VASPs em 2025 A FSC - Comissão de Supervisão Financeira de Taiwan aplicará novos regulamentos AMLAnti-Lavagem de Dinheiro para provedores de serviços relacionados à criptoativos a partir de 2025, exigindo licença para CEXs2 e compliance obrigatórios. As medidas atualizadas foram divulgadas3 no dia 2 de outubro pela FSC, que em 2021 havia proposto melhorar as regras de regulamentação de criptomoedas do país. Esses novos regulamentos estão em discussão desde março deste ano. Principais pontos dos novos regulamentos cripto em Taiwan As novas regras exigem que VASPs se registrem no governo até setembro de 2025, sob pena de sofrerem duras penalidades. Para se ter uma idéia, pela falta de compliance ou eventual falha no servidor das plataformas de negociação, a multa pode chegar4 até 5 milhões de dólares taiwaneses - o equivalente a US$ 155.900 -, ou ainda, pena de prisão de dois anos para os representantes da empresa no país. A nova estrutura de conformidade também estipula que VASPs apresentem Relatórios Anuais de Avaliação de Risco à agência governamental competente.  Aqueles que já aderiram aos padrões AML anteriores também devem cumprir os novos procedimentos de conformidade e se registrar no órgão competente. Quando os novos regulamentos entram em vigor em Taiwan? Os novos regulamentos substituirão5 o sistema atual de VASPs taiwaneses a partir de 1º de janeiro de 2025.  As empresas foram aconselhadas a esperar até que o novo sistema estivesse operacional e enviar seus documentos para evitar confusão causada por diferentes requisitos regulatórios. Esforços regulatórios buscam competitividade com países vizinhos Com os novos regulamentos, o governo taiwanês busca cumprir as recomendações do GAFI6 e, ao mesmo tempo expandir seu envolvimento na indústria cripto. Nesse passo, em 30 de setembro, a FSC se aventurou no domínio do mercado de ETFs de ativos digitais, autorizando investimentos via Fundos de Índice, voltados para investidores profissionais locais. Esta iniciativa é parte de esforços mais amplos para criar mais impulso no mercado de criptoativos de Taiwan, numa tentativa de se alinhar com centros financeiros vizinhos, como Hong Kong e Singapura, que são considerados centros de negócios para blockchain e criptoativos. Assim como em Taiwan, os provedores de VASPs - serviços de ativos virtuais na Austrália, se sujeitarão a um  novo regime regulatório que alguns no setor definiram como "ambíguo". CVM da Austrália quer equiparar CEXs a bancos As corretoras centralizadas de criptoativos (CEX) australianas já operam sob um regime regulatório específico criado para a indústria cripto, mas a ASIC - Comissão Australiana de Valores Mobiliários e Investimentos planeja7 ampliar os requisitos de licenciamento para exigir que VASPs obtenham as mesmas licenças para serviços financeiros. A ASIC pretende atualizar8 o "the Corporations Act's Information Sheet 225" para dar mais clareza sobre como determinados tokens9 e certos produtos devem ser tratados a partir de uma perspectiva regulatória. A CVM australiana acredita10 que a lei das Sociedades Anônimas do país abrange a maioria dos principais ativos digitais. Isso exige a inclusão das corretoras que realizam suas negociações sob esta lei. O que levou ao endurecimento de postura pela ASIC? A Austrália tem estado sob os holofotes nos últimos anos por causa de alguns golpes de grande monta, praticados com ativos digitais - o que atraiu críticas à ASIC e sua conduta regulatória, classificadas por alguns como negligentes. Quando a corretora de criptomoedas FTX Group entrou em colapso nas Bahamas em novembro de 2022, suas subsidiárias locais FTX Australia Pty Ltd e FTX Express Pty Ltd também foram atingidas11. Em 16 de novembro de 2022, a ASIC - Comissão Australiana de Valores Mobiliários e Investimentos suspendeu12 a licença australiana de serviços financeiros que a FTX Australia possuía desde março daquele ano. O fato de a FTX Australia ter um serviço financeiro australiano foi uma surpresa para algumas pessoas. Por conta disso, colapsos como o do Grupo FTX pressionaram a ASIC a se tornar mais rigorosa, especialmente no licenciamento de VASPs, em prol confiança do consumidor e da integridade do mercado. Contudo, muitos não vêem o endurecimento da CVM australiana com bons olhos. Críticas à Comissão Australiana de Valores Mobiliários Alguns legisladores e partes interessadas da indústria acreditam que a ASIC pode estar apertando demais, e estrangulando um setor nascente. Caroline Bowler, CEO da mais antiga corretora "cripto" da Austrália - o BTC Markets -, reclamou que as próximas regras sobre quais atividades exigirão uma licença não são claras, o que aumentará a confusão existente para os VASPs. Nas suas palavras13: "É super amplo, a ambiguidade na linguagem, se alguma coisa, apenas cria mais perguntas do que fornece". De outro lado, o senador Andrew Bragg14 também criticou a nova postura regulatória, que ele afirma ter empurrado a Austrália "de líder em criptomoedas para retardatária em criptomoedas". Acrescentando que o país perdeu a oportunidade de alavancar tendências interessantes como tokenização, sufocando a inovação e negando aos australianos as oportunidades de colher os benefícios que a tecnologia blockchain oferece. Aqui, vale lembrar que em 2023 a Comitê de Legislação Econômica do Senado da Austrália rejeitou o "Projeto de Lesobre Ativos Digitais (Regulamentação do Mercado)" 15, apresentado pelo Senador. O movimento regulatório global em direção a VASPs Como dito no início deste artigo, Taiwan e Austrália seguem o movimento regulatório global de endurecimento das regras relativas a VASPs. Aqui estão alguns das principais razões - dadas pelas autoridades monetárias e reguladores - que impulsionam essas mudanças regulatórias: 1. Aprimorar a conformidade e a confiança no mercado Nessa linha, no último dia 9 de outubro, a VARA - Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais de Dubai multou16, empresas cripto não licenciadas por violações de marketing e operação sem autorização, enfatizando a necessidade de conformidade para garantir a confiança do mercado. 2. Proteção de investidores e consumidores Aqui, vale lembrar que a lei de Proteção ao Usuário de Ativos Virtuais da Coreia do Sul exige que VASPs mantenham 80% dos depósitos de criptomoedas e tokens dos usuários em armazenamento a frio (cold storage), e obtenham seguro contra hackers, com foco na proteção do usuário. 3. Prevenção de atividades ilícitas Nessa toada, o UNODC - Relatório do The United Nations Office on Drugs and Crime17 de outubro de 2024, destaca o uso de criptomoedas na facilitação de atividades ilícitas no Sudeste Asiático, exigindo maior monitoramento e melhor treinamento para as autoridades monetárias. 4. Abordando a conformidade e a evasão fiscal Os EUA finalizaram18 novas regras relatcionadas aos relatórios fiscais prestados pelas CEXs a fim de melhorar a conformidade fiscal e abordar os riscos de evasão fiscal. Regulamentações propostas19 nos EUA para regular o setor de DEFI podem exigir que os aplicativos descentralizados coletem informações dos usuários, com o objetivo de limitar a evasão fiscal. 5. Resposta às normas internacionais Novas leis estão sendo desenvolvidas como resposta20 aos padrões internacionais estabelecidos pelo GAFI, estabelecendo requisitos de licenciamento e registro para VASPs. Perspectivas finais O cenário regulatório para VASPs ainda está evoluindo. Nesses últimos meses, os formuladores de políticas tem demonstrado o desejo de enquadrar o setor de criptoativos em antigas estruturas regulatórias e forçar os prestadores de serviços de ativos virtuais (VASPs) a se comportarem como instituições financeiras. Na prática, contudo, o esforço de acelerar uma convergência nas normas de compliance entre o setor de cripto e as finanças tradicionais pode produzir resultados mistos. Por um lado, uma maior clareza sobre normas regulatórias também possibilita que instituições financeiras e outros atores institucionais regulados lancem produtos e serviços de ativos virtuais. De outro, exigir que VASPs cumpram o mesmo conjunto de práticas de compliance que serviços financeiros já adotam - confiando em estruturas regulatórias de longa data projetadas para governar bancos, podem acabar criando mais obstáculos à tentativa de solucionar questões mais complexas do espaço de criptoativos, tais como DeFi - Finanças Descentralizadas22 e DAOs - Organizações Autonomas Descentralizadas22. ________ 1 Virtual Assets Service Providers [Provedores de Serviços Relacionados a Ativos Virtuais]. 2 Centralized Exchange [CEX] é um tipo de corretora de valores que opera sob uma organização centralizada, e atua como intermediária entre compradores e vendedores de criptoativos [criptomoedas e tokens]. 3 Disponível aqui: https://shorturl.at/NaWm4/ 4 Idem Nota 3 5 Idem Nota 3 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Idem Nota 3 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Disponível aqui. 19 Disponível aqui. 20 Disponível aqui. 21 Disponível aqui. 22 Disponível aqui.  
"Todos os cinco comissários da SEC testemunharam perante o Comitê de Serviços Financeiros sobre sua atuação na fiscalização de NFTs, stablecoins e cold wallets." Deputados questionam atuação da SEC na fiscalização de ativos digitais Na última terça-feira de setembro, todos os cinco comissários da SEC testemunharam perante o HFSC - Comitê de Serviços Financeiros da Câmara. Como em audiências anteriores, os membros pró-cripto criticaram o presidente da Securities and Exchange Commission, Gary Gensler, por priorizar o "Enforcement" ao invés da regulamentação transparente, bem como por colocar a política acima da missão estatutária da SEC.  Desta vez, contudo, ao contrário de audiências anteriores, os comissários republicanos "Hester Peirce" e "Mark Uyeda" estavam presentes para testemunharem sobre o histórico de atuação da CVM americana em ativos digitais.  A deputada D-NC - Sênior Maxine Waters falou sobre stablecoins, o deputado D-MA - Stephen Lynch defendeu o histórico de atuação do presidente Gensler, e o deputado D-IL - Bill Foster levantou brevemente preocupações sobre wallets não custodiadas - as chamadas "cold wallets"1. Mas, na maior parte da audiência, os democratas concentraram as perguntas em questões não relacionadas a criptomoedas. Principais destaques da audiência no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara 1. Stablecoins A membro do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Maxine Waters, disse que está comprometida em fazer uma legislação bipartidária de stablecoins2 este ano.  Em sua fala, enfatizou que o Federal Reserve deve desempenhar um papel de liderança na supervisão de emissores de stablecoins - o principal ponto de discórdia com os republicanos.  Atualmente, não há uma clara definição a quem realmente caberá a supervisão deste tipo de criptoativo. 2. SAB 121 Os membros estão cada vez mais concentrando os ataques do SAB 1213 no processo da SEC de conceder alívio único por meio de consultas com o diretor de contabilidade da SEC (CAO), em vez de revogar a regra completamente. O presidente Gensler defendeu4 o SAB 121 como uma "boa contabilidade" que protege os clientes, especialmente em caso de falência. De acordo com seu depoimento, se alguém mostra que (1) os fundos dos clientes são mantidos em uma entidade remota de falência e (2) os ativos digitais são "verdadeiramente os clientes", então "não é um passivo". Ele também rejeitou as afirmações de que o processo de consulta do CAO é novo ou exclusivo do SAB 121. 3. NFTs Os membros do "HFSC" criticaram os comissários da SEC por ações contra os criadores de NFT5: Por exemplo, o deputado D-NY - Ritchie Torres pediu6 ao presidente Gensler para explicar por que comprar um ingresso do Yankees não é uma transação de valor mobiliário, mas comprar um NFT que oferece acesso a uma série animada da Web é. Quando Gensler evitou a pergunta, Torres criticou a teoria de Gensler sobre o que constitui um contrato de investimento por não ter "nada que se assemelhe a um princípio limitador" 7.  O deputado Torres também questionou o comissário "Crenshaw" sobre se exigir o registro de obras de arte ou exigir que os criadores destruam obras de arte (conforme exigido no caso "Stoner Cats"8) levantava preocupações com a primeira emenda9. Crenshaw disse que não é especialista na primeira emenda. O deputado R-SC - "William Timmons" destacou seu projeto de lei10 para esclarecer que certos NFTs e transações neles não estão sujeitos às leis federais de valores mobiliários. Pensamentos finais A atuação da SEC, como já comentamos nesta coluna11, já está afetando o mercado de NFTs.  Recentemente, a Nike mudou12 o foco de sua plataformaWeb3 dotSWOSH - de NFTs para jogos -, muito provavelmente por conta do risco regulatório. E outros grandes players muito provavelmente seguirão o mesmo caminho. As eleições presidenciais americanas se tornam cada vez um ponto chave para a indústria de criptoativos13, já que a atual administração Biden parece ter adotado uma posição dura à tecnologias ligadas a ativos digitais - sendo criticada de implantar a Operação "Choke Point 2.0".14 Pressionada, a vice-presidente dos Estados Unidos e candidata democrata para a eleição de novembro, Kamala Harris, prometeu que será uma presidente favorável à tecnologia e comprometeu seu apoio às "indústrias do futuro", como IA - inteligência artificial e ativos digitais. Falando em um evento de arrecadação de fundos na Cipriani Wall Street em Nova York, Harris discutiu publicamente os ativos digitais pela primeira vez e prometeu apoiar tecnologias inovadoras. "Reunirei trabalhadores, fundadores de pequenas empresas e inovadores e grandes empresas. Faremos parcerias para investir na competitividade da América, para investir no futuro da América. Incentivaremos tecnologias inovadoras como IA e ativos digitais, ao mesmo tempo em que protegemos nossos consumidores e investidores", disse15 Harris aos participantes. "Criaremos um ambiente de negócios seguro com regras de trânsito consistentes e transparentes. Investiremos em semicondutores, energia limpa e outras indústrias do futuro, e cortaremos burocracia desnecessária." __________ 1 Cold wallets são carteiras digitais para quem faz autocustódia - quem armazena a própria senha privada que dá acesso às criptomoedas em uma rede blockchain. Revoredo, Tatiana. In: "AUTOCUSTÓDIA: A tecnologia está a nosso alcance. O risco está na usabilidade.", Substack, disponível aqui. 2 "Stablecoin, espécie do gênero criptoativo, é um instrumento financeiro representado em um token cujo valor está atrelado 1:1 [um por um] a um ativo financeiro mais estável, normalmente uma moeda fiduciária, ou uma cesta de moedas fiduciárias e títulos públicos". Revoredo, Tatiana. In: "Stablecoins: status da regulação no Reino Unido e na União Européia", disponível aqui. 3 SAB 121: "Legislativo dos EUA condena norma contábil da SEC". Revoredo, Tatiana, Migalhas, disponível aqui. 4 Disponível aqui.  5 NFT, ou tokens não fungíveis, é a representação de um ativo não fungível, em meio digital, sob uma forma de um número de série. Dito de outro modo, NFTs são "um padrão de contrato inteligente que fornece uma maneira padronizada de verificar a propriedade, e uma maneira padronizada de "mover" ativos digitais não fungíveis. Revoredo, Tatiana; In: "NFT: dos games às redes blockchain", MIT Technology Review.  6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Stoner Cats é uma curta série de animação para adultos que se acessa exclusivamente através da posse de um NFT colecionável Stoner Cat. 9 Disponível aqui. 10 "New Frontiers in Technology (NFT) Act", o primeiro projeto de lei do Congresso dos EUA que aborda diretamente o tratamento jurídico e regulamentar dos tokens não fungíveis (NFT), disponível aqui.  11 Revoredo, Tatiana. In: "SEC vs NFT: OpenSea na mira da Operação Choke Point 2.0", disponível aqui. 12 Disponível aqui.  13 Revoredo, Tatiana. In: "Eleições nos EUA e o futuro da regulação cripto", disponível aqui. 14 Idem Nota 10.  14 Disponível aqui. 
O papel da SCA na regulamentação do setor cripto dos Emirados Árabes Unidos Em 2022, a SCA - Securities and Commodities Authority1 assumiu a responsabilidade de supervisionar e regulamentar o setor de ativos virtuais nos EAU - Emirados Árabes Unidos.  Com o objetivo de aprimorar a estrutura legislativa do setor, fiscalizar as atividades associadas e provedores de serviços, tinha como objetivo proteger direitos e deveres de todas as partes envolvidas, garantindo a conformidade com as obrigações internacionais aplicáveis. Mas paralelamente a SCA, Dubai designou uma autoridade dedicada apenas a criptoativos. A competência da VARA, a Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais em Dubai A VARA é fundamental no desenvolvimento da estrutura legal, na governança da indústria de ativos virtuais de Dubai. Ela tem como foco a proteção do investidor e o suporte a uma visão de economia sem fronteiras dos EAU. Desde março de 2022, a VARA2 foi designada como responsável pela regulamentação e supervisão de ativos virtuais e atividades relacionadas em Dubai, incluindo as zonas especiais de desenvolvimento e zonas francas, excluído o DIFC - Dubai International Financial Center. A atuação de DIFC e VARA é complementar, não competitiva Enquanto o DIFC é uma zona franca financeira para empresas localizadas no seu território, a VARA é destinada aos participantes do continente, bem como às demais zonas francas do Emirado de Dubai, oferecendo assim aos fundadores e investidores a opção de escolha. Quando exploramos as competências relacionadas à criptoativos3 (criptomoedas  e tokens) no Emirado Árabe de Dubai, vimos que "uma empresa cujo negócio tenha natureza de TradFi pode optar por obter uma licença fornecida pelo DIFC, enquanto outra, que exerce atividades relacionadas a DeFi, pode buscar uma licença da VARA, se assim desejar"4. Mas como fica a atuação da Securities and Commodities Authority e da Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais de Dubai? O acordo de cooperação entre SCA e VARA No dia 5 de setembro, a SCA assinou5 acordo de cooperação com a VARA para reforçar a posição dos Emirados Árabes Unidos como um centro global líder em ativos virtuais, em alinhamento com os "The Principles of the 50" e as aspirações visionárias do governo6 de construir a melhor e mais dinâmica economia do mundo.  A cerimônia de assinatura, que ocorreu na filial da SCA em Dubai, contou7 com a presença do presidente da SCA, sua excelência Mohamed Ali Al Shorafa, e do presidente do Conselho Executivo da VARA, sua excelência Helal Saeed Al Marri.  O acordo foi assinado pela CEO da SCA (Dra. Maryam Buti Al Suwaidi) e pelo CEO da VARA (Sr. Matthew White), na presença de altos funcionários de ambas as organizações. Em seu discurso na cerimônia de assinatura, o presidente da SCA, Mohamed Ali Al Shorafa, disse: "Nós nos esforçamos para estabelecer estruturas eficazes em cooperação com nossos parceiros para promover o crescimento e a estabilidade do setor de ativos virtuais nos Emirados Árabes Unidos, garantindo assim a aplicação da legislação antilavagem de dinheiro e reforçando a confiança no ecossistema de investimentos dos Emirados Árabes Unidos".  A presidente da VARA, a Sra. Helal Al Marri, definiu a colaboração como um marco que demonstra a coesão regulatória nos Emirados Árabes Unidos.  Marri disse8 que a força da colaboração entre parceiros federais como a SCA "permite a portabilidade perfeita e eficiente de serviços regulamentados, ao mesmo tempo em que garante uma garantia de risco de mercado sem comprometimentos nos Emirados Árabes Unidos". Qual é o principal objetivo dessa cooperação? O objetivo é consolidar o status de Dubai como um hub de ativos virtuais.  Ambos os reguladores trabalharão juntos para manter a confiança do mercado, e garantir a conformidade com as leis antilavagem de dinheiro. Principais pontos do acordo Os termos do documento de cooperação, assinado pelos dois principais reguladores com sede em Dubai, traz o seguinte: A descrição dos requisitos de licenciamento para VASPs.  A definição dos mecanismos de supervisão mútua. Direcionamento para promover um setor de ativos virtuais estável e regulamentado nos EAU. Supervisão conjunta de VASPs Segundo declaração oficial conjunta9, o texto do acordo de cooperação obriga os VASPs - provedores de serviços de ativos virtuais, que operam em ou a partir de Dubai ou aqueles que buscam atingir o mercado de Dubai, a obter uma licença da VARA.  Uma vez que a licença tenha sido concedida pela VARA, o VASP também pode ser aprovado pela SCA para operar em outro Emirado Árabe.  Isto é, se o VASP quiser operar em qualquer outro Emirado, além de Dubai, precisará ser licenciado pela SCA. O acordo também abrange o mecanismo de supervisão mútua de VASPs, imposição de penalidades e multas, troca de informações e estatísticas e cooperação em treinamento e qualificação de funcionários. Regras de procedimento Tanto a SCA, quanto a VARA estabelecerão regras e procedimentos para o licenciamento e supervisão de VASPs ou quaisquer atividades, serviços ou transações associadas relacionadas.  Isso será feito de acordo com as disposições da decisão do gabinete 111 de 2022 e 112 de 2022 (Regulamentação de Ativos Virtuais e Seus Provedores de Serviços) e dentro da respectiva jurisdição de ambas as partes, acrescentou a declaração. A importância da cooperação entre diferentes autoridades regulatórias Os investimentos em ativos virtuais continuam a ter interesse e crescimento exponenciais, o que exige esforços conjuntos de reguladores para construir estruturas unificadas e eficazes que promovam o desenvolvimento sustentável e a estabilidade necessária a um setor vital para qualquer país que deseje atrair investimentos e consolidar sua economia. Como destacou o presidente da SCA, o acordo de cooperação está alinhado com as diretrizes do governo de Dubai para regular o setor de ativos virtuais locais, controlar suas atividades e aprimorar o monitoramento geral para proteger os investidores, aumentar a confiança no mercado cripto exercido nos Emirados Árabes Unidos e sua resiliência diante dos desafios globais. Ainda, com bem lembrou a presidente da VARA, este acordo ressalta um compromisso nacional conjunto para alavancar regulamentações como um facilitador para garantir a habilitação de negócios dentro do ecossistema de ativos virtuais, para que a indústria global possa evoluir de forma sustentável para se tornar uma pedra angular para a nova economia.  A nova economia a que ela se refere foi definida na "Agenda Econômica de Dubai para 2033". Essa "agenda" é um roteiro definido para se tornar o centro global para a economia de inovação do amanhã - e tal colaboração regulatória e clareza são fundamentais para garantir aos consumidores, investidores e à comunidade empresarial internacional a posição dos Emirados Árabes Unidos como um centro líder mundial para o futuro das finanças. Mas além dessa cooperação entre reguladores, EAU foram além, e também fizeram uma mudança histórica na sua legislação tributária. A mudança nos regulamentos do IVA  Com uma alteração introduzida pela FTA - Autoridade Tributária Federal, os Emirados Árabes Unidos isentaram todas as transações de criptomoeda do IVA - Imposto sobre Valor Agregado. Dentre os principais aspectos das alterações do IVA, estão: 1. Isenção de IVA sobre ativos virtuais Uma das alterações mais significativas introduzidas pela nova lei é a isenção total do IVA nas transações que envolvem ativos virtuais, incluindo criptomoedas. Esta isenção abrange todas as transferências e conversões de moedas digitais, eliminando efetivamente o IVA de todas as atividades relacionadas a criptoativos -  tanto para indivíduos como para empresas.  Notavelmente, a isenção se aplica retroativamente a partir de janeiro de 2018, o que significa que as empresas que anteriormente pagavam IVA em transações com criptomoedas podem precisar ajustar os registros de IVA anteriores por meio de divulgações voluntárias. Essa mudança é vista como um grande impulso para o setor cripto nos EAU, aumentando o apelo do país como um "hub" (centro global de inovação) em criptoativos. 2. Serviços financeiros e gestão de fundos de investimento As novas alterações alargam as isenções de IVA a uma gama mais vasta de serviços financeiros. O regulamento Executivo atualizado isenta de IVA a gestão de fundos de investimento, a transferência de propriedade de ativos virtuais e a conversão de ativos virtuais (art. 42). Esta medida irá provavelmente reduzir os custos dos gestores de fundos e das empresas envolvidas na gestão de fundos de investimento licenciados pelos EAU, reforçando o estatuto dos EAU como centro financeiro. 3. Reavaliação das obrigações de IVA para empresas cripto Com essa mudança, as empresas que oferecem produtos e serviços relacionados a criptoativos devem reavaliar suas obrigações de IVA.  As empresas que pagaram IVA sobre transações de ativos virtuais no passado devem apresentar divulgações voluntárias para corrigir suas declarações fiscais. A autoridade tributária Federal espera que todas as empresas cumpram o novo quadro e efetuem os ajustes necessários às suas posições em matéria de IVA. Perspectivas finais Tanto o acordo de cooperação entre a SCA e a VARA, quando as atualizações nos regulamentos do IVA dos EAU fazem parte da estratégia mais ampla dos EAU para simplificar o seu sistema fiscal, reduzir os encargos comerciais e criar um ambiente mais favorável, se posicionando como facilitador de mercado através da construção de um ecossistema abrangendo Web3, o metaverso, blockchain e IA, com ativos virtuais servindo como estrutura de conexão. __________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 "Ativos digitais são ativos que podem ser comercializados e armazenados em formatos digitais. Quando os ativos digitais são comercializados via tecnologia blockchain, eles são chamados de criptoativos - gênero que possui duas espécies: criptomoedas e tokens". Revoredo, Tatiana. In: "Games, Blockchain e modelos de negócio na Web3.", MIT Sloan Management Review, disponível aqui. 4 Revoredo, Tatiana. In: "Dubai [VARA]: O primeiro regulador do mundo dedicado apenas a criptoativos.", Migalhas, disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Idem Nota 2. 7 Idem Nota 7. 8 Idem Nota 7. 9 Disponível aqui.
A Assembleia Geral da Carolina do Norte aprovou um projeto de lei que proíbe a participação do Estado nos testes de uma moeda digital do CBDC - Banco Central patrocinados pelo FED - Federal Reserve. Na segunda-feira, o Senado votou por 27 a 171 a favor do House Bill 6902 (projeto de lei 690) da Câmara para anular o veto3 do governador democrata Roy Cooper. O projeto de lei proíbe os pagamentos ao Estado utilizando uma CBDC e proíbe a participação do Estado nos testes do CBDC. Dan Spuller, chefe de assuntos da indústria da Blockchain Association, escreveu em sua conta no X (ex Twitter) que o projeto de lei "nunca deveria ter sido vetado" e que Cooper "estragou uma oportunidade de enviar uma mensagem forte ao Federal Reserve de que (a Carolina do Norte) está unida contra os CBDCs". A aprovação do projeto de lei anti-CBDC da Carolina do Norte veio depois que a Câmara dos EUA aprovou em maio de 2024 the CBDC Anti Surveillance State Act, um projeto de lei liderado pelos republicanos para impedir uma CBDC nos EUA. O projeto de lei busca impedir o FED (o Banco Central dos EUA) de emitir uma CBDC de varejo - isto é, para os cidadãos. Como já comentamos nesta coluna4, o FED tem explorado a possibilidade de emissão de CBDC e publicou um relatório5 que examina os seus prós e contras. O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou6 que o FED não emitiria um CBDC sem a aprovação do Congresso americano. O receio dos Republicanos contra as CBDCs Há já algum tempo que os políticos conservadores se opõem a uma CBDC, alegando receios de que um CBDC possa permitir ao governo vigiar as transações. Há anos que os legisladores de ambos os lados do corredor político se preocupam com o fato do dólar digital corroer a privacidade. A lista dos que disputam esse papel é extensa, com um toque de política presidencial. O governador da Flórida, Ron DeSantis, que está de olho nas primárias presidenciais republicanas, acaba de apresentar um projeto de lei para proibir os CBDCs em seu estado natal. A governadora Kristi Noem de Dakota do Sul, uma potencial escolha vice-presidencial em 2024, usou recentemente um veto para protestar contra um possível CBDC. Noutros locais, os conservadores senadores Ted Cruz (Texas), e Mike Lee (Utah), reintroduziram projetos de lei para proibir as CBDCs a nível federal, juntamente com o líder da maioria na Câmara, Tom Emmer, R-Minn. E Vivek Ramaswamy, um candidato presidencial republicano de longa data e crítico declarado do investimento ESG7, transformou o dólar digital numa questão de campanha em Iowa. As moedas digitais do Banco Central são a última questão a chamar a atenção do Partido Republicano, em grande parte devido à introdução do Yuan Digital8 -  a CBDC da China. O governo Biden-Kamala formou uma força-tarefa interagências para estudar a emissão de uma CBDC, um assunto que o Federal Reserve tem considerado há anos. No entanto, ainda subsistem grandes questões e críticas sobre as preocupações com a privacidade e cyber segurança - dado que tanto o governo americano quanto o sistema bancário dos EUA é alvo diário de ataques cibernéticos vindos de todas as partes do mundo. Vigilância e controle Este quadro tem origem no fato da a China ter sido o primeiro país a utilizar uma CBDC e, nesse processo, ter suscitado preocupações sobre a forma como a tecnologia e a política econômica poderiam ser utilizadas para exercer controlo sobre os cidadãos. De acordo com o Atlantic Council9, mais de uma dúzia de países adoptaram este ano medidas para criar moedas digitais de banco central. Dentre os argumentos a favor, pagamentos mais rápidos são um objetivo potencial para um dólar digital americano, embora haja o serviço de pagamentos em moeda não digital. Os bancos regionais do FED em Nova Iorque e Boston fizeram experiências com transações em dólares digitais. Privacidade é a principal preocupação contra CBDCS Os republicanos não são o único grupo preocupado com o fato das CBDCs poderem corroer a privacidade. Uma série de organizações sem fins lucrativos redigiu diretrizes sobre a forma como o governo deve abordar uma possível CBDC, incluindo a União Americana das Liberdades Civis, a "Demand Progress" e a "Fight for the Future", organizações civis sem fins lucrativos pró-criptoativos. O potencial de uso indevido de uma CBDC preocupa - principalmente porque um país pode ser uma democracia hoje, mas pode não ser mais amanhã. E emitir uma CBDC é permitir um grau de controle sem precedentes sobre as transações privadas dos indivíduos, ainda que o discurso inicial seja o lançamento de uma CBDC de atacado, ou que o país esteja empregando soluções de privacidade como ?zk-SNARKS e zk-STARK10 - dado que as moedas digitais dos Bancos Centrais utilizam blockchains privadas, centralizadas, programáveis e, portanto, modificáveis a qualquer tempo11. Nos EUA, a proteção do direito à privacidade financeira é uma questão que preocupa tanto republicanos, quanto democratas. Aqui no Brasil, o projeto de lei 3.341/24 busca evitar que o DREX (Real digital) substitua o papel moeda. _____ 1 Disponível aqui: https://www.ncleg.gov/Legislation/Votes/RollCallVoteTranscript/2023/S/659/  2 Disponível aqui: https://www.ncleg.gov/Legislation/Bills/Summaries/2023/H690/  3 Disponível aqui: https://webservices.ncleg.gov/ViewBillDocument/2023/9411/0/H690-BD-NBC-12421/  4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 As as provas zk-SNARK e zk-STARK são dois exemplos de técnicas criptográficas que visam fornecer privacidade às blockchains. Disponível aqui. 11 Diferente de blockchains públicos como Bitcoin que por possuirem uma arquitetura descentralizada, precisam enfrentar um longo caminho para obter consenso dos participantes da rede sobre as atualizações propostas. Disponível aqui.
Reino Unido propõe proteção legal a participações digitais  Em 11 de setembro, o Reino Unido anunciou1 PL - Projeto de Lei que permite avaliar se bitcoin ($BTC), outras criptomoedas e tokens não fungíveis podem ser considerados "propriedade pessoal, o que traria proteção legal. O governo anunciou que o projeto de lei da propriedade esclareceria o status legal de criptomoedas, tokens não fungíveis2, criptomoedas3 e créditos de carbono4. A deputada trabalhista e ministra de Estado Heidi Alexander explicou que a nova legislação poderia ajudar a trazer clareza a casos complexos de propriedade. Segundo Alexander5: "Os nossos serviços jurídicos líderes a nível mundial constituem uma parte vital da nossa economia, ajudando a impulsionar o crescimento e a manter a Grã-Bretanha no centro da indústria jurídica internacional." "É essencial que a lei acompanhe o ritmo das tecnologias em evolução e esta legislação significará que o setor pode manter a sua posição como líder mundial em criptoativos e trazer clareza a complexos casos que envolvem a propriedade desta nova classe de ativos." O governo do Reino Unido declarou que a lei proposta daria "proteção legal" a proprietários e empresas quando "as participações digitais forem disputadas ou fizerem parte de acordos". O que motivou a nova proposta legislativa britânica? A proposta de lei foi elaborada em resposta a um relatório encomendado pelo Ministério da Justiça do Reino Unido em 2023. O relatório concluiu[6] que "alguns bens digitais não são nem coisas em posse nem coisas em ação, mas que, no entanto, a lei da Inglaterra e do País de Gales os trata como passíveis de se qualificarem como coisas às quais os direitos de propriedade pessoal podem se relacionar". Perspectivas da aprovação do PL A proposta legislativa foi um dos primeiros movimentos do governo trabalhista para abordar as políticas de ativos digitais e blockchain desde que o partido assumiu o controle dos conservadores após a eleição de 4 de julho. Apesar se ser uma luz no fim do tunel para empresas que prestam ou buscam prestar serviços e produtos relacionados a criptomoedas, NFTs e crédito de carbono no Reino Unico, em razão do recesso parlamentar e da temporada de conferências partidárias, o governo pode demorar meses a dar andamento à referida proposta legislativa. O movimento em direção à clareza regulatória também chegará aos EUA? Do outro lado do oceano, legisladores dos EUA podem adotar a mesma iniciativa britânica de iluminar o status regulatório das situações envolvendo blockchain e criptoativos. No entanto, tudo vai depender do resultado do resultado das eleições americanas de 2024, quando o controle da presidência dos EUA, da Câmara dos Representantes e do Senado será dos democratas ou dos republicanos a partir de janeiro de 2025. Aqui, vale destacar que a liderança da comissão do mercado de valores mobiliários dos EUA, presidida por Gary Gensler, é um fator nas eleições americanas. O presidente da SEC tem sido muito criticado por adotar uma abordagem de regulamentação por aplicação para empresas de blockchain e criptoativos sem esclarecer os porquê tokens ou ativos digitais podem constituir títulos mobiliários. Já comentamos sobre as perspectivas no mercado de criptoativos, a mudança nos círculos políticos e o que as eleições americanas de 2024 significam para a regulação cripto nos EUA aqui7 nesta coluna. ________ 1 Disponível aqui. 2 Tokens não fungíveis - também conhecidos como NFTs, Non Fungible Tokens - Um NFT é a representação de um ativo não fungível no meio digital sob a forma de um número de série. NFTs são um tipo de token que representam a propriedade de bens digitalmente escassos, como música, obras de arte,  nomes de domínio na Internet, colecionáveis no mercado de esportes, memes, ferrramentas usadas em jogos on line, avatares em mundos virtuais, ingressos de shows, dentre outros. Alguns NFTs se assemelham a produtos de investimento e, nesta hipótse, podem ser classificadas como títulos mobiliários - por exemplo, se por ocasião da venda de um NFT, é prometida aos compradores uma parte de negócios futuros em ações, dividendos ou ambos. Veja mais em Tatiana Revoredo, In Blockchain e Cripto em minutos, Substack, 2024. Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Idem Nota 1 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui.
A abrangência do ecossistema DeFi  No ecossistema DeFi1 [finanças descentralizadas], vários tipos de plataformas alimentadas pela tecnologia blockchain, operam em atividades como =negociação, investimento, concessão e tomada de empréstimo, bem como obtenção de lucros com criptoativos. Nessa linha, plataformas DeFi de lending2 permitem aos usuários ganhar juros sobre depósitos de criptomoedas e obter empréstimos Já corretoras descentralizadas [DEXs3] facilitam a negociação direta de criptoativos entre usuários através de contratos inteligentes, aumentando o controle do usuário sobre as transações. DEX aggregators4, por sua vez, oferecem opções de swap de vários DEXs num único local. Por fim, existem ainda liquidity farming5 e yield agregators6. Liquidity farming oferece oportunidades de rendimento através de depósitos de criptomoedas em pools de liquidez. Yield aggregators simplificam a criação de liquidez em várias plataformas. DeFi está sujeito às responsabilidades legais de TradiFi? A maioria das plataformas de criptoativos [criptomoedas e tokens] assume a custódia dos fundos dos usuários e possui equipes para administrar internamente os fundos que foram depositados, manter livros de pedidos e resolver problemas que surgem para os clientes, de forma semelhante a uma instituição financeira convencional. Diferentemente, as plataformas DeFi são governadas por código de software autoexecutável - ou seja, podem ser executadas por conta própria, sem nenhuma equipe ou empresa que as gerencie. Elas geralmente não assumem a custódia dos fundos dos investidores e, em vez disso, os encaminham entre carteiras individuais com base no protocolo subjacente da plataforma. Logo, as plataformas DeFi não se comportam como um intermediário ativo da mesma forma que outras plataformas cripto. Tendo isto em conta, plataformas DeFi se sujeitariam às mesmas regulamentações que as empresas de serviços financeiros convencionais? A resposta a esta pergunta - pelo menos no estagio atual do desenvolvimento das plataformas DeFi  - é: Sim. Embora haja quem7 defenda8 que plataformas DeFi não se sujeitam às mesmas regulamentações da empresas do mercado financiro traidicional, fato é que as agências reguladoras possuem9 outros meios de fazer cumprir a lei nas plataformas DeFi, independentemente de estarem ou não associadas a uma empresa formal, como vimos em recente caso envolvendo a Uniswap e a CFTC. O acordo Uniswap e CFTC sobre a negociação de criptoativos alavancada Uniswap10 fez acordo com a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA [CFTC] sobre negociação de cripto alavancada, e concorda em pagar multa de US$ 175,000. A Uniswap Labs pagará11 US $ 175,000 de multa para liquidar as acusações de que ofereceu transações ilegais de commodities com alavancagem e margem, anunciou a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA. Também, a Universal Navigation Inc., que faz negócios como Uniswap Labs, foi condenada a parar de violar o Commodity Exchange Act, conhecido como CEA, como parte do acordo. Quais foram as alegações da CFTC contra a Uniswap? A Uniswap desenvolveu uma interface de usuário e um conjunto de contratos inteligentes que permitem aos usuários negociar tokens na plataforma12, segundo a CFTC. Isso incluiu tokens desenvolvidos por terceiros - ou seja, pessoas que não trabalham para a Uniswap - que expuseram os investidores a retornos marginais ou alavancados contra o preço do bitcoin ($ BTC) e do ether ($ ETH). A Uniswap não se registrou como um mercado de contrato designado com a CFTC e, por isso, não estaria autorizada a oferecer produtos de negociação alavancados. Assim, para a CFTC, as transações de tokens em questão seriam13 transações de commodities alavancadas, ou com margem, que só podem ser oferecidas a participantes contratuais não elegíveis num conselho de negociação que tenha sido designado ou registado pela CFTC como um mercado contratual - o que a Uniswap Labs não é. A CFTC reconheceu a cooperação da Uniswap Labs com a investigação e, por isso, aplicou uma multa reduzida. "A ação de hoje demonstra mais uma vez que a Divisão de Execução aplicará vigorosamente o CEA à medida que as plataformas de ativos digitais e os ecossistemas DeFi evoluam". Os operadores DeFi devem estar vigilantes para garantir que as transações cumpram a lei." - disse Ian McGinley, diretor de execução da CFTC, em comunicado oficial14. Importante destacar, aqui, que o acordo não envolveu qualquer concordância ou negação das acusações do regulador, e as comissárias da CFTC, Summer Mersinger e Caroline Pham, emitiram opiniões divergentes. O que realmente motivou a CFTC no caso Uniswap? A comissária Mersinger disse que o acordo tem "todas as caraterísticas do que passamos a conhecer como regulamentação por meio da aplicação". Apontando que a Uniswap já havia bloqueado a negociação dos tokens em questão. Já a comissãria Caroline Pham, discordou: "a nova abordagem da CFTC hoje é legalmente simplista e convenientemente para criar um pretexto para o 'enforcement'". Claro que a CFTC pode e deve perseguir vigorosamente a fraude e a manipulação em nossos mercados e levar os maus atores à justiça. Mas segundo Phan, "não é disso que se trata este caso da Uniswap." Para ela, o acordo celebrado com a Uniswap, com uma penalidade de mínima, tem pouca relação com a conduta alegada, possui declarações por demais abrangentes sobre a indústria, que não são pertinentes ao caso em questão, além de abraçar teorias jurídicas que não foram testadas em tribunal. Por fim, conclui ser lamentável que a ação da Comissão hoje seja, em vez disso, uma tentativa equivocada e apressada de vencer a SEC e reivindicar jurisdição sobre a DeFi. A disputa pela jurisdição sobre DeFi Além do procedimento da CFTC, a Uniswap já havia recebido um Wells notice15 da SEC no início deste ano. Nessa mesma linha, tanto a SEC quanto a CFTC têm recorrentemente aberto procedimetos administrativos de fiscalização, não apenas em face de corretoras cripto centralizadas como a Binance, mas também contra projetos cripto descentralizados que usam software automatizado no lugar de intermediários. Alguns alvos foram resolvidos, enquanto outros acabaram tramitando nos tribunais. Quando analisamos os processos judiciais da SEC ainda em curso contra a Coinbase e outros, bem como a sua total relutância em fornecer clareza ou um caminho para o registo daqueles que operam legalmente nos EUA, muitos - a Uniswap, inclusive16 - têm apontado que a atuação das agências reguladoras americanas tem sido um esforço político para atingir até mesmo os melhores atores da indústria cripto que constroem tecnologia em blockchains. Apesar da retórica da SEC de que "a maioria" dos tokens são títulos mobiliários, a realidade é que os tokens são um formato de arquivo digital - como um pdf ou uma folha de cálculo -, e podem armazenar muitos tipos de valor. Dessa foma, eles não são intrinsecamente valores mobiliários, assim como cada folha de papel não é um certificado de ações. Perspetivas Muitos dos tokens transacionados, quando analisados à luz da atual jurisprudência e legislação americana, não são realmente valores mobiliários - são tokens comunitários e utilitários e commodities como o ether e o bitcoin. Ainda que assim não fosse, nos casos em que projetos DeFi admitiram que um token pode representar um título mobiliário, a SEC recusou-se a criar um caminho para as empresas se registarem. Neste contexto, o Congresso americano precisa agir logo para suprir as lacunas da legislação, e estabelecer diretrizes mais claras para criptoativos, a fim de não prejudicar a indústria nos Estados Unidos. ________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Uma Decentralized Exchange [DEX] é uma corretora de criptoativos descentralizada onde os usuários vão quando precisam negociar criptomoedas. Uma DEX traz os benefícios da descentralização para este processo, uma vez que, ao contrário das corretoras centralizadas [CEX], pelo menos em teoria, todas as transações em uma DEX são executadas através de contratos inteligentes sem quaisquer intermediários. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Porque a maioria das plataformas DeFi atualmente possui  equipes "centralizadas" no background, capazes de atualizar protocolos para congelar fundos de usuários ou bloquear transações se necessário. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Idem nota anterior. 14 Idem nota anterior. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui.
A relação entre o Japão e criptoativos vem de longa data Apesar de ser um país que preza por suas tradições milenares, o Japão se manteve aberto às inovações tecnológicas, principalmente depois do final da Segunda Guerra Mundial. Este equilíbrio entre tradição e inovação permitiu que o país desempenhasse papel de destaque em duas áreas essenciais para a indústria blockchain-cripto: Ciência da computação e criptografia. Não à toa, os japoneses foram dos primeiros a reconhecer o potencial de um ecossistema digital descentralizado, enquanto outros países apenas acompanhavam o crescimento do mercado cripto. Como se diz no jargão cripto, "quando tudo ainda era mato", o Japão emergiu como o centro de criptomoedas do mundo. Em 2013, a terra do sol nascente detinha 70% do volume global de transações de bitcoin. Muitos japoneses começaram a minerar1 bitcoin quando a criptomoeda ainda tinha pouco valor real, e o volume de transações de bitcoin na maior corretora cripto do mundo, a Mt. Gox, girava na casa dos milhões de dólares.  Mesmo após a falência da Mt. Gox2  em 2014, contudo, o governo japonês não endureceu totalmente em relação à indústria de criptoativos. Pelo contrário, tomou medidas para proteger os consumidores, e permitiu o renascimento das exchanges3 no Japão. Após aprovar 11 corretoras de criptomoedas em setembro de 2017, admitiu que outras 17 criptomoedas - além de $BTC, $ETH, $XRP, e $LTH - fossem negociadas nas exchanges com sede no país. Mas não foi só isto que aconteceu. Também em 2017, o Japão alterou o The Payment Services Act - que faz parte do Banking Act  - para tornar bitcoin e outras criptomoedas uma forma legal de pagamento.4 Apesar da "aprovação oficial" das criptomoedas pelo governo japonês e das políticas restritivas5 nos países vizinhos terem ajudado a elevar o preço do bitcoin e o volume de negócios em ativos digitais para cerca de 60% - mesmo após o colapso da Mt. Gox -, em 2019 os pagamentos digitais representaram apenas 26,8% do total, segundo o Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão.  Em 2020, pesquisa do Statista revelou que apenas 4% dos residentes japoneses usavam ou possuíam criptomoedas, enquanto China, Índia e Vietnã relataram 7%, 9% e 21%6, respetivamente. Com o advento da pandemia, contudo, houve um afastamento do dinheiro. Em 2022, o governo japonês concedeu NFTs - tokens não fungíveis7 a sete prefeitos8 pelas iniciativas que empreenderam em suas áreas - o que o colocou entre os primeiros governos nacionais a emitir NFTs como recompensas suplementares utilizando a tecnologia blockchain.9 O atual tratamento tributário dos criptoativos no Japão Hoje, os lucros com criptomoedas no Japão são atualmente tributados como renda diversa entre 15% e 55%. A taxa mais alta de 55% pode ser aplicada a ganhos acima de 200.000 ienes japoneses (US$ 1.377), mas varia dependendo da faixa de imposto de renda do indivíduo.10 Em comparação, os lucros obtidos com a negociação de ações incorrem apenas em uma taxa de imposto de 20% nos níveis mais altos. Os detentores corporativos de criptomoedas devem pagar uma taxa fixa de imposto de 30% sobre suas participações no final do ano fiscal, mesmo que não tenham obtido lucro por meio de uma venda. Os ministérios do governo enviam solicitações de reforma tributária ao partido no poder, que as repassa a um comitê de pesquisa do sistema tributário e à legislatura nacional do país para consideração. Defensores da indústria cripto querem reforma tributária Os defensores da indústria cripto no Japão têm pressionado por uma revisão do regime tributário nacional para ativos digitais há vários anos. A Japan Blockchain Association, um grupo de lobby pró-cripto, solicitou formalmente11 que o governo reduzisse a taxa de imposto sobre criptoativos em 2023. Em julho 19, o grupo também apresentou uma solicitação12 uma reforma tributária dos criptoativos para o ano fiscal de 2025, em uma tentativa de promover maior crescimento no setor no país. Entre suas propostas estava uma taxa fixa de imposto de 20% para cripto e uma dedução de transferência de perdas de três anos. Apesar desses esforços, as solicitações não tinham conseguido gerar nenhuma mudança de política quanto a criptos, apesar de na Conferência WebX13, o ministro da Economia, Comércio e Indústria do Japão, Takeru Saito, ter destacado a importância na redução de impostos às startups em razão do enorme potencial das indústrias Web314 e blockchian.15 Agora, contudo, parece que os ventos começaram a mudar. O regulador financeiro pede redução de impostos para criptos em 2025 No pedido16 para reforma tributária encaminhado no último dia 30/8, a FSA - Agência de Serviços Financeiros do Japão colocou os criptoativos em destaque, pressionando para que eles sejam tratados como ativos financeiros tradicionais nos quais o público pode investir.17   Segundo a FSA, "as criptomoedas devem ser tratada como um ativo financeiro que deve ser um alvo de investimento para o público".18 Resta saber se ambas as casas do governo japonês - a Câmara dos Representantes e a Câmara dos Conselheiros - vai aprovar a sugestão de reforma tributária. __________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Exchanges ou corretoras criptosão empresas que permitem seus clientes adquirirem ou venderem criptoativos por outros ativos, como as moedas fiduciárias convencionais como dólar, euro, ien, etc. 4 Revoredo, Tatiana. In: Criptomoedas no Cenário Internacional, 2018, Amazon. Vide também aqui. 5 No início de 2017, China e Coréia do Sul reprimiram o comércio de criptomoedas e fecharam exchanges, bem como proibiram ICOs [Initial Coin Ofering], que nada mais são que ofertas de captação de recursos relacionadas a criptomoedas. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui. 16 Disponível aqui. 17 Disponível aqui. 18 Idem nota anterior.
O que é OpenSea ?   OpenSea é um mercado de tokens não fungíveis [NFTs] onde os usuários podem comprar, vender ou criar NFTs.   É ??uma plataforma não custodial, permitindo aos usuários controle total e acesso às suas carteiras digitais.1   Os usuários interagem diretamente entre si para comprar ou vender NFTs individualmente ou em pacotes.   Para se ter uma ideia da importância da OpenSea no mercado NFT, antes de sua criação em 2017, não havia uma plataforma para os usuários negociarem diferentes NFTs facilmente. Por isso, a OpenSea foi criada como uma solução para permitir que os usuários negociassem colecionáveis ??e outros NFTs entre si.   NFTs sob a ótica legal   Um NFT pode ser um meio de provar a propriedade de um ativo subjacente (um quadro, por exemplo), mas também pode representar apenas um ativo digital sob a forma de um código de software.   Como um NFT tanto pode ser a representação de um ativo físico ou de um ativo digital que só existe na internet (uma arte programável, por exemplo), gosto de conceituar NFTs como "um padrão de contrato inteligente2 que fornece uma maneira padronizada de verificar quem possui um NFT e uma maneira padronizada de "mover" ativos digitais não fungíveis".   Contudo, para conceituar um NFT sob a ótica legal, antes de tudo é preciso verificar o que os tokens não fungíveis significam digitalmente.   Num sentido genérico, NFT significa a representação de um ativo não fungível no meio digital sob uma forma de um número de série.3   No entanto,  quando olhamos para a forma como esse tipo de número de série reflete um ativo em meio digital e o que está incluso neste código -, nos deparamos com inúmeras questões legais e jurídicas.   Antes de prosseguirmos, é necessário que você tenha em mente que além de evidenciar a propriedade de um ativo não fungível, o NFT também aponta para onde o conteúdo desse ativo está no momento em que o NFT foi criado.   Um NFT é diferente dos direitos do ativo subjacente que o compõe   Em nossa sociedade atual, estamos acostumados com pedaços de papel indicando ou representando tipos de direito de propriedade e algum tipo de trabalho. Todos já tivemos contato com algum pedaço de papel deste tipo: A escritura de um imóvel, o certificado da propriedade de um veículo, um contrato de locação de uma casa.   Já compreendemos o que é e qual o valor de uma folha de papel "legal", e esta é uma boa maneira de ver os NFTs também, embora obviamente haja algumas diferenças em termos de quais direitos estão vinculados a eles.   Há uma percepção generalizada de que um NFT é o próprio ativo original, como se fosse o ativo em si. Mas esta percepção está realmente correta? Não seria um NFT um recibo de que você possui determinado ativo?   Aqui, como tudo no mundo das leis e do Direito, a resposta correta é: Depende; e depende de qual é o ativo subjacente que o NFT representa.   Um NFT pode ser tanto o próprio ativo original - quando se tratar de um ativo que só existe no mundo virtual (como um Cryptokitie ou um CryptoPunk) - , como pode ser apenas o recibo de que você possui determinado ativo do mundo real (como um imóvel, uma obra de arte física exposta no Louvre, em Paris).   Compreendido isto, vamos voltar ao tema central deste artigo: As consequências do Wells notice recebido pela OpenSea.   O que é um 'Wells notice'?   Aviso Wells é uma comunicação formal da SEC indicando uma possível ação de execução, mas não necessariamente um processo judicial.   A notificação informa às pessoas ou à empresa em questão que a SEC concluiu que elas devem ser acusadas de violar as leis de valores mobiliários e, portanto, a equipe da SEC lhes oferece a oportunidade de fornecer informações sobre o motivo pelo qual a ação de execução não deveria ser movida.   Geralmente, a pessoa ou empresa tem 30 dias para apresentar sua defesa, considerando argumentos legais e factuais sobre o motivo pelo qual nenhuma acusação deve ser feita contra ela. Embora a investigação seja conduzida de forma confidencial, essa notificação, bem como sua resposta, é uma informação pública que pode ser usada em audiências públicas posteriores.   Os órgãos reguladores não são legalmente obrigados a fornecer um aviso; no entanto, é praxe da SEC e da FINRA - Financial Industry Regulatory Authority emitirem esse aviso.   A posição da SEC sobre NFTs   A emissão de um Wells notice para a OpenSea indica que a SEC vê alguns NFTs como "contratos de investimento", potencialmente classificando-os como valores mobiliários, exigindo conformidade com as leis de títulos.   Como a OpenSea se posicionou após receber o aviso Wells?    A OpenSea se defendeu4 alegando que NFTs são bens criativos, e não títulos mobiliários, bem como alertou que a regulamentação da SEC pode dificultar a inovação para artistas e desenvolvedores. Ela também destacou os efeitos positivos dos NFTs em artistas, desenvolvedores de jogos e colecionadores.   Além disso, a OpenSea mencionou5 o caso Stoner Cats como um exemplo da agência perseguindo artistas e prometeu US$ 5 milhões para cobrir as taxas legais de artistas e desenvolvedores de NFTs que receberem uma notificação Wells.   Efeitos imediatos do aviso Wells à OpenSea para o setor NFT?   Em números: Os volumes de negociação da OpenSea implodiram de US$ 5 bilhões/mês em janeiro de 2022 para 43 milhões/mês em julho deste, uma queda de 99%.6   Em janeiro de 2024, a OpenSea contava com três milhões de usuários ativos, e alcançou o equivalente a mais de US$ 40 bilhões em volume de transações envolvendo NFTs.   Com o Wells notice, marcas já estão recuando dos NFTs - transformando seus itens colecionáveis em "vale presentes" -, devido ao risco regulatório. E à medida que as investidas da SEC avançarem, mais e mais empresas tendem a abandonar o barco dos tokens não fungíveis.   Ora, se o custo e a complexidade de criar e vender NFTs aumentarem enormemente em razão da excessiva rigidez regulatória, novos criadores a comunidade de criadores provavelmente desaparecerá.   Na mesma linha, se as plataformas de negociação precisarem cumprir as mesmas regulamentações de valores mobiliários - verificações KYC (Conheça seu cliente) e AML (Anti-Lavagem de dinheiro) mais rigorosas -, sua existência também ficará inviável.   Com isto, os NFTs se tornariam praticamente inutilizáveis para o consumidor convencional.   Aqui, é bom destacar que NFTs podem ser utilizados de diversas formas7, e que na grande maioria dos casos, não seriam um título mobiliário e, portanto, a exigência de cumprimento de regulamentações mais rigorosas não se justificariam. Vamos destinchar melhor isto.   Quem compra um NFT colecionável da liga de Basquete Americana, está adquirindo um título mobiliário?   Para quem não está familiarizado, o 'NBA Top Shot'8 são momentos da história da NBA, liga profissional de basquete americano, que estão sendo adquiridos via NFT por milhares de fãs da NBA de todo o mundo.   Pois bem, na compra e venda de um NFT, estamos lidando com três partes: Estamos lidando com o autor desse trabalho (fotógrafo do momento NBA, o desenvolvedor de um game, ou o artista de uma arte digital), estamos lidando com o criador do NFT e, por fim, estamos lidando com um comprador.   Ao adquirir um NFT você está, a princípio, apenas recebendo os direitos sobre o NFT, os direitos de propriedade dos direitos de se gabar de que você tem alguma conexão com esse trabalho. Todavia, você não necessariamente adquirirá o direito de propriedade intelectual para usar aquela obra - você não terá o direito de copiá-la, distribuí-la, executá-la, a menos que tais direitos tenham sido designados especificamente para você.   A análise legal de um NFT é muito semelhante ao que seria, se não houvesse um NFT.   Assim, um NBA Top Shot muito provavelmente não será um título mobiliário porque não configura "venda pública não autorizada de contratos de investimento".   Em que situações, NFTs podem ser títulos mobiliários?   Dentre seus vários usos, há alguns em que NFTs se assemelham a produtos de investimento e, assim, podem ser classificadas como títulos.    Por exemplo, se eu cunhar certificados de ações como NFTs e disser que você pode reivindicar dividendos usando-os, então, é claro, eles soam como títulos mobiliários.   Também, se por ocasião da venda de um NFT, é prometida uma parte dos negócios futuros (em ações, dividendos ou ambos) aos compradores.   Ainda, quando você anuncia no seu Discord que "Comprar uma "chave de fundador" é [como] investir na Disney, Call of Duty e YouTube ao mesmo tempo" - você definitivamente foi longe demais e está fazendo uma oferta pública de um título mobiliário.   Foi por isso que a venda de NFTs "Founders Key" da Impact Theory configurou um caso bem claro de oferta de título mobiliário.   Embora as situações descritas acima aconteçam, esse não é o tipo de NFT que as pessoas esperam encontrar no OpenSea, no NFT.io e em outros mercados. Casos assim são muito raros, porque NFTs são principalmente apenas arte digital e itens colecionáveis como os NBA Top Shots.   Ao pensar no cenário dominante no espaço NFT, parece um pouco estranho que um regulador como a SEC queira perseguir casos estranhamente tão específicos e raros.    Regulação de NFTs nos EUA   Muitos artistas e criadores estão cientes da área cinzenta da regulamentação em que os NFTs se enquadram nos EUA.    E tal é assim, porque a regulação de NFTs nos EUA tem sido feita por coerção - isto é, sem a observância de regras claras e previamente estabelecidas pelo Poder Legislativo, com potencial ofensa à legalidade e ao devido processo legal, como veremos a seguir.   Em um de seus primeiros casos envolvendo NFTs em 2023, a SEC acusou9 anteriormente a Impact Theory LLC, uma empresa de mídia e entretenimento com sede em Los Angeles, de oferecer títulos não registrados na forma de NFTs em agosto do ano passado. A empresa foi condenada a pagar mais de US$ 6 milhões em restituição, juros prévios e penalidades civis.   A SEC também fez um acordo com a Stoner Cats 2 LLC - os criadores do desenho animado on-line financiado por meio da venda de NFTs - por oferecer valores mobiliários não registrados. A empresa concordou10 em pagar uma multa de US$ 1 milhão e com a ordem para encerrar suas atividades.   Operação "Choke Point 2.0"   Funcionários públicos, profissionais financeiros e defensores do bitcoin vem denunciando um aparente preconceito contra os negócios envolvendo criptos na administração Biden. E vários eventos políticos no início de 2023 parecem corroborar essas denúncias.   A 3/1/23, "Declaração Conjunta sobre Riscos de Cripto-ativos para Organizações Bancárias"11 do Federal Reserve, FDIC e OCC - Escritório do Controlador da Moeda observou que, "Os eventos do ano passado foram marcados por volatilidade significativa e a exposição de vulnerabilidades no setor de cripto-ativos. Estes acontecimentos evidenciam uma série de riscos fundamentais associados aos criptoativos e aos participantes no sector cripto de que as organizações bancárias devem estar cientes...", servindo efetivamente para dissuadir as instituições financeiras de assumirem esses riscos.   Um "Roteiro para mitigar os riscos das criptomoedas"12 da Casa Branca, divulgado em 27/1/23, indicou que o governo Biden vê a proliferação de criptomoedas como uma ameaça ao sistema financeiro do país e alertou contra a perspetiva de conceder às criptomoedas mais acesso aos produtos financeiros convencionais.   "Como administração, nosso foco é continuar a garantir que as criptomoedas não possam minar a estabilidade financeira, proteger os investidores e responsabilizar os maus atores", de acordo com o roteiro. "A legislação não deve dar luz verde às instituições tradicionais, como fundos de pensão, para mergulhar de cabeça nos mercados de criptomoedas... Seria um erro grave promulgar uma legislação que inverta o curso e aprofunde os laços entre as criptomoedas e o sistema financeiro mais amplo."   Em 7/2/23, o Federal Reserve empurrou uma regra para o Federal Register esclarecendo que a instituição iria "presumivelmente proibir" os bancos membros estaduais de manter criptoativos como principal em qualquer valor e que "emitir tokens em redes abertas, públicas e / ou descentralizadas, ou sistemas semelhantes é altamente provável que seja inconsistente com práticas bancárias seguras e sólidas".   E em 2/5/23, o governo Biden propôs13 um imposto especial de consumo de DAME - Energia de Mineração de Ativos Digitais, sugerido como uma forma de forçar as operações de mineração de criptomoedas a compensar financeiramente o governo pelos "custos econômicos e ambientais" de suas práticas com um imposto de 30% sobre a eletricidade que usam.   Para Brian Morgenstern, diretor de políticas públicas da Riot Platforms, um dos maiores mineiros de bitcoin de capital aberto sediado nos EUA, estas sugestões de políticas, actualizações e alterações de regras indicam claramente uma tentativa maior de impedir o avanço da indústria cripto como um todo, visando pontos de estrangulamento financeiro.14   Assim, a Operação Choke Point 2.0' refere-se ao esforço coordenado dos reguladores financeiros do governo Biden para sufocar a criptoeconomia nos EUA, desbancando a indústria e separando os empresários do capital necessário para investir na América, como bem observado disse o senador americano Bill Hagerty, membro dos comitês de bancos e apropriações.15   Parece que os reguladores financeiros compraram a falsa narrativa de que os negócios focados em criptos - NFTs inclusive - existem apenas para facilitar ou conduzir atividades ilícitas e parecem cegos para as oportunidades de inovações potenciais e novos negócios que podem ser construídos. ___________ 1 Tambem conhecidas como wallets, carteiras digitais mantém suas chaves privadas - senhas que dão acesso a seus ativos digitais em uma rede blockchain - protegidas e acessíveis, permitindo que você envie e receba criptomoedas, NFTs, stablecoins e outros tokens. 2 Contratos inteligentes são códigos de software com regras autoexecutáveis. Eles funcionam como um acordo autoexecutável embutido em código de computador, gerenciado por um blockchain, por exemplo. Se e quando as regras predefinidas forem atendidas, o contrato será aplicado automaticamente. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 NFTs podem representar partes de um imóvel, ingressos para eventos, obras de arte, nomes de domínio na Internet, itens colecionaveis e ferramentas em jogos eletrônicos, memmes na Internet, avatares em mundos virtuais, dentre outros. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Idem Nota anterior.
"O regulador de valores mobiliários do Brasil deu sinal verde para o segundo SOL ETF spot do país. A notícia vem depois que vários emissores de ativos dos EUA entraram com um pedido na SEC dos EUA para lançar seus próprios fundos à vista, lastreados no token da Solana. No entanto, analistas argumentam que os candidatos dos EUA têm pouca chance de aprovação". Órgão regulador de valores mobiliários do Brasil deu sinal verde para EFT à vista do token da Blockchain Solana Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deu sinal verde para um segundo fundo negociado em bolsa [ETF1] à vista, lastreado no preço à vista do token da blockchain2 Solana3 [$SOL].  Solana é uma blockchain pública de camada 1, de código aberto, que tem como foco principal a escalabilidade e suporte a contratos inteligentes4. De acordo com um registro no site5 da CVM, o novo SOL ETF Spot será oferecido pela gestora de ativos Hashdex, sediada no Brasil, e está atualmente em um estágio "pré-operacional". A medida segue-se à aprovação6 pelo Brasil, em 8 de agosto, do primeiro ETF Solana, supervisionado pela QR Asset, uma empresa brasileira de gestão de ativos, e administrado pela Vortx, uma prestadora de serviços para operações de fundos. Enquanto isso, nos Estados Unidos, as changes de sucesso dos esforços para lançar SOL ETFs à vista não são muito altas. Os obstáculos à aprovação dos Spot ETF da Solanoa nos EUA Em junho, os gestores de ativos VanEck e 21Shares entraram com pedidos de ETFs Solana à vista após a aprovação pela SEC dos ETFs Ethereum à vista7.  Mas as esperanças dos otimistas do Solana foram frustradas em 16 de agosto, quando a Chicago Board Options Exchange (CBOE) removeu8 os registros 19b-4 de dois ETFs Solana propostos de sua página "Pending Rule Changes". Alguns especularam9 que esses registros foram retirados devido a preocupações da Securities and Exchange Commission [SEC] sobre a classificação do Solana como um título mobiliário. Como funcionam os registros de ETF nos EUA Quando uma corretora de investimentos como a CBOE apresenta o pedido inicial 19b-4 à SEC, o órgão regulador também publica o pedido em seu site10. Por exemplo, a CBOE apresentou um ETF Solana 19b-4 em 8 de julho. Normalmente, cerca de 14 dias depois, a SEC publica o registro 19b-4 em seu site, iniciando oficialmente o prazo para a análise regulatória. Essa etapa é crucial porque estabelece prazos específicos para que a SEC tome uma decisão. No entanto, nesse caso, o registro do ETF Solana nunca foi publicado no site da SEC. De outro lado, os registros nunca apareceram no site da SEC. "Uma bola de neve de chance no inferno de aprovação, a menos que haja uma mudança na liderança"11. Ademais, o resultado da eleição presidencial poderia influenciar o futuro dos ETFs da Solana nos EUA12-13. Solana é uma commodity ou título mobiliário? Para o chefe de pesquisa de ativos digitais da VanEck, Matthew Sigel,  Solana seria uma commodity - semelhante ao Bitcoin14. Isto se dá, devido à evolução das perspectivas legais, onde tribunais e reguladores começaram a reconhecer que certos criptoativos podem funcionar como títulos em mercados primários, mas se comportam mais como commodities em mercados secundários. A classificação de criptos como títulos mobiliários ou commodities é crucial para fins regulatórios, como já comentamos nesta coluna15. Os valores mobiliários incluem ações, títulos e derivativos, representando propriedade ou relações com credores, e são regulamentados pelos reguladores de valores mobiliários como a SEC, nos EUA, e a CVM, no Brasil. As commodities, por sua vez, incluem matérias-primas e produtos agrícolas primários, cuja negociação é regulamentada pela CFTC. As commodities são intercambiáveis e fungíveis, o que significa que podem ser trocadas por outras mercadorias do mesmo tipo. Pensamentos finais Tendo em conta a natureza do mercado de ETF dos EUA, aa aprovação de um ETF Spot da Solana nos EUA, pelo menos agora, parece altamente improvável. Primeiro, porque para que que um ETF à vista seja lançado, geralmente é necessário que um produto relacionado a futuros seja lançado primeiro. Ademais, o SOL [token da blockchain Solana] é relativamente novo e não tem a infraestrutura para hedge financeiro tradicional, ao contrário do $BTC [token do blockchain Bitcoin] e do $Ether [token da blockchain Ethereum]. Por fim, vários critérios devem ser atendidos para que um ETF à vista seja aprovado, incluindo liquidez sólida, descentralização, resistência à manipulação de preços e classificação regulatória do ativo subjacente. __________ 1 Disponível aqui. 2 Disponível aqui. 3 Disponível aqui. 4 Disponível aqui. 5 Disponível aqui. 6 Disponível aqui. 7 Disponível aqui. 8 Disponível aqui. 9 Disponível aqui. 10 Disponível aqui. 11 Disponível aqui. 12 Disponível aqui. 13 Disponível aqui. 14 Disponível aqui. 15 Disponível aqui.